domingo, 28 de abril de 2013

28 DE ABRIL - SÃO LUÍS DE MONTFORT

c
Missionário do Espírito Santo e da Virgem Santíssima, São Luís Maria Grignion de Montfort foi o portador da graça divina de uma mensagem de transcendência extraordinária: a necessidade de uma devoção ardente à Mãe de Deus e do conhecimento da missão ímpar de Nossa Senhora no Segundo Advento do seu Filho. Nasceu em 31 de janeiro de 1637 em Montfort (França), sendo ordenado sacerdote em 1700. Em 1706, foi recebido pelo Papa Clemente XI que, confirmando a sua vocação missionária, outorgou-lhe o título de 'Missionário Apostólico'. Nesta missão, combateu duramente a doutrina jansenista na França, que, crendo na predestinação, apresentava um Deus tirânico e sem misericórdia. Fundou três instituições religiosas: a Companhia de Maria (congregação de sacerdotes missionários), as Filhas da Sabedoria (freiras dedicadas à assistência aos doentes nos hospitais e à instrução de meninas pobres) e os Irmãos de São Gabriel (congregação de leigos voltados para o ensino). Escreveu várias obras, dentre ela o 'Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem', referência básica da mariologia cristã. Morreu em 28 de abril de 1716, aos 43 anos e apenas 16 anos como sacerdote, em Saint-Laurent-sur-Sèvre (França). Foi beatificado em 1888 e canonizado em 1947, pelo Papa Pio XII.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

GLÓRIAS DE MARIA: NOSSA SENHORA DO BOM SUCESSO


'Sou a Rainha das Vitórias e a Mãe do Bom Sucesso'

Esta imagem milagrosa de Nossa Senhora do Bom Sucesso é venerada no Monasterio Real de La Limpia Concepción, primeiro convento de monjas contemplativas da América do Sul, fundado em 1577 em Quito / Equador, sob os auspícios do rei Filipe II da Espanha. Em 2 de fevereiro de 1610, Nossa Senhora se manifestou a uma das oito religiosas fundadoras do mosteiro - Madre Mariana de Jesus Torres, apresentando-se como a 'Rainha das Vitórias e Mãe do Bom Sucesso', dando início a uma série enorme de eventos milagrosos e revelações extraordinárias (ver postagem anexa):

(Madre Mariana de Jesus)

'Rezava insistentemente Madre Mariana à primeira hora da madrugada, prostrada ao solo no coro, pelas necessidades de seu mosteiro, da colônia espanhola da América e da Igreja, quando notou a presença de uma Senhora de extraordinária formosura, sustentando no braço esquerdo um Menino belo como a aurora. Emocionada, a religiosa perguntou:

Quem sois, linda Senhora, e que desejais de mim, que sou só uma sofrida monja?

— Sou Maria do Bom Sucesso, a Rainha dos Céus e da Terra. Porque me invocaste com terno afeto, venho do Céu consolar teu aflito coração. Tuas orações, lágrimas e penitências são muito agradáveis a nosso Pai Celestial. Na mão direita, tenho o báculo que vês, pois quero governar este meu mosteiro como Priora e Mãe. Satanás quer destruir esta obra de Deus, mas não o conseguirá, porque Eu sou a Rainha das Vitórias e a Mãe do Bom Sucesso, sob cuja invocação quero fazer prodígios em todos os séculos.

É vontade de meu Filho Santíssimo que mandes confeccionar uma imagem, tal como me vês, e que a coloques no trono da abadessa. Na minha mão direita porás o báculo e as chaves da clausura, em sinal de minha propriedade e autoridade. Em minha mão esquerda porás meu Divino Filho. Eu mesma governarei este meu Mosteiro.

— Senhora —ponderou a religiosa — como realizar tudo isso, se até desconheço Vossa estatura?

— Dá-me o cordão franciscano que trazes à cintura.

A Santíssima Virgem o tomou e colocou uma de suas extremidades na mão de seu Divino Filho, que o aplicou à cabeça da Mãe, indicando a Madre Mariana que, com a outra ponta, tocasse seus pés.

O cordão milagrosamente se esticou, até alcançar a estatura exata da Santíssima Virgem.

