sábado, 27 de outubro de 2012

HISTÓRIAS QUE OUVI CONTAR... (III)

Nina conferiu mais uma vez, pela décima vez, a bagagem: as duas mochilas, a bolsa com os sapatos (estava levando a sandália que comprara no shopping no dia anterior), a bolsa de mão. Estava tudo ali, nos moldes da moça sempre tão cuidadosa, meticulosa, detalhista. Não tinha sido assim uma vida inteira? Sempre zelosa de suas coisas, sempre cheia de planos. Que festa não tinha sido para a sua família ter passado em Direito... Quanta coisa já estava engatilhada para se fazer nos próximos anos, quantas viagens... e o Beto bem podia fazer parte desse futuro tão risonho... Nina sorriu e se deixou levar pelos pensamentos soltos: ele era o cara, ela já sabia, ele ainda não, mas a coisa já estava indo como devia ser. Detalhista como era, já antecipava os fatos e previa os tempos. 

De repente, sentiu um ligeiro incômodo, um roçar de pensamento menos fluido: naquela manhã, a mãe perguntara outra vez pela missa de domingo. 'Tá bom. Quer dizer que eu estou indo com minha turma passar o feriado prolongado no sítio e tenho lá tempo de me preocupar com a missa de domingo?' Sempre gostara da mãe ser tão religiosa, tão devota, estas coisas. Mas, agora, aquilo parecia ter ficado um pouco fora de moda, meio sem sentido. E as mentiras tinham começado exatamente assim: as missas que não frequentava mais eram apenas o pano de fundo para muitas outras coisas que a afastaram de uma religiosidade plena. Ela era, digamos, uma 'católica não praticante', mas Deus continuava sendo Deus, sem dúvida. 'Mas o que tem a ver Deus com o meu feriado, meu Deus?' Nina afastou rapidamente o pensamento solto e retomou o exame minucioso da sua bolsa de mão: estava tudo ali mesmo?

Mal acabara de retomar o que já estava feito, quando a mãe a chamou: 'Nina, eles chegaram!'. 'Eles', para ela, era Beto. Correu para o espelho, deu a última ajeitada na blusa ('Precisava o feriado ter começado com aquele tempinho frio e fechado? Ainda bem que a previsão era de sol direto no fim de semana') e sorriu. Ela era bonita e isso era muito bom. 'Beto'. Agarrou as mochilas e as bolsas, deu um "tchau, mãe" e "dá um beijão no papai por mim" e saiu correndo de casa. Sentiu de imediato a garoa fininha nas faces.

E lá estava a turma dela, os colegas da escola: Juliano, Mirella, Téo e Beto. Beto levantou-se rapidamente do banco do carona e a ajudou a colocar a bagagem no porta-malas. 'Não cabe as minhas coisas, gente, o porta-malas tá lotado!' Beto retirou uma mochila preta de lá e arrumou as coisas de Nina. 'Pronto, resolvido, a minha mochila eu levo comigo no banco'. 'Vamos logo!' 'Calma, que ainda não entrei!'. E, entre risos e brincadeiras, Nina se acomodou no banco de trás, ao lado de Mirella, que também trazia uma bolsa ou algo assim, junto aos pés. O carro parecia uma lata de sardinha. Um sufoco. 'Vamos logo!'

Juliano, ao volante, começou a fazer a manobra de ré, quando a mãe de Nina chegou carregando a sacola de plástico. Carro parado, Nina não teve nem como perguntar qualquer coisa e a mãe entregou de bandeja à galera o mico do ano. 'Ovos'. Ovos? Ovos. Ninguém riu, ninguém falou nada, mas que mico! Nina pegou a sacola meio sem graça e, doida para sair da situação constrangedora, falou um 'tchau, mãe!' que soou meio ríspido. 'Vamos logo!' Juliano completou a manobra e despediram-se da mãe de Nina. 'Vão com Deus!'.

