domingo, 3 de fevereiro de 2013

QUEM PROCURA A SI MESMO, PECA CONTRA O AMOR

'Nenhum profeta é bem recebido em sua pátria' (Lc, 4,24). Na sua terra natal, entre os seus, Jesus proclama a verdade que incomodou e doeu brutalmente naqueles que buscaram nEle um amor de livre possessão: 'Faze aqui... o que fizeste em Cafarnaum' (Lc 4, 23). A princípio, predominou em Nazaré um rumor crescente de admiração, mas Jesus perscrutou-lhes o coração e anteviu o sentimento geral em transformá-lo do 'filho de José' em 'salvador da pátria' dos privilegiados de Nazaré. Eles não foram capazes de compreender que, naquela sinagoga, diante deles, estava toda a resposta de séculos de profecias messiânicas.

E os seus O viram e O escutaram, tangidos pela mesma crença superficial e vazia de tantas viúvas e leprosos de Israel. Naquele tempo, em Nazaré da Galileia, na perplexidade dos mistérios de Deus e da incredulidade dos homens, nenhum Naamã elevou a sua prece, nenhuma viúva de Sarepta estremeceu de espanto diante do Filho de Deus vivo. Todos aqueles homens e mulheres viram diante de si apenas o 'filho de José' e se encheram de ira quando este negou-se a ser a cômoda versão de suas crenças insensatas. E o expulsaram de Nazaré, e o ameaçaram de morte, e o renegaram daí em diante:  'Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam' (Jo, 1, 11).

'Jesus, porém, passando no meio deles, continuou o seu caminho' (Lc, 4, 30). 'Passando no meio deles'... Sua divindade é manifestada aqui sem parcimônia e foi tão explícita que deixa os seus enlouquecidos perseguidores impotentes e desarmados em sua fúria diabólica de lançá-lO num abismo. Algum tempo depois, no Calvário, Ele vai permitir o júbilo de algozes ainda mais enlouquecidos. 'E continuou o seu caminho'... Porque a salvação não seria manifesta apenas aos judeus, mas a todos os povos e nações. Porque a redenção deveria ser um tributo de bênçãos e graças aos homens de todos os tempos.

De todos os pecados daquela Nazaré de outros tempos, o maior foi exigir um amor condicionado pelo egoísmo da posse. Quem procura a si mesmo, peca contra o amor, por lhe faltar a capacidade de amar sem interesses e sem imposições. Para aquela gente, Jesus seria amado se cumprisse o modelo de seus interesses mesquinhos: uma Nazaré repleta dos feitos de Jesus em Cafarnaum era a única expectativa de um amor de recompensa. Nesta falsa esperança, não houve acolhida para o amor sem medidas, faltou a caridade. E, assim, Jesus seguiu em frente, em busca de outros caminhos, porque 'a caridade não se alegra com a iniquidade, mas se regozija com a verdade' (1 Cor 13, 6). 


sábado, 2 de fevereiro de 2013

PRIMEIRO SÁBADO DE FEVEREIRO


Mensagem de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, vidente de Fátima: 
                                                                                                                           (Pontevedra / Espanha)

Em 10 de dezembro de 1925, logo depois do jantar, a jovem postulante Lúcia, então com 18 anos, voltou à sua cela e aí recebeu a visita de Nossa Senhora e do Menino Jesus. A Santíssima Virgem pousou a mão no ombro de Lúcia e mostrou-lhe um Coração cercado de espinhos que tinha na outra mão. Neste momento, assim falou o Menino Jesus:
‘Tem pena do Coração de tua Mãe Santíssima, que está coberto de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Lhe cravam, sem haver quem faça um ato de reparação para os tirar’.
Em seguida, a Santíssima Virgem revelou a Lúcia a grande promessa da Devoção dos Cinco Primeiros Sábados:
‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem*, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’
* Com base em aparições posteriores, esclareceu-se que a confissão poderia não se realizar no sábado propriamente dito, mas antes, desde que feita com a intenção explícita (interiormente) de se fazê-la para fins de reparação às blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria no primeiro sábado seguinte.

