sábado, 5 de outubro de 2013

PRIMEIRO SÁBADO DE OUTUBRO


Mensagem de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, vidente de Fátima: 
                                                                                                                           (Pontevedra / Espanha)

‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem*, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’
* Com base em aparições posteriores, esclareceu-se que a confissão poderia não se realizar no sábado propriamente dito, mas antes, desde que feita com a intenção explícita (interiormente) de se fazê-la para fins de reparação às blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria no primeiro sábado seguinte.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

04 DE OUTUBRO - SÃO FRANCISCO DE ASSIS


Filho de um bem sucedido comerciante, Giovanni di Pietro di Bernardone nasceu em 5 de julho de 1182 na cidade de Assis. Na juventude, teve intensa vida social e, interessado pela  cavalaria, chegou a participar de uma guerra na qual acabou sendo aprisionado. A natureza da sua conversão e a própria adoção do nome 'Francisco' são fatos pouco esclarecidos, mas o fato é que o jovem Francisco propôs um novo ideal de pobreza, obediência e castidade, baseado na vivência profunda do evangelho e no exemplo de Cristo.

Neste modelo, fundou a Ordem dos Frades Menores (Franciscanos), que se expandiu por todo o mundo e, juntamente com Santa Clara, fundou a Ordem das Clarissas. Compôs belos hinos religiosos como o chamado 'Cântico das Criaturas', que louva ao Deus da Criação por todos os seres, mesmo inanimados (mas não é de sua autoria a famosa oração da paz comumente atribuída ao santo). Cerca de dois anos antes de sua morte,  recebeu os estigmas da Paixão de Cristo com feridas nas mãos e nos pés e uma chaga no peito. São Francisco de Assis morreu em 3 de outubro de 1226, sendo canonizado menos de dois anos depois. Sua comemoração litúrgica ocorre em 4 de outubro.


Cântico das Criaturas

Altíssimo, onipotente e bom Senhor, a ti subam os louvores, a glória e a honra e todas as bênçãos!

A ti somente, Altíssimo, eles são devidos, e nenhum homem é sequer digno de dizer teu nome.
Louvado sejas, Senhor meu, junto com todas tuas criaturas, especialmente o senhor irmão sol, que é o dia e nos dá a luz em teu nome.
Pois ele é belo e radioso com grande esplendor, e é teu símbolo, Altíssimo.
Louvado sejas, Senhor meu, pela irmã lua e as estrelas, as quais formaste claras, preciosas e belas.
Louvado sejas, Senhor meu, pelo irmão vento, e pelo ar, pelas nuvens e o céu claro, e por todos os tempos, pelos quais dás às tuas criaturas sustento.
Louvado sejas, Senhor meu, pela irmã água, que é tão útil e humilde, e preciosa e casta.
Louvado sejas, Senhor meu, pelo irmão fogo, por cujo meio a noite alumias, ele que é formoso e alegre e robusto e forte.
Louvado sejas, Senhor meu, pela irmã, nossa mãe, a terra, que nos sustenta e nos governa, e dá tantos frutos e coloridas flores, e também as ervas.
Louvado sejas, Senhor meu, por aqueles que perdoam por amor a ti e suportam enfermidades e atribulações.
Benditos aqueles que sustentam a paz, pois serão por ti, Altíssimo, coroados.
Louvado sejas, Senhor meu, por nossa irmã, a morte corpórea, da qual nenhum homem vivo pode fugir.
Pobres dos que morrem em pecado mortal! e benditos quem a morte encontrar conformes à tua santíssima vontade, pois a segunda morte não lhes fará mal.
Louvai todos vós e bendizei o meu Senhor, e dai-lhe graças, e servi-O com grande humildade!

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS


A Grande Revelação do Sagrado Coração de Jesus foi feita a Santa Margarida Maria Alacoque  durante a oitava da festa de Corpus Christi  de 1675...

         “Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais sensível é que há corações consagrados que agem assim. Por isto te peço que a primeira sexta-feira após a oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para  honrar Meu Coração, comungando neste dia, e O reparando pelos insultos que recebeu durante o tempo em que foi exposto sobre os altares ... Prometo-te que Meu Coração se dilatará para derramar os influxos de Seu amor divino sobre aqueles que Lhe prestarem esta honra”.


