1. 'MENINA, LEVANTA-TE!'
Jairo, o presidente de uma das sinagogas de Cafarnaum, está angustiadíssimo. Sua filhinha de doze anos acha-se gravemente enferma, e sua cura é desesperadora. Como última e extrema solução recorre a Jesus. Sabe que Ele acaba de regressar de Gerasa e vai ao seu encontro. 'Senhor' diz-lhe com voz angustiada, 'minha filha está morrendo. Vem, impõe a tua mão sobre ela para que sare e viva'.
O Mestre, sempre misericordioso e amicíssimo das crianças, acede e imediatamente se põe a caminho; mas a multidão o rodeia e o aperta de tal forma, nas ruas estreitas da cidade, que o detém mais tempo do que Jairo o quisera e a enfermidade da menina o permitiria. Por isso, antes de chegarem a casa, encontram-se com alguns criados, que dão ao seu amo a fatal notícia da morte da pequena. Pobre pai! Cheio de esperanças recorrera ao Redentor; no caminho vira crescer seu otimismo com a cura milagrosa da hemorroíssa, mas agora todas as suas ilusões se desmoronam.
E' tarde. Morrera a criança. Têm razão seus criados: para que incomodar e cansar mais o Mestre? Jesus, porém, consola-o, dizendo: 'Não temas, crê e tua filha será salva'. Chegam à casa coberta de luto. Ali estão a exercer o seu ofício mercenário as carpideiras e os flautistas funerários - importação pagã introduzida nos costumes judeus - e também os parentes e amigos rodeiam a família.
'Por que chorais e estais alvoroçados?' - pergunta-lhes Jesus. 'A menina não está morta, mas dorme'. Os que o ouvem falar assim riem-se dele, pois viram o cadáver e têm a certeza de que está morta. Não sabem que, para o Senhor da vida, aquela morte é um breve sono, cujo despertar está próximo. Jesus ordena que aquela gente se retire e penetra na câmara mortuária, acompanhado só dos pais da defunta e de três dos seus discípulos.
Sobre o leito, estendem-se rígidos e frios os membros pálidos do cadáver. Jesus se aproxima e toma, entre as suas, a mão pálida da menina, e ordena com autoridade: talitha, cumi! 'menina, levanta-te!' E com grande espanto de seus pais, a menina levanta-se e começa a andar. Ressuscitou? Sim; não só ressuscitou mas está, além disso, completamente curada; tanto assim que logo começa a alimentar-se. Operado o milagre, Jesus retira-se, ordenando silêncio, porque quer evitar aclamações e demonstrações de entusiasmo. Apesar disso, como seria natural, a notícia do prodígio espalhou-se por toda aquela região.
2. O FILHO DA VIÚVA
Naim, aldeia situada na encosta setentrional do Pequeno Hermon, a trinta e oito quilômetros aproximadamente de Cafarnaum, foi teatro de um dos maiores milagres de Jesus. Caía a tarde. O sol estava a ponto de esconder-se atrás das montanhas, quando o Salvador, acompanhado de seus discípulos e de uma multidão que não podia separar-se dele, subia pelo estreito caminho que dava acesso ao lugar.
Próximo à porta da aldeia, a multidão teve de ceder o passo a outro cortejo que dali saía em direção contrária. Era um enterro. Sobre um esquife, sem caixão, conduziam o cadáver de um jovem, envolto num lençol. Atrás vinha, com os parentes e amigos, a mãe muito triste e desolada. Era viúva e o defunto, quase menino ainda, era o seu único filho e seu futuro arrimo.
O filho morrera. Que seria dela dali em diante? Informado do que se passava, Jesus, sempre misericordioso e compassivo, disse àquela viúva inconsolável: 'Não chores, filha'. E, aproximando-se do féretro, fez sinal para que parassem e deitassem o esquife no solo. Toda gente se apinhou ao redor do Salvador. Que iria acontecer? Os entusiastas do divino Taumaturgo estavam acostumados a vê-lo operar estupendos milagres; mas, com um morto, que era já levado à sepultura, o que poderia Ele fazer?
Os olhos daquela gente, arregalados pela curiosidade, não perdiam os menores movimentos do Mestre. Jesus, olhando para o cadáver daquele rapaz, pálido e rígido pelo frio da morte, ordenou-lhe em tom imperativo: 'Moço, eu te digo, levanta-te!' Um calafrio da emoção eletrizou os circunstantes. Não havia dúvida, o morto ressuscitara. Todos podiam ver como o cadáver se movia e a sua cor lívida desaparecia; os olhos brilhavam, os lábios abriam-se; o defunto falava. Já não estava morto. Vive e vive sua vida plena. E Jesus, tomando-o pela mão, entrega-o à mãe que, derramando lágrimas de comoção e de alegria, prostra-se por terra para dar graças ao Senhor da vida e da morte.
3. A CURA DE UM CRIADO
Depois do sermão da Montanha, entrou Jesus em Cafarnaum. Achava-se ali um centurião que, embora gentio, simpatizava com os judeus a ponto de edificar-lhes, à sua custa, uma sinagoga. Certamente ouvira talar de Jesus, e é muito provável que o conhecesse de vista e até tivesse ouvido, mais de uma vez, suas pregações e presenciado algum milagre.
Cai-lhe enfermo um servo 'a quem amava muito'. Sofre um ataque de paralisia e está quase à morte. O centurião, que o ama deveras, deseja a todo custo a sua cura e, ao inteirar-se de que Jesus está no povoado, pensa poder alcançar dele o que, por meios naturais, parece impossível. E' humilde e não se atreve a ir em pessoa ter com o Mestre.
Como pretender um tal favor, sendo ele um gentio? Mas, como está bem relacionado, envia uma comissão de pessoas principais do lugar. Estas, apresentando-se diante o Salvador, transmitem a Ele o pedido do centurião. E, para mais pesarem o ânimo do benfeitor, elogiam o centurião e enumeram os benefícios recebidos. Jesus, todo atenção e bondade, acolheu amavelmente os representantes do militar, dizendo: 'Eu irei e o curarei'. E pôs-se imediatamente a caminho.
Avisado de que o Salvador se dirigia a sua casa, e assustado com a grandeza do favor, o centurião enviou-lhe alguns amigos que lhe dissessem: 'Senhor, não te incomodes. Não sou digno de que entres em minha casa; dize, pois, uma só palavra e meu servo ficará curado'. E explicou mais claramente o seu pensamento, dizendo que, embora fosse um simples oficial subalterno, bastava dar uma ordem a seus inferiores que estes lhe obedeciam. Não poderia Jesus, sem o incômodo de ir à sua casa, ordenar que a enfermidade cessasse? Jesus mostrou-se admirado ao ouvir tais palavras e disse aos que o seguiam: 'Em verdade, em verdade vos digo que nem em Israel encontrei tamanha fé'. Em seguida, operou o milagre à distância e, naquele momento, o servo que estava em perigo de morte curou-se instantaneamente.
4. 'HOJE A SALVAÇÃO ENTROU NESTA CASA!'
Logo que em Jericó se espalhou a notícia da chegada do Salvador, todos os seus habitantes correram para a rua, ao encontro do homem extraordinário que tantos milagres realizara. Uma grande multidão o cerca e o acompanha por toda a parte, ao passo que outros tomam posição ao longo da rua para vê-lo quando passar por ali.
Zaqueu, homem riquíssimo e muito influente, é o chefe dos arrecadadores de impostos da cidade de Jericó, o centro comercial mais importante de Israel. Ouviu falar de Jesus, e simpatizou-se com Ele porque Jesus não desprezava os de sua profissão, que eram tão odiados pelo povo. Quer vê-lo, mas não consegue; a sua pequena estatura não lhe permite contemplá-lo por cima das cabeças da enorme multidão.
Esforça-se por abrir passagem através da muralha humana estendida ao longo do trajeto, mas não consegue. Ocorre-lhe, então, uma ideia. No afã de ver o Messias, esquece-se de sua dignidade, calca aos pés o respeito humano e, correndo para a frente do cortejo, sobe ao tronco nodoso de um sicômoro, firmando-se nos galhos.
A multidão passa junto da árvore. Zaqueu está encantado com o que vê. No centro do cortejo caminha Jesus, humilde e magnífico, doce e grave ao mesmo tempo. Ao chegar em frente da árvore, ergue os meigos olhos, fixa-os naquela exígua figura e diz: 'Zaqueu, desce depressa porque é mister que hoje me hospede em tua casa'. Zaqueu estremeceu de emoção ao ouvir ser chamado pelo nome. O rabino extraordinário, a quem tanto desejara ver, quer se hospedar em sua casa.
Desce apressadamente da árvore e, satisfeito por completo pela distinção, leva Jesus à sua casa. A gente imbuída de espírito farisaico escandaliza-se vendo que o Messias vai hospedar-se na casa de um publicano. Este, tendo sentido o aguilhão da graça penetrar em seu coração, sabe corresponder a ela, dirigindo-se ao Salvador para dizer: 'Senhor, darei aos pobres a metade de tudo quanto tenho e, se em alguma coisa defraudei ao próximo, devolver-lhe-ei quatro vezes mais'. Jesus, acolhendo os bons propósitos do pecador arrependido, o aprova e o bendiz com as palavras: 'Hoje a salvação entrou nesta casa!'.
5. O MOÇO RICO
Um moço rico, dirigindo-se a Jesus, pergunta-lhe:
- Bom Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna?
- Se queres salvar-te, cumpre os mandamentos, isto é, não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho, honrarás teu pai e tua mãe e amarás ao próximo como a ti mesmo'.
- Todas essas coisas tenho observado desde pequeno; o que me falta ainda?
- Para seres perfeito, vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem a mim e segue-me.
- Eu, Mestre?
- Sim; virás comigo; andarás de cidade em cidade, de uma aldeia a outra.
- Sim, Mestre, é belo !
- Teus vestidos terão, como os meus, o pó vermelho dos caminhos. Comerás, como os meus discípulos, o pão vindo da esmola... Por enquanto, vai , vende o que possuis e, pobre e humilde, vem comigo, e não penses mais no teu amanhã.
- Mas, Mestre, é tão difícil...
- Achas mesmo? Viestes rico e voltas pobre, eis tudo. . .
- Mestre, tenho palácios e mobílias finas; arcas cheias de pedras preciosas; possuo vinhas e rebanhos... Mestre, sou rico, mas quero salvar-me, quero o céu. Dize-me, Senhor, ainda uma vez, que deverei fazer?
- Vai, vende tudo; dá-o aos pobres e volta pobre; e segue-me!
- Mestre...
- Já vais?
- Mestre, adeus...
- Adeus, moço...
Com os ombros curvados, olhando para o chão,o moço rico retira-se vagarosamente. Está triste. O Mestre, também triste e pensativo, suspira:
- Como é difícil entrar um rico no reino de Deus! Infelizes os que se apegam às riquezas!
João, ouvindo isso, pergunta:
- Senhor, quem poderá salvar-se?
- O que para os homens é impossível, para Deus não é!
O moço rico vai caminhando lentamente. Parece carregar todo o peso do mundo. Na curva do caminho, pára e olha para trás, como quem se despede de uma felicidade perdida. Depois, estuga o passo e desaparece...
6. O CEGO À BEIRA DA ESTRADA
Jesus, acompanhado pelos seus discípulos, após longa caminhada, estava para entrar na cidade de Jericó. À beira da estrada, não muito longe das habitações, estava um cego sentado, pedindo esmola. Aquela estrada, uma das mais frequentadas pelos peregrinos, era certamente um ponto bem escolhido pelo cego para estender a mão aos transeuntes.
Naquela hora, porém, a esmola que ia receber não era apenas grande, era a maior que podia desejar em sua vida. Ouvindo o tropel de gente que passava, perguntou:
- Que movimento é esse? Quem é que está passando?
- 'E' Jesus de Nazaré'; disseram-lhe.
Jesus! Aquele nome não lhe era desconhecido; pelo contrário. Já ouvira talar de muitos milagres operados por Ele; sabia que Jesus, sempre caridoso e bom, restituíra a luz dos olhos a diversos outros cegos como ele. Quem sabe se não teria chegado, também para ele, a hora da graça, o momento da cura? Cheio de esperança, pôs-se a clamar:
- Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim! Era como se dissesses: 'Senhor, tu és o Messias prometido; tu és o Filho de Deus feito homem; tu podes curar-me, restituindo-me a vista.
Interiormente, este cego enxergava muito mais do que os pobres judeus obcecados. Manifestava uma fé viva, uma confiança firme, um grande desassombro.
Apesar de o repreenderem os que vinham à frente, mandando que ele se calasse, suspeitando que quisesse pedir alguma esmola a Jesus, nem por isso deixava de repetir:
- Jesus, Jesus, tem piedade de mim que sou um pobre cego!
Nosso senhor, chegando mais perto, ouvindo aquela voz lastimosa, pára no meio da estrada e diz aos que estão junto ao cego: 'Tomai-o pela mão; trazei-o aqui. Eu quero vê-lo de perto, quero falar-lhe'.
Conduziram o cego até Ele e Jesus, embora conhecesse perfeitamente qual era o pedido daquele infeliz, para que o mesmo fizesse uma profissão de fé no poder de Deus, perguntou-lhe: 'Que queres que eu te faça? Que é que pedes?'
- Senhor, faze que eu veja, pois é tão triste ser cego! Não enxergo, não vejo nada deste mundo; Senhor, faze que eu veja!
E Jesus, diante da fé viva do cego, usa de seu poder e de sua bondade, dizendo simplesmente: 'Vê! A tua fé te salvou'. E, no mesmo instante, o homem abriu os olhos e admirado, comovido até às lágrimas, começou a ver. E, em vez de correr para casa, para contar aos seus a graça recebida, permaneceu ao lado de Jesus e o segue, agradecendo a Deus e bendizendo ao seu Benfeitor. E foi, então, que todos os que presenciaram o milagre também começaram a louvar e bendizer a Deus.
7. SEJAMOS RETRATOS DE DEUS
Não podemos viver profanando e manchando a imagem divina que trazemos em nossa alma. Nosso dever é trabalhar em todos os momentos de nossa vida e com todos os auxílios que recebemos de Deus, para conseguirmos que esse retrato divino seja cada dia mais semelhante ao modelo que temos diante dos olhos. O nosso modelo consumado é Jesus Cristo.
Quem é Jesus Cristo? E' o mistério da pobreza... Apresenta-se no mundo num estábulo. Repousa sobre duras palhas num mísero presépio. Chama a si os pobres: com eles se ajunta e quer que formem a côrte do novo reino que veio fundar neste mundo.
Quem é Jesus cristo? O mistério do trabalho... Encerra-se numa oficina e trabalha para comer o pão amassado com o suor do seu rosto. Anda de cidade em cidade, espalhando a doutrina da verdade e a semente da perfeição. Ele mesmo afirma que não tem uma pedra para repousara cabeça.
Quem é Jesus Cristo? O mistério da verdade... Fala em toda parte. Fala das doutrinas mais elevadas. Trata dos problemas religiosos, os maiores que jamais foram tratados no mundo. Ouvem-no os seus inimigos, procurando surpreender nEle algum erro... Não o conseguem! Ele é o único homem em cujos lábios jamais apareceu a sombra fatídica do erro e do engano.
Quem é Jesus Cristo? O mistério do amor... Amou até à abnegação mais absoluta, amou até ao sacrifício, amou os seus verdugos e seus inimigos, amou até fazer-se nosso alimento, amou-nos até a morte de cruz.
Quem é Jesus Cristo? O mistério da humilhação... Lavou os pés dos seus discípulos Subiu a uma cruz e ali, naquele madeiro, que era o patíbulo dos escravos, ali o contemplou a humanidade desnudo e abandonado por todos.
Quem é Jesus Cristo? O mistério da obediência... Obedeceu desde o berço até o túmulo. Não se desviou nem um ápice do caminho que lhe traçou o Pai celeste.
Quem é Jesus Cristo? E' o mistério do poder... Contra Ele se levantaram todos os partidos políticos de sua nação. Os que representavam a lei e a religião coligaram-se também contra Ele. Até os seus amigos mais íntimos na hora da dor o abandonaram. Estava só... Mas, afinal, triunfou sobre todos eles. Hoje, os que ontem o odiavam são pó e cinza levados pelo vento: Ele reina sobre os povos e sobre os corações.
Quem é Jesus Cristo? E' o mistério da glória... Triunfou sobre a morte. Subiu aos céus. Ali está sentado à direita de Deus Pai. Dali há de vir para julgar os vivos e os mortos. E a sua glória não terá fim.
Eis aí, em resumo, quem é Jesus Cristo. Todos os santos procuraram ser reflexos perfeitíssimos desse Deus que, como diz Santo Agostinho, para isso precisamente se fez homem, para que tivéssemos o modelo mais admirável de Deus. Trabalhemos e copiemos as divinas virtudes que nEle resplandecem.
8. O PAJEM SALVO PELA MISSA
Tinha Santa Isabel de Portugal um pajem muito virtuoso e piedoso a quem encarregava de distribuir as suas esmolas. Outro pajem, que ambicionava aquele cargo e por ser muito invejoso, acusou-o junto ao rei de um grande crime, de um pecado muito feio. Acreditou o rei nas mentiras do pajem perverso e resolveu matar o pajenzinho da santa rainha.
Ordenou a um homem, que tinha um forno de cal, que lançasse ao fogo o primeiro criado que chegasse para informar-se se haviam cumprido as ordens do rei. Em seguida mandou o pajenzinho que fosse levar tal recado ao dono do forno. O rapaz partiu imediatamente mas, ao passar diante de uma igreja e ouvindo tocar o sino para a missa, resolveu ouvi-la antes de ir adiante.
Enquanto a ouvia, o rei, impaciente de saber se o pajem da rainha tinha morrido, mandou o outro pajem caluniador que fosse perguntar ao homem do forno se este havia executado a ordem do rei. Correu tão depressa que, chegando primeiro ao forno e dando o recado, o homem imediatamente o lançou ao fogo. Estava ainda ardendo quando, pouco depois, chegou o pajenzinho da rainha, que assistira toda a missa e perguntou se haviam cumprido a ordem do rei.
Tendo recebido uma resposta afirmativa, correu ao palácio para comunicá-la ao rei. Este, ao ver o rapaz, ficou estupefato e adivinhou as secretas disposições da Providência Divina, que permitira o castigo do culpado e a salvação do inocente. Um menino chamado Renato, a quem o pai contou este caso, ficou tão impressionado que, não somente quis ouvir muitas missas, como ainda quis fazer-se padre para poder celebrar para outros o Santo Sacrifício.
9. O MENINO QUE FOI ENFORCADO TRÊS VEZES
Estamos na Palestina, pátria de Jesus, onde se pronunciou a primeira Missa e os Apóstolos fizeram sua primeira comunhão. O que é hoje a Palestina? Terra de desolação, de maometanos, cismáticos, judeus e poucos católicos.
Um menino cismático de oito anos começou a sentir-se atraído à religião católica, a seus cantos e festas, que lhes eram contados por seus companheiros. Um dia quis ir ver de perto. Com muito segredo, por temor dos pais, assistiu à missa numa capela. Ficou encantado. Depois da missa continuou ali com as crianças do catecismo. Terminada a cerimônia, o padre, que não o conhecia, aproximou-se dele para saudá-lo carinhosamente.
O coração estava ganho e o menino, às escondidas, continuou a ouvir a missa todos os domingos. Um dia, porém, o pai descobriu e perguntou-lhe:
- Você esteve com os malditos católicos?
- Sim, papai.
- Eu não lhe proibi isso?
- Sim, senhor.
- Jura-me que não voltará lá?
- Não posso, pois em meu coração já sou católico.
- Então você não jura?
- Não, senhor.
- Enforcá-lo-ei então...
- O senhor pode enforcar-me.
Passou o bárbaro uma corda a uma viga do teto e o laço ao pescoço do filho e puxou-o para cima. Quando os pezinhos do menino deixaram de mover-se, o pai o desceu, soltou o laço e, vendo que ainda estava vivo, disse:
- Agora você me promete não ir mais ter com aqueles malditos...
- Não, papai, não posso.
Por uma segunda e uma terceira vez repetiu o pai o cruel suplício, mas não conseguiu mudar o propósito do menino. Disfarçando, então, a sua cólera, tentou o bárbaro pai outros meios. Tomando em seus braços o corpo extenuado do pobrezinho, lhe disse:
- Mas, meu filho, você não me ama?
- Amo-o, papai.
- Como é, pois, que não quer me obedecer?
- E' que eu amo a minha alma mais do que amo ao meu pai.
O menino, pouco a pouco, recobrou as forças e logo se fez batizar, tornando-se católico. Seu pai e sua mãe morreram de tifo no ano seguinte e não muito depois teve o pequenino mártir a morte de um santo.
10. AS MISSAS PELO PAPAI
Relata o Pe. Mateo, apóstolo da devoção ao Sagrado Coração de Jesus que, estando na Inglaterra em tempo de muito frio, preparava para a primeira comunhão um grupo de crianças de seis a nove anos. 'Dizei a vossas mamães que estou pregando o reino do Sagrado Coração e que vós haveis de ser seus missionários'.
Depois que acabei de pregar, chegou-me uma menininha e me disse: 'Padre, meu pai nunca vem à igreja. Vou contar à mamãe o que o senhor nos disse e eu nunca perderei a missa'. Eu lhes havia pregado sobre o Coração de Jesus e pedido que me ajudassem a salvar almas ouvindo uma ou mais missas.
A menina, chegando a casa, disse a sua mãe que todos os dias iria ouvir a missa pelo seu papai.
- De manhã faz muito frio, filhinha.
- Não faz mal, mamãe, preciso fazer algum sacrifício para salvar a alma do meu papai.
- Bem, faça como quiser.
Três meses depois, encontrei-me com a mesma menina, que me disse:
- Padre, desde então não perdi nem uma missa. Às vezes, fazia muito frio e eu tinha muito sono porque a missa é tão cedo.... mas o senhor sabe o que eu digo a Jesus quando o tenho no meu. coração? Digo-lhe que vou ouvir missa e comungar todas as manhãs por meu papai, para pagar o resgate por ele, para estar em seu lugar diante do Santíssimo, a fim de salvar a sua alma: 'Para isso estou aqui diante do altar, meu bom Jesus'.
Criança admirável! Não fiquei sabendo se Jesus lhe atendeu os pedidos; mas não há dúvida que o o fará a seu tempo. Não pode o bom Jesus permanecer surdo a tais pedidos. Referindo-se a uma criança, disse um poeta: 'Pedidos dos lábios teus podem muito! Os pequeninos sabem segredos divinos e conversam muito com Deus'!
11. UMA MISSA... UM CAVALHEIRO... UM RETRATO...
Saberão as almas quando se fazem rezar missas por elas? Mônica, uma jovem muito boa e piedosa, está convencida que sim. Era ela uma pobre criada, que ganhava o pão servindo nas casas dos ricos, simples, cheia de fé, contente com o tratamento e o pequeno salário que lhe davam, pois Deus a fizera abnegada e sabia que a Ele se ode servir com qualquer ofício.
Mas um dia adoeceu e não teve remédio senão internar-se no hospital dos pobres. Depois de seis semanas deram-lhe alta; perdera, porém, o emprego e não sabia onde refugiar-se, débil e sem recursos. Uma moeda de prata era toda a sua fortuna, mas o seu coração estava cheio de confiança em Deus. Tomando a sua moeda, manda celebrar uma santa missa pelas almas do purgatório, a fim de que elas lhe consigam uma boa colocação.
Ouviu a missa devotamente. E aquela mensagem chegou ao seu destino... Ao sair da igreja, encontrou-se com um senhor que, aproximando-se, a saudou e disse: 'Soube que a senhora procura um emprego; aqui está o endereço de uma casa você será recebida'. Deu-lhe, em seguida, o nome da rua e o número da casa e desapareceu. Mônica ficou perplexa, sem saber o que pensar e nem como explicar tudo aquilo.
Como podia saber aquele senhor que ela procurava um emprego, uma vez que não comunicara a ninguém o seu desamparo? Foi à rua e à casa indicadas. Disse o que desejava e, imediatamente, a dona da casa a contratou para o serviço doméstico. No dia seguinte, estando a fazer a limpeza, pôs-se a contemplar os retratos pendurados nas paredes. De repente, surpreendida, exclamou:
- Senhora, quem é aquele senhor que está ali retratado? É precisamente o senhor que, ao me ver sair da missa, me deu o endereço da senhora.
- Como? exclamou a senhora, esse é o meu filho que há pouco tempo tive a infelicidade de perder!
A notícia da missa chegara tão depressa ao purgatório que, ao sair Mônica da igreja, a resposta pessoal já a esperava à porta. O defunto alcançara de Deus a permissão para vir agradecer à sua benfeitora e pagar pela sua caridade.
12. BRAVOS CRUZADINHOS
Num certo domingo de abril, inúmeras crianças de Liverpool (Inglaterra) compareceram a uma reunião festiva no vasto Salão de São Jorge. Cada paróquia enviara as crianças da Cruzada Eucarística e eram tantas, que muitíssimas tiveram que ficar do lado de fora, na praça. Durante a prática perguntou-lhes o Arcebispo:
- Sois todos cavaleiros e pajens do Santíssimo Sacramento?
- Sim, senhor, gritaram todos
- E quantos comungam a cada mês?
Muitas mãozinhas se levantaram timidamente.
- E quantos comungam a cada semana?
Todos gritaram levantando as mãos.
- E quantos comungam todos os dias ou várias vezes por semana?
Também desta vez se levantaram todas as mãos.
I. Um missionário do longínquo Oriente, vendo um jovenzinho muito recolhido e devoto diante do altar do Santíssimo, perguntou:
- José, que faz aí tanto tempo e que é que diz a Jesus?
- Nada, padre, pois não sei ler nos livros. Somente exponho a minha alma ao Sol.
II. Aos seus mais pequenos Cruzadinhos perguntou um vigário: '
- Quantas vezes se deve comungar?
- Muitas vezes, padre.
- Bem; e quem sabe me dizer por quê?
- Eu, padre, eu sei. Jesus tomou o pão para mostrar que o devemos comer todos os dias; porque, se tivesse tomado a sobremesa, diríamos que só se devia comungar nos dias de festa.
III. Numa rua de Munique, cidade da Baviera, uma menina de sete anos avisa a mamãe que vem se aproximando um sacerdote com o Santíssimo.
- Não é nada demais, responde a mãe - ele vai visitar um enfermo.
- Vamos ajoelhar-nos, mamãe, ele está chegando.
- Que é que tens, tontinha? Anda!
- Mamãe, é o bom Deus, ajoelhe-se suplica a menina, que então se prostra de joelhos!
Onde é que esse anjinho aprendeu tamanho respeito ao Santíssimo, senão na Cruzada Eucarística?
Onde é que esse anjinho aprendeu tamanho respeito ao Santíssimo, senão na Cruzada Eucarística?
13. CRUZADA E SACRIFÍCIO
A Cruzada Eucarística tem por fim fomentar não só a devoção ao Santíssimo, mas também o zelo e o espírito de sacrifício. Num congresso de cruzadinhos, apresentou-seu um menino camponês, bem vestido e todo garboso, à frente de um verdadeiro batalhão de Cruzadinhos.
➖ Olá! Como é isso: como você conseguiu arranjar no seu povoado um tal grupo de rapazes? perguntou o zelador.
O rapazinho, embaraçado e fazendo girar o gorrinho, não sabia como responder.
➖ Diga-me, como começaste isso?
➖ perguntei a eles se queriam ser Cruzados
➖ E o que responderam?
➖ Que não queriam.
➖ E o que fizeste, então?
➖ Comecei a comungar por intenção deles.
➖ E então quiseram?
➖ Não, senhor.
➖ E que fizeste depois?
➖ Na comunhão, o Menino Jesus me inspirou que fizesse alguns sacrifícios...
➖ E aí quiseram?
➖ Então, sim.
14. VISITANDO O SANTÍSSIMO
Um sacerdote, que estava a rezar o ofício divino a um canto da igreja sem que o pudessem ver, foi testemunha de uma graciosa visita ao Santíssimo. Aproximaram-se da grade do altar dois meninos: Lino, de seis anos, e seu irmãozinho, de três. O maiorzinho tomou pela cintura o pequeno, ergueu-o e conservou-o de pezinho sobre a grade. Com a mão livre, tomou a mãozinha de seu irmão para persigná-lo e, em seguida, rezou com ele esta breve e bela oração: 'Meu Jesus, eu te amo de todo o meu coração'. E repetiu estas últimas palavras, pondo a mão sobre o peito para indicar o coração. Terminada a oração, Lino explicou ao irmãozinho:
➖ Olha, o bom Jesus está dentro daquela casinha. As imagens que vês em cima são os retratos de Jesus e de sua santa Mãe.
O pequenino olhava atentamente com os seus olhos grandes e negros para a estátua de Nossa Senhora do Sagrado Coração e, de repente perguntou:
➖ Lino, o menino Jesus quer bem a mim também?
➖ Sim, respondeu Lino; olha como nos mostra o seu coração com a mão esquerda e, com a mão direita, nos indica sua Mãe.
➖ Por que, hein?
O maiorzinho, um pouco perplexo, não sabia como responder.
➖ Por quê? insistiu o pequeno.
Então Lino, lentamente e ainda indeciso, atreveu-se a balbuciar:
➖ Talvez o Menino Jesus queira que peçamos a sua mamãe licença para ficarmos com Ele.
15. UM MENINO DISTRIBUI A COMUNHÃO
Na guerra de 1914, que durou quatro anos, os exércitos italiano e alemão pelejavam perto da povoação de Torcegno, no vale de Brenta. À meia-noite, entraram os alemães para ocupar a igreja e a torre e levaram consigo prisioneiros os sacerdotes locais, sem dar-lhes o tempo de retirar o Santíssimo da igreja. De manhã, antes da aurora, o povo recebeu ordem de evacuar o povoado, pois ia dar-se ali a batalha. Eram os habitantes cristãos fervorosos que amavam muito as suas roças, suas casas e mais ainda sua igreja. Mas não havia remédio; era preciso fugir.
➖ Salvemos ao menos o Santíssimo, todos disseram; mas como fazer isso se os padres haviam sido levados?
Lembraram-se então de escolher o menino mais inocente e angélico para abrir o sacrário e dar a comunhão a todos os presentes, consumindo-se assim todas as hóstias. Ao sair o sol, todo o povo estava na igreja, as velas acesas no altar e o menino revestido de alvas vestes. Subindo os degraus do altar com grande reverência, o menino estendeu o corporal, abriu a portinha e, tomando o cibório dourado, enquanto todos rezavam o 'Eu pecador', desceu até à grade e distribuiu as hóstias até esvaziar o cibório.
Purificou logo o vaso sagrado com todo o cuidado, juntou as mãos e desceu os degraus do altar como um anjo. Levando Jesus no coração, todo o povo se apressou a fugir para os montes. Corriam lágrimas dos olhos de muitos, é verdade, mas a alma estava confortada com o manjar divino. Ao pequeno 'diácono' enviou mais tarde o Santo Padre Bento XV sua bênção e suas felicitações.
16. MENINOS MÁRTIRES
O acontecimento que vamos narrar, passou-se na Rússia, nos piores tempos do comunismo que vem varrendo do seu território todas as religiões, mormente a católica. Numa vila, perto de Petrogrado, havia um asilo de órfãos com uma capela católica. Os vermelhos (comunistas) fecharam a casa alegando que não havia recursos para sustentá-la e expulsaram o capelão.
Aqueles maus soldados tiveram a sinistra ideia de converter a capela em salão de baile e, como a mesma estava fechada, resolveram arrombar a porta e profanar o que havia dentro. Tomaram essa resolução numa cantina, onde casualmente três meninos católicos ouviram a conversa. Compreenderam que se tratava de profanar a casa de Deus e logo tomaram a resolução de defendê-la do melhor modo que pudessem.
À noite, os três meninos e mais alguns colegas penetraram na igreja por uma janela e montaram guarda junto do altar. Os soldados, tendo arrombado a porta e penetrado a capela, ordenaram que os meninos saíssem imediatamente nenhum, porém, se moveu e nem se arredou do seu lugar. Os perversos comunistas atiraram, então, e mataram dois meninos. Quiseram, em seguida, arrastar os outros para fora, mas os meninos preferiram morrer a deixar de 'proteger com seus corpos a casa de Deus'. Os comunistas, ainda mais furiosos, dispararam de novo e o sangue daqueles inocentes escorreu pelos degraus do santo altar. A mãe de um deles, tomando nos braços o filho agonizante, perguntou-lhe:
➖ Meu filho, o que fizeste?
➖ Defendemos a Jesus - respondeu - e os maus não se atreveram a tocar nEle.
17. O PRIMEIRO MÁRTIR DA EUCARISTIA
Era nos primeiros tempos do cristianismo. Os cristãos eram perseguidos, lançados às feras e mortos. Quase todos procuravam antes receber a santa comunhão. Os sacerdotes tinham de esconder-se porque eram os mais procurados pelos inimigos. Um dia, depois de celebrar os divinos mistérios nas catacumbas, o padre, voltando-se para os fiéis reunidos, mostrou-lhes a Hóstia e disse:
➖Amanhã muitos dos nossos serão conduzidos às feras. Quem de vós, menos conhecido do que eu, poderá levar-lhes secretamente o Pão dos fortes?
A estas palavras, aproxima-se um menino de dez anos, chamado Tarcísio, que parecia ter roubado. aos anjos a pureza da alma e a formosura do rosto e, ajoelhando-se diante do altar, estendia os braços para o sacerdote sem pronunciar palavra, parecendo querer dizer:
➖ Eu mesmo levarei Jesus aos irmãos encarcerados.
➖ És muito pequeno - disse o padre - como poderei confiar-te tamanho tesouro?
➖ Sim, padre; justamente por ser pequeno me aproximarei dos mártires sem que ninguém desconfie.
Falava com tanto ardor e candura que o padre lhe confiou os 'Mistérios de Jesus'. O pequeno, radiante de alegria, aperta ao peito o seu tesouro e diz:
➖ Antes que me façam em pedaços ninguém haverá de o arrebatar de mim.
Partiu pressuroso para o cárcere mas, ao atravessar a praça, eis que um grupo de rapazes o cerca e quer obrigá-lo a tomar parte em seus brinquedos.
➖ Não posso - dizia Tarcísio - não posso, estou com pressa.
Os outros, vendo que ele conservava as mãos sobre o peito, suspeitaram tratar-se dos mistérios dos cristãos. Gritando como possessos, lançaram por terra o pobrezinho, deram-lhe golpes, atiraram-lhe pedras, deixaram-no prostrado. O sangue corria dele, principalmente da boca, mas as mãos não se desprenderam do peito.
Nisto passou por ali um oficial cristão, por nome Quadrato que, saltando no meio dos rapazes, dá golpes à direita e à esquerda e dispersa a quadrilha malfeitora. Como uma mãe carinhosa, toma com todo o respeito o pequenino mártir da Eucaristia e leva-o em seus robustos braços até às catacumbas onde o sacerdote, ao ver o menino, não pôde conter as lágrimas. Tarcísio, o defensor de Jesus, expirou ali mesmo em seguida.
18. A HONRA DE AJUDAR À MISSA
Foi em 1888, ano jubilar do Santo Padre Leão XIII. Num dos altares da Basílica de São Pedro, encontravam-se dois sacerdotes: um era prelado romano e cônego da Basílica Vaticana; o outro era o bispo duma diocese italiana, vindo a Roma para assistir às festas jubilares. O prelado romano, que se dispunha para celebrar a missa, olhava inquieto ao redor, porque seu ajudante não aparecia. O bispo, que estava ajoelhado ali perto, aproximou-se com grande simplicidade e disse:
➖ Permita-me, Monsenhor, que seja eu o ajudante de sua missa?
➖ Não, Excelência, não o permitirei: não convém a um bispo se fazer de coroinha.
➖ Por que não? garanto-lhe que darei conta.
➖ Disso não duvido, Excelência; mas seria muita humilhação. Não, não o permitirei.
➖ Fique tranqüilo, meu amigo. Depressa ao altar e comece: Introibo...
Dito isto, o bispo ajoelhou-se e o prelado teve que ceder. Assistido por seu novo ajudante, o prelado romano prosseguia a sua Missa com uma emoção sempre crescente. Terminada a Missa, o celebrante se desfez em agradecimentos perante o bispo. Aquele pio e humilde ajudante, vinte anos mais velho que o prelado romano, era a glória da diocese de Mântua, Dom José Sarto, o futuro Papa Pio X, hoje canonizado por Pio XII. Para o Cruzadinho, amigo fervoroso de Jesus Eucarístico, não deve haver honra nem glória maior do que poder ajudar devotamente o sacerdote aos pés do altar.
➖ Mamãe, eu não quero mais ajudar à missa do Padre Pedro.
19. JESUS NÃO FICARÁ SÓ
Robertinho é Cruzado do Santíssimo. Ouvira a Missa, rezara a sua ação de graças e queria voltar para casa, quando ouviu o pároco dizer ao sacristão:
➖ Este ano não haverá exposição do Santíssimo nas Quarenta Horas, durante o carnaval.
➖ Mas por que, senhor vigário?
➖ Porque o Santíssimo ficará sozinho, como no ano passado.. .
➖ Só, o Santíssimo? - diz Robertinho pesaroso - não pode ser, não será!
De um salto, põe-se à porta da igreja por onde está o pároco a sair.
➖ O que está acontecendo Robertinho?
➖ Ouvi que o senhor não pretende fazer a exposição do Santíssimo...
➖ Sim, pois temo que deixem Jesus exposto sozinho.
➖ Padre, faça a exposição; eles virão...
➖ Eles, quem?
➖ Os cruzadinhos.
➖ Todos?
➖ Sim, senhor vigário, todos; eu os trarei.
➖ Mas a exposição deve durar o dia inteiro...
➖ Sim, estaremos aqui durante todo o dia.
Em vista da firme resolução do menino, o pároco prometeu fazer a exposição. No dia seguinte, às sete da manhã, todos os Cruzados estavam prontos para a Missa e, depois fariam meia hora de guarda ao Santíssimo, revezando-se em turnos. Preparou-lhes o pároco uns lindos genuflexórios forrados de vermelho.
Revezaram-se os Cruzados até o meio dia, voltando alguns ao seu posto por até três vezes. Robertinho dissera: 'Trarei todos os Cruzados'; mas consigo dizia: 'Virão também as mães, os irmãos maiores e até os pais'. E assim foi realmente. Foi uma beleza!
E' que Robertinho percorrera as casas dos Cruzadinhos convidando-os com ardor para a guarda ao Santíssimo e pedindo-lhes que rezassem, fizessem sacrifícios e pedissem aos seus pais e irmãos que não faltassem. Eis o que pode fazer um Cruzadinho fervoroso.
20. QUE É QUE PEDES A JESUS?
Joei era uma menina que as Irmãs de Caridade encontraram abandonada pelos pais às margens do Rio Amarelo da Grande China. Estava a criancinha a morrer de fome de frio, quando as Irmãs a levaram para o hospital. Logo que a vestiram e a alimentaram, dando-lhe leite quente, começou a pequenina a recuperar a vida e a saúde.
Foi batizada e logo brilhou a inteligência em seus olhinhos vivos e começou a conhecera Deus e a aprender as coisas do Céu. Andava já pelos oito anos e gostava de assistir à doutrina com as crianças que se preparavam para a primeira comunhão. Mas a sua memória não acompanhava o seu coração e, quando o missionário foi examiná-la, teve que dar-lhe a triste notícia de que não seria admitida à primeira comunhão enquanto não soubesse melhor a doutrina.
Julgava o padre que essa determinação a deixaria indiferente. Mas não foi assim. Daquele dia em diante, notou-se uma mudança extraordinária no comportamento da menina. Em lugar de brincar, como antes, com as crianças de sua idade, Joei começou a passar seus recreios na capela aos pés de Jesus! Um dia, estando Joei diante do Santíssimo, o padre acercou-se dela devagarinho e ouviu que ela repetia com frequência o nome de Jesus.
➖ Que é que estás fazendo aí?
➖ Estou visitando o Santíssimo Sacramento.
➖ Visitando o Santíssimo? Mas tu nem sabes quem é o Santíssimo...
➖ E' o meu Jesus, respondeu Joei.
➖ Bem; e o que pedes a Jesus?
Então, com as mãos postas e sem levantar a cabeça, com lágrimas nos olhos, a menina respondeu com indizível doçura:
➖ Peço a Jesus que me dê Jesus.
E a pequena Joei teve então a licença para fazer a sua primeira comunhão.
21. QUERO SER PADRE!
Aquele que havia de ser o fundador da Congregação do Santíssimo Sacramento, Pe. Julião Eymard, parecia predestinado desde pequenino a ser um grande devoto da Eucaristia. Quando a sua mãe,l levando-o nos braços, ia à bênção do Santíssimo, o menino não se cansava de olhar para Jesus na custódia.
Ele ia com a mãe em todas as visitas à igreja e não se cansava e nem pedia para sair antes dela. A sua irmã Mariana, que tinha dez anos mais e era como sua segunda mãe, costumava comungar com frequência. O irmãozinho, invejando-a, dizia:
➖ Oh! como você é teliz, podendo comungar tantas vezes; faça-o alguma vez por mim.
➖ E o que pedirei a Jesus por você?
➖ Peça-lhe que eu seja muito mansinho e puro e me dê a graça de ser padre.
As vezes, desaparecia durante horas inteiras. Procuravam-no então e iam encontrá-lo ajoelhado num banquinho perto do altar, rezando com as mãos juntas e os olhos pregados no sacrário. Antes mesmo do uso da razão, ansiava por confessar-se; mas não o admitiam. Quando tinha nove anos, quis aproveitar a festa do Natal para 'converter-se', como dizia. Apresentou-se ao vigário e depois ao coadjutor mas, como estavam muito ocupados, não o atenderam.
Partiu, pois, com um companheiro, em jejum e, fazendo uma caminhada de oito quilômetros sobre a neve, foi a uma paróquia vizinha e lá conseguiu confessar-se. 'Como sou feliz' - dizia - 'como estou contente; agora estou puro'! Mas, que grandes pecados havia cometido? 'Ai! cometi muitos pecados em minha infância: roubei um boné numa loja e, depois, arrependido, voltei e deixei-o em cima do balcão...'
Para preparar-se para a primeira comunhão, começou a lazer penitências: colocava uma tábua em baixo do lençol, jejuava e, quando a fome apertava, corria a fazer uma visita ao Santíssimo para esquecê-la. Enfim, a 16 de março de 1823, chegou para ele o grande dia. Que se passou neste seu primeiro abraço com Jesus? Quando apertava Jesus ao coração, fez esta promessa e esse pedido: 'Quero ser padre!'
22. DAI-ME JESUS! E SEREI BOAZINHA...
Entre os meninos e meninas mais pequeninos, puros e bons, costuma Jesus Menino escolher seus pajens (cruzadinhos) para que o acompanhem aonde quer que vá. Uma dessas crianças foi Santa Gema Galgani, uma santa de nossos tempos que, durante toda a sua vida, recordava com prazer as primeiras práticas que tivera com Jesus Sacramentado, sendo ainda muito pequena.
'O rosto de minha mãe, depois de receber a comunhão' - dizia - 'ficava radiante de alegria e meu coração batia mais depressa, quando ela me chegava a seu peito, dizendo: Gema, aproxima-te de meu peito para dar um beijo em Jesus'.