Cinco Sábados para Reparação Contra:

1 – as blasfêmias contra a imaculada conceição da Virgem Maria;
2 – as blasfêmias contra sua virgindade;
3 – as blasfêmias contra sua maternidade divina, recusando ao mesmo tempo reconhecê-la como mãe dos homens;
4 – as blasfêmias daqueles que procuram publicamente por no coração das crianças a indiferença ou o desprezo, ou mesmo o ódio em relação a esta Mãe Imaculada;
5 – as ofensas dos que a ultrajem diretamente nas suas santas imagens. 



ATO DE DESAGRAVO
AO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA

QUINTO SÁBADO - reparação contra as blasfêmias daqueles que ultrajam as imagens  de Nossa Senhora

Ó Coração Doloroso e Imaculado de Maria, transpassado de dor pelas injúrias com que os pecadores ultrajam vosso santo nome e vossas excelsas prerrogativas; eis prostrado aos vossos pés vosso indigno filho, que, oprimido pelo peso das próprias culpas, vem arrependido vos oferecer este ato de reparação contra as injúrias, blasfêmias, indiferenças e injustiças cometidas contra vós pela impiedade dos homens que não vos conhecem.

Neste Quinto Sábado, ó Coração Doloroso e Imaculado de Maria, desejo reparar particularmente as blasfêmias daqueles que ultrajam o vosso santo nome em vossas  imagens, ó Mãe Imaculada. Virgem Maria, por vossas imagens chegam ao meu coração as doces alegrias que exultam os céus, os anjos e os arcanjos, e a terra inteira. E contra este tesouro de graças, homens ímpios ousam vos blasfemar... Feliz, porém, aquele que Vos ama, ó Maria, Mãe Santíssima, e possa proclamar as bem-aventuranças do vosso Santo Nome em vossas imagens nos confins de toda a terra. Que este meu pequeno ato de puro amor e devoção seja depositado no repositório de graças da Santa Igreja em desagravo e reparação às blasfêmias daqueles que, por meio de vossas imagens, ousam ultrajar o vosso Santo Nome. 

E que meu ato de amor seja também um ato de  esperança e de súplica à vossa misericordiosa mediação: concedei-me, ó Imaculado e Doloroso Coração de Maria, o firme propósito de vos ser fiel todos os dias de minha vida, de defender a vossa honra de todos os ultrajes, de propagar com entusiasmo vosso culto e vossas glórias a todos os homens, de amar Vosso Filho de todo o meu coração  e a graça suprema de estar convosco e com Jesus no Céu por toda a eternidade. Amém. 

(rezar 3 Ave Marias em desagravo ao Imaculado Coração de Maria pelas blasfêmias cometidas por todos aqueles que ultrajam o santo nome de Nossa Senhora em suas imagens).

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DE FEVEREIRO

Quinta 'Sexta-Feira' da Devoção

Eu te prometo, na excessiva misericórdia de meu coração, que meu amor onipotente concederá a todos os que comunguem nas primeiras sextas-feiras de mês, durante nove meses consecutivos, a graça da penitência final, e que não morram em minha desgraça, nem sem receber os Santos Sacramentos, assegurando-lhes minha assistência na hora final. 

Ó bom Jesus, que prometestes assistir em vida, e especialmente na hora da morte, a quem invoque com confiança vosso Divino Coração! Eu vos ofereço a comunhão do presente dia, a fim de obter, por intercessão de Maria Santíssima, vossa Mãe, a graça de poder fazer as minhas nove primeiras sextas-feiras, de modo a alcançar uma santa morte e a merecer a glória do céu. Amém.


Oração Final

Meu Jesus, eu vos dou meu coração, consagro-vos toda minha vida e em vossas mãos ponho a eterna sorte de minha alma. Eu vos peço a graça especial de fazer as minhas nove primeiras sextas-feiras com todas as disposições necessárias para ser participante da maior de vossas promessas, a fim de, um dia, estar convosco por toda a eternidade no céu. Amém.