... e as doze Promessas:
  1. A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de meu Sagrado Coração.
  2. Eu darei aos devotos do meu Coração todas as graças necessárias a seu estado.
  3. Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias.
  4. Eu os consolarei em todas as suas aflições.
  5. Serei seu refúgio seguro na vida, e principalmente na hora da morte.
  6. Lançarei bênçãos abundantes sobre todos os seus trabalhos e empreendimentos.
  7. Os pecadores encontrarão em meu Coração fonte inesgotável de misericórdias.
  8. As almas tíbias se tornarão fervorosas pela prática dessa devoção.
  9. As almas fervorosas subirão em pouco tempo a uma alta perfeição.
  10. Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais empedernidos.
  11. As pessoas que propagarem esta devoção terão os seus nomes inscritos para sempre no meu Coração.
  12. A todos os que comungarem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna.

    ATO DE DESAGRAVO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS 
    (rezai-o sempre, particularmente nas primeiras sextas-feiras de cada mês)

Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é deles tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos aqui prostrados, diante do vosso altar, para vos desagravarmos, com especiais homenagens, da insensibilidade tão insensata e das nefandas injúrias com que é de toda parte alvejado o vosso dulcíssimo Coração.

Reconhecendo, porém, com a mais profunda dor, que também nós, mais de uma vez, cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a vossa misericórdia, prontos a expiar não só as nossas próprias culpas, senão também as daqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não vos querendo como pastor e guia, ou, conspurcando as promessas do batismo, renegam o jugo suave da vossa santa Lei.

De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-vos, mas particularmente das licenças dos costumes e imodéstias do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias contra vós e vossos santos, dos insultos ao vosso vigário e a todo o vosso clero, do desprezo e das horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do divino Amor, e enfim, dos atentados e rebeldias oficiais das nações contra os direitos e o magistério da vossa Igreja.

Oh, se pudéssemos lavar com o próprio sangue tantas iniquidades! Entretanto, para reparar a honra divina ultrajada, vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe, de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação que vós oferecestes ao Eterno Pai sobre a cruz, e que não cessais de renovar todos os dias sobre os nossos altares.

Ajudai-nos, Senhor, com o auxílio da vossa graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a viveza da fé, com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nossos próximos, impedir, por todos os meios, novas injúrias à vossa divina Majestade e atrair ao vosso serviço o maior número possível de almas.

Recebei, ó Jesus de Infinito Amor, pelas mãos de Maria Santíssima Reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos constantes até a morte no fiel cumprimento dos nossos deveres e no vosso santo serviço, para que possamos chegar todos à Pátria bem-aventurada, onde vós, com o Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

70 FRASES DE SÃO JOÃO DA CRUZ

1. Ó Senhor! Deus meu! Quem te buscará com amor puro e singelo que deixei de Te encontrar muito a seu gosto e vontade, se és tu o primeiro a mostrar-te e sais ao encontro daqueles que te desejam?

2. O que cai estando cego, não se levantará só, e se acaso se levantar, encaminhar-se-á por onde não lhe convém.

3. Deus prefere de ti o menor grau de pureza de consciência a quantas obras possa fazer.

4. Ó dulcíssimo amor de Deus, mal conhecido! Aquele que entrou a Tua fonte, repousou.

5. O que cai estando só, caído a sós fica e em pouca conta tem a alma, pois a si unicamente confiou.

6. A alma enamorada é suave, humilde, paciente e mansa.

7. A alma dura no seu próprio amor se endurece. Se tu, não suaviza a sua alma no Teu amor, ó bom Jesus, ela preservará sempre na sua dureza.

8. Um só pensamento do homem vale mais do que o mundo todo; portanto só Deus é digno dele.

9. O pai disse uma palavra que foi seu Filho. Di-la sempre no eterno silêncio; ela há de ser ouvida pela alma.

10. Eu quero para mim todo o áspero e trabalhoso, e para Ti, Amado meu, tudo quanto é suave e saboroso.

11. O amor não consiste em sentir grandes coisas, mas em ter uma grande desnudez e em padecer pelo Amado (Cristo).

12. A sabedoria entra pelo amor, pelo silêncio e mortificação; grande sabedoria é saber calar e não olhar aos ditos nem feitos nem vidas alheias.

