segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

DA IMITAÇÃO DE MARIA

1) Deves meditar com grande firmeza os exemplos da amável Virgem Maria, a que, como preciosa mirra, produz perfumados frutos de paciência, e foi enchida de maneira suavíssima, com abundante medida, de consoladoras doçuras divinas.Também tu encontrarás grandíssimos consolos, se levas no coração o nome de Maria. Enquanto estiver bem com ela, obterás muitas vantagens, porque seu amor expulsa todo ardor de concupiscência carnal, dá o alívio da castidade, induz a desprezar o mundo, faz servir a Cristo na humildade, afugenta toda má companhia e educa para uma vida casta e religiosa.

2) Ama Maria, então, e receberás uma graça especial; invoca a Maria, e obterás vitória; honra Maria, e conseguirás a eterna recompensa. Traz consigo dois benefícios especiais o viver com ela: ensina a agradecer a Deus desde o íntimo do coração quando as coisas andam bem, assim como suportá-las com paciência quando andam mal. Ela foi a primeira a agradecer continuamente e com todas as forças a Deus, pelos benefícios que recebeu d’Ele mais que todos os outros; e se portou sempre com mansidão em todos os sofrimentos deste mundo, preferindo constantemente as coisas mais humildes às que conotam jactância. Não viveu um só dia sem dores e, entretanto, em meio às angústias, nunca careceu de grande consolo, porque toda tribulação abraçada por Cristo produz doçura e alegria, e quanto maior a frequência com que alguém é tomado como alvo e ferido pelo mal, mais merece ser ajudado.

3) A Virgem Bem-aventurada sofreu muitíssimo pelos erros do mundo e pela perversidade de tanta gente; se compadeceu dos que estavam verdadeiramente arrependidos ou duramente tentados. Afligiu-se pela enorme ingratidão dos homens, para quem Deus Pai havia mandado seu Filho unigênito, encarnado por amor, a fim de que reconquistassem o paraíso que um dia haviam perdido pelo pecado de Adão. Teve pesar pela condenação dos maus, que, menosprezando a palavra de Deus, preferiam o mundo antes que o céu e perseguiam as falsas riquezas ao invés das autênticas virtudes. Sofreu pela perseguição dos inocentes e pela violência dos malvados, pelo desprezo dos mandamentos de Deus; e constituía para ela motivo de profundo padecimento o fato de que o mundo inteiro estivesse submergido no mal e fossem poucos os dispostos a receber a luz eterna, acesa no mundo por meio dela, Mãe de imensa piedade. Teve para com todos grandíssima paciência e levou uma vida repleta de sofrimentos, ao mesmo tempo que rogava com lágrimas e soluços pela salvação das almas.

4) Se queres conhecer mais a fundo quais e quantos sofrimentos aguentou Maria na perseguição e na paixão de seu amado Filho, saberás que bebeu até à última gota o cálice de tantos amargos pesares como os que bebeu Jesus em cada instante de sua vida e a causa de todas as feridas infligidas em seu corpo. Efetivamente, quando Jesus teve que sofrer, de parte dos homens, contrariedade e desprezo, sem que também ela os sofresse por compaixão? Se ela sofreu quando perdeu Jesus só por alguns dias, quanto não haverá chorado ao vê-Lo crucificado e logo morto? Os que amam a Jesus sabem bem que o afeto maternal de Maria superou no sofrimento ao de todas as almas piedosas. Por isso, se queres conhecer a violência da dor na Mãe, pensa na veemência do amor na Virgem.

5) Ninguém pode expressar o júbilo de Maria; ninguém está em condições de compreender a abundância de sua doçura e a grandeza de seu consolo, porque onde mais superabunda a graça, mais superabundam a alegria e o consolo, e também Deus com maior frequência se acostuma a efetuar suas visitas. Do qual se segue que sempre mais fervorosamente aumenta o amor pelo louvor de Deus e se renova toda vida interior do homem. Portanto, a graça celestial não permite que um cristão, que ama a Deus sobre todas as coisas, viva sem consolo interior, senão que o eleva continuamente aos bens celestiais e o ilumina sabiamente sobre o que convém fazer. Inflama-o nas santas meditações e o impulsiona ao agradecimento, posto que quanto maior é a graça e mais pura a vida, tanto mais jubilosa é a consciência e mais devota a oração.