ATO DE REPARAÇÃO
AO SACRATÍSSIMO CORAÇÃO DE JESUS

Sacratíssimo Coração de Jesus, humildemente prostrados aos vossos pés, prometemos, agora e sempre, oferecer humilde reparação pelas ofensas que, infelizmente, vos são infligidas da parte dos homens.
Assim o prometemos, oh! Sacratíssimo Coração.

Coração de Jesus, santificação de nossas almas, quanto mais forem vossos mistérios ultrajados pelos ímpios, tanto mais queremos oferecer a estes mesmos mistérios o tributo de nossa fé.
Assim o prometemos, oh! Sacratíssimo Coração.

Coração de Jesus, única esperança dos homens, quanto mais a incredulidade se empenhar em roubar-nos a esperança nas coisas do céu, tanto mais havemos de por em vós toda a nossa esperança.
Assim o prometemos, oh! Sacratíssimo Coração.

Coração de Jesus, infinitamente amável, quanto mais os pecadores resistirem aos impulsos de vossa graça e aos afagos de vosso divino Coração, tanto mais vos havemos de amar.
Assim o prometemos, oh! Sacratíssimo Coração.

Divino Coração de Jesus, quanto mais os homens se esforçarem em negar vossa divindade, tanto mais havemos nós de adorá-la com profundo respeito.
Assim o prometemos, oh! Sacratíssimo Coração.

Coração de Jesus, fonte de toda a Santidade, quanto mais forem infringidos e olvidados os vossos divinos mandamentos, tanto mais os havemos de cumprir e observar.
Assim o prometemos, oh! Sacratíssimo Coração.

Liberalíssimo Coração de Jesus, quanto mais os homens desprezarem os vossos sacramentos, contanto mais amor e reverência havemos de recebê-los.
Assim o prometemos, oh! Sacratíssimo Coração.

Coração de Jesus, modelo de todas as perfeições, quanto mais desconhecidas forem as vossas admiráveis perfeições, tanto mais queremos esforçar-nos para que em nós resplandeçam.
Assim o prometemos, oh! Sacratíssimo Coração.

Coração de Jesus, salvador das almas, quanto mais o inferno se esforçar por perverte as almas, tanto mais havemos de empenhar-nos na sua salvação.
Assim o prometemos, oh! Sacratíssimo Coração.

Coração de Jesus, saturado de opróbrios,quanto mais o sensualismo e o orgulho conduzirem os homens ao esquecimento de seus mortais destinos, tanto mais havemos de imolar-nos como vítimas de mortificação.
Assim o prometemos, oh! Sacratíssimo Coração.

Dulcíssimo Coração de Jesus, quanto mais os homens combaterem a vossa santa Igreja, tanto mais nos esforçaremos por mostrar-nos seus filhos dedicados.
Assim o prometemos, oh! Sacratíssimo Coração.

Coração de Jesus, atravessado pela lança, quanto mais perseguido for o vosso representante na terra, o Santo Papa João Paulo II, tanto mais havemos de cercá-lo de honra e de amor como chefe infalível da Igreja.
Assim o prometemos, oh! Sacratíssimo Coração.

Oração: 

Divino Coração de Jesus, concedei-nos a graça, de que temos mister, para sermos agora e sempre filhos dedicados de vossa Igreja, vossos apóstolos neste mundo e depois vossos escolhidos na bem-aventurança eterna. Assim seja.

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS


A Grande Revelação do Sagrado Coração de Jesus foi feita a Santa Margarida Maria Alacoque  durante a oitava da festa de Corpus Christi  de 1675...

         “Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais sensível é que há corações consagrados que agem assim. Por isto te peço que a primeira sexta-feira após a oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para  honrar Meu Coração, comungando neste dia, e O reparando pelos insultos que recebeu durante o tempo em que foi exposto sobre os altares ... Prometo-te que Meu Coração se dilatará para derramar os influxos de Seu amor divino sobre aqueles que Lhe prestarem esta honra”.