— Aqui tens, minha filha, a medida de tua Mãe do Céu. Meu servo Francisco del Castilho, a quem explicarás minhas feições e minha postura, talhará minha imagem, pois tem reta consciência e observa religiosamente os mandamentos de Deus e da Igreja. De tua parte, ajuda-o com orações e humildes sofrimentos'.


Francisco del Castillo preparou-se com penitências, para tão alto encargo: confessou-se, comungou, e no dia 15 de setembro de 1610 iniciou a confecção da imagem. Quando faltavam apenas os retoques finais, certo de que a imagem, embora satisfatória, nem de longe representava o que Madre Mariana havia visto, resolveu não só fazer mais penitência, mas saiu de viagem em busca das melhores tintas para concluir o trabalho.

De regresso, surpreendeu-se ao encontrar já concluída a imagem. Diante do bispo, fez juramento escrito para testemunhar que a imagem não era obra sua, e que a havia encontrado, ao voltar, com uma forma muito diferente da que havia deixado, seis dias antes.

Madre Mariana de Jesus descreve assim os acontecimentos: rezava às três horas da madrugada do dia 16 de janeiro de 1611, no coro, onde estava a imagem que ia sendo esculpida por Francisco del Castillo, quando viu os arcanjos São Miguel, São Gabriel e São Rafael, os quais se apresentavam diante do trono da Rainha dos Céus.

São Miguel, saudando-a, disse: 'Ave Maria, Filha de Deus Pai'; São Gabriel acrescentou: 'Ave Maria, Mãe de Deus Filho' e São Rafael concluiu: 'Maria Santíssima, Esposa puríssima do Espírito Santo'. Nesse momento apareceu São Francisco de Assis e se uniu aos três arcanjos. Seguidos da milícia celeste, acercaram-se da imagem semi-acabada, transformando-a e refazendo-a, dando-lhe uma beleza inigualável que mão humana jamais poderia conferir.

A Virgem estava totalmente iluminada, como se estivesse no meio do sol. Do alto, a Santíssima Trindade olhava comprazida o que acontecia, e os anjos entoavam suas melodias. No meio de todas essas alegrias, a Rainha do Céu penetrou pessoalmente na imagem, como raios de sol que se introduzem em um cristal. Como que tomando vida, tornou-se resplandecente, e com celestial melodia cantou o Magnificat. Os anjos entoaram o hino Salve Sancta Parens (Ave, ó Santa Progenitora). 

Salve sancta parens 
Enixa puerpera Regem 
Qui celum terramque regit 
In saecula saeculorum

Eructavit cor meum 
Verbum bonum 
Dico ego opera mea Regi

Gloria patri et filio 
Et spiritui sancto 
Sicut erat in principio 
Et nunc et semper 
Et in saecula saeculorum

Amen

Nossa Senhora do Bom Sucesso, rogai por nós!

AS REVELAÇÕES DE NOSSA SENHORA DO BOM SUCESSO

'A pátria em que vives deixará de ser colônia e será república livre; então, chamar-se-á Equador e necessitará de almas heróicas para sustentar-se no meio de tantas calamidades, públicas e privadas'.

Previsão cumprida 200 anos depois. 

'No século XIX, haverá um presidente verdadeiramente católico, varão de caráter, a quem Deus dará a palma do martírio, na mesma praça onde está este meu convento. Ele consagrará a República ao Divino Coração de meu Filho Santíssimo, e esta consagração sustentará a Religião católica nos anos posteriores, os quais serão amargos para a Igreja'.

Gabriel García Moreno (1821-1875) 

Com efeito, em 25 de março de 1874, Gabriel Garcia Moreno tornou o Equador a primeira nação da América consagrada ao Sagrado Coração de Jesus. E no ano seguinte, a 6 de agosto, entregou sua alma a Deus, assassinado pelos inimigos da fé, na mesma praça em que está situado o mosteiro. Antes de expirar, escreveu no solo, com o próprio sangue: Dios no muere.

Nossa Senhora do Bom Sucesso entregou o Menino Jesus a Madre Mariana. Em seus braços, Ele revelou-lhe a proclamação do Dogma da Imaculada Conceição, quando 'meu Vigário' estiver cativo; e o dogma da Assunção, depois de o mundo sair de um banho de sangue.

Fatos que ocorreram, respectivamente, em 1854, no pontificado do Bem-aventurado Pio IX, e após a II Guerra Mundial, em 1950.