6) Uma vida afastada do alvoroço do mundo e dos maus desejos sente uma sede constante e sempre mais intensa de que se a introduzisse nos coros dos anjos, se eleva acima das realidades presentes e arde em desejos de desfrutar a Suma Trindade na eterna glória. Glória que nenhum santo nesta vida saboreou antecipadamente com maior intensidade que a bendita e gloriosa Virgem Maria, constituída como medianeira mais eficaz que todos aqueles que contemplam e bendizem a Deus.

7) Depois de haver escutado o elogio de seus louvores, imita tu também à Mãe de Deus, para que possas merecer e fazer parte do número de seus devotos. Esforça-te por seguir cuidadosamente à Maria Santíssima em suas celebradas virtudes, e conseguirás a palma da glória celestial. Entristeça-te muito por tuas passadas negligências e pelos defeitos ainda não vencidos, com os que há ofendido a Deus e a todas as criaturas. Obras-te mal nesta terra e te portaste com tibieza no serviço de Cristo, pelo qual deves chorar antes de tudo a causa de ti mesmo e logo, por caridade, a causa do próximo. Portanto, compadece-te daqueles que nos perigos se comportam mal e não o advertem. Muitos, ainda que reconhecendo suas próprias maldades, não se emendam. Por estes é necessário afligir-se e rezar, para que Deus lhes conceda o espírito de compunção para poderem salvar-se.

8) Roga por teus amigos e benfeitores; roga também por teus detratores, para que aos bons, se lhes conceda uma graça adequada, aos inimigos um juízo com equidade, a todos a paz e a misericórdia de Cristo. Roga com o fim de que todos os homens, pelos quais Deus realizou tantas maravilhas e se rebaixou, submetendo-se humildemente a Maria e a José, o amem, pratiquem seus mandamentos e dêem glória a seu Criador.

9) Seja reconhecedor dos benefícios que Deus gratuitamente concedeu a todo gênero humano por meio de sua Santíssima Mãe, e tributa-lhe continuamente gratidão e honra, posto que, se a lei natural ordena ter respeito e amor pelos progenitores carnais, muito mais os filhos da Igreja devem sentir-se agradecidos e obrigados com relação de sua Mãe espiritual, e amar à Mãe de Deus mais que a todos os parentes e amigos. É necessário que aprendas a elevar-se em direção a Deus com Maria por meio de louvores e orações. É necessário que te apóies confiadamente em seu patrocínio, sem crer-te seguro com tuas forças, para que tua mente, dominada pelas paixões, não fique enredada nas baixezas, senão que, inflamada cada dia por novos desejos, possa tender livremente para o alto, onde reina felizmente com Jesus, Rei dos anjos, a doce Virgem Maria, gloriosa rainha do céu.

10) Lamentavelmente, depois de haver degustado por breve tempo os divinos consolos, a debilidade da carne te empurra uma vez mais a baixar a este vale de lágrimas. Mas então tens que recorrer com todas tuas forças à Mãe das abundantes misericórdias, para que sugira a seu Filho compassivo que tu não tens mais vinho e necessitas o sagrado unguento da devoção para poder louvá-lo dignamente. É Ele, com efeito, o que toma a seu cuidado os pobres, os que desprezam o mundo e os que no mundo são menosprezados por causa de Jesus e do evangelho do Reino. Por isso é muito útil saber onde encontrar refúgio contra o inimigo, ao reparo dos agudos dardos, e onde refugiar-se do frio e das tempestuosas tribulações. Não há lugar onde refugiar-se mais seguramente que no colo de Maria, nem cavalgadura mais veloz para fugir das mãos do tentador que uma oração dirigida com fé à fortaleza de Maria, nossa Rainha.

11) O mesmo Jesus entrou nesta fortaleza, assumindo dela os sagrados membros de seu corpo, com o fim de vencer o príncipe das trevas. Tu também, então, entra para refugiar-te à sombra desta fortaleza, rogando dia e noite ser salvo pelos méritos da Santíssima Virgem, de todos os males que te ameaçam, mantendo-te bem seguro sob o amplo manto de Nossa Senhora, já que, quando Maria roga, desaparece toda horda maligna. Se Maria te ajuda, te salvarás de todo perigo. Nela encontra refúgio o pobre; acha remédio o enfermo; encontra consolo o aflito; recebe conselho o vacilante; encontra energia o desencorajado. Será um bem, melhor dito, um grande bem para ti, se o mereceras e fora propenso e dócil aos desejos de Maria, porque receberás seus favores aqui na terra e a glória com todos os eleitos no céu. Aproxima-te de Maria e não a soltes, até que te haja conduzido com sua feliz orientação à mansão do céu. Amém.

