quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A ERA DOS MÁRTIRES: AS DEZ PERSEGUIÇÕES ROMANAS

PRIMEIRA PERSEGUIÇÃO: ANO 67 

A primeira perseguição da Igreja ocorreu no ano 67 de nossa era, movida por Nero, sexto imperador de Roma, incluindo as mais atrozes barbaridades. Entre outros caprichos diabólicos, ordenou que a cidade de Roma fosse incendiada (incêndio que se delongou por anos), com centenas de mortos. As brutalidades foram refinadas ao extremo cometidas contra os cristãos pelos motivos mais torpes; foi durante esta perseguição que foram martirizados São Pedro e São Paulo. Mártires da Segunda Perseguição: Erasto, tesoureiro de Corinto; Aristarco, o macedônio; Trófimo de Éfeso, convertido por São Paulo e seu colaborador; José, comumente chamado Barsabé e Ananias, bispo de Damasco.

SEGUNDA PERSEGUIÇÃO: ANO 81

A segunda perseguição foi suscitada pelo imperador Domiciano. Entre as suas loucuras, ordenou a execução de todos os descendentes da linhagem de Davi. Entre os numerosos mártires que sofreram durante esta perseguição estavam Simeão, bispo de Jerusalém, que foi crucificado, e São João, que foi fervido em óleo e depois desterrado a Patmos. Mártires da Segunda Perseguição: Dionísio, o areopagita, ateniense de nascimento, bispo de Atenas; Nicodemos; Protásio e Gervásio; Timóteo, o célebre discípulo de São Paulo, bispo de Éfeso, morto a golpes de paus.

TERCEIRA PERSEGUIÇÃO: ANO 108

Iniciada pelo imperador Trajano e continuada pelo seu sucessor, o imperador Adriano. A matança de cristãos era diária e tão brutal, que levou os próprios romanos (como Plínio, o Jovem) a interceder por eles, sem sucesso.  Mártires da Terceira Perseguição: o bem-aventurado mártir Inácio, bispo da Antioquia e sucessor de Pedro; Alexandre, bispo de Roma, e seus dois diáconos;  Quirino e Hermes, com suas famílias; Zeno, um nobre romano; Eustáquio, um valoroso comandante romano convertido; Faustines e Jovitas, irmãos e cidadãos da Bréscia.

QUARTA PERSEGUIÇÃO: ANO 162

A quarta perseguição foi suscitada pelo imperador Marco Aurélio Antonino. Alguns dos mártires eram obrigados a passar, com os pés já feridos, sobre espinhas, pregos, aguçadas conchas, etc., colocados em ponta; outros eram açoitados até a morte. Mártires da Quarta Perseguição: Germânico, entregue às feras; Policarpo, bispo de Esmirna, queimado vivo; Metrodoro e Pionio, também queimados vivos; Agatônica; Felicitate, virtuosa dama romana, junto com os seus sete filhos: Enero, o mais velho, flagelado e prensado; Felix e Felipe, mortos a pauladas;  Silvano, lançado de um precipício; e os três filhos menores, Alexandre, Vital e Marcial, foram decapitados e com a mesma espada a mãe foi depois decapitada; Justino, o célebre filósofo, que, aos trinta anos de idade, se convertera ao cristianismo, açoitado e decapitado. As catacumbas de Roma são um mostruário absurdo das milhares de vítimas destas primeiras perseguições aos cristãos.

QUINTA PERSEGUIÇÃO: ANO 192

Por volta do ano 192 de nossa era, o avanço do cristianismo alarmava os pagãos e reavivou-se a calúnia de se imputar aos cristãos as responsabilidades pelas desgraças eventualmente ocorridas. Mártires da Quinta Perseguição: Vitor, bispo de Roma; Leônidas, pai do célebre Orígenes, decapitado; Plutarco e Sereno, irmãos, outro Sereno, Herón e Heráclides, todos decapitados; Rhais, sua irmã Potainiena e sua mãe Marcela; Basflides, oficial do exército convertido; Irineu, bispo de Lyon; Perpétua, Felicitas, Revocato, Saturnino, Secúndulo e Satur, executados no dia 8 de março do ano 205 d.C.; Esperato e outros doze foram decapitados, mesmo destino de Andrócles, na França. Cecília, uma jovem dama de uma nobre família de Roma, casada com Valeriano, converteu seu marido e irmão e o oficial responsável pela sua execução, todos decapitados; Calixto, bispo de Roma, sofreu martírio em 224 d.C., mas não se tem o registro da forma de sua morte; Urbano, bispo de Roma, em 232 d.C.