Téo foi o primeiro a não perder a piada pronta, o carro já tomando a rua em frente. 'Deus não, que aqui não cabe mais ninguém!' As gargalhadas foram gerais. 'Só se for no porta-malas!', Juliano emendou de primeira. Nina sentiu o mesmo incômodo de há pouco. Num relance, lhe veio à mente as palavras cristalinas sempre ouvidas da mãe: 'Com Deus não se brinca! Com Deus não se brinca!'. Mais uma vez, afastou rapidamente o pensamento bobo. 'Gente, eu queria colocar essa sacola lá atrás'. Nina não falou em ovos. Juliano encostou o carro e Beto colocou a sacola no porta-malas. 'Desculpa, gente, minha mãe é dose!'. Mirella não deixou por menos para deixar tudo na boa: 'Calma, Nina, seus ovos estão bem protegidos ali no porta-malas! Eles e Deus estão juntinhos assim', brincou com uma risada farta e juntando os dedos para enfatizar a piada. Risos gerais. O feriado prolongado ia ser uma festa.

Não foi. A pista molhada, o carro desgovernado, o impacto brutal contra uma árvore ao longo de um declive acentuado. O carro destruído, cinco corpos mutilados, cinco vidas perdidas em plena juventude. O sargento Antunes sabia bem o que era aquilo, o que devia fazer, as providências a tomar, o comunicado às famílias, a dor sem tamanho, a tragédia espantosa. Um pouco à frente, ele via o cabo Maciel examinando as bagagens retorcidas do porta-malas, única parte do carro ainda passível de identificação óbvia. E viu quando ele tirou uma sacola de plástico do porta-malas e a examinou com interesse. Virando-se em sua direção, falou qualquer coisa que de pronto não entendeu. O soldado, aproximando-se, mostrou ao sargento uma sacola de ovos, seis ovos, inacreditavelmente intactos, naquele monte de ferros retorcidos. 'Como isso foi possível? Deus, por acaso, gosta de brincar com ovos?'

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

DA VIDA ESPIRITUAL (31)

Olhe esta face flagelada, martirizada, cuspida, lacerada, sanguinolenta, irreconhecível... Esta face que te parece não humana iluminou toda a humanidade. Olhe as costas e o dorso deste homem vergado sob o peso do madeiro: coberta de chagas, sulcada em carne viva, rasgada em pedaços... Estes ombros suportaram o peso da cruz de todos os pecados. Olhe as mãos e os pés do crucificado: transpassados, imobilizados, pregados na cruz como um ladrão qualquer... Estas mãos nos legaram rios de bênçãos e graças e os pés tornaram em caminhos para o céu todas as estradas.  Olhe a chaga aberta no coração do condenado: dela brotaram sangue e água, frutos da divina misericórdia, para a salvação de todos os homens.  Olhe a face, as costas, as mãos, os pés e a chaga aberta no peito deste Homem, condenado, flagelado e crucificado pelos homens. Pela Sua paixão e morte, Cristo nos mostrou onde o nosso olhar encontra o Olhar de Deus: tome, pois, a tua cruz e siga em frente, sem olhar para a tua imensa fragilidade e a imensa fragilidade dos teus irmãos...  

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O NÚMERO DOS QUE SE SALVAM (III)

Deus abomina o pecado e a única coisa que Deus realmente não pode fazer é amar uma alma em pecado. Homem algum é capaz de sequer imaginar o quão tenebroso é a Deus o nosso menor pecado venial. Um pecado mortal é o suicídio da alma, a tormenta das tormentas. O que seria, então, uma vida em pecado? Mas, ainda assim, se os homens abandonam a Deus por quaisquer prazeres mesquinhos, Deus não abandona uma alma nunca e a persegue em Sua misericórdia por todos os atalhos do mal, pelas sendas da impiedade, até os confins do próprio abismo; envolvendo-a numa torrente de graças, concede-lhe não uma ou duas ou três, mas centenas de oportunidades para trazê-la de volta, no caminho da salvação eterna. 

E quantas outras devoções não são capazes de nos fazer passar correndo pela porta estreita? A devoção ao Sagrado Coração de Jesus, que inclui a promessa definitiva: 'A todos os que comungarem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna'. Ainda não é suficiente? Deus nos deu Maria e, por Maria, a Devoção dos Cinco Primeiros Sábados: ‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’ E temos a Santa Missa, e temos o Rosário, e temos o sacramento da confissão e temos as indulgências...