13. Para se enamorar duma alma não põe Deus os olhos na grandeza dela, mas na grandeza da sua humildade.

14. A alma que caminha no amor não se cansa.

15. Tenha fortaleza no coração contra tudo aquilo que a não é Deus e seja amiga da Paixão de Cristo.

16. Quem não procura a cruz de Cristo não procura a glória de Cristo.

17. A obra pura e inteiramente feita por Deus no seio puro faz reino inteiro para o seu Senhor.

18. Agrada mais a Deus uma obra, por pequena que seja, feita às escondidas e sem desejo que saiba, do que mil feitas com desejo de que os homens as saibam, pois quem trabalha por Deus com amor puríssimo, não somente não se lhe dá que os homens o vejam, mas nem mesmo faz as obras para que Deus as saiba e mesmo que nunca Ele as viesse saber, não deixaria de prestar-lhe os mesmos serviços e isto, com a mesma alegria e pureza de amor.

19. Um ato de virtude gera na alma suavidade, paz, consolação, luz, pureza e fortaleza.

20. Vão é perturbar-se com as adversidades. Havemos de nos alegrar em vez de nos perturbar, para não perder a paz e a tranqüilidade. Com mais abundância e suavidade se comunica Deus nas adversidades.

21. Amando a alma algo fora de Deus, torna-se incapaz da união e transformação n’Ele.

22. A alma é o altar onde Deus é adorado em louvor e amor ao que, por amor, está unida a Ele.

23. Vive em solidão até achar a Deus.

24. Se uma alma busca a Deus, muito mais Deus busca a ela.

25. Amar é trabalhar em despojar-se por Deus, de tudo o que não é Deus.

26. A enfermidade de Deus não se cura senão com a presença de Deus. Porque a saúde da alma é o amor de Deus e faltando-lhe esse amor, falta-lhe a saúde.

27. Mais estima Deus em ti que te inclines à secura e a padecer por Seu Amor, do que todas as consolações, visões espirituais e meditações que possas ter.

28. Quando tem veemência do amor, tem a fé tão ilustrada, que lhe faz entrever uns divinos vislumbres.

29. Aquele que ama Deus sobre todas as coisas, nada lhe impede fazer ou padecer por Ele seja o que for.

30. Só aproveita muito na virtude aquele que se deixa conduzir por Deus.

31. O caminho por onde se busca a Deus é ir praticando em Deus o bem, e mortificando em si o mal.

32. Sem caridade, nenhuma virtude é graciosa diante de Deus.

33. Nas tribulações e humilhações, comunica-se Deus com maior abundância e suavidade. Quanto maior é a esperança, tanto maior é a união divina; tanto se alcança de Deus, quanto N’Ele se espera.

34. Não põe Deus o seu amor e graça na alma senão segundo a vontade e amor da mesma alma.

35. O olhar de Deus veste de formosura e alegria o mundo e todos os céus. É tanta a formosura de Deus, que a sua vista não pode suportar nesta vida

36. Os braços de Deus significam a sua fortaleza; reclinada a nossa fraqueza na fortaleza de Deus tem já a fortaleza do mesmo Deus. Na fortaleza voa o amor.

37. Para as honras devemos ter repugnância, e para a humildade prontidão.

38. Tanto mais livre está a alma quanto mais unida a Deus.

39. A causa porque Deus opera mais milagres por meio de certas imagens, é para que se desperte a adormecida devoção e o afeto dos fiéis à oração.

40. Só os que morrem ao homem velho, merecem renascer filhos de Deus. O que morre a si e a todas as coisas, vive vida doce e saborosa de amor com Deus.

41. É melhor não fazer nenhuma penitência do que fazê-la contra a obediência.

42. As maiores obras em que Deus mais se mostrou são as da Encarnação do Verbo e mistério da fé Cristã.

43. Padecer com Cristo o Seu Cálice é coisa mais preciosa e segura nesta vida do que o gozar.

44. Os toques divinos que Deus faz na alma, animam e enchem de brio para padecer. Sofre muito a alma enquanto Deus a anda ungindo e dispondo a fim de a unir consigo.

45. Para não perdermos a paz, devemos nos alegrar e não nos perturbar nas adversidades.

46. Somente vão tendo sabedoria de Deus os que, como crianças ignorantes caminham com amor no Seu serviço.

47. Deus nunca dá sabedoria mística sem amor, pois é o próprio amor que a infunde.

48. Deus não obra as virtudes na alma sem a sua cooperação. Quando o amor está só e firme em Deus também as virtudes estão perfeitas e muito floridas no Seu Amor.