Desde aquela idade, não cessava de pedir às suas professoras e aos capelães que lhe dessem o seu Jesus. Eles olhavam para ela e sorriam, pois, apesar de ter nove anos, era tão pequena que parecia ter apenas seis. Naquele tempo, o Papa não havia dado ainda o decreto da comunhão dos pequeninos e exigiam-se, para eles, as mesmas instruções e conhecimentos cabais: 'Tem paciência', diziam-lhe, 'até que tenhas a idade requerida'.
Mas Gema pedia, pedia sem se cansar: 'Dai-me Jesus, dai-me... E vereis que serei boazinha, não pecarei mais e serei bem comportada. Dai-me Jesus, porque me parece que não poderei viver sem Ele!'. Estes belos sentimentos de um coração tão puro e amante moveram seus superiores a apressar o dia feliz e suspirado e satisfazer as ânsias dela de apertar Jesus ao peito. Gema tornou-se realmente, em sua vida pobre e humilde, uma grande santa que mereceu as honras do altar.
23. UM MÁRTIR DA CONFISSÃO E DA EUCARISTIA
Em 1927, dominavam no México os inimigos da Igreja Católica. Os ministros de Jesus cristo eram perseguidos, presos e fuzilados sem compaixão. Do número desses mártires, foi o ancião Pe. Mateus Correa. Estava em casa de um amigo, num dos bairros mais radicais, quando o foram chamar para atender um pobre índio que queria receber os últimos sacramentos. Apesar do perigo que corria, o padre quis cumprir com esse dever de caridade.
Tomando consigo o Santíssimo, dirigiu-se com um amigo à casa do doente. Escolheram de propósito os caminhos menos frequentados mas, assim mesmo, os soldados de Calles os surpreenderam e, vendo que o padre levava consigo o Santíssimo, quiseram arrancá-lo dele à fôrça para o profanar. Mas o Pe. Correa foi mais esperto que os soldados consumindo imediatamente a sagrada partícula, dizendo a eles:
➖ Matai-me se quiserdes; mas a Jesus não profanareis.
Depois de maltratarem cruelmente o pobre padre, levaram-no à cidade de Valparaíso, onde o meteram em cárcere. Acusado de cumplicidade com os Cristeros, que combatiam nos arredores, detiveram-no ali até que o General Ortiz o levou consigo à cidade de Durango. Ali chegaram a 4 de fevereiro e, já no dia 6, o padre foi julgado pelo general em pessoa. Vários outros presos iam ser fuzilados. Dirigindo-se ao Pe. Correa, disse o general:
➖ Ouça primeiro a confissão desses bandidos, pois vão pagar logo os seus crimes.
Ouviu-lhes o padre a confissão e preparou-os para uma boa morte. Tendo terminado, o general lhe perguntou:
➖Agora me diga o que estes canalhas lhe contaram.
Erguendo-se o padre com nobre altivez, respondeu:
➖ Nunca, isso nunca!
➖ Não vai me dizer?
➖ Não, nunca!
➖ Então será fuzilado com os outros.
➖ Fuzile-me se quiser, mas o segredo da confissão não o violarei jamais.
O infame general mandou matá-lo e, assim, o grande mártir selou com o próprio sangue a sua fé e os seus sagrados ministérios.
24. A COMUNHÃO DÁ FORÇA
Estava a avozinha no terreiro, assentada à sombra de uma viçosa parreira, quando ouviu ser chamada:
➖ Vovozinha?
A avó levanta os olhos, um pouco surpreendida pois, até aquela hora, a netinha não lhe mostrara muita atenção; era atenta, mas não afetuosa.
➖ Que queres, filha?
➖ Vovó, eu queria saber porque você tem uma perna de pau. Você a perdeu em combate?
➖ Não, Lina; mas isso não é pergunta para a sua idade. Não foi uma bala de canhão, que me cortou a perna, nem mesmo um acidente.
➖ Então, o que foi?
➖ Simplesmente uma enfermidade, um tumor no joelho. Um dia o médico declarou que era preciso cortar a minha perna.
➖ Ah vovó, eu quisera antes morrer.
➖ Eu também.
➖ Por que, então, aceitou que a cortassem?
➖ Lina, não era possível; não vivia só para mim. Morrer quando se quiser, é luxo... e, algumas vezes, é covardia. Eu tinha de olhar para quatro filhinhos, que necessitavam muito de mim.
➖ Mas, para a cortar, fizeram você dormir?
➖ Não, eu não quis; tinha muito medo de não acordar e abandonar os meus filhos. E, afinal, se se tem de sofrer, é porque Deus o quer ou permite.
➖ Cortaram a sua perna, assim, viva?
A boa velhinha, só em recordar o que se passara, estava pálida.
➖ Filhinha, antes da dolorosa operação, pedi o pão dos fortes, recebi a santa comunhão e pedi a Jesus Sacramentado paciência e coragem. O seu papai segurava a minha mão e até ele, pobrezinho, quase que desfaleceu.
➖ Vovozinha, então foi a comunhão que lhe deu forças. Oh! como Jesus é bom!
25. PÃO DOS FORTES
Na guerra da Criméia, um coronel francês recebe a ordem de apoderar-se de um fortim. Sem hesitar um instante, avança à frente de seu regimento, que ficou também eletrizado à vista de tamanha coragem. Calmo e impassível no meio das metralhadoras e baionetas, como se se encontrasse em uma parada militar, tomou de assalto a bateria inimiga, terrivelmente defendida pelos russos. Seu general, admirado por tão prodigiosa calma, exclama perante o Estado Maior:
➖ Coronel, que sangue frio! Onde aprendeste tamanha calma em meio de tão grande perigo?
➖ Meu general - responde com toda a simplicidade o coronel - é porque eu comunguei esta manhã.
Honra ao coronel valoroso e cristão, e valoroso justamente porque cristão: e cristão não daqueles que se envergonham de sua fé ou se contentam com a comunhão de Páscoa, mas dos fervorosos que sabem alimentar-se do Pão dos Fortes com frequência e, particularmente, diante as circunstâncias mais difíceis da vida.
26. A FORÇA PARA O SACRIFÍCIO
Em 1901, teve início na França o fechamento de todos os conventos e a expulsão dos religiosos. Foi nesse período que se deu, em Reims, o seguinte caso contado pelo Cardeal Langenieux, arcebispo daquela cidade. Havia em Reims, entre outros, um hospital que abrigava somente os doentes atacados de doenças contagiosas, que não encontravam alhures nenhum enfermeiro que quisesse cuidar deles.
Em tais hospitais somente as Irmãs de Caridade costumavam tratar dos doentes e era essa a razão por que ainda não haviam expulsado as religiosas daquela casa. Um dia, porém, chegou ao hospital um grupo de conselheiros municipais informando à Superiora que precisavam visitar todas as salas e quartos do estabelecimento, porque tinham de enviar um relatório ao Governo. A Superiora conduziu atenciosamente aqueles senhores à primeira sala, em que se achavam doentes cujos rostos estavam devorados pelo cancro.
Os conselheiros fizeram uma visita apressada, deixando perceber, no entanto, em suas fisionomias, quanto lhes repugnava demorar-se ali. Passaram então à segunda sala; mas ai encontraram doentes atacados por doenças piores, sendo obrigados a puxar logo os seus lenços, pois não podiam suportar o mau cheiro. A passos rápidos percorreram as outras salas e, ao deixarem o hospital, aqueles homens estavam pálidos e visivelmente comovidos. Um deles, ao se despedir, perguntou à Irmã que os acompanhara:
➖ Quantos anos faz que a senhora trabalha aqui?
➖ Senhor, já são quarenta anos...
➖ Quarenta anos! - exclamou o outro cheio de pasmo - de onde hauris tanta coragem?
➖ Da santa comunhão que recebo diariamente - respondeu a Superiora. E lhes digo mais, senhores, que no dia em que o Santíssimo Sacramento cessar de estar aqui, ninguém mais terá forças para ficar nesta casa.
27. O AMOR DOS PEQUENINOS
a) Primeira Comunhão
Perguntaram a uma piedosa jovenzinha:
➖ O que é a Primeira Comunhão?
➖ E' um dia de céu na terra.
Perguntaram-lhe então em seguida:
➖ E o que é o Céu?
➖ E' uma Primeira Comunhão que nunca terá fim - respondeu ela graciosamente.
E respondeu muito bem, porque a felicidade dos Anjos e Santos no Céu consiste em possuir a Deus eternamente. Ora, não é justamente a Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, que possuímos pela Santa Comunhão?
b) Dentes de Leite
Escrevia em 1905 um missionário: uma órfãzinha do Orfanato de Trichinopoli, que poderia ter dois palmos de altura, veio um dia suplicar a ele que fosse admitida à Primeira Comunhão.
➖ Que idade tens? perguntei a ela.
➖ Ah ! isso eu não sei.
Recolhida de lugar desconhecido, não se sabia quantos anos teria; nem as Irmãs o puderam descobrir.
➖ Mostra-me os dentes - disse.
Com um sorriso gracioso, descobre a inocentinha duas filas de alvíssimos dentinhos.
➖ Oh! exclamei; os teus dentes de leite dizem-me que não tens nem sete anos. Portanto, este ano não poderás fazer a Primeira Comunhão.
Meu Deus! quem o acreditaria? Tendo ouvido aquelas palavras, a menina, sem dizer nada a ninguém, corre ao quintal, toma uma pedra e, intrepidamente, faz saltar da boca todos os dentinhos. Depois, com a boca ensanguentada e com ar de triunfo, volta e diz-me:
➖ Dai-me Jesus! Eu o quero agora!
Chorando de comoção, tomei-a em meus braços e segredei-lhe ao ouvido:
➖ Amanhã, minha filha, amanhã te darei Jesus!
28. A GRAVATA BRANCA
Jorge era um verdadeiro anjinho que a todos edificava por suas virtudes. Fez a primeira comunhão num colégio de Rouen e, entre outros, fez então o seguinte propósito: 'Levarei sempre comigo a gravata branca da minha primeira comunhão até o dia em que, por suma desventura, venha a perder a graça de que ela é símbolo'.
Jorge tornou-se adulto e crescia conservando sempre a sua gravata branca. Quando irrompeu a guerra franco-prussiana, alistou-se como voluntário entre os zuavos do general De Charette. Em janeiro de 1871, por ocasião da vitória na batalha de Mans, foi ferido mortalmente. O capelão aproximou-se dele imediatamente para recolher a sua confissão.
➖ Obrigado, senhor capelão, mas já me confessei há dois ou três dias e nada me pesa na consciência; estendei-me sobre um pouco de palha e trazei-me o Santo Viático, porque vou morrer.
O capelão voltou em seguida, trazendo o Santíssimo.
➖ Antes de dar-me a comunhão, fazei-me um favor: abri a minha mochila e encontrareis ali uma gravata branca, manchada de sangue, que peço colocar-me ao pescoço.
O capelão assim o fez. Depois de ter recebido o Santo Viático, o jovem agradeceu ao capelão e disse:
➖ Eis que morro; peço-vos o obséquio de levar à minha mãe esta gravata branca e dizer-lhe que, desde o dia da minha primeira comunhão, nunca perdi a graça santificante; sim, dizei-lhe que esta gravata não recebeu outra mancha a não ser a do meu sangue derramado pela minha pátria.
29. 'QUERO IR AONDE JESUS ESTÁ!'
Um pastor protestante, inclinado ao catolicismo, foi certo dia com sua filhinha em uma visita à capital da Inglaterra. A menina contava apenas cinco anos. O pai a levou a uma igreja católica e a atenção da pequena ficou por muito tempo na lâmpada do Santíssimo.
➖ Papai - disse - para que serve aquela lampadazinha?
➖ Filha, é para lembrar a presença de Jesus atrás daquela portinha dourada.
➖ Papai, eu quero ver Jesus!
➖ Filha, a porta está trancada e Ele está escondido debaixo de um véu; por isso, não o poderás ver...
➖ Ah ! papai, como eu queria ver Jesus!.
Saindo da igreja, entraram logo depois em um templo protestante, onde não havia nem imagens, nem lâmpada e nem sacrário.
➖ Papai, por que não há lâmpada aqui?
➖ Filhinha, é porque aqui Jesus não está presente.
Desde aquele dia, a menina só falava na Igreja Católica. Nunca mais quis entrar em um templo protestante, que para ela não tinha nenhum atrativo. Perguntaram-lhe um dia:
➖ Aonde queres ir, então?
➖ Quero ir aonde Jesus está.
O pastor ficou confundido e comovido. Compreendeu, com a sua filha, que só se pode estar bem onde Jesus está. Havia de fazer-se católico, havia de abjurar sua seita e renunciar a uma renda de cem mil libras, de que vivia a sua família, e ver-se pobre de um dia para o outro. Não obstante, pai e mãe se converteram ao catolicismo, repetindo com a filha: 'Queremos estar onde Jesus está'.
30. NUM TRIBUNAL REVOLUCIONÁRIO
Na revolução francesa de 1793, a igreja de São Pedro de Besançon foi entregue a um padre cismático. Os padres católicos, fieis à Igreja, eram presos e assassinados. Um destes padres, porém, chamado João, ficara ao lado dos seus paroquianos, disposto a sofrer tudo por Deus e pela Igreja. Andava disfarçado: botas largas, blusa de carroceiro, lenço grande ao pescoço e chicote em punho, lá ia pelas ruas visitando as casas de seus paroquianos. Levava pendurada ao cinturão uma caixinha em que se achava o necessário para administrar os sacramentos, bem como uma píxide de prata onde guardava o Santíssimo.
Passaram-se muitos meses sem que a polícia suspeitasse que, naquele carroceiro, se ocultava um sacerdote, que desempenhava ocultamente os seus ministérios. Afinal, um dia, foi descoberto e imediatamente conduzido ao tribunal revolucionário.
➖ Cidadão, quem és tu?
➖ Sou o Padre João, ministro de Jesus Cristo.
➖ A lei não te proíbe exercer teu ministério?
➖ Sim; mas Deus me ordena que o faça.
➖ Parece que tens nessa caixinha cartas de correspondência com o estrangeiro?
➖ Não; isso nunca o fiz.
➖ O que levas então nessa caixa?
Temendo alguma profanação, e julgando que aqueles homens não o compreenderiam, respondeu:
➖ São hóstias.
➖ Estão consagradas? perguntou o presidente do tribunal.
➖ Sim, estão.
Deu-se, então, um fato espantoso, nunca visto em tais tribunais. O presidente do mesmo que, sem dúvida, quando menino, recebera instrução religiosa e no catecismo aprendera o dogma da presença real, gritou com voz imperiosa:
➖ Cidadãos, as hóstias estão consagradas, todos de joelhos!
Em seguida, chamou os guardas e ordenou-lhes que acompanhassem o sacerdote até a igreja sob a direção do padre cismático para repor o Santíssimo. No dia seguinte, após um juízo sumário, o padre foi condenado a ser decapitado por ter violado as leis vigentes da revolução.
31. ESTOU VENDO OS CHINESES!
Justo de Bretennières foi martirizado na Coréia em 8 de março de 1866; mas desde 6 anos de idade se sentira chamado a ser um sacerdote missionário. Em 1844, estava Justo brincando com o seu irmãozinho Cristiano, de quatro anos, fazendo buracos no chão. De repente, Justo interrompe a conversa do irmãozinho:
➖ Cale-se! Cale-se! - E, pondo-se a olhar por um daqueles buracos, acrescentou:
➖ Estou vendo os chineses, estou vendo os chineses! Vamos fazer um buraco mais fundo e logo chegaremos até eles. Cavemos mais fundo.
Cristiano inclina-se, espia e jura que não vê coisa alguma. Justo, entretanto, insiste e diz que está vendo o rosto, os trajes, o rabicho do cabelo... Inclina-se outra vez e diz:
➖ Agora os estou ouvindo.
Cristiano corre, chama a mamãe e ela também não vê nem ouve nada. Então Justo muito convencido diz:
➖ Não os ouvis porque não é a vós que eles falam; mas eu os ouço. Sim, mamãe, do fundo do buraco, lá de longe, me chamam. E é preciso que eu os vá lá salvar.
E foi, na verdade, missionário famoso na China e na Coréia. Os inimigos da religião fizeram-no sofrer horrível martírio. No momento de morrer por Jesus Cristo, disse cheio de alegria:
➖ Vim à Coréia para salvar as almas. Com gosto morro por Deus e por elas.
32. GERALDO E A EUCARISTIA
Geraldo, quando muito pequeno ainda, tinha a felicidade de brincar com o Menino Jesus que, ao se despedir, dava-lhe um pãozinho muito alvo e saboroso. Desde essa tenra idade, portava-se na igreja com tamanho recolhimento que o tinham por um anjo.
Sua piedade verdadeiramente angélica comovia os corações de todos os que o viam e, certamente, mais ainda, o de Deus. Nosso Senhor recompensava a sua terna devoção, aparecendo-lhe, durante a santa missa, em forma visível. Seu coração parecia então todo inflamado e, quando, depois da comunhão do sacerdote, o Senhor desaparecia, Geraldo ficava triste e seus olhos enchiam-se de lágrimas.
Desde aquela época sentia um atrativo sobrenatural e irresistível pela igreja, pelo augusto santuário, onde Jesus sacramentado o enchia de delícias inefáveis. À tarde, onde quer que estivesse, ao ouvir o sino chamar para a visita ao Santíssimo, deixava os seus brinquedos e dizia aos companheiros:
➖ Vamos, vamos visitar a Jesus que quis fazer-se prisioneiro por nosso amor.
E era de ver com que fervor e a devoção o menino ficava ali ajoelhado, imóvel e abismado no seu Deus.
Tinha um desejo imenso de comungar, mas por não ter a idade requerida, não lhe permitiam. Deus, porém, quis satisfazer o desejo ardente de Geraldinho, que recebeu a comunhão, miraculosamente, das mãos de um anjo.
Aos dez anos, fez a sua primeira comunhão solene com o ardor de um serafim; e, daí em diante, a Eucaristia foi o pão necessário de sua alma. Também, não tardou muito, o confessor lhe permitiu a comunhão diária.
33. UM NOVO JUDAS
Um menino, chamado Fúlvio, fazia os seus estudos num dos principais colégios de França. Enquanto a mãe o conservou sob suas vistas, foi o menino preservado dos graves perigos que ameaçam os pequenos; mas no colégio apegou-se Fúlvio a dois colegas maus e corrompidos com os quais vivia em estreita amizade.
Bem depressa, por causa deles, perdeu a inocência e, com ela, a paz do coração. Alguns livros imorais dados por esses companheiros acabaram por perdê-lo. Aos doze anos, foi admitido à primeira comunhão; infelizmente não a fez por devoção, mas apenas para obedecer à mãe, sem propósito de mudar de vida nem de abandonar as más companhias.
Confessou-se sacrilegamente, calando certos pecados vergonhosos e, assim, com o demônio no coração, com o pecado mortal na alma, teve a temeridade de receber a comunhão. Os pais, enganados pelas aparências, julgaram-no bem comportado e o mandaram-no de novo para o colégio. Fúlvio, porém, por sua indisciplina e preguiça nos estudos, teve um dia de ser severamente castigado pelo diretor e encerrado por algumas horas na sala de reclusão do colégio.
Chegada a hora de ser colocado em liberdade, vão ao quarto que servia de reclusão e, antes de abrir a porta, escutam do lado de fora.... Não ouvem nada... nenhum movimento... Bate-se à porta e ninguém responde. Abre-se, afinal, a porta, e o que é que se vê? Ai! que horror! O infeliz rapaz enforcara-se e estava morto!
Imaginem-se os gritos e gemidos no colégio. Sobre a mesa, foi encontrada uma carta na qual estavam expressos os sentimentos de uma alma ímpia, desesperada, sacrílega. Tal foi o fim do desditoso rapaz, vítima de maus companheiros, e que, tendo pecado como Judas, teve também a morte de Judas.
37. UMA PRIMEIRA COMUNHÃO E UMA CURA
Luís e Zélia Martin, pais de Santa Teresinha, tinham uma filhinha chamada Maria, que se preparava para a primeira comunhão. Ao mesmo tempo a Irmã Maria Dositeia, tia da pequena, estava afetada de tuberculose. Um dos conselhos mais veementes que Zélia dava à filha era o de arrancar a Deus a cura da Irmã Dositeia.
'No dia da primeira comunhão', repetia ela a cada passo, 'alcança-se tudo o que se pede'. A criança assim o entendeu. Estudou o catecismo com entusiasmo e fez uma verdadeira ofensiva de orações e sacrifícios. Estava certa do milagre como se já o visse feito. O que ela queria, em sua ingênua teimosia, era , se fosse necessário, fazer mudar a vontade de Deus. São José servia-lhe de advogado.
Chegou, enfim, o grande dia da primeira comunhão: 2 de julho de 1869. A pequenina ainda não havia completado nove anos e meio. Falando a neo-comungante, dizia a mãe: 'Oh! como ela estava bem preparada; parecia uma santinha!' O Pe. capelão disse que estava muito satisfeito com ela e deu-lhe o primeiro prêmio de catecismo.
Maria, após a comunhão, dizia que havia rezado tanto pela tia Dositeia que tinha a certeza de ser ouvida por Deus. Realmente, a tia começou a melhorar; as lesões pulmonares foram cicatrizando rapidamente. Mais tarde, não sem uma certa melancolia, havia de dizer à sobrinha: 'A você é que devo estes sete anos de vida'. A pequenina, por seu lado, atribuía as honras da cura a São José e, na confirmação, quis que acrescentassem ao seu nome o de Josefina.
38. NÃO VOS AFASTEIS DOS SACRAMENTOS
Havia em Tolouse (França) uma família pouco religiosa. Como o colégio dos jesuítas era sem dúvida o melhor da cidade, os pais resolveram internar nele o primeiro filho. O menino, mais dado à piedade que os seus pais, começou a frequentar os sacramentos e disso tirava grande proveito espiritual. Tendo notícia desse fato, correu a mãe do menino ao diretor do colégio e lhe disse: 'Padre, o senhor está fazendo de meu filho um beato, um carola. Saiba que não quero que ele seja um frade ou um vigário'.
Não contente com isso, e para vigiá-lo melhor, mudou-se para a cidade e pôs o filho no colégio como externo. Assim poderia impedir as suas comunhões frequentes. Pobre mãe! Tinha medo que o menino se desse todo a Deus e que fosse um cristão fervoroso. Que é, porém, que aconteceu? Eis: pouco a pouco, as comunhões do jovem foram ficando mais raras... até que, afinal, nem uma por ano, nem pela Páscoa. O mais se pode adivinhar facilmente. A corrupção invadira o coração do rapaz e tomara o lugar da virtude e da piedade.
Quando percebeu isso, a infeliz mãe correu alvoroçada a suplicar ao diretor que fizesse seu filho voltar à comunhão e à moral cristã. Mas o padre deu-lhe esta resposta: 'Minha senhora, é demasiado tarde: o seu filho está perdido. Cumpri com o meu dever; era preciso que a senhora cumprisse com o seu'. E o padre tinha razão. Não levou muito tempo o desgraçado jovem morreu consumido de vícios horrendos e vergonhosos.
39. UMA CURA EM LOURDES
Quando Jesus andava pelo mundo, bastava a sua palavra e, às vezes, um olhar seu para curar os doentes e ressuscitar os mortos. A hóstia consagrada, onde se acha oculto, tem o mesmo poder, quando Ele assim o quer. E' muito notável um caso referido pelo célebre médico Dr. Boissarie, em seu relatório dos milagres de Lourdes.
Margarida de Saboia chegou à gruta em estado lastimável: entrevada, metida num caixão como se fosse um cadáver, pálida, sem voz e raquítica; tendo embora 25 anos, pesava apenas 16 quilos. Quando partiu para Lourdes, os médicos lhe disseram que não teria mais de 15 dias de vida; e os da gruta não se atreveram a tocá-la, porque ainda mal respirava. Nem sequer pensaram em levá-la à piscina, mas contentaram-se em a colocar diante da Virgem ali mesmo.
Ao passar o Santíssimo, uma sacudidela forte e irresistível a tirou para fora da sua maca. Quando Margarida se deu conta de que estava de joelhos ao pé da maca, levantou-se por si mesma, sem auxílio de ninguém, e gritou com toda a força: 'Estou curada!' A mãe, atônita, correu ao encontro da filha que a abraçou e gritou com voz forte: 'Mãe, estou curada!'
No mesmo dia - diz o Dr. Boissarie - entrou em nosso escritório, bem segura sobre os próprios pés, embora meio morta pela debilidade. O seu contentamento era tão grande e a sua alegria tal que nem sentia fraqueza. Dissemos que pesava 16 quilos; poucos dias após a cura, pesava já 44. O crescimento tomou o seu curso natural e a estatura aumentou de sete a oito centímetros. Isto na idade de 25 anos! Aqui não se trata de uma cura, mas de uma ressurreição. A virtude do Deus da Eucaristia operou este milagre.
40. O MEDO DO COROINHA
São Pedro de Alcântara, nascido em 1499, entrou na Ordem dos Franciscanos com a idade de 16 anos. Foi um dos santos mais penitentes e favorecidos de Deus em seu tempo. Santa Teresa de Ávila, que o conhecia de perto, conta-nos que São Pedro passara 40 anos sem dormir mais de hora e meia por dia. O santo não se deitava, mas ficava assentado com a cabeça encostada a uma viga de madeira da parede. Essa foi a penitência que mais sacrifícios lhe custou.
Além disso, usava terríveis cilícios e passava três dias, às vezes até oito dias, sem outro alimento que a Sagrada Comunhão. Em vista de tudo isso, não é de estranhar que se tenha elevado à mais alta contemplação e Jesus o tenha favorecido com inefáveis carícias, mormente na missa e na sagrada comunhão.
Conta-se que, em um certo convento, o coroinha, que ajudava a missa do santo, era um menino inocente e bonzinho. Um dia, ao regressar da igreja, o menino procurou a sua mãe e lhe disse:
➖ Mas por que, meu filho, não hás de ajudar o Padre Pedro, que é um padre tão santo?
➖ Mamãe, ao ajudar-lhe a missa, várias vezes tenho visto um menino lindo, muito lindo, nas mãos dele; e, na hora da comunhão, ele come aquele menino. Mamãe, tenho medo que ele me coma também.
A mãe, que conhecia a santidade do Padre Pedro, compreendeu logo o mistério e disse ao filho:
➖ Não temas, meu filho; é o Menino Jesus que está na Hóstia... Que feliz és tu, que o vês com teus olhos inocentes!
Daí em diante o menino não teve mais medo e ajudava à missa do santo com muito gosto e devoção.
41. ESTE MENINO SERÁ PADRE
O que vamos narrar é um episódio da vida de São João Bosco. Um certo dia, foi procurá-lo a Condessa D. Z. para suplicar-lhe que abençoasse os seus quatro filhinhos. Dom Bosco, sempre amável e amigo das crianças, com muito afeto deu uma poderosa bênção aos pequeninos.
A Senhora Condessa, que também se ajoelhara, levantou-se certa de que a bênção daquele sacerdote, que ela considerava um santo, atrairia sobre toda a família graças copiosas de Deus. Depois, apertando a si os filhos e sabendo, como era notório, que Dom Bosco via o futuro, perguntou-lhe:
➖ Dom Bosco, o que será dos meus filhos?
Dom Bosco, gracejando, referiu-se a cada um, a começar pelo mais velho, profetizando o bem a todos. Quando chegou ao último, pôs-lhe a mão sobre a cabeça, contemplando-o com particular interesse.
➖ Qual será a sorte desse, Dom Bosco?
➖ Da sorte deste último não sei, senhora condessa, se ficarás muito contente...
➖ Diga, pois, o que lhe parece.
➖ Bem! deste menino digo que será um ótimo padre!
A estas palavras, a cena transformou-se de repente; a nobre dama empalideceu, apertou a si o menino como para livrá-lo de uma desgraça, e fora de si exclamou:
➖ Meu filho, um padre? Antes peço a Deus que lhe tire a vida!
Dom Bosco, que tinha pelo sacerdócio a mais alta estima, sentiu dolorosamente aquelas palavras e, erguendo-se pesaroso, despediu a condessa. Poucos meses depois, de fato, o filho mais novo da condessa lhe foi arrebatado por uma doença fulminante.
42. O AMOR DE UM VELHINHO
Um dia São Afonso Rodríguez, irmão leigo jesuíta, muito bom e muito santo, estava rezando diante de uma imagem de Maria. Já era velhinho e passava longas horas aos pés de sua boa Mãe do Céu. Às vezes, punha-se a chorar como uma criança; às vezes, sorria como um anjo. Tinha algum sofrimento? Lá ia logo comunicá-lo a Nossa Senhora. Sentia alguma alegria? Depressa, ia contá-la à Mãe do Céu. Tentavam-no os demônios? Corria aos pés da Imaculada e pedia-lhe que não o desamparasse nem na vida e nem na morte.
Num certo dia, estava ele a dizer a Nossa Senhora que a amava muito, muitíssimo, com toda a sua alma e com todo o seu coração. E parecia ao santo velhinho que a Virgem Santíssima lhe sorria amavelmente. Ouviu, enfim, ou pareceu-lhe ouvir do fundo de sua alma uma voz que dizia:
➖ Afonso, quanto me amas?
E o bom velhinho respondeu:
➖ Olha, minha boa Mãe do Céu: amo-te tanto, tanto, que é impossível que me possas amar tanto como eu te amo.
A Senhora, ouvindo isso, levantou a mão amorosa, deu-lhe uma leve bofetada e lhe disse:
➖ Cala-te, Afonso, cala-te!... o que estás a dizer? Eu te amo imensamente mais do que tu serias capaz de me amar.
Eis por que devemos amar a Maria: ama-nos tanto que jamais poderemos compreender toda a grandeza do seu amor.
43. SENHORA, SEDE VÓS A MINHA MÃE
Era no mês de novembro. Amarelas e secas caíam as folhas das árvores, como secas e murchas caem do coração as ilusões da vida, quando se aproxima o inverno da velhice. Em Ávila, numa nobre casa, está agonizando na primavera da vida uma distinta e piedosa senhora: dona Beatriz Ahumada. Os sacerdotes, ali reunidos, rezavam as orações dos agonizantes, quando aquela senhora abriu os olhos, olhou ao redor de si e com voz apagada, disse:
➖ Teresa! Chamem a Teresa!
Uma menina de uns doze anos, de singular modéstia e extraordinária formosura, penetrou no quarto e aproximou-se da cabeceira da mãe agonizante. Esta, fixando a filha, e como se Nosso Senhor lhe revelasse os futuros destinos daquela menina, exclamou:
➖ Bendita... bendita! E expirou.
Levantando-se a menina desfeita em pranto, beijou pela última vez aquelas mãos frias e retirou-se a um aposento, onde havia um quadro de Nossa Senhora pendurado à parede. Ali deixou correr livremente suas lágrimas. Depois, erguendo os olhos com inefável ternura e uma fé imensa, disse do fundo da alma estas comovedoras palavras:
➖ Senhora, eis que já não tenho mãe; sede vós a minha mãe daqui em diante.
Aquela menina, protegida da Mãe do Céu, veio a ser uma das maiores mulheres da História, Santa Teresa de Jesus, que mereceu as honras dos altares. Tanto bem lhe adveio por haver tomado a Maria Santíssima por Mãe desde os primeiros dias de sua vida.
44. NÃO CHORES, MINHA MÃE
Carlos, menino muito devoto de Nossa Senhora, caiu gravemente doente. Seus pais, sumamente aflitos e angustiados, levaram-no ao hospital. Chegaram os médicos, examinaram o enfermo e disseram:
➖ É preciso operá-lo; seu estado é grave.
Fizeram-se os preparativos e o enfermeiro já estava pronto para dar-lhe clorofórmio, que é um líquido que faz o doente adormecer e ficar insensível às dores da operação, quando o menino começou a falar:
➖ Não, respondeu, não quero clorofórmio; garanto-lhes que ficarei quietinho.
E, dirigindo-se à mãe, que estava do lado, disse:
➖ Mamãe, dá-me o crucifixo; quero sofrer por Jesus.
Durante toda a operação, não se queixou nem chorou, mas oferecia a Deus as suas dores, com os olhos fixos no Crucifixo. Os médicos ficaram admirados de ver tanto valor e coragem num menino. Desde aquele dia não pôde articular palavra; fazia-se entender por escrito.
Seu professor, um Irmão Marista, deu-lhe uma estampa de Nossa Senhora com uma inscrição que dizia: 'Quem me ama, siga-me'. E Carlos, considerando como dirigido a si aquele convite da Mãe de Deus, escreveu:
➖ Mamãe, eu amo muito a Nossa Senhora e quero segui-la.
E como a mãe se pusesse a chorar, Carlos continuou escrevendo:
➖ Não chores, minha mãe; vou para o céu, onde rezarei por ti e por papai e estarei em companhia de Nossa Senhora; dá-me um abraço.
Depois de abraçar sua mãe, a quem muito amava, Carlos fixou com ternura a imagem de Maria, beijou-a e expirou.
45. DIANTE DA IMAGEM DE MARIA
Era Margarida uma jovem de dezesseis anos. Seu pai fôra maçom; sua mãe, nada piedosa. Educaram-na numa escola onde não se pronunciava o nome de Deus; mas Nosso Senhor amava aquela menina. De caminho para a escola, ao passar por uma igreja, sentia-se impelida a entrar a ali permanecia algum tempo a olhar para o altar.
Muitas vezes e de maneira maravilhosa falou Deus ao coração daquela menina, que, às escondidas, chegou a confessar-se e a comungar. A falta de religião no lar bem depressa a fez esquecer essas inspirações divinas. Não era má, nunca dera escândalo, mas nunca rezava nem ia à missa. Só pensava em divertir-se com as amigas, entregando-se com elas a bailes e passeios. Deus, porém, não permitiu que seu coração se manchasse de impurezas.
Era o primeiro dia da novena de Nossa Senhora do Carmo. Algumas moças, levando jarros, velas e flores, entraram na igreja, onde ia começar a novena solene. Margarida, que passava por ali com suas alegres companheiras, sentiu um não sei o quê no coração e , dirigindo-se às outras, disse:
➖ Vamos entrar; vamos ver o que fazem essas beatas.
E entrou... Pôs-se diante de Nossa Senhora do Carmo e contemplou-a muito tempo. Não sei o que lhe disseram aqueles olhos da Senhora; o que sei é que Margarida ajoelhou-se, ajuntou as mãos... a novena começou, terminou, passaram-se longas horas e ela ali estava imóvel, ajoelhada, os olhos fixos na Senhora e derramava lágrimas, muitas lágrimas... E ali ficaria a noite inteira, se o sacristão não lhe fosse dizer que saísse, pois ia fechar a igreja... que já era tarde.
Aquele fôra o dia de sua definitiva conversão. Quando, mais tarde, um missionário lhe perguntou o que fizera naquelas longas horas, que passou ajoelhada aos pés de Maria, respondeu:
➖ Não fiz mais que dizer-lhe que tivesse compaixão de mim, me perdoasse minhas graves culpas e, não permitindo que me tornasse infiel à sua voz, me desse a graça de começar uma vida tão penitente que reparasse meus erros passados.
Deveu a Nossa Senhora a graça da conversão.
46. VALOR DIGNO DE IMITAÇÃO
O famoso orador P. Sarabia narra o seguinte fato: 'Vivíamos então em plena revolução comunista. As greves socialistas tinham envenenado os nossos operários e cada dia era maior o número dos que militavam sob bandeiras vermelhas. Eram muitos e muito ousados... porque os governos liberais não defendiam os direitos da ordem e da verdade.
Poucas eram as procissões, que, naquele tempo, saíam à rua; em algumas regiões, as poucas que saíam raramente voltavam à igreja em paz sem serem molestadas. Certo dia, em Bilbao, os católicos organizaram uma soleníssima procissão. Todas as forças católicas, levando as suas bandeiras e estandartes, haviam de subir ao santuário de sua rainha e Senhora, a Virgem de Begoña.
E marchavam aquelas filas intermináveis de fervorosos católicos, ao som de magníficos hinos religiosos, com a fronte erguida e o coração tranquilo... e marchavam como quem exerce um direito e representava a verdade e a glória. De repente ouve-se um tiro. Houve um momento de confusão. Soou outro tiro... e logo mais outro... Não restavam dúvidas, os ferozes socialistas estavam escondidos atrás de alguma sacada e dali descarregavam suas armas, impunemente, sobre os católicos. Houve um momento em que as filas se cortaram e alguns correram a esconder-se nas entradas das casas. Mas não foi mais do que um instante.
Logo os presentes se refizeram e subiam até a igreja à frente da santa imagem de sua Rainha e Senhora. E não eram poucos os valentes que se metiam pelas ruas e pelas casas à caça dos covardes que pretendiam estorvar o triunfo da Virgem. Contudo os tiros aumentavam. O alvo preferido era o estandarte da Imaculada carregado pela presidente das Filhas de Maria. Estava já várias vezes perfurado de balas.
Naquele solene e trágico momento, alguns moços marianos aproximaram-se da presidente e disseram-lhe: 'Quando sibilam as balas, as mulheres vão para casa ou para a igreja, e os homens ficam no campo de batalha...' Queriam, pois, que lhe entregassem o estandarte da Imaculada, que eles o defenderiam. Mas as Filhas de Maria agruparam-se em torno de sua bandeira e a heroica presidente respondeu-lhes: 'Levareis este estandarte da Virgem, quando eu e todas as Filhas de Maria tivermos morrido aos seus pés'. E os comunistas, encarniçados inimigos da religião, não puderam impedir que a majestosa procissão chegasse ao Santuário da Nossa Senhora de Begoña. Com que carinho de Mãe não terá recebido a todos a excelsa Rainha e Senhora!
47. DEVOÇÃO A NOSSA SENHORA
I. Um dia estava o Santo Cura de Ars em êxtase diante de uma imagem de Nossa Senhora. Uma pessoa ouviu este diálogo:
➖ Boa Mãe, sabeis que não pude converter tal pecador. Dai-me sua alma, que por ela levarei o cilício durante oito dias.
Nossa Senhora respondeu:
➖ Eu te concedo isso.
Há outro filho vosso, muito infeliz, do qual nada pude conseguir. Prometo-vos jejuar por ele muito tempo, se me concederes a sua conversão.
➖ Eu te concedo isso também! - respondeu a Virgem.
II. Ozanam, jovem de 18 anos e quase incrédulo, chegara a Paris. Um dia viu num canto da igreja um venerando ancião que rezava o rosário. Aproximou-se e o observou bem. Era o famoso sábio Ampère. Ozanam ficou comovido, ajoelhou-se e chorou em presença daquele espetáculo. Mais tarde costumava dizer: O rosário de Ampère produziu em mim mais fruto do que todos os sermões e livros de leitura.
48. UM GRANDE DEVOTO DE MARIA
O célebre presidente da República do Equador, Garcia Moreno, assassinado pela maçonaria em 1875, era devotíssimo de Nossa Senhora. Achando-se um dia entre operários irlandeses, que mandara vir dos Estados Unidos para montar uma serraria mecânica, interrogou-os sobre os costumes religiosos de seu país e perguntou-lhes se sabiam algum cântico em honra de Maria Santíssima.
Os bons irlandeses puseram-se logo a cantar. Garcia Moreno ouvia-os cheio de comoção. Terminado o cântico, perguntou:
➖ Vós, irlandeses, amais muito a Nossa Senhora?
➖ Sim, senhor, de todo o coração - responderam.
➖ Então, meus filhos, acrescentou o Presidente, ajoelhemo-nos e rezemos o rosário, a fim de que sempre preserveis no amor e no serviço de Deus.
E todos, ajoelhados ao redor do presidente, rezaram com grande fervor e com os olhos úmidos de pranto, a coroa mariana. Foi na devoção a Nossa Senhora que Garcia Moreno encontrou a força daquela fé viva que, diante dos assassinos, lhe pôs nos lábios, como um grito de desafio, a palavra memorável: 'Deus não morre!'
49. OS DOIS SOLDADOS
Foi na guerra de 1914-18. Um soldado francês narra o seguinte fato: 'Nunca me esquecerei de um episódio, que eu mesmo presenciei. Atacamos à tarde; depois de algumas oscilações, penetramos na trincheira inimiga, onde jaziam cadáveres horrendamente massacrados pelos canhões.
No momento do novo ataque, uma metralhadora inimiga camuflada abateu alguns dos nossos; eu fui um deles. Passados os primeiros instantes de terrível impressão pelo ferimento recebido, olhei ao redor. Dois soldados jaziam por terra agonizantes: um alemão, bávaro, louro e muito moço, com o ventre dilacerado e, ao lado dele, um francês, igualmente jovem. Ambos manifestavam já a palidez da morte; a minha maior dor era de não poder mover-me para socorrer ou ao menos suavizar a morte do meu camarada.
Foi quando o francês, com supremo esforço, procurou com a mão alguma coisa que estava sobre o peito, debaixo do capote. E tirou um pequeno crucifixo que levou aos lábios; depois, com voz fraca, mas ainda clara, rezou: Ave, Maria...
Vi então outra coisa. O alemão, que até aquele momento não dera sinal de vida, abriu os olhos azuis e meio apagados, virou a cabeça para o francês e respondeu: Santa Maria Mãe de Deus... O francês, um tanto, surpreendido, olhou para o seu vizinho; seus olhares encontraram-se; o francês apresentou o crucifixo ao bávaro, que o beijou; apertaram-se as mãos num frêmito de amor a Deus e à pátria; seus olhos fecharam-se, e o espírito desprendeu-se do corpo, enquanto o sol os iluminava através de purpúreas nuvens... Amém, disse em seguida, e fiz o sinal da cruz'.
50. O SORRISO DA IMACULADA
Quatro anos após a definição do dogma da Imaculada Conceição, Nossa Senhora se dignou baixar à terra para confirmar de um modo estupendo a declaração do Papa Pio IX, de santa memória. Foi em Lourdes, na França, que Nossa Senhora apareceu repetidas vezes à inocente Bernadete e, na última aparição, disse: 'Eu sou a Imaculada Conceição'. Quem refere o seguinte episódio não é nenhum devoto, nem sequer bom cristão. Ele escreve:
'Quando já se falava muito das aparições de Lourdes, achava-me em Cauterets, povoação próxima de Lourdes, mais para distrair-me do que para curar-me. Achei graça ao ouvir que a Virgem sorrira para Bernadete e resolvi ir a Lourdes para ver a Vidente e surpreendê-la na mentira. Fui a casa dos Soubirous e encontrei Bernadete sentada à porta cerzindo umas meias. Pareceu-me o seu rosto bastante vulgar; apresentava sinais de enfermidade crônica ao par de muita doçura. A instâncias minhas contou-me as aparições com toda a simplicidade e convicção.
➖ Mas é verdade que a Virgem sorriu?
➖ Sim, sorriu.
➖ E como sorria?
A menina olhou-me com ar de espanto, e disse:
➖ Mas, senhor, seria preciso ser gente do céu para repetir aquele sorriso.
➖ Não o poderia repetir para mim? Sou incrédulo e não creio nas aparições.
O rosto de Bernadete tornou-se triste e severo.
➖ Então julga o senhor que menti?