Mas os homens não têm tempo para buscar as graças de Deus, tão envolvidos estão nos seus planos pessoais. E, na grande maioria das vezes, a obstinação e o amor ao pecado prevalecem e nunca se tem a volta. E no momento decisivo de prestar contas ao Pai, o que poderão dizer às perguntas: 'o que você fez das minhas missas, do meu Rosário, das minhas devoções, dos meus sacramentos, das minhas graças, da minha misericórdia? ' No Juízo Particular, estas perguntas não são feitas a Deus, mas é a própria alma que se interroga como juiz de si mesma. E responde. E decide. E toma a porta do caminho que se escolheu. Da grande maioria ou da grande minoria, para todo o sempre, seja gloriosamente entre as 'estrelas do céu', seja de forma tenebrosa entre as 'areias do mar'. 

O NÚMERO DOS QUE SE SALVAM (II)

Conforme a posição unânime dos Padres da Igreja, o número de almas (e o número de adultos católicos) que se salva, é larga minoria. Mas não precisaríamos dos Padres da Igreja para obter tal constatação. Jesus, em várias passagens, foi cristalino em relação aos eleitos de Deus: 'esforce-se pra entrar pela porta estreita...'; 'muitos são chamados, poucos são os escolhidos'; 'é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus'. Se o rico aqui é aquele que se entregou de corpo e alma às coisas do mundo (podendo tê-las alcançado ao máximo ou ao mínimo, indistintamente), as palavras de Jesus não contêm metáforas. O Céu não é ali; e são poucos os que se salvam. Entretanto, esta 'larga minoria' ou este 'pequeno resto' não significa que os eleitos de Deus sejam poucos. Não, são muitíssimos de muitos, tantos quantas são as 'estrelas do céu', embora os condenados sejam tantos 'como a areia do mar'.

Deus que que todos os homens se salvem e provê, na sua sabedoria e amor infinitos, os meios de salvação para todos (e quantos lamentarão no Juízo Particular não terem percebido ou aplicado a miríade de graças recebidas!). Deus chama, Deus atrai, Deus busca a ovelha desgarrada até as portas do abismo, Deus concede o sofrimento ou a doença como meio de reparação, Deus mostra de forma cristalina às almas a loucura que seria um mundo sem Deus, Deus ama, ama, ama infinitamente cada alma e a busca, por todos os meios, ao caminho do Céu. Mas o Sim a Deus implica o Não ao mundo: às glórias mundanas, à fama terrível, à riqueza sem duro trabalho, ao lazer sem fim, à impureza, ao orgulho e às vaidades do nada, o amor ao pecado. Deveis temer o pecado mais do que a todos os demônios do inferno: é o pecado mortal que isola a sua alma de Deus e a deixa à mercê de todos os demônios.  

Deus há de nos julgar com justiça e misericórdia e, embora sejam atributos iguais, o próprio Jesus manifestou a Santa Faustina Kowalska o valor incomensurável da Devoção à Misericórdia de Deus para a salvação das almas: 'Antes de vir como justo juiz, abro de par em par as portas da Minha misericórdia. Quem não quiser passar pela porta de misericórdia, terá que passar pela porta da Minha justiça..." (Diário, n. 1146). Na porta da Justiça, há certamente de prevalecer as posições dos Santos Padres da Igreja; na porta da Misericórdia, Deus é Bondade Pura: "Coloquem a esperança na Minha misericórdia os maiores pecadores. Eles têm mais direito do que outros à confiança no abismo da Minha misericórdia. Minha filha, escreve sobre a minha misericórdia para as almas atribuladas. Causam-Me prazer as almas que recorrem à Minha misericórdia. A estas almas concedo graças que excedem os seus pedidos. Não posso castigar, mesmo o maior dos pecadores, se ele recorre à Minha compaixão, mas justifico-o na Minha insondável e inescrutável misericórdia" (Diário, n. 1146).

O caminho da salvação passa, repassa, cruza, se atalha, pela devoção à misericórdia de Deus. Tome-a como premissa de vida espiritual, como referência de vida cristã, como escada para o Céu. Viva profundamente a graça de não cometer um pecado mortal (ninguém comete um pecado mortal sem querer pecar expressamente; esta verdade teológica implica, portanto, que só vai ao inferno quem quer e também que só se salva quem quer se salvar), de não se deixar levar pelas coisas do mundo. Nessa condição, a sua oração, no escondimento e no anonimato, tornar-se-á um tesouro para a salvação de sua alma e daqueles que você ama de modo particular. Na verdadeira devoção à misericórdia de Deus, não há minoria, nem um a menos, todos serão salvos: Não posso castigar, mesmo o maior dos pecadores, se ele recorre à Minha compaixão, mas justifico-o na Minha insondável e inescrutável misericórdia". Todos serão salvos. E aí não importa o número final dos que se salvam: o que realmente importa é estarmos entre os que se salvam, entre os eleitos para a glória eterna de Deus.