A Rainha do Céu e da Terra manifestou à Madre Mariana que a invocação de Nossa Senhora do Bom Sucesso seria a sustentação e a guarda da fé, face à total corrupção do século XX, na seguinte revelação:

'nesses tempos de calamidade, quase não haverá inocência infantil [...], a atmosfera estará saturada de impureza, a qual, como um mar imundo, correrá pelas ruas, praças e lugares públicos com uma liberdade assombrosa, de maneira que quase não se encontrarão no mundo almas virgens[...]. Quanta dor sinto ao te manifestar que haverá muitos e enormes sacrilégios públicos e também ocultos, profanações da Sagrada Eucaristia. [...] Meu Filho Santíssimo será lançado ao solo e pisoteado por pés imundos. [...] O Sacramento da ordem sacerdotal será ridicularizado, oprimido e desprezado, porque nesse sacramento se oprime e denigre a Igreja de Deus e a Deus mesmo, representado em seus sacerdotes. [...] O Sacramento do matrimônio, que simboliza a união de Cristo com a Igreja, será atacado e profanado em toda a extensão da palavra [...]. Impor-se-ão leis iníquas, com o objetivo de o extinguir, facilitando a todos viverem mal'.

'Quando tudo parecer perdido, será o início do triunfo da Santa Igreja. O pequeno número de almas que guardarão o tesouro da fé e das virtudes sofrerá um cruel e indizível padecer, a par de um prolongado martírio [...], haverá uma guerra formidável e espantosa, na qual correrá sangue de nacionais e estrangeiros, de sacerdotes e de religiosas. Essa noite será terrível, pois parecerá ao homem o triunfo da maldade. Será chegada, então, a hora em que Eu de maneira assombrosa destronarei o soberbo e maldito Satanás, pondo-o abaixo de meus pés e sepultando-o no abismo infernal. Deixarei por fim livres, a Igreja e a pátria, de sua cruel tirania [...]. Ora com insistência, pedindo a nosso Pai Celeste que se compadeça e ponha termo, o quanto antes, a tempos tão nefastos, enviando à Santa Igreja o prelado (do latim, 'praelatus' — aquele que vai à frente),que deverá restaurar o espírito de seus sacerdotes. A esse filho meu muito querido amamos, meu Filho Santíssimo e Eu, com amor de predileção, pois o dotaremos de uma capacidade rara, de humildade de coração, de docilidade às divinas inspirações, de fortaleza para defender os direitos da Igreja e de um coração terno e compassivo, para que, qual outro Cristo, atenda o grande e o pequeno, sem desprezar o mais desafortunado que lhe peça luz e conselho em suas dúvidas e amarguras [...]. Em sua mão será posta a balança do Santuário, para que tudo se faça com peso e medida, e Deus seja glorificado'.

'Tempos funestos sobrevirão, nos quais, cegando na própria claridade, aqueles que queriam defender em justiça os direitos da Igreja, sem temor servil nem respeito humano, darão a mão aos inimigos da Igreja, para fazer o que estes quiserem. Mas ai do erro do sábio — o que governa a Igreja — do Pastor do redil que meu Filho Santíssimo confiou a seus cuidados. Mas quando aparecerem triunfantes e quando a autoridade abusar de seu poder, cometendo injustiças e oprimindo os débeis, próxima está sua ruína. Cairão por terra estatelados. E, alegre e triunfante, qual terna menina, ressurgirá a Igreja e adormecerá brandamente, embalada em mãos do hábil coração maternal de meu filho eleito e muito querido daqueles tempos, ao qual, se dócil prestar ouvido às inspirações da graça — sendo uma delas a leitura das grandes misericórdias que meu Filho Santíssimo e Eu temos usado contigo —, enchê-lo-emos de graças e dons muito particulares, fá-lo-emos grande na Terra e muito maior no Céu, onde lhe temos reservado um assento muito precioso, porque, sem temor dos homens, combateu pela verdade e defendeu, impertérrito, os direitos de sua Igreja, pelo que bem o poderão chamar mártir'.

'O meu culto sob a consoladora invocação do Bom Sucesso …. será a sustentação e salvaguarda da Fé na quase total corrupção do século XX'.

'Os sacerdotes, a partir do século XIX, deverão amar com toda a alma João Maria Vianney, um servo meu que a Bondade Divina prepara para com ele agraciar aqueles séculos como modelo exemplar do sacerdote abnegado'.