Senti-me vencido. Não, aquela menina tão cândida não podia mentir. Ia pedir-lhe desculpas, quando ela acrescentou:
➖ Bem; se o senhor é um pecador, tentarei imitar o sorriso de Nossa Senhora.
A menina ergueu-se lentamente, juntou as mãos e um reflexo celeste iluminou seu rosto. Um sorriso divino, que jamais vi em lábios mortais, encantou os meus olhos. Sorria ainda, quando caí de joelhos, vencido pelo sorriso da Imaculada nos lábios da ditosa vidente. Desde aquele dia nunca mais se me apagou da imaginação aquele sorriso divino. Passaram-se muitos anos, mas a sua recordação enxugou-me muitas lágrimas ao perder a minha esposa e minhas duas filhas. Parece-me estar só no mundo e vivo do sorriso da Virgem'.
51. NÃO IREI DORMIR EM PECADO
Quando fez a sua primeira comunhão, tomou um menino a resolução de nunca ir dormir em pecado mortal na consciência. O seu propósito era: 'se tivesse a desgraça de cair em falta grave, irei confessar-me no mesmo dia e não irei para a cama antes de me haver conciliado com Deus'. Alguns meses mais tarde teve a fraqueza de cometer um tal pecado. Era sábado, fazia mau tempo e a igreja era distante. Ele dizia:
➖ Amanhã, quando for à missa, procurarei o confessor e me confessarei.
Lembrou-se, porém, de sua promessa e uma voz interior lhe diz:
➖ Faze o que prometeste, vai te confessar...
Contudo, não se resolvia ir e, nessa luta, ajoelhou-se e implorou o auxílio de Nossa Senhora, rezando uma Ave-Maria para que lhe fizesse conhecer a vontade de Deus. Apenas terminara a sua oração, sentiu-se mais vivamente impelido a ir confessar-se imediatamente. Levantou-se, correu à igreja e confessou-se.
De volta encontra-se com sua madrinha, que lhe pergunta de onde vem.
➖ Acabo de confessar-me, diz com rosto alegre e feliz: cometi um pecado e não quis ir dormir sem alcançar o perdão; agora, sim, tendo recuperado a graça de Deus, posso dormir tranquilo...
Sua mãe tinha o costume de deixá-lo dormir um pouco mais aos domingos; por isso não foi despertá-lo cedo. Às sete horas bate à porta, chama-o pelo nome. Não tem resposta. Passa um quarto de hora e o menino não aparece. Chama-o de novo, mas sem resultado algum. Inquieta, abre a porta, abeira-se da cama onde o filho jaz imóvel; pega-lhe, está fria; fixa-o um instante, dá um grito e desmaia. O menino estava morto! E se não tivesse ido confessar-se?
52. ENTRE NA MINHA GUARITA!
O veterano capitão Hurtaux, cavaleiro da Legião de Honra, não era católico praticante; tinha, como muitos homens, certo temorzinho ou respeito humano de chegar-se à confissão. Muito antes de dar o passo definitivo, gostava de invocar a Santíssima Virgem, indo rezar no santuário de Nossa Senhora em Chartres, onde morava.
Um dia, estando de joelhos diante de um grande Cristo na catedral, viu que um sacerdote, que o conhecia e tinha a franqueza de um militar, aproximou-se, bateu-lhe no ombro e disse:
➖ Capitão, pouco adianta estar o senhor estar aí a rezar, se não se põe na graça de Deus. E, tomando-o pelo braço, acrescentou:
➖ Entre na minha guarita.
O capitão deixou-se levar, fez a sua confissão e saiu com o rosto radiante e a alma revestida da graça de Deus. Foi desde esse dia um cristão modelo: todos os dias fazia a sua hora de guarda aos pés de Nossa Senhora e não se levantara sem lançar um afetuoso olhar para a Mãe do Céu. Um dia, afinal, já não pôde ir fazer a guarda e teve Nosso Senhor, sem dúvida acompanhado de sua Mãe, que vir ao leito de morte de seu servo. Recebeu os sacramentos com fé viva e, ao apresentar-lhe o padre a sagrada Hóstia, exclamou:
➖ Senhor, não sou digno... não sou digno que venhais à minha casa, mas sois tão bom!
O capitão não se envergonhava de suas crenças nem dissimulava suas práticas piedosas e sabia tapar a boca dos que o interpelavam.
➖ Aonde vais? perguntou-lhe certo dia um amigo, ao vê-lo dirigir-se a uma igreja.
➖ Vou aonde tu deverias ir e não tens coragem.
Com este seu gênio tão simples como firme granjeara o respeito de todos.
53. UM CASTIGO E UMA GRAÇA
O Sr. Beauveau, marquês de Novian, deveu a sua conversão e vocação religiosa à Companhia de Jesus a uma vitória sobre o respeito humano para honrar a Nossa Senhora. Em 1649, estando as tropas alemãs na região da Alsácia-Lorena, alguns soldados alojados em Novian, depois de haverem bebido em excesso, puseram-se a jogar.
Um deles, depois de haver perdido no jogo, vendo uma estátua de Nossa Senhora colocada na parede, ficou furioso como se fôra ela a causa de sua falta de sorte, e começou a golpeá-la proferindo horríveis blasfêmias. Apenas terminara, caiu por terra com um tremor em todo o corpo e dores tão fortes e contínuas que foi impossível fazê-lo tomar alimento durante quatro ou cinco dias. Tendo a tropa recebido a ordem de partir, ataram o infeliz em seu cavalo para que acompanhasse a marcha. Soube-se que, à força de agitar-se, caíra da montaria e morrera no caminho, mordendo a terra espumando de raiva.
Naquela vila falou-se, por muito tempo, do exemplar castigo do blasfemo. Dois anos após, a pedido de um missionário, resolveu-se fazer um ato solene de reparação. Para esse fim, foram àquela casa em procissão o vigário, o missionário, alguns outros sacerdotes e o povo de Novian com o marquês à frente.
Chegados ao lugar, por mais que o padre chamasse a alguns homens, nenhum se apresentou para levar a imagem à igreja. O Sr. Beauveau, indignado com semelhante indiferença para com Nossa Senhora, sentiu-se interiormente movido a levá-la ele mesmo. Apesar do respeito humano e de parecer beato aos olhos daquela gente, tomou a imagem e levou-a com respeito à capela do castelo onde, por ordem do bispo, foi colocada com todas as honras.
Maria Santíssima não tardou a recompensar esse ato de piedade, pois, segundo declarou ele mesmo, começou o marquês a receber tal abundância de graças e tão fortes inspirações para a vida perfeita que não só se tornou um cristão modelo, mas ainda abraçou a vida religiosa, na qual viveu e morreu santamente.
54. CASTIGO DE UM ESTUDANTE
Dois estudantes perversos iam certo dia pelo caminho que conduz ao santuário de Nossa Senhora de Ostaker, onde muitos enfermos recobram a saúde, bebendo água da fonte milagrosa. Discorriam ambos sobre como se divertiriam naquele feriado, quando um exclamou:
➖ Sabes o que vamos fazer?
➖ Não.
➖ Um milagre; sim, um autêntico milagre. Não te rias e ouve-me. Vendar-te-ei os olhos, tu te fingirás de cego e eu te levarei à fonte.
➖ E depois?
➖ Quando chegarmos, começarás a rezar, lavarás os olhos com a água, e gritarás que estás curado, que estás vendo... assim pregaremos uma peça aos devotos. Não te parece divertido?
➖ Sim, ótimo. E quando voltarmos, contaremos o prodígio aos jornais e como se rirão os leitores desses pobres imbecis que vão lá buscar saúde. Falarão de nós e nos tornaremos célebres...
➖ Vamos...
Assim foram nossos dois comediantes, fazendo cada um o seu papel, até a fonte milagrosa. Como sempre, havia ali muitos peregrinos. Vendo os dois jovens, aproximaram-se deles com sinais de simpatia como fazem os bons cristãos com os enfermos. Todos se puseram a rezar enquanto o jovem ímpio se aproximava da fonte para se lavar.
Com o auxílio de seu hipócrita companheiro, tira o pano dos olhos, fingindo chorar e lamentar-se de seu infortúnio. Toma da água, esfrega os olhos... Mas, ó milagre! A água produz o efeito! Uma espessa névoa lhe cobre os olhos. Não vê mais nada, está cego! Lança então um grito de desespero, chama por sua mãe, conjura a Santíssima Virgem que lhe perdoe... censura seu companheiro, mudo de espanto, por lhe haver aconselhado aquela maldade.
Os peregrinos, espantados, nada compreendiam daquela cena. Fazem-lhe perguntas e arrancam-lhes a confissão da culpa. Nunca se vira emoção semelhante ao redor da fonte; em vão põem-se os peregrinos em oração para obter o perdão aos miseráveis. Deus não suporta que se zombe de Maria, sua Mãe: o cego ficou cego... Teve este tamanho pesar de seu crime, que perdeu o juízo e foi terminar num manicômio, onde esperamos que Nossa Senhora, em vista de sua pena temporal, lhe tenha alcançado a misericórdia de Deus.
55. DEUS ME CHAMA
Um missionário lazarista, falecido na Itália em fins do século passado, pregava retiro a umas jovens de Constantinopla precisamente nos dias em que a cólera invadia a infeliz cidade. Na manhã do terceiro dia, bem cedo, viu o missionário chegar uma das jovens retirantes, que lhe disse:
➖ Padre, desejo confessar-me e fazer uma boa comunhão esta manhã. Depois da missa lhe direi o motivo.
Comungou com singulares mostras de fervor. Depois da ação de graças veio a dizer-lhe:
➖ Padre, esta noite, passei-a acordada e tive a sensação de que chegara para mim o momento da morte e minha alma, separada do corpo, era levada por meu anjo da guarda ao tribunal do soberano juiz. Já não era o Salvador tão bom e misericordioso, de que tantas vezes nos falam os padres, mas um juiz inexorável. Iam chegando de todas as partes do mundo inúmeras almas; muitas iam para o inferno, outras muitas para o purgatório, muitas poucas diretas para o céu.
Perturbada e atemorizada, levantei os olhos e - ó felicidade! - minha boa Mãe, a Imaculada, ali estava a olhar para mim com uma doçura infinita. Animada com esta vista, do fundo do meu coração saiu o grito que repetia muitas vezes na terra: 'Boa Mãe, Mãe do Perpétuo Socorro, socorrei-me, salvai-me!'. Estava eu aos pés do tribunal de Deus e a minha sorte eterna ia decidir-se num instante. De repente, uma voz melodiosa, como nenhuma outra da terra, se fez ouvir:
➖ Meu Filho, esta é minha filha.
Então Nosso Senhor, voltando-se para a sua gloriosa Mãe, disse-lhe com inefável carinho, que não se pode exprimir em linguagem humana:
➖ Pois é vossa: julgai-a Vós.
E por todo juízo a Rainha dos Santos abriu-me os braços e eu me refugiei neles. Era feliz por toda a eternidade!
Calou-se a jovem. Seu rosto brilhava como se ainda estivesse vendo aquela visão celeste. O missionário, mais impressionado do que deixava perceber, pregou naquela manhã sobre a necessidade da preparação para a morte. Apenas havia terminado, vieram chamá-lo com toda a urgência; uma das jovens que assistiam ao retiro acabava de cair de cama vítima da cólera. Naquele corpinho, que se retorcia com a violência da doença, reconheceu ele a jovem da visão.
➖ Padre, eu bem lhe dizia, Deus me chama!
E duas horas depois, com um sorriso celestial nos lábios, sua alma voava para a glória, repetindo pela última vez sua jaculatória favorita:
➖ 'Minha Mãe, Mãe do Perpétuo Socorro, socorrei-me, salvai-me!'
56. UM SACRISTÃO E UMA VOZ MISTERIOSA
Na pequena cidade de Ostra-Brama, Polônia, há uma bela igreja onde, há séculos, se venera uma devota imagem de Nossa Senhora das Dores. No mês de março de 1896, um forasteiro, falando polonês com sotaque russo, apresentou-se ao sacristão com dois grossos círios, dizendo que queria que ardessem diante da milagrosa imagem até se acabarem.
➖ Fiz promessa - disse - que fiquem acesos até amanhã depois da missa sem que se apaguem.
Tendo um grande negócio, que amanhã se há de decidir e só me resta este tempo para recomendá-lo a Nossa Senhora. Se quiser, irei junto para colocá-los na igreja.
➖ Eu o farei com gosto - replicou o sacristão - mas o caso é que, quando se deixam luzes na igreja, tenho de passar a noite lá, por temor de um incêndio.
➖ Sei - disse o desconhecido - mas por esse seu trabalho dou-lhe agora mesmo dois rublos.
A filha do sacristão preparou ao pai a ceia e roupas quentes e o russo foi com ele acender os círios, rezou alguns minutos e foi-se embora. O sacristão, uma vez sozinho, tocou as Ave-Marias, fechou as portas, rezou sua oração da noite, sentou-se numa cadeira, na sacristia, e logo começou a cochilar. De repente ouve uma voz que lhe grita:
➖Apaga, apaga os dois círios!
Assustado, levanta-se, olha para todos os lados e não vê ninguém. Julga ter sido um sonho e torna a dormir; mas, pouco depois, desperta-o a mesma voz misteriosa:
➖ Apaga, apaga os círios!
Como não vê ninguém, para acabar com aqueles sonhos, acha que seria melhor apagar as velas; mas, lembrando de sua promessa e do dinheiro recebido, pôs-se a rezar o rosário até que, vencido pelo sono, adormece pela terceira vez. Desta vez, a voz desperta-o com mais força:
➖ Apaga, apaga depressa os círios.
Convencido afinal de que a voz vinha do alto, apaga os círios e fica tranquilo. Ao romper do dia, toca as Ave-Marias, prepara o altar para a missa e começam a chegar os fiéis e também sua filha. Esta, terminada a missa, pergunta ao pai por que apagara os círios. Inteira do que acontecera, após a saída dos fiéis, levaram os círios para examiná-lo, pois notaram que eles tinham um peso extraordinário.
O sacristão, com uma faca foi rasgando a cera e, no interior do círio, viu que o pavio penetrava num tubo de ferro. Suspeitando uma armadilha sacrílega, puseram os círios num barril de água e foram depressa avisar ao vigário e ao delegado de polícia. Descobriram, então, que os dois tubos estavam carregados com dinamite e calculados para explodir precisamente à hora da missa. Imagine-se a gratidão dos habitantes de Ostra-Brama para com Nossa Senhora por os ter livrado, com sua intervenção direta, do terrível atentado.
57. SALVO POR NOSSA SENHORA
Um jovem seminarista francês, por instigação de um parente, abandonou a vocação. Seus pais e mestres fizeram tudo para abrir-lhe os olhos e mantê-lo na vocação. Obstinou-se e partiu para a capital, onde conseguiu ótima colocação e ganhava bom dinheiro. Desgraçadamente, maus amigos o arrastaram aos vícios e de suas práticas religiosas só conservou o 'Lembrai-vos', oração que todas as noites rezava em louvor a Maria Santíssima.
Ao cabo de alguns anos perdeu a colocação e caiu na mais profunda miséria; e, como já não contava com o auxílio da religião, entregou-se ao desespero e resolveu acabar com a vida. Ia já lançar-se ao rio para afogar-se, quando, por inspiração singular, quis antes rezar o seu 'Lembrai-vos' a Nossa Senhora. Ajoelhou-se e rezou...
Ao levantar-se, um terror estranho se apoderou dele: parecia-lhe ver um abismo aberto e fogo abrasador diante de seus olhos; em sua mente agitada pelo remorso, começavam a despertar as recordações da infância. Percebeu que um passo apenas o separava do inferno. Fugiu atemorizado pelas ruas de Paris, sem saber aonde ia... Ao acaso? Não. Nossa Senhora guiou-lhe os passos até uma igreja, em que entrou arrastado por uma força invisível.
Uma grande multidão de fiéis rezava em silêncio diante da imagem de Maria adornada de luzes e flores.
O infeliz sentiu pouco a pouco renascer a sua confiança. Viu um padre que entrava no confessionário e foi ajoelhar-se aos pés dele. Era o Venerável P. Desgenettes, pároco de Nossa Senhora das Vitórias. Entretanto, o rapaz não tinha intenção de confessar-se; queria somente desabafar seu coração e contar a história da sua vida e de seus desvarios.
O padre recebeu-o com a bondade e doçura de uma mãe e, quando ele terminou o seu testemunho, disse:
➖ Meu filho, quero completar a sua história. Faz poucos meses que um bispo esteve pregando nesta igreja e recomendou às orações dos fiéis a um jovem, a quem queria muito, e que andava perdido em alguma parte desta capital.
O pecador, entre lágrimas e soluços, ocultou o rosto entre as mãos. O pároco ouviu-lhe a confissão preparou-o para uma fervorosa comunhão, restituindo-lhe a paz da alma. O jovem reparou os escândalos que dera, indo pedir perdão aos seus pais, mestres e ao bondoso prelado e, por fim, entrou para uma ordem religiosa para fazer austeras penitências.
58. NOSSA SENHORA E O FAMOSO CAÇADOR
Certo manhã, pouco antes do almoço, descia do trem em Lourdes um certo senhor, completamente indiferente, que mal se resolvera a acompanhar a esposa e a filha ao balneário. Não pensava em demorar-se ali mais que o tempo que medeia entre dois trens: era tudo o que conseguiram alcançar dele a esposa e a filha.
Apenas lá chegadas, correram as duas à gruta para rezar pelo chefe da família, que tanta pena lhes causava por sua irreligião. Ele, porém, mais preocupado com o estômago do que com a alma, foi à procura do melhor hotel e, chamando o garçom, disse:
➖ Enquanto espero a minha senhora e a minha filha, prepare para nós três um bom almoço.
➖ Deseja o senhor comida como de sexta-feira?
➖ Como? De sexta-feira?
➖ É que hoje é dia de abstinência e quase toda gente o guarda, pelo menos aqui.
➖ Que me importa o dia? disse o livre-pensador. Ora essa! O almoço tem que ser substancioso, e demais sou caçador, quero carne, ouviu?
O garçom inclinou-se respeitoso e deu ordem ao cozinheiro de preparar a comida com carne. Acendendo um bom charuto, o nosso homem dizia de si para si:
➖ Não há que se dizer que não vi a famosa gruta... irei ver aquilo.
Chegou lá muito antes que as duas senhoras tivessem terminado suas visitas à gruta, à basílica e à cripta, em toda a parte rezando e suplicando por seu querido rebelde. Quando chegaram de novo à gruta, que surpresa! Ali estava o homem ajoelhado, chorando e rezando com todo o fervor. Era ele mesmo? Quase não podiam crer. Sim, era ele mesmo. Não se atreviam a falar-lhe, mas ele, logo que as viu, exclamou:
➖ Sim, sou eu, rezo e choro. Somente sei que vim sem pensar em nada, mas, achando-me diante desta imagem, uma emoção indescritível se apoderou de mim. Caí de joelhos e, ao ver um padre, perguntei-lhe se podia me confessar. Atrás do pequeno altar da gruta fiz minha confissão. Oh! como sou feliz! Ficaremos aqui hoje e amanhã comungaremos.
Não foi o único a derramar lágrimas; os três choravam e davam graças a Nossa Senhora. Ao chegar ao hotel, e vendo o salão repleto de gente, exclamou:
➖ Senhores, eu sou o famoso caçador N. N. Quando cheguei aqui ainda era um ímpio; agora tendes aqui um homem que acaba de confessar-se e vai comungar amanhã.
➖ Garçom, sirva para nós o almoço de sexta-feira...
Que surpresa para todos os assistentes! Desde aquela sexta-feira o Sr. N. N. tornou-se um cristão fervoroso!
59. O ROSÁRIO NOS PERIGOS
Já faz bastante tempo, que ocorreu na cidade de Cartago, na república de Costa Rica, um terremoto tão violento que a destruiu quase por completo. A Revista 'América', dos jesuítas de Nova York, narrando os pormenores da pavorosa catástrofe, chamou a atenção dos leitores para o fato seguinte:
Dom Ezequiel Gutiérrez, que fôra presidente daquela república, no momento do cataclismo, achava-se em sua casa rezando o rosário acompanhado de toda a sua família. Algumas pessoas quiseram interromper a reza e fugir para a rua, mas o chefe obrigou-as a ficar até terminar o rosário.
Acabada a oração, saíram à rua e qual não foi o assombro de todos ao verem as casas convertidas em ruínas. Em toda a redondeza nenhum edifício ficara intacto; a desolação era completa; somente a casa do ex-presidente não sofrera nenhum dano, nem sequer um abalo. Evidentemente Nossa Senhora a tomara sob a sua especial proteção, porque ali se rezava o seu rosário.
60. O SENHOR AMA A SUA MÃE?
Foi um valente soldado o cabo Pedro Pitois, que fez essa pergunta a Napoleão. Pedro estava sempre na primeira linha de combate, não temia as balas inimigas, e, a 6 de julho de 1809, na batalha de Wagram, ainda pelejou valorosamente. Depois desapareceu. Desertara do exército. Não demorou muito, foi preso e condenado à morte.
➖ Tu, um dos mais valentes, por que fizeste isso? perguntavam-lhe os companheiros.
➖ Não me arrependo - respondia - não fiz por mal.
À meia-noite, na véspera da execução, um oficial entrou na cela de Pedro. Era Napoleão e o preso não o reconheceu. Tomando-o o pela mão, o Imperador disse-lhe com carinho: 'Amigo, eu como oficial sempre admirei o teu valor nos combates. Agora venho saber se tens alguma recordação para tua família, que a enviarei depois da tua morte'.
➖ Não, nenhuma.
➖ Não queres mandar um adeus ao teu pai, a teus irmãos ou irmãs?
➖ Meu pai é falecido; não tenho irmãos nem irmãs.
➖ E a tua mãe?
➖ Ai! não a nomeie, porque, quando ouço nomeá-la, tenho vontade de chorar e um soldado não deve chorar.
➖ Por que não? replicou Napoleão. Eu não teria vergonha de chorar ao lembrar-me de minha mãe.
➖ Ah! o senhor quer bem a sua mãe? Pois vou contar-lhe tudo.
De tudo que existe no mundo, nada amei tanto como minha mãe. Quando parti, deu-me sua bênção e disse-me: 'Se me amas, cumpre o teu dever'. Nas batalhas, diante das balas, sempre me recordei de suas palavras. Não tinha medo algum. Um dia soube que estava gravemente enferma; pedi licença para ir abraçá-la pela última vez e não me deixaram partir. Recebi, afinal, a notícia de que falecera e pedi licença para ir vê-la ao menos morta. Pela segunda vez me disseram que não. Não aguentei mais: era preciso ir depositar uma flor ao menos sobre a sua sepultura. Fui, chorei e recolhi esta flor de miosótis que aqui trago sobre o meu coração. Morrerei amanhã, mas a morte não me amedronta.
Napoleão, depois de algumas palavras de consolo, retirou-se grandemente comovido. No outro dia foi o preso conduzido ao lugar do suplício. Estando a guarda para disparar, chegou o imperador a cavalo, poupou a vida de Pedro Pitois e nomeou-o oficial.
➖ Amais a vossa mãe do céu?
Respondereis certamente com Santo Estanislau: 'Como não a hei de amar, se é minha Mãe?'. E ela vos dirá: 'Cumpri o vosso dever, e eu vos alcançarei a perseverança e a graça final'.
61. A DEVOÇÃO A MARIA DÁ VALOR
Muito tempo faz que se encontrava entre os religiosos trapistas de Sept-Fons, na França, um irmão leigo, muito velho e enfermo, que tinha na mão o seu rosário. Era o irmão Teodoro, o qual outrora havia siso um soldado valoroso. Quando, em 1812, o exército francês vencido voltava da Rússia, a coluna de Teodoro, extenuada de cansaço e de fome, encontrou-se em frente a uma bateria russa que barrava o caminho de fuga.
Um verdadeiro desespero se apoderou de todos: oficiais e soldados atiravam suas armas ao solo. Que fazer? Era no rigor do inverno e haviam caminhado longas horas sobre a neve e o gelo. Que fazer? Voltar era impossível. Ir adiante? Ali estava a poderosa bateria inimiga. Permanecer naquele posto? Era condenar-se a morrer de frio e de inanição. De repente adianta-se um oficial:
➖ Venham comigo os valentes!...
Coisa rara nos anais de nossa guerra: nem uma voz respondeu. Engano-me. Um só homem, um só, o irmão Teodoro, saiu da fila dizendo:
➖ Irei sozinho, se o senhor quiser.
Dizendo isto, tira a mochila e o fuzil e ajoelha-se na neve, persigna-se diante de todos e reza uma dezena do rosário com fervor como nunca. Toma novamente o fuzil e, de cabeça baixa, lança-se a passo de carreira, com tanta confiança como se dez mil homens o seguissem. Estava para alcançar a bateria inimiga, quando os russos, crendo que os franceses queriam apanhá-los pelas costas, enquanto se ocupassem de um só inimigo, abandonaram sua peça e bagagem e fugiram.
Dono do campo, disse nosso herói com admirável naturalidade:
➖ Eis aí! para sair de apuros, não há coisa melhor do que rezar o rosário.
O oficial entusiasmado corre para ele, tira sua própria Cruz de Honra e pendura-a ao peito do jovem, exclamando com lágrimas nos olhos:
➖ Valente soldado, tu a mereces mais do que eu!
➖ Comandante - respondeu Teodoro - não fiz mais do que meu dever.
Cinquenta anos mais tarde, com seu hábito de trapista, quando, no mais rigoroso inverno, passava a maior parte do dia de joelhos rezando o rosário, gostava de repetir:
➖ Não faço mais do que o meu dever!
62. SALVO PELO ROSÁRIO
Era em maio de 1808. Os habitantes de Madri tinham-se levantado contra o intruso José Bonaparte, que usurpara o trono dos Bourbons. Os insurretos, cheios de ódio contra os franceses, matavam sem piedade os soldados que podiam surpreender nas ruas e nas casas.
Certa manhã encontrou-se o célebre Dr. Claubry com uma turba de insurretos que, pelo seu traje, viram que pertencia ao exército invasor. O doutor era grande devoto de Nossa Senhora e pertencia à Confraria do Rosário. Naquele dia mesmo recebera a comunhão numa igreja dedicada a Nossa Senhora e voltava tranquilamente para casa.
Quando percebeu o perigo, levantou as mão ao céu e invocou os santos nomes de Jesus e Maria. Já estavam prestes a matá-lo, acoimando-o de renegado e ímpio, quando uma feliz ideia lhe passou pela mente.
➖Não - disse - não sou infiel nem blasfemo e se querem uma prova, vede o que tenho comigo. E mostrou-lhes o rosário que estava rezando.
Diante disso os assaltantes baixaram imediatamente as armas, dizendo:
➖ Este homem não pode ser mau como os outros, pois reza o rosário.
Precisamente naquele instante, como que enviado por Nossa Senhora, surgiu ali o sacristão da igreja em que o doutor comungara e, vendo-o cercado pelos insurretos, gritou bem alto:
➖ Não lhe façam mal; é devoto de Nossa Senhora; eu o vi comungar esta manhã em nossa igreja.
Ouvindo isto, os agressores acalmaram-se, beijaram o crucifixo do rosário de Claubry e levaram-no a um lugar seguro. Regressando à sua pátria, o piedoso doutor publicou o favor recebido e continuou por toda a sua vida rezando o rosário.
63. ÚLTIMA AVE MARIA, ÚLTIMO SUSPIRO!
Achava-se num asilo de velhos um antigo soldado que, apesar de sua vida de caserna e acampamento, conservava-se dócil e acessível às verdades religiosas. Um sacerdote, que o visitava com frequência, falou-lhe da devoção do rosário e ensinou-lhe o modo de rezá-lo. Deu-lhe a Irmã um rosário e o velho militar achou tamanho consolo em rezá-lo, que sentia muito não o ter conhecido antes, dizendo que o teria rezado todos os dias.
➖ Irmã - perguntou um dia - quantos dias há em sessenta anos?
➖ A Irmã fez o cálculo e respondeu:
➖ 21.900 dias.
➖ Irmã, e quantos rosários teria eu que rezar a cada dia para, em três anos, chegar a esse número?
➖ 20 a cada dia - disse-lhe a Irmã.
Daí em diante viam-no, dia e noite, com o rosário na mão. Após três anos de sofrimentos, suportados com grande paciência, chegou ao seu último rosário. Ali o esperava a morte, pois não viveu nem um dia nem uma hora mais. Ao terminar a última Ave-Maria, deu o último suspiro e entregou a sua alma a Deus.
64. UM PECADOR SE CONVERTE
Diz Santa Brígida que 'assim como o magneto atrai o ferro, assim também Maria Santíssima atrai os corações a Deus'. É um fato. Um dia foi São Francisco Regis chamado para um enfermo que não queria de modo algum preparar-se para a morte. O infeliz negava-se a aceitar os socorros da religião, sabendo embora que o seu fim era iminente.
Convencendo-se São Francisco de que os meios humanos eram inúteis, tirou de seu breviário uma imagem de Nossa Senhora e, mostrando-a ao enfermo, disse:
➖ Olha! Maria te ama.
➖ Como? - replicou o pecador - como se acordasse de um sonho - pois que ela não me conhece.
➖ Mas eu sei que ela te ama! - tornou o santo.
➖ Então ela não sabe que reneguei a minha fé e desprezei a minha religião?
➖ Sabe.
➖ Que insultei ao seu Filho e calquei aos pés o seu sangue?
➖ Sabe.
➖ Que estas mãos estão manchadas de sangue inocente?
➖ Sabe.
➖ Padre, o senhor fala a verdade?
➖ Sim; passarão os céus e a terra, mas a palavra de Deus não passará. Sabe, pois, que Deus disse outrora e te diz hoje ainda: 'Filho, eis aí tua Mãe!'
➖ Uma mãe, que me ama!... murmurava o pecador enternecido; minha mãe, minha...
E copiosas lágrimas brotavam de seus olhos. Eram lágrimas de sincero arrependimento, verdadeira dor. Fez imediatamente uma confissão dolorosa e contrita de toda a vida. Recebeu com visível fervor a sagrada comunhão. Alguns dias depois, feliz e cheio de confiança, expirou no amor de Deus a quem fôra atraído por Maria.
65. ESCAPARAM DA GUILHOTINA
Foi em Paris, na época mais triste da Revolução Francesa. Para alguém ser preso e condenado à morte, bastava que o acusassem de monarquista ou católico intransigente. Também os pais de Júlia Janau, uma criança de 11 anos, foram presos por causa de sua religião. Júlia, que ficara só com uma velha criada, chorava dia e noite, temendo pela sorte de seus pais.
Em sua grande aflição, rezava continuamente o rosário à compassiva Mãe do Céu para que salvasse os seus pais. Essa devoção do rosário - ensinara-lhe sua boa mãe, dizendo-lhe que, em todo o perigo e necessidade, recorresse a Maria com muita confiança e seria socorrida. Estava a menina ajoelhada, rezando o seu rosário, quando um representante do partido revolucionário penetrou na casa à procura de mais alguma vítima para a guilhotina.
À vista daquela criança, inocente e tímida, o carrasco sentiu-se inexplicavelmente comovido. Dirigindo-se à pequena, perguntou:
➖ Que estás fazendo?
➖ Estou rezando o rosário por meus pais.
➖ O rosário?...
➖ Sim, para que reconheçam que eles são inocentes.
Ao pronunciar essas palavras, copiosas lágrimas corriam-lhe os olhos. Soluçando, ergueu, suplicante, as mãozinhas ao revolucionário que estava seriamente comovido. Num gesto de mansidão e de bondade, que havia muito não sentia, inclinou-se para a pequena de cabelos louros e, colocando-lhe a mão sobre os ombros, perguntou:
➖ E acreditas que a tua oração ajudará?
➖ Sim, foi a firme resposta - porque minha mãezinha me ensinou e minha mãezinha não mente.
O coração daquele homem rude e mau, enternecido diante de tamanha inocência e confiança, sentia já uma terna compaixão pela criança.
➖ Achas, boa menina, que teus pais são inocentes?
➖ Acho, sim; eles nunca fizeram mau algum.
➖ Pois bem; verei o que se poderá fazer por eles.
➖ Obrigado, senhor, por essa promessa. Ah! salvai meus inocentes pais; restituí pai e mãe a uma pobre criança abandonada.
A grande confiança de Júlia no poder da Rainha do Santo Rosário ficou gravada no coração daquele revolucionário; e como gozava de muita influência no tribunal, conseguiu que os acusados fossem absolvidos e restituídos à sua inocente filhinha, que, pela devoção a Maria, os livrara da morte.
66. OS TRÊS DEGRAUS DA FORCA
Era no tempo da famosa rainha Isabel que governou a Inglaterra de 1558 a 1603. Foi uma rainha cruel e mandou matar fria e injustamente a muitíssimos de seus vassalos simplesmente por serem católicos convictos e fervorosos. Entre as inúmeras vítimas de seu ódio satânico estava João Post, natural de Pereth (Cumberland), grande devoto da Mãe de Deus. Ainda na hora trágica da morte deu prova desta sua devoção.
Foi assim: Ao ser conduzido à forca, em presença de inúmeras espectadores, ajoelhou-se no primeiro degrau da forca e rezou em voz alta: 'O anjo do Senhor anunciou a Maria; e ela concebeu do Espírito Santo'. E rezou logo em seguida uma Ave-Maria. Subiu, depois, ao segundo degrau e rezou com voz forte: 'Eis aqui a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a vossa palavra'. E rezou outra Ave-Maria. Subiu, enfim, ao terceiro degrau, que era o último do cadafalso, ajoelhou-se pela última vez e rezou: 'E o Verbo de Deus se fez homem e habitou entre nós'. Rezou a terceira Ave-Maria, encomendando-se fervorosamente a Nossa Senhora.
Entregou-se então ao carrasco e sofreu heroicamente o martírio, sendo enforcado por causa de sua fé inabalável em Jesus Cristo e na santa Igreja Católica. Meu irmão, também nós estamos condenados à morte. Todos havemos de morrer. Pode-se dizer que nos aproximamos dela, subindo também três degraus: um pela manhã, outro ao meio-dia e o terceiro à tarde. Imitemos o exemplo desse santo mártir, rezando três vezes ao dia, como é costume entre os bons católicos, a oração do 'Anjo do Senhor'.
67. SÃO JOSÉ E A PRIMEIRA COMUNHÃO
O célebre Pe. Leonard, grande missionário na Itália, chorava toda vez que tinha de pregar um retiro de primeira comunhão.
➖ Mas, Padre, que é que tem o senhor - perguntavam-lhe.
➖ Ah! não sabeis - respondia - que se preparam para o dia da primeira comunhão vários calvários, onde Jesus Cristo será de novo crucificado? Nada mais comum do que este crime entre os meninos. Não sabeis que muitos ocultam seus pecados na confissão; outros se confessam mal; outros não têm arrependimento; outros, enfim, não compreendem a grandeza do ato que vão fazer? Por pouco que se ame a Deus, é impossível não chorar e não sentir horror de semelhante atentado.
Impressionado com estas palavras, um piedoso diretor de colégio mandava rezar todos os dias do mês de março para que nenhum dos alunos cometesse tão horrendo pecado. Nove dias antes da comunhão deviam fazer uma novena a São José, a fim de que todos se preparassem bem para a primeira comunhão e não se encontrasse nenhum Judas entre os mesmos.
Certa vez, no último dia da novena, véspera da primeira comunhão, um menino muito sobressaltado veio cedinho à procura do confessor, dizendo-lhe antes de confessar-se:
➖ Padre, a noite passada não pude dormir. Parecia-me ver São José, que, irado, me dizia: 'Infeliz, pedem-me os meninos que não haja entre eles nenhum Judas e tu queres ser um, pois ocultaste teus pecados de impureza...' É por isso que aqui estou para reparar todas as minhas confissões sacrílegas e dizer-lhe tudo o que tenho na consciência.
68. A ESTATUAZINHA DE SÃO JOSÉ
Dois carroceiros carregavam as suas carroças com os escombros de um casarão que fôra demolido. Eram bons e honrados, mas, em matéria de religião, completamente indiferentes e ignorantes. De repente um deles tirou com sua pá do montão do entulho uma estatuazinha de São José.
➖ Toma - disse ao seu companheiro - um deusinho...
➖ Não o quebres: isto te traria má sorte.
➖ Tu crês em contos de avozinhas?
➖ É melhor que me dês, pois, embora não sendo muito de igreja, prefiro levar um santinho para minha casa a atirá-lo na carroça. Isso me sairia mal depois.
➖ Tens razão, replicou o outro, lembrando-se talvez do tempo de sua primeira comunhão: é melhor levá-lo...
Passaram-se anos. O carroceiro era já um velho inválido, estendido num leito de madeira carcomida. No quarto, duas cadeiras desconjuntadas, uma mesinha cambaleante e uns pedaços de cobertores. Acabava os seus dias na miséria. Ao seu lado uma netinha de treze anos...
➖ Vovô, se o senhor quiser, eu vou chamar o padre que nos dá o catecismo; ele é bom.
➖ Não, filha, ainda não estou tão mal...
É sempre assim. Os pobrezinhos nunca julgam estar muito mal. Mas São José cuidou dele.
➖ Mariazinha, traga-me a estátua de São José que está ali... ela quer me falar... eu a ouço...
➖ Pobre vovô! - pensou a menina - a febre o devora...
Mas pondo a imagem de São José nas mãos do avô, pôs-se a chorar. Parecia-lhe chegado o momento de insistir:
➖ Vovozinho, o senhor quer falar com o vigário? Ele é tão bom; o senhor o conhece...
➖ Falar? Falar é uma coisa muito vaga; diga-lhe que quero confessar-me, ouviu?
➖ Obrigada, meu São José. Salvais a quem vos respeitou; obrigada, obrigada, dizia a menina, correndo em busca do padre.
Reconciliado com Deus e, beijando a estatuazinha, dizia às pessoas presentes: 'Não vos esqueçais de Deus, dos deveres religiosos, da missa aos domingos. Eu não fazia nada disso e estou arrependido. São José me salvou'. Alguns dias depois, o velho carroceiro morria santamente abraçado à estatuazinha do seu grande benfeitor São José.
69. A POMBA MENSAGEIRA DE SÃO JOSÉ
Há acontecimentos que parecem novelas: que os nossos leitores as tomem a seu gosto. A família do Sr. B..., sua esposa e uma filha, Josefina, de 20 anos, havia gozado em N. de uma bela fortuna; mas, a enfermidade do pai e alguns maus negócios a haviam obrigado a passar a viver só do trabalho da filha.
A moça era inteligente, enérgica, alegre e, o que é mais, piedosa. Um dia, porém, voltou para casa com uma notícia triste: não quiseram pagar-lhe as costuras, e comunicaram-lhe que, por algumas semanas, não haveria trabalho. Que fazer? Que comer? Mas ela não desanima; confia, não nos homens, mas no paternal auxílio de seu poderoso patrono São José, cuja festa será celebrada no dia seguinte.
Senta-se, escreve num papelzinho a sua situação penosa e, abrindo uma gaiola onde tem uma pombinha mansa, ata-lhe debaixo da asa a sua missiva e, beijando-a, a solta dizendo:
➖ Vai, querida, aonde te guie São José a fim de que encontres pão para nós e para ti.
Passada meia hora, se muito, eis que se apresenta à entrada da casa um moço que pede para falar com Josefina; acompanhava-o um criado com um pesado embrulho. Diante da família admirada conta que, sendo devoto de São José, lhe prometera atender o primeiro pedido de auxílio que se apresentasse. Ora, apenas fizera a sua promessa, entrou pela sua janela uma pombinha em cuja asa viu um papelzinho e a petição a São José.
➖ Estou - disse - montando uma oficina de costura e já que Josefina procura trabalho, aqui lhe trago algum e, por ser a primeira vez, pago-lhe adiantado. No volume achava-se discretamente envolvida uma soma de valor elevado. Os três infelizes não puderam deixar de exclamar cheios de comoção:
➖ Como São José é bom! obrigado, Santo bendito!
Era a abundância após a miséria mais atroz. Mas não parou aí a liberalidade de São José. Como Josefina teve de ir com frequência à oficina, logo chamaram a atenção os seus finos modos, sua habilidade no trabalho e a fina educação que recebera. Entrou em relações com a família de seu chefe, que logo encontrou boa colocação para o pai de Josefina, melhorando assim a situação do lar.
Não sabemos se Josefina se dirigiu a São José, como fazem muitas moças, para arranjar um bom esposo; o certo é que o encontrou na pessoa de seu chefe e protetor. Na sala de sua nova casa, vê-se em lugar de honra uma estátua de São José e, debaixo dela, uma pombinha de ouro com o letreiro: 'a mensageira de São José'.
70. SÃO JOSÉ CHAMA O PADRE PARA UM DOENTE
Certo dia, apresentou-se na casa paroquial um ancião desconhecido, pedindo ao padre que fosse socorrer uma agonizante. Ele mesmo o acompanharia até à casa. Como a rua era de má fama e a noite se aproximava, o padre desconfiou de alguma cilada, mas o ancião insistiu:
- É preciso que o senhor vá logo, porque se trata de administrar os sacramentos a uma velha senhora que está nas últimas.
Partiu o padre levando o Santíssimo e os Santos Óleos. A noite era glacial, mas o velho parecia não senti-lo; ia adiante até chegar a uma casa de péssima reputação; teve o padre um momento de vacilação e temor, mas o ancião animou-o dizendo:
➖ Eu o esperarei aqui.
Bateu o padre à porta repetidas vezes e, como não abrissem, o ancião deu umas pancadas esquisitas e a porta abriu-se imediatamente.
➖ O senhor entre, suba a escada, abra a porta do fundo do corredor e encontrará a agonizante.
Disse essas palavras com tal força e autoridade que o padre não vacilou mais. Encontrou estendida numa cama miserável uma mulher abandonada que repetia aos gritos:
➖ Um padre! um padre! Deixar-me-eis morrer sem um padre?
➖ Filha, aqui estou, sou o padre que a senhora chama. Um ancião foi buscar-me...
Ela não queria acreditar.
➖ Não, nesta casa não há ninguém que queira ir em busca de padre e não conheço tal ancião.
Afinal, convencida, acusou os pecados de sua longa vida de pecadora e, com tanta dor e arrependimento o fez, que o padre se admirou de encontrar tais sentimentos numa pessoa há tantos anos afastada de Deus.
Arrumou o padre a mesinha e acendeu as velas para o viático e a extrema unção. Nesse ínterim, várias pessoas entraram e saíram, parecendo não notar a presença do padre. Depois de administrar-lhe todos os sacramentos, perguntou-lhe o padre se havia conservado alguma prática religiosa que lhe mereceu tal benefício em tão grande necessidade.
➖Nenhuma, disse; a não ser uma oraçãozinha que rezava todos os dias a São José para que me concedesse uma boa morte.
Consolado, o padre assistiu ao último suspiro da convertida. Nem à porta nem no caminho encontrou o ancião, e ficou convencido de que este não era outro senão o misericordioso patrono da boa morte, o glorioso São José.
71. SÃO JOSÉ E AS CRIANÇAS
A. Nas horas em que não havia ninguém na igreja, notou o irmão sacristão que um menino de cinco anos vinha passar longo tempo diante do altar de São José. Ora encostado à grade, ora de joelhos e ora assentado, ali permanecia horas olhando para o santo. O bom irmão sentiu-se impelido a fazer esta breve invocação:
➖ Ó bom São José, ouvi a oração desse pequenino, não lhe recuseis a graça que vos pede com tanta piedade e inocência!