49. Deus humilha muito para depois elevar também muito; quando ficar reduzido a nada, que será a suma humildade, ficará feita a união entre a alma e Deus.

50. Das coisas alheias, boas ou más, nunca se ocupe, porque além do perigo de pecar que há, essa ocupação é causa de distrações e de tacanhez de espírito.

51. Para mortificar as quatro paixões naturais que são: gozo, tristeza, temor e esperança, aproveita o seguinte:

· Inclina sempre não ao mais fácil, mas ao mais difícil;

· Não ao mais saboroso, mas ao mais insípido;

· Não ao mais gostoso, mas ao que não dá gosto;

· Não se inclinar ao que é descanso, mas ao mais trabalhoso;

· Não ao que é consolo, mas ao que não é consolo;

· Não ao mais, mas ao menos;

· Não ao mais alto e precioso, mas ao mais baixo e desprezado;

· Não ao que é querer algo, mas o que é não querer nada;

· Não andar procurando das coisas o melhor, mas o pior; e por Jesus Cristo ter, para com todas as coisas do mundo, desnudez, vazio e pobreza.

52. É melhor vencer-se na língua do que jejuar pão e água.

53. É humilde quem se esconde no seu nada e sabe abandonar-se em Deus.

54. Quem opera com tibieza, está próximo da queda.

55. Procurai lendo e encontrareis meditando; chamai orando e abri-se-vos-á contemplando.

56. Grande mal é olhar mais aos bens de Deus que ao próprio Deus; oração e desapego.

57. A maior necessidade que temos para progredir é calar o apetite e a língua diante deste grande Deus, pois a linguagem que Ele mais ouve é o amor calado.

58. Ao entardecer desta vida examinar-te-ão no amor. Aprenda a amar como Deus quer ser amado e deixa a tua condição.

59. Como te atreves a folgar tão sem temor, pois hás de comparecer diante de Deus e dar conta da menor palavra e pensamento.

60. Alegre-se sempre em Deus que é a sua saúde, e olhe que é bom sofrer de qualquer maneira por Aquele que é bom.

61. Se queres chegar à posse de Cristo, jamais O procure sem a cruz.

62. Em todas as nossas tribulações, aflições e dificuldades, não existe para nós outro apoio maior e mais seguro do que a oração e a esperança de que o Senhor proverá a tudo.

63. O céu é meu e minha a terra; minhas são as gentes, os justos são meus e meus os pecadores, os anjos são meus e a Mãe de Deus, e todas as coisas são minhas; e o próprio Deus é meu para mim, porque Cristo é meu e tudo para mim.

64. Procure em todas as coisas a maior honra e a glória de Deus.

65. Deus é como um sol suspenso sobre as almas, pronto a comunicar-se.

66. Onde não existe amor coloca amor e amor encontrarás.

67. Quanto mais uma alma ama, tanto mais perfeita é naquilo que ama.

68. Quando a alma chega a possuir perfeitamente a espírito de temor, possui perfeitamente o espírito de amor, porque aquele temor, o último dos sete dons, é filial, e o temor perfeito do Filho nasce do amor perfeito do Pai.

69. O demônio fica muito satisfeito quando percebe que uma alma deseja receber revelações ou sente inclinações por elas, visto que neste caso lhe oferecem muitas ocasiões e possibilidades de insinuar erros e destruir nela a fé.

70. Quanto mais a alma é pura e excelente na fé, tanto mais caridade infundida por Deus possui; e quando maior caridade reside nela, tanto mais Ele a ilumina e lhe comunica os dons do espírito santo, pois a caridade é o meio e a causa de tal comunicação.