O NÚMERO DOS QUE SE SALVAM (I)

Na história da civilização cristã, homens de todas as épocas se debruçaram sobre a grande questão do fim último da alma, da salvação ou perdição eternas, da manifestação derradeira da justiça ou da misericórdia de Deus. E, sob argumentos de naturezas diversas, impôs-se a questão de fundo: é maior ou menor o número das almas que se salvam? Num contraponto equivocado, a questão assume outra forma: é a justiça ou é a misericórdia de Deus que prevalece no julgamento final?

A resposta à questão de fundo é simples e fácil, diante de inúmeras intervenções dos Grandes Padres da Igreja, como São Gregório, São Crisóstomo, São Vicente Ferrer, Santo Anselmo, São Jerônimo, São Tomás de Aquino e São Leonardo de Porto Maurício, que são absolutamente contundentes: o número de almas que se salvam é muitíssimo menor. São Tomás, o Doutor Angélico, por exemplo, depois de pesar todas as razões pró e contra a salvação das almas, foi taxativo em sua conclusão: "Porque a bem-aventurança eterna supera o estado natural, especialmente desde que tenha sido privado da graça original, é pequeno o número dos que são salvos." Esta informação lhe assusta, caro leitor? Pois há mais: é juízo comum entre eles que o número de almas dos adultos católicos que se salvam é muito menor dos que as que se condenam. E alguns deles vão além, ao afirmar que o número de padres que se salvam também é menor. Embora sejam cristalinas nas obras e assertivas dos Grandes Padres da Igreja, tais palavras não são apenas assustadoras, são assombrosas! Então, quem poderá se salvar?

Em primeiro lugar, é imprescindível considerar as palavras das Sagradas Escrituras: 'o que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram, e o coração do homem não percebeu, isso Deus preparou para os que O amam' (Co1, 2,9). A glória de Deus é algo que extrapola infinitamente a condição humana e exige, portanto, para ser alcançada pela eternidade, de algo superior, um amor pleno ao Pai, banhado na confiança e na perseverança, livre de malícias e tibieza. A salvação eterna não é fácil e, muito menos, a consequência simples e direta de uma vida morna e indolente. 

Mas, por que isso nos parece tão despropositado e assustador? A principal razão, infelizmente, é que a grande maioria dos católicos advoga uma crença totalmente estranha à Tradição da Igreja: um catolicismo genérico, feito de momentos específicos e de devoções pessoais, pessoas que crêem apenas naquilo que lhes interessam, que praticam uma religiosidade fracionada, que não se chocam diante de condutas imorais, blasfêmias e aberrações litúrgicas, que se acostumaram à lama do mundo como coisa natural. Estes maus católicos, por terem sido os maiores predestinados às moradas eternas, pervertem e denigrem com maior força, as graças de Deus, disseminando as más confissões, as comunhões sacrílegas, as missas profanas. E, sistematicamente, quanto mais estão impregnados deste espírito mundano, mais se apegam à misericórdia de Deus como instrumento de salvação para todos. Assim, para estes crentes de suas próprias crenças, o 'Silva' está 'em bom lugar', 'foi descansar', etc porque era gente boa, amigo de toda hora, ajudou muita gente. Definitivamente, 'Silva' não se salvou pelo que aparentou ser. E, se ele não viveu profundamente o amor de Deus em si em sua vida terrena, 'o bom Silva' estará no inferno por toda a eternidade. Palavras duras, leitor? Na Arca de Noé, foram salvas apenas 8 pessoas da humanidade à época. Santo Agostinho expressa a sua angústia diante dessa realidade, após identificar a Arca na figura da Igreja: "o fato de apenas oito pessoas se salvarem na Arca significa que muito poucos cristãos são salvos, porque são muitos poucos os que realmente renunciam ao mundo". 