... e as doze Promessas:
  1. A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de meu Sagrado Coração.
  2. Eu darei aos devotos do meu Coração todas as graças necessárias a seu estado.
  3. Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias.
  4. Eu os consolarei em todas as suas aflições.
  5. Serei seu refúgio seguro na vida, e principalmente na hora da morte.
  6. Lançarei bênçãos abundantes sobre todos os seus trabalhos e empreendimentos.
  7. Os pecadores encontrarão em meu Coração fonte inesgotável de misericórdias.
  8. As almas tíbias se tornarão fervorosas pela prática dessa devoção.
  9. As almas fervorosas subirão em pouco tempo a uma alta perfeição.
  10. Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais empedernidos.
  11. As pessoas que propagarem esta devoção terão os seus nomes inscritos para sempre no meu Coração.
  12. A todos os que comungarem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna.

    ATO DE DESAGRAVO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS 
    (rezai-o sempre, particularmente nas primeiras sextas-feiras de cada mês)

Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é deles tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos aqui prostrados, diante do vosso altar, para vos desagravarmos, com especiais homenagens, da insensibilidade tão insensata e das nefandas injúrias com que é de toda parte alvejado o vosso dulcíssimo Coração.

Reconhecendo, porém, com a mais profunda dor, que também nós, mais de uma vez, cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a vossa misericórdia, prontos a expiar não só as nossas próprias culpas, senão também as daqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não vos querendo como pastor e guia, ou, conspurcando as promessas do batismo, renegam o jugo suave da vossa santa Lei.

De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-vos, mas particularmente das licenças dos costumes e imodéstias do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias contra vós e vossos santos, dos insultos ao vosso vigário e a todo o vosso clero, do desprezo e das horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do divino Amor, e enfim, dos atentados e rebeldias oficiais das nações contra os direitos e o magistério da vossa Igreja.

Oh, se pudéssemos lavar com o próprio sangue tantas iniquidades! Entretanto, para reparar a honra divina ultrajada, vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe, de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação que vós oferecestes ao Eterno Pai sobre a cruz, e que não cessais de renovar todos os dias sobre os nossos altares.

Ajudai-nos, Senhor, com o auxílio da vossa graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a viveza da fé, com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nossos próximos, impedir, por todos os meios, novas injúrias à vossa divina Majestade e atrair ao vosso serviço o maior número de almas possível.

Recebei, ó Jesus de Infinito Amor, pelas mãos de Maria Santíssima Reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos constantes até a morte no fiel cumprimento dos nossos deveres e no vosso santo serviço, para que possamos chegar todos à Pátria bem-aventurada, onde vós, com o Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

SERMÃO DAS SETE PALAVRAS

REFLEXÕES SOBRE AS SETE PALAVRAS DE JESUS NA CRUZ E DAS SETE PALAVRAS DE NOSSA SENHORA NOS EVANGELHOS
                                                                                             (Arcebispo Fulton Sheen)

PRIMEIRA PALAVRA

A primeira expressão de Nosso Senhor na Cruz foi esta: 'Perdoai-lhes, Pai, porque eles não sabem o que fazem'. Não é a sabedoria do mundo que salva, mas a ignorância. Se os carrascos soubessem o que de horrível faziam, quando repeliam o Filho do Homem; se, sabendo que Ele era o Filho de Deus, tivessem continuado deliberadamente a provocar-lhe a morte, então não haveria esperança de os pecadores se salvarem. Foi por virtude da ignorância da blasfêmia que praticavam que eles foram chamados a ouvir cair sobre si às palavras de perdão, e a obtê-lo. 

Esta primeira expressão lembra a Maria a sua. Também Ela dizia respeito à ignorância. Quando o anjo lhe anunciou que ia ser mãe do Filho de Deus, perguntara: 'Como pode ser isso, se não conheci varão?' Ignorância, aqui, significava inocência, virtude, virgindade. Ignorância que se confessa não é ignorância da verdade, mas ignorância do mal. 

