quarta-feira, 12 de março de 2014

O DOM DA SABEDORIA

O segundo favor que o Divino Espírito destinou à alma que lhe é fiel na ação é o dom de Sabedoria, ainda superior ao da Inteligência. No entanto, está ligado a este último no sentido de que o objeto mostrado na inteligência é saboreado e possuído no dom da Sabedoria. O salmista, convidando o homem a se aproximar de Deus, recomenda-lhe o sabor do soberano Bem. 'Provai, diz ele, e experimentai que o Senhor é cheio de doçura'. A santa Igreja, no próprio dia de Pentecostes, pede a Deus para nós o favor de provar o Bem, recta sapere, porque a união da alma com Deus é antes uma experiência do gosto do que uma visão, a qual seria incompatível com nosso estado presente. 

A luz dada pelo dom da Inteligência não é imediata, ela alegra vivamente a alma e dirige seu sentido para a verdade; mas tende a se completar pelo dom de Sabedoria que é como se fosse seu fim. A Inteligência é então iluminação e a Sabedoria é união.

Ora, a união com o soberano Bem se realiza pela vontade, quer dizer, pelo amor que reside na vontade. Notamos essa progressão nas hierarquias angélicas. O querubim refulge de inteligência, mas acima dele ainda está o serafim abrasado. O Amor é ardente no querubim, assim como a inteligência esclarece com sua luz viva o serafim; mas um é diferenciado do outro pela qualidade predominante e o mais elevado é aquele que atinge mais intimamente a divindade pelo amor, aquele que saboreia o soberano Bem.

(Excertos da obra 'Os Dons do Espírito Santo', de Dom Prosper Gueranger, Ed. Permanência, 2007)

terça-feira, 11 de março de 2014

SANTINHOS (II)

'Santinhos' são pequenos cartões impressos que retratam santos, cenas ou pinturas religiosas, produzidos desde época remota e comumente em grandes quantidades, para disseminação da cultura religiosa entre os católicos. São especialmente confeccionados e distribuídos nas festas de devoção de um santo, como pagamento de promessas ou como lembrança da realização de datas festivas e/ou eventos religiosos públicos ou particulares (batismo, primeira comunhão, crisma, etc). As fotos abaixo apresentam mais alguns exemplos destes 'santinhos'.










segunda-feira, 10 de março de 2014

DA VIDA ESPIRITUAL (67)


Ó Sangue e Água, que jorrastes do Coração de Jesus, como fonte de misericórdia para nós, eu confio em vós! Sangue e Água...  Do coração compassivo de Jesus jorram as torrentes da insondável misericórdia divina, que aniquilam todas as misérias humanas e plasmam no fogo e no cadinho os herdeiros do céu. Ó Sangue e Água, emanados do oceano de graças do Coração de Jesus, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. 

domingo, 9 de março de 2014

JESUS E AS TENTAÇÕES

Páginas do Evangelho - Primeiro Domingo da Quaresma


Neste domingo do Senhor, nos deparamos com uma das páginas mais intrigantes dos Evangelhos: a existência do demônio, sua natureza maligna convertida integralmente às tentações e ao infortúnio eterno da humanidade; a necessidade do homem, no seu encontro com Deus, de superar estas tentações, domar os seus instintos e não acolher ou se submeter às rédeas do pecado.

Homem do infortúnio pela fraqueza dos nossos primeiros pais, reféns da primeira tentação do demônio, iludidos pela serpente 'o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha feito' (Gn 3,1). Homem da redenção, transformado pelo exemplo de Cristo, que aceita as tentações na sua condição humana para mostrar que as tentações devem ser combatidas pelos frutos da mortificação interior e pela oração intensa e persistente: 'Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites...' (Mt 4, 2). A ação do demônio é-nos dirigida sempre nos momentos de maior fragilidade, visando a perda ou o descaminho da santificação pessoal, sempre moldada nos apelos à sensibilidade e aos instintos mais expostos do homem. E, ao se deixar tentar pelo demônio, Jesus nos mostra que a superação das tentações é o caminho que faz os santos e diverge os tíbios e os pecadores.