SEXTA PERSEGUIÇÃO: ANO 235

No ano 235 começou, sob Maximino, uma nova perseguição. O governador da Capadócia, Sereiano, fez tudo o possível para exterminar os cristãos daquela província. Mártires da Sexta Perseguição: Pontiano, bispo de Roma; Anteros, grego; Pamáquio e Quirito, senadores romanos, junto com suas famílias inteiras; Simplício, também senador; Calepódi, Martina, donzela e Hipólito, prelado cristão morto ao ser arrastado por um cavalo. Em 249 d.C., após a morte de Maximino, irrompeu ainda uma cruenta perseguição na região de Alexandria, mas de caráter local e não instigada pelo seu sucessor.

SÉTIMA PERSEGUIÇÃO: ANO 249

A Sétima Perseguição foi implantada pelo imperador Décio no ano 249, em face dos recentes avanços do cristianismo e apesar das inúmeras dissensões presentes. Mártires da Sétima Perseguição: Fabiano, bispo de Roma, decapitado; Juliano, nativo da Cilícia, enfiado num saco de couro, junto com várias serpentes e escorpiões e lançado ao mar. Pedro, ainda jovem, decapitado; Nicômaco; Denisa, decapitada; André e Paulo, dois companheiros de Nicômaco, sofreram o martírio por lapidação; Alexandre e Epímaco, de Alexandria, queimados e outras quatro mulheres, decapitadas; Luciano e Marciano, pagãos convertidos, foram queimados vivos; Trifão e Respício, queimados e decapitados; Ágata, mártir virgem, resistiu aos assédios de Quintiano, governador da Sicilia, e foi morta a mando dele em 5 de fevereiro de 251; Cirilo, bispo de Gortyna, preso e morto por ordens de Lúcio, governador local. Na Ilha de Creta, as execuções foram sumárias e particularmente violentas: Babylas, bispo de Antioquia, decapitado, junto com três dos seus alunos; Alexandre, bispo de Jerusalém; Juliano e Cronião; Maximiano, Marciano, Joanes, Malco, Dionísio, Seraiáon e Constantino, soldados do próprio imperador, confinados numa caverna; Teodora e Dídimo, decapitados; Cornélio, bispo cristão de Roma, e seu sucessor Lúcio, em 253 (já sob o jugo do imperador Gálio, sucessor de Décio).

OITAVA PERSEGUIÇÃO: ANO 257

Esta perseguição começou sob Valeriano, no mês de abril de 257 d.C. e continuou durante três anos e seis meses. Os mártires que caíram nesta penosa perseguição foram inúmeros, e suas torturas e mortes foram variadas e terríveis. penosas. Mártires da Oitava Perseguição: Rufina e Secunda, irmãs e filhas de um iminente cavaleiro em Roma; Estevão, bispo de Roma, decapitado; Saturnino, bispo ortodoxo de Toulouse, trucidado;  Sixto, sucessor de Estevão como bispo de Roma, morto com seis de seus diáconos; Lourenço, que, ao ser inquirido a apresentar os tesouros da Igreja, ofereceu ao imperador uma legião dos pobres de Deus, foi queimado sobre uma grelha de ferro incandescente. Na África, a perseguição rugiu com uma violência inaudita: Cipriano, bispo de Cartago, foi decapitado em 258 d.C; os discípulos de Cipriano, martirizados nesta perseguição, foram Lúcio, Flaviano, Vitórico, Remo, Montano, Juliano, Primelo e Doniciano; em Utica, trezentos cristãos foram lançados num forno de cozimento de cerâmica; Fructuoso, bispo de Tarragona, na Espanha, e seus dois diáconos, Augúrio e Eulógio, foram queimados; Alexandre, Malco e Prisco,cristãos da Palestina e mais uma mulher foram condenados às feras; Máxima, Donatila e Secunda, três moças de Tuburga, foram duramente flageladas e decapitadas. O imperador Valeriano teve um triste fim: morreu esfolado vivo um dos mais tirânicos imperadores de Roma.