Se somente o pecado mortal pode nos separar irremediavelmente de Deus, como é possível que poucos se salvem?  Se Deus nos legou com a confissão a certeza de nos livrarmos do castigo eterno, por que somente se salva este pequeno resto? A resposta, mais uma vez, está na visão distorcida da fé católica: em não se tendo a consciência clara do pecado, avilta-se no pecado sem remorso, sem arrependimento, sem mortificação, sem dor interior. Neste cenário, o livre arbítrio não exige quaisquer confissões ou penitências,  porque, como o 'bom Silva', todos são bons, à sua maneira e do seu jeito. A perda eterna da alma não decorre, daí, da justiça ou da misericórdia de Deus, porque ambos estes atributos de Deus não podem ser separados ou serem excludentes. O inferno constitui irremediavelmente o destino final da grande maioria das almas simplesmente porque estas almas escolheram, por livre arbítrio e desde sempre, viver e trilhar os caminhos do inferno. 

domingo, 21 de outubro de 2012

VÍDEOS CATÓLICOS

(Do site VORTEX de Michael Voris, com legendas em português)

Veja também: A FÉ EXPLICADA (V) - Justiça e Misericórdia de Deus

LIVRO DOS SALMOS (PARTE II)


CARTA SOBRE A INTERPRETAÇÃO DOS SALMOS DE SANTO ATANÁSIO

(CAPÍTULOS XI - XVI)

Se desejas louvar a Deus recita o 64.
E quando queiras catequizar alguém acerca da ressurreição, entoa o 65.
Imploras a misericórdia do Senhor? Louva-o salmodiando o 66.
Se vês que os malvados prosperam gozando de paz e os justos, em troca, vivem em aflição, para não tropeçar nem escandalizar-te, recita também tu o 72.
Quando a ira de Deus se inflama contra o povo, tenhas palavras sábias para seu consolo no 73.
Se andas necessitado de confissão, salmodia o 9; 74; 91; 104; 105; 106; 107; 110; 117; 125 e 137.
Queres confundir e envergonhar os pagãos e hereges, demostrando que nem um só deles possui o conhecimento de Deus, e sim unicamente a Igreja Católica? Podes, se assim o pensas, cantar e recitar inteligentemente as palavras do 75.
Se teus inimigos te perseguem e te cortam toda possibilidade de fuga, ainda que estejas muito afligido e grandemente confundido, não desesperes, e sim clama; e se teu grito é escutado, dá graças a Deus recitando o 76.
Porém, se os inimigos persistem e invadem e profanam o templo de Deus, matando os santos e arremessando seus cadáveres às aves do céu, não te deixes intimidar nem temas sua crueldade, e sim compadece com os que padecem e ora a Deus com o salmo 78.

Se desejas louvar ao Senhor em dia de festa, convoca os servos de Deus e recita os salmos 80 e 94.
E se novamente os inimigos todos, se reúnem, assaltando-te por todas as partes, proferindo ameaças até à casa de Deus e aliando-se contra a piedade, não te amedrontes por sua multidão ou seu poder, já que tens uma âncora de esperança nas palavras do salmo 82.
Se vendo a casa do Senhor e seus tabernáculos eternos, sentes nostalgia por eles, como tinha o Apóstolo, recita o salmo 83.
Quando havendo cessado a ira e terminado o cativeiro, quiseras dar graças a Deus, tens o 84 e o 125.
Se quiseres saber a diferença que medeia entre a Igreja católica e os cismáticos, e envergonhar estes últimos, podes pronunciar as palavras do 86.
Se quiseres exortar-te a ti e a outros, a render culto verdadeiro a Deus, demostrando que a esperança em Deus não fica confundida, e sim que, ao contrário, a alma fica fortalecida, louva a Deus recitando o 90.
Desejas salmodiar o Sábado? Tens o 91.