O pobrezinho rezava pela conversão do pai...
➖ Amiguinho, disse-lhe o sacristão, se você quer dirigir a São José uma bela oração, diga: 'São José, rogai por nós'.
Tomou o conselho ao pé da letra o menino e, trocando de oração, começou a ir e vir diante do santo e, ajoelhando-se, dizia: 'São José, rogai por nós; São José, rogai por nós!'. Nisso se ocupava quando chegou sua mãe para buscá-lo. Teve que sair. Duas horas depois, o papai, que havia doze anos não se confessava, entrou na igreja para reconciliar-se com Deus.
B. Um menino da diocese de Montpellier contava assim um favor que alcançara de São José: 'Quando brincava na esquina de uma rua, fui atropelado por um carro que me esmagou contra uma parede; meu corpo tornou-se uma massa informe. O médico não dava nenhuma esperança. Meus pais apressaram-se a chamar um padre para me dar a extrema-unção.
Uma religiosa amiga, muito devota de São José, enviou-me um cordão bento do santo. Pedia-me que me encomendasse a ele com fé e confiança. Assim o fiz. Dormi logo depois e tive um sonho muito esquisito. Parecia-me estar vendo São José, que garantia a minha cura. Anunciou-me, além disso, que eu seria padre. Despertei alegre e contente a visão à minha mãe. O sonho realizou-se. Até esta data estou bom e são... e não penso senão em ser um sacerdote...'
72. PADROEIRO DA BOA MORTE
São José teve a felicidade de morrer nos braços de Jesus e de Maria, e não pode deixar de vir com eles, visível ou invisivelmente, para receber os seus devotos. Numa paróquia de Lyon (França), vivia um piedoso ancião, muito devoto de São José, que não cessou durante cinquenta anos de pedir-lhe a graça de uma boa morte. Para isso rezava, pela manhã e à noite, fervorosas orações, jejuava e fazia alguma esmola todas as quartas-feiras. Para ele, o dia da festa de São José (19 de março) era o mais belo do ano.
A 15 de março de 1859, com a idade de 86 anos, caiu doente. Pediu imediatamente os santos sacramentos e recebeu-os com uma fé que comoveu a todos os assistentes. A 19 de março, mandou celebrar uma santa missa e pediu que lhe rezassem as orações dos agonizantes. O sacerdote estava a terminar a consagração, quando o doente, erguendo os olhos ao céu, cruzando os braços, pronunciou distintamente os santíssimos nomes de Jesus, Maria e José, e exalou suavemente o último suspiro. Sua alma voou para o céu precisamente no momento em que o sacerdote, no memento, ia pedir a Deus que recebesse as almas dos fiéis no lugar do refrigério, da luz e da paz eterna.
73. RECUPEROU A VISTA
Em Vinovo, aldeia pouco distante de Turim, na Itália, uma moça chamada Maria Stardero teve a desgraça de perder totalmente a vista. Desejando recuperá-la, fez uma visita a São João Bosco, que então construía, com as esmolas do povo de Turim, a magnífica igreja de Maria Auxiliadora.
A moça, depois de ter rezado diante de uma imagem de Nossa Senhora, falou com São João Bosco, que lhe perguntou:
➖ Faz muito tempo que perdeu a vista?
➖ Sim, muito; faz um ano que não vejo nada.
➖ Tens consultado os médicos?
➖ Ah! padre, já não sabem o que receitar-me.
➖ Distingues os objetos grandes ou pequenos?
➖ Não; como disse, não vejo nem pouco nem muito.
➖ Mas não vês a luz desta janela?
➖ Não, senhor; nada.
➖ Queres recuperar a vista?
➖ Sr. padre, sou pobre e preciso dela para ganhar a vida.
➖ Servir-te-ás da vista para proveito de tua alma e não para ofender a Deus?
➖ Prometo-o sinceramente.
➖ Confia, pois, em Nossa Senhora e São José.
E, em tom solene, Dom Bosco acrescentou:
➖ Para a glória de Deus, da Santíssima Virgem e de São José, dize: que é que tenho na mão?
A moça abre os olhos, que antes não viam nada, e diz:
➖ Uma medalha de Nossa Senhora.
➖ E isto, o que é?
➖ Um ancião com uma vara florida; é São José.
Estava operado o milagre. Pode-se imaginar a alegria da moça e dos seus pobres pais!...
74. UM LOBO QUE SE TORNA UM CORDEIRO
Estava no hospital uma infeliz mulher que, há vinte e dois anos, abandonara sua família para se entregar aos vícios mais vergonhosos. Fora, enfim, internada naquela casa pela polícia. A vida que levara, de tal modo a embrutecera que parecia louca; e o médico, não descobrindo nenhuma doença, queria despedi-la do hospital para que não perturbasse os verdadeiros enfermos.
Pediram-lhe as religiosas que a deixasse alguns dias ainda, enquanto recorriam a São José. Bem inspiradas, vestiram-na com o hábito e com o cordão de São José e puseram-se a pedir com fervor que o santo tivesse compaixão daquela pobre alma.
O auxílio de São José não se fez esperar. Poucos dias depois a mulher recobrou a paz, confessou-se com muita dor e arrependimento. Era um verdadeiro lobo e tornou-se tão manso cordeiro que pediu ao seu protetor lhe alcançasse antes a morte que voltar à vida de pecado. Atendeu o santo a tão pios desejos, vindo a convertida a falecer com os mais sinceros sentimentos de dor. Antes da morte, pediu humildemente perdão a todos os que escandalizara com os seus vícios.
75. PADROEIRO DOS IMPOSSÍVEIS
Jazia em seu leito de agonia um infeliz apodrecido de vícios, sem o menor remorso, zombando de Deus e desprezando todos os auxílios da religião para a hora suprema. Vendo-o zombar, com riso satânico, de seus esforços para salvar-lhe a alma, resolveram seus parentes recorrer a São José. Este grande santo havia de fazer com que o misericordioso Coração de Jesus se compadecesse daquele infeliz.
Era o mês de março. O sacerdote, os parentes e amigos dirigiram ao padroeiro da boa morte fervorosas súplicas. Maravilhoso poder o da oração! Na manhã de 19 de março, festa de São José, o próprio doente pediu a confissão e fez questão que chamassem o padre de quem mais zombara até então. Confessou-se com o mais sincero arrependimento e, pouco tempo depois, faleceu...
76. A CASA DA SAGRADA FAMÍLIA
Durante anos viveu Jesus em Nazaré, pequena cidade da Galileia. Ajudava a São José, que era o santo carpinteiro, e a Maria Santíssima, em seus trabalhos domésticos. Por mais de trinta anos foi aquela pobre e pequenina casa santificada pelas mais sublimes virtudes.
Muitos anos mais tarde, os turcos conquistaram Nazaré e destruíram, em seu fanatismo desmedido, a grande igreja que os cristãos haviam construído e que cobria precisamente o recinto da casa do Menino Jesus.
Aconteceu, porém, que, em uma noite de céu estrelado, os anjos tomaram aquela casinha e, voando, levaram-na até às proximidades de Fiume, na Itália. Mas, como havia ali muitos ladrões que assaltavam os viajantes, os anjos a levaram de novo e a deixaram no meio de um bosque de louros. Foi por causa desses louros que aquela casinha veio a se chamar como 'a santa casa de Loreto'. No centro do altar há uma milagrosa imagem da Mãe de Deus e os aviadores tomaram Nossa Senhora de Loreto por advogada e padroeira.
77. O VIAJANTE E SÃO JOSÉ
Foi em 18 de março de 1888. Viajava um sacerdote no trem de Mogúncia a Colônia quando, ao passar por Bonn, notou que seu vizinho se persignou, juntou as mãos e pôs a rezar.
➖ Amanhã é a festa de São José e talvez que seja o seu patrono - disse o padre.
➖Não, senhor, mas a minha esposa chama-se Josefina e gostaria de estar amanhã em sua companhia. Tenho, porém, outro motivo de dar graças e, se interessar ao senhor, contar-lhe-ei a minha história pois um sacerdote a entenderá.
➖ Certamente.
➖ Quando menino, recebi de minha boa mãe uma educação piedosa. Infelizmente, bem cedo morreu minha mãe; meu pai não se ocupou de minha educação religiosa e logo abandonei todas as práticas de piedade. Encontrei, mais tarde, uma jovem excelente e, desejando fazê-la minha esposa, fingi sentimentos religiosos que não possuía.
Uma vez casados, quase morreu de pesar, quando lhe abri meu coração e me pus a zombar de suas devoções. Há cinco anos, na sua festa onomástica, fiz-lhe um rico presente, mas ela, quase receosa, me disse:
➖ Há outro presente que me faria mais feliz...
➖ Qual?
➖ A tua alma, querido, respondeu entre soluços.
➖ Pede-me o que quiseres: eu o farei.
➖ Vem comigo amanhã, dia de São José, à Igreja de N... Haverá sermão e bênção.
➖ Se for só isso, podes enxugar tuas lágrimas, pois eu te acompanharei.
A igreja estava repleta; o pregador, muito moço, deixou-me frio e indiferente; contudo disse uma coisa que me impressionou: 'Jamais alguém invocou a proteção de São José sem que sentisse o seu auxílio. Tende firme confiança de que correrá em socorro de todo aquele que o invocar na hora do perigo, ainda que seja pecador ou mesmo incrédulo'.
Ao sairmos da igreja, disse-me a minha esposa:
➖ Meu bom homem, muitas vezes estarás em perigo em tuas viagens; promete-me que, chegando a ocasião, dirás sempre esta breve oração: 'São José, rogai ao vosso divino Filho por mim'?
➖ Assim o farei; não é nada difícil.
Pouco depois, viajava por este mesmo lugar em que nos encontramos; éramos sete no compartimento. De repente, um apito de alarme e já um formidável choque nos atirava pelos ares. Não tive tempo de dizer mais que: 'São José, socorro!' Tudo foi coisa de um instante. Ao voltar a mim, vi meus companheiros horrivelmente despedaçados e mortos. Eu sofrera apenas leves contusões. Desde aquele dia retomei as práticas religiosas e repito, sempre com grande confiança: 'São José, socorrei-me!'
78. SÃO JOSÉ E O PRIMEIRO ASILADO
Em 1863 chegava a Barcelona um grupo das Irmãzinhas dos Pobres para fazer a sua primeira fundação na Espanha. Foram muito bem recebidas pelos catalães, que precisavam não pouco de um asilo para tantos velhos infelizes abandonados, como costuma haver nas grandes capitais. O asilo foi, como de costume, colocado sob a proteção de São José, a quem chamam as Irmãs de Procurador da Casa.
No início, por falta de local, admitiam somente mulheres idosas. Mas, eis que São José, um belo dia, lhes traz o primeiro idoso. Era um homem de 80 anos que se apresentou, dizendo à Irmã:
➖ Venho aqui para internar-me.
➖ É impossível - replicou a Superiora - ainda não podemos receber nenhum homem.
➖ Seja, mas não há remédio; ficarei assim mesmo.
➖ Como se chama o senhor?
➖ Chamo-me José.
O nome chamou a atenção das Irmãs; além disso era dia consagrado a São José. Não há remédio, recebê-lo-emos em nome de São José. O velho não possuía mais que farrapos e estava coberto de insetos. Roupa de homem não havia. A Superiora, chamando duas das Irmãs, disse-lhes:
➖ Saiam à procura de roupa, enquanto vamos lavá-lo e penteá-lo.
Durante este breve colóquio, ouviu-se a campainha da portaria: era uma senhora desconhecida que, entregando um embrulho, retirou-se sem dizer nada. Abriram e viram, com grande surpresa, que era um traje completo para homem. O pobre velho chegou ao cúmulo da alegria; não menos, porém, as Irmãs que compreenderam que São José as convidava a ampliar os seus planos de caridade. O asilo cresceu tranquila e constantemente e, dentro de poucos anos, abrigava mais de duzentos idosos, sem que lhes faltasse o pão de cada dia e nem as carinhosas atenções das boas Irmãs.
79. SANTA PAULA
Natural de Roma, nasceu em meados do século IV. Era da mais alta nobreza, pois em suas veias corria sangue dos Cipiões e dos mais antigos reis. Após as perseguições, que foram terríveis, os cristãos relaxaram-se um pouco. Paula, embora cristã e honesta, viva com excessivo luxo e tibieza. A Providência divina enviou-lhes amargos sofrimentos para desenganá-la do mundo. Perdeu o esposo, a quem amava-lhe entranhadamente, e ela mesma contraiu uma grave e prolongada enfermidade. Quando recobrou a sua saúde, despojou-se de suas galas e consagrou-se por completo à oração, às obras de caridade e à educação dos filhos.
Por motivo da celebração de um concílio, convocado pelo Papa São Dâmaso, veio a Roma São Jerônimo, grande amigo do pontífice e incomparável conhecedor da Sagrada Escritura. Paula tomou-o por diretor espiritual e, seguindo seus conselhos, estudou os Livros Sagrados, especialmente os Evangelhos, e concebeu o desejo de visitar e venerar a gruta de Belém.
Após a morte de São Dâmaso, seu amigo São Jerônimo abandonou Roma, para dedicar-se de novo aos seus estudos bíblicos. Queria ultimar a sua gigantesca tarefa de traduzir toda a Bíblia para o latim. Paula não tardou a segui-lo. Confiou a uma filha casada a educação da menorzinha, e junto com Eustóquia, outra de suas filhas, embarcou rumo à Terra Santa.
Com São Jerônimo e Eustóquia, percorreu a Palestina. Ao chegar a Belém, exclamou chorando: 'Eu te saúdo, ó Belém, cujo nome quer dizer Casa do Pão Celeste; eu te saúdo, antiga Efrata, cujo nome significa 'a Fértil', que tiveste por fruto e colheita o próprio Criador! É possível que eu, pecadora, beije o berço onde repousou o Menino Deus, ore na gruta, onde deu Jesus seus primeiros vagidos, onde a Virgem deu à luz o Salvador?'
Junto à gruta de Belém, ergueu um mosteiro para a comunidade de religiosas por ela fundada e dirigida; e nos arredores, outro para São Jerônimo e os seus monges. Construiu, além disso, um ótimo albergue para os peregrinos, e costumava dizer: 'Se Maria e José tivessem que retornar a Belém, para o recenseamento, já não lhes faltaria lugar numa estalagem'.
Passou o resto da sua vida meditando a Sagrada Escritura, orando e mortificando-se com severas penitências, animada pelo suave pensamento de que ali mesmo dera o Redentor admirável lição de todas as virtudes. Morreu aos 56 anos e foi sepultada numa gruta ao lado do Nascimento. Sobre a porta dessa gruta, mandou São Jerônimo gravar em versos estas palavras: 'Vês este humilde sepulcro nesta rocha cavado? Dentro está de Paula o corpo, e dos bens celestes gozando está a alma. Deixou pais e pátria e irmão e filhos e aqui repousa, junto à gruta de Belém, onde os reis Magos a Cristo adoraram como a Deus e homem'. Sua festa é celebrada em 28 de janeiro.
80. SANTA MARGARIDA DE CORTONA
Nasceu no povoado de Laviano, na Itália, em 1247. Seus pais eram lavradores e viviam pobremente. Aos sete anos teve Margarida a desgraça de perder a mãe. O pai casou-se de novo e a madrasta odiava a pobre orfãzinha. Um rico e poderoso senhor dos arredores seduziu-a e levou-a para o seu castelo, rodeado de bosques, com muito luxo e criadagem. Nove anos durou a triste vida de Margarida naquele castelo. A miúdo sentia remorsos e como que um desejo de fazer penitência, mas não sabia como livrar-se daquela mísera situação.
Certo dia, o lebrel favorito de seu senhor aproximou-se dela, ladrando choroso, e com os dentes puxava-lhe o vestido como se quisesse convidá-la a segui-lo. Penetraram pelo bosque adentro. Debaixo de um carvalho, junto a um monte de ramos, parou o cão e redobrou os seus latidos. Margarida afastou os ramos e encontrou, banhado em sangue, o cadáver do seu senhor. Haviam-no apunhalado. Surpreendera-o a justiça de Deus.
Aquele horrível espetáculo iluminou a alma de Margarida. Converteu-se. Resolveu começar vida nova e dirigir-se, em primeiro lugar, ao casebre de seu pai, para desagravá-lo e implorar-lhe perdão. Não o alcançou, porque sua madrasta se opôs. Deus, porém, foi mais generoso. A pecadora, compreendendo que precisava confessar-se para recuperar a graça divina, dirigiu-se ao convento franciscano da vizinha cidade de Cortona e, ali, aos pés do ministro de Cristo, reconciliou-se com Deus, a quem tanto ofendera.
Todas as penitências lhe pareciam leves. Cortou a sua longa e negra cabeleira. Disciplinava-se sem misericórdia. Jejuava a pão e água. Num domingo, entrou na igreja de sua vila natal, vestida de farrapos e levando, como os condenados, uma grossa corda ao pescoço, e pediu publicamente que lhe perdoassem os escândalos que dera. Temia não estar bem perdoada. Cria que sim, mas parecia-lhe impossível, tendo pecado tão gravemente. Até que um dia, em que estava chorando diante do Crucifixo, a imagem de Cristo abriu os lábios para dizer-lhe: 'Teus pecados foram perdoados'.
Margarida foi devotíssima da Paixão do Salvador. Numa sexta-feira Santa, quis Jesus Cristo que ela presenciasse tudo o que acontecera durante a Paixão. Passaram diante de seus olhos: o beijo de Judas, a negação de Pedro, a covardia de Pilatos, o ódio dos judeus, os insultos na rua da Amargura e ouviu as palavras de Cristo na Cruz; e às três da tarde, hora em que expirou nosso Salvador, inclinou também ela a cabeça e pereceu que expirava. As pessoas presentes não cessavam de soluçar.
O demônio a tentou de mil modos; mas, rezando, como costumava diante do Crucifixo, Jesus a consolou com as seguintes palavras: 'Minha filha, tem coragem e obedece ao teu confessor; desconfia de ti mesma, mas confia na minha graça'. Faleceu a 22 de fevereiro de 1297, contando cinquenta anos de idade. Durante os vinte últimos dias de sua vida, não provou nenhum alimento ou, melhor, o seu único alimento era a sagrada comunhão. Sua festa é celebrada em 22 de fevereiro.
81. VISÕES DE SANTA PERPÉTUA
Pouco se sabe da infância e juventude desta santa. Conservam-se, porém, as atas do seu martírio, escritas em parte por ela mesma e, em parte, por uma testemunha presencial. No ano de 202, o imperador Sétimo Severo publicou um edito, proibindo toda propaganda cristã que condenava à pena capital tanto os convertidos como os promotores ou cúmplices de sua conversão. O intento era extinguir o cristianismo.
Numa cidade vizinha de Cartago, foi detida a nobre matrona Perpétua e mais outros catecúmenos, entre os quais a escrava Felicidade. Colocaram-nos no cárcere, onde Perpétua teve várias visões. Numa delas manifestou-lhe Deus que o martírio a levaria ao céu, sem passar pelo purgatório. Viu uma altíssima escada de bronze, que terminava no céu. Era tão estreita que por ela só podia subir uma pessoa. Da escada pendiam diversos instrumentos de suplício. Um formidável dragão procurava impedir que se subisse por ela.
Perpétua, invocando o nome de Jesus Cristo, pisou sobre a cabeça do monstro e começou a subir, de suplício em suplício. Ao chegar em cima, surgiu ante os seus olhos um imenso jardim, no meio do qual estava um Pastor rodeado de uma grande multidão vestida de túnicas brancas. O Pastor, Jesus Cristo, fixou em Perpétua seus amáveis olhos e saudou-a com estas palavras: 'Sê benvinda, minha filha'. E toda a multidão exclamou: 'Assim seja'.
Em outra visão, Deus manifestou-lhe que podia satisfazer por seu irmãozinho Dinócrates, cuja alma se achava no purgatório. Viu Dinócrates saindo de um lugar tenebroso, onde havia muita gente. Estava pálido, como se a sede o abrasasse. Próximo dali encontrava-se um tanque cheio de água cristalina, cujas bordas eram demasiado altas para que o menino pudesse beber. E o pobrezinho sofria, pondo-se nas pontas dos pezinhos, sem poder alcançar a água. Perpétua ofereceu por Dinócrates suas orações e as penas que suportava no cárcere.
Um dia puseram-na várias horas no cepo, presos os pés com argolas de ferro. Ofereceu também esse sacrifício pela alma de seu irmãozinho, e teve outra visão. Dinócrates estava limpo, bem vestido, cheio de paz e alegria. As bordas da piscina eram mais baixas e o menino bebeu daquela água misteriosa num copo de ouro. 'Então' - diz a Santa - 'despertei e compreendi que meu irmãozinho deixara o lugar da pena'. Perpétua e Felicidade, as duas mártires, têm a sua festa litúrgica celebrada no dia 6 de março.
82. OS QUARENTA LEGIONÁRIOS
A famosa Legião Fulminante, junto com outras forças, estava acampada na cidade de Sebaste (na Armênia) quando, por ordem do governador daquela região, o feroz Agrícola, foi lido um edito do imperador Licínio, em que se ordenava aos cristãos que oferecessem sacrifícios aos falsos deuses.
Quarenta daqueles legionários negaram-se a cumprir a ordem do imperador. Conduzidos à presença de Agrícola, responderam aos seus agrados e ameaças dizendo: 'Tu mesmo reconheces que pelejamos heroicamente pelo imperador da terra. Combatemos, todavia, com mais valor pelo do céu'. Entre outros suplícios, quebraram-lhes os dentes com pedras e arrancaram-lhes as carnes com garfos. Finalmente, levaram-nos a um tanque gelado e ali tiveram de passar a noite despidos, no maior frio do inverno.
Junto ao tanque, Agrícola mandou colocar alguns banhos, cuja água, aquecida por braseiros, convidava os mártires a renegar sua fé e a submergir-se nelas. Durante a noite, os guardas adormeceram; só ficou acordada a sentinela. Um dos quarenta cristãos não resistiu à tentação. Gritando que renegava a Cristo, saiu do tanque e submergiu no banho quente; mas aquela mudança de temperatura, por demais rápida, ocasionou-lhe a morte, perdendo, assim, a vida temporal e a eterna.
Em seguida, a sentinela viu um anjo que, descendo do céu, coroava sucessivamente os trinta e nove que haviam permanecido no tanque. Ficou o anjo com uma coroa na mão, parecendo aguardar alguém que substituísse o apóstata. A sentinela, iluminada e movida pelo Espírito Santo, exclamou: 'Eu também sou cristão'. Seus companheiros, que despertaram ao grito, viram-no despir-se e entrar no tanque gelado, onde o anjo o esperava para coroá-lo. Não era cristão, mas recebeu o batismo de sangue.
Ao romper do dia, os guardas quebraram as pernas dos quarenta legionários e recolheram os seus cadáveres num carro para reduzi-los a cinzas. Somente um, o mais moço de todos, chamado Militão, sobrevivera à temperatura glacial e à fratura das pernas. Durante o trajeto para a fogueira, os verdugos exortavam-no a apostatar: 'Ainda podes salvar a tua vida' - diziam a ele - e Agrícola há de te dar muita riqueza'.
Mas a mãe do jovem, que com outros parentes dos mártires acompanhavam o carro, sobrepondo-se ao amor natural que sentia pelo filho, exortava-o a manter-se fiel a Jesus Cristo, dizendo: 'Termina com teus companheiros esta bendita viagem, pois, ainda que sejas o último a chegar no céu, não o serás diante de Deus'. Ressoavam ainda estas palavras e já aquele filho bendito voava para o céu. A festa dos 40 mártires de Sebaste é celebrada no dia 10 de março.
83. SÃO CLEMENTE MARIA
Nasceu São Clemente a 26 de dezembro de 1751 numa aldeazinha da Áustria. Contava sete anos apenas quando perdeu o pai. A mãe, tomando um dia o filhinho pela mão, levou-o à igreja e, diante de um belo e devoto Crucifixo, disse-lhe: 'Meu filho, de hoje em diante teu pai é Jesus; não te apartes jamais do caminho que não seja o dele'.
Esse conselho ficou gravado no coração e na memória de Clemente, servindo-lhe de estímulo nas horas difíceis de sua vida. Depois de ter sido, sucessivamente, aprendiz, eremita, peregrino e estudante, entrou, afinal, na Congregação dos Padres Redentoristas, em Roma, ordenando-se sacerdote, quando já contava 34 anos de idade. Santo Afonso, ouvindo falar dele, disse profeticamente: 'Esse padre fará grandes coisas para a glória de Deus'.
Em favor das crianças pobres e órfãs, saía o santo a esmolar, expondo-se a humilhações e vexames. Sacrificava-se pelo bem das crianças. Saiu, um dia, a esmolar e vendo na varanda de uma casa muitos homens em alegre reunião, julgou que ali receberia um bom auxílio para o orfanato. Aproximando-se modestamente de um daqueles senhores disse-lhe:
➖ Meu amigo, venho pedir-lhe um auxílio para os meus pequenos órfãos.
O homem, nada amigo de padres e ainda menos disposto a dar esmolas, cobriu-o de injúrias e, exaltado ao extremo e com sumo desprezo, escarrou no seu rosto. Clemente, com grande calma e paciência, toma o lenço, limpa o rosto, e diz:
➖ Meu amigo! isto foi para mim; agora dê-me alguma coisa para os meus pequenos órfãos.
Não houve, entre aqueles homens, quem não admirasse a heroica mansidão de Clemente. O próprio ofensor, arrependido, deu-lhe uma boa esmola e tornou-se grande admirador do santo.
Em suas pregações era Clemente bastante original. Havia no lugar, onde pregava, uma velha, mulher do ferreiro da vila, que se contentava com uma única confissão anual. Clemente exortou-a a confessar-se mais vezes, pois não demoraria a comparecer diante de Deus.
➖ Mas, padre, que diria a gente se a mulher do ferreiro fosse confessar-se muitas vezes?
No domingo seguinte, depois de pregar sobre a frequência aos sacramentos, de repente repete o dito pela esposa do ferreiro: 'que diria a gente se a mulher do ferreiro fosse confessar-se muitas vezes?' para, em seguida, indagar a própria que ali se encontrava:
➖ Ó boa 'ferreirinha', o que diria a gente se a 'ferreira' estivesse no inferno?
Uma testemunha de suas pregações dizia: 'Quando pregava, parecia um serafim. Por diversas vezes os numerosos ouvintes não podiam conter as lágrimas nem reprimir os soluços. Como confessor, era extraordinário. Parecia ler as consciências. Uma vez, um moço, logo após o sermão, procurou-o para confessar-se.
➖ Ainda não - respondeu o santo - vem comigo. E conduzindo-o a um quarto, aponta para o Crucifixo e diz: 'Olhe para o Crucificado e converta-se de fato'.
Rosa, aluna de um colégio, estava à morte. Agitava-se e gritava:
➖ O cão preto quer me devorar... o cão preto quer me devorar...
Chamaram a Clemente. Apenas penetrou no quarto, exclamou a menina:
➖O cão preto está fugindo... O cão preto desapareceu...
O santo preparou a jovem para a morte, que não demorou: 'Irmãs' - disse - 'temos agora no céu mais um anjo que rezará por nós'.
Chamado com razão de Apóstolo de Viena e de Propagador Insigne da Congregação Redentorista, após uma atividade estupenda, São Clemente entregou a sua bela alma a Deus no dia 15 de março de 1820, na idade de 69 anos. Foi canonizado a 20 de maio de 1909. Sus festa litúrgica é celebrada no dia 15 de março.
84. SANTA CATARINA DE GÊNOVA
Esta santa, falecida em 1510, não foi santa desde os seus primeiros anos de vida. Nasceu rica, viveu entre as diversões e nos dias de sua mocidade não foi lá muito piedosa, não. Era como tantas de hoje que pensam ser muito santas, só porque vão à missa de preceito e não dão graves escândalos. Casou-se, afinal, com um moço muito rico, o qual de cristão tinha apenas o nome. Isso bem o sabia ela antes de casar-se; mas, como acontece, deixou-se fascinar pelas riquezas, pela elegância e até pelas audácias daquele aventureiro do amor.
E sucedeu o que era de esperar: aquele homem, por causa de sua vida licenciosa, não pôde fazê-la feliz. Enquanto ela, em casa, chorava a sua desgraça, ele, como louco, corria de orgia em orgia. Esquecida de Deus, a pobre mulher maldizia a hora em que se casara com um pervertido como aquele. Menos mal. Morreu o canalha (e dizem que morreu convertido), e a jovem viúva pôde enfim respirar. Buscou ainda a felicidade nas diversões, reuniões barulhentas e nos espetáculos. Tinha uma fome canina de felicidade, e cada dia se sentia mais desgraçada.
Mas certo dia, ouviu uma voz interior que lhe dizia: 'Catarina, só em Deus acharás o verdadeiro amor e a felicidade'. A jovem viúva ficou muito comovida. Parecia-lhe, porém, impossível que a felicidade estivesse escondida atrás das grades de um convento e debaixo de um grosseiro hábito religioso. Não entrava em sua cabeça que o amor pudesse viver no silêncio do claustro e entre cilícios e disciplinas.
Catarina tinha uma irmã que, mais piedosa do que ela, se fizera religiosa e vivia contentíssima no convento. Quantas vezes esta santa religiosa, prostrada aos pés do sacrário, havia pedido a Jesus por aquela sua irmãzinha, que andava pelo mundo tão fútil, tão infeliz! Deus atendeu a sua oração. Um dia Catarina foi visitá-la. Estava triste como nunca a pobre viúva. E ali, no regaço de sua santa irmã, deixou correr lágrimas muito amargas. Disse-lhe: 'Sou uma desgraçada; o mundo é um impostor; o amor não é mais que um egoísmo brutal; não, não aguento mais! quero morrer'.
A santa irmã deixou que ela se desabafasse e, enxugando as lágrimas disse-lhe:
➖ Catarina, parece mentira que andes tão louca e enganada. Já não te disse mil vezes que só Deus é a verdadeira felicidade, que só nele encontrarás o amor puro que não deixa na alma remorsos e desenganos? Deus te chama ao seu amor e tu te empenhas em fazer-te surda às suas vozes amorosas. Resolve-te de uma vez a consagrar-te a Deus e encontrarás a paz e o amor. Faça uma boa confissão e confie na divina misericórdia. Estou certa de que Nosso Senhor há de te fazer feliz.
A dor e os desenganos e, mais que tudo, a própria graça de Deus haviam já preparado o coração de Catarina. Caiu de joelhos diante de uma imagem de Jesus crucificado e chorou amargamente, dizendo: 'Meu Jesus, não quero mais pecar, não quero mais pecar. Jesus, Amor infinito das almas, toma o meu coração. Ele é teu'. E assim, banhada em lágrimas, ajoelhou-se aos pés de um santo confessor. Ali esteve longo tempo. Quando se levantou, já era outra. Ajoelhara-se pecadora e levantara-se santa, porque esse foi o dia de sua definitiva conversão. Daí em diante viveu e morreu como santa. Sua festa litúrgica é celebrada no dia 22 de março.
85. A VIDA LENDÁRIA DE SÃO DIMAS
Contam antigas lendas que a Sagrada Família, ao fugir para o Egito, quis refugiar-se, para passar a noite, numa cova que, por desgraça, era uma guarida de ladrões. O capitão dos bandidos sentiu-se comovido ao ver a venerável bondade de São José, a pureza e formosura da Santíssima Virgem e o olhar todo celeste do Menino Jesus. Acolheu-os, deu-lhes de comer e, na manhã seguinte, ofereceu-lhes pão para a viagem e, a Maria, uma bacia de água para banhar o Menino.
O capitão tinha um filhinho, aproximadamente da idade de Jesus, que se achava coberto de lepra. Nossa Senhora, correspondendo às finezas daquele homem rude e duro, mas que algo de bom tinha no coração, aconselhou-o a lavar o filhinho na água em que banhara o Menino Jesus. Assim o fez o bandoleiro e, no mesmo instante, seu filhinho ficou curado da lepra. O capitão lembrou muitas vezes ao filho a quem devia a saúde e a vida, dizendo: 'Foi o milagre de um Menino de tua idade, que seria, quem sabe, o Messias anunciado pelos profetas'.
Crescendo, seguiu aquele menino o exemplo do pai, tornando-se ladrão. Preso e condenado à morte, ao subir ao Calvário, ia pensando em Jesus, seu companheiro de suplício, que era tão santo e paciente, que, sem dúvida, havia de ser o Messias, aquele mesmo menino que o livrara da lepra. As lendas dizem que o bom ladrão se chamava Dimas e o mau, Gestas. Ambos foram condenados a morrer junto com Jesus e no mesmo suplício.
Atrás de Jesus subiram ao Calvário, levando suas cruzes. Junto com Ele, foram levantados nas respectivas cruzes. Viram como os soldados repartiam entre si as vestes do Salvador; mas, como a túnica era de uma só peça, tiraram a sorte a ver quem a levaria. Ouviram as palavras de Cristo: 'Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem'. Jesus era objeto de todos os insultos. A multidão, curiosa e soez, passava por diante dEle, e, movendo a cabeça em sinal de desprezo, diziam: 'Vamos! Tu que destróis o templo de Deus e em três dias o reedificas, salva-te a ti mesmo. Se és o Filho de Deus, desce da cruz...'
Todos blasfemavam e insultavam a Jesus. Mas a graça operou um milagre: um dos ladrões, Dimas, considerando as virtudes sobre-humanas de Jesus, acreditou ser Ele o Messias prometido e amou de todo o coração a Bondade infinita. Dirigindo-se a Gestas, o outro crucificado, repreendeu-o, dizendo: 'Como não temes a Deus, estando como estás no mesmo suplício? É justo, na verdade, que soframos por nossos crimes, mas Jesus, que mal Ele fez?'
E, cheio de esperança e com grande arrependimento, disse a Jesus: 'Senhor, quando chegares ao teu reino, lembra-te de mim'. Jesus, olhando Dimas com infinita misericórdia, respondeu: 'Em verdade te digo que hoje mesmo estarás comigo no paraíso'. Naquela mesma noite, a alma de Jesus visitou o limbo dos justos e concedeu ao Bom Ladrão a vista de Deus e a felicidade eterna. Sua festa litúrgica é celebrada no dia 25 de março.
86. UM PREGADOR QUE SACUDIA O AUDITÓRIO
Nascido em meados do século XIV, na formosa Valença, São Vicente Ferrer, já na infância, deu claros indícios de extraordinária missão que Deus lhe reservara. Gostava de ouvir sermões, para, depois, reunidos com os seus colegas, repetir-lhes com grande ardor os trechos mais impressionantes.
Apareceram, no pescoço de um seu amiguinho de cinco anos, umas chagas malignas. Vicente foi visitá-lo e, para mortificar-se e aliviar o doente, lambeu-lhe as chagas, que, imediatamente, desapareceram. Este foi o primeiro milagre que operou. Aos dezoito anos, entrou para a Ordem Dominicana, tornando-se professor famoso em várias universidades. Mas o fruto obtido por seus sermões fê-lo abandonar a cátedra e dedicar-se exclusivamente à pregação.
Percorreu, como pregador, grande parte da Europa, não faltando em nenhuma de suas missões o famoso sermão sobre o fim do mundo e o Juízo universal. Certa vez, ao pregá-lo numa praça diante de milhares de ouvintes, quando pronunciou com voz terrível aquelas palavras dos anjos: 'Levantai-vos, ó mortos, vinde ao Juízo!', todo auditório caiu por terra, como morto; e, todos, ao se erguerem, estavam pálidos e a tremer, como se surgissem dos sepulcros.
Outra vez, pregando o mesmo sermão, disse ser ele o anjo, do qual São João diz, no Apocalipse, que cruzará pelos ares, clamando: 'Temei a Deus e honrai-o, porque está chegando a hora do Juízo'. Escandalizaram-se alguns, ao ouvirem tais palavras; mas o santo, para provar-lhes que tinha razão, mandou que trouxessem uma defunta que era levada ao cemitério. Vários homens saíram e, realmente, encontraram o cortejo fúnebre e trouxeram à praça o caixão. Puseram-no, por ordem do santo, no meio do povo. O pregador mandou que a defunta se levantasse e convidou-a a reconhecer que era ele o anjo do Apocalipse, enviado por Deus para lembrar aos homens o fim do mundo. Ela confirmou a palavra do santo, diante daquela imensa multidão admirada.
Dirigindo-se à ressuscitada, perguntou São Vicente: 'Queres viver ou morrer de novo?' - 'Quero viver para fazer mais pelo céu'. E aquela mulher foi, por muitos anos, um atestado vivo do poder de São Vicente. Seus sermões convertiam cidades inteiras e enchiam os seminários e os conventos. Seguiam-no milhares de penitentes, indo os homens à direita, as mulheres à esquerda e, no meio, os sacerdotes, rezando todos o rosário e cantando hinos religiosos. Era de ver o fervor com que todos faziam penitência, disciplinando-se e implorando o perdão de seus pecados. São Vicente morreu como santo em 1419 e sua festa litúrgica é celebrada no dia 5 de abril.
87. SANTA CASSILDA
Era princesa moura, filha do rei Toledo, e nasceu em fins do século décimo. Seu boníssimo coração estremecia diante das misérias e sofrimentos que suportavam os escravos cristãos, aprisionados pelo rei em suas campanhas guerreiras. A princesa visitava as masmorras e socorria os prisioneiros com dádivas e palavras consoladoras. Eles, em troca, instruíam-na pouco a pouco na doutrina cristã.
Atraída pela beleza de nossa religião, tão heroica e ao mesmo tempo tão misericordiosa, Cassilda pedia a Nossa Senhora, da qual lhe haviam falado os cativos, que se compadecesse dela e lhe mostrasse o caminho para receber o batismo e viver seguindo a fé cristã. A Virgem atendeu às suas súplicas. Cassilda começou a sentir-se doente de mal estranho que lhe consumia os ossos, e contra o qual se mostravam impotentes os melhores médicos.
Um cativo cristão contou-lhe que, perto de Burgos, havia uma fonte, chamada de São Vicente, cujas águas curariam a sua doença. A princesa referiu ao pai o que ouvira do cativo e pediu-lhe licença para experimentar aquele remédio. Seu pai opôs-se, a princípio, por achar-se a fonte em terra de cristãos; mas, diante dos progressos da enfermidade, terminou por aceder. Acompanhada de um séquito deslumbrante, chegou Cassilda a Burgos, onde foi cortesmente recebida pelo rei Fernando I da Castela e hospedada com todas as honras. Dirigiu-se logo à prodigiosa fonte e, quando se banhou em suas águas, recobrou a saúde corporal. Atribuindo-a à intercessão de Nossa Senhora, acabou de instruir-se na doutrina cristã e, pouco depois, as águas do batismo deram-lhe a saúde da alma.
O rei, seu pai, alarmado com a demora e com as notícias que recebia, enviou-lhe mensageiros com a ordem de regressar imediatamente. Santa Cassilda mandou dizer-lhe que já era princesa do céu e que, por seu reino temporal, não queria perder o reino eterno. Mandou construir uma humilde cela perto da fonte milagrosa e da igreja, onde recebera o batismo, e ali passou a vida, dando exemplo de todas as virtudes, especialmente de caridade e penitência. Sua festa é celebrada no dia 9 de abril e suas preciosas relíquias são veneradas, atualmente, parte na catedral de Burgos e parte na catedral de Toledo.
88. SANTA CATARINA DE SENA
Nasceu em Sena, cidade da Itália, em 1347, no dia em que a Igreja celebra o mistério da Encarnação. Seu pai dedicava-se à indústria tintureira. Catarina fôra precedida, no lar paterno, por vinte e um irmãos. Contava apenas seis anos, quando Nosso Senhor a favoreceu com uma visão extraordinária e profética.
Sobre a torre do convento de São Domingos, viu um trono resplandecente, no qual estava sentado Jesus Cristo, revestido como um papa, com a tiara na cabeça, e tendo a seu lado São Pedro, São Paulo e São João. Jesus Cristo infundiu-lhe um conhecimento sobrenatural do que é a igreja e um amor ardentíssimo à mesma, e anunciou-lhe que seria uma grande capitã de seus exércitos e que Ele se valeria dela para purificar a sua igreja.
Aos quatorze anos, manifestou aos seus pais o desejo de ingressar na Ordem Terceira de São Domingos. Para provar a sua vocação, empregaram-na nos trabalhos mais humildes. Foi a criada de todos. Portou-se com tamanha humildade que seus pais consentiram que seguisse a vocação religiosa. Para que compreendesse ainda mais a Igreja, Jesus Cristo fê-la morrer, e sua alma, separada do corpo, percorreu o céu e o purgatório e mostrou-lhe até mesmo o inferno, onde os separados para sempre da Igreja sofrem eternamente e, em seguida, a ressuscitou.
Assim preparada, começou o seu apostolado. Não pregava dos púlpitos, porque isso competia aos sacerdotes; falava, porém, a enormes auditórios tanto nas praças como em pleno campo. Seguiam-na milhares de discípulos, entoando salmos de penitência; seguiam-na muitos sacerdotes, que confessavam os pecadores arrependidos. Aqueles eram dias difíceis para a Igreja. O papa mudara-se para a cidade de Avinhon, na França, e esta troca de residência do bispo de Roma escandalizava e dividia os católicos.
Obedecendo a Jesus Cristo, Santa Catarina apresentou-se ao papa, que era então Gregório XI, e intimou-o a voltar para Roma. O pontífice pediu-lhe uma prova de que o Espírito Santo a inspirava e ela respondeu: 'Tu mesmo o prometeste, com voto, no dia de tua elevação ao Pontificado'. O Papa, ao ver descoberto esse segredo, que a ninguém da terra havia confiado, não vacilou mais e transferiu-se para Roma.
Santa Catarina pediu a Deus que aceitasse a sua vida pela salvação do sucessor de Gregório XI, Urbano VI, a quem os demônios queriam assassinar, induzindo os romanos à sublevação. Aceitou Jesus a sua oferta, sendo a última enfermidade um verdadeiro martírio. Seu corpo parecia um esqueleto. A 29 de abril de 1380, aos trinta e três anos de idade (isto é, na mesma idade em que morreu Jesus Cristo, segundo se crê), seu rosto iluminou-se e sua alma voou para o céu. Sua festa litúrgica é celebrada no dia 30 de abril.
89. O SIGILO DA CONFISSÃO
São João Nepomuceno, natural da Boêmia, foi martirizado em Praga no ano de 1393. Seus pais, de idade bastante avançada, desejando ter sucessão, visitaram como peregrinos um santuário de Maria, onde imploraram a graça. Dizem que, ao nascer-lhes o filho, baixou do céu uma luz que envolveu toda a casa em forma de auréola.
A primeira coisa que o menino quis aprender na escola foi o catecismo e o modo de ajudar à missa. Todas as manhãs corria ao convento e, com edificante piedade, servia de coroinha. Sentindo vocação para padre, foi para Praga, capital do reino, onde estudou, recebeu as sagradas ordens e começou a pregar. Tendo os seus sermões produzido notável mudança nos costumes, foi nomeado cônego e pregador da corte. Quis o rei Venceslau que o santo fosse sagrado bispo; João, porém, que era muito humilde, declinou daquela honra, mas continuou desempenhando o cargo de confessor da rainha.