NONA PERSEGUIÇÃO: ANO 274

A Nona Perseguição começou sob o jugo do imperador Aureliano em 274, teve um período de paz e recomeçou com Diocleciano em 284. Mártires da Nona Perseguição:  Felix, bispo de Roma, decapitado; Agapito, jovem cavaleiro, também decapitado (sob Aureliano);  Feliciano e  Primo, irmãos; Marco e Marceliano, irmãos gêmeos e naturais de Roma, foram martirizados em estacas com os pés traspassados por pregos e finalmente mortos por lanças; Zoe, a mulher do carcereiro que teve sob seu cuidado os mártires mencionados, convertida por eles, foi martirizada e teve o corpo lançado num rio; o incrível extermínio de toda a chamada Legião Tebana, constituída por seis mil setecentos e seis homens e tendo Mauricio, Cândido e Exupernio como comandantes, a mando do imperador Maximiano, pela recusa de prestar juramento à ordem de extirpação do cristianismo das Gálias (evento ocorrido em 22 de setembro de 
286); Alban, primeiro mártir britânico, decapitado junto ao seu carrasco, subitamente convertido ao cristianismo; Fé, uma mulher cristã da Aquitânia, queimada em grelha e decapitada; Quintino, cristão natural de Roma, brutalmente martirizado nas Gálias.

DÉCIMA PERSEGUIÇÃO: ANO 303

É a chamada Era dos Mártires, ocasionada em parte pelo aumento no número dos cristãos e pelo ódio da esposa e do filho adotivo de Diocleciano contra o povo cristão. A sangrenta perseguição teve início em 23 de fevereiro de 303 (o dia da Terminalia, em que os cristãos deveriam ser dizimados por completo), com a destruição de igrejas, queima de livros religiosos e martírio de qualquer um que professasse a fé cristã. A perseguição foi estendida a todas as províncias romanas, principalmente as do leste, e durou cerca de dez anos, sendo impossível determinar o número de mártires e as várias formas de martírio. Ao final de tanta matança, o martírio consistiu em manter os cristãos vivos, mas aleijados, torturados e padecentes de toda sorte de sofrimentos. Mártires da Décima Perseguição: Sebastião, nascido em Narbona, nas Gálias e depois oficial da guarda do imperador em Roma, foi executado com flechas, recuperou-se e submetido a novo flagelo até a morte, agora por espancamento brutal; Vito, siciliano de uma família de alta linhagem, foi sacrificado pelo próprio pai Hylas; Vitor, oriundo de Marselha, martirizado por esmagamento; Taraco, Probo e Andrônico, mortos a espada a mando de Máximo, governador da Cilícia; Romano, natural da Palestina e diácono da igreja de Cesaréia, foi flagelado brutalmente de várias formas;  Susana, sobrinha de Caio, bispo de Roma, foi decapitada; Dorotéu e Gorgônio, torturados e estrangulados; Pedro, um eunuco que pertencia ao imperador, foi queimado em grelha incandescente; Cipriano e Justina da Antioquia, decapitados; Eulália, espanhola, queimada viva; Vicente, diácono de Tarragona, martirizado sob tormentos terríveis. A perseguição de Diocleciano tornou-se ainda mais diabólica a partir do ano 304: Saturnino, um sacerdote de Albitina, cidade da África, foi deixado morrer de fome, a exemplo dos seus quatro filhos; Dativas, um nobre senador romano; Telico, um piedoso cristão; Vitória, jovem dama de uma família nobre; Ágape, Quiônia e Irene, irmãs queimadas, quando a perseguição de Diocleciano chegou à Grécia; Agato,  Cassice, Felipa e Eutíquia; Marcelino, bispo de Roma; Vitório, Caorpoforo, Severo e Seveano, irmãos, açoitados até a morte; Timóteo, diácono de Mauritânia, e sua mulher Maura, crucificados; Sabino, bispo de Assis. 