'Saiba ainda que a Justiça Divina costuma descarregar castigos terríveis sobre nações inteiras, não tanto pelos pecados do povo quanto pelos dos Sacerdotes e religiosos, porque estes últimos são chamados, pela perfeição de seu estado, a ser o sal da Terra, os mestres da verdade e os pára-raios da Ira Divina' .

'Quase não se encontrará a inocência nas crianças nem pudor nas mulheres, e nessa suprema necessidade da Igreja, calar-se-á aquele a quem competia a tempo falar”.Essa grave omissão é repetida por Nossa Senhora na aparição seguinte, 

'Campearão vícios de impureza, a blasfêmia e o sacrilégio naquele tempo de depravada desolação, calando-se quem deveria falar.Os que deveriam defender os direitos da Igreja dão as mãos aos seus inimigos.'

'Tempos funestos sobrevirão, nos quais …. aqueles que deveriam defender em justiça os direitos da Igreja, sem temor servil nem respeito humano, darão as mãos aos inimigos da Igreja para fazer o que estes quiserem. Quando tudo parecer perdido, será o início do triunfo da Santa Igreja.'

'O pequeno número de almas que guardará o tesouro da Fé e das virtudes sofrerá um cruel, indizível e prolongado martírio. Muitas delas descerão ao túmulo pela violência do sofrimento e serão contadas como mártires que se sacrificaram pela Igreja e pela Pátria.'

'Para a libertação da escravidão dessas heresias, aqueles a quem o amor misericordioso de meu Filho Santíssimo destinará para esta restauração, necessitarão de grande força de vontade, constância, valor e muita confiança em Deus. Para pôr à prova esta fé e confiança dos justos, haverá ocasiões em que tudo parecerá perdido e paralisado. Será, então, o feliz princípio da restauração completa'.

A Virgem Maria lhe revelou ainda que sempre haveria ao menos uma alma santa habitando o mosteiro. E de fato, muitas religiosas morreram em odor de santidade, inclusive há no mosteiro um altar onde repousam os corpos incorruptos da Madre Mariana e de várias outras religiosas de diversas épocas.


quinta-feira, 25 de abril de 2013

POR QUE OS BONS DEVEM SOFRER?

Como membro da sociedade e cidadão de seu país, você deve se juntar com as demais pessoas para a reparação e satisfação requeridas pela Divina Justiça para os pecados públicos e nacionais cometidos na comunidade em que você vive. Por pecados públicos e nacionais, entendemos alguns pecados de natureza mais grave que são cometidos em escala tão grande e por tantas pessoas em uma comunidade, seja uma cidade, província ou nação inteira, que eles são atribuídos à comunidade como um todo e não somente àquele ou a esse indivíduo. 

Pecados desse tipo são: apostasia da fé, irreligião e esquecimento de Deus; educação sem Deus da juventude; profanação do nome de Deus, imprecações, blasfêmias e perjúrios; profanação do domingo; modas imodestas e escandalosas; artes, literatura e divertimentos imorais; divórcio e adultérios sancionados por lei iníquas do Estado; desonestidade, injustiça e opressão dos pobres, assassinatos e suicídio de raças; e, finalmente, orgias selvagens de grande imoralidade e licença sem freio que periodicamente desgraçam as festividades públicas e celebrações, ou que ocorrem em bailes, danças, banquetes e eventos similares. 

Deus é extremamente paciente e tolera por muito tempo, e não inflige castigos gerais de bom grado, mesmo que sejam muito merecidos por uma comunidade. Ele prefere, na verdade, que seus filhos que o ofendem busquem o perdão por meio do arrependimento e conversão oportuna. Ele esperou cem anos antes de mandar o dilúvio, que havia encarregado Noé de anunciar; Ele permitiu que 40 anos transcorressem entre a previsão feita por Nosso Senhor da destruição vindoura de Jerusalém e o cumprimento da profecia pelos romanos no ano 70; Ele poupou a cidade de Nínive integralmente porque seus habitantes imediatamente deixaram de pecar e se apressaram a fazer penitência com a pregação de Jonas. Deus age dessa maneira ainda agora. Ele frequentemente espera um longo tempo antes de infligir às cidades e às nações pecaminosas os castigos mais pesados que pedem as suas múltiplas iniquidades. Ele deseja poupá-las e tenta, portanto, em primeiro lugar, de todas as maneiras, chamá-los ao dever, à conversão e ao arrependimento. 