Três tentações serão impostas por satanás, no intuito desgraçado de obter alguma certeza sobre a verdadeira natureza de Jesus. Exposto ao ridículo nas suas tolas intenções de tentar confundir o próprio Criador, o demônio suscita que o Filho de Deus converta pedras em pães, que aflore o prodígio da proteção dos anjos ao se atirar da parte mais elevada do templo e, na podridão máxima da soberba diabólica, lhe preste culto e adoração, como penhor das riquezas e glórias do mundo. 

O Filho de Deus Vivo submete o demônio à sua natureza degradada, confirmada tantas e tantas vezes pelas Sagradas Escrituras:  'Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus’ (Mt 4,4); 'Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus!' (Mt 4, 7) e 'Vai-te embora, Satanás, porque está escrito: Adorarás ao Senhor, teu Deus, e somente a ele prestarás culto' (Mt 4, 10). Três respostas taxativas, categóricas, definitivas, de fim de conversa. Na última expressão, após confirmar a identidade do anjo do mal como 'satanás', Jesus ordena  peremptoriamente que ele se afaste em definitivo. Neste início de Quaresma, que seja esta nossa reflexão: como nos comportar diante às tentações, permitidas por Deus para a nossa santificação, ou seja, nunca ceder ao diálogo e às manipulações do mal, mas, implorando a graça divina, ordenar peremptoriamente ao diabo ir rugir nas hostes infernais.  

sábado, 8 de março de 2014

ORAÇÃO DE PETIÇÃO PELAS VIRTUDES (SANTO ANTÔNIO MARIA CLARET)

Creio, Senhor, mas fazei que eu creia com mais firmeza.
Espero, Senhor, mas fazei que eu espere com mais segurança.
Amo, Senhor, mas fazei que eu ame com mais ardor.
Arrependo-me, Senhor, mas fazei que me arrependa com mais força.
Eu vos suplico, Senhor: que quereis que eu faça?
Ensinai-me a cumprir vossa vontade, porque vós sois o meu Deus.
Concedei-me um coração atento, para entender o vosso povo e discernir entre o bem e o mal.
Pai, dai-me humildade, mansidão, castidade, paciência e caridade.
Ensinai-me a bondade, a ciência e a disciplina e dai-me a imensa riqueza do vosso amor e da vossa graça.
Meu Deus, meu Jesus: com todo o meu ser, quero viver na Cruz, na Cruz morrer, da Cruz não descer por minhas mãos, mas pelas mãos dos outros e somente depois de ter consumado meu sacrifício.
Quanto a mim, jamais me aconteça gloriar-me em outra coisa que não seja a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. Amém.

A CRUZ 'ROUBADA' DO PAPA FRANCISCO

Em recente encontro com o clero da diocese de Roma, o Papa Francisco contou aos sacerdotes presentes a história de uma pequena cruz que leva consigo sempre, há décadas, como proteção especial contra os maus pensamentos (ver trecho do vídeo abaixo).

A pequena cruz pertencia ao Padre José Aristi, então vigário da Paróquia do Santíssimo Sacramento, de Buenos Aires, sacerdote reconhecido como grande confessor, e que tinha atendido em confissão, durante décadas, praticamente todo o clero da capital argentina (e que teria inclusive confessado o Papa João Paulo II, quando de uma de suas visitas à Argentina).

Como vigário geral da diocese, Bergoglio tomou conhecimento da morte do Padre Aristi numa manhã de Páscoa, aos 94 (ou 96) anos e se dirigiu, então, imediatamente à igreja do velório. 'Era uma igreja muito grande, com um belíssimo altar. Havia apenas duas anciãs rezando, mas não havia flores. Saí dali e fui a uma floricultura e comprei algumas flores, rosas. Voltei à igreja e comecei a colocar as flores no caixão, quando me deparei com o terço nas mãos do falecido e num ato contínuo - que ladrão todos temos em nós, não ? - arranquei, com algum esforço, a pequena cruz daquele terço e rezei: 'Dá -me a metade de tua misericórdia', sentindo algo muito forte que me deu coragem para fazer este gesto e esta oração'. 