Com a ascensão ao poder de Galério, filho adotivo de Diocleciano, as perseguições aumentaram ainda mais no Império Romano do Oriente, produzindo muitos mártires: Anfiano, discípulo de Eusébio; Julita, mulher licaônia de régia linhagem, foi flagelada bestialmente, vendo a morte do próprio filho diante dela; Hermolaos e Pantaleão; Eustrátio, secretário do governador de Armina, foi lançado num forno de fogo; Nicander e Marciano, dois destacados oficiais militares romanos, decapitados; no reino de Nápoles, foram flagelados Januaries, bispo de Beneventum; Sósio, diácono de Misene; Próculo, que também era diácono; Eutico e Acutio, Festo, diácono, e Desidério, todos decapitados; Quirínio, bispo de Siscia, afogado; Pânfilo, natural de Fenícia; Marcelo, bispo de Roma; Pedro, décimo sexto bispo de Alexandria, foi martirizado em 25 de novembro de 311; Inês, de apenas treze anos, decapitada; São Jorge, o santo patrono da Inglaterra e nascido na Capadócia, torturado e decapitado. As grandes perseguições romanas chegavam ao seu final (em 313 d.C.), com a futura ascensão de Constantino.

Compilação resumida da obra: 'O Livro dos Mártires', de John Fox, escrito originalmente no século XVI (muitos nomes no texto estão grafados erroneamente na tradução brasileira disponível)

 Santo Estêvão, primeiro mártir* da Santa Igreja, rogai por nós!
                                                                                                                                            * morte por apedrejamento

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

FELIZ E SANTO NATAL EM CRISTO!



Desejo a todos os nossos amigos visitantes um Santo e Feliz Natal. 
Deseo a todos los amigos y visitantes Felices Navidades. 
I wish to our friends' visitors an happy and Holy Christmas. 
Je désire à tous nos amis un heureux et joyeux Noel. 
Auguro a tutti gli amici uno Santo ed Felice Natale. 
Ich wunshe to unsere Freude eine Wundabar und Stille Nacht.


IGREJA CATÓLICA: ALMA DO NATAL

(clicar para o vídeo)

AS MAIS BELAS CANÇÕES DE NATAL


(clicar para o vídeo)

Jesus nasceu! e na pequena estrebaria
José apressa-se em fazer a manjedoura
ajunta palha e feno, mudo de alegria,
enquanto a Mãe em êxtase se entesoura

Os animais se aproximam cautelosos
inebriados diante a luz que transfigura
e os pastores de joelhos, jubilosos,
louvam o Criador agora criatura!

Há uma paz imensa nesta noite fria
todos os anjos cantam a doce melodia
que une céu e terra em amor profundo;

É Natal, a Mãe embala seu pequeno filho
e a luz que inunda a gruta tem o brilho
da salvação que libertou o mundo!

                                                                              (Arcos de Pilares)

domingo, 23 de dezembro de 2012

JESUS, ENTRA NA MINHA CASA!

No Quarto Domingo do Advento, o Jesus Esperado chega, através de Maria, à casa de Zacarias e Isabel. Santa e desmedida alegria, que faz João Batista estremecer de júbilo no ventre de sua mãe. Santa e ditosa alegria que faz Isabel inundar-se do Espírito Santo. Santa e materna alegria de Maria em manifestar ao mundo o bendito fruto do seu ventre. Eis Maria na casa de Isabel, testemunhas privilegiadas da revelação do maior dos mistérios divinos: Jesus, o filho de Deus vivo, no meio dos homens!

(A visitação de Domenico Ghirlandaio: 1449 - 1491)

Eis Maria, o portento da fé humana, obra prima da graça do Pai, tangida por um único pensamento: cumprir, com fidelidade absoluta, a vontade de Deus: feita escrava, serva do senhor, é a 'bem aventurada que acreditou' (Lc 1,45) e que, por isso, verá cumprir-se tudo 'o que o Senhor lhe prometeu' (Lc 1,45). Maria leva Jesus à casa de Isabel e revela aos dois anciãos a chegada do Salvador ao mundo; Maria acolhe Jesus em sacrário de tão pura humanidade que faz João Batista estremecer de alegria; na casa de Zacarias e Isabel, toda a humanidade que anseia por Deus, acolhe Jesus como Salvador com santa e ditosa alegria.  