Mas se, apesar desses atrasos, elas obstinadamente recusarem a entrar em si e deixar o pecado; se continuarem em sua maldade, às vezes até pecando mais arrojadamente porque suas más ações não foram punidas imediatamente, então deve chegar a hora na qual a medida da iniquidade foi completada até o transbordamento. Essa hora marcará o início de alguma intervenção geral que cairá pesadamente sobre a comunidade culpada como uma punição justa de suas longamente continuadas transgressões à Santa Lei de Deus – enchentes destrutivas ou tempestades, conflagrações, terremotos; períodos de escassez ou fome; epidemias e pestilências; e, especialmente, os horrores de rebeliões e revoluções,  guerras civis e internacionais. A justiça divina usa esses males para a punição e correção do povo pecador da mesma maneira que um sábio pai de família usa a vara para o castigo e a emenda de seu filho teimoso. 

Nem é sempre necessário que Deus mande esse castigo para os pecados públicos como Ele enviou o dilúvio e a destruição de Jerusalém. Há muitos pecados que contêm em si mesmos as sementes de um futuro sofrimento público, como a semente do carvalho contém a gigantesca árvore. Se esses pecados prevalecerem por um tempo suficientemente longo, sem freio e sem arrependimento, eles devem produzir condições tais na ordem social de forma que tornem inevitáveis certas calamidades. Tome-se o caso, por exemplo, do pecado da educação sem Deus, ou seja, sem religião. Onde tal sistema for adotado, os seguintes resultados deverão ocorrer: depois de duas ou três gerações, o conhecimento de Deus desaparecerá mais ou menos completamente entre o povo; o sentido do certo e do errado será perdido; o bem será chamado mal, e o mal, bem; não haverá respeito à lei moral; a depravação da juventude crescerá mais e mais; a desonestidade e a corrupção prevalecerão nos negócios, nos tribunais, nos legisladores e no próprio governo; tributos serão sonegados ou desaparecerão nos bolsos de inescrupulosos; grandes despesas serão necessárias para manter o número crescente de asilos, tribunais juvenis, reformatórios e prisões; não haverá segurança para honrar a propriedade e a vida; as relações entre o capital e o trabalho serão pressionadas até o máximo, de maneira que a violência e o derramamento de sangue serão inevitáveis; a vida familiar será perturbada pelo adultério, divórcio e amor livre; rivalidades nacionais, invejas e ódios, provocados pela cobiça comercial crescerão cada vez mais intensamente, até que levem a guerras internacionais com miséria indescritível para milhões. As nações que semeiam vento colhem tempestade.

Os pecados públicos e nacionais devem ser expiados neste mundo pela simples razão de que não podem ser expiados no próximo. No mundo vindouro, famílias, cidades, províncias e nações não continuarão a existir como corporação. Lá, homens e mulheres existirão apenas como indivíduos, sem estar unidos por vínculos sociais, civis, políticos e nacionais, que são necessários nesta vida para o bem-estar e a preservação da raça humana. Na eternidade, eles gozarão individualmente dos frutos de suas vidas na terra – os bons possuirão o Reino de Deus no Céu, ao passo que os perversos sofrerão por seus atos maus no fogo do Inferno, que não pode ser debelado. Mas como os pecados públicos requerem expiação pública, e como essa expiação não pode ser feita na próxima vida, fica claro que ela deve ser feita do lado de cá da sepultura.

E chegamos afinal à razão do sofrimento dos inocentes, ou seja, a explicação do porquê de que mesmo aqueles que não cometem os pecados graves que assolam um país devem se unir às outras pessoas na reparação dos pecados públicos. Muitos apostatam da fé católica e deixam de acreditar em Deus porque não acham justo o sofrimento do inocente. Mas quem é totalmente inocente? As pessoas têm uma noção errada de inocência porque não têm noção do pecado. E, na verdade, aquele que é inocente mesmo quer sofrer pelos outros. 'Por que o inocente deve sofrer?' Uma questão que termina sendo uma amarga tentação para muitas pessoas cuja fé é fraca e pouco iluminada surge em conexão com o que dissemos: por que os bons e virtuosos não são poupados nesses tempos, mas são compelidos a sofrer como os outros? Se Deus é justo, como Ele pode permitir que o inocente seja afligido com o culpado? Há várias razões pelas quais Deus permite que o bom sofra em tempos de castigo público: 