Jesus perdoa aos pecadores que são ignorantes, mas não os anjos rebeldes que sabiam o que faziam e que, por consequência, tinham-se colocado fora da Redenção. Maria é bendita, porque era ignorante do homem, devido ao seu voto de virgindade. As duas expressões unem-se aqui numa só dor para Jesus e para Maria: a dor de ver que os homens não possuem a verdadeira sabedoria, aquela que só às crianças é dada: eles ignoram que só Cristo os pode salvar. 

SEGUNDA PALAVRA

A segunda expressão de Cristo foi dirigida ao ladrão arrependido. Este começou por blasfemar contra Ele, mas, ao ouvir as palavras de perdão, ao ver a beleza de sua Mãe, correspondeu à graça; considera o seu castigo como 'uma recompensa dos seus crimes'. A vista do Homem na cruz central, obedecendo à vontade do seu Pai, leva-o a aceitar a sua própria cruz, como provinha da vontade de Deus. E então lança ele um supremo apelo ao perdão, e Cristo lhe responde: 'Hoje estarás comigo no Paraíso'. 

Esta magnífica aceitação dos seus sofrimentos, por parte do ladrão, para expiar as suas faltas, faz que Maria se lembre da outra palavra do Anjo. Quando este lhe disse que Ela ia ser mãe d’Aquele a quem Isaías descreveu como o homem batido e afligido por Deus, proferiu a sua segunda palavra: Fiat. 'Faça-se em mim a tua palavra'. Não há nada no Universo que mais importância tenha do que fazer a vontade de Deus, ainda que isso leve ao ladrão um suplício, e uma dor Àquela que se tem de pé junto da Cruz. 

O Fiat de Maria foi uma dos grandes Fiats do mundo: um fez a luz, o outro aceitou a vontade do Pai, no Jardim das Oliveiras. Quanto ao de Maria, traduz-se na aceitação de uma outra vida, em que Ela se esquecerá de si própria, para ser a companheira da Cruz. O Coração de Jesus e o Coração de Maria formaram um só no Monte do Calvário, pela submissão à vontade do Pai. 

Cada um tem a sua cruz no mundo, mas não há duas cruzes que sejam idênticas. A de Nosso Senhor era a Cruz da Redenção para os pecados do Mundo; a de Nossa Senhora foi uma vida inteira de união com a Cruz. Quanto à do ladrão, consistiu em suportar a agonia na cruz, como prelúdio de uma coroa. Uma vez que a nossa liberdade é a única coisa que possuímos como própria, constitui a mais perfeita oferenda que a Deus podemos fazer. 

TERCEIRA PALAVRA

A primeira palavra de Nosso Senhor era para os seus carrascos; a segunda para os pecadores; a terceira foi dirigida à sua Mãe e a São João. Palavra de saudação e, no entanto, mercê dessa palavra, todas as relações humanas foram modificadas. Jesus chama a sua Mãe 'Mulher', e a João 'Filho' – 'Mulher, eis ai o teu Filho' – 'Filho, eis aí a tua Mãe.' É a ordem dada a todos os que irão querer segui-lo, para que vejam em sua Mãe a própria Mãe deles. Tudo o mais Ele o dera. Ia agora dar-se também. Mas, naturalmente, voltaria a encontrá-la, como Mãe do seu Corpo Místico. 

A terceira expressão de Maria foi também uma saudação. Não sabemos com rigor quais as palavras que empregou, mas sabemos que ia visitar e cumprimentar sua prima Isabel. Nesta cena evangélica, havia também um João – João Batista – que proclamava Maria como sua Mãe. Isabel, sentindo seu filho agitar-se de alegria em seu próprio ventre, fala, por sua vez, e dirige-se a Maria como 'Mãe de Deus'. Dois meninos estabelecem relações ainda mesmo antes de nascerem! 

Quando Jesus, na Cruz, proferia a sua terceira expressão, pensava Maria na sua. Na Visitação, era portadora da influência de Cristo, antes mesmo de Ele ter nascido; no Calvário, estava destinada a ser Mãe de todos aqueles que quisessem renascer. O nascimento de Jesus nenhuma dor lhe causou. Mas o de João e de milhões de entre nós, ao pé da Cruz, tal agonia lhe levaram, que Ela bem mereceu o título de Rainha dos Mártires. Jesus sacrificou-nos sua Mãe, para dela fazer nossa Mãe. Maria sacrificou o seu Divino Filho, para de nós fazer os seus filhos. Triste troca! Mas Ela estava convencida de que valia bem a pena. 