Aconteceu que o rei começou a entregar-se a excessos degradantes: embriagava-se com frequência e deixava-se arrebatar pela cólera a ponto de mandar meter num forno aceso o seu cozinheiro, pelo simples fato de lhe ter servido uma ave mal assada. Entre outras alucinações, concebeu a ideia de que sua esposa lhe era infiel e quis vingar-se. Mas como essa ideia não se apoiava em prova alguma, chamou o confessor da rainha e exigiu que revelasse os pecados ouvidos na confissão da mesma, prometendo-lhe grandes recompensas. São João respondeu: 'Não posso quebrar o sigilo sacramental. Tenho que servir e obedecer a Deus antes que aos homens'. Venceslau mandou atormentá-lo com tenazes em brasa e encerrá-lo num cárcere escuro. Mas, vendo que nada conseguia e tendo a rainha intercedido por seu santo confessor, deixou-o em liberdade.
Isso, porém, não durou muito. Um dia, voltava o santo de uma visita ao santuário de Nossa Senhora de Bunzlau e, ao passar perto do palácio real, o cruel Venceslau viu-o e, num de seus arrebatamentos de cólera, ordenou aos soldados que o prendessem e disse-lhe: 'Olha, padre: agora não se trata de guardar silêncio. Se não me dizes já os pecados que sabes da rainha, beberás toda a água do rio Moldava. O santo nem respondeu a tão insolentes palavras. Limitou-se a cruzar os braços e a orar. Ataram-lhe então os pés e as mãos, meteram-lhe na boca uma cunha e arrojaram-no do alto da ponte principal de Praga ao rio. Tendo sido milagrosamente encontrado o seu cadáver, sepultaram-no na catedral. Em 1719, estava ainda incorrupta a língua do mártir do sigilo sacramental.
90. SANTA RITA DE CÁSSIA
Nasceu esta santa a 22 de maio de 1381, num pequeno povoado chamado Rocca Porrena, não muito distante de Cássia, na Itália. Quando os pais, que eram lavradores, iam trabalhar na roça, depositavam a filhinha num cestinho de vime, que colocavam à sombra de uma árvore. Um dia, enquanto lavradores e pássaros cantavam alegres, a criança sonhava e agitava as débeis mãozinhas, tendo os olhos voltados para o céu azul.
Foi então que se deu um fato curioso, como se lê em sua biografia. Um grande enxame de abelhas brancas envolveu a menina, produzindo um zumbido especial. Muitas entraram em sua boca e nela depositaram mel; e o mais interessante é que nenhuma a picava, como se não tivessem ferrões. Nenhum choro da criança se ouvia; de modo que os pais perceberam o fato, quando um dos ceifeiros se feriu com a própria foice e quis ir a Cássia para o necessário curativo. Ao passar perto da criança, viu as abelhas, que logo começaram a zumbir-lhe ao redor da cabeça. Parou e agitou as mãos para livrar-se delas e no mesmo instante a sua mão ferida cessou de sangrar e o ferimento fechou-se. Deu gritos de surpresa e, quando os pais da criança chegaram correndo, o enxame estava de novo rodeando a criança. Este fato é relatado pelos biógrafos da santa e transmitido pelas lições do Breviário.
Rita cresceu e, contra o seu desejo, foi por seus pais dada em casamento a um homem que a fez sofrer muitíssimo. A santa não só soube suportar tudo com heroica paciência, como ainda conseguiu a conversão do esposo. Após o falecimento deste, pediu admissão num convento, mas não a receberam. Deus, porém, a queria no convento e, certo dia, por um milagre, quando as religiosas, de madrugada, entraram no oratório, lá estava a santa a rezar.
O milagre da videira seca é daquele tempo. A superiora, para por à prova a obediência da boa noviça, ordenou-lhe que regasse de manhã e de tarde um madeiro seco, provavelmente um galho de videira que só servia para o fogo. Rita não opôs dificuldade alguma: de manhã e de tarde com admirável simplicidade, desempenhava sua tarefa, enquanto as Irmãs a observavam e se edificavam. Muito tempo durou a prova, ocasião naturalmente de muitos merecimentos para a santa. E Deus, também, quis manifestar quanto lhe agradou a obediência da virtuosa noviça. e foi assim: um belo dia ficaram as Irmãs estupefatas; e não era para menos, pois aquele galho seco começou a viver: surgiram brotos, apareceram folhas, estenderam-se ramos e uma bela videira deu a seu tempo deliciosas uvas. Foi um milagre evidente e que perdura até hoje, pois a videira milagrosa lá está na horta das agostinianas de Cássia para testemunhar a obediência da santa.
Benzem-se as uvas que são produzidas e, pelo seu uso e pela invocação da santa, obtêm-se grandes graças e maravilhosas curas. A 22 de maio de 1457, voava para o céu aquela santa alma. São inúmeros os fatos maravilhosos devidos à sua intercessão e, por isso, que é chamada a santa das causas impossíveis. Foi canonizada por Leão XIII em 1900. Sua festa litúrgica é celebrada no dia 22 de maio.
91. SÃO PEDRO, APÓSTOLO
Nasceu em Betsaida, cidade da Galileia. Seu pai chamava-se Jonas, nome que por singular coincidência significa 'pomba'. Em certo sentido, todos os papas são filhos da 'pomba', porque na eleição dos mesmos influi o Espírito Santo. E São Pedro haveria de ser o primeiro papa. Tinha um irmão chamado André, e dois primos, Tiago e João, filhos de Zebedeu e pescadores, como ele no lago de Tiberíades.
Casara-se Pedro em Cafarnaum, porto famoso daquele lago, e vivia muito bem com os seus. Prova disso é que Jesus, sem dúvida a pedido de Pedro, curou-lhe a sogra. Não só era bom esposo, mas - coisa menos frequente - era também bom genro. Um dia entrou Jesus na barca de Pedro e seus companheiros e mandou que remassem para o alto mar e lançassem as redes.
➖ Mestre - disse Pedro - trabalhamos a noite inteira e não pegamos nenhum peixinho; mas, já que assim o queres, em teu nome lançarei as redes.
A pesca foi tão abundante que Pedro se lançou aos pés de Jesus, suplicando:
➖ Afasta-te de mim, Senhor; eu não sou mais que um miserável pescador.
➖ Tem confiança e segue-me. De hoje em diante serás pescador de homens.
E Pedro, abandonando tudo, seguiu prontamente a Jesus. Cristo distinguiu-o muito e prometeu-lhe que o faria seu Vigário e Chefe supremo da Igreja. Pedro, por sua vez, foi o primeiro a afirmar categoricamente que Jesus era o Filho de Deus.
Durante a última Ceia, Pedro mostrou-se excessivamente confiado nas próprias forças. Jesus, porém, disse a ele e aos outros que, quando o vissem preso e maltratado, todos o abandonariam. Pedro replicou impetuosamente:
➖ Ainda que todos te abandonem, eu não te abandonarei.
Nosso Senhor repreendeu-o suavemente, porque sabia que o ardoroso Apóstolo o havia de negar três vezes. E assim foi. Mas Pedro, segundo contam os antigos, chorou tanto esse pecado, que as lágrimas abriram dois sulcos em suas faces.
Depois da Ressurreição, foi nomeado solenemente por Jesus Cristo como Chefe supremo da Igreja , que governou até à morte. Em Jerusalém, o rei mandou prendê-lo para, depois da Páscoa, dar-lhe a morte. Mas, ouvindo as preces dos fiéis pelo primeiro Pontífice, enviou Deus um anjo à prisão e o Apóstolo foi libertado.
Depois de ter estado em Antioquia, fixou Pedro a sua sede em Roma, de onde governou toda a Igreja. Quando Nero decretou a primeira perseguição contra os cristãos, São Pedro foi encerrado na prisão Mamertina, onde permaneceu vários meses em companhia de São Paulo. A 29 de junho do ano 67, o príncipe dos apóstolos foi crucificado sobre uma colina às margens do rio Tibre. Pediu e obteve que o pregassem na cruz de cabeça para baixo, por se julgar indigno de morrer da mesma forma que seu divino Mestre. No lugar do glorioso martírio de São Pedro, levanta-se hoje o Vaticano, onde reside o seu sucessor, o Papa. Festa litúrgica: 29 de junho.
92. SANTA MARIA MADALENA
Nasceu provavelmente em Betânia. Foi filha, segundo Santo Antonino, de Siro e de Êucaris, ambos muito considerados por sua nobreza e fortuna. Eram seus irmãos Marta e Lázaro, a quem Jesus ressuscitou.
Maria Madalena, pela morte de seus pais, herdou o castelo da Magdala e converteu-o em palácio de prazeres mundanos. Suas paixões e as carícias, de que era alvo por causa de sua formosura, levaram-na a cometer graves pecados. Talvez por conselho de seus irmãos foi um dia ouvir a pregação de Jesus. Foi para ela a hora da graça. A grande pecadora - escreve São Gregório - começou a amar a Verdade e resolveu mudar de vida; antes, porém, quis obter o perdão de seu Mestre.
Estava Jesus à mesa em casa de um fariseu, chamado Simão. Maria de Magdala ajoelhou-se a seus pés, regou-os com suas lágrimas de arrependimento, perfumou-os com riquíssimo aroma e enxugou-os com seus próprios cabelos. O fariseu dizia consigo: 'Se este homem fosse profeta, bem saberia que é essa mulher e não consentiria que ela lhe beijasse os pés'. Mas Jesus, penetrando-lhe os pensamentos, disse:
➖ Simão, vês esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; ela, porém, banhou-me os pés com suas lágrimas e enxugou-os com seus cabelos. Não me deste o beijo da paz; ela, porém, não cessou de beijar-me os pés, desde que entrou. Não me ungiste a cabeça com perfume; ela, porém, ungiu-me os pés com bálsamo precioso... Pelo que te digo que lhe são perdoados os seus pecados, porque amou muito
Depois disse à pobre Madalena:
➖ Os teus pecados te são perdoados - e acrescentou - A tua fé te salvou; vai-te em paz.
Os Evangelhos contam vários outros episódios em que intervém Maria Madalena. Com São João e as santas mulheres, acompanhou Jesus durante a paixão, esteve aos pés da cruz e ajudou a amortalhar o corpo do Senhor. No domingo, foi a primeira a chegar ao sepulcro e, achando-o vazio, correu a avisar a São Pedro e a São João. Verificando o fato, voltaram para casa; Maria, entretanto, continuou a chorar junto ao sepulcro.
Olhando para o interior do mesmo, viu dois anjos vestidos de branco, sentados um à cabeceira e o outro aos pés, que lhe perguntaram:
➖ Mulher, por que choras?
➖ Choro - respondeu - porque levaram daqui o meu Senhor e não sei onde o puseram.
De repente ouve passos. Volvendo o olhar, vê Jesus a quem toma pelo coveiro e lhe diz:
➖ Se tu o tiraste daqui, dize-me onde o puseste e eu o levarei.
Então o suposto coveiro pronunciou o seu nome: 'Maria!' Ela, reconhecendo a voz de Jesus, diz: 'Mestre!' e quis beijar-lhe os pés. Mas Jesus se opôs, dizendo:
➖'Não me toques, porque ainda não subi ao Pai' - e a encarregou de anunciar aos discípulos a ressurreição.
Segundo antiga lenda, Santa Madalena teve de fugir da Palestina, em companhia de seus irmãos Lázaro e Marta, indo estabelecer-se em Marselha e dizem que Lázaro foi o primeiro bispo dessa cidade. A nossa santa, porém, retirada a uma gruta, passou seus últimos trinta anos de vida fazendo rigorosíssimas penitências. A Igreja celebra a festa desta santa em 22 de julho.
93. SÃO JOÃO MARIA VIANNEY
Nasceu de família humilde numa pequena aldeia da França em 1785. Aos oito anos guardava um pequeno rebanho e, levando consigo uma pequena imagem de Nossa Senhora, reunia os companheiros da sua idade e diante da imagem rezavam o rosário. Outras vezes, confiava à sua irmãzinha a guarda das ovelhas e procurava um lugar solitário para rezar.
Aos treze anos deixou o rebanho e começou a trabalhar na roça. 'Quando estava na roça' - conta ele mesmo - 'rezava em voz alta, se não havia ninguém perto; em voz baixa, quando havia ali algum companheiro'. Ao manejar a enxada, costumava dizer: 'É preciso arrancar a alma das más ervas'. Quando, depois de comer, os outros dormiam a sesta, eu aparentava dormir, mas continuava conversando com Deus em meu coração. Quando ouvia o relógio, dizia: 'Coragem, minha alma; o tempo passa; a eternidade chega; vivamos como condenados a morrer. E rezava uma Ave-Maria'.
Estudou para padre. Muito lhe custou passar nos exames; mas, à força de trabalho, penitência e oração, conseguiu chegar ao bom termo. Seus superiores mostraram-se benévolos com ele, porque reconheciam sua virtude e seu zelo. Foi destinado a reger a pequenina paróquia de Ars. Os moradores de Ars eram indiferentes; não iam à igreja. João Maria recorreu às suas armas favoritas: passava horas inteiras, em oração, diante do sacrário; mortificava-se, disciplinava-se e tudo oferecia a Deus para que tocasse os corações de seus paroquianos. Ao mesmo tempo, esmerava-se em tratá-los com amor e prodigalizar-se conselhos e esmolas.
Pouco a pouco fez-se o milagre, e Ars começou a ser uma paróquia exemplar. A fama da santidade do cura de Ars transpôs fronteiras não só daquela aldeia, mas até da França. Milhares e milhares de pessoas chegavam de toda a parte para confessar-se com o santo, ouvir os seus sermões, solicitar seus milagres. Em 1840, contaram-se mais de 20.000 peregrinos, e esse número continuou aumentando.
Levantava-se, invariavelmente, à meia-noite para dirigir-se à igreja e sentar-se no confessionário. Os penitentes sucediam-se sem interrupção até às sete da manhã, hora em que o vigário celebrava. Terminada a missa, outra vez confissão até às onze. Subia, então, ao púlpito e fazia a sua instrução catequética. Saia da igreja ao meio-dia. Dois guardas precisavam defendê-lo dos empurrões do povo, pois todos queriam vê-lo, falar-lhe, tocá-lo, receber a sua bênção ou guardar alguma palavra sua. Às 13 horas, novamente confissões até à reza da noite.
Perguntaram-lhe uma vez:
➖ Se Deus vos permitisse escolher entre estas duas coisas: ir para o céu, agora mesmo, ou ficar na terra, até o fim do mundo, trabalhando na conversão dos pecadores, que faríeis?
➖ Ficaria na terra.
➖ Até o fim do mundo?
➖ Sim, até o fim do mundo.
➖ Mas, com tanto tempo ainda, não vos levantaríeis tão de madrugada, não é?
➖ Ah! meu amigo; levantar-me-ia como agora, à meia-noite, e seria o mais feliz dos servidores de Deus.
Gozava do dom da profecia e penetrava no mais secreto das vidas e das consciências. Gente não disposta a confessar-se, ou resolvida a fazê-lo mal, ficava surpreendida quando o santo lhe recordava os pecados ocultos, e saía chorando do confessionário. Dissipava as dúvidas com muita facilidade. Fez grandes e inúmeros milagres tanto em vida como depois da morte, cuja data ele mesmo anunciou com exatidão. A 4 de agosto [no original, data indicada como 09 de agosto], aos setenta e três anos de idade, sua alma voou para o céu, onde goza e gozará do prêmio eterno de seus trabalhos e penitências. Festa litúrgica: 4 de agosto.
94. NUNCA PISAREI EM MEU DEUS
Nasceu São Dominguinho [São Domingos do Val] em Saragoça (Espanha) no ano de 1240. Quando sua mãe lhe deu o primeiro abraço, descobriu em seu ombro a marca de uma cruz e, sob os cabelos louros, um círculo encarnado, como de uma coroa de espinhos. O brasão da família, descendente de um cruzado francês, ostentava uma grande cruz sobre fundo encarnado com quatro estrelas angulares.
'Isto significa - dizia-lhe o pai - 'que nós estamos sempre dispostos a derramar o sangue por Jesus Cristo e procuramos exercitar-nos nas virtudes'. O menino foi educado no colégio da catedral. Era de se ver a piedade com que servia ao altar e a voz angélica com que entoava os cantos sacros. Os mestres elogiavam nele mormente a aplicação e a docilidade.
Os judeus de Saragoça resolveram assassinar um menino cristão para regar com seu sangue os pães ázimos da ceia pascal. Encarregado pela sinagoga, um deles sequestrou o inocente Dominguinho, quando regressava da catedral e, à noite, levou-o aos judeus.
➖Dominguinho - disse-lhe o grande rabino - não te faremos mal algum, se atirares ao chão esse crucifixo que trazes ao pescoço e se o pisares com os teus pés.
➖Ah! não; nunca pisarei em meu Deus! - respondeu o menino.
Condenaram-no, então, à morte e reproduziram com ele toda a paixão de Jesus Cristo. Açoitaram-no, coroaram-no de espinhos, pregaram-no na parede e, quando expirou, atravessaram-lhe o coração com uma enorme faca. Durante toda essa cena bárbara, Dominguinho rezava e perdoava. Uma vez recolhido o sangue da vítima, para os seus ritos, os judeus cortaram-lhe a cabeça e as mãos, arrojando-as numa cisterna e, depois, enterraram o resto do corpo.
Eis, porém, que tudo foi descoberto. Luzes miraculosas foram vistas sobre o sítio em que jazia o cadáver. As autoridades foram avisadas. Feitas as devidas pesquisas, encontrou-se o corpinho mutilado e, depois, a cabeça e as mãos do mesmo. Presos os presumíveis culpados, um deles por nome Albaeluz declarou-se autor do horrível crime. Foi condenado, mas, antes de morrer, converteu-se ao cristianismo e foi batizado. Certamente foi por meio de Dominguinho que ele alcançou essa graça [Sua festa litúrgica era celebrada em 31 de agosto, sendo excluída no novo calendário litúrgico oficial da Igreja].
95. SÃO GERALDO MAJELA
Nasceu este Santo na pequenina cidade de Muro, na Itália, em abril de 1726. Seu pai, que exercia a profissão de alfaiate, faleceu poucos anos depois, em 1738. Geraldo, que precisava ajudar a mãe e as irmãs, teve de abandonar o estudo e dedicar-se à aprendizagem do ofício paterno.
Conta-se que, um dia, um pobre lhe pediu que, por caridade, lhe fizesse um terno. Entregou-lhe, para esse fim, um tecido absolutamente insuficiente. O santo não hesitou um instante. Começou a cortar o pano, o qual foi crescendo de tal modo entre as suas mãos, que chegou para o terno e ainda sobrou. Admitido na Congregação Redentorista, foi um modelo de todas as virtudes e um insigne taumaturgo. São sem conta os milagres associados a ele.
Um dia, por exemplo, entrando em uma choupana, pediu à dona que ali morava um pedaço de pão, por amor de Deus. Ora, fazia dois dias que não havia pão naquela casa. A pobre mulher tinha apenas um pouco de farinha, que, naquele instante, trouxera para ele. Desculpou-se, pois, dizendo que nada podia dar, porque nada possuía.
➖ Não tens nada? - replicou o santo - e a vossa caixa não está cheia?
➖ Pobre de mim! Ela está muito vazia, isso sim.
➖ Tende confiança em Deus, e levantai a tampa da caixa.
A mulher abriu a caixa e - ó milagre! - encontra-a cheia de pão de excelente qualidade.
Por causa de sua vida austera e penitente, grande poder tinha o santo sobre os espíritos malignos, que lhe moviam guerra sem tréguas. É notável e interessante o fato seguinte: Geraldo estava de viagem para Iliceto. Espesso nevoeiro caía sobre a terra; a noite adiantada, a cheia do rio, os abismos ocultos pelas trevas, tudo concorria para tornar muito difícil a posição de Geraldo, que, de mais a mais, perdera o caminho. De repente, um vulto sinistro avança, barra-lhe a passagem e diz em tom sarcástico: 'Chegou a hora da vingança: tenho todo poder sobre ti!' Compreendendo que aquele não podia ser outro senão o demônio, Geraldo sem perda de tempo, diz: 'Besta vil, em nome da Santíssima Trindade, eu te ordeno que tomes a rédea do meu cavalo e me conduzas direito à cidade sem me causar dano algum. E o demônio, muito constrangido, teve de obedecer.
Achando-se um dia, na praia de Nápoles, viu que um barco cheio de gente ia sendo arrastado para o alto mar e que, dentro em breve, seria engolido pelas ondas. Considerando a iminência do perigo, Geraldo gritou para a embarcação: 'Em nome da Santíssima Trindade, pára!' E o barco permaneceu imóvel. O santo, caminhando sobre as águas, sem o menor esforço, puxou o barco até à praia. '- Milagre! Milagre! É um santo!...' E Geraldo escondeu-se na oficina de um artesão e dali não saiu até que o povo se dispersasse.
A 16 de outubro de 1755, após uma vida breve mas santíssima, fechou os olhos para este mundo. Quando o médico lhe perguntou se desejava viver, respondeu: 'Nem viver e nem morrer: quero só o que Deus quiser'. E, depois, suspirou: 'Sofrer, meu Jesus, sofrer ainda; é pouca coisa, quando se sofre por vós'. Festa litúrgica em 16 de outubro.
96. O NIGROMANTE SANTO
A vida do irmão coadjutor redentorista, que veneramos em nossos altares como Geraldo Majela, está semeada de maravilhas. Regressava, um dia, ao seu convento. Sua batina muito pobre; seu chapéu muito velho. Atravessava uma floresta e, com o pensamento em Deus, murmurava atos de amor. Andava também por ali um sujeito com o péssimo intento de assaltar os viajantes para roubar-lhes o dinheiro que encontrasse. Viu o jovem religioso e ficou admirado. 'Esse homem' - dizia - 'não é um religioso, deve ser um nigromante, um desses homens que têm trato com os espíritos do outro mundo e que possuem a rara virtude de encontrar tesouros nas entranhas da terra'. E sem mais, aproxima-se do Irmão e diz: 'Não negues: li em teus olhos, todo o teu porte me diz que és um nigromante. És um feiticeiro poderoso, possui os segredos da natureza e sabes as entranhas que guardam tesouros'.
O Santo Irmão fitou nele um olhar cheio de surpresa e de bondade. Deus fê-lo compreender imediatamente que era aquele pobrezinho um salteador de estrada que assim falava, e respondeu: 'Não te enganaste. Tenho realmente o segredo de um grande tesouro. Eu lhe poderia ensinar, mas não me atrevo. Para isso seria mister que fôsses homem de muita coragem... mas não sei se o serás...
➖Sou, sim - replicou o salteador - Não tremo diante de crime algum; a mim não me espanta nem mesmo o diabo. Tenho roubado, matado, enfrentando inimigos. Nem o sangue das vítimas, nem o brilho das armas me intimida. Quando quero alguma coisa, eu a consigo, ainda que tenha que passar por cima de cadáveres.
Geraldo, o jovem taumaturgo, não se intimidou: calmo e bondoso, fixou nele os olhos e disse: 'Pois se és tão valente, segue-me. Garanto que encontrarás um grande tesouro'. Puseram-se a caminhar. Adiante ia Geraldo, atrás o sujeito. Geraldo rezava em voz baixa, o sujeito ia já devorando com os olhos da alma o ouro que via em suas mãos.
Assim chegaram ao meio da selva, longe da estrada. Ali chegados, tirou Geraldo o capote e estendeu-o aberto no chão. O sujeito olhava assombrado. Começava a tremer. Parecia-lhe que de repente apareceria ali o diabo em pessoa. Mordia os lábios e todo o seu corpo se agitava com espantoso tremor. Geraldo olhou para ele com grande majestade e disse:
➖ Agora ajoelha-te sobre esse manto.
O sujeito ajoelhou-se. Tremia dos pés à cabeça.
➖Agora junta as mãos!
O sujeito juntou as mãos e cravou os olhos aterrados naquele tremendo nigromante. Naquele solene momento, São Geraldo tirou do peito o Santo Cristo, que sempre tinha consigo, e, pondo-o diante do salteador, disse:
➖ Meu irmão pecador, eu te prometi que encontrarias um tesouro sem igual nem no céu nem na terra... Não vês o Cristo? Não o conheces? É o teu Deus: morreu por ti, por tua salvação, para perdoar teus pecados, para levar-te para o céu. E tu, infeliz, que fizeste?
Naquele momento, lenta e solenemente, lhe ia recordando todos os seus pecados. E o pobre pecador chorava e soluçava... São Geraldo, chegando aquele devoto crucifixo aos lábios do pecador arrependido, disse com voz enternecedora:
➖ Beija-o, chora aos seus pés todas as tuas culpas e acharás a graça, acharás a Deus e com Deus, meu filho, possuirás todos os tesouros.
O sujeito, desfeito em lágrimas, repetia: 'Meu Jesus, perdão e misericórdia!'. Esteve, em seguida, alguns dias em retiro no convento. Fez ali uma confissão geral, encontrou a paz da alma e saiu bendizendo a hora em que se encontrara com aquele santo Irmão.
97. HISTÓRIA DE SANTA CECÍLIA
Roma, a capital do famoso Império Romano, foi o berço de Santa Cecília, nascida em meados do século segundo da nobilíssima família dos 'Cecílios'. Educada desde a infância na fé cristã, de tal modo amava a Jesus Cristo que lhe consagrou todo o coração, fazendo voto de virgindade. Muito contra a sua vontade, foi dada por seus pais em casamento a Valeriano, jovem de raras qualidades, mas pagão.
Na mesma noite do casamento, Cecília disse a Valeriano:
➖ Eu sou cristã, como tu bem sabes; estou sob a custódia de um anjo que guarda a minha virgindade. Tem-no presente para que Deus não se ire contra ti.
Valeriano, comovido por essas palavras, não só a respeitou, mas acrescentou:
➖ Se esse anjo se me deixar ver, acreditarei em Jesus Cristo.
➖ Para isso - disse Cecília - é indispensável que te instruas nas verdades da fé e recebas o batismo.
Naquela mesma noite, Valeriano procurou o papa São Urbano, que morava nas catacumbas. O Pontífice instruiu-o nos principais mistérios e batizou-o. Ao regressar para junto de Cecília, encontrou-a orando, e viu ao lado dela o anjo que brilhava com uma claridade celestial. Maravilhado, chamou seu irmão Tibúrcio e contou-lhe todo o ocorrido. Este, seguindo os mesmos passos de seu irmão, foi batizado pelo papa e, depois, viu também o anjo de Cecília.
Os dois neo-convertidos foram denunciados, como cristãos, ao governador Almaquio, que os condenou à morte, decretando que seriam decapitados e que, em seguida, seriam confiscados todos os bens que possuíam. Cumprida a primeira parte da sentença, mandou chamar Cecília e disse-lhe:
➖ Sabe que tens de entregar-me todas as riquezas de Valeriano e de Tibúrcio.
➖ Almaquio, como cristã que sou, já depositei essas riquezas no tesouro comum de Jesus Cristo.
➖ E onde está esse tesouro?
➖ Esse tesouro são os pobres, entre os quais distribuí todos os bens.
O governador, enfurecido, mandou decapitá-la. Por três vezes o algoz desfechou-lhe o golpe sem conseguir cortar-lhe a cabeça. Viveu ainda três dias, ao cabo dos quais recebeu no céu a dupla coroa da virgindade e do martírio. Imitemos Santa Cecília na devoção ao anjo da guarda. Festa litúrgica em 22 de novembro.
98. UM PAI BÁRBARO E UMA FILHA SANTA
Em meados do século III, nasceu em Nicomedia a futura Santa Bárbara. Seu pai era o senador Dióscoro, homem rico, soberbo e fanático adorador dos falsos deuses. Na escola teve a jovem Bárbara um mestre cristão que a instruiu nas verdades da fé. Quando o pai soube disso ficou furioso. Encerrou-a numa torre e ameaçou levá-la aos tribunais se, ao regressar de uma viagem que ia empreender, ela persistisse em aborrecer o paganismo.
Na parte baixa da torre, Dióscoro mandara preparar um quarto de banho, adornado com estátuas de ídolos, que recebia luz por duas janelas. Santa Bárbara, na ausência do pai, fez abrir uma terceira janela, para recordar o mistério da Santíssima Trindade. 'Assim como uma mesma luz' - dizia ela - 'entra por três janelas diversas, assim também em um só Deus há três Pessoas distintas'. Outras vezes punha-se a contemplar a piscina e exclamava: 'Água que brilhas ao resplendor da luz das três janelas, tu me fazes pensar no batismo, cuja água, vivificada pela Santíssima Trindade, apaga da alma o pecado original'.
Logo que regressou da viagem, perguntou Dióscoro à filha porque mandara abrir outra janela. A Santa aproveitou a ocasião para falar-lhe dos principais mistérios da fé e exortou-o a converter-se ao cristianismo O pai, enfurecido, entregou-a ao pretor Marciano, que a submeteu a cruéis suplícios. Suportou-os ela com tal resignação e coragem que despertou a compaixão do povo. Uma mulher, chamada Juliana, que acorrera por curiosidade, ao vê-la e ouvi-la, sentiu-se transformada por Deus e exclamou: 'Eu também quero adorar a Jesus Cristo'.
O juiz Marciano ordenou que Bárbara e Juliana fossem, imediatamente, decapitadas. Dióscoro, o pai desumano, quis executar pessoalmente a sentença. Quando regressava de cortar a cabeça de sua própria filha, estalou uma furiosa tormenta e um raio feriu-o de morte. Quase ao mesmo tempo outro raio matava o juiz Marciano. Estes castigos divinos puseram termo, em Nicomedia, à perseguição contra os cristãos. Santa Bárbara é padroeira da artilharia, porque os artilheiros têm por armas 'o trovão e o raio', isto é, a explosão e a granada. Festa litúrgica em 4 de dezembro.
99. DEMÔNIOS, ANJOS E UMA SANTA
Neste mundo constantemente inclinado à corrupção e ao abandono de Deus, cuida a Providência que haja sempre pessoas de vida celestial que, com suas virtudes e milagres, dão testemunho de Cristo e condenam a maldade. Santa Francisca Romana, nascida em Roma em 1384 foi, desde pequenina, de uma pureza instintiva e delicada que não suportava carícias nem do próprio pai. Aos doze anos de idade foi por seu pai dada em casamento a um nobilíssimo e piedoso cavalheiro, do qual teve três filhos: João Batista que chegou a boa idade, Evangelista que faleceu aos nove anos e que logo veio buscar sua irmãzinha Inês de cinco.
Desde que se casou, Francisca foi levada à mais alta contemplação e por isso perseguida pelo demônio. Para mais a purificar e a estimular permitiu Deus que o inimigo a atormentasse de mil modos: levantava-a pelos cabelos, batia-a contra a parede e prostrava-a de pancadas. Causou-lhe inúmeros outros sofrimentos, durando essa guerra toda a sua vida, até à última enfermidade. Mas Deus nunca a deixava só: os anjos continuamente a acompanhavam e a defendiam.
Seu filho Evangelista, um verdadeiro anjo, foi-lhe arrebatado aos nove anos. Uma vizinha enferma viu-o subir ao céu entre anjos. No ano seguinte, apareceu à mãe sob uma luz radiante e acompanhado de um anjo ainda mais formoso do que ele.
➖ Mãe - ele lhe disse - estou no segundo coro da primeira hierarquia; meu companheiro, que agora vês, está ainda mais elevado. Deus o enviou para te guardar, acompanhar, consolar e guiar sempre. Agora venho buscar a minha irmãzinha para gozar comigo da incomparável felicidade do paraíso. Com efeito, pouco depois faleceu a pequena aos cinco anos de idade.
O anjo permaneceu ao lado de Francisca, sempre visível: parecia um menino de nove anos (como seu filho), cabelos louros e anelados caindo sobre os ombros, os braços e sobre o peito, uma túnica branca e uma pequena dalmática, às vezes branca e outras vezes vermelha ou azul. Despedia tanta luz que a santa podia com ela ler o Ofício.
Instruía-a, avisava-a e consolava-a; mas era também um anjo que a corrigia. Um dia deu-lhe uma bofetada ouvida pelos presentes, porque, em uma reunião, não cortara uma conversa vã e inconveniente. Pouco antes de sua morte, perguntou-lhe seu confessor que orações estava a murmurar : 'Acabo de rezar as Vésperas de Nossa Senhora'. E, em seguida, expirou, tendo 55 anos de idade.
100. UM SALTO MARAVILHOSO
Em 1856, às altas horas da noite, irrompeu um enorme incêndio em um dos maiores edifícios da cidade de Zams, na região do Tirol (Áustria). Com grande dificuldade, conseguiram os inquilinos escapar pelas escadas; mas ficaram desgraçadamente esquecidas, num dos andares mais altos, duas meninas, uma de oito e outra de doze anos.
Despertou-as o ruído das vigas de seu aposento ao quebrarem-se pelo fogo do andar inferior. Saltando imediatamente da cama, correram à porta para fugir pela escada, mas as chamas e o fumo que viram eram tão grandes, que mal puderam fechar de novo a porta. Quase desesperadas gemiam: 'Seremos queimadas vivas...'
Mas a maior teve uma ideia. Abriria a janela e saltaria para fora, tentando salvar a vida à custa de alguma fratura.
➖ Eu saltarei primeiro - disse à irmãzinha - e, se não me acontecer nada, saltarás também.
'Meu Santo Anjo da Guarda, amparai-me!' - disse - e... saltou!
Chegada ao solo, antes mesmo de levantar-se, gritou:
➖ Joaninha, não me aconteceu nada, salta!...
'Santo Anjo' - repetiu Joaninha - e saltou sem ter sofrido o menor dano.
Os pais das meninas reconheceram neste fato uma proteção visível dos Santos Anjos e deram graças a Deus por um benefício tão insigne.
101. AS HORAS SÃO SÉCULOS...
São Paulo da Cruz, estando uma noite para se deitar, ouviu de repente um grande ruído perto de seu quarto. Crendo ser uma visita do demônio, que vinha, como de costume, perturbar o seu sono, aliás brevíssimo, deu-lhe ordem para retirar-se. Mas, repetindo-se por três vezes o estranho ruído, perguntou o que era e o que queria.
➖ 'Sou' - apresentou-se uma voz - 'a alma do sacerdote que faleceu esta tarde às seis e meia e venho comunicar-lhe que estou no Purgatório por não me haver emendado dos defeitos de que o senhor me repreendeu muitas vezes. Ó quanto sofro! Parece-me já ter passado mil anos neste oceano de fogo.
Comovido até às lágrimas, levantou-se o santo, olhou o relógio que marcava então seis e três quartos, e disse ao sacerdote:
➖ Como? Faz um quarto de hora que falecestes e parece-vos que já são mil anos?!
➖ Ó como é longo o tempo no Purgatório!
E, pedindo com instância que o aliviasse, não se afastou enquanto o santo não lhe prometeu isso. Tomando sua disciplina de ferro, São Paulo da Cruz açoitou-se até sair sangue, orou e chorou pedindo a Deus que livrasse aquela alma de tão grandes tormentos. Não recebendo nenhum aviso do céu, como costumava acontecer, tomou de novo os seus rudes instrumentos de penitência, querendo fazer-se violência à divina Misericórdia. Como a resposta ainda não viesse, disse num transporte de confiança filial: 'Senhor, meu Deus, rogo-vos que livreis esta alma pelo amor que tendes à minha'.
Vencido pelos seus rogos, prometeu-lhe o Senhor que, no dia seguinte, antes do meio dia, a alma do sacerdote sairia do Purgatório. Apenas amanhecera, São Paulo subiu ao altar e celebrou com mais fervor do que nunca o Santo Sacrifício, oferecendo a Deus por aquela alma o precioso sangue de Jesus Cristo. Ó maravilha! No momento da comunhão, viu o santo passar diante de si, alegre e resplandecente de luz, a alma daquele sacerdote que subia ao Céu.
102. AS CRIANÇAS E O PURGATÓRIO
A. Santa Perpétua, que foi martirizada em Cartago no ano de 202, refere, em carta escrita de seu próprio punho no cárcere, que teve um sonho em que viu seu irmãozinho, falecido na idade de sete anos, encerrado num lugar escuro, coberto de lodo e devorado pela sede. Ao acordar, entendeu o que o sonho significava e passou o dia em oração pelo defunto. Depois de algumas noites tornou a vê-lo, mas desta vez junto a uma fonte em que bebia; as vestes estavam limpas e ele muito melhor e alegre. A santa ficou muito consolada com aquela visão e viu que aqueles sonhos foram mandados por Deus para o bem daquele menino.
B. São Pedro Damião ficou órfão muito criança e cresceu sob os cuidados de um seu irmão que o tratava com a maior crueldade, dando-lhe, além disso, muita pouca roupa e comida. Um dia achou no caminho uma moeda de prata, o que seria um tesouro para comida, roupa e sapatos. Estava a pensar no que faria com aquele achado, quando lhe veio à mente a lembrança de seus pais que tinham sido tão bons para com ele.
➖ Ah! - disse consigo - talvez estejam penando no Purgatório e eu os poderia aliviar agora.
Correu à igreja e entregou o dinheiro ao sacerdote, dizendo:
➖ Peço ao senhor que celebre missas por meus falecidos pais.
Desde aquela data todas as portas lhe foram abertas para ser sacerdote e um grande santo.
C. Santa Catarina de Bolonha foi certa vez favorecida com uma visão do Purgatório. Viu o fogo ardente que devorava o íntimo das almas e pareceu-lhe que o do inferno não poderia ser mais abrasador. Havia ali, ardendo nas chamas, tanta gente como folhas em uma floresta. Muitos haviam levado vida muito santa, mas ainda não estavam bastante puros para ver a Deus.
Viu ali, também, muitos meninos que não haviam cometido mais do que pecados veniais, como desafios, discussões com seus irmãos, desobediência aos pais... e as penas que sofriam por essas faltas leves causavam compaixão. Com isso compreendeu a gravidade mesmo do pecado venial que Deus, em sua justiça e santidade, castiga tão severamente.
103. MORRE A MÃE; A CRIANÇA, NÃO
Em 15 de junho de 1909, caiu um raio em Serebes (Hungria), atingindo a senhora Josefina Toth, que trazia no colo o seu filhinho. A mãe, fulminada pelo raio, morreu instantaneamente; a criancinha, porém, não sofreu coisa alguma.
104. DEVOÇÃO AOS SANTOS ANJOS
São Paulo da Cruz e São Francisco de Sales nunca começavam os seus sermões sem antes saudar os Anjos da Guarda de seus ouvintes, suplicando-lhes o seu auxílio. O venerável Baltasar Álvares, em suas viagens, ao entrar em um povoado ou em uma cidade, invocava os Anjos tutelares daqueles habitantes e pedia-lhes que o ajudassem a salvar as almas; e o seu apostolado foi sempre coroado de grande êxito.
Santo Afonso, bispo de Santa Águeda, nunca entrava em um quarto estranho sem saudar primeiro os Anjos da Guarda dos donos da casa. São Luís Maria Grignion de Montfort, missionário e grande devoto de Maria, costumava saudar os Santos Anjos das pessoas com quem se encontrava.
105. QUANTO SOFREM AS ALMAS
O verdadeiro e principal tormento é a privação da visão de Deus. Fala-se, porém, do fogo do purgatório como de uma pena semelhante à do inferno, com a diferença de que não é eterna. Num convento dos Estados Unidos duas religiosas, ligadas durante dez anos por uma santa amizade espiritual, procuraram ajudar-se a servir a Deus cada dia com maior perfeição.
Veio a falecer uma delas a quem chamavam a 'santa da casa'. Fizeram-se por ela os sufrágios costumeiros da comunidade e sua companheira não deixou de recomendar por sua alma de modo todo especial. Uma tarde, na mesma semana da morte, enquanto ceavam, sua amiga que pensava nela, creu ter ouvido estas palavras: 'Venho pedir-lhe três missas; crê você que tenha rezado muito por mim e que não estou sofrendo? Para que tenha uma ideia das minhas penas, vou tocá-la apenas com um dedo'.
No mesmo instante a religiosa sentiu-se tão terrivelmente queimada no joelho que lançou um grito agudíssimo. Toda a comunidade reagiu espantada; interrompeu-se a leitura das orações e todas as religiosas voltaram suas atenções para a Irmã. Interrogada, referiu à Superiora o que acabava de passar-se e viram, com efeito, no joelho da Irmã uma profunda queimadura.
Esse fato ocorreu em julho de 1869, e o periódico La Croix acrescentou que, a 9 de novembro de 1889, a referida religiosa ainda estava viva e apresentava as cicatrizes da queimadura. As missas foram naturalmente celebradas o mais breve possível e a falecida não tornou mais a se manifestar.
106. ÁTILA E SÃO LEÃO
Assim como o Anjo protegeu a São Pedro, o primeiro papa, livrando-o das mãos de Herodes, assim cuidou também que o grande Papa São Leão não caísse nas mãos do mais feroz dos bárbaros: Átila, rei dos hunos. As hordas dos bárbaros avançavam por toda a Europa, arrasando cidades e levando os povos como escravos. Átila, com seus cem mil guerreiros, havia penetrado no norte da Itália e marchava para Roma, arrasando as cidades, arruinando as searas, roubando tudo quanto tinha algum valor e matando a todos os que se lhe opunham.
Parecia que toda a cristandade ia perecer. Deus, porém, pusera à frente de sua Igreja um homem que foi o martelo das heresias e o domador dos bárbaros, São Leão Magno. Era homem de grande ciência, visão clara, decisão pronta e segura, firmeza inquebrantável, constância em seus projetos e grande caridade. Se era notável como homem de seu século, não era o menos por suas virtudes cristãs; sem pretensões pessoais, todas as suas atividades eram consagradas a Deus, à Igreja e ao serviço dos ignorantes, extraviados, pobres e aflitos.
Assim foi que, quando o imperador Valentiniano III lhe manifestou que seus soldados eram incapazes de defender a Itália e Roma dos bárbaros que avançavam vitoriosos, não duvidou em oferecer a sua vida por suas ovelhas. O terror e o pânico que se apoderaram de Roma e de outras cidades da Itália eram indescritíveis. Ninguém senão Deus podia deter a inundação e as destruições dos bárbaros que já assomavam às portas. O Bom Pastor não faltou ao dever de defender as suas ovelhas.
Mandou oferecer orações ao Deus dos exércitos, suplicando-lhe que velasse por seus rebanhos e pelos tantos inocentes que iriam perecer sem defesa. Dirigindo-se à cidade de Mântua, onde entrara o chefe dos bárbaros, resolveu apresentar-se a ele para implorar misericórdia e paz. Ia revestido de suas vestes pontificais, tiara e báculo; e seu rosto, embora suplicante, apresentava a majestade do Vigário de Jesus Cristo.
Átila não se impressionaria com essa vista, nem com palavras ou lágrimas; mas aconteceu qualquer coisa de sobrenatural. Dizem que, por detrás do Pontífice, apareceu ao bárbaro um Anjo, sem dúvida São Miguel, com rosto severo e celestial que, de espada em punho, ameaçava Átila se não atendesse as súplicas do venerando ancião. E o feroz conquistador, pela primeira vez, sentiu-se vencido e ordenou imediatamente que suas tropas abandonassem o caminho de Roma e tomassem outro rumo.