Maria vai apressadamente ao encontro de Isabel, sob o impulso da graça, para cumprir a vontade de Deus, como serva para  ajudar a gravidez avançada da parenta mais velha, como mensageira da esperança cristã, como mãe do Salvador e Redentor da humanidade, para cumprir a sua missão expressa no 'sim' da Anunciação. E é recebida com virtude filial, com alegria extrema, com devoção incontida, com zelo admirável por Isabel, pré-anunciadora dos corações incendidos da graça do Deus que está prestes a chegar ao mundo. Jesus em Maria é o Jesus que vem, para libertar o mundo do pecado, para fazer novas todas as coisas, para a salvação de todos que abrem as portas e janelas de suas casas ao Cristo que chega, que transformam seus corações em humildes manjedouras onde Ele possa renascer.

Como na casa de Zacarias e Isabel, que Jesus possa entrar, com Maria, na minha e na sua casa, neste Santo Natal!

sábado, 22 de dezembro de 2012

SÍMBOLOS DO NATAL CRISTÃO



PRESÉPIO

O presépio, como símbolo máximo do natal católico, deve ser simples, sem adereços e enfeites sofisticados; pelo contrário, a montagem deve ser a mais despojada possível, de forma a lembrar a grande simplicidade e as dificuldades materiais enfrentadas pela Virgem Maria e São José no nascimento de Jesus. A montagem deve incluir os personagens básicos convencionais (gruta, animais, pastores, etc), mas as imagens da Virgem Maria, São José e do Menino Jesus somente devem ser inseridos no presépio na época mais próxima à Noite de Natal.

ÁRVORE DE NATAL

A árvore de Natal representa o símbolo da perseverança e da preparação cristã diante o nascimento do Menino Deus. Perseverança porque é réplica do pinheiro, única árvore que não perde as folhas no inverno e preparação porque deve ser adornada aos poucos, de forma continuada, durante todo o tempo do Advento. Assim, numa primeira etapa, o símbolo deve ficar limitado à própria árvore, sem quaisquer adereços, como expressão da perseverança cristã. Posteriormente (por exemplo, a partir de 17 de dezembro), a árvore deve ir ganhando luzes, cores, enfeites, beleza, para nos recordar a necessidade de uma preparação crescente de cada um diante o Natal em Cristo.

COROA DO ADVENTO 

A coroa do Advento, comumente afixada na porta de entrada das residências, possui forma circular e deve ser feita com ramos verdes. Simboliza a unidade e a perfeição; nasce Jesus, filho do Deus vivo, Deus sem começo e sem fim, na unidade de um tempo firmado pelos homens. Em cada Domingo do Advento, acende-se uma vela  em vigília pelo Natal, que vão sendo somadas nos domingos seguintes, até quatro velas acesas; eis a luz que se difunde e aumenta de intensidade gradualmente no tempo de preparação para o Natal.

Todos estes símbolos são mantidos após o Natal, para celebrar que a mensagem de Cristo avança para além dos tempos dos homens de outrora até o tempo dos homens finais. Na Data de Reis, 06 de janeiro, são, então, desmontados, dando início ao Tempo Comum da Igreja de Deus.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O HOMEM DO PECADO

EXCERTO DA OBRA: O DRAMA DO FIM DOS TEMPOS
                                                                                                (R.P. Emmanuel, Prior do Mosteiro de Mesnil-Saint-Loup)

TERCEIRO ARTIGO: O HOMEM DO PECADO

I
            
Está entre as coisas possíveis, se bem que a apostasia já esteja muito avançada, que os cristãos, por um esforço generoso, façam recuar os promotores da descristianização, e propiciem assim, para a Igreja, dias de consolação e de paz antes da grande provação. Este resultado nós o esperamos, não dos homens, mas de Deus, não tanto dos esforços, mas das orações.

Nesta ordem de idéias, alguns autores piedosos esperam, depois da crise presente, um triunfo da Igreja, qualquer coisa como um dia de Ramos, no qual esta Mãe seria aclamada pelos gritos de amor dos filhos de Jacob, reunidos às nações, na unidade de uma mesma fé. Nós nos associamos com prazer a essas esperanças, que visam um fato formalmente anunciado pelos profetas, e do qual falaremos a seu tempo.

