No Egito, a minoria copta cristã está sendo massacrada pelas milícias islâmicas. A chamada revolução da Primavera Islâmica, tão decantada pela 'moderada' Irmandade Muçulmana ao ascender ao poder, converteu-se na verdade em uma ditadura religiosa moldada pelo ódio, perseguição e intolerância a quaisquer crenças cristãs. Igrejas são queimadas, lojas são saqueadas, cristãos estão sendo assassinados. Os cristãos estão sendo perseguidos e mortos no Egito, em verdadeira guerra civil, pura e simplesmente porque professam a fé cristã, mas este fato tem sido ostensivamente declinado pela imprensa em geral, que concentra seu foco distorcido na condenação ao massacre dos partidários das facções islâmicas do país pelo exército do governo de transição. Não é nada fácil ser cristão em países como Nigéria, Somália, Mali ou Paquistão dentre outros; mas, mais do que nunca atualmente, para os cristãos do Egito, o inferno é aqui...
quarta-feira, 21 de agosto de 2013
terça-feira, 20 de agosto de 2013
CONCÍLIOS DA IGREJA (I)
O primeiro concilio da Igreja Católica consistiu numa reunião dos Apóstolos e presbíteros como narrado em Atos 15 e Gálatas 2, o chamado Concilio de Jerusalém realizado em torno do Ano 50 da nossa era. A Tradição da Igreja nos diz que, neste tempo, São Tiago teria sido o primeiro bispo de Jerusalém.
Entretanto, os chamado Concílios Ecumênicos (ou seja, gerais, universais ou plenários) da Igreja são contados a partir do evento realizado em Nicéia, no ano 325. São 21 no total e constituem a formalização da estrutura geral doutrinária e teológica da Santa Igreja, mediante a definição de dogmas e a condenação de heresias, e proclamação das verdades inabaláveis da autêntica fé cristã, envolvendo questões e verdades relacionadas à divindade e humanidade de Jesus, o mistério da Santíssima Trindade, o papel de Nossa Senhora no processo de redenção e salvação da humanidade a relação de Maria e Jesus. Uma série de documentos (constituições dogmáticas, declarações, decretos, cânones, etc) formalizam as deliberações tomadas e constituem o registro histórico da própria formação da civilização cristã. Os primeiros oito concílios foram realizado no Oriente e se estenderam ao longo do primeiro milênio da nossa era, sendo os seguintes:
O primeiro Concílio Ecumênico (Universal) da Igreja Católica foi convocado pelo imperador romano Constantino, o Grande (285-337), sendo Papa São Silvestre I, 33/ sucessor de São Pedro, que não participou do evento, mas enviou uma representação. O local do evento foi a cidade de Nicéia, situada ao sul de Constantinopla, na Ásia Menor. A maior expressão desse concílio foi o Bispo de Alexandria, Santo Atanásio que argumentou duramente na condenação às heresias de Ário (sacerdote de Alexandria) e seus seguidores (arianismo) que negavam a natureza divina de Jesus Cristo e também a Sua condição de Filho de Deus. Renegando tais heresias, o concílio aprovou a profissão de fé (Credo Niceno) apresentada por Eusébio, bispo de Cesárea, reconhecendo Jesus como 'Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai'. Outras deliberações importantes foram a fixação da ordem de dignidade dos Patriarcados: Roma, Alexandria, Antioquia e Jerusalém e a fixação da data para celebração da Páscoa do Senhor (esta última decisão consta apenas do texto grego do documento final do concílio, impresso em latim e grego).
2. CONSTANTINOPLA I - 381
(Maio a junho de 381)
Cinquenta e seis anos após o concílio de Nicéia, o imperador romano do Oriente, Teodósio I, convocou um segundo concílio geral. Em função dos conflitos do imperador com o então Papa São Dâmaso I, este evento não teve nem a presença do papa e nem de uma representação de Roma. A participação efetiva dos doutores da Igreja São Gregório Nazianzeno e São Cirilo de Jerusalém foi decisiva pra reafirmar as decisões do Concílio de Nicéia, ratificando por completo a consubstancialidade do Espírito Santo com o Pai e o Filho (promulgação do credo niceno-constantinopolitano) condenando, assim, as heresias do Donatismo e do Macedonismo, variante do Arianismo que negava a Natureza Divina do Espírito-Santo.