(i) É certamente justo e correto que os bons auxiliem a Deus oferecendo a reparação necessária pelos pecados públicos, porque no tempo normal eles gozam juntamente com os seus concidadãos das bênçãos da paz, tranquilidade e prosperidade nacional. Os seus interesses temporais são comuns, tanto no tempo de prosperidade quanto no da aflição;

(ii) Aqueles que são inocentes por não terem de fato tomado parte em pecados públicos não são, só por essa razão, completamente livres de culpa diante dos olhos de Deus. Muito frequentemente eles são culpados desses pecados de uma maneira indireta – de maneira acessória a eles, como se diz. Assim, eles podem ter cooperado com alguma forma de imoralidade, podem não ter protestado contra ela, podem ter negligenciado o uso de sua autoridade, ou influência, ou direito de votar, ou no impedimento de sua introdução, ou em conseguir sua remoção quando ela já estivesse introduzida, e isso tudo por meio de indiferença, respeito humano, medo de perseguição, perda de negócios ou razões semelhantes e sem valor;

(iii) Os sofrimentos dos bons têm um valor expiatório muito maior do que aqueles dos maus. Portanto, quanto mais pessoas boas puderem se juntar para fazer a expiação necessária, mais rapidamente ela será feita. Ademais, Deus é facilmente movido, em consideração pelo sofrimento dos bons, a mitigar bastante suas punições, e às vezes cessá-las completamente;

(iv) A visão do sofrimento dos bons por pecados que eles não cometeram é apta a promover a conversão e salvação dos maus, fazendo-os lembrar vivamente dos castigos mais rigorosos que a eles serão infligidos na vida futura. Se o pecado é punido de forma tão severa sobre os bons na terra, quanto mais o será sobre o pecador não arrependido na eternidade;

(v) Esses sofrimentos dão aos bons oportunidade de fazer expiação completa de seus pecados pessoais. Pois não há alguém tão santo e tão confirmado em graça que não tenha cometido alguns pecados, ao menos veniais. 'Até o justo cai sete vezes', isto é, frequentemente. Mas é uma lei imutável que todo pecado, mesmo o menor deles, deve ser expiado ou aqui ou depois, no Purgatório. Mas a expiação feita aqui é muito mais lucrativa do que a que será feita após a morte;

(vi) Suportar pacientemente o sofrimento indevido faz com que o bom se assemelhe a Jesus Cristo, que, apesar de perfeitamente inocente, tomou a si a tarefa de fazer reparação pelos nossos pecados e, com isso, abriu o Céu para nós. Se Ele não tivesse feito essa reparação, não poderíamos ser salvos. Ademais, o sofrimento inocente permite que o bom atinja os mais altos graus de graça e virtude, o que acarretará para eles um correspondente elevado grau de glória eterna no Reino dos Céus. 

(Why must I suffer, Pe. F.J. Remler, C.M., Loreto Publications, 2003).

terça-feira, 23 de abril de 2013

O INFERNO QUE SALVA

O inferno leva muitas almas para o céu. O que leva muitas almas para o inferno é pensar que o inferno não existe. O que leva muitas almas para o inferno é o orgulho desmedido, é a presunção da verdade manipulada pela individualidade de se decidir apenas por si mesmo, é a arrogância da miserável condição humana tutelada por vanglórias efêmeras. O que leva muitas almas para o inferno é a indiferença às graças divinas, é a busca da satisfação a qualquer preço aos mais sórdidos instintos. O que leva muitas almas para o inferno é a maliciosa concessão ao pecado frequente e glamourizado. 

O inferno em si não condena ninguém. Pelo contrário, o inferno leva muitas almas para o céu. Tangido pelo horror da eternidade do inferno, o homem se reconhece pecador e necessitado da misericórdia de Deus. Pecador, mas não refém do pecado; consciente de que é na fraqueza humana que se manifesta a força de Cristo; na incapacidade de amar sem reservas, suplicar pelo Amor sem limites; no vazio das amarguras diárias, construir uma alma revestida da eternidade. Eis o propósito de minha alma eivada da crença do inferno: entregar, com simplicidade a despojamento absoluto, o meu nada no coração de Deus.   