107. NÃO TERIA SIDO UM ANJO?
Pio IX (1846-1878), o grande papa da Imaculada, era filho do conde Mastai-Ferreti. Quando menino, costumava ajudar à missa, na capela doméstica dos seus pais. Um dia, estando ajoelhado no degrau do altar, notou que, do lado oposto, um vulto o chamava por sinais.
O menino teve medo de sair do seu lugar. Mas, como viu que o vulto insistia, cada vez mais, deixou o lugar e passou para o outro lado onde se achava aquele vulto. Naquele mesmo instante, desprendeu-se do teto uma grande estátua que caiu exatamente no lugar onde o coroinha, havia poucos segundos, estava ajoelhado. É que os Santos Anjos protegem as crianças de um modo maravilhoso.
108. INSPIRAÇÃO DO ANJO DA GUARDA
Em um dia de 1890, 31 crianças da escola de uma aldeia na Boêmia foram a passeio pelos campos vizinhos. Estando ali, desencadeou-se uma furiosa tempestade que as obrigou a se refugiarem debaixo de uma grande árvore até que cessassem a chuva e os raios.
De repente uma das meninas se sentiu impelida a sair daquele abrigo, gritando:
➖ Vamo-nos embora! - e pôs-se a correr.
Seguiram-na instintivamente todas as crianças. Apenas se haviam afastado um pouco, caiu um raio naquela árvore, causando enorme estrago. Os pais das crianças, gratos aos Santos Anjos, ergueram ali um grande cruzeiro para perpetuar a lembrança do acontecimento.
109. PERDOAR AOS INIMIGOS
João Gualberto era homem como outros. Trazia uma espada à cinta e costumava viver metido em brigas e desafios. Tinha um irmão a quem amava com toda a sua alma. Um dia, porém, um malvado matou o seu irmão. Gualberto conhecia muito bem o assassino, e daquele dia em diante procurava ocasião de varar-lhe o peito com a sua espada. Ele o havia jurado e assim o faria.
Era uma Sexta-feira Santa. João Gualberto montou a cavalo e saiu passear pelo campo. Foi andando até que se meteu num caminho estreito entre penhascos muito altos. Nesse momento, vê que vem ao seu encontro um viandante... fixa-o... conhece-o... e, veloz como um raio, salta de seu cavalo. Era o assassino de seu irmão. Ali o tinha diante de si; podia saciar seus desejos de vingança, e grita:
➖Canalha! assassino! Por Barrabás que agora mesmo morres em minhas mãos.
E, desembainhando a espada, lança-se sobre o outro. Nesse momento, o assassino, que vinha desarmado, prostra-lhe aos pés e, com voz angustiosa e com os braços em cruz, dirigia ele esta súplica:
➖ Irmão, hoje é Sexta-feira Santa; por amor de Cristo crucificado, perdoa-me!
O que se passou então no coração de Gualberto? Conteve-se; ergueu os olhos ao céu... olhou para a cruz gravada em sua espada. Pensou em Jesus Cristo que, do alto da cruz, perdoara aos seus crucificadores...
➖ Irmão - disse Gualberto ao assassino - por amor a Jesus Cristo eu te perdoo!
Despediram-se. O assassino afastou-se, arrependido e dando graças a Deus. Gualberto entrou numa capela que encontrou no caminho. Ajoelhou-se diante do Cristo que ali estava pregado na cruz. Tirou a espada, suspendeu-a aos pés daquela Vítima Divina e jurou aos pés da mesma deixar tudo e enveredar pelo caminho da santidade. E assim o fez e a Igreja comemora a sua santificação em 12 de julho.
110. FIRMEZA NA FÉ
Naquele tempo perdia-se em todas as libertinagens e fazia-se réu de todas as crueldades um dos reis mais perversos da história: Henrique VIII da Inglaterra. Era chanceler de seus reinos um homem de conduta irrepreensível: Tomás Moro. Quis o rei arrastá-lo pelos mesmos caminhos de dissolução e impiedade que seguia. O magnânimo chanceler, que era um católico de grande envergadura, resistiu com enérgica heroicidade. Por fim, o rei o depôs de seu cargo e o condenou à morte.
Com a coragem e a intrepidez dos mártires caminhava ele para o patíbulo, sereno e majestoso. Foi quando saiu ao seu encontro sua mulher, que, com lágrimas nos olhos, lhe pedia que renegasse a fé católica ou ao menos a dissimulasse. Respondeu-lhe o santo esposo:
➖ Luísa (assim se chamava a sua mulher), nem tu nem eu somos moços. Quantos anos pensas tu que ainda posso viver?
➖ Ao menos vinte anos, Tomás.
➖ Vinte anos! Vinte anos! Mulher estulta, por vinte anos de vida neste mundo, queres que eu perca a vida eterna e seja condenado eternamente?
Assim falou Tomás Moro, hoje canonizado e venerado sobre os altares. Está no céu, onde recebe e receberá por toda a eternidade a recompensa de sua firmeza na fé. E onde estará Henrique VIII, aquele rei crudelíssimo, que antes era católico e, depois, apostatou vergonhosamente, abraçando o protestantismo para viver na devassidão?
Santo Atanásio diz: 'Os santos que praticaram a virtude irão para a vida eterna; os pecadores, os que obraram mal, baixarão ao fogo eterno. Esta é a fé católica, e não poderá salvar-se quem não a guardar com fidelidade e firmeza até à morte'.
111. DESFILE DE PRESOS
Narram as crônicas do tempo que um vice-rei de Nápoles foi certo dia visitar uma prisão. Ordenou que, em um grande pátio, ficassem perfilados todos os presos. Momentos após ali estavam alinhados, como soldados, todos os reclusos daquele presídio. Que tipos! que caras! que olhares! que atitudes! Somente ver aquela gente impressionava. Quase todos levavam na fronte a marca dos crimes cometidos.
Apresentou-se o prudente e discreto vice-rei e começou a passá-los em revista. Um após outro todos tinham que desfilar diante dele. Passou o primeiro preso.
➖ Por que estás aqui? - perguntou o vice-rei.
➖ Senhor - respondeu o presidiário - por nada, por uma calúnia.
Passou o segundo preso.
➖ E tu, por que estás aqui? Que crime cometeste?
➖ Eu, crime? Não cometi crime nenhum.
Passou o terceiro preso.
➖ Vamos ver se encontro algum criminoso. Dize-me: por que estás aqui?
➖ Eu, senhor, porque me trouxeram, mas não fiz mal a ninguém.
E assim passaram quatro, vinte, cinquenta. Todos eram bons, inocentes. Cada um dizia mais ou menos o mesmo: não matei, não roubei, não desonrei, não fiz mal a ninguém. Estavam presos apesar de serem todos bons e virtuosos. A justiça humana era a única culpada.
Aconteceu, porém, passar por ele um preso que respondeu de maneira diferente de todos os outros. Era um moço. Manifestava nas faces a vergonha que lhe causava o achar-se naquele lugar. Apresentou-se diante do vice-rei, que lhe perguntou como aos demais:
➖ Por que estás aqui? Que crime cometeste?
➖ Senhor, respondeu o infeliz, baixando a cabeça; senhor, tenho cometido muitos. Estou onde devo estar. A justiça humana teve razão de me condenar; espero que me salve a misericórdia divina.
E, após este, foram desfilando todos os restantes; todos uns verdadeiros santos, pois não tinham derramado nem uma gota de sangue. Terminou o desfile. O vice-rei chamou aquele que havia confessado seus crimes, e disse:
➖ Amigo, pelo que vejo tu és o único mau, e os outros são bons. Para não que não os contaminem, sai depressa, vai para a rua!
E, voltando-se para os outros, acrescentou:
➖ Vós, porém, continuai aqui. Na rua há muitos pecadores e não convém que eles tornem a perder-vos com seus maus exemplos.
112. HEROÍSMO DE UMA FAMÍLIA
Foi nos primeiros dias da luta contra o comunismo na Espanha. O Exército da África levantara-se para salvar a Espanha das garras mortais do terrível inimigo. Num vilarejo de Navarra vivia um homem já idoso, pai de três filhos robustos e sãos de corpo e alma, como seu pai.
➖ Vou - disse ele à mulher e aos filhos - vou lutar por Deus e pela Espanha.
E pôs na cabeça a boina vermelha.
➖ E eu vou com o senhor - disse o filho mais velho.
➖ E eu também - acrescentou o segundo.
Duas boinas mais que adornaram as cabeças de dois soldados da Pátria. E os três cheios de santo entusiasmo marcharam para a guerra.
Chegou a hora da refeição. Na mesa só havia um prato preparado. A mãe e esposa sentou-se diante dele serena e grave. O último filho, que mal teria dezesseis anos, olhou admirado para a mãe.
➖Mãe, eu não como?
➖ Em minha casa - respondeu laconicamente aquela verdadeira espartana - não comem os covardes.
E o rapaz colocou na cabeça outra boina vermelha e foi atrás de seus irmãos e de seu pai para lutar e morrer com eles.
Até aqui a história é autêntica. Entra agora a lenda. Meses mais tarde regressavam ao lar o pai e os três filhos; voltavam alegres, cantando canções guerreiras, voltavam com as condecorações dos heróis. Não regressavam sós: um grupo de soldados os acompanhava.
Falou o último dos filhos, o mais entusiasmado:
➖ Mãe, aqui estamos por poucos dias. Tornaremos à guerra que ainda será longa. Lutaremos até o fim. Como vês, seguem-nos estes amigos que ontem eram milicianos vermelhos e hoje combatem por Deus e pela Espanha ao nosso lado. Renderam-se ao nosso heroísmo. Falamos-lhes de Deus e da nossa querida Espanha e os conquistamos para a Espanha e para Deus. Por esse ideal querem lutar até à morte.
E aquela mãe de três heróis e esposa de um gigante, abraça-os a todos e fá-los sentar à mesa para servir-lhes o melhor que possuía. E termina a lenda, afirmando que jamais uma mulher teve uma alegria tão grande como aquela.
113. É DEUS QUEM ME FALA
Certamente já ouviste falar de Donosco Cortês. Foi um dos maiores e mais vigorosos pensadores do século XIX; o mais famoso orador espanhol do seu tempo, considerado o mestre do pensamento e a glória da eloquência parlamentar. Era embaixador da Espanha em Paris. Todos os domingos e dias de preceito abandonava o bulício daquela capital e ia assistir à missa na pobre igreja de uma aldeia vizinha. Ajoelhava-se no chão, rezava como um santo, ouvia com toda a atenção o santo sacrifício.
Depois do Evangelho, o vigário daquela paróquia voltava-se para os assistentes e fazia a sua prática ou homilia. Donoso Cortês era quem o ouvia com maior atenção e reverência.
➖ Donoso - dizia-lhe um amigo - se sabes mais que esse padre, se és maior orador do que ele, por que o ouves?
O grande Donoso respondeu:
➖ Pode ser que eu saiba mais e talvez possua mais eloquência; mas ele tem uma coisa que eu não tenho: é o representante da autoridade e da palavra de Deus. Quando ele fala, é Deus quem fala; e suas palavras sempre têm o segredo de comover-me e tornar-me melhor. E é isso que procuro.
A exemplo desse grande cristão, abandonai os cuidados da vida; deixai por algumas horas as ocupações deste mundo; correi à casa de Deus para ouvir a doutrina da salvação e para salvar a vossa alma!
114. O CORAÇÃO DE OURO
O moderno e famoso escritor Tihamér Toth narra a seguinte curiosidade. Havia em uma cidade (não revela o nome) um senhor cuja fé não devia ser lá muito profunda. Profundo, sim, e ridículo era o conceito que tinha das superstições. A todo o transe havia de levar consigo algum amuleto ou talismã. Pensava que somente assim podia ser feliz.
Entrou numa joalheria. Pôs-se a contemplar os diferentes talismãs usados pela gente supersticiosa de nossos dias: uma ferradurinha com diamantes, uma estrela de ouro, um corcundinha, um elefante de marfim e outros muitos. Contemplou-os demoradamente aquele senhor, mas nenhum daqueles objetos lhe agradou. Voltando-se para o joalheiro, disse:
➖ Não teria um coração de ouro? Creio que isso seria minha felicidade.
➖ Não tenho, respondeu o outro. Isso já não se usa, está fora de moda. Talvez em outra casa o senhor encontre.
E o homem percorreu pacientemente uma, duas, três casas. Os amuletos eram muitos e muito variados, mas todos os joalheiros lhe diziam a mesma coisa: o coração de ouro está fora de moda, já passou sua época. E, afinal, quem manda no comércio é a moda!
Desconsolado saía aquele senhor da última casa. Não encontrara o coração de ouro que lhe poderia trazer a felicidade...
➖Amigo - disse-lhe o dono da última casa, acompanhando-o até à porta - vá a uma casa de antiguidades e talvez lá encontre o coraçãozinho de ouro que procura.
E o homem lá se foi... Caro leitor, o coraçãozinho de ouro já não se usa, está fora de moda e, contudo, para seres feliz e para fazeres felizes aos outros só precisarias disso, que, desgraçadamente, não se encontra: um coração de ouro. Como seríamos felizes, como viveríamos em paz, se todos levássemos, aqui dentro do peito, um coração de ouro, um coração cheio de caridade para com Deus e para com o próximo...
115. O TIO PEDRO ASSISTE ÀS MISSÕES
O ano era 1909. Cedinho foi o missionário à pequenina igreja da vila. A porta ainda estava fechada; mas quem estava ali com a sua lanterninha na mão era o tio Pedro: homem muito conhecido em todo o município por sua fé robusta e sua vigorosa velhice. Entre o missionário e o bom roceiro travou-se logo uma animada conversa.
➖ Quantos anos tem, tio Pedro?
➖ Passei dos oitenta, 'seu' missionário.
➖ Tem assistido às santas missões?
➖ Os senhores já pregaram quatro nesta comarca. Assisti a todas; não perdi nem um sermão e não faltei a nenhum catecismo, porque sempre se aprende alguma coisa.
➖ Muito bem, tio Pedro, bravo; e sua casa, quanto dista daqui?
➖ Quase nada: uns dois quilômetros.
➖ E o senhor vem aqui todas as manhãs?
➖ Todas. Acendo a minha lanterninha e toco para a missão.
➖ Pois olhe, tio Pedro, não faça isso. O caminho é péssimo e o senhor já não é uma criança. Pode acontecer-lhe algum desastre, uma queda por exemplo, e ficamos sem o tio Pedro.
➖ Não se preocupe, 'seu' missionário. Quando saio de casa, digo ao meu Anjo da Guarda: 'Meu santo Anjo, cuida do tio Pedro, que já está velho, a fim de que não lhe aconteça nada'. E até hoje, graças ao meu Anjo, nada me aconteceu.
➖ Ótimo, tio Pedro; mas, seja como for, não venha. Já assistiu a quatro missões, fique em casa.
Ao ouvir essas palavras, tio Pedro ergueu-se, pôs-se de pé direitinho, e disse:
➖ Senhor Padre, não me diga isso nem por brincadeira. Das coisas de Deus não se deve perder nem uma migalha!
E, com efeito, não perdeu nenhuma migalha daquelas santas missões. Assistiu a todos os sermões com o fervor e a piedade de um santo. Ó se todos tivessem uma fé viva como o tio Pedro!
116. HISTÓRIA DE UMA PENEIRA
Um jovem abandonou o mundo e foi sepultar-se no deserto. Tinha ânsias de Deus. Para não pensar senão em Deus e viver somente para Nosso Senhor, encerrou-se numa cela solitária. Dali saía apenas uma vez por semana: ia ouvir a prática que um velho monge fazia àqueles solitários.
Contam que um dia o jovem foi ter com o santo ancião e falou-lhe:
➖ Meu pai, só tenho um amor: o amor de Deus. Só tenho um desejo: o de o amar cada dia mais. Por isso deixei o mundo; por isso vim morar nestes desertos. Sou feliz em minha estreita celazinha. Encantam-me a oração e a meditação. Deixo o silêncio da minha cela somente para ouvi-lo cada semana. Meu pai, eu o ouço mas não sei o que será: parece-me que não tiro fruto de suas pregações. Não seria melhor que eu ficasse em minha cela consagrando o tempo à oração?
Respondeu o velho santo:
➖ Meu filho, não faças isso; assiste a minhas práticas; sempre farão muito bem ao teu espírito, embora pareça que não sirvam para a purificação de tua alma.
O jovem continuava duvidando. O velho monge calou-se. Em seguida, tomando uma peneira, deu-a ao noviço e disse:
➖ Toma, vai à fonte e traze-me a peneira cheia de água.
O jovem, obediente, foi. Passados alguns instantes, voltava com a peneira vazia.
➖ Meu pai - disse - a água se foi pelos buracos.
➖ Anda - insistiu o monge - volta à fonte e traze-me a peneira cheia de água.
Uma segunda vez foi o noviço. Encheu a peneira completamente. Voltou correndo em vão. Não ficou na peneira nem uma gota sequer.
O ancião sorriu. O obediente noviço corria de novo, enchia a peneira, e quando, de volta, chegava à cela do mestre, para dizer:
➖ Meu pai! Nem uma gota, nem uma...
O santo monge deu-lhe então esta maravilhosa lição:
➖ É verdade, filho, não me trouxeste a água, ela se vai pelos buracos, mas me lavaste a peneira...
O noviço compreendeu a lição: 'Vais aos sermões. Parece-te que não tiras proveito nenhum. Continua assistindo e, pouco a pouco, a tua alma estará purificada das vaidades e triunfará em teu coração o amor das coisas divinas'.
117. UM MONGE E A SUA CURIOSIDADE
Vivia um monge no silêncio de seu mosteiro. Era sábio e santo. Permitiu Deus que uma curiosidade perturbasse a paz de sua alma: 'Qual será atualmente no mundo' - perguntava-se - a mais santa das almas? 'E a mais sábia e mais feliz, qual será?' Estava no coro, às primeiras horas da manhã, orava e dirigia a Deus a mesma pergunta: 'Senhor, das almas que vivem agora neste mundo, qual será a mais santa, a mais sábia e a mais feliz?' Ouviu uma voz que lhe dizia: 'Vai ao pórtico da igreja e ali te dirão quais são'.
O monge pôs o capuz na cabeça, meteu as mãos nas largas mangas do hábito e atravessou os claustros silenciosos. Chegou ao pórtico. Um pobre ali estava. Passara a noite estendido num banco de pedra e naquele momento espreguiçava-se e benzia-se.
➖Bom dia, irmão - disse-lhe o monge.
➖Bom dia - respondeu o mendigo com rosto alegre e em tom de entusiasmo.
➖ Irmão - replicou o monge - pelo que vejo estás contente.
➖ Sempre estou contente.
➖ Sempre? Então és um homem feliz?
➖ Muito feliz - respondeu o humilde mendigo.
➖ Feliz? Não creio. Dize-me: Quando tens fome e pedes esmola e não recebes, és feliz?
➖ Sim, padre, sou feliz, porque penso que Deus, meu Pai, quer que eu passe um pouco de fome. Ele também passou. Mas Deus é muito bom para mim; nunca me falta um pedaço de pão.
➖ Dize-me - prosseguiu o monge - quando está nevando no inverno e tu, tremendo de frio, vais de porta em porta, como um passarinho que salta de um galho para outro, és feliz?
➖ Sim, padre, muito feliz, porque penso: é Deus, meu Pai, que quer que passe um pouco de frio, pois também Ele passou frio. Aliás nunca me falta um palheiro, onde passar a noite.
Estava o monge admirado. Contemplando-o de alto a baixo, disse:
➖ Tu me enganas; não és pobre.
Sorriu o mendigo e respondeu:
➖ Não, padre, eu não sou um pobre.
➖ Logo vi. Então, quem és?
➖ Padre - disse o outro - sou um rei que viajo incógnito por este mundo.
➖ Um rei? Um rei? E qual é o teu reino?
➖ Meu reino é o meu coração, onde mando sobre minhas paixões! Tenho, porém, um reino muito maior. Vê o senhor esse céu imenso? Vê o sol, as estrelas, o firmamento? Tudo isso é de Deus, meu Pai. Todos os dias ponho-me de joelhos muitas vezes e digo: 'Pai nosso, que estais no céus, como sois grande, como sois sábio, como sois poderoso! Não vos esqueçais deste pobre filho que anda por este mundo. Creia-me: Quando chegar a morte, despojarei destes andrajos e voarei para o céu, onde verei a Deus, meu Pai, e com Ele reinarei pelos séculos dos séculos...'
O monge não perguntou nada mais. Baixou a cabeça e voltou ao coro, convencido de ter encontrado o homem mais santo, mais sábio e mais feliz neste mundo.
118. FILHA, TEU PAI ESTÁ NO CÉU
Na vida de Santa Margarida Maria Alacoque lê-se um fato muito consolador. Sendo a santa a mestra das noviças, recebeu uma carta em que se comunicava a morte do pai de uma sua noviça e em que se pedia fosse transmitida a dolorosa notícia sem causar-lhe pena. A santa chamou a noviça e, com palavras de muito conforto, anunciou-lhe a morte do pai. Compreende-se a dor daquela filha.
Passado o primeiro instante de amargura, disse à mestra:
➖ Rogo-lhe, Madre, à senhora que é tão devota do Sagrado Coração de Jesus, que reze pela alma do meu querido pai.
A santa rezou nessa intenção com todo fervor. Em seguida, toda contente, chamou a noviça e lhe disse:
➖ Minha querida filha, tenho boas notícias: teu pai já está no Céu; foi Jesus quem me disse.
A noviça, diante de tão inesperada notícia, exclamou:
➖Como assim? Meu pai, é verdade, era um bom cristão, mas estava longe de ser um santo!
➖ Dentro de três dias, respondeu a santa, a tua mãe virá lhe visitar: pergunte a ela o que fez o teu pai antes de morrer.
A mãe veio realmente em visita. A filha deu-lhe a consoladora notícia de que o pai estava no céu e depois indagou:
➖ Mãe, o que fez meu pai antes de morrer?
➖ Teu pai, minha filha, quando o padre lhe ofereceu o Santo Viático, viu, entre os que o acompanhavam, um homem que várias vezes o ofendera muito. Quando deu com os olhos nele, antes de tomar a santa comunhão, chamou-o para junto de si e o abraçou e beijou e, em presença de todos, perdoou-lhe de coração os graves danos e as ofensas que dele recebera. A seguir, recebeu contente o Santo Viático. Julgo por isso que, se teu pai já está no céu, é justamente porque, por amor de Deus e a exemplo de Jesus Cristo, perdoou a quem tanto o havia ofendido.
119. O CONSOLADOR DOS QUE SOFREM
Lembremos o exemplo daquela gloriosa mártir francesa, Santa Joana d'Arc. Pôs-se à frente das tropas de sua pátria e as conduziu de vitória em vitória. À frente dos exércitos vencedores, entrou pelas portas da cidade de Reims e ali foi ungido, consagrado e proclamado Carlos VII, o verdadeiro rei de França.
Algum tempo depois, aquela valorosa heroína caiu em poder dos ingleses, seus inimigos, e foi condenada à morte. Ergueu-se o patíbulo no meio da cidade de Ruão, onde se ajuntou enorme multidão. Serena, com a serenidade da justiça, e formosa com a formosura da inocência, subiu Joana as escadas da morte e amarraram-na a um poste de ferro. Momentos depois, no meio de um imponente silêncio, o algoz põs fogo à lenha que a circundava e as chamas vorazes subiram e alcançaram os seus vestidos.
Ardia aquela carne virginal. Em frente dela, estava um frade com um crucifixo na mão.
➖ Padre - dizia-lhe a mártir - levantai-o um pouco; quero vê-lo...
Seus olhares pregavam-se naquele divino Crucificado e uma força divina punha em suas faces e beleza do amor...
➖ Mais lenha - diziam os algozes - mais lenha!
E atiravam na fogueira feixes de lenha. As chamas envolviam a mártir por todos os lados e a carne ardia como vítima de santidade. Ela gritava com ânsias ainda maiores: 'Padre, levantai-o mais alto, mais alto, que não o vejo'. E o frade atou o Cristo a um pau e levantou-o bem alto, acima das chamas que formavam uma fogueira gigantesca.
E Joana rezava e olhava para o seu Deus crucificado e dizia: 'Jesus! Jesus!' E caiu morta, quase convertida em cinzas no meio daquelas horríveis chamas. A vista desse Deus crucificado de tal modo consola as vítimas da dor, que Santa Madalena de Pazzi dizia, louca de amor: 'Senhor, sofrer e não morrer!' Sim, olhai para o céu: ali se enxugarão as vossas lágrimas; ali está o reino da felicidade e do amor.
120. SOU UM ASSASSINO! SOU UM ASSASSINO!
Dia inesquecível naquele colégio! Era a festa de Nossa Senhora que se venerava na igreja e, ao mesmo tempo, a festa do Padre Diretor. Felicidade, alegria, entusiasmo por toda parte. Pela manhã, comunhão geral; às dez, missa soleníssima com sermão; à tarde, esplêndida procissão. Como rezavam! Como cantavam aqueles alunos! Que dia formoso! Quem poderia imaginar o desenlace trágico que iria acontecer!
Às seis da tarde haveria uma representação teatral, em que se levaria ao palco a peça 'A morte de Garcia Moreno'. Meia hora antes que soasse a sineta para aquela festa, dois rapazes de uns quinze anos entraram num quarto contíguo ao cenário. Ali estava sobre a mesa um revólver. Com ele iam disparar pela janela, quando no palco se representasse a pantomima de se disparar o tiro em Garcia Moreno.
Um dos rapazes, precisamente o que ia fazer o papel de assassino no palco, toma o revólver e diz ao seu amigo:
➖ Toma posição para veres como te vou apontar no palco.
O outro, que ia fazer o papel de Garcia Moreno, a nobre vítima, apruma-se com energia e diz:
➖ Atira, traidor!
O amigo aperta o gatilho, soa um disparo, sai uma bala que se enterra na cabeça do desventurado rapaz, que cai prontamente, derramando um rio de sangue pela ferida.
O inocente assassino atira-se sobre o ferido, lançando gritos de dor.
➖ Amigo, o que eu fiz? Eu te matei, eu te matei. Foi sem querer. Perdoa-me. Não, amigo, eu não queria te matar. Amigo, levanta-te... não, não morras!
E, tirando o lenço, procurava estancar o sangue. Mas era inútil; o ferido não se movia.
➖ Amigo - continuava gritando - levanta-te, não morras... não queria matar-te... perdoa-me.
E pegava-o e levantava-o um pouco, mas não podia com ele. Ensopava-se naquele sangue.
➖ Morreu - gritava - morreu; eu o matei; sou um assassino! ai! sou um assassino!
Entretanto, os outros alunos estavam nos pátios do colégio, em conversa animada à espera do som da sineta. De repente ouvem gritos, olham... Lá, no fundo do pátio, aparece o rapaz todo cheio de sangue. Levantava os braços e gritava como desesperado, correndo de um lado para outro:
➖ Eu o matei! Sou um assassino!
E corria sem rumo nem destino, como um louco.
Por nossos pecados somos também assassinos. Por nossos pecados sofre e morre Jesus. Nossos sacrilégios, impurezas e profanações são os punhais que cravamos no coração de Nosso Senhor. Somos assassinos! Com que grande, imensa e infinita dor deveríamos chegar ao confessionário. E que santa seria então a nossa confissão!
121. DEUS RECOMPENSA OS SACRIFÍCIOS
Os sacrifícios escolhidos voluntariamente fazem que Deus seja generoso e bom para conosco. Os pequenos presentes que lhe oferecemos espontaneamente exercem grande e irresistível poder sobre Ele. Forçado então pela bondade do seu coração, Deus, que não se deixa vencer em generosidade, não se cansa de cumular de bênçãos aqueles que se mostram generosos para com Ele. Dou, a propósito o seguinte exemplo.
Num colégio de Friburgo, na Suíça, achava-se, poucos anos atrás, uma menina que fazia extraordinários progressos nos estudos, e sentia-se feliz. Certo dia a superiora do colégio recebeu uma carta do pai da criança, comunicando-lhe que, por dificuldades financeiras, não lhe era possível manter a filha no colégio por mais tempo.
O que fez a superiora? Mandou chamar a menina e lhe disse:
➖ Minha filha, uma notícia bem desagradável. Teu pai acaba de escrever-me que se acha em grandes dificuldades e que talvez seja obrigado a retirar-te do colégio.
A menina, muito aflita, pôs-se a chorar e dizer:
➖ Madre, o que será de mim? Ajudai-me, Madre, ajudai-me! Dizei-me o que devo fazer.
➖ Minha filha - disse a superiora muito comovida - tu podes modificar tudo isso. Sabes que dentro de algumas semanas teremos o Santo Natal; sabes, igualmente, que até lá temos todos os dias de devoção ao Menino Jesus, não é?
➖ Sim, Madre...
➖ Pois bem; faze um fervoroso pedido diariamente ao Menino Jesus, para que Ele te conserve aqui e oferece-lhe alguns pequenos sacrifícios. Verás que Jesus não rejeitará os teus pedidos.
➖ Sim, Madre, farei tudo para que Jesus me ouça, e peço também as vossas orações.
A menina, que tinha grande desejo de continuar os seus estudos na companhia das Irmãs, cheia de confiança, sentou-se e escreveu ao Menino Jesus uma cartinha. Prometia não só orações fervorosas, mas fazia também o propósito de, por amor de Jesus, abster-se, todos os dias até o Natal, de queijo e frutas, de que gostava muito. E tudo isso para que Deus socorresse o seu querido pai e ela pudesse continuar no colégio.
No dia do Natal achou a superiora debaixo da imagem do Menino Jesus a cartinha da menina. Leu-a e ficou profundamente comovida. Dois dias depois chegava uma carta do pai, que, entre outras coisas, dizia: 'Madre, não sei como agradecer a Deus; de modo prodigioso e inesperado veio o auxílio do céu. Minha filha pode continuar estudando aí...' Podemos imaginar a alegria de ambas, da aluna e da Superiora, vendo que a sua confiança em Deus não falhara.
122. OITO CADÁVERES!
Há homens, que parecem feras. Entre os comunistas vermelhos há alguns desses homens. Foi no tempo do Movimento Nacional, que libertou a Espanha das garras do comunismo. O que vamos narrar passou-se perto de Cordoba. Triunfaram ali, desde os primeiros instantes, as hordas comunistas. Saíram como saem as feras de seus covis e, em poucas horas, mais de cem cadáveres de nobres e cristãos jaziam por terra junto aos muros do cemitério.
Enfureceram-se principalmente contra uma família de fé arraigada, de coração generoso e de fortuna regular. Jamais negaram os direitos dos operários. Jamais um pobre bateu às portas de sua casa e dali foi despedido sem auxílio. O pai, os filhos, as filhas, todos naquela numerosa família se distinguiam pela firmeza de suas crenças católicas.
➖ 'Agora, estes!' - bradaram aquelas feras humanas. E nadando em sangue, caiu o velho pai, homem fidalgo e distinto.. E nadando em sangue, caíram três filhos seus, jovens na flor da idade e nadando em sangue, caíram também dois genros, que eram o encanto de suas esposas e o orgulho da religião. Havia ainda outros dois jovens que eram noivos das duas filhas solteiras.
➖ 'Agora, estes!' - rugiram aquelas hienas. E os dois caíram, também, nadando em sangue.
Oito cadáveres jaziam às portas daquela residência, onde até poucas horas viviam felizes aqueles corações cristãos. Oito cadáveres! Eram os seres mais amados, eram a esperança da família, eram o amor de todos... Oito cadáveres!
➖ 'Agora, estes!' - continuavam uivando aquelas feras sedentas de sangue humano. E em desordenado tropel penetraram naquela fidalga residência, espalhando-se por ela, roubando, saqueando, destruindo tudo o que encontravam. Enfim, cansados de tantas fadigas, estiraram-se nos sofás e cadeiras de braço, bebendo e cantando, estavam satisfeitos de sua obra. Oito cadáveres!
E a esposa? E as filhas casadas? E as solteiras? E os tenros e delicados netinhos? Não os esqueceram, aqueles vis criminosos. Trancaram-nos num quarto, dizendo-lhes que esperassem a decisão do povo: ao povo pertencia dispor o destino deles. E o povo dispôs que fossem enxotados de sua própria casa, que desde aquele momento passava a ser propriedade do comunismo.
E de sua casa teve de sair a infeliz família. Ia adiante a velha mãe, de cabelos brancos; atrás, as filhas casadas, carregando seus tenros filhinhos e, por fim, as filhas solteiras sem pai, sem irmãos, sem amores, sem um pedaço de pão e, assim, foram batendo de porta em porta e viram que as portas de muitas famílias que julgavam amigas se fecharam para elas. E por isso levavam a maldição da 'Casa do Povo'. Ó como foi triste, foi doloroso, foi revoltante! Foi, em suma, a obra do comunismo ateu, do qual nos livre a misericórdia de Deus.
123. BAILANDO COM O DIABO
Uma jovem francesa, que frequentava as salas de baile, atraída pela fama do santo Cura d'Ars, resolveu procurá-lo para se confessar. Vejamos como ela narrou o seu colóquio com o santo.
➖ Lembras-te - disse ele - da última vez que foste ao baile? Estava lá um moço que te parecia bonito, e te causou sentimentos de ciúme e de inveja, porque bailava somente com as outras e não se dignava dirigir-te um olhar sequer?
➖ É verdade. Lembro-me, sim.
➖ Lembras-te que, em dado momento, ele retirou-se da sala, deixando-te desiludida, por não se ter dignado dançar contigo nem uma vez?
➖ Sim.
➖ E notaste, então, um pequeno fenômeno: duas como chamazinhas entre as solas dos sapatos dele e o pavimento da sala, quando se retirou. E não fizeste caso, atribuindo aquilo a uma ilusão de ótica do contraste entre as luzes e a obscuridade da porta de saída... lembras-te disso?
➖ Sim; lembro-me.
➖ Pois bem. Aquele que te parecia um rapaz encantador, que te causou tantos ciúmes, tanta inveja, tanto despeito... quem era?
➖ ....
➖ Aquele era o diabo. Dançou com aquelas que já lhe pertencem, com aquelas que não tem o menor escrúpulo da impureza. Contigo não quis dançar, porque ainda eras pura, e sabia que virias te confessar.
A moça ficou impressionadíssima com aquelas revelações do santo e prometeu que nunca mais iria a um baile. E tu, jovem leitora, não achas que contigo poderia acontecer?
124. UM PREFEITO LIVRE-PENSADOR LEVA NA CABEÇA
Há cerca de quarenta anos, estava em uma vila da Áustria o coronel Dobner von Dobenau com o seu batalhão. Ia estabelecer ali o seu quartel de inverno. A população alegrou-se com isso, pois esperava fazer bons negócios com os oficiais e soldados e contava, além disso, com o bom número de distrações. O prefeito da cidade, acompanhado de seus conselheiros municipais, saiu a saudar o coronel. Este era fervoroso católico e um de seus filhos era padre. Mas, ignorando essas circunstâncias, e julgando-o livre-pensador, o prefeito dirigiu-lhe longo discurso, insistindo na alegria que os habitantes da cidade sentiam com a presença da tropa que, certamente, viria quebrar a monotonia da estação hibernal.
Não pôde deixar, porém, de mostrar o seu desagrado pelas práticas religiosas, dizendo:
➖ Uma só coisa desagradável há aqui, meu coronel. É que hoje, precisamente, os padres deram início a uma grande missão que vai durar mais de oito dias. Infelizmente não a podemos impedir, apesar de vermos na mesma um grande desmancha-prazeres. O batalhão deve, entretanto, consolar-se com o pensamento de que esses dias passarão e, logo depois, a alegria será muito maior.
Terminado o discurso, o coronel, carregando os sobrolhos, respondeu em tom seco:
- Senhor prefeito, não vejo na missão absolutamente nenhum desmancha-prazeres. Pelo contrário; eu só não assistirei aos sermões da missão, quando o serviço assim me permitir como meus oficiais, bem como toda a tropa, terão o prazer de me acompanhar. Eu só sinto não ter o poder, senhor prefeito, de mandar também a vós e aos vossos conselheiros a também ir a todos os sermões. As pregações não vos fariam mal nenhum; muito ao contrário, elas fariam imenso bem.
Após o seu destemido discurso, retirou-se friamente o coronel, deixando bastante desapontados e confusos os seus visitantes. E a lição foi bem merecida.
125. OLÁ! VOCÊ VIROU CAROLA?
Pedro Jorge Frassati, falecido santamente em Turim em 4 de abril de 1925, era filho de um ilustre embaixador. Muito rico, conservou, entretanto, sua inocência, sua fé e um coração extremamente sensível às misérias alheias. Tornou-se um campeão de Cristo e um apóstolo do bom exemplo. Frassati não era desses que só praticam a religião quando encerrados dentro de quatro paredes. A propósito lê-se em sua biografia o seguinte fato.
Um dia, ao sair de uma igreja, conservava ainda na mão o seu rosário. Um conhecido passando por ali justamente naquele momento e, não perdendo a ocasião, diz-lhe, mofando:
➖ Olá, Jorge! você virou carola?
E Jorge, sem se perturbar, respondeu prontamente:
➖ Não; eu continuo apenas um bom cristão; e disso não me envergonho, antes me glorio.
Antes de expirar - e contava então somente vinte e quatro anos de idade - Frassati fez a seguinte profissão de fé: 'Cada dia compreendo melhor a graça de ser católico. Pobres, infelizes os que não têm fé. Viver sem a fé, sem uma herança que se possa defender, sem uma verdade que se possa sustentar por um combate contínuo, não é viver, é vegetar. Não devemos vegetar, devemos viver; porque, apesar de todas as decepções, devemos lembrar-nos sempre que somos os únicos a possuir a verdade. Temos uma fé que defender, e a esperança de chegar à nossa Pátria. Para o alto os corações e avante sempre pelo triunfo do reinado de Cristo na sociedade. E Jorge Frassati foi um desses apóstolos do reino de Cristo na sociedade; foi um militante da Ação Católica, foi um combatente ardoroso até à morte.
126. A COLEGIAL QUE SE CONVERTEU
Estudava em um colégio de irmãs uma menina de treze anos apenas. Era uma alma forte; era um coração indômito. Não sei o que tinha aquela criatura, mas exercia uma influência poderosa sobre todas as colegas que viviam com ela. Quando pregava a revolução entre as suas companheiras, contra as ordens das Irmãs, a revolução estalava tumultuosa, e só a mão forte da Superiora conseguia impor de novo a disciplina.
Um dia aquela menina altiva e insolente foi severamente repreendida e castigada. Aquela tarde não poderia sair a passeio com as colegas. Tinha que ficar no colégio, escrevendo cem vezes estas palavras: 'Primeiro mandamento da lei de Deus: Amarás o senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças'.
Ficou na sala vigiada por uma professora. Pôs o papel diante de si e começou a escrever: 'Primeiro mandamento da lei de Deus: Amarás o senhor, teu Deus...' E continuou escrevendo... Logo estava cansada. Largou a pena e passou os olhos pela sala. Bem em frente, pendurada na parede, estava uma imagem de Jesus Crucificado. Contemplou-o como jamais o contemplara. Parecia-lhe que aquelas palavras que acabava de escrever, a ela eram dirigidas por aquele santo Cristo, que tinha diante dos olhos. Lentamente, solenemente, com acento de ternura, com olhos cheios de lágrimas, dizia-lhe aquele Deus amoroso: 'Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração'...
O que se passou então naquela alma forte e naquele coração indômito, que lhe saltaram as lágrimas e ali mesmo se ajoelhou e se fixaram longo tempo os olhos daquele Deus-Amor e daquela menina-revolução? Em seguida levantou-se e pediu humildemente licença à mestra para ir uns instantes à capela. Tinha sede de falar de mais perto com Deus e Deus estava ali, a dois passos dela, no sacrário.
Quando se levantou estava transformada. Desde aquele dia foi a santa do colégio. Anos mais tarde, quando o capelão e o confessor falavam dela, diziam: 'as almas ou são grandes santas ou grandes pecadoras'. Naquela tarde de sua vida começou a ser santa e o foi até o fim, até o heroísmo.
127. COMO MORRE UM VIGÁRIO
O pároco de Constantina, em terras de Sevilha, era um homem de fé ardente. Prenderam-no os bárbaros comunistas, lançaram-no numa asquerosa prisão, deram-lhe muitas pauladas, negaram-lhe todo o alimento e, por fim, fizeram em nome do comunismo o que não poderiam deixar de fazer, isto é, saquearam a casa paroquial e a igreja.
Mas foram mais longe: conduziram-no à praça pública e ali o apresentaram àqueles mesmos paroquianos pelos quais ele havia trabalhado durante vinte e seis anos. A multidão, enfurecida pelos vermelhos, saciou contra ele o seu ódio vil. Levaram-no outra vez à igreja. Cinco dias durava já o martírio; há cinco dias que não via sua querida igreja paroquial. Ao entrar nela voltou-se com grave dignidade para aqueles sacrílegos, e lhes disse:
➖ Perdoo-vos o que a mim me tendes feito; mas profanastes a igreja de Deus e sentireis o peso da justiça divina.
Aproximou-se do altar do Santíssimo e... que dor! Viu que as sagradas partículas tinham sido atiradas ao chão. Quis ajuntá-las, mas não pôde. Derrubaram-no por terra e ali mesmo o golpearam barbaramente. Quando quis dizer: 'Viva Cristo Rei!' não terminou, pois um vil assassino atravessou-lhe a cabeça com uma bala.
Alguns meses mais tarde, em 15 de dezembro, quando a cidade de Constantina caiu em poder das tropas espanholas, ordenou a câmara que desenterrassem o cadáver do pároco. Estava perfeitamente incorrupto. Tinha sobre o peito um crucifixo. Aquele santo Cristo se lhe incrustara completamente na carne. Conseguiram separá-los, mas a cruz ficou para sempre gravada no peito do mártir. Ficou incrustada a cruz em seu peito. Trazei também vós no coração o espírito de Jesus Cristo e, estou certo, não deixareis de perdoar a todos os vossos inimigos.
128. OLHAI PARA O ALTO
Santo Afonso, um dos homens mais santos e sábios, gostava de recordar o seguinte fato. Caminhavam por montes e vales uns homens ricos e amigos dos prazeres. Eram caçadores? Não sabemos; o certo é que se internaram pela floresta adentro e, no meio dela, entre as árvores frondosas, encontraram uma choupana. Aproximaram-se e dentro dela viram um anacoreta, cujo rosto era o retrato de uma alma que gozava de paz.
➖ Irmão - perguntaram aqueles senhores - o que fazes aqui?
➖ Irmãos - respondeu o ermitão - vim procurar a felicidade.
➖ A felicidade? Nós gozamos da abundância das riquezas; corremos de diversão em diversão e, contudo, não pudemos achar a felicidade; e tu a procuraste aqui?
➖ Aqui a procurei e aqui a encontrei.
➖ Encontraste mesmo a felicidade?
➖ Sim; olhai por esta janelinha da minha choupana. Por aí se vê a minha felicidade.
Os caçadores precipitaram-se para a janelinha e olharam ansiosos. Em seguida, mal-humorados, disseram:
➖ Irmão, enganaste-nos como um velhaco.