Sínodos Intermediários: Roma (382): estabeleceu o Canon do Novo Testamento; Hipona (393): trabalhos iniciais do Novo Testamento; Cartago (397): finalização dos trabalhos do Novo Testamento e dos Deuterocanônicos.
3. ÉFESO - 431
(22 de junho a 17 de julho de 431)
Cinquenta anos após o Primeiro Concílio de Constantinopla, Teodósio II (filho de Teodósio) era imperador. Com relações muito próximas com a Igreja (sua irmã foi Santa Pulquéria) e em harmonia com o Papa São Celestino I, foi convocado o terceiro concílio geral em Éfeso, na ponta sul da Ásia Menor. Mais de 200 bispos participaram, declarando o Dogma da Maternidade Divina da Santíssima Virgem Maria como a Mãe de Deus ('Theotokos'). Além disso, sob inspiração de São Cirilo de Alexandria, o concílio proclamou a dupla natureza de Cristo - divina e humana na pessoa única do Filho de Deus (união hipostática). Esta afirmação condenou Nestório, Patriarca de Constantinopla (que, convocado a dar seu testemunho no concílio, não compareceu ao mesmo), que foi então deposto e banido para os desertos da Líbia, onde morreu.
4. CALCEDÔNIA - 451
(8 de outubro a 1 de novembro de 451)
Vinte anos após Éfeso, Santa Pulquéria influenciou o seu marido Marciano, então o imperador romano do Oriente, a se unir ao Papa São Leão Magno para a convocação de um novo concílio em Calcedônia, região da Tessalônica situada a noroeste de Constantinopla. Uma vez mais, uma grande heresia dominou o cenário do concílio; no caso, o chamado monofisismo, que afirmava que, a partir da sua encarnação, em Jesus Cristo fixou-se somente a Natureza Divina, com absoluta exclusão da natureza humana. Essa corrente herética era defendida pelo abade Eutiques (por isso chamada também de eutiquianismo) que queria também colocar Constantinopla em igualdade com Roma em termos da hierarquia eclesiástica. Em sua epístola dogmática de 10 de Outubro de 451, o Papa Leão Magno ratificou a primazia da Igreja de Roma e condenou Eutiques e os monofisistas como hereges.
5. CONSTANTINOPLA II - 553
(05 de maio a 02 de julho de 553)
Pouco mais de um século depois de Calcedônia, novas seitas heréticas buscavam minar a fé cristã, levando o então imperador romano em Constantinopla, Justiniano I, a convocar novo concílio. O papa Virgílio recusou-se a participar e o evento foi coordenado por Eutychius, patriarca de Constantinopla. O concílio condenou os chamados 'Três Capítulos', obra de compilação das ideias heréticas de três discípulos do falecido Nestório: Teodoro de Mopsuéstia, Teodoreto de Ciro e Ibas de Edessa. O papa ratificou esta condenação do concílio apenas cerca de seis meses depois.
6. CONSTANTINOPLA III - 680
(7 de novembro de 680 a 16 setembro de 681)
117 anos após o Concílio de Constantinopla, o imperador Constantino IV decidiu, juntamente com o papa São Ágato (678-681), que era o momento de convocar um novo concílio, especialmente à luz da crescente ameaça do islamismo. A heresia da época era o monotelismo, que pregava apenas a vontade divina na pessoa de Jesus, que era então defendida pelo Patriarca Sergio de Constantinopla. Com a morte do papa, os trabalhos continuaram sob a coordenação do novo papa São Leão II (662 - 663). O concílio condenou esta heresia e reafirmou a natureza cooperante das vontades humana e divina em Jesus: 'A vontade humana de Cristo segue a vontade divina, sem estar em resistência nem em oposição em relação a ela, mas antes sendo subordinada a esta vontade todo-poderosa'.