Desde então, passou a trazer sempre consigo a pequena cruz 'roubada' daquele terço, mesmo hoje, ainda que presa a uma pequena bolsa de pano, sob as vestes papais. 'E, diante de qualquer tentação de um mau pensamento contra qualquer pessoa', disse o papa, 'levo a minha mão até essa pequena cruz e sinto a graça da misericórdia em mim'. Pediu, então, que se fosse invocada sempre a misericórdia a todos os bons sacerdotes que estão no Céu que tiveram essa mesma misericórdia com os seus fieis, porque isso traz um grande bem. 


(a revelação do Papa Francisco - vídeo em espanhol, até 2:15)

sexta-feira, 7 de março de 2014

O DOM DA INTELIGÊNCIA

O sexto dom do Espírito Santo faz a alma entrar em uma via superior a que ela se encontrava até aqui. Os cinco primeiros dons tendem todos para a ação. O Temor de Deus remete o homem ao seu lugar humilhando-o, a Piedade abre seu coração às afeições divinas, a Ciência ensina-o a discernir entre a via da salvação e a via da perdição, a Força o arma para o combate e o Conselho dirige o homem em seus pensamentos e em suas obras; agora, então, ele pode agir e seguir pela estrada, com a esperança de chegar ao termo. Mas a bondade do Espírito Divino lhe reserva ainda outros favores, fazendo-lhe desfrutar desde este mundo, de um antegozo da felicidade que lhe reserva na outra vida. Este será o meio de fortalecer sua marcha, de animar sua coragem e de recompensar seus esforços. A via da contemplação lhe será, de agora em diante, aberta e o Espírito Divino nela o introduzirá por meio da Inteligência.

Muitas pessoas, talvez, se inquietem com a palavra contemplação, persuadidas erradamente de que as condições para isso só poderão ser encontradas na rara condição de uma vida passada no recolhimento e longe do comércio dos homens. É um grave e perigoso erro que, muitas vezes, freia o impulso das almas. A contemplação é o estado para o qual é chamado, em certa medida, toda alma que procura a Deus. Não consiste nos fenômenos pelos quais o Espírito Santo gosta de manifestar em algumas pessoas privilegiadas e que são destinados a provar a realidade da vida sobrenatural. Ela é, simplesmente, uma relação mais íntima que se estabelece entre Deus e a alma que lhe é fiel na ação; se esta alma não põe obstáculos, são-lhe reservados dois favores, entre os quais, o primeiro é o dom de Inteligência, que consiste na iluminação do espírito esclarecido desde então por uma luz superior.

Esta luz não retira a fé, mas clareia os olhos da alma, fortificando-os e dando-lhes uma visão mais extensa sobre as coisas divinas. Muitas nuvens provenientes da fraqueza e da grosseria da alma ainda não iniciada, se desvanecem. A beleza cheia de encantos dos mistérios, a qual era vagamente sentida, se revela; inefáveis harmonias que nem eram suspeitadas, aparecem. Não é a visão face a face, reservada para o dia eterno; mas já não é mais aquela fraca luminosidade que dirigia seus passos. Um conjunto de analogias e de concordâncias mostram-se sucessivamente aos olhos do espírito, trazendo uma certeza cheia de doçura. A alma se dilata com essas claridades que enriquecem a Fé, aumentam a Esperança e desdobram o Amor.

Tudo parece novo; e quando a alma olha para trás, compara e vê claramente que a verdade, sempre a mesma, agora é alcançada por ela de maneira incomparavelmente mais completa. A leitura dos Evangelhos a impressiona mais; encontra um sabor nas palavras do Salvador desconhecido para ela até então. Compreende melhor o fim a que Ele se propôs instituindo os Sacramentos. A santa Liturgia a emociona por suas fórmulas tão augustas e seus ritos tão profundos. A leitura da vida dos santos a atrai, nada a espanta nos seus sentimentos e nos seus atos; aprecia seus escritos mais do que quaisquer outros e sente um aumento de bem estar espiritual, tratando com esses amigos de Deus.