DA VIDA ESPIRITUAL (59)

Diante de uma esplêndida pintura da arte humana:


Enquanto me esperavas, ficastes entretido com a pintura desta bela paisagem na parede: o rio de águas tranquilas e de margens verdejantes. Já pensastes na deslumbrante alegria do Pai ao criar tantas e tantas maravilhas da natureza para o deleite do homem? Imaginastes Deus neste lugar apreciando a beleza de sua criação e vendo que tudo era bom? Águas que correm tranquilas, brisas que passam, pássaros que cantam: modos diversos de Deus murmurar o seu infinito amor pelos homens. Desta esplêndida paisagem, guardai, mais que a sua beleza plástica, a necessidade frequente de glorificar o teu Deus pela criação de todas as coisas. E, principalmente, a graça de compartilhar da criação como fruto de uma escolha personalíssima do Pai.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

SOBRE O CONHECIMENTO E A IGNORÂNCIA

O CONHECIMENTO DAS LETRAS É BOM PARA A INSTRUÇÃO, MAS O CONHECIMENTO DA PRÓPRIA FRAQUEZA É MAIS ÚTIL PARA A SALVAÇÃO

I

Aqui estou para cumprir o que vos prometi; aqui estou para satisfazer vosso desejo; aqui estou, também, obrigado pela dívida que tenho para com Deus, a Quem sirvo. Como vedes, três são as razões que me impelem a pregar: o compromisso assumido, o amor fraterno e o temor a Deus. Se me abstivesse de falar, pela minha boca condenar-me-ia. Mas o que acontece se eu falar? Também neste caso, corro o mesmo risco, o de ser condenado pela minha própria boca: por pregar e não praticar o que prego. Ajudai-me, pois, com vossas orações, para que eu possa sempre falar o que é necessário e, com minha conduta, praticar o que prego.

Tinha vos anunciado o tema do sermão de hoje: a ignorância, ou melhor, as ignorâncias, porque, como lembrais, há duas ignorâncias: a de nós próprios e a de Deus. E vos aconselhava a evitar uma e outra, pois ambas são perdição. Hoje, procuraremos esclarecer melhor esse assunto. Antes, porém, discutiremos se toda ignorância é condenável. Parece-me que não, pois nem toda ignorância produz perdição: há muitas e mesmo inúmeras coisas que se podem ignorar sem problema algum para a salvação.

Se alguém, por exemplo, desconhece artes mecânicas, como a carpintaria, a arte de edificação e outras que são exercidas para a utilidade da vida neste mundo, acaso tal ignorância constitui obstáculo para a salvação? Também são muitos são os que se salvaram e agradaram a Deus pela sua conduta e com seus atos sem as artes liberais (e, certamente, são úteis e moralmente bons esses estudos). Quantos não enumera a Epístola aos Hebreus (cap. XI), que se tornaram agradáveis a Deus não com erudição, 'mas com consciência pura e fé sincera' (1 Tm 1,5). E agradaram a Deus com os méritos de sua vida e não com os de seu saber. Cristo não foi buscar Pedro, André, os filhos de Zebedeu e todos os outros discípulos, entre filósofos; nem em escola de retórica e, no entanto, valeu-se deles para realizar a salvação na terra.

Não é porque fossem mais sábios do que todos os homens – como diz de si mesmo o Eclesiastes (1, 16) -, mas, por causa de sua fé e de sua benignidade, o Senhor os salvou e fez deles santos e mestres. Pois os Apóstolos mostraram ao mundo o caminho da vida, não com sublimidade de discurso, nem com palavras eloquentes de sabedoria humana, mas pelo modo como aprouve a Deus: pela estultícia de sua pregação, aprouve a Deus salvar os que crêem, porquanto o mundo com sua sabedoria não O conheceu (cf. 1 Cor 2, 1; 1, 17-21).

II

Posso estar dando a impressão de querer lançar em descrédito o saber, de repreender os doutos, de proibir o estudo das letras. Longe de mim tal atitude! Conheço muito bem o inestimável serviço que os homens doutos têm prestado à Igreja: seja refutando os adversários dela, seja na instrução dos simples. Com efeito, o que li na Sagrada Escritura foi: 'Como rejeitaste o saber, também Eu te rejeitarei, para que não exerças Meu sacerdócio' (Os 4, 6). E mais: 'Os doutos resplandecerão com o brilho do firmamento, e os que tiverem ensinado a muitos a justiça, brilharão como estrelas em perpétuo resplendor' (Dn 12, 3).

Mas, por outro lado, li também: 'O saber incha' (1 Cor 8, 1).E, finalmente: 'No acúmulo de saber, acumula-se a dor' (Ecl 1, 18). Vede que há saberes e saberes: há um saber que produz o inchaço e há um saber que contrista. Quero que sejais capazes de distinguir qual deles é útil e necessário para a salvação: o que incha ou o que dói? E não duvido que prefiras o que aflige ao que incha, porque, se a saúde pela inchação é aparentada, pela aflição é procurada.