7. NICEIA II - 787
(24 de setembro a 23 de outubro de 787)
Pouco mais de um século após o Terceiro Concílio de Constantinopla, um novo concílio foi proposto para se pronunciar sobre a heresia iconoclasta. O concílio foi convocado pela imperatriz Irene - a viúva do falecido imperador Leão IV e foi coordenado pelo papa Adriano I. Este concílio abordou uma questão de natureza essencialmente litúrgica: a contraposição à veneração de ícones e de imagens religiosas, chamada Iconoclastia. O concílio condenou os iconoclastas e ratificou o uso de imagens como elementos de pura devoção cristã, aprovando também a veneração de relíquias nas Igrejas.
8. CONSTANTINOPLA IV - 869
(5 de outubro de 869 a 28 de fevereiro de 870)
Convocado conjuntamente pelo imperador Basílio e pelo Papa Adriano II em 869, o IV Concílio de Constantinopla condenou o cisma implantado por Fócio, Patriarca de Constantinopla, separando a Igreja Grega da Igreja de Roma. Quase 200 anos depois, o Grande Cisma do Oriente tornou-se oficial quando Miguel Cerulário ordenou o fechamento das igrejas latinas em Constantinopla, pelo que foi excomungado pelo Papa São Leão IV em 1054. O concílio ocupou-se também da crescente ameaça sarracena à época.
PARTE II
PARTE II
domingo, 18 de agosto de 2013
SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DA VIRGEM MARIA
Páginas do Evangelho - Vigésimo Domingo do Tempo Comum
Assunção de Nossa Senhora
'O Todo-Poderoso fez grandes coisas a meu favor'
As glórias de Maria podem ser resumidas na portentosa frase enunciada pelo anjo Gabriel: 'Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus' (Lc 1, 30). Ao receber a boa-nova do anjo, Maria prostrou-se como serva e disse 'sim', e por meio desse sim, como nos ensina São Luís Grignion de Montfort, 'Deus Se fez homem, uma Virgem de tornou Mãe de Deus, as almas dos justos foram livradas do limbo, as ruínas do céu foram reparadas e os tronos vazios foram preenchidos, o pecado foi perdoado, a graça nos foi dada, os doentes foram curados, os mortos ressuscitados, os exilados chamados de volta, a Santíssima Trindade foi aplacada, e os homens obtiveram a vida eterna'.
Esta efusão de graças segue Maria na Visitação, pois ela é reflexo da presença e das graças do Espírito Santo que são levadas à sua prima Isabel e à criança em seu ventre. No instante da purificação de São João Batista, o Precursor, Santa Isabel foi arrebatada por inteira pelo Espírito Santo: 'Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo' (Lc 1,41). Por meio de uma extraordinária revelação interior, Santa Isabel confirma em Maria o repositório infinito das graças de Deus: 'Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu' (Lc 1,43).
E é ainda nesta plenitude de comunhão com o Espírito Santo, que Maria vai proclamar o seu Magnificat: 'Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo. Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem. Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos. Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes. Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre' (Lc 1, 46-55).
Mãe da humildade, mãe da obediência, mãe da fé, mãe do amor. Mãe de todas as graças e de todos os privilégios, Maria foi contemplada com o dogma de fé divina e católica da assunção, em corpo e alma, à Glória Celeste. Dentre as tantas glórias e honras a Maria, a Igreja celebra neste domingo a Serva do Senhor como Nossa Senhora da Assunção.
SALMO 44
(Cheia de graça, a rainha está,
à vossa direita, ó Senhor!)//
1. À vossa direita se encontra a rainha,
Com veste esplendente de ouro de Ofir*.
As filhas de reis vêm ao vosso encontro,
Com veste esplendente de ouro de Ofir.
(Cheia de graça, a rainha está,
à vossa direita, ó Senhor!)
2. Escutai, minha filha, olhai, ouvi isto:
'Esquecei vosso povo e a casa paterna!
Que o Rei se encante com vossa beleza!
Prestai-lhe homenagem: é vosso Senhor!
(Cheia de graça, a rainha está,
à vossa direita, ó Senhor!)
3. Entre cantos de festa e com grande alegria,
Ingressam, então, no palácio real'.
(Cheia de graça, a rainha está,
à vossa direita, ó Senhor!)
(Cheia de graça, a rainha está,
à vossa direita, ó Senhor!)//
* região cuja localização exata permanece ainda desconhecida e que era muito famosa à época pela excelência e raridade do ouro ali produzido (ouro de Ofir seria, então, algo expressivo de grande raridade e excelso valor).
sábado, 17 de agosto de 2013
ÓDIO ÀS HERESIAS
A deslealdade suprema para com Deus é a heresia.