QUARTA PALAVRA

A quarta palavra da Santíssima Virgem foi o seu Magnificat; a quarta expressão de Nosso Senhor é tirada do salmo vinte e um, que começa com este desabafo de tristeza: 'Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?' – mas que, todavia, termina quase como o canto de Maria: 'Os pobres comerão e ficarão saciados; os extremos da Terra se lembrarão do Senhor e a Ele adorarão.' Os dois cânticos elevam-se, sem que seja dado nenhum sinal de segura vitória. 

Como parece fraca, quando a consideramos apenas pelo lado humano, essa Mulher que mergulha os seus olhares até ao fim dos tempos e que profetiza: 'todas as gerações me chamarão bem-aventurada!' E como, pelo lado humano, se nos afigura sem esperança o desejo d’Aquele que ao mundo veio para se apoderar da Terra e que, repelido agora por ela, clama por seu Pai! Mas, para Jesus e para Maria, há tesouros na noite: para Maria, na noite de uma Mulher; para Jesus, na noite do Gólgota. Só aqueles que marcham na noite vêem as estrelas. 

QUINTA PALAVRA

A quinta expressão de Maria foi proferida quando Ela interroga Jesus: 'Meu Filho! Porque procedeste assim conosco? Vosso pai e eu Te procurávamos aflitos.' É essa a expressão de todas as criaturas à procura de Deus. A quinta expressão de Nosso Senhor é a do Criador à procura do homem: 'Tenho sede'. Não é a sede das águas da Terra, mas das almas. 

As palavras de Maria resumem as aspirações de todas as almas em relação a Cristo, e as palavras de Cristo consubstanciam o seu amor por cada uma das almas que Ele criou. Ora, no mundo, só existe uma coisa capaz de impedir esse encontro: é a vontade do homem. Para encontrar Deus, é preciso querer. Do contrário, Ele parecerá sempre que é um Deus que se esconde. 

SEXTA PALAVRA

A sexta expressão de Maria tinha sido uma simples prece: 'Eles não têm vinho': palavras que apressaram Nosso Senhor a realizar o seu primeiro milagre e a meter-se no caminho real do Calvário. Depois de Nosso Senhor ter saboreado, na Cruz, o vinho que lhe foi dado por um soldado, disse Ele: 'Tudo está consumado.' Essa 'hora', que Maria tinha, por assim dizer, começado, quando Cristo transmutou a água em vinho, está agora terminada: o vinho da sua vida transformou-se em Sangue: o Sangue do seu Sacrifício. 

Em Caná, Maria mandava o seu Filho para a Cruz; no Calvário, Cristo declara que terminou o seu trabalho de Redenção. O Coração Imaculado de Maria era o altar vivo sobre o qual o Sagrado Coração de Jesus se oferecia em sacrifício, e Maria não ignorava que, a partir desse momento, os homens só seriam salvos pela oferenda do Filho de Deus.

SÉTIMA PALAVRA

As últimas palavras de Maria, referidas pelo Evangelho, são as de abandono completo à vontade de Deus: 'Fazei tudo o que Ele vos disser' (Jo 11-5). Na Transfiguração, o Pai Celeste fala assim: 'Eis o meu Filho bem-amado, escutai-o'. E Maria lança este supremo apelo: 'Fazei a sua Vontade.' As últimas palavras de Jesus, na Cruz, foram aquelas pelas quais Ele abandonou a sua vida à vontade de Deus: 'Pai, nas tuas mãos encomendo o meu espírito.' 

Maria abandonou-se a Jesus, e Jesus abandonou-se ao seu Pai. Fazer a vontade de Deus, até a morte, tal o segredo de toda a santidade. E aqui Jesus nos ensina a morrer, porque se Ele quis ter a sua Mãe junto de si, na suprema hora do seu grande abandono, como nos atreveríamos nós a deixar de dizer a ela, diariamente: 'Rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém'!