(Excertos da obra 'Imitação de Maria' de Thomas de Kempis, Livro III, Capítulo V)

domingo, 1 de dezembro de 2013

'FICAI ATENTOS AO SENHOR QUE VEM!'

Páginas do Evangelho - Primeiro Domingo do Advento 


Hoje começa um novo ano litúrgico da Santa Igreja com o Tempo do Advento, período em que os cristãos são conclamados a viver em plenitude as graças da expectativa, da conversão e da esperança, à espera do Senhor Que Vem. O Ano Litúrgico 2013-2014 é o Ano A, no qual os exemplos e ensinamentos de Jesus Cristo são proclamados a cada domingo pelas leituras do Evangelho de São Mateus.

E o novo ano litúrgico começa com Jesus exortando a vigilância aos filhos de Deus: 'Ficai atentos, porque não sabeis em que dia virá o Senhor' (Mt 24, 42). Do alto do Monte das Oliveiras e à vista de Jerusalém, Jesus vai alertar os seus discípulos sobre a necessidade de se permanecer vigilantes, na oração e na confiança de uma vida de plenitude cristã, diante das coisas do mundo, que passam e repassam no cotidiano de nossas vidas. Vigilância que se impõe naqueles tempos, na vida futura da Igreja, nos remotos tempos da história: 'Pois nos dias, antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. E eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e arrastou a todos. Assim acontecerá também na vinda do Filho do Homem' (Mt 24, 38-39).

São palavras de salvação, porque a única coisa realmente importante para o homem é a salvação eterna de sua alma. Tudo o mais é efêmero e sem sentido. No fim dos tempos ou no fim de nossa vida, o Juízo Final ou o Juízo Particular vai nos pedir contas essencialmente da nossa vigilância filial à Santa Vontade de Deus, no cumprimento de nossas ações cristãs, no acervo das graças recebidas, na inquietude do coração humano ao encontro do Pai.

Vigiar significa essencialmente não pecar, não ofender a Santidade de Deus com as misérias e as fragilidades humanas, não conspurcar a Infinita Pureza da alma que nos foi legada um dia com a lama dos prazeres, frivolidades e maldades de uma vida profanada pelos valores do mundo. Porque haverá o dia do juízo, no qual os homens serão levados ou deixados para trás: ''Por isso, também vós ficai preparados! Porque, na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá' (Mt 24, 44). Vigiar é estar preparado para que sejam santos todos os dias de nossa vida para que Deus escolha, dentre eles, o mais belo, para receber de volta as almas vigilantes que Ele próprio desenhou para a eternidade. 

sábado, 30 de novembro de 2013

ORAÇÃO PARA NÃO DESISTIR NUNCA


Não desista nunca:
Nem quando o cansaço se fizer sentir,
Nem quando os teus pés tropeçarem,
Nem quando os teus olhos arderem,
Nem quando os teus esforços forem ignorados,
Nem quando a desilusão te abater,
Nem quando o erro te desencorajar,
Nem quando a traição te ferir,
Nem quando o sucesso te abandonar,
Nem quando a ingratidão te desconsertar,
Nem quando a incompreensão te rodear,
Nem quando a fadiga te prostrar,
Nem quando tudo tenha o aspecto do nada,
Nem quando o peso do pecado te esmagar.
Invoque sempre a Deus, cerre os punhos, sorria… 
E recomece!
(São Leão Magno)

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

GALERIA DE ARTE SACRA (IX)

Num ramal ermo das catacumbas de Santa Tecla, nas proximidades da Basílica de São Pedro e do lado de fora das muralhas da Roma antiga, foram descobertas recentemente pinturas que podem ser as primeiras imagens dos apóstolos São Pedro, Santo André, São João e São Paulo. Acredita-se que o local seja o túmulo (com cerca de 2,0m x 2,0m) de uma mulher nobre que ter-se-ia convertido ao cristianismo.

As imagens, pintadas no fim do século 4 ou início do século 5, são compostas por quatro círculos, com cerca de 50 centímetros de diâmetro e estão localizadas no teto do túmulo, circundando uma imagem que representa Cristo como o Bom Pastor. Outras imagens foram pintadas nas paredes laterais. As imagens foram recuperadas por meio de técnicas modernas de restauração e estão abertas por enquanto apenas ao acesso dos especialistas.