É o pecado dos pecados, a mais repugnante das coisas que Deus reprova neste mundo enfermo.
No entanto, quão pouco entendemos de sua odiosidade excessiva!
É a poluição da verdade de Deus, o que é a pior de todas as impurezas.
Porém, como somos quase indiferentes a ela!
Nós a fitamos e permanecemos calmos.
Encostamos nela e não trememos.
Misturamo-nos com seus fautores e não temos medo.
Nós a vemos tocar as coisas santas e não percebemos o sacrilégio.
Inalamos seu odor e não mostramos qualquer sinal de detestação ou desgosto.
Alguns de nós afetamos ter sua amizade; e alguns até buscam atenuar as culpas dela.
Nós não amamos a Deus o bastante para termos raiva pela glória d'Ele.
Não amamos os homens o bastante para sermos caridosamente sinceros pelas almas deles.
Tendo perdido o tato, o paladar, a visão e todos os sentidos das coisas celestiais, somos capazes de armar tenda no meio dessa praga odienta, em tranquilidade imperturbável, reconciliados com sua repulsividade, e não sem declarações em que nos gabamos de admiração liberal, talvez até com uma demonstração solícita de simpatias tolerantes.
Por que estamos tão, tão abaixo dos santos antigos, e mesmo dos apóstolos modernos destes últimos tempos, na abundância de nossas conversões?
Porque não temos a antiga firmeza!
Falta-nos o velho espírito da Igreja, o velho gênio eclesiástico.
Nossa caridade é insincera, pois não é severa; e não é persuasiva, pois é insincera.
Carecemos de devoção pela verdade como verdade, como verdade de Deus.
Nosso zelo pelas almas é débil, pois não temos zelo pela honra de Deus.
Agimos como se Deus ficasse lisonjeado com conversões, ao invés de serem almas que tremem, resgatadas por um excesso de misericórdia.
Dizemos aos homens meias-verdades, a metade que calha melhor à nossa própria pusilanimidade e aos preconceitos deles; e depois nos admiramos de tão poucos se converterem, e que, desses poucos, tantos apostatem.
Somos tão fracos a ponto de nos surpreendermos de que nossa meia-verdade não teve tanto sucesso quanto a verdade inteira de Deus.
Onde não há ódio à heresia, não há santidade.
Um homem, que poderia ser um apóstolo, torna-se uma úlcera na Igreja por falta de justa indignação.
(Excertos da obra O Preciosíssimo Sangue ou o Preço de Nossa Salvação, Pe. Frederick William Faber, 1860, p. 314-316).
LÁGRIMAS DAS ALMAS
Em função das contestações impostas pela Reforma, o Concílio de Trento ratificou formalmente a existência do Purgatório como dogma de fé por meio de um decreto promulgado em 1580. A partir de então, teve início na Igreja uma intensa propagação pelas práticas de oração destinadas ao sufrágio das almas do Purgatório. Uma destas devoções, de uso bastante generalizado, eram os folhetos volantes, impressos e afixados às paredes das igrejas, para devoção pública e divulgação de jaculatórias, orações e indulgências pelas almas do Purgatório.
O exemplar abaixo é um folheto do século XVIII, de 25 cm x 35cm, impresso em Coimbra em 1740, na oficina de Luis Seco Ferreyra. Com o título: 'Lágrimas das Almas', apresenta uma imagem do Purgatório e a transcrição latina do Livro de Jó. Seguem-se o assunto do folheto 'alegre e bem divertida Irmandade, erigida e novamente levantada' e o texto propriamente dito, com os objetivos e proposições da citada irmandade.
O exemplar abaixo é um folheto do século XVIII, de 25 cm x 35cm, impresso em Coimbra em 1740, na oficina de Luis Seco Ferreyra. Com o título: 'Lágrimas das Almas', apresenta uma imagem do Purgatório e a transcrição latina do Livro de Jó. Seguem-se o assunto do folheto 'alegre e bem divertida Irmandade, erigida e novamente levantada' e o texto propriamente dito, com os objetivos e proposições da citada irmandade.