Se é assim, tão transparente e cristalina quanto a misericórdia divina, porque esta verdade demolidora não é trombeteada a plenos pulmões, pelos quatro cantos da terra, pelos servos de Deus? Por que o dogma da existência do inferno é escondido dos fiéis? De que vale as tolas preocupações da vida diante os mistérios dos Novíssimos do homem? Os sacerdotes receberam do Cristo a missão de salvar almas e como se salvam almas mostrando a realidade eterna do inferno! E, qualquer ser humano, morrendo em pecado mortal, ganha a eternidade do inferno. E nisso não existe objeção alguma à misericórdia de Deus; simplesmente porque Deus abomina o pecado, qualquer pecado, mas o pecado mortal, por um ato de responsabilidade pessoal do homem, aniquila em sua alma, absolutamente, incondicionalmente, intempestivamente, definitivamente, a misericórdia de Deus.

Mas a graça persiste e reluz como ouro pela sagrada confissão. Ai dos santos se não tivessem confessado. A confissão nos torna santos; as indulgências nos santificam, as orações e as boas obras nos fazem perseverar no caminho da santidade. O Santo Rosário e o Escapulário são as armaduras da graça. E os santos, os que o são de verdade e os que buscam trilhar os seus caminhos para chegar ao céu, temem, e como temem, o inferno. A meditação frequente e consciente sobre o inferno gera santos. Quem não teme o inferno são os pecadores: quantos milhares de milhares só acreditarão no inferno quando estiverem lá? O inferno não condena ninguém, o inferno salva, porque a crença consciente no inferno leva muitas almas para o céu. 

DA FUGA DAS OCASIÕES DE PECADO

Um sem número de cristãos se perde por não querer evitar as ocasiões de pecado. Quantas almas lá no inferno não se lastimam e queixam: Infeliz de mim! Se tivesse evitado aquela ocasião, não estaria agora condenado por toda a eternidade!

Falando aqui da ocasião de pecado, temos em vista a ocasião próxima, pois deve-se distinguir entre ocasiões próximas e remotas. Ocasião remota é a que se nos depara em toda a parte e que raramente arrasta o homem ao pecado. Ocasião próxima é a que, por sua natureza, regularmente induz ao pecado. Por exemplo, achar-se-ia em ocasião próxima um jovem que muitas vezes e sem necessidade se entretêm com pessoas levianas de outro sexo. Ocasião próxima para uma certa pessoa é também aquela que já a arrastou muitas vezes ao pecado. Algumas ocasiões consideradas em si não são próximas, mas tornam-se tais, contudo, para uma determinada pessoa que, achando-se em semelhantes circunstâncias, já caiu muitas vezes em pecado em razão de suas más inclinações e hábitos. Portanto, o perigo não é igual nem o mesmo para todos.

O Espírito Santo diz: 'Quem ama o perigo nele perecerá' (Ecli 3, 27). Segundo S. Tomás, a razão disso é que Deus nos abandona no perigo quando a ele nos expomos deliberadamente ou dele não nos afastamos. São Bernardino de Sena diz que, dentre todos os conselhos de Jesus Cristo, o mais importante e como que a base de toda a religião, é aquele pelo qual nos recomenda a fuga da ocasião de pecado.

Se fores, pois, tentado, e especialmente se te achares em ocasião próxima, acautela-te para não te deixares seduzir pelo tentador. O demônio deseja que se se entretenha com a tentação, porque então torna-se-lhe fácil a vitória. Deves, porém, fugir sem demora, invocar os santos nomes de Jesus e Maria, sem prestar atenção, nem sequer por um instante, ao inimigo que te tenta. São Pedro nos afirma que o demônio rodeia cada alma para ver se a pode tragar: 'Vosso adversário, o demônio, vos rodeia como um leão que ruge, procurando a quem devorar' (I Ped 5, 8). São Cipriano, explicando essas palavras, diz que o demônio espreita uma porta por onde possa entrar na alma; logo que se oferece uma ocasião perigosa, diz consigo mesmo: ‘eis a porta pela qual poderei entrar’, e imediatamente sugere a tentação. Se então a alma se mostrar indolente para fugir da tentação, cairá seguramente, em especial se se tratar de um pecado impuro. É a razão por que ao demônio mais desagradam os propósitos de fugirmos das ocasiões de pecado que as promessas de nunca mais ofendermos a Deus, porque as ocasiões não evitadas tornam-se como uma faixa que nos venda os olhos para não vermos as verdades eternas, as ilustrações divinas e as promessas feitas a Deus.