Rodeada de deveres de toda natureza, a chama divina guia essa alma para satisfazer a cada um deles. As diversas virtudes que deve praticar conciliam-se em sua conduta; uma nunca é sacrificada pela outra, porque vê a harmonia que deve reinar entre elas. Está longe do escrúpulo como do relaxamento e sempre atenta para logo reparar os danos que pôde cometer. Algumas vezes, o próprio Espírito a instrui por uma palavra interior que, quando ouvida, ilumina sua situação com uma nova luz.

De agora em diante, o mundo e seus vãos equívocos, são tomados por aquilo que são e a alma se purifica do resto de vínculos e complacências que ainda poderia conservar por eles. Aquilo que só tem grandeza e beleza segundo a natureza parece insignificante e miserável para esses olhos que o Espírito Santo abriu para as grandezas e belezas divinas e eternas. Só uma coisa redime a seus olhos esse mundo exterior que ilude o homem carnal: é que a criatura visível, que traz a marca da beleza de Deus, é susceptível de servir à glória de seu Autor. A alma aprende a fazer uso dela com ação de graças, tornando-a sobrenatural, glorificando com o Rei Profeta Àquele que imprimiu as marcas de sua beleza nessa multidão de seres que servem tantas vezes para a perda do homem, mas que são chamados a se tornarem degraus que o conduziriam a Deus.

O dom de Inteligência derrama também na alma o conhecimento de sua própria via. Faz com que ela compreenda o quanto são sábios e misericordiosos os desígnios do alto que, muitas vezes, a quebra e a transporta para onde não contava ir. Vê que, se ela fosse senhora de si mesma, para dispor de sua existência, teria perdido o seu fim e que Deus nele a fez chegar, escondendo primeiramente os desígnios de sua paternal Sabedoria. Agora ela está feliz, pois goza da paz e seu coração não cabe de ações de graças para agradecer a Deus que a conduziu ao termo sem consultá-la. Se acontecer de ser chamada para dar conselhos, para exercer uma direção por dever ou por motivo de caridade, pode-se confiar nela; o dom de Inteligência a esclarece para os outros como para ela própria. No entanto não se intromete, dando lições àqueles que não lha pedem; mas se é interrogada, responde e suas respostas são luminosas como a chama que a ilumina.

Este é o dom de Inteligência, verdadeira luz da alma cristã e que se faz sentir nela em proporção à sua fidelidade aos outros dons. Este dom se conserva pela humildade, moderação dos desejos e recolhimento interior. Uma conduta dissipada detém o seu desenvolvimento e pode mesmo abafá-lo. Essa alma fiel pode se conservar recolhida mesmo em uma vida ocupada e cheia de deveres, e até no meio de distrações obrigadas às quais a alma se presta sem se prender. Que ela seja simples a seus próprios olhos e o que Deus esconde aos soberbos e revela aos pequenos lhe será manifestado e nela permanecerá.

Não há duvida de que tal dom seja um imenso socorro para a salvação e a santificação da alma. Devemos implorá-lo ao Divino Espírito com todo ardor de nossos desejos, convencidos de que o atingiremos mais seguramente pelo impulso do nosso coração do que pelo esforço de nosso espírito. Na verdade é na Inteligência, que se derrama a luz divina, objeto desse dom; mas sua efusão provém, sobretudo, da vontade aquecida pelo fogo da Caridade, segundo a palavra de Isaías: 'Crede, e tereis a inteligência'. 

Vamos nos dirigir ao Espírito Santo nos servindo das palavras de Davi, dizendo: 'Abri nossos olhos e contemplaremos as maravilhas dos Vossos preceitos; dai-nos a inteligência e teremos a vida'. Instruídos pelo Apóstolo, manifestaremos nosso pedido de maneira ainda mais insistente, nos apropriando da oração que ele dirige ao Pai celeste em favor dos fiéis de Éfeso, quando implora por eles 'o Espírito de Sabedoria e de revelação, pelo qual se conhece a Deus; os olhos iluminados do coração que descobrem o objeto de nossa esperança e as riquezas da gloriosa herança que Deus preparou para seus santos'.

(Excertos da obra 'Os Dons do Espírito Santo', de Dom Prosper Gueranger, Ed. Permanência, 2007)