Ora, quem procura, acaba encontrando, pois 'quem pede, recebe' (Lc 11,10). E é certo que Aquele que cura os que têm o coração contrito abomina o inchaço dos orgulhosos, pois a Sabedoria diz: 'Deus resiste aos soberbos e dá Sua graça aos humildes' (Tg 4,6). E o Apóstolo diz: 'Exorto-vos, em virtude do ministério que pela graça me foi dado, a não pretender saber mais do que convém, mas saber com sobriedade' (Rm 12,3). O Apóstolo não proíbe saber, mas sim saber mais do que convém. 

E o que é saber com sobriedade? É cuidar de aplicar-se prioritariamente ao que mais interessa saber, pois o tempo é breve. Ora, ainda que todo saber, desde que submetido à verdade, seja bom, tu, que buscas com temor e tremor a salvação e a buscas apressadamente, dada a brevidade do tempo, deves aplicar-te a saber, antes e acima de tudo, o que conduz mais diretamente à salvação. Acaso não dizem os médicos do corpo que parte da medicina é precisamente determinar a ordem dos alimentos: qual deve ser ingerido antes, qual depois e o modo de os ingerir? Ora, mesmo sendo bons os alimentos que Deus criou, tu os tornas nocivos se não observas o modo e a ordem ao ingeri-los. Aplica, pois, aos saberes, o que dissemos dos alimentos.  

III

Mas o melhor é encaminhar-vos ao Mestre. Não é nossa esta sentença, mas d’Ele; ou antes, é nossa porque a aprendemos d’Aquele que é a Verdade. E diz: 'Se alguém pensa que sabe alguma coisa, ainda não sabe como deveria saber' (1 Cor 8,2). Vede como não é aprovado o saber muitas coisas se se ignora o modo de saber. Vede como o fruto e a utilidade do saber consiste no modo de saber. Mas o que é este modo de saber? O que, senão saber segundo a ordem, o amor e o fim devidos?

Segundo a ordem, isto é, priorizando o que é mais necessário para a salvação; segundo o amor, isto é, voltando-nos mais ardentemente para o que mais nos impele a amar; segundo o fim: não por vaidade ou curiosidade ou objetivos semelhantes, mas somente pela tua própria edificação e pela de teu próximo. Há quem busque o saber por si mesmo, conhecer por conhecer: é uma indigna curiosidade. Há quem busque o saber só para poder exibir-se: é uma indigna vaidade. Estes não escapam à mordaz sátira que diz: 'Teu saber nada é, se não há outro que saiba que sabes' (Persius, Satyra 1, 27). Há quem busque o saber para vendê-lo por dinheiro ou por honras: é um indigno tráfico. Mas há quem busque o saber para edificar, e isto é amor. E há quem busque o saber para se edificar, e isto é prudência.

IV

De todos estes que buscam o conhecimento, só os dois últimos não incorrem em abuso do saber, já que o buscam para praticar o bem. Deles é que fala o salmo: 'O saber é bom para quem o põe em prática' (Sl 111, 10). Os demais devem ouvir a Escritura: 'Quem conhece o bem e não o pratica, comete pecado' (Tg 4, 17). É como se, numa comparação, disséssemos: tomar alimento e não digeri-lo faz mal. Um alimento indigesto, mal cozinhado, produz maus humores e, em vez de nutrir o corpo, corrompe-o. 

Assim também pode dar-se o caso de o estômago da alma, que é a memória, ingerir muitos conhecimentos que não foram cozinhados pelo fogo do amor e nem passaram para ser elaborados pelo aparelho digestivo da alma (no caso, os atos e costumes), a fim de que a alma se torne boa pelo bom conhecimento (o que pode ser atestado pela vida e pelos costumes). E acaso um tal saber indigesto não deve ser considerado pecado, tal como um alimento que se transforma em humores maus e nocivos? E os maus humores do corpo não equivalem aos maus costumes da alma? E não virá a sofrer de inchaços e cólicas de consciência quem conhece o bem e não o pratica?