Queres dar graças no dia do Senhor? Tens o 23; ou, desejas fazê-lo no segundo dia da semana? Recita o 47.
Queres glorificar a Deus no dia de preparação? Tens o louvor do 92.
Porque então, quando ocorreu a crucifixão, foi edificada a casa ainda que os inimigos trataram de rodeá-la, é conveniente cantar como cântico triunfal o que se enuncia no 92.
Se te sobrevindo o cativeiro, e a casa, sendo derrubada, volta a ser edificada, canta o que se contém no 95.
A terra se livrou dos guerreiros e apareceu a paz: reina o Senhor e tu queres fazê-lo objeto de teus louvores, aí tens o 96.
Queres salmodiar o quarto dia da semana? Faça-o com o 93; pois num dia como esse foi o Senhor entregue e começou a assumir e executar o juízo contrário à morte, triunfando confiadamente sobre ela. Se lês o Evangelho, verás que no quarto dia da semana os judeus se reuniram em Conselho contra o Senhor, e também verás que com todo valor começou a procurar-nos justiça contra o diabo: salmodia, com respeito a tudo isto, com as palavras do 93.
Se, ademais, observas a providência e o poder universal do Senhor, e queres instruir a alguns na obediência e na fé, exorta-os diante de tudo a confessar decididamente, salmodiando o 99.
Se tens reconhecido o poder de seu juízo, quer dizer que Deus julga temperando a justiça com sua misericórdia, e queres acercar-te dele, tens para este propósito as palavras do 100 entre os salmos.

Nossa natureza é débil... se as angústias da vida te fizeram similar a um mendigo e, sentindo-te exausto, buscas consolo, entoa o 101.
É conveniente que sempre e em todo lugar demos graças a Deus... se desejas bendizê-lo, estimula tua alma recitando o 102 e o 103.
Queres louvar a Deus e saber, como, por que motivos e com quais palavras fazê-lo? Tens o 104; 106; 134; 145; 146; 147; 148 e 150.
Prestas fé ao que disse o Senhor e tens fé nas palavras que tu mesmo dizes quando rezas? Profere o 115.
Sentes que vais progredindo gradualmente em tuas obras, de modo que podes fazer tuas as palavras: "esquecendo o que fica atrás de mim, me lanço até o que está adiante" (Fil 3,13)? Podes então entoar para cada um dos degraus de teu adiantar um dos quinze salmos graduais.

Tens sido conduzido ao cativeiro por pensamentos estranhos e te achas nostalgicamente puxado por eles? Te embarga o arrependimento, desejas não cair no futuro e, ainda assim, segues cativo deles? Senta-te, chora, e como o fez Anato ao povo, pronuncia as palavras do 136!
És tentado e, assim, sondado e provado? Se quando superada a tentação quiseres dar graças, utiliza o  salmo 138.
Te achas novamente acossado pelos inimigos e queres ser libertado? Pronuncia as palavras do 139.
Desejas suplicar e orar? Salmodia o 5 e o 142.
Se alçado o tirânico inimigo contra o povo e contra ti, ao modo de Golias contra Davi, não temas: tenha fé, e como Davi, salmodia o 143.
Se maravilhado pelos benefícios que Deus outorgou a todos e também a ti, queres bendizê-lo, repete as palavras que Davi disse no 144.
Queres cantar e louvar ao Senhor? O que deves entoar está nos salmos 92 e 97.
Ainda sendo pequeno, tens sido preferido a teus irmãos e colocado sobre eles? Não te vanglories nem te encoraje-se contra eles, e sim atribuindo a glória a Deus, que te elegeu, salmodia o 151, que é um poema genuinamente davídico.
Suponhamos que desejas entoar os salmos que resumem o louvor a Deus, e que vão encabeçados pela Aleluia, podes usar: o 104; 105; 106; 111; 112; 113; 114; 115; 116; 117; 118; 134; 135; 145; 146; 147; 148; 149 e o 150.

Se ao salmodiar queres destacar o que se refere ao Salvador, encontrarás referências praticamente em cada salmo; assim, por exemplo: 
Tens o 44 e o 100, que proclamam tanto sua geração eterna do Pai como sua vinda na carne;
O 21 e o 68 que preanunciam a cruz divina, como também todos os padecimentos e perseguições que suportou por nós;
O 2 e o 108 que apregoam a maldade e as perseguições dos judeus e a traição de Judas Iscariotes;
O 20, 49 e 71 proclamam seu reinado e sua potestade de julgar, como também sua manifestação a nós na carne e a vocação dos pagãos;
O 15 anuncia sua ressurreição dentre os mortos;
O 23 e 46 anunciam sua ascensão aos céus.
Ao ler o 92, 95, 97 ou 98, contemplas os benefícios que o Salvador nos outorgou graças a seus padecimentos.