É interessante destacar as duas proposições constantes da introdução do texto. Na primeira, fala-se em transladar as almas do Purgatório para o Céu, 'que não custa mais do que bolir com os beiços'. A segunda refere-se à dupla vantagem àqueles que praticarem estas devoções: prémio no Tribunal Divino e intercessores no Paraíso para as súplicas temporaes e espirituaes. E esta segunda proposição é complementada pela seguinte informação: 'como consta de hum pequeno Livrinho de pouco custo com o titulo Grito das Almas, que faz compungir o mais duro coração, ainda que seja de bronze'.
Esse 'pequeno livrinho' refere-se à obra 'Gritos das Almas no Purgatório e os Meios para os Aplacar' (publicado em 1689) do sacerdote e teólogo espanhol Jose Boneta y Laplana (1638 - 1714). A tradução portuguesa do livro foi feita pelo Pe. Manuel de Coimbra (primeira edição em 1702). O excerto abaixo constitui uma tradução adaptada pelo autor do blog relativo às penas que levam ao Purgatório, no caso a profanação do silêncio nas igrejas católicas:
EXCERTO: A PROFANAÇÃO DO SILÊNCIO NAS IGREJAS
'Uma vez conhecidos os meios devidos para interceder pelas almas do Purgatório, é preciso cuidar agora das culpas que conduzem a ele. E falarei somente de dois deles, por serem os que mais se cometem nessa vida e os que mais se lamentam naquele lugar.
A primeira é a irreverência nas Igrejas: há que se admirar que um santo bispo como São Severino tenha ficado retido por um ano no Purgatório por ouvir na Igreja as respostas que lhe traziam os que o serviam; mais digno de assombro ainda é o testemunho de uma alma que aparecia frequentemente a uma Serva de Deus e que, ao ser indagada sobre alguma coisa dentro da Igreja, a alma lhe respondeu: 'Não se pode falar na Igreja, depois vos tornarei a ver, e então vos direi'. Sobre isso, o Pe. Joseph Pavía escreve (pag. 61): 'Confesso que me confundiu esta noticia, considerando que quem falava era uma alma e por ordem de Deus, sobre algo que havia de ser bom e santo e da forma como se falava, não por meio de vozes que soassem como as nossas, mas por locução interna, linguagem velada do coração, e ainda assim, a alma se absteve de responder pela reverência devida ao templo'.
Veja-se que eco farão na outra vida as desentoadas vozes e inquietações com que os cristãos se movem na Igreja. Se um bispo e santo, só por dar-se ouvir nela esteve um ano ardendo no Purgatório; que tempos não esperam ou teme estar aqueles que não só falam, mas falam alto ou que não só falam, mas se movem e escandalizam? Até quando se pode chegar a temeridade humana e a paciência divina?
Dois infiéis, conta o Padre Almenara, vieram à Espanha com o propósito de explorar nossa Lei e ver se lhes agradava admiti-la. Entraram em uma Igreja, viram o que faziam os cristãos dentro dela, falavam uns e riam outros, e todos estavam divertidos que retornaram à sua seita, dizendo: 'Que fiéis são estes que, com tal desatenção, assistem na casa de seu Deus? Que Deus é este, que se padece ao ver os que o adoram virem à sua própria casa fazer-lhe pouco caso e diante dele? Isto é sinal de que nem nele há justiça, nem neles fé; vamo-nos daqui, e tornemos aos nossos cultos, onde Deus é mais venerado que o deles'.
A quem não atemorizam as grandes consequências deste abuso? Para sua correção, não basta apenas não só ferir a Deus, mas também a sua fé, afrontando-a diante de estranhos. E ainda que a Espanha se jacte de ser a mais fiel dentre as nações, é nisto a mais delinquente, causa sem dúvida de seus poucos progressos, e de suas muitas ruínas.
Contudo, há quem não se atreva a parar na rua e falar com uma mulher estranha, por temer que o vejam, e não se perturba em falar em uma Igreja, sem temer a Deus que o está vendo. Oh cegueira sacrílega! Não se lê, nem se sabe, que a mais perdida mulher do mundo tenha-se atrevido a cometer adultério à vista e em presença de seu esposo; e a alma de um cristão atreve-se a ofender ao seu Esposo Cristo na Igreja à sua vista: Fecerunt (queixa-se por Zacarias). Oh queira sua Divina Majestade dar-nos luz, para que avivemos a fé de sua presença na Igreja, e nela estejamos como no Céu; pois é de fé, que não tem o Céu, nem mais Cristo, nem mais de Cristo, o que mais se deve ter em qualquer templo com a Presença do Sacrário'.