➖ Nunca, nunca - replicou o santo solitário; é porque não olhastes bem; tornai a olhar. Garanto que por aí se vê a minha felicidade.
Pela segunda vez chegaram-se os homens à janelinha, olharam por todos os lados e, agastados, disseram:
➖ Irmão, pela segunda vez nos enganaste. És um impostor.
E o solitário, com aquele ar de paz que nunca o abandonava, responde:
➖ Irmãos, não olhais bem. Asseguro-vos que não vos engano: olhai melhor, pois garanto que daí se vê a minha felicidade.
Os homens, desejosos de descobrir a felicidade, olharam, tornaram a olhar para baixo, para cima, para os lados e, por fim, disseram:
➖ Irmão, não nos enganes mais. Por aqui não se vê nada; apenas um pedacinho do céu...
➖ Isso, isso - exclamou radiante da alegria o ermitão - isso, isso. Aí está a minha felicidade. Quando tenho algum sofrimento, quando a dor me atormenta, contemplo esse pedacinho de céu e digo a mim mesmo: tudo passa; dentro em pouco estarei no céu e a alegria enche a minha alma.
Esse solitário era Santo Antão. Havia ido para o deserto em busca da felicidade. Passou os longos anos de sua vida em orações e penitências. Olhava para o alto e via um pedacinho do céu! Teve lutas terríveis com o espírito do mal; não via o fim daquela guerra; mas olhava para o alto, e via um pedacinho do céu!
Sofreu fome, calor, sede; a carne pedia comodidade, o cilício atormentava-o, molestava-o a pobreza do hábito. Olhava para o alto e via um pedacinho do céu! Passaram-se os dias e passaram-se os anos. Olhava sempre para o alto, e o pedacinho do céu parecia-lhe cada vez mais próximo, cada vez maior. Afinal, um dia não viu mais a terra, não viu mais o deserto. Ante seus olhos surgia uma cidade fantástica. Aquilo era a terra da promissão, era a pátria de Deus, era o que tantas vezes vira de longe: o céu! o céu! E a alma de Santo Antão, que vivera para Deus, para a oração, para a penitência, para a santidade, para o céu, entrava gloriosa no paraíso...
129. A MENINA QUE REZAVA PELOS AVIADORES
Do alto do púlpito, um dos mais famosos oradores contemporâneos da Espanha dirigia a sua palavra eloquente a um seleto auditório. Era na festa de Nossa Senhora de Loreto e ele falava aos aviadores que a haviam escolhido por padroeira. Falou-lhes assim:
'Aviadores de minha pátria, ainda vos lembrais? Era nos primeiros dias do nosso movimento contra o comunismo. Vós, todas as manhãs, em vossos aviões de bombardeio, em formação impecável, voáveis sobre as terras de Castela e, ousados e destemidos, internando-vos nas zonas montanhosas de Biscaia, íeis romper com vossas bombas o cinturão de ferro de Bilbao.
O que, porém, não sabeis é que ali, nas margens do Ebro, todos os dias, guardando o seu rebanho, estava uma menina que não passaria dos onze anos. Ao ver-vos ficava emocionada: ajoelhava-se, e com as mãos postas, rezava a Nossa Senhora por vós para que triunfásseis sobre os inimigos de Deus e da Espanha, e para que não sofrêsseis nenhuma desgraça. E quando em vossos aviões desaparecíeis ao longe, a menina, sempre de joelhos, levava os dedos da mão direita à boca, imprimia neles um beijo e o mandava a vós, heróis da pátria e soldados da fé.
Os aviões tinham já desaparecido e a menina continuava ainda de joelhos rezando por vós. Graças a Deus estais com vida. Não deveis - quem sabe? - a vossa vida às orações daquele anjo de onze anos que guardava seu rebanho de ovelhas em terras de Castela?'
E aqueles frios aviadores, acostumados a desafiar a morte e a permanecer tranquilos e calmos no meio dos tremendos perigos dos ares, choravam como crianças.
130. CALVÁRIO DE UMA MÃE
Quereis um exemplo de paciência e resignação de uma mãe sublime e heroica? Foi sempre boa aquela senhora. Nascera na pobreza e, nos trabalhos dos campos, passara os anos da juventude. Quando estava para completar vinte e cinco anos, casou-se com um moço bom como ela, e, como ela, lavrador de pobres campos, que eram toda a sua fazenda.
Tiveram cinco filhos: três meninos e duas meninas. Estavam todos ainda na infância, quando lhes morreu o pai. A pobre viúva pôs a sua confiança naquele Senhor que nos livros sagrados se chama a si mesmo 'consolo e amparo das viúvas'. E não esperou em vão. Trabalhou muito a pobre mãe; mas afinal teve a consolação de ver que seus filhos cresciam fortes e bons. Naquela casa não faltava o pão ganho com o trabalho honesto e comido em paz e na graça de Deus.
O mais velho dos filhos disse um dia à mãe: 'Mãe, vou a N. para ver se ganho algum dinheiro para nós'. Foi a N. e, poucos dias depois de lá chegar, morreu. Disse o segundo filho: 'Mãe eu não vou a N.; vou à capital à procura de uma colocação para que não tenhas de trabalhar tanto'. E foi à capital; mas apenas lá chegou, pereceu num incêndio.
O terceiro filho disse um dia à mãe: 'Mãe, eu não vou nem a N. e nem à capital; ficarei em casa cultivando nossos pobres campos. Deus jamais nos negará um pedaço de pão'. E um dia subiu a um morro em companhia de um amigo; e este, ao experimentar uma arma, sem querer desfechou-lhe um tiro e o matou; e o pobre ali ficou no meio do caminho estendido e banhado no próprio sangue.
A filha mais velha, derramando lágrimas sobre os finados irmãos, disse à mãe: 'Mãe, que pecado teremos cometido para que Deus nos prove tanto? Vou para o convento'. E para o convento foi e, oito dias, depois a levavam ao cemitério.
Por fim, a última filha, que contaria uns dezesseis anos, disse à mãe: 'Mãe, não chores; enquanto eu viver, não te faltará um pedaço de pão. Vou para a cidade aprender costura e corte'. E foi para a cidade; mas, no primeiro motim comunista, uma bala perdida atingiu a sua cabeça e ela caiu morta.
A mãe não tinha mais lágrimas nos olhos. Inclinava a cabeça, chorava e rezava. Por fim, ficou doente, teve de meter-se na cama, onde, durante anos, dores horríveis não lhe deram descanso. Contudo, a Providência divina não a desamparou: nunca faltaram almas boas que cuidassem dela. Um missionário, que por ali pregava, foi um dia visitá-la. Sentou-se à cabeceira do carte e ela contou-lhe a sua trágica história. Quando terminou, chorava e soluçava.
➖ Filha - disse-lhe o Padre Missionário - estás agora conformada com a vontade de Deus?
➖ Padre - respondeu - já sou velha; já completei oitenta e quatro anos. Oitenta e quatro anos, Padre, dizendo muitas vezes ao dia: 'Faça-se a vossa vontade, assim na terra como no céu'. Virou a cabeça e fixou o crucifixo pendurado à parede. Era Ele a sua única esperança.
Aí tendes uma mulher simples, uma mulher camponesa, que aprendeu, na sua fé e no seu amor a Deus, a lição dificílima da paciência e da conformidade com as penas e as dores desta vida.
131. O CONSOLO DE LÚCIFER
Um dia, voltando da terra, chegou um demônio ao inferno. Estava triste e abatido. Dirigindo-se a Lúcifer, o rei das trevas, disse:
➖ Chefe, falhou completamente o meu esforço. Mostrei ao Filho do Homem todas as riquezas e grandezas do universo e prometi-lhe dar-lhe tudo aquilo com a única condição de que me adorasse. E eis que Ele me repeliu com desprezo.
➖ Consola-te, meu filho - respondeu Lúcifer - mesmo que esse esteja perdido, todos os outros nos pertencem.
Depois de algum tempo regressa o demônio de sua nova excursão pela terra e diz:
➖ Chefe, está tudo perdido. O Filho do Homem acaba de fazer ao povo, no monte Tabor, um sermão sem igual. Ele afasta a todos das vaidades terrenas e impele-os para o reino de Deus.
➖ Consola-te, meu filho - disse Lúcifer - eles gostam de ouvir palavras novas e belas, mas não as põem em prática. Esquecer-se-ão delas como se esqueceram dos ensinamentos dos profetas.
Faz o demônio outra excursão pela terra. Quando volta ao inferno, chega-se ao poderoso rei Lúcifer e, desanimado, diz:
➖ Meu chefe, o nosso poder está liquidado para sempre. O Filho do Homem selou sua doutrina com a própria vida, provando assim que é realmente o Filho de Deus.
➖ Não te aflijas demais, meu filho - replicou Lúcifer - eles serão nossos apesar de tudo. O Filho do homem provou, é verdade, por sua morte na Cruz, que é o Filho de Deus, mas consola-te, meu fiel emissário, os homens não crerão nele.
Meu irmão, tira deste imaginário diálogo uma preciosa lição para tua alma, isto é, que não deves viver, como pagãos e libertinos, sem fé, sem religião e sem Deus.
132. SEMPRE MAIS
Perguntai a São Paulo o que deveis fazer para vos tornardes semelhantes a Jesus Cristo. São Paulo não vos enganará. Ele é o doutor que mais admiravelmente expôs as leis divinas de nossa perfeição na vida espiritual.
➖ Santo Apóstolo, temos a fé de Pedro, o discípulo escolhido por Jesus Cristo para seu vigário na terra. Isso nos basta?
➖ Não basta.
➖ Temos a caridade para com Deus e o amor para com o próximo, que aprendemos do discípulo predileto de Jesus. Isso nos basta?
➖ Não.
➖ Temos a fortaleza heroica demonstrada pelo Batista diante os inimigos. Isso nos basta?
➖ Não.
➖ Temos a confiança em Deus que distinguiu o patriarca São José, o qual mereceu ser tido por pai de Jesus. Isso nos basta?
➖ Não basta, não.
Escutai o que vos digo: Jesus Cristo é o modelo que deveis ter sempre diante dos olhos; é o retrato que haveis de reproduzir em vosso corpo e em vossa alma. E quem era Jesus Cristo? Era a caridade, era a justiça, a mansidão, a prudência e a paciência... Era a beleza de Deus manifestando-se aos olhos humanos, para que nele nos transformemos. Tendes, pois, de trabalhar, trabalhar muito, até que sejais retratos perfeitos desse divino Modelo.
➖ Mas, santo Apóstolo, nossa carne é fraca, nosso coração é louco, nossa concupiscência é animal, nossas inclinações são perversas, as tentações são muitas, os demônios rodeiam-nos dia e noite, o mundo nos fascina...
➖ Trabalhai! É preciso imitar a Jesus Cristo. Essa é a única segura garantia de nossa eterna salvação. Se temos a sua graça, temos tudo.
➖ Mas isso será trabalho de muitos anos.
➖ Tendes razão; é trabalho de toda a vida. Mas para isso é que Deus nos pôs no mundo, para isso é a vida. Se não a entendeis assim, estais tristemente equivocados.
Trabalhai! Tendes diante de vós uma eternidade para descansar e gozar pelas nossas virtudes.
CASTO... SEM RELIGIÃO?!
Estava aquele médico na flor da idade. Era uma cabeça leviana e andava cheio de orgulho por sua ciência vã. Além disso, relegara a fé a um canto de sua inteligência e, segundo havia aprendido de seus mestres sem religião, afirmava que para viver bem e ser feliz bastava a luz da razão.
Por aqueles dias um famoso pregador, um homem de eloquência singular, alvoroçara toda a cidade. O vaidoso doutor afirmava à boca-cheia, no círculo de suas amizades, que iria entrevistar o famoso orador e que o havia de encurralar com a força de sua discussão. E lá se foi, com efeito, seguido de alguns amigos zombeteiros e curiosos. Achando-se frente à frente com o missionário, o doutor disse entre outras coisas:
➖ Padre, eu não pratico a religião; sou, porém, homem honrado e posso garantir-lhe que sou casto. Sorriu com desconfiança o ilustre pregador e observou:
➖ Casto?... Casto sem religião?!
➖ Sim , casto - insistia o doutor.
➖ E vai a toda espécie de cinema?
➖ Naturalmente.
➖ E lê toda espécie de livros?
➖ Tudo o que cai sob os meus olhos.
➖ Desvia o olhar quando se encontra com alguma beleza provocadora?
➖ Ó, pelo contrário.
➖ E diz que não reza?
➖ Nada.
➖ E diz que é casto?
➖ Digo.
➖ Pois bem - replicou aquele homem apostólico, aquele profundo conhecedor do coração humano - acredito que o senhor seja casto, mas casto como os cachorros. E nada mais disse. E havia dito tudo. O doutor mordeu a língua; os amigos sorriam maliciosamente e o missionário interrompeu bruscamente o diálogo. Todos estavam de acordo: sem a prática da oração não podiam ser castos. E constitui refinada loucura afirmar o contrário.
134. DIÁLOGO COM SÃO PAULO
Jesus Cristo disse de si mesmo: 'Eu sou a luz do mundo'. Nos seus lábios e nos lábios dos seus apóstolos, em poucos anos, viu o mundo a formosura dessa luz e ficou envolvido em seus raios. Duvidais? Interrogai São Paulo, o gigante da verdade e do amor, o apóstolo que não descansa, a boca que não cala, as mãos que não desmaiam, o coração que nunca se apaga. Aí o tendes: interrogai-o.
➖ Santo Apóstolo, de onde vens?
➖ Da Grécia.
➖ Percorreste a Arábia?
➖ Toda.
➖ Estiveste na Ásia?
➖ Cheguei às suas praias mais remotas.
➖ E visitaste Atenas?
➖ Falei do Areópago, bem como nas ruas de Corinto, Tessalônica e Éfeso.
➖ Pensas em ir a Roma?
➖ Até lá chegarei. Tenho ardentes desejos de avistar-me com os césares do mundo.
➖ Estiveste na prisão?
➖ Muitas vezes.
➖ Sofreste naufrágios?
➖ Três vezes me vi nos abismos do mar.
➖ Estiveste em perigo de morte?
➖ Em muitos; a cada passo.
➖ Sofreste fome?
➖ Sim.
➖ Frio?
➖ Também.
➖ Ódios e calúnias?
➖ Isso toda a vida; prego a verdade e não me creem; prego o amor e odeiam-me.
➖ Santo Apóstolo, descansa!
➖ Não posso.
➖ Modera tuas energias.
➖ Tudo me parece pouco.
➖ És incompreensível.
➖ Sou a lógica, a lógica da verdade, a lógica do amor.
O Apóstolo cala-se um instante. Pensa. Levanta a cabeça e prossegue:
➖ Vi o meu divino Mestre. Conheci-o na estrada de Damasco. Compreendi que é a verdade, a luz. Levo-o no coração: é um fogo que me abrasa. Levo-o nos lábios: é uma luz que me guia e me arrebata. Poucos anos faz que andamos pelo mundo, eu e os demais Apóstolos, pregando a sua doutrina, anunciando a sua lei. Erguei os olhos e vede: a fé tem sido pregada em todo o universo. Jesus Cristo conquista toda a terra, porque Ele é a luz, é o sol da verdade. Viva Jesus Cristo!
135. UM MENTIROSO CRUEL
O czar Nicolau, que há cem anos governou o império russo, foi um dos homens mais sanguinários. A sua crueldade arrancou a vida de milhares de filhos da Igreja Católica; maior, porém, foi o número dos que tiveram uma morte lenta nos trabalhos forçados e nos horrendos cárceres do clima horrível da Sibéria.
Entretanto, diante dos reis europeus e sobretudo diante do Soberano Pontífice, fazia sempre alarde de sentimentos religiosos e humanitários. Indo a Roma, o poderoso e sanguinário czar foi recebido em audiência por sua Santidade o Papa Pio IX. O Pontífice perguntou-lhe como tratava os católicos. E o czar, com a mais vil hipocrisia, respondeu:
➖ Muito bem, Santíssimo Padre.
Não pôde o Papa sofrer a vileza daquele coração traidor. Levantou-se de seu trono, fitou o poderoso imperador com majestosa dignidade e com voz forte e enérgica disse:
➖ Mentis!
O imperador russo não pôde conservar-se em pé; ficou com que aniquilado e saiu dali aterrado, como se uma tempestade tivesse estalado sobre a sua cabeça e o fogo de um raio o ameaçasse. Desceu rapidamente as escadas do Vaticano e foi ocultar-se no palácio em que se hospedava.
Também a vós, milhares de cristãos; também a vós, milhares de católicos, pergunta o vigário de Jesus Cristo:
➖ Amais a Jesus Cristo?
E respondeis com hipócrita serenidade:
➖ Amamos!
➖ Mentis! vos dirá o Papa.
E com razão, pois não sois vós que profanais os dias santos de guarda? Não sois vós que abandonais a oração e os sacramentos? Não sois vós que desprezais os mandamentos divinos? E não mentis aos homens, mas a Jesus Cristo... ao próprio Deus!
136. O PUNHAL DA IMPUREZA
Aquele moço não conhecia maior tesouro neste mundo do que o coração de sua mãe. Filho e mãe viviam sozinhos no mundo. E eram felizes, porque possuíam a maior felicidade da vida: a felicidade do amor.
Mas aquele moço começou a sofrer de uma doença esquisita. Tremiam-lhe as pernas. O tremor nervoso subia pouco a pouco pelo corpo e, quando chegava à cabeça, estourava a loucura. Naqueles momentos de furiosa loucura, o rapaz procurava uma faca, empunhava-se e corria por toda a casa, com os olhos arregalados, gesticulando ferozmente, e gritando: 'Minha mãe, minha mãe! Onde está minha mãe? Quero matar minha mãe!'
Cessava a loucura. O filho voltava a si. Conhecia a sua loucura e, de joelhos, pedia mil vezes perdão a sua mãe. Dizia-lhe: 'Mãe, minha mãe, se um dia, num desses arrebatamentos, eu te tirasse a vida? Que seria de mim? Morreria de dor'. Assim também eram grandes os temores da mãe como as angústias do filho. Sabeis o que ele resolveu fazer? Quando sentia que o temor começava a subir-lhe pelo corpo, pegava uma corda muito forte, corria para a mãe e dizia-lhe: 'Amarra-me, mãe, amarra-me' e a mãe amarrava fortemente as mãos do filho.
No momento em que a loucura subia à cabeça, ele soltava rugidos de fera e gritava: 'Onde está minha mãe? Quero matar minha mãe!' Mas, como poderia fazer-lhe mal, se tinha as mãos bem amarradas? Passada a loucura, o moço tomava aquela corda e beijava-a com loucuras de amor. Meu irmão, alerta! Quando sentires que vem chegando a tentação, o perigo, toma o rosário, cinge-te com as cadeiras da oração. Reza e serás forte. Quando passar o perigo, beijarás, reconhecido e grato, o teu rosário, que te livrou do punhal da impureza.
137. DOM BOSCO CONFESSA UM DEFUNTO
Havia um jovem, chamado Carlos, que só pensava em viver e divertir-se. Mas eis que cai doente, tão doente que o médico lhe dá apenas algumas horas de vida. Quis confessar-se a Dom Bosco, que lhe era muito afeiçoado, mas Dom Bosco não pôde ir. Confessou-se com outro sacerdote, mas a confissão não foi sincera, pois ocultou faltas graves.
E o jovem morreu... Comunicaram logo a Dom Bosco que o seu querido Carlito falecera. Nesse momento uma voz misteriosa parecia segredar a Dom Bosco que o infeliz não se confessara bem. Saltou do leito, correu à casa do defunto. Ali estava Carlito imóvel, amarelo, endurecido: ia ser colocado no caixão. Dom Bosco ordenou que todos deixassem o aposento; ali só ficaram o santo e o cadáver.
Dom Bosco, falando ao ouvido do defunto, disse:
➖ Carlito!
O rapaz abriu os olhos e fitou-os em seu santo diretor.
➖ Onde estiveste? - perguntou-lhe o servo de Deus.
➖ Padre, numa região misteriosa e desconhecida. Vi muitos demônios e todos me queriam arrastar ao inferno. Diziam que tinham direito sobre mim.
➖ Filho, é porque não te confessaste bem. Ocultaste um pecado por vergonha, não é verdade?
➖ Sim, padre; mas agora quero declará-lo.
E o rapaz confessou com grande humildade seus pecados e sacrilégios.
➖ Padre, se não fôra esta grande misericórdia de Deus, eu estaria perdido para sempre.
Dom Bosco, erguendo a destra, deu-lhe a absolvição. Recebeu-a o jovem com grande recolhimento e na atitude da mais profunda gratidão. O santo abriu a porta e disse aos que esperavam do lado de fora:
➖ Podem entrar.
Entraram e lançaram um grito de surpresa e de terror. O morto estava sentado na cama. Parentes e amigos caíram de joelhos, mudos de assombro.
Dom Bosco inclinou-se e disse ao ouvido do jovem:
➖ Carlito, agora que estás na graça de Deus, que é que desejas: viver ou morrer?
➖ Padre - respondeu o rapaz - quero morrer.
Enquanto o santo lhe dava a bênção, Carlito deixava cair a cabeça sobre o travesseiro, juntava as mãos sobre o peito, fechava os olhos e... morria.
138. O FILÓSOFO E O BARQUEIRO
Um barqueiro transportava um filósofo em sua barca. Durante a travessia, disse o filósofo ao barqueiro:
➖ Então, meu velho, você sabe alguma coisa?
➖ Eu? Sei remar e nadar.
➖ Não sabe filosofia?
➖ Nunca ouvi falar disso.
➖ Não sabe astronomia?
➖ Não, senhor.
➖ Não conhece a gramática?
➖ Também não, senhor.
E assim foi o filósofo perguntando muitas coisas e o barqueiro respondendo:
➖ Não sei nada disso.
➖ Pois, assim, você perdeu a metade da vida, acrescentou o filósofo.
Nisso, distraídos pela conversa, deram contra um rochedo, partiu-se a barca e os dois naufragaram. O barqueiro, nadando, alcançou a margem; ao passo que o filósofo se afogava. O barqueiro, malicioso, gritou-lhe:
➖ Senhor filósofo, não sabe nadar?
➖ Não.
➖ Ah! não sabe? Então o senhor é um infeliz; perdeu a vida inteira. Suas astronomias e filosofias não lhe servem para nada.
Isto mesmo se pode dizer dos que sabem tudo deste mundo, menos a doutrina cristã, pois a ciência mais apreciada é que o homem bem acabe: porque, no fim da jornada, aquele que se salva, sabe e o que não se salva, não sabe nada.
139. O SOLDADO E O OVO
A pessoa que sabe sofrer com paciência é semelhante a um anjo. Conta Santiago que, num hospital servido por Irmãs de Caridade, achava-se um soldado em tratamento. Certo dia pediu-lhe trouxessem um ovo cozido. Poucos instantes após uma das Irmãs servia o enfermo o ovo cozido; mas aquele indivíduo, querendo, ao que parece, provar a paciência da religiosa, rejeitou o ovo bruscamente, dizendo:
➖ Está duro demais.
Retirou-se a Irmã em silêncio e, depois de alguns minutos, trouxe outro ovo; mas o doente rejeitou-o de novo, alegando:
➖ Está mole demais.
Sem mostrar o menor indício de impaciência, foi a Irmã, pela terceira vez, à copa e trouxe ao soldado um vaso com água fervente e um ovo fresco e disse-lhe com toda calma:
➖ Aqui tem o senhor tudo que é necessário; prepare o ovo do modo que lhe agradar.
Essa paciência inalterável da boa religiosa causou ao soldado tal impressão, que não pôde deixar de exclamar:
➖ Agora compreendo que há um Deus no céu, uma vez que há tais anjos na terra.
Por aí se vê que, pela paciência, pode-se fazer um grande bem ao próximo.
140. POR QUE DEVO SOFRER TANTO?
São Pedro Mártir (falecido em 1252), da Ordem Dominicana, teve de sofrer incríveis calúnias e perseguições, mesmo sendo inocente e santo. Ajoelhou-se um dia aos pés do Crucifixo e queixou-se a Nosso Senhor de seus sofrimentos:
➖ Senhor, que mal fiz eu para sofrer tanto?
Enquanto assim se lamentava ouviu o santo, como vindas da Cruz, estas palavras:
➖ E que mal fiz eu para sofrer tanto na cruz? Teus sofrimentos não se podem comparar com os meus. Suporta-os por isso com paciência.
Estas palavras deram ânimo ao santo. Daí em diante, quando tinha de sofrer, olhava para o Crucifixo, lembrando-se que o Filho de Deus teve de sofrer imensamente mais do que ele.
141. A CONFIANÇA RECOMPENSADA
O imperador Napoleão I entrou, certa vez, num restaurante de Paris, acompanhado de seu ajudante Duroc. Ali ninguém os conhecia. Depois de haverem tomado a refeição, e apresentada a conta de 14 francos, aconteceu que nenhum deles tinha dinheiro consigo.
O imperador estava incógnito e não queria dar-se a conhecer. Seu ajudante, dirigindo-se à dona do restaurante, pediu-lhe que tivesse paciência de esperar uma hora e o pagamento seria feito pontualmente. A dona, porém, uma velha muito segura, não concordou; pelo contrário, ameaçou-os com a polícia se não pagassem imediatamente.
A coisa ia ficando feia, quando chegou o garçom que, interessando-se pelos hóspedes, disse à patroa:
➖ Estes senhores fazem-me boa impressão; não devem ser gente má. Pagarei por eles os 14 francos. Se me enganar, perderei eu o dinheiro e não a senhora; mas peço-lhe que deixe os homens em paz. Em seguida pagou a conta. Os dois senhores agradeceram e logo se retiraram.
Passada uma hora, ou pouco mais, apareceu de novo o ajudante do imperador e, dirigindo-se à dona do restaurante perguntou:
➖ Senhora, quanto vale este seu restaurante?
➖ Em todo caso mais que 14 francos - respondeu ela um tanto agastada.
Mas o homem insistiu:
➖ Diga-me seriamente: quanto a senhora quer por este seu restaurante?
➖ Bem; 30.000 francos e nem um centavo a menos.
Puxando a sua carteira, pagou-lhe Duroc aquela soma e disse:
➖ Por ordem do meu senhor faço presente deste restaurante ao garçom em reconhecimento pela confiança que depositou em nós. Admirada, a senhora perguntou:
➖ E quem era aquele seu companheiro?
➖ É o imperador Napoleão...
Se assim recompensa um homem a confiança nele depositada, como não recompensará o bom Deus a quem nele confiar?
142. VOCÊ TEM RAZÃO
Havia um senhor rico à moderna, que não queria saber de religião, nem de igreja, nem de preceito pascal, nem de oração. Com ele servia, há muitos anos, um ótimo criado, piedoso, fiel e que lhe queria muito bem. Esse criado, valendo-se da confiança que lhe dava o patrão, dizia-lhe às vezes:
➖ Mas, senhor patrão, pense também um pouco em Deus e em sua alma.
➖ Fique tranquilo, respondia-lhe o patrão. Veja ou eu sou predestinado e então me salvarei da mesma forma sem ir à igreja receber os sacramentos e rezar; ou não sou predestinado, e então, faça eu o bem que fizer, me condenarei do mesmo modo.
Aconteceu que, um dia, aquele senhor caiu doente. Chamou logo o servo fiel e disse-lhe:
➖ Vá chamar o médico para mim.
O criado ouviu, mas não foi. Chegada a tarde sem que o médico aparecesse, perguntou o enfermo:
➖ Você não chamou o médico?
➖ Escute senhor patrão, eu pensei assim: ou Deus destinou que meu patrão sare, e então sarará também sem médico; ou destinou que morra, e então, mesmo com todos os médicos do mundo, morrerá igualmente; por isso é inútil chamar o médico.
➖ Você é um tolo, um imbecil! - gritou o patrão, furioso. Deus não quer fazer milagres sem motivo, quer que empreguemos os meios que estabeleceu. Em caso de doença quer que se chame o médico; e você vá correndo chamá-lo, ouviu?
➖Sim; sim, senhor; vou já; por que o senhor patrão não raciocina do mesmo modo quando se trata de sua alma?
A observação era acertada e o patrão teve de responder:
➖ Você tem razão!
143. O PRESENTE DE NATAL
Conta o acadêmico francês J. Marmier que, na manhã de Natal, Bertinha, filha do porteiro, entregou-lhe seus jornais e cartas. Tinha na mão uma moeda de prata novinha de cinco francos e disse-lhe:
➖ Olha o que o Menino Jesus me encarregou de te dar.
A menina ao olhar com olhos grandes aquela moeda e exclama:
➖ Como é bom o Menino Jesus!
➖ Sim, Ele queria por esta moeda em teus sapatinhos na chaminé, mas não os viu.
➖ Meus sapatinhos! Como é possível? Lá estavam e de manhã lá encontrei uma boneca e uma laranja...
➖ Sim, mas como nesta noite de Natal Jesus muito o que fazer e me conhece bem, me parou por um instante e me disse: 'Isto é para a Bertinha'.
➖ O Menino Jesus sabe o meu nome?
➖ Como não? Tanto sabe que me deu essa moedinha para ti.
➖ Ah! - murmurou Bertinha juntando as mãozinhas - terei que lhe agradecer muito.
E subiu correndo escada acima para à sua mamãe o presente que lhe mandara o Menino Jesus. Se algum livre pensador lesse por acaso esta história, diria provavelmente que o acadêmico e a Bertinha são dois idiotas, mas... que talentosos e que sábios são os livre pensadores!
144. O SACRIFÍCIO POR JESUS
Um sacrifício - disse a mãe - seria, por exemplo, em lugar de gastar com brinquedos os cinco cruzeiros que te deu a vovó pelo Natal, dá-los por amor de Jesus a algum menino pobre que não tem o que comer nem o que vestir.
O menino calou-se. Na manhã seguinte, porém, quando foi abraçar a mamãe, disse-lhe:
➖ Mamãe, quero fazer um sacrifício pelo Menino Jesus. Vou dar os cinco cruzeiros ao pobrezinho enfermo que um dia destes fomos visitar.
No café, pôs de lado o pão com manteiga.
➖ Não tens fome, filhinho?
➖ Guardo-o para o pobrezinho.
➖ Come, eu te darei outro para o pobrezinho.
➖ Não, não, mamãe! Não seria a mesma coisa; não seria um sacrifício para o Menino Jesus.
E brotaram lágrimas dos olhos da feliz mãe...
145. MAÇÃS E ROSAS DO CÉU
No ano de 304, no maior furor da perseguição movida por Diocleciano, uma virgem cristã, chamada Dorotéia, foi conduzida ao tribunal do governador de Cesareia, na Capadócia. Como não quis sacrificar aos deuses e aos ídolos pagãos, a esposa de Cristo teve de sofrer um terrível martírio.
Mantendo-se tranquila no meio dos tormentos, disse ao juiz:
➖ Apressa-te a fazer o que queres, e sejam os suplícios o caminho que me leve ao celeste esposo. Amo-o e nada temo. Desejo os tormentos, pois são leves e passageiros, uma vez que por meio deles chegamos às delícias do paraíso, onde há frutos e flores de maravilhosa formosura e suavidade, que nunca murcham, fontes de águas vivas, onde os santos são saciados na alegria eterna de Jesus Cristo.
Ao ouvir estas palavras o assessor do juiz, um letrado chamado Teófilo, dirigiu-se à santa caçoando e rindo:
➖ Envia-me então rosas e maçãs do jardim de teu esposo do paraíso quando lá chegares.
➖ Sim, eu as enviarei - respondeu a jovem.
Estava-se em pleno inverno. O verdugo apoderou-se do corpo da virgem e cortou-lhe a cabeça. Teófilo, chegando em casa, contou a pilhéria aos amigos, entre zombarias e sarcasmos. De repente, porém, apareceu-lhe um menino de rara beleza, levando nas pregas de seu manto três magníficas maçãs e três rosas de extraordinária frescura e fragrância.
➖ Eis aqui - disse o menino - o que a virgem Dorotéia prometeu enviar-lhe da parte do seu esposo do Céu.
Teófilo, estupefato, tomou as maçãs e as rosas e, contemplando-as um instante, exclamou:
➖ Verdadeiramente Jesus Cristo é Deus, o Deus que cumpre o que promete.
Fazendo esta confissão, Teófilo selava assim a sua sentença de morte. Algumas horas depois conduziam-no ao suplício, tornando-se então mártir da fé católica de que antes zombara.
146. UM INSTINTO DIVINO
Há coisas que só Deus pode ensinar às crianças. Elas têm às vezes ideias de anjos que espantam os grandes. Para celebrar a primeira comunhão de seus filhinhos, costumam as mães preparar lindos vestidos brancos que simbolizam a alvura da alma e que completam a festa interior do coração. Lindas flores enfeitam o dia da primeira comunhão. A alma, entretanto, tem lá as suas flores que ninguém vê nem suspeita.
Uma menina se preparava com admirável fervor para receber Nosso Senhor, pela primeira vez, em seu coração. Faltavam poucos dias para a solenidade e a mãe, julgando causar alegria à filhinha, disse a ela:
➖ Amélia, venha experimentar o vestido branco.
Sobre a mesa do quarto estava estendido um belíssimo vestido de seda branca. A mãe esperava uma explosão de alegria, mas enganou-se. Vendo o vestido, Amélia parecia cobrir-se de tristeza.
➖ O que é isso, Amélia? Não gostou do vestido?
➖ Ah! mamãe, ele vai me distrair. Naquele dia quisera ver só Jesus, pensar somente nele e falar só com ele. Faça, mamãe, um vestido mais simples e serei feliz, como os pobrezinhos...
➖ Você é um anjo - disse a mãe abraçando-a; só Deus pode ter ensinado a você essas coisas!
147. BEIJAR A MÃO DO PADRE
Um grupo de alegres rapazes combinaram fazer uma excursão. Iam bem dispostos, levando cada um a sua merenda, quando se encontraram com um padre modesto e bondoso. Todos beijaram a mão do ministro de Deus. Todos, não, porque dois, que pareciam ter ideias revolucionárias, logo depois caçoaram dos companheiros e disseram:
➖ Vocês não passam de uns beatos.
➖ De modo nenhum - respondeu um deles; bons cristãos, isso sim. Por que beijam vocês as mãos de suas mães? Porque lhes dão de comer e vestir, ou os curam quando é preciso, não é? Pois bem; nós beijamos a mão do sacerdote porque com ela nos reparte o pão da Eucaristia, nos abençoa, perdoa-nos os pecados e dirige-nos no caminho do céu.
➖ Bobagens! - responderam os mal educados; isso era costume em tempos atrasados; hoje não se beija mais a mão da mãe e menos ainda do padre.
➖ Vocês estão muito enganados. Se não beijam sua mãe, nem são agradecidos ao sacerdote, também não merecem o nome de homens, pois faltam-lhes sentimentos humanos. Temos que respeitar os ministros de Deus, como aos nossos pais, porque realmente são os pais de nossas almas.
148. CASTIGO DO CÉU
Em 18 de fevereiro de 1881, numa sexta-feira, houve em Mônaco um escandaloso baile de máscaras. Muitos dos mascarados ridicularizavam as vestes sacerdotais e os hábitos religiosos, fantasiando-se de frades e freiras, fingindo-se muito gordos com enchimentos de estopa e lã.
Alguém imprudentemente usou fogo para acender o cigarro, fogo esse que pegou num dos trajes usados e as chamas se propagaram como um rastilho de pólvora. Doze daqueles sacrílegos mascarados morreram no meio do pânico, e os outros, sofrendo dores horríveis, foram transportados ao hospital, onde alguns vieram a falecer e outros ficaram com cicatrizes das queimaduras como lembrança do infeliz divertimento.
Em face desta horrível catástrofe, toda a cidade exclamou:
➖ Castigo! Foi um castigo do Céu!
149. O RESPEITO DO IMPERADOR
No ano de 325, após três séculos de cruéis perseguições, movidas pelos imperadores pagãos contra os discípulos de Jesus Cristo, puderam afinal reunir-se em Nicéia os bispos de todo mundo, para celebrar o primeiro Concílio ecumênico ou universal. A esse concílio assistiram trezentos e quinze bispos e inúmeros sacerdotes. A ele assistiu também o grande imperador Constantino, que fizera cessar a perseguição contra a Igreja, convertendo-se ele próprio ao catolicismo.
O imperador, cheio de respeito para com os ilustres prelados, quis ocupar o último lugar na augusta assembleia e, além disso, não se assentava antes dos bispos ou sem obter permissão para isso. Terminado o grandioso Concílio, perguntou alguém ao monarca:
➖ Por que mostrava vossa majestade tanto respeito àqueles homens?
➖ Meu amigo - disse o imperador - o sacerdote, embora revertido de uma dignidade divina, é homem e pode pecar; mas nenhum de seus pecados deve diminuir o nosso respeito. Digo-lhe mais: se visse um sacerdote pecar, em vez de publicar ou divulgar o pecado dele, cobriria o sacerdote com meu manto imperial para subtraí-lo às murmurações.
Aquele imperador tinha razão. O caráter sacerdotal é de um valor intenso, impresso embora, algumas vezes, numa alma fraca.
150. VIVA CRISTO REI!
No México, não faz muitos anos, um presidente chamado Calles perseguiu com furor não só os padres, mas também todos os católicos militantes. Em setembro de 1927, os soldados de Calles prenderam três jovens: José Valência, Nicolau Navarro e Salvador Vergas, porque faziam propaganda em favor da religião.
Depois de maltratá-los brutalmente, conduziram-nos, a 3 de janeiro de 1928, para longe da cidade, e ali os espancaram e feriram com cutelos. Repreendeu-os José Valência, dizendo:
➖ Sois uns perversos, martirizando-nos ferozmente: Deus vos perdoe!
E dirigindo-se aos companheiros, recordou-lhes que eram católicos, que a verdadeira pátria era o céu, para onde logo partiriam. E todos os três gritaram: Viva Cristo Rei! Viva a Mãe de Deus!
Furiosos, os cruéis soldados os espancavam de novo e cortaram-lhes a língua, dizendo:
➖ Vamos ver se agora falais e rezais!
Ao volver-se o mártir para os seus companheiros para mostrar-lhes o céu, fuzilaram-no e em seguida cortaram-lhe a cabeça. Os outros dois companheiros imitaram o heroísmo do primeiro.
Em seguida aquela soldadesca tomou os cadáveres e, levando-os à cidade, deixou-os no meio da praça, como se tivesse realizado uma grande façanha. Acudiu logo uma multidão imensa de curiosos. Chamaram também a mãe do jovem mártir José Valência. A heroica senhora, em vez de chorar, olhos fixos no céu exclamou:
➖ Senhor, bendigo-vos por terdes disposto que eu fosse a mãe de um mártir!
E julgando-se indigna de abraçar o corpo do filho, beijou-lhe os pés devotamente.
151. QUE LHE PARECE?
Apresentou-se, certo dia, num convento, uma jovem que desejava ser religiosa. Parecia ter muito boas disposições, mas a Superiora, querendo experimentar-lhe a vocação, percorreu com ela as dependências da casa, e foi dizendo:
➖Esta é a nossa capela. Aqui mora o dono da casa: é Jesus. O que Ele manda se faz; O que Ele proíbe, se deixa: o que não pede, se adivinha.
Rezaram ali um instante e, continuando a visita, disse a Superiora:
➖ Aqui é a sala de jantar: tudo pobre. Sendo assim, neste refeitório não se prova nenhum manjar delicado, entende?
➖ Sim, senhora - respondeu a jovem.
➖ Esta é a sala de trabalhos; como sabe, todas as religiosas vivem trabalhando e rezando; descanso, só no céu.
Passaram a outro corredor e a Superiora indicou uma cela à jovem, dizendo:
➖ Este será o seu quarto; é limpo, mas pobre, até na mobília. Será a sua morada para toda a vida: aqui você fará penitência por seus pecados e pelos pecados do mundo, ouviu?
➖ Sim, senhora.
Saíram para fora da casa, andaram alguns passos e a Superiora falou então:
➖ Olhe este horto; quando você falecer, será enterrada, sem nenhuma pompa, aos pés daquele grande Cristo.
A jovem, sem dizer uma palavra, contemplava a bela imagem de Jesus Crucificado.
➖ Que lhe parece? Tem medo?
➖ Não, madre - respondeu. Está tudo bem. Não tenho medo não; porque na capela, na sala de trabalhos, no refeitório, na cela, no jardim e em toda parte vi o Crucifixo; ele me dará forças para sofrer. Se tanto padeceu Jesus por mim, por que não hei de padecer um pouco por Ele?
E a jovem foi aceita. E tornou-se santa.
152. HEROÍSMO DE UM ANCIÃO
São Policarpo, um dos grandes heróis da Igreja Católica, era bispo de Esmirna e discípulo de São João Evangelista. Foi um dia detido por um piquete de soldados, aos quais recebeu e tratou com muita caridade ,convidando-os a se assentarem à sua mesa para a ceia.
Pediu-lhes depois lhe dessem tempo para encomendar a Deus a Igreja e seus perseguidores. Feita a sua oração, pôs-se a caminho com os soldados, que o maltrataram cruelmente durante toda a viagem, pagando com violências os benefícios que lhes fizera o santo bispo. Conduzido à presença do governador, quis este convencê-lo que era melhor sacrificar aos deuses e salvar a vida do que deixar-se martirizar. Falou-lhe assim:
➖ Venerável ancião, amaldiçoa a Cristo e eu te colocarei em liberdade.
➖ Faz oitenta anos que sirvo a Jesus Cristo e dele só tenho recebido favores e benefícios; por que, pois, haveria de amaldiçoá -lo?
➖ Se as feras não te dilacerarem - insistiu o governador - serás queimado vivo.
➖ Bem se vê que desconheceis o fogo eterno do inferno, e por isso me ameaças com o tormento do fogo terreno e passageiro.
Condenado à fogueira, o fogo, em vez de queimá-lo, formou como que uma grinalda ao redor dele, não lhe causando o menor dano. Atravessaram-no então com a espada e, assim, terminou gloriosamente a sua vida terrena o heroico confessor de Jesus Cristo e defensor intemerato da Santa Igreja.
153. SÃO CARLOS E A EPIDEMIA
Em 1576, propagou-se a peste negra na cidade de Milão (ltália) com força e velocidade aterradoras. As mortes eram contínuas. São Carlos Borromeu, zelosíssimo arcebispo daquela infeliz cidade, não encontrava pessoas que quisessem cuidar dos empestados, nem sacerdotes que dessem os sacramentos aos agonizantes.
A angústia do santo era grande; não podia ver aquela calamidade; precisava remediá-la. Ia, ele mesmo, de casa em casa, visitava e socorria os enfermos, começando pelos mais graves. Saía, depois, à janela das casas e, com vozes que cortavam os corações, convidava tanto aos sacerdotes como aos seculares que o ajudassem naquela obra de caridade.
Diante aquele belo exemplo do santo arcebispo, muitos cidadãos se sentiram impelidos a socorrer os empestados. Até os sacerdotes, que haviam fugido, voltaram para oficiar os sacramento aos moribundos, sendo coadjuvados por outros vindos do estrangeiro.