É da tradição dos primeiros tempos da Igreja, consignada em Lactancio, que um dia o império do mundo voltaria à Ásia: Imperium in Asium revertetur. Qualquer que seja esse triunfo, se Deus no-lo conceder, não será de longa duração. Os inimigos da Igreja, atordoados por um momento, retomarão sua obra satânica com redobrado ódio. Pode-se imaginar o estado da Igreja, então, como semelhante ao estado de Nosso Senhor nos dias que precederam sua Paixão.

O mundo será profundamente agitado, como estava o povo judeu reunido para as festas pascais. Haverá imensos rumores, cada um falando da Igreja, uns para dizer que ela é divina, outros que ela não o é. Ela será o alvo dos ataques mais insidiosos do livre pensamento; mas nunca terá reduzido tão bem ao silêncio seus contraditores, pulverizando seus sofismas. Em resumo, o mundo será posto face à verdade; será atingido em pleno rosto pelo esplendor divino da Igreja; mas ele voltará as costas, e dirá: 'Não a quero!'.

Esse desprezo da verdade, esse abuso de graças será a introdução do homem do pecado. A humanidade estará querendo esse mestre imundo: ela o terá. E por ele se produzirá uma sedução de iniquidade, uma eficácia do erro (é assim que Bossuet traduz São Paulo) que punirá os homens por terem rejeitado e odiado a Verdade.

Falando assim, não estamos fabricando imaginações, seguimos o Apóstolo. Segundo ele, com efeito, toda sedução de iniquidade agirá 'sobre aqueles que perecem, como não tendo recebido o amor da Verdade que os teria salvo. Por essa razão, Deus lhes enviará a eficácia do erro, a fim de que creiam na mentira; e assim serão julgados aqueles que não creram na verdade, mas se comprazeram na iniquidade' (Tess., II, 11. 12).

II

Quando o homem do pecado aparecer será pois, como diz São Paulo, a seu tempo; quer dizer, no momento em que o corpo dos maus, fechado aos golpes da graça, tornado compacto e intratável pela obstinação de sua malícia, estiver pedindo uma cabeça como essa. Ele surgirá, e Satã fará explodir nela toda a extensão de seu ódio contra Deus e os homens.

O homem do pecado, o Anticristo, será um homem, um simples viajante para a eternidade. Alguns autores supuseram nele a encarnação do demônio; essa imaginação é sem fundamento. O diabo não tem o poder de tomar e se unir a uma natureza humana, de macaquear o adorável mistério da Encarnação do Verbo.

Os Padres pensam unanimemente que ele será judeu de origem. Acrescentam mesmo que será da tribo de Dan, fundando-se em que essa tribo não é nomeada no Apocalipse como fornecendo eleitos ao Senhor. Santo Agostinho faz eco a essa tradição em seu livro 'Questões sobre Josué'. Ela se torna bastante verossímil pelo fato de que a franco-maçonaria é de origem judaica; que os judeus dirigem-na espalhados pelo mundo inteiro; o que deixa crer que o chefe do império anticristão será um judeu. Os judeus, aliás, que não querem reconhecer Jesus Cristo, esperam sempre seu Messias. Nosso Senhor lhes dizia: 'Eu vim em nome de meu Pai, e vós não me recebestes: se outro vier em seu próprio nome, vós o recebereis' (Jo 5, 43). Por esse outro os Padres entendem comumente o Anticristo.

Apesar do Anticristo ser chamado o homem do pecado, o filho da perdição, não se deve pensar que ele será votado fatalmente e irremissivelmente ao mal. Ele receberá graças, conhecerá a verdade, terá um anjo da guarda. Terá os meios de alcançar a salvação, e se perderá por sua própria culpa.

No entanto, São João Damasceno não hesita em dizer que ele será impuro desde seu nascimento, todo impregnado do hálito de Satã. E é de crer que desde a idade da razão ele entrará em relação tão constante e tão estreita com o espírito das trevas, se voltará para o mal com tal teimosia que não deixará penetrar em sua alma nenhuma luz sobrenatural, nenhuma graça do alto. Ele ficará imutavelmente rebelde a todo bem. É isto que lhe valerá o nome de homem do pecado. Ele levará a seu máximo, fazendo de toda sua vida um só ato de revolta contra Deus; por essa constante aplicação do mal, atingirá um requinte de impiedade que nenhum homem nunca alcançou.