(Excertos da obra Gritos del Purgatorio y Medios para Acallarlos, Pe. Jose Boneta y Laplana , Saragoça, 1689; Cap.VII, p.214 - 216)
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
SANTOS E MÁRTIRES (I)
São Maximiliano Maria Kolbe
São Maximiliano Maria Kolbe (08/01/1894 - 14/08/1941)
Quando tinha apenas 10 anos, Raimundo Kolbe recebeu uma dura repreensão de sua mãe: 'Se aos dez anos você é tão mau menino, briguento e malcriado, como será mais tarde?' Estas palavras doeram fundo na alma da criança e, muito perturbado por tal admoestação, prostrou-se aflito diante da imagem de Nossa Senhora: 'Que vai acontecer comigo?' A Mãe de Deus apresentou-se, então, diante dele, trazendo nas mãos duas coroas, uma branca e outra vermelha e lhe perguntou, sorrindo, qual delas ele escolhia para a sua vida. O pequeno escolheu as duas. A coroa branca lhe assegurou a castidade; a coroa vermelha lhe outorgou a glória do martírio. Assim nascem os santos, assim se forjam os mártires.
Assumindo a sua vocação religiosa, decidiu ser capuchinho franciscano com o nome de Maximiliano e fez os solenes votos do sacerdócio em 01 de novembro de 1914, acrescentando o nome de Maria aos seu nome religioso. Quase 40 anos após a visão da Santa Virgem, ele receberia a coroa do martírio. Em fevereiro de 1941, o padre Kolbe foi levado à prisão de Pawiak, em Varsóvia para interrogatório, tornando-se em seguida o prisioneiro de número 16670 do campo de concentração de Auschwitz durante a II Grande Guerra Mundial. Mais do que nunca, exerceu ali o seu apostolado de oração e pela conversão daqueles condenados. No final de julho de 1941, foi transferido para o Bloco 14 do campo, cujos prisioneiros faziam trabalhos agrícolas. Numa dada oportunidade, ocorreu a fuga de um deles e, como castigo, dez outros foram sorteados para morrer de fome e de sede num abrigo subterrâneo.
O sargento Franciszek Gajowniczek do exército polonês foi um dos dez escolhidos e suplicou pela sua vida, por ser pai de uma família ainda de pequenos. Padre Kolbe se ofereceu para substitui-lo no 'bunker da morte' e assim foi feito. Desnudos, os dez homens padeceram o suplício da fome e da sede no subterrâneo confinado. Pe. Kolbe lhes deu toda a assistência espiritual possível neste período de martírio. Ao final de três semanas, 4 ainda estavam vivos e receberam, então, injeções letais de ácido muriático. Era o dia 14 de agosto de 1941, véspera da Festa da Assunção de Nossa Senhora. Pe. Kolbe foi o último a morrer. Sua festa religiosa é celebrada em 14 de agosto. Foi canonizado pelo papa João Paulo II em 10 de outubro de 1982.
'Não tenham medo de amar demasiado a Imaculada; jamais poderemos igualar o amor que teve por Ela o próprio Jesus: e imitar Jesus é nossa santificação. Quanto mais pertençamos à Imaculada, tanto melhor compreenderemos e amaremos o Coração de Jesus, Deus Pai, a Santíssima Trindade'.
Mas o que aconteceu com Gajowniczek - o homem que Padre Kolbe salvou? Depois da guerra, retornou à sua cidade natal, reencontrando a sua esposa. Seus dois filhos tinham sido mortos durante a guerra. Todos os anos, no dia 14 de agosto, ele retornou à Auschwitz e divulgou durante toda a vida o ato heroico do Pe. Kolbe. Morreu aos 95 anos, em 13 de março de 1995, em Brzeg, na Polônia, quase 54 anos depois de ter sido salvo da morte por São Maximiliano Kolbe.
(Franciszek Gajowniczek)
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