31 DE JANEIRO - SÃO JOÃO BOSCO


Filho de uma humilde família de camponeses, São João (Melchior) Bosco nasceu em Colle dos Becchi, localidade próxima a Castelnuovo de Asti em 16 de agosto de 1815. Órfão de pai aos dois anos, viveu de ofícios diversos na pobreza da infância e da juventude, até ser ordenado sacerdote em 5 de junho de 1841, com a missão apostólica de servir, educar e catequizar os jovens, o que fez com extremado zelo e santificação durante toda a sua vida.

Em 1846, fundou o Oratório de São Francisco de Sales em Turim, dando início à sua obra prodigiosa, arregimentando colaboradores e filhos, aos quais chamava de salesianos, em meio a um intenso e profícuo apostolado. Em 1859, fundou  a Congregação Salesiana e, em 1872, com a ajuda de Santa Maria Domingas Mazzarello, fundou o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora para a educação da juventude feminina. Em 1875, enviou a primeira turma de seus missionários para a América do Sul. No Brasil, as primeiras casas salesianas foram o Colégio Santa Rosa em Niterói e o Liceu Coração de Jesus em São Paulo. 

Faleceu a 31 de janeiro de 1888 em Turim, aos 72 anos, deixando como herança cristã a Congregação Religiosa Salesiana espalhada por diversos países da Europa e das Américas. O Papa Pio XI, que o conheceu e gozou da sua amizade, canonizou-o na Páscoa de 1934. Popularizado como 'Dom Bosco', foi aclamado pelo Papa João Paulo II como 'pai e mestre da juventude' e se tornaram lendários os seus sonhos proféticos (exemplo abaixo), que ele narrava em suas pregações aos jovens salesianosem suas pregações.

A BIGORNA E O MARTELO

Em 20 de agosto de 1862, depois de rezadas as orações da noite e de dar alguns avisos relacionados com a ordem da casa, Dom Bosco disse: 'Quero contar-lhes um sonho que tive faz algumas noites'.

Sonhei que estava em companhia de todos os jovens em Castelnuovo do Asti, na casa de meu irmão. Enquanto todos faziam recreio, dirigiu-se a mim um desconhecido e convidou-me a acompanhá-lo. Segui-o e ele me conduziu a um prado próximo ao pátio e ali indicou-me, entre a erva, uma enorme serpente de sete ou oito metros de comprimento e grossura extraordinária. Horrorizado ao contemplá-la, quis fugir.

— 'Não, não' — disse-me meu acompanhante — 'não fujas; vem comigo'.
 'Ah!' — exclamei — 'não sou tão néscio para me expor a um tal perigo'.
— 'Então' — continuou meu acompanhante —'aguarda aqui'.
E, em seguida, foi em busca de uma corda e com ela na mão voltou novamente junto a mim e disse-me:
— 'Tome esta corda por uma ponta e agarre-a bem; eu agarrarei o outro extremo e por-me-ei na parte oposta e, assim, a manteremos suspensa sobre a serpente'.
— 'E depois?'
— 'Depois a deixaremos cair sobre a espinha dorsal'.
— 'Ah! não; por caridade. Pois ai de nós se o fizermos! A serpente saltará enfurecida e nos despedaçará'.
— 'Não, não; confie em mim' — acrescentou o desconhecido —'eu sei o que faço'.
— 'De maneira nenhuma; não quero fazer uma experiência que pode-me custar a vida'.

E já me dispunha a fugir, quando o homem insistiu de novo, assegurando-me que não havia nada que temer; e tanto me disse que fiquei onde estava, disposto a fazer o que me dizia. Ele, entretanto, passou do outro lado do monstro, levantou a corda e com ela deu uma chicotada sobre o lombo do animal. A serpente deu um salto voltando a cabeça para trás para morder ao objeto que a tinha ferido, mas em lugar de cravar os dentes na corda, ficou enlaçada nela mediante um nó corrediço. Então o desconhecido gritou-me:

— 'Agarre bem a corda, agarre-a bem, que não se lhe escape'.