A qualificação de filho da perdição que lhe é comum com Judas, quer dizer que sua perda eterna está prevista por Deus, querida por Deus, em punição por sua terrível malícia, a ponto dela estar inscrita nas Escrituras e como que registrada de antemão. É provável, e isto é o que pensa São Gregório — que o monstro conhecerá, a uma luz que sai das profundezas do inferno, a sorte que o espera, que renunciará a toda esperança para odiar a Deus mais à vontade, que se fixará desde esta vida na irremediável obstinação dos danados. E assim ele realizará o terrível nome de filho da perdição.

Desta maneira ele será verdadeiramente o Anticristo, a saber, o antípoda de Nosso Senhor. Jesus Cristo estava elevado acima do alcance do pecado; o Anticristo se porá fora do alcance da graça, por um abandono de todo seu ser ao espírito do mal. Jesus Cristo se volta para seu Pai com todo o impulso de uma natureza divinizada e preservada das más influências; o Anticristo se voltará para o mal com todo o impulso de uma natureza profundamente viciada e que renunciará mesmo à esperança.

III

Estando assim diametralmente oposto a Nosso Senhor, ele fará obras em oposição direta às suas. Ele será para Satã um órgão de escol, um instrumento de predileção. Assim como Deus, enviando seu Filho ao mundo, o revestiu do poder de fazer milagres, e mesmo de dar a vida aos mortos, assim também Satã fazendo um pacto com o homem do pecado, lhe comunicará o poder de fazer falsos milagres. 

Por isto São Paulo diz que 'sua vinda é obra de Satanás com o desdobramento de poder, de sinais e de prodígios mentirosos'. Nosso Senhor só fez milagres de bondade, recusou fazer prodígios de pura ostentação; o Anticristo se comprazerá em fazê-los, e os povos, por um justo julgamento de Deus, se deixarão prender por suas artimanhas.

Está claro, pelo que precede, que o Anticristo se apresentará ao mundo como o tipo completo desses falsos profetas que fanatizam as massas, e que as arrastam a todos os excessos, sob o pretexto de uma reforma religiosa. Sob este ponto de vista, Maomé parece ser seu verdadeiro precursor. Mas ele o ultrapassará de imediato em perversidade, em habilidade, como também pela plenitude de seu poder satânico.
                                                       (texto escrito em maio de 1885; Ed. Permanência, 2004)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

HISTÓRIAS QUE OUVI CONTAR (V)

Era uma velha aldeia, perdida nos contrafortes mais ermos dos Urais, na porção mais remota do Ártico. Naquela região perdida do mundo dos homens, viviam pouco mais de duas centenas de homens, mulheres e crianças bem pouco comuns, forjados, desde os primeiros anos da juventude, para o duro trabalho de uma lida diária que consistia basicamente em sobreviver. Sob as duras condições climáticas, frio polar, ventos enregelantes, nevascas e rochedos congelados, o instinto humano preservava ainda aqueles remanescentes de gerações de desbravadores, que dominavam tenazmente a natureza bruta, a vida insana.  

Na velha aldeia, a fé movia montanhas e cordilheiras sem fim. Na gruta de Komovo, aquela gente se reunia e rezava para a Santa Virgem de Kazan, e agradecia mais um dia que se ia, mergulhando na noite que passava como uma sombra passageira, ainda assim vestida dos reflexos translúcidos das neves eternas dos Urais. Aqueles corpos duros, enrijecidos de frio e pela natureza bruta, batiam os joelhos no chão congelado, e as vozes, em unidade harmônica, ecoavam pelos desvãos da pedra nua. Era assim e tinha sido assim, desde que o mundo era mundo, e isso significava que o mundo tinha o tempo e as dimensões da velha aldeia.