Acaso não se lhe aplicará a sentença de morte e condenação, toda vez que lhe vier à mente a palavra de Deus: 'O servo, que conhece a vontade de seu senhor e não a pratica, torna-se digno de muitos açoites' (Lc 12,47)? E não será em nome desta alma, o pranto do profeta (Jr 4,19): 'Doem-me as entranhas, doem-me as entranhas'? Gemidos geminados que – salvo outra interpretação – apontam para o que dizíamos: o profeta fala de si mesmo, pois estava pleno de saber, inflamado de amor e, desejando intensamente transmitir esse saber, não encontrou quem se interessasse por ouvir e teve de arcar sozinho com o peso de um saber que não pôde comunicar. Chorou, pois, o zeloso doutor da Igreja, tanto por aqueles que menosprezam a busca do saber que dirige o bem viver, como pelos que, embora sabendo, no entanto, vivem mal. E, por isso, o profeta repete seu lamento.

V

Compreendes agora quão verdadeira é a sentença do Apóstolo: 'O saber incha'? Por isso, convém que a alma antes se conheça a si mesma, coisa que é requerida pela ordem e pela utilidade. Pela ordem, porque, para nós, o primeiro conhecimento deve ser o do que somos; pela utilidade, porque tal conhecimento não incha, mas humilha e serve de fundação para a edificação. Pois o edifício espiritual que não tem seu fundamento na humildade, não se aguenta em pé.

E para aprender a humildade, a alma não encontra nada mais convincente do que descobrir-se a si mesma na verdade. Deve-se, portanto, evitar a dissimulação, o auto-engano doloso, deve o homem encarar-se de frente, evitando fugir de si mesmo. Pois, defrontando-se a alma com a límpida luz da verdade, encontrar-se-á muito diferente do que julgava ser e, suspirando em sua miséria – uma miséria que já não pode esconder porque é verdadeira e manifesta - clamará com o salmista ao Senhor: 'Em Tua verdade me humilhaste' (Sl 119, 75). 

Como não se humilhará neste verdadeiro conhecimento de si, ao dar-se conta da carga de seus pecados, sob o peso deste corpo mortal, ao ver-se imersa em preocupações terrenas, infectada pelos desejos carnais, cega, curvada, fraca, envolta em mil pavores, angustiada ante mil dificuldades, sufocada ante mil dúvidas, indigente de mil necessidades, inclinada ao vício, impotente para as virtudes? Onde está agora o olhar arrogante? Onde, a cabeça orgulhosamente erguida? Não será ela ainda mais arremessada em sua desolação, trespassada por espinhos? (Sl 32, 4). Que ela – diz o salmista – derrame lágrimas, que chore e gema, que se volte para o Senhor e clame em sua humildade: 'Cura, Senhor, minha alma, pois pequei contra Ti' (Sl 41,5). Se ela se voltar para o Senhor, encontrará consolo, pois Ele é o Pai das misericórdias e o Deus de toda consolação.

VI

Eu, quando olho para mim mesmo, fico imerso em amargura; logo, porém, que alço a vista para o auxílio da misericórdia divina, suaviza-se meu amargor com a alegria da visão de Deus e Lhe digo: 'Minha alma está conturbada interiormente, por isso me lembro de Ti' (Sl 42,7). Basta um pouco de conhecimento de Deus para experimentar que Ele é piedoso e solícito, pois, na verdade, Ele é um Deus de bondade e misericórdia, que perdoa a maldade (Jl 2,13); Sua natureza é a bondade e é próprio d’Ele perdoar e ter misericórdia sempre.

Deus se dá a conhecer nesta experiência e desta maneira salutar, a partir do momento em que o homem se reconheça indigente e clame ao Senhor; e Ele o ouvirá e dir-lhe-á: 'Eu te libertarei e tu Me glorificarás' (Sl 50,15). Assim, o conhecimento próprio é um passo para o conhecimento de Deus. Vê-lO-ás em Sua imagem, que em ti se forma, na medida em que tu, desarmado pela humildade, com confiança, irás refletindo a glória do Senhor e, levado pelo Espírito de Deus, de claridade em claridade, irás te transformando nessa imagem.

VII

Reparai, pois, como ambos conhecimentos são necessários para a salvação, de tal modo que não pode faltar nenhum dos dois. Pois, se desconheces a ti mesmo, não terás temor de Deus em ti, nem humildade. Por acaso pensas que podes alcançar a salvação sem temor de Deus e sem humildade? [Neste momento, o auditório murmura: 'Não, não!'].