E correu a uma pereira que havia ali perto e atou a seu tronco o extremo que tinha na mão; correu depois para mim, agarrou a outra ponta e foi amarrá-la à grade de uma janela. Enquanto isso, a serpente agitava-se, movia-se em espirais e dava tais golpes com a cabeça e com sua calda no chão, que suas carnes rompiam-se saltando em pedaços a grande distancia. Assim continuou enquanto teve vida; e, uma vez morta, só ficou dela o esqueleto descascado e sem carne. Então, aquele mesmo homem desatou a corda da árvore e da janela, recolheu-a, formou com ela um novelo e disse-me:

— 'Presta atenção!'

Colocou a corda em uma caixa, fechou-a e depois de uns momentos a abriu. Os jovens tinham-se ajuntado ao ao meu redor. Olhamos o interior da caixa e ficamos maravilhados. A corda estava disposta de tal maneira, que formava as palavras: Ave Maria!

— 'Mas como é possível?' — disse — 'Você colocou a corda na caixa e agora ela aparece dessa maneira!'.

— 'Olhe' — disse ele — 'a serpente representa o demônio e a corda é a Ave Maria, ou melhor, o Santo Rosário, que é uma série de Ave Marias com a qual e com as quais se pode derrubar, vencer e destruir  todos os demônios do inferno.

Enquanto falávamos sobre o significado da corda e da serpente, voltei-me para trás e vi alguns jovens que, agarrando os pedaços da carne da serpente, os comiam. Então gritei-lhes imediatamente:

— 'Mas o que é o que fazem? Estão loucos? Não sabem que essa carne é venenosa e que far-lhes-á muito dano?'

'Não, não' — respondiam-me os jovens — 'a carne está muito boa'.

Mas, depois de havê-la comido, caíam ao chão, inchavam-se e tornavam-se duros como uma pedra. Eu não podia ficar em paz porque, apesar daquele espetáculo, cada vez era major o número de jovens que comiam aquelas carnes. Eu gritava a um e a outro; dava bofetadas a este, um murro naquele, tentando impedir que comessem; mas era inútil. Aqui caía um, enquanto que lá começava a comer outro. Então chamei os clérigos em meu auxílio e disse-lhes que se mesclassem entre os jovens e se organizassem de maneira que ninguém comesse aquela carne. Minha ordem não teve o efeito desejado, pois alguns dos clérigos começaram também a comer as carnes da serpente, caindo ao chão como os outros. Eu estava fora de mim quando vi a meu redor um grande número de moços estendidos pelo chão no mais miserável dos estados. Voltei-me, então, para desconhecido e disse-lhe:

— 'Mas o que quer dizer isto? Estes jovens sabem que esta carne ocasiona-lhes a morte e, contudo, a comem. Qual é a causa?'

Ele respondeu-me: ' — Já sabes que animalis homo non pércipit ea quae Dei sunt : Alguns homens não percebem as coisas que são de Deus'.

— 'Mas não há remédio para que estes jovens voltem em si?'

— 'Sim, há'.

— 'E qual seria?'

— 'Não há outro que não seja pela bigorna e pelo martelo'.

— 'Bigorna? Martelo? E como terei que empregá-los?'

— 'Terás que submeter os jovens à ação de ambos estes instrumentos'.

— 'Como? Acaso devo colocá-los sobre a bigorna e golpeá-los com o martelo?'

Então meu companheiro me esclareceu, dizendo:

— 'O martelo significa a Confissão e a bigorna, a Comunhão; é necessário fazer uso destes dois meios'.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

DA VIDA ESPIRITUAL (41)



Tens especial preocupação com a salvação eterna da alma de alguma pessoa? Ao rezar por ela, encerra esta alma nas chagas abertas do Imaculado Coração de Jesus: oceano de compaixão e abismo de misericórdia que tudo sublima e tudo perdoa. A infinita misericórdia de Deus é o bálsamo e o refúgio de todos os pecadores.