(local das imagens nas catacumbas de Roma)

(imagem de Cristo como o bom pastor)

(o apóstolo Paulo e uma pintura lateral do túmulo)

(imagem do apóstolo São Pedro)

(imagem do apóstolo São João)


(imagem do apóstolo Santo André)

GLÓRIAS DE MARIA - NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS


'Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós'


'Este globo que vês representa o mundo inteiro e, em especial, a França e cada pessoa em particular. Eis o símbolo das graças que derramo sobre as pessoas que as pedem'

'Estes raios são o símbolo das graças que a Santíssima Virgem alcança para as pessoas que lhe pedem...'.

ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS

Ó Imaculada Virgem Mãe de Deus e nossa Mãe, ao contemplar-vos de braços abertos derramando graças sobre os que vo-las pedem, cheios de confiança na vossa poderosa intercessão, inúmeras vezes manifestada pela Medalha Milagrosa, embora reconhecendo a nossa indignidade por causa de nossas inúmeras culpas, acercamo-nos de vossos pés para vos expor, durante esta oração, as nossas mais prementes necessidades (em silêncio e devoção, pedir a graça desejada).

Concedei, pois, ó Virgem da Medalha Milagrosa, este favor que confiantes vos solicitamos, para maior glória de Deus, engrandecimento do vosso nome, e o bem de nossas almas.
E para melhor servirmos ao vosso Divino Filho, inspirai-nos profundo ódio ao pecado e dai-nos coragem de nos afirmar sempre verdadeiros cristãos. Amém.

Rezar 3 Ave-Marias e, após cada ave-maria, a jaculatória: 'Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós'.

Oração Final - Santíssima Virgem, eu creio e confesso vossa Santa e Imaculada Conceição, pura e sem mancha. Ó puríssima Virgem Maria, por vossa Conceição Imaculada e gloriosa prerrogativa de Mãe de Deus, alcançai-me de vosso amado Filho a humildade, a caridade, a obediência, a castidade, a santa pureza de coração, de corpo e espírito, a perseverança na prática do bem, uma santa vida e uma boa morte. Amém.


'Faça cunhar uma medalha por este modelo; todas as pessoas que a trouxerem receberão grandes graças, sobretudo se a trouxerem ao pescoço; as graças serão abundantes, especialmente para aqueles que a usarem com confiança'

SÍMBOLOS DAS FACES DA MEDALHA MILAGROSA

Uma mulher Vestida de Luz:
Nossa Senhora resplandecente, envolvida por luz e graças, significando a glória total. 

A inscrição: 
Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós. 


Mãos abertas: 
Gesto de distribuição de inúmeras Graças para o mundo, Maria, medianeira e co-redentora. 

Raios:
'Os raios que vês são símbolos das Graças que derramo sobre quem as pede'.

Globo branco sobre os pés que pisam a serpente:
Maria é a antítese e o refúgio aos pecados do mundo.


Letra M:
A letra M, que sustém uma Cruz sobre uma barra horizontal entrelaçada nos braços do M , provém de Maria, Mãe de Deus, altar da encarnação divina e participante das dores de Jesus na cruz; Mãe de todos nós. 

A Cruz sobre a barra:
Altar da redenção, sinal da Salvação.


Dois corações:
O coração de Jesus, coroado de espinhos; O coração de Maria atravessado por uma espada, pela sua participação ativa e eminente na obra da Redenção. 

Doze estrelas: 
Recordam o texto do Apocalipse: ... e na sua cabeça uma coroa de doze estrelas que simbolizam as doze tribos de Israel, os doze apóstolos, os doze pilares da Fé.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

28 DE NOVEMBRO - SANTA CATARINA LABOURÉ

Hoje, 28 de novembro, a Igreja celebra a santidade de Catarina Labouré, a vidente das aparições de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa (Paris, 1830). Sínteses da vida dessa santa, dos carismas recebidos e das aparições de Nossa Senhora a ela são apresentadas nos slides abaixo.





terça-feira, 26 de novembro de 2013

26 DE NOVEMBRO - SÃO LEONARDO DE PORTO MAURÍCIO

(São Leonardo de Porto Maurício: 1676 - 1751)

São Leonardo, o grande missionário do século XVIII proclamado pelo Papa Pio XI patrono dos sacerdotes consagrados às missões católicas, nasceu em Porto Maurício, perto de Gênova na Itália, a 20 de dezembro de 1676. Entrou para a Ordem Franciscana, no Convento de São Boaventura, ordenando-se padre aos 26 anos, dedicando, então, toda a sua vida, à salvação das almas por meio de pureza singular, penitências, orações e extremada caridade. Foi um grande apóstolo da ação missionária e do santo exercício da Via-Sacra, destacando-se ainda por ser um exímio pregador e autor de uma grande coleção de escritos católicos. São Leonardo de Porto Maurício faleceu no mesmo Convento de São Boaventura, em Roma, em 26 de novembro de 1751. Foi canonizado pelo Papa Pio IX em 29 de junho de 1867.