Zanev desafiou o mundo dos homens e as tradições milenares da velha aldeia. Ele não acreditava, ele não tinha simplesmente fé alguma em Deus e nem na intercessão da Virgem de Kazan. Era muito mais fácil acreditar que era possível a cada homem definir seus próprios limites, forjar horizontes, escalar montanhas, redefinir as dimensões do mundo. Zanev decidiu partir e, como nunca tinha a melhor hora, decidiu que o melhor era agora. Na aldeia de Zanev, a singularidade da vida humana era preservada como desígnio divino. Mesmo analisada como mera insensatez ou desvairada loucura, era dado a Zanev cumprir a sua parte no grande plano de Deus na história humana. Partir era um destino então, e não houve impedimentos, recomendações, ansiedades, lamentos, condenação alguma. A mãe, apenas a mãe, lhe dissera algo além das despedidas austeras:

'Volte, meu filho, se essa for a vontade de Deus e da Virgem de Kazan'

A resposta de Zanev nada teve além da rigidez dos homens duros:

'Voltarei, minha mãe, voltarei se encontrar, em algum lugar dos Urais embrutecidos, uma rosa vermelha para louvar a Virgem de Kazan'.

E Zanev partiu, atravessando montanhas e vales congelados por semanas, sucumbido diante de nevascas e ventanias muito mais brutais do que na velha aldeia, dormindo em cavernas, alimentando-se de carne congelada, bebendo água do degelo das neves generosas. E compreendeu o desvario de sua jornada, a inutilidade de suas decisões, a pequenez de sua alma, a morte certa. Sabia naturalmente o trajeto feito, seguindo as cumeadas e vales das montanhas mais baixas, e sabia ser possível um retorno ainda. Mas voltar e encarar toda uma aldeia, e ser um eterno aprendiz da insensatez humana? A insensatez de Zanev era a de um mestre de ofício e ele decidiu ir em frente: a mãe estava errada, não haveria a volta do filho pródigo à velha aldeia porque esta era a vontade de Zanev e não a vontade de Deus.

E assim fez. E a cordilheira se aprumou de forma repentina e a neve tornou-se ainda mais espessa e brutal nos píncaros gelados. Cada passo era uma conquista árdua e tenebrosa. Zanev buscou em vão uma caverna, um entalhe negro na alvura descomunal, um arremedo de abrigo. Nada, ele estava isolado no vazio do seu próprio mundo. Algo dentro dele, no mais remoto do seu íntimo, sussurou para não dar o passo seguinte. Algo o moveu a recuar e modificar o último trajeto, a descer com cuidado o talude íngreme, perigosamente escorregadio, e buscar um atalho lateral. Algo o fez mudar o curso, a refazer a trilha original. Algo o fez quebrar a rigidez da insensatez humana em vez de esmagar sem tédio neves indormidas.

Zanev tropeçou e caiu, deslizando pelo flanco de pequena encosta, espargindo neve, braços e pernas em tumulto. Sentiu o baque das costas em alguma coisa amortecendo o impacto. Levantou-se arquejante, limpando a neve do rosto e das grossas vestimentas. Viu o rastro sinuoso da sua patinação forçada no gelo fofo da encosta e virou-se para ver onde batera as costas.

Havia um pequeno corte vertical na rocha, delimitando uma placa de gelo, de forma estranhamente geométrica. Limpou o gelo de cobertura e descobriu, com inegável espanto, uma placa metálica quadrada, de cerca de 40cm de lado, encravada verticalmente em contato com o corte rochoso. Puxou-a com facilidade da neve e notou a superfície esmerilhada do metal. Virou a placa e se deixou cair de joelhos, em mudo espanto. Diante dele, na outra face da placa, agora em metal polido, viu o desenho de singular beleza de uma rosa em vermelho. No mais perdido dos Urais, a Virgem de Kazan o encontrara. Zanev compreendeu que voltar seria a mais bela de todas as primaveras assim que começou a longa caminhada à sua velha aldeia.

DA VIDA ESPIRITUAL (37)



Se somos todos passageiros desta imensa barca chamada Vida, que diferença viver como meras criaturas humanas ou como filhos de Deus! Como criaturas humanas, nos debatemos em pânico cada vez que somos lançados às águas; como filhos de Deus, louvamos ao Pai cada vez que voltamos à segurança do barco!