Fizestes bem de indicar-me o 'não' absoluto de vosso juízo, ou antes, que não estais desprovidos de juízo… Nem vale a pena continuar falando sobre o óbvio. Mas, prestai atenção a um outro ponto… Ou será melhor parar, por causa dos que já estão pestanejando? Eu pretendia, em um só sermão, dar conta do que tinha prometido: falar da dupla ignorância, e fá-lo-ia se não me parecesse que este discurso já está demasiadamente longo para os que o acham cansativo. E vejo alguns bocejando e outros dormitando. E não é de admirar, pois a longuíssima vigília de oração que tivemos hoje os desculpa.

O que direi, porém, daqueles que dormem agora, mas dormiram também enquanto rezávamos os ofícios? Não quero, porém, levar isto adiante e envergonhá-los, baste ter mencionado o fato… Penso que de hoje em diante cuidarão de estar atentos, advertidos que foram pela nossa correção. Com esta esperança e em atenção a eles, em vez de continuar, partamos, suspendendo por clemência o discurso, e damos-lhe fim, embora não tenha atingido seu fim. Eles, por sua vez, tendo sido objeto de nossa compreensão, associem-se a nós em glorificar o Esposo da Igreja, Nosso Senhor Jesus Cristo, que está acima de todas as coisas, Deus bendito pelos séculos. Amém.

(Sermão 36 sobre o Cântico dos Cânticos - São Bernardo de Claraval)

terça-feira, 1 de outubro de 2013

01 DE OUTUBRO - SANTA TERESA DE LISIEUX


Chamada de ‘maior santa dos tempos modernos’ e recentemente elevada à glória de doutora da Igreja Católica, Teresa de Lisieux transformou-se num dos personagens mais venerados no mundo católico como ‘Santa Teresinha do Menino Jesus’. Feitos extraordinários para uma simples carmelita, que viveu no mais absoluto ostracismo e morreu com apenas 24 anos de idade. Marie Françoise Thérèse Martin nasceu em Alençon, em 02/01/1873, e faleceu em Lisieux, em 30/09/1897. Foi canonizada em 17 de maio de 1925 pelo Papa Pio XI, que posteriormente a declarou ‘Patrona Universal das Missões Católicas’ em 1927. O Papa João Paulo II tornou-a Doutora da Igreja no dia 19 de outubro de 1997. 

Por desígnios divinos, Santa Teresinha foi a preceptora de um particular caminho de santificação: a chamada ‘pequena via’, a via de confiança absoluta à vontade de Deus. Na plena aceitação dos desígnios divinos sobre as almas de cada um de nós, no abandono de nossas vidas nos braços de Jesus Cristo, na entrega total de nossas ações e pensamentos à proteção da Santíssima Virgem: eis aí a pequena via, o caminho da infância espiritual, a gloriosa trilha de santificação para os homens comuns, o espantoso atalho ao Céu, proposto e vivido intensamente pela santa carmelita. Eis a sua pequena via maravilhosa de santificação: basta aceitar a nossa própria pequenez, a imensa fragilidade humana que nos domina, as enormes limitações de viver em plenitude os desígnios de Deus sobre as nossas almas; fazer de tantas imperfeições e fragilidades, não meros obstáculos, mas as próprias pedras do caminho, rejuntadas e consolidadas firmemente num imenso amor e numa confiança sem limites na bondade e misericórdia de Deus. 

Além de cartas e poesias (e outros documentos registrados por suas irmãs do Carmelo), o legado de Santa Teresinha está por inteiro em sua famosa obra ‘História de uma alma’ (publicado originalmente em 1898), que registra, além de seus manuscritos autobiográficos e de suas proposições espirituais, as premissas e os fundamentos do seu caminho da infância espiritual. 

Nesta pequena via, a santificação começa e termina pelo propósito de fazer, de cada dia, mais um passo na peregrinação ao Céu, transformando cada ação diária, cada ato da nossa vida mundana, por mais simples e despojado que seja, em obra de perfeição cristã, compartilhado e vivido para a plena glória do Pai (‘sede perfeitos como vosso Pai do Céu é perfeito’). Nesta pequena via, a santificação é caminho simples e fácil para todos os homens e mulheres dos nossos tempos, e precisa apenas da resolução tão claramente expressa na curta vida da carmelita de Lisieux: ‘nunca distanciar a minha alma do olhar de Jesus’.