EXCERTO DA OBRA 'AS EXCELÊNCIAS DA SANTA MISSA' DE SÃO LEONARDO DE PORTO MAURÍCIO
                                          (conforme a edição romana de 1737, dedicada ao Papa Clemente XII)

Sabeis o que é, na realidade, a Santa Missa? É o sol da cristandade, a alma da Fé, o centro da religião Católica apostólica com a sede em Roma, a que tendem todos os seus ritos, todas as suas cerimônias, todos os seus sacramentos. É, em uma palavra, a essência de tudo o que há de bom e de belo na Igreja de Deus. 

Só o Sacrifício que temos em nossa santa religião, que é a Santa Missa, é um sacrifício santo, perfeito, e, em todo sentido, completo: por ele, cada fiel honra dignamente a Deus, reconhecendo, ao mesmo tempo, o próprio nada e o supremo domínio de Deus. Davi o chama: Sacrifício de Justiça ('sacrificium justitiae'); tanto porque contém o Justo dos justos e o Santo dos santos, ou, melhor a própria Justiça e Santidade, como porque santifica as almas pela infusão das graças e abundância dos dons que lhes confere. 

A principal excelência do santo Sacrifício da Missa consiste em que se deve considerá-lo como essencialmente o mesmo oferecido no Calvário sobre a Cruz, com esta única diferença: que o sacrifício da Cruz foi sangrento e só se realizou uma vez e que, nessa única oblação, Jesus Cristo satisfez plenamente por todos os pecados do Mundo; enquanto que o sacrifício do altar é um sacrifício incruento, que se pode renovar uma infinidade de vezes, e que foi instituído para nos aplicar especialmente esta expiação universal que Jesus por nós cumpriu no Calvário. 

Assim o sacrifício cruento foi o meio de nossa redenção e o sacrifício incruento nos proporciona as graças da nossa redenção. Um abre-nos os tesouros dos méritos de Cristo Nosso Senhor, o outro no-los dá para os utilizarmos. Notai, portanto, que na Missa não se faz apenas uma representação, uma simples memória da Paixão e Morte do nosso Salvador; mas, num sentido realíssimo, o mesmo que se realizou outrora no Calvário aqui se realiza novamente: tanto que se pode dizer, a rigor, que em cada Santa Missa nosso Redentor morre por nós misticamente, sem morrer na realidade, estando ao mesmo tempo vivo e como imolado.

No santo dia de Natal, a Igreja nos lembra o nascimento do Salvador, mas não é verdade que Ele nasça, ainda, nesse dia. Nos dias da Ascensão e Pentecostes, comemoramos a subida do Senhor Jesus ao Céu e a vinda do Espírito Santo, sem que, de modo algum, nesses dias, o Senhor suba ainda ao Céu ou o Espírito Santo desça visivelmente à Terra. A mesma coisa, porém, não se pode dizer do mistério da Santa Missa, pois aí não é uma simples representação que se faz, mas, sim, o mesmo sacrifício oferecido sobre a Cruz, com efusão de sangue, e que se renova de modo incruento: é o mesmo corpo, o mesmo sangue, o mesmo Jesus, que se imola hoje na Santa Missa. 

Ora, dizei-me sinceramente se, quando ides à Igreja para assistir a Santa Missa, pensásseis bem que ides ao Calvário assistir à morte do Redentor, que diria alguém que vos visse ai chegar numa atitude tão pouco modesta? Se Maria Madalena fosse ao Calvário e se prostrasse aos pés da Cruz vestida, perfumada e ataviada como em seus tempos de desordem, quanto não seria censurada! E que se dirá de vós que ides à Santa Missa como se fôsseis a uma festa mundana? Que aconteceria, sobretudo se profanásseis este ato tão santo, com gestos, risadas, cochichos, encontros sacrílegos? Digo que, em qualquer tempo e lugar, a iniquidade não tem cabimento; mas os pecados que se cometem na hora da Santa Missa e na proximidade do altar, são pecados que atraem a maldição de Deus