Quem estiver, porém, enredado em pecado contra a castidade, deverá, para o futuro, evitar não só a ocasião próxima, mas também a remota, enquanto possível, porque em tal se sentirá muito fraco para resistir. Não nos deixemos enganar pelo pretexto da ocasião ser necessária, como dizem os teólogos, e que por isso não estamos obrigados a evitá-la, pois Jesus Cristo disse: 'Se teu olho direito te escandaliza, arranca-o e lança-o de ti' (Mt 5, 29). Mesmo que seja teu olho direito deverás arrancá-lo e lançar fora de ti, para que não sejas condenado. Logo, deves fugir daquela ocasião, ainda que remota, já que, em razão de tua fraqueza, tornou-se ela uma ocasião próxima para ti.

Antes de tudo devemos estar convencidos que nós, revestidos de carne, não podemos por própria força guardar a castidade; só Deus, em Sua imensa bondade, nos poderá dar força para tanto. É verdade que Deus atende a quem Lhe suplica, mas não poderá atender à oração daquele que conscientemente se expõe ao perigo e não o deixa, apesar de o conhecer, pois, como diz o Espírito Santo, quem ama o perigo perecerá nele.

Ó Deus, quantos cristãos existem que, apesar de levarem uma vida piedosa, caem finalmente e obstinam-se no pecado, só porque não querem evitar a ocasião próxima do pecado impuro. Por isso nos aconselha São Paulo (Fil 2, 12): 'Com temor e tremor operai a vossa salvação'. Quem não teme e ousa expor-se às ocasiões perigosas, principalmente quando se trata do pecado impuro, dificilmente se salvará.

(Santo Afonso Maria de Ligório, Escola da Perfeição Cristã, Compilação de textos do Santo Doutor pelo padre Saint-Omer, CSSR, IV Edição, Editora Vozes, Petrópolis: 1955)

domingo, 21 de abril de 2013

O BOM PASTOR


No Quarto Domingo da Páscoa, ressoa pela cristandade a imagem e a missão do Bom Pastor: 'As minhas ovelhas escutam a minha voz; eu as conheço e elas me seguem. Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão. E ninguém vai arrancá-las de minha mão' (Jo 10, 27-28). Jesus, o Bom Pastor, conhece e ama, com profunda misericórdia, cada uma de suas ovelhas desde toda a eternidade. Criadas para o deleite eterno das bem-aventuranças, redimidas pelo sacrifício do calvário e alimentadas pela sagrada eucaristia, Jesus acolhe as suas ovelhas com doçura extrema e infinita misericórdia.  

E com ânsias de posse calorosa e zelo desmedido: 'Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai. Eu e o Pai somos um' (Jo 10, 29-30). Nada, nem coisa, nem homem, nem demônio algum, poderá nos apartar do amor de Deus. Porque este amor, sendo infinito, extrapola a nossa condição humana e assume dimensões imensuráveis. Ainda que todos os homens perecessem e a humanidade inteira ficasse reduzida a um único homem, Deus não poderia amá-lo mais do que já o ama agora, porque todos nós fomos criados, por um ato sublime e extraordinariamente particular da Sua Santa Vontade, como herdeiros dos céus e para a glória de Deus: 'Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas. A Ele a glória por toda a eternidade!' (Rm 11, 36).

Jesus toma sobre os ombros a ovelha de sua predileção, cada um de nós, a humanidade inteira, para a conduzir com segurança às fontes da água da vida (Ap 7, 17), onde Deus enxugará as lágrimas dos nossos olhos. Reconhecer-nos como ovelhas do rebanho do Bom Pastor é manifestar em plenitude a nossa fé e esperança em Jesus Cristo, Deus Único e Verdadeiro, cuja bondade perdura para sempre e cujo amor é fiel eternamente (Sl 99,5). Como ovelhas do Bom Pastor, não nos basta ouvir somente a voz da salvação; é preciso segui-Lo em meio às provações da nossa humanidade corrompida, confiantes e perseverantes na fé, até o dia dos tempos em que estaremos abrigados eternamente na tenda do Pai, lavados e alvejados no sangue do cordeiro (Ap 7, 14b).