Se não houvesse o Sol, que seria da Terra? Oh! Tudo seria trevas, horror, esterilidade e desolação. E se o Mundo não tivesse a Santa Missa, que seria de nós? Infelizes! Ficaríamos privados de todos os bens sobrecarregados de todos os males. Estaríamos expostos a todos os raios da cólera de Deus. Alguns há que se admiram, e acham que, de certo modo Deus mudou a sua maneira de governar. Antigamente Ele se nomeava de Deus dos exércitos, e falava ao povo do meio das nuvens, manejando o trovão; e de fato, era com todo o rigor da justiça que castigava os pecados. Por um único adultério, mandou passar a fio de espada vinte e cinco mil homens da tribo de Benjamim (Juiz 20,46). Por um leve pecado de orgulho de Davi em computar o povo, enviou Ele uma peste tão terrível que, em poucas horas pereceram setenta mil pessoas (II Sam. 24,15). Por um só olhar curioso e desrespeitoso dos betsamitas, fez com que cinqüenta mil deles perecessem (I Sam. 6, 19). 

E agora suporta, com paciência, não só vaidades e irreverências, mas adultérios, os mais vergonhosos, escândalos gravíssimos, e tantas blasfêmias horríveis que muitos cristãos vomitam contra Seu Nome Santíssimo. Por que assim acontece? Por que tão grande mudança de conduta? Serão as ingratidões dos homens mais escusáveis hoje do que outrora? Bem ao contrário, são muito mais culpáveis, já que os imensos benefícios de Deus se multiplicam a cada dia. 

A verdadeira razão desta clemência espantosa é a Santa Missa, pela qual esta grande Vítima, que se chama Jesus, se oferece ao Eterno Pai. Eis aí o sol da Santa Igreja que dissipa as nuvens e torna sereno o céu. Eis aí o arco-íris que detém os raios da Divina Justiça. Creio para mim que, não fosse a Santa Missa, o Mundo estaria já no abismo, incapaz de suportar o imenso fardo de suas iniquidades. A Santa Missa é o poderoso sustentáculo que lhe permite subsistir. Conclui-se, de tudo isto, quanto este divino Sacrifício é necessário; assim então, sabei aproveitá-lo o máximo que for possível. Para isto, quando participamos da Santa Missa, devemos imitar Afonso de Albuquerque. Achando-se, com sua frota, em perigo de naufragar numa horrível tempestade, teve uma inspiração: tomou nos braços uma criança que viajava em sua nau, e, elevando-a ao alto, exclamou: “Se todos somos pecadores, esta criaturinha é certamente sem mácula, Ah! Senhor por amor deste inocente compadecei-vos dos culpados!” Acreditareis? A vista dessa criança inocente agradou tanto a Deus, que Ele acalmou o mar e devolveu a alegria àqueles infelizes, gelados já pelo terror da morte certa. 

Ainda que a excelência e a necessidade da Santa Missa não fossem para vós bastante ponderáveis, como poderíeis deixar de apreciar a magna utilidade que ela proporciona aos vivos e falecidos, aos justos e aos pecadores, para a vida e para a morte, e mesmo para depois da morte? Imaginai que sois aquele devedor do Evangelho, cuja dívida se elevara à enorme quantia de dez mil talentos. Chamado a prestar contas humilha-se, implora e pede adiamento para satisfazer completamente o débito: 'Tem paciência comigo, que tudo de pagarei' (Mt 18, 26).  Aí está o que deveis fazer, vós que tendes com a Justiça divina não uma, mas mil dívidas. Deveis humilhar-vos e suplicar tempo bastante para assistir à Santa Missa; e ficai certos de que estas Santas Missas saldarão completamente todas as vossas obrigações. 

São Tomás de Aquino, o Doutor angélico, nos ensina quais são as dívidas que temos com Deus. Ele diz que há especialmente quatro. Todas as quatro ilimitadas. A primeira é de adorar, louvar e honrar este Deus de majestade infinita e digno de infinitos louvores e homenagens. A segunda é dar-Lhe satisfação pelos pecados que cometemos. A terceira, render-Lhe graças pelos benefícios recebidos. A quarta, implorar-Lhe, como fonte de todas as graças. Ora, como é possível que pobres criaturas como nós, que nada possuímos, nem mesmo o ar que respiramos, possam jamais satisfazer obrigações tão grandes? Consolemo-nos, pois aqui está um meio facílimo. Façamos o possível para participar de muitas Missas e com a máxima devoção; mandemos celebrá-la também o mais que pudermos: e, se bem que nossas dívidas sejam enormes e inumeráveis, não há dúvida de que, com o tesouro contido na Santa Missa, poderemos solvê-las inteiramente. 

São Leonardo de Porto Maurício, rogai por nós!