Naquela terrível epidemia, que durou cerca de um ano e meio, perderam a vida dois jesuítas, dois barnabitas, quatro frades capuchinhos e cento e vinte sacerdotes seculares. Assim sacrificaram a sua vida corporal aqueles zelosos ministros de Deus para a salvação eterna das almas, muitas das quais, sem os auxílios da religião e sem os santos sacramentos, ter-se-iam precipitado no inferno eternamente.
Para aplacar a cólera divina, organizou São Carlos grandes procissões de penitência, sendo ele o primeiro a tomar parte nelas, caminhando a pé e descalço e dirigindo ao céu fervorosas preces.
154. NÃO QUERO QUEBRAR O JEJUM
São Frutuoso, bispo de Tarragona, na Espanha, foi encarcerado por certo governador romano chamado Emiliano. Condenado a morrer queimado a fogo lento, achava-se ao pé da fogueira quando, alguns cristãos, compadecidos lhe ofereceram de comer para que não desfalecesse.
➖ Não, disse o confessor da fé, não quero quebrar o jejum; assim chegarei ao céu mais depressa.
Todos ficaram muito edificados com tal exemplo de fidelidade às leis da Santa lgreja.
158. CASTIGUE-ME!
Chegou a uma vila uma professora que não acreditava em Deus. E querendo corromper as alunas, disse-lhes:
➖ Vamos ao ditado; escrevei! E ditou-lhes despudoradamente: 'Não existe Deus; os que creem nele são uns bobos, aos quais se deveriam por orelhas de burro'.
Ao recolher e corrigir os ditados, viu que uma menina escrevera:
➖ Eu creio que Deus existe.
➖ Por que escreveste isto, senhorita? Olha que te castigarei.
➖ Minha mãe - disse a menina - ensinou-me que existe Deus, e acrescentou que é preferível deixar-se matar a ofender a Deus, nosso Criador. Se a senhora quiser castigar-me, castigue-me; Deus e minha mãe estarão contentes comigo.
Comoveu-se então a professora diante daquelas palavras pronunciadas por sua alunazinha, e mais tarde converteu-se.
159. NA MINHA FÁBRICA NÃO SE TRABALHARÁ
Um comerciante tinha em sua fábrica centenas de operários, cujo trabalho devia ser contínuo e uma suspensão do mesmo em dias festivos acarretava a perda de grandes lucros. Apresentou-se ao bispo e perguntou se podia considerar razão suficiente para trabalhar em dias festivos a considerável perda que sofria, e em consciência pedia-lhe licença para trabalhar depois que os operários tivessem ouvido missa.
O bispo disse-lhe que escrevesse ao papa. Ele o fez e a resposta favorável foi enviada ao próprio bispo, que foi encarregado de comunicá-la ao comerciante. Chamou-o e disse-lhe:
➖ O papa outorgou-vos a dispensa solicitada; mas o vosso exemplo há de influir nos outros, os quais nunca entenderão suficientemente o motivo da dispensa, pois o público não raciocina e só verá um favor concedido a um rico. Vede se quereis tomar sobre vós essa responsabilidade e se, na hora da morte, não tereis de arrepender-vos de haver dado motivo para que outros faltassem contra a lei de Deus.
➖ Está bem, senhor bispo; na minha fábrica não se trabalhará em nenhum dia de festa. Prefiro perder bom dinheiro a arcar com tanta responsabilidade.
160. ASSIM CONTA UM MISSIONÁRIO
Um missionário foi chamado para assistir a um velho moribundo que vivia numa casinha perdida numa vasta planície. Levou consigo o necessário para celebrar a missa. Tratava-se de um senhor de origem francesa que há quarenta anos vivia na região de Filadélfia e fazia vinte anos que não vira mais um sacerdote.
O missionário atendeu ao enfermo, celebrou a missa para dar-lhe a comunhão e, terminada a ação de graças, perguntou ao doente:
➖ Que prática especial fez o senhor durante a sua vida para merecer a assistência de Deus nos seus derradeiros instantes?
O velho pensou um pouco e disse:
➖ O único bem que fiz foi caminhar todos os sábados sessenta quilômetros para ir à vila confessar-me, comungar e ouvir a missa no domingo. Isto fiz sempre até que meus incômodos me impediram.
Pois foi isso precisamente que o fez merecer a graça de receber os últimos sacramentos.
161. COMO ELE MEDITAVA NA MORTE
Santo Efrém ia frequentemente, à tardinha, meditar junto às sepulturas. Triste e pensativo ia de túmulo em túmulo, lendo as inscrições e nomes dos defuntos: príncipes da cidade, magistrados da província, ricos senhores, sábios admirados pelo mundo.
Às vezes, o santo chamava-os em voz alta por seus nomes: ninguém lhe respondia. Onde estão aquelas soberbas figuras de homens e de mulheres aos quais todos se sujeitavam? Aquelas línguas que só falavam de seus próprios méritos e dos defeitos alheios? Onde estão? Onde estão aqueles ouvidos que só queriam ouvir os seus próprios louvores?
Tudo tornou-se pó e cinza. Lembra-te, ó homem soberbo, que és pó! Então Santo Efrém voltava para casa mais humilde e mais paciente.
162. O MUNDO PERVERTE
São Gabriel da Virgem Dolorosa, depois de passar a primeira juventude entre as lisonjas do mundo, refugiou-se na religião e nos primeiros dias de convento, pensando em seu amigo Filipe Giovanetti, que era estudante no liceu de Espoleto e, temendo por ele, que se encontrava em muitas tentações de pecado, escreveu-lhe assim:
'Tens razão de dizer que o mundo está cheio de perigos e tropeços e que é coisa muito difícil poder salvar nossa única alma; não deves por isso desanimar. Desejas a tua salvação? Foge dos maus companheiros. Desejas a tua salvação? Foge dos teatros. Ó é verdade, e eu sei por experiência, que é impossível entrar neles com a graça de Deus e sair sem a ter perdido ou a posto em perigo. Desejas a tua salvação? Foge das diversões, porque naqueles lugares tudo se conjura contra a nossa alma. Foge enfim dos maus livros, pois é indizível o mal que eles podem causar aos corações de todos e especialmente dos jovens. Dize-me: podia ter eu maiores diversões e prazeres do que gozei no mundo? Pois bem: o que me resta agora? Confesso-o a ti: Não me restam senão amarguras'.
163. QUERIA MORRER MÁRTIR...
O pequeno Orígenes tinha uma alma ardente e pura. Naquele tempo havia perseguições contra os cristãos. Bem o sabia o menino, e não tinha medo, antes tinha grande desejo do martírio para testemunhar com a vida e o sangue o seu amor a Jesus Cristo. Resolvera secretamente entregar-se nas mãos dos verdugos e teria morrido mártir se a astúcia de sua mãe não tivesse conseguido impedi-lo.
Aquela santa mulher compreendera o propósito do filho e, antes que este despertasse naquela manhã perigosa, escondeu-lhe as roupas e o obrigou a ficar na cama (Eusébio, História Eclesiástica). Como é possível que um menino tivesse tanta coragem, tanta fé e tanto entusiasmo a ponto de desejar a morte? Era possível, porque seu pai, o beato Leônidas, também morrera como mártir.
Aí está, prezados pais, vossos filhos crescerão segundo os vossos exemplos. Vós os quereis obedientes: obedecei também vós a Deus. Vós os quereis religiosos, puros, honrados, trabalhadores: frequentai também vós os sacramentos e exercitai-vos nas virtudes cristãs.
164. AMOR AOS ENFERMOS
Os missionários católicos não encontram campo mais difícil de conquistar para a fé do que entre os maometanos. Quantas experiências não terminaram em sangue? Escolheram, então, o método de praticar a caridade antes de a ensinar. Ante os missionários que curam os enfermos e protegem os infelizes, também o orgulho muçulmano se dobra.
Irmã Rosália, filha da caridade, trabalhava num dispensário. Para extrair os dentes daqueles pobrezinhos, era mister primeiro vencer o horror às pinças, e a lrmã usava das mais carinhosas expressões árabes: Coragem, meu coração, minha alma, meus olhos! E a pobre mulher, depois de curada, retirava-se dizendo: 'Que Alá conserve suas mãos!'
Alguns muçulmanos, que esperavam seu turno, diziam: 'Se todos os infiéis (chamam assim aos cristãos) vão para o inferno, para lrmã Rosália far-se-á uma exceção'. Quando, em Damasco, a religiosa cuidava de um doente, este lhe disse: 'Estou reduzido à última miséria; tenho esposa e filhos e nenhum dos meus pensa em consolar-me. Tu, que és estrangeira, vens à minha pobre casa para me socorrer; tua religião é melhor do que a minha'.
Assistindo a uma jovem muçulmana, Irmã Rosália deu-lhe uma medalha de Nossa Senhora que a enferma beijou e pôs ao pescoço. A Irmã criou coragem e apresentou-lhe um Crucifixo. É coisa inaudita para um muçulmano beijar o Crucifixo... entretanto a jovem o beijou; e os parentes e amigos não só não o impediram, como até o aprovaram. Ó quanto bem se pode fazer, tratando os doentes com amor e com verdadeira caridade cristã...
165. TENS O NOME DE CRISTÃO...
O pobre 'rei de Roma', o pálido filho de Napoleão I, teve que passar na Áustria os poucos anos de sua juventude. Foram dias dolorosos para ele. O ministro Metternich, quando queria mortificá-lo, dizia-lhe que não tinha nada de seu Pai, nada que o fizesse capaz de governar. 'Tens o chapéu, mas não tens a cabeça de teu pai'.
A quantos que se dizem cristãos se poderia repetir a mesma reprimenda: 'Tens o nome, mas não o coração de Jesus Cristo'. Por quê? Porque não ajudas o teu próximo nem te compadeces dele.
166. O QUE FALTAVA ERA A HUMILDADE
Serapião, o famoso santo do deserto, recebeu um dia a visita de certo monge que continuamente se dizia pecador, e pedia-lhe conselhos de perfeição. O santo, depois de havê-lo feito assentar-se à sua mesa, permitiu-se fazer-lhe algumas observações para o bem de sua alma. 'Filho' - disse-lhe com grande mansidão e caridade - 'estás no reto caminho, mas se queres progredir na perfeição, não andes demais por aqui e acolá; fica em tua cela, atende à oração, ao trabalho, ao recolhimento interior, do contrário...'
Não pôde nem acabar a frase, porque o monge ficou pálido, agitado e gritava como um possesso. 'lrmão meu' - disse Serapião - 'o que te falta é a humildade'.
Vá alguém fazer a mesma correção a uma senhora, a uma jovem, e diga-lhe: 'Criatura de Deus, estás sempre fora de casa, de manhã, de tarde e à noite, gastando horas inteiras sem fazer nada, proseando inutilmente...' Então vereis como o tempo esquenta...
167. BEIJOU A MÃO DE SÃO DOMINGOS
Um homem entregue a todos os vícios e atormentado pelo demônio, ouvindo dizer que São Domingos estava em Bolonha, foi vê-lo, assistiu à missa que o santo celebrou e depois correu a beijar-lhe a mão. Apenas deu o respeitoso ósculo, experimentou um tal perfume, que lhe pareceu ter vindo do Céu e como jamais experimentara em toda a sua vida.
O mais maravilhoso é que, imediatamente, se lhe apagou o fogo da luxúria e ele se converteu a uma vida sinceramente cristã. Era o efeito da palavra de Cristo: 'lde e mostrai-vos aos sacerdotes!' (Lc 17, 11). Cristãos! quando as tentações vos assaltarem; quando o demônio conseguir escravizar a vossa alma, apresentai-vos ao sacerdote para ouvir a santa missa ou, melhor, para vos confessardes. Também vós, como o pecador de Bolonha, experimentareis um perfume celestial, que é o odor da graça divina.
168. AQUELE FUSO FLORESCEU
Conta-se que uma santa, a virgem Libéria, fiava todos os dias por amor de Deus e dos pobres, e eis que, de repente, em seu fuso floresceram perfumadas flores como nunca se viram em parte alguma do mundo.
Ó se, como nos aconselha São Paulo, fizéssemos tudo por amor de Deus; os anjos veriam florescer os instrumentos de nosso trabalho: a enxada do lavrador, o malho do ferreiro, a tesoura da costureira, a vassoura da criada, a panela da cozinheira, a pena do escritor!
169. SÓFOCLES E OS SEUS FILHOS
Um dos grandes poetas da Grécia e do mundo, Sófocles, foi denunciado como louco por seus próprios filhos que, antes do tempo devido, pretendiam a herança paterna. O processo foi interessantíssimo e muita gente acudiu ao tribunal. Por um lado o velho poeta estava tranquilo e, por outro, os seus desnaturados e rebeldes filhos se esforçavam por demonstrar a demência do pai.
Quando se calaram, reinou um profundo silêncio e todos ficaram em expectativa. Então Sófocles puxou, por sob a toga, a sua última peça de tragédia e declamou-a diante dos acusadores, juízes e povo. Quando terminou, todos o aplaudiram freneticamente e pediram que o glorioso ancião fosse coroado com coroa de louro, enquanto seus indignos filhos, humilhados, correram a esconder-se.
Para defender-se das acusações e calúnias dos seus filhos rebeldes, não tem a Igreja necessidade senão de apresentar o seu Evangelho e as suas obras.
170. ZOMBAVAM DE NOÉ
Eram tantos os pecados do mundo que um dia Deus se arrependeu de ter criado o homem. Chamou a Noé, que era justo, e ordenou-lhe que construísse um grande navio: a arca. Cento e vinte anos foram gastos na sua construção.
São João Crisóstomo descreve as zombarias que os homens corrompidos dirigiam a Noé. Diziam: 'Caduco! ó velho caduco! ó falso profeta! Não vês, como o céu está limpo e sereno, enquanto tu ameaças com o dilúvio?' Noé, porém, continuava, martelando sem descanso. E aqueles homens diziam: 'Todos anseiam pelo ar livre e o céu espaçoso e este está a fazer uma casa de madeira para meter-se vivo nela com sua família, com seus bens e com os animais!'
Noé termina a arca e entra, com aquela gente má ao redor rindo e escarnecendo. Mas, depois de sete dias, as cataratas do céu abriram-se com estrondo, todos os rios transbordaram e as ondas do mar inundaram a terra. Todos pereceram no dilúvio universal; mas a arca flutuava sobre as águas e Noé louvava a Deus.
Nossa vida na terra é como a arca de Noé. Toda boa obra, que praticamos, é motivo de zombaria e de perseguições por parte dos inimigos de Deus. Não recuemos, não nos envergonhemos do Evangelho, não nos deixemos vencer pelo respeito humano.
171. FASCINADO PELO DINHEIRO
Num domingo, em Nova York, um excêntrico milionário chamou um de seus empregados e lhe disse: 'Sobre esta mesa há um milhão de notas de um dólar. Tudo será teu, se conseguires contá-las até meia-noite e, olha, ainda são seis horas da manhã'. O empregado ficou por uns instantes atordoado diante daquela mesa coberta de notas. Em seguida, com mãos febris, começou a contar: um, dois, dez, cem... um pacote, dois pacotes... e quase que nem respirava.
Ficou ali com a cabeça reclinada, o olhar fixo, o corpo imóvel, somente as mãos se agitando, indo e vindo tão rapidamente como a regularidade de uma máquina. Os sinos tocam para a santa missa, chamando o povo. Ele, debruçado sobre o dinheiro, não ouve nada. Passam as horas... é meio-dia. Deve sentir fome, mas nem pensa em comer. Conta e conta... Põe-se o sol. Onde estarão os seus filhos? Terão o que comer? Chega a noite... e as ruas estão desertas e o prédio está coberto pelo silêncio e pelas sombras.
Um serviçal acende a luz e leva-lhe um copo de vinho. O contador nem o percebe. Os olhos já estão pesados, os nervos retraem-se, os músculos das mãos entorpecem. Está próxima a meia-noite. Ele conta e conta sempre. Diante dele, o milionário o contempla com frieza e, de repente, toma-lhe as mãos e grita: 'Basta! É meia-noite'. O infeliz não tinha chegado nem à metade de sua meta. Dilata horrivelmente os olhos sem luz e um ataque cardíaco o acomete e o faz cair morto.
Pobre louco que se deixara alucinar e seduzir pelo ouro! Em lugar do que esperava, só encontrou desenganos e a morte. Destes loucos há por aí inúmeros. Para a igreja, para a missa, para a alma, não têm tempo: devem ganhar dinheiro! Até que um dia vem o demônio e lhe diz: 'Basta!'
172. A VOZ DO SANGUE CRISTÃO
O sangue dos mártires dá testemunho da verdade católica. Não foram raros os episódios como o seguinte. Nas catacumbas, no dia de Páscoa, muitíssimos cristãos estavam reunidos e assistiam à missa do Pontífice Caio. Durante a elevação da hóstia, enquanto o povo a adorava, ouviram-se gritos: 'Morte aos Cristãos!' Eram os gritos dos beleguins de Diocleciano que ali penetraram por traição.
Sem saírem do lugar, a multidão continuava adorando a Cristo na Eucaristia. Os soldados com suas espadas iam ferindo à direita e à esquerda. 'Filhos caríssimos' - exclamou o Pontífice Caio - 'Cristo morreu e ressuscitou por nós. Coragem! Ele quer nos coroar com Ele'. E todos a uma voz gritaram: 'Somos cristãos'. A matança continuou, mas ninguém vacilou. As mães, segurando junto ao peito os seus filhinhos, diziam: 'Vamos para o céu; o Senhor Jesus vem nos buscar'.
O Papa Caio disse por sua vez: 'Sou cristão' e, ao ser decapitado, sua cabeça rolou pelos degraus do altar. Morreram os cristãos, morreu o papa... mas a Igreja não morre! O tempo dos mártires não terminou. Em nossos dias, temos outros mártires gloriosos, cujo sangue faz brilhar a nossa fé, fortalece a nossa confiança e entusiasma o nosso ardor e só faz crescer o nosso amor à Igreja.
173. 'É ELE, É A VIDA!'
Numa linda manhã, assentado debaixo de frondoso carvalho do cabo Montenegro, Lamartine assistia à saída do sol. Toda a criação parecia olhar para o oriente. Num instante brilhou o sol e parecia incendiar com seus raios o mar Mediterrâneo. Então o poeta lançou um grito de entusiasmo: 'É ele, é a vida!'
Ah esse grito do poeta deveria ser também o nosso; conheço outro sol, o Sol divino, em comparação do qual (como disse Miguel Ângelo), o nosso sol é uma sombra. O Sol divino é Jesus. Quando todos os dias se eleva sobre o altar, quando irradia sobre o cibório, deveríamos sentir fome dele; sim, deveríamos correr à sagrada mesa cantando: 'É Ele, é a vida!'
174. 'AGORA ÉS MUITO RICO!'
Quando Jacó entrou na casa de Labão, todas as coisas começaram a prosperar: aumentou a propriedade dos campos, o número dos servos, o número do gado e todas as riquezas aumentaram.
➖ Olha, Labão - disse-lhe um dia Jacó - muito pouco possuías quando eu cheguei; 'agora és muito rico!'.
Estas palavras, com maior verdade, as repete Jesus a nós, quando vem à nossa alma na comunhão: 'Vê como eras pobre antes que eu entrasse em tua alma! Agora és rico com os meus dons'. Os que se aproximam do banquete divino terão tudo o que necessitam e ainda muito mais.
175. SANTA CLARA E OS SARRACENOS
Muitos sarracenos, sedentos de sangue e de ódio, assaltaram uma noite o convento de Santa Clara, em Assis. No meio do pranto e das orações das boas religiosas, a Irmã Clara corre à capela, toma o cibório que continha as hóstias consagradas e, por divina inspiração, levanta-o contra os bárbaros que subiam ao mosteiro. Os primeiros ficaram cegos por uma luz deslumbrante; os demais, batidos por uma força prodigiosa, fogem aterrorizados.
O demônio, o mundo e as paixões são como ondas de ferozes sarracenos que, de vez em quando, assaltam a nossa alma. Nós somos fracos e medrosos como aquelas religiosas, inermes contra um exército de bárbaros armados; mas, se, como Santa Clara, corrermos a Jesus, se levarmos a Eucaristia no coração, seremos valorosos e invencíveis.
Os apóstolos, os mártires, as virgens de onde tiraram força e coragem nas perseguições, nas lutas contra o mal, contra os inimigos de Cristo? A comunhão foi a sua força; a comunhão será também a nossa força.
176. A RECOMPENSA DA ESMOLA
Um dia apresentou-se um pobre a Santa Catarina de Sena e pediu-lhe uma esmola por amor a Deus. Encontrava-se a santa na Igreja dos Frades Pregadores e não tinha nada para dar ao mendigo. 'Vem à minha casa e te darei bastante'. Mas o pobre insistiu: 'Se tens alguma coisa, dá-me agora porque não posso esperar'.
Catarina procurou ansiosamente por alguma coisa e encontrou uma cruzinha de prata que, com gosto, passou às mãos do pobre. Na noite seguinte, Nosso Senhor apareceu à santa, tendo na mão a pequenina cruz adornada de pedras preciosas.
➖ Conheces esta cruzinha?
➖ Conheço - respondeu Catarina - mas não era tão linda.
➖Ontem tu a deste: a virtude da caridade tornou-a tão bela. Prometo-te que, no dia do Juízo, em presença dos anjos e dos homens, mostrarei esta cruzinha para que a tua glória seja infinita.
177. SANTA TERESA E A SECURA ESPIRITUAL
Durante dois anos Santa Teresa não soube abrir a boca para rezar. Quando se punha de joelhos, apenas juntava as mãos e ficava recolhida, sentia um fastio tal que se levantava e ia fazer outra coisa. Até na comunhão sentia a sua alma vazia e não conseguia pronunciar nenhuma palavra. E, por dois anos, já que o confessor lhe ordenava que comungasse, em lugar de fazer a ação de graças, punha-se a limpar os bancos da igreja.
➖ Ó Jesus - disse uma vez com grande aflição - não é verdade que me abandonastes?
➖ Em toda a tua vida nunca fizeste tanto bem como nestes dois anos - respondeu-lhe Jesus.
Também a muitos cristãos vem a provação da secura e perdem o gosto da oração, das boas obras. Ai daqueles que se deixam vencer e não rezam, não praticam o bem, não obedecem ao confessor!
178. O SINAL DA CRUZ E AS CRUZES
Quando São Gregório Magno era secretário na corte de Constantinopla, reinava no trono do Oriente o jovem imperador Tibério II. Este, passando um dia por um corredor estreito e escuro do seu palácio, viu no mármore do piso gravada uma cruz e exclamou: 'Meu Deus! Fazemos o sinal da cruz na testa, na boca e no peito e depois a pisamos'.
Imediatamente mandou arrancar aquela do piso; debaixo, porém, havia outra gravada com o mesmo sinal. Depois a terceira, a quarta e mais outras sempre com o sinal da cruz. Quando estavam retirando a sétima pedra, ouviu-se um murmúrio de admiração. Havia debaixo daquela pedra anéis de ouro, prata, rubis, pérolas, esmeraldas, colares, um tesouro de grandíssimo valor.
O imperador contemplava aquelas joias a tremer de alegria e sem dizer uma palavra. O imperador do Oriente pode ser um símbolo de todo homem que passa peio corredor escuro e estreito desta vida. Apresentam-se diante de nós muitos anos dolorosos, gravados com a cruz do sofrimento. Passam-se os anos, termina a nossa carreira e, na outra vida, encontramos as cruzes transformadas em um imenso tesouro.
179. CORAÇÃO APEGADO À TERRA
Santo Ambrósio fôra convidado a visitar a casa de um rico banqueiro de Milão. Recebido com grande honra, o dono ostentava todo o luxo de seu palácio, mostrando ao bispo as colunas vindas de Constantinopla, os vasos de ouro, os ricos aposentos e a criadagem. Santo Ambrósio calava-se; o banqueiro começou, então, a contar-lhe os êxitos extraordinários de suas especulações comerciais; os contratos de compra e venda; o elenco de seus bens na cidade e na campanha. Dizia-se feliz em tudo e tudo atribuía à sua habilidade e boa sorte. O semblante do bispo denotava tristeza; sem aceitar coisa alguma, levantou-se e retirou-se apressadamente daquela casa.
No dia seguinte, chegou-lhe a notícia de que o palácio do banqueiro ruíra, sepultando debaixo de seus escombros as colunas vindas de Constantinopla, os vasos de ouro e com eles o seu proprietário. O que sucedeu com aquele proprietário, mais ou menos se dá com todas as pessoas que se deixam seduzir pelas riquezas e prazeres, e se esquecem que tais bens, embora vindos da bondade de Deus, duram pouco. E que aproveita tudo o mais se a alma vier a perder-se?
180. FAZENDO SENTINELA A JESUS
Estando um regimento de infantaria estacionado em Orleans, notou o cura da catedral que todos os dias, das treze às quinze horas, um devoto soldado estava imóvel no meio da igreja. Chegava, fazia genuflexão e conservava-se aprumado durante duas horas a fio e com o olhar fixo no tabernáculo.
Certo dia foi um capitão visitar a catedral e o cura expôs-lhe o que se passava, dizendo: 'Se o senhor esperar um pouco poderá vê-lo'. Passado algum tempo, chegou o bom soldado e pôs-se em seu lugar. O capitão, reconhecendo-o, chamou-o e disse-lhe: 'O que fazes neste lugar?'
'Duas horas de sentinela ao meu Deus' - respondeu com franqueza o soldado e acrescentou - 'Em Paris os grandes dignitários têm seus guardas, meu general tem dois, o coronel tem um... e o Rei dos Reis, Jesus Cristo, não terá nenhum? Venho fazer duas horas de guarda, porque amo a Jesus'.
Sejamos também nós sentinelas de Jesus Cristo não pela força, mas pelo amor. Ele é o Rei dos céus e da terra. Diante dele, na igreja, devemos guardar muito respeito e sobretudo confiança e amor filial.
181. É PRECISO DESTRUIR OS ÍDOLOS
Cromácio, governador de Roma, estava atacado por uma doença estranha que nenhum médico era capaz de curar. Disseram-lhe então que em Roma havia dois cristãos que faziam curas miraculosas e talvez curassem também a ele. Cromácio mandou chamá-los. Eram Sebastião e Policarpo.
➖ Cromácio - disseram os dois santos ao governador pagão - se queres sarar, dá-nos todos os ídolos de tua casa para os destruirmos.
➖ Se isso for necessário, - respondeu muito com pesar - eu vos direi onde eles estão e vós os levareis para que eu não os veja mais.
Sebastião e Policarpo levaram todas as imagens dos falsos deuses e as quebraram. Depois voltaram a Cromácio, mas ele não estava curado, mas muito pior.
➖ Cromácio - disseram os santos, olhando fixamente a névoa que ele mostrava no brancos dos olhos - mentiste pois em tua casa ainda há dois ídolos.
E o governador teve que dizer a verdade. Escondera alguns em seu quarto, bem junto de si, porque os queria muito. Só depois que os entregou, pôde sarar da enfermidade.
O mesmo acontece com a confissão. Aos que têm escondido no fundo da alma um só pecado mortal, não se lhes perdoará nem esse nem os outros; antes ficará a consciência gravada com um grande sacrilégio.
182. FICOU A FOLHA EM BRANCO
Certo dia apresentou-se a Santo Antônio de Pádua um pecador para confessar-se. Estava, porém, tão perturbado e confuso, que apenas soluçava sem poder pronunciar nem uma palavra.
➖ Vai, meu filho - disse o santo - escreve os teus pecados e volta aqui de novo.
Uma vez de volta, o pecador foi lendo os seus pecados, como os havia escrito. Quando terminou a leitura, com grande surpresa viu que desaparecera do papel tudo o que escrevera e só restava a folha em branco.
Assim sucederá com a nossa alma quando nos confessarmos com humildade sincera e dor profunda. Toda mancha de pecado desaparecerá do nosso coração e aparecerá o candor, todo o candor da inocência recuperada.
183. A MODÉSTIA DE SÃO LUÍS
No ano de 1581, Maria da Áustria, filha do imperador Carlos V, passava pela ltália. O imperador e todos os príncipes foram convidados a recebê-la e, entre os convidados, estava também Luís Gonzaga, filho do marquês de Castiglione. Que magnífica festa naquele belo dia de outono, em ornamentos em todo balcão e em toda janela!
Todos queriam ver a soberana. Finalmente ela apareceu. Todos agitaram os seus lenços de seda quando a contemplavam. O jovem Luís naquele instante levantou a mão associando-se à festa, mas conservou os olhos fechados; a filha do imperador passou e ele não a viu. Alguns pensarão que isso era escrúpulo e exagero; também São Luís sabia que não cometia pecado por ver a rainha, mas sabia igualmente que a pérola preciosa da castidade nós a levamos em vasos frágeis e, às vezes, basta um só olhar imprudente para perdê-la.
184. O VESTIDO CELESTIAL
Caía a noite. Em sua celazinha cheia de sombra, Santa Catarina de Sena pensava na festa que estava por terminar. Via os estandartes agitados pelos jovens; via a multidão apinhada no campo sob o sol de verão, os palcos repletos de luxuosas damas. Naquele momento começou o demônio a tentá-la: 'Também. tu, Catarina, poderias estar com eles. Por que cortaste teus cabelos louros, por que trazes o cilício sobre o teu corpo delicado, por que queres fazer-te religiosa? Olha este vestido, não é mais lindo que o místico hábito claustral?' Na dúbia claridade da noite, a santa julgou ver diante de si um jovem que lhe apresentava um rico vestido feito de pétalas de rosas.
Enquanto Catarina estava como que suspensa, apareceu-lhe Maria Santíssima. Como o tentador, também ela trazia nos braços um esplêndido vestido bordado a ouro e pérolas, radiante de pedras preciosas. 'Deves saber, minha filha' - disse a Mãe de Jesus com voz dulcíssima - 'que os vestidos tecidos por mim no coração do meu Filho, morto por ti, são mais preciosos que qualquer outro vestido trabalhado por outras mãos que não as minhas'.
Então Catarina, ardendo em desejo de possuí-lo e tremendo de humildade, inclinou a cabeça e a Virgem a vestiu com a túnica celestial. O demônio apresenta-se às almas com um vestido de rosas e prazeres carnais; Maria, ao contrário, com um vestido de pureza e santidade. Dai preferência a este último; somente com ele podereis entrar no céu.
185. O SINAL DA CRUZ
Henrique IV, depois de humilhar-se em Canossa, mostrou-se de novo inimigo do papa e foi com o seu exército sitiar Roma. No segundo assalto, apesar da heroica resistência dos sitiados, incendiou todas as muralhas. Um espantoso anel de fogo rodeava a cidade, da qual não se erguiam senão gemidos dos agonizantes e pranto das mulheres aterrorizadas.
Então no alto de uma torre, majestoso e pálido, entre o clarão e o fumo do incêndio, apareceu o Papa Gregório VII, e com gesto solene e calmo fez o sinal da cruz contra as chamas, e imediatamente o fogo se apagou como se tivesse recebido uma chuva torrencial.
Todas as vezes que nos encontrarmos em perigos e angústias, confessemos a Santíssima Trindade fazendo o sinal da cruz e grande alívio sentirá a nossa alma.
186. CREDO - EU CREIO
São Pedro de Verona, apóstolo de Jesus Cristo, era perseguido de morte pelos inimigos de sua fé. Um dia teve de atravessar uma floresta. Ia rezando o santo varão. Naquele momento arrojaram-se sobre ele os inimigos, cravaram-lhe no peito o punhal assassino e fugiram. Caindo ferido de morte, o santo mártir compreendeu que chegara a sua última hora. Queria ainda confessar a sua santa fé, mas não podia falar. Molhando o dedo no sangue que jorrava do seu peito, escreveu sobre o pó: Credo, Domine - Senhor, eu creio.
Também eu não sei quando nem como me sobrevirá a morte, Enquanto caminho, vou rezando o credo de minha fé e dizendo: 'Creio em Deus; creio em Jesus Cristo; creio na Igreja Católica, apostólica e romana. Protesto que nesta fé quero viver e morrer. E quando morrer, quero que gravem no meu túmulo estas mesmas palavras do santo mártir: Credo, Domine - Senhor, em ti creio, em ti espero e te amo. Senhor, dá-me o céu que prometeste aos que creem, esperam e amam.
187. MIGUEL ÂNGELO
Foi, talvez, o maior dos escultores que os séculos jamais viram. A história o admira. Num dos famosos templos de Roma há um sepulcro visitado por todos os turistas do mundo. É obra de Miguel Ângelo. Ali aparece Moisés sentado no trono da autoridade, que exercia como chefe do povo de Israel. Que fronte, que olhos... que rosto... que atitude... que majestade! Só um gênio podia dar uma vida assim ao mármore e à pedra morta.
O maravilhoso artista, terminada a obra, contemplou-a e ficou extasiado diante dela. Dizem que, com o martelo que tinha na mão, deu-lhe fortes marteladas sobre o joelho, dizendo: 'Fala, Moisés, que só isso te falta: falar!' Mas a estátua continuou muda.
Repicam os sinos de nossas igrejas. Católicos, não ouvis? Das altas torres vem essa voz do céu. É a voz de Deus, do Artista Divino que vos chama à santa missa. Sois cristãos, sois a obra-prima do Altíssimo. Para serdes cristãos de verdade, levantai-vos e caminhai para a igreja, onde cumprireis o preceito da oração e da missa. Mas tantos cristãos de hoje são como estátuas petrificadas pela ignorância religiosa; são blocos de bronze e mármore, modelados pela indiferença e impiedade. Não se movem. E quando se movem, é para ir aos jogos, às praias, aos cinemas... Para a igreja: não vivem... morrem!
188. PROPÓSITO INQUEBRANTÁVEL
Cambronne pertencia ao regimento de Nantes. Bebia com frequência. Um dia, em estado de enrbriaguês, bateu em seu chefe. Seu coronel, depois de conseguir que se revogasse a sentença, chamou-o e disse-lhe:
➖ De ti depende a tua honra e a tua liberdade!
➖ Meu coronel, a sentença é muito justa.
➖Não importa - respondeu o chefe - não morrerás; deves, porém, prometer que não mais te embriagarás.
➖ Meu coronel, prefiro nunca mais beber em toda a minha vida.
➖ Serias capaz de tal promessa?
➖ Sim; já que meu coronel foi capaz de tanta generosidade.
Passaram-se anos. Cambronne subiu a general e estava em Paris, acompanhando Napoleão. Hospedou-se na casa de seu antigo coronel. À hora do brinde foi oferecido a Cambronne o melhor vinho. Ele, porém, recusou, lembrando ao seu antigo chefe a promessa à qual devia a vida.
189. OS PAIS DESEDUCAM
Aquele colégio figurava entre os mais afamados. Dirigiam-no religiosos eminentes por sua ciência e virtude. Desfilaram diante de nós primeiramente os estudantes. Eram uns 130 internos. Havia entre eles jovenzinhos de poucos anos; e havia outros já crescidos, belos rapazes. Todos traziam no rosto a alegria e a esperança.
➖Padre - dizia-me o Diretor - aí vê o senhor cento e trinta rapazes. Destes, uns cento e vinte comungam todos os dias; os outros, ao menos uma vez por semana.
Atrás vinham os Padres Professores. Seriam uns trinta aproximadamente. Uns começavam a carreira do magistério, outros haviam encanecido no ensino. Depois que passaram, disse-me o Reitor:
➖ Todos eles, às vezes, têm tentações de desânimo... quase de desespero.
➖ Por quê? - interroguei.
➖ Porque trabalham nove meses no ano. Com grandes sacrifícios conseguem implantar nos corações desses meninos o amor da virtude e o respeito às leis divinas. Fazê-los serem bons e honestos. Mas saem daqui e em quinze dias os pais, meio descrentes, indiferentes e relaxados no cumprimento dos deveres cristãos, destroem o labor de um ano inteiro. Nas férias, a exemplo dos pais, faltam à missa, aos sacramentos. Terminado o curso, tornam-se ímpios, libertinos... Lançam muitos a culpa nos religiosos, esquecendo-se de que são os pais que deseducam os filhos.
190. VINHAM NADANDO
Conta um missionário que, quando chegava a alguma ilha da Oceania, para anunciar a sua presença levantava um mastro bem grande. Os negros acudiam de toda a parte e vinham até de muito longe. Um domingo, pela manhã, viu chegar uma turma de negros que vinham nadando de outra ilha, para terem o consolo de ouvir a santa Missa.
191. DOMINGOS SÁVIO AJUDA À MISSA
Este angélico jovem, aos cinco anos de idade, já sabia ajudar à missa e fazia-o com grandes demonstrações de amor a Jesus. Como era muito pequeno, o padre mesmo tinha de mudar o missal. Mas era tão grande o seu desejo de servir ao altar, que muitas vezes chegava à igreja quando esta ainda estava fechada, e ali permanecia esperando e rezando. Numa fria manhã de janeiro de 1847 ali o encontraram tiritando de frio e coberto de neve que caía copiosamente. Pode servir de modelo aos coroinhas.
192 . SACERDOTE MÁRTIR
Santo era aquele sacerdote (cônego de Vich). Foi condenado à morte tão somente pelo 'crime' de ser sacerdote, porque os comunistas espanhóis tinham ódio mortal aos ministros de Cristo. Saiu para a morte...
Tinha já diante dos olhos o pelotão de milicianos que o haveriam de matar. Ele está calmo: tem a paz da al. Pode-se dizer que um gozo celestial se espelha em seu semblante. Abriu a boca e disse então: 'Milicianos, três graças pedi a Deus durante a minha vida: a graça de ser sacerdote, a de morrer mártir e a de ser a minha morte a salvação de algum de meus assassinos. Consegui a primeira. Agora morro mártir de minha fé e de amor a Jesus Cristo. E, neste momento, peço-lhe que me conceda a última: que algum de vós se salve pelos méritos do sangue que vou derramar por amor de Deus.
Quando acabou de falar, um dos seus assassinos ajoelhou-se arrependido e quis ser assassinado e martirizado ao lado daquele sacerdote que até à hora da morte era tão santo e generoso.
193. TUDO PELO CÉU
São Martinho era naquele tempo um soldado. Encontrava-se com um pobre desnudo, que lhe pede uma esmola: dá-lhe a metade de sua capa... Pelos séculos dos séculos gozará desse ato de generosidade!
A. São João de Deus encontrou um pobre cheio de chagas e horrível de ver. Tomou-o sobre os seus ombros, levou-o a seu hospital e al, o curou com carinhos quase maternais. Pelos séculos dos séculos gozará desse ato de caridade!
B. Santo Isidoro, lavrador, ia para a roça. Arava a terra dura, recolhia os feixes à eira e com o calor do verão batia o trigo e dormia ao relento. Em meio de suas ocupações elevava o coração a Deus. Pelos séculos dos séculos gozará da recompensa dessas fadigas suportadas com paciência...
C. Santa Zita servia na casa de uma distinta senhora. Ia à fonte buscar água, varria a casa, acendia o lume na cozinha, aguentava as insolências de sua patroa e remendava os seus próprios e pobres vestidos. Enquanto suas mãos trabalhavam, seu coração orava. Pelos séculos dos séculos gozará a recompensa dessas humilhações dos serviços domésticos.
D. São Bento José Labre pedia esmola de porta em porta. Comia a mísera comida que lhe deitavam na pobre escudela. Levava aos ombros um saco e suas vestes eram um mosaico de mal costurados remendos. Onde dormia? Num palheiro. Onde descansava de suas longas caminhadas? À sombra de alguma árvore ou à beira dos caminhos. Onde rezava? Sua vida de peregrino era uma oração contínua. Pelos séculos dos séculos gozará de seu surrão de pobreza, do ladrar dos cães e do desprezo dos homens que passavam ao seu lado.
Qual é a vossa vida? Quais as vossas ocupações? O que importa é que penseis no céu, suspireis pelo céu e pelo céu e para o céu trabalheis, porque somente assim gozareis dos méritos de vossas obras pelos séculos dos séculos.
194. 'MÃE, TENHO DEZESSEIS ANOS!...'
Monsenhor Bougaud, um dos mais ilustres escritores franceses do século passado, fala-nos de uma senhora católica, com quem se passou o triste acontecimento que vamos transcrever. Tinha aquela senhora um filho. Nos primeiros anos educou- o cristãmente. Ensinava-lhe as rezas, levava-o à igreja, dava-lhe conselhos. Aos doze anos o menino entrou no Instituto de França.
Antes não tivesse entrado! Que se viu ali? O que ouviu naquela escola? A mãe julgava-o ainda um rapaz piedoso e honesto. Mas não era assim. Como havia de sê-lo, se em casa tivera sempre diante dos olhos os exemplos perversos do pai e no Instituto vivia no meio dos amigos mais ímpios e dissolutos? A mãe sonhava ainda; sonhava que o seu filho (com aqueles dezesseis anos que começavam a despertar no coração loucuras de libertinagem) era ainda uma alma de fé.
Chegou um dia de grande festa religiosa. Pela manhã disse-lhe a mãe:
➖ Filho, queres ir comigo à igreja? Farás tua confissão e comungarás comigo...
Ao que o rapaz respondeu fria e secamente:
➖ Mãe, já tenho dezesseis anos!... Já não creio em Deus, nem nessas coisas.
Que golpe, que facada no coração daquela pobre mãe! Daquele tempo a esta parte são muitos os jovens como aquele, os operários e todos em geral que se multiplicam como larvas de insetos nos charcos de água podre. Só uma graça extraordinária de Deus os poderá arrancar desses charcos!
195. DUAS MORRERAM... SALVOU-SE UMA!
Eram três jovens, quase meninas. Acabavam de deixar o colégio, um bom colégio, onde tinham sido educadas. Lançaram- se ao mundo e o mundo, como um redemoinho absorvente, arrastou-as às suas festas e diversões. Não sonhavam senão com cinemas, teatros e bailes. Eram jovens! Ainda teriam tempo para fazer penitência. Não iriam passar os melhores anos da vida encerradas, como freiras, em casa e na igreja! Ah! isso não!
Uma tarde, uma delas me procurou. Chegou chorando e o terror espelhava-se no seu rosto. Sabeis o que se passara? Poucos dias antes as três amigas tinham sucumbido, deixando-se vencer por uma tentação perversa. Das más leituras haviam passado às más conversas, das más conversas às perigosas amizades e das perigosas amizades ao passo fatal. Estavam nas garras do demônio! Isso acontecera poucos dias antes da festa da Imaculada Conceição. Como ainda não tinham perdido a fé, os remorsos gritaram em seus corações protestando contra a sua conduta louca e pecadora.
Mas as três convieram em responder à consciência: 'No dia da Imaculada iremos confessar-nos e tudo estará em ordem. No dia seguinte iriam a uma cidade vizinha para se divertirem. Encontrar-se-iam na estação à hora da partida. Só chegaram duas; a terceira chegava apressada quando o trem já ia saindo. As amigas, da janela do trem, diziam-lhe adeus entre risos e gargalhadas de alegria. Elas, quanto iriam gozar! Ela, abandonada e só... que raiva!
Poucas horas se passaram. Chega um telegrama terrível com uma notícia aterradora que circulava por toda a cidade: dera-se um encontro de trens e as vítimas eram muitas. Entre as vítimas achavam-se as duas amigas, mortas instantaneamente!
➖ Padre! - disse-me a que ficara - hoje Deus me livrou do inferno. Se tivesse ido com minhas amigas, com elas estaria morta e com elas condenada. Bendita seja a misericórdia de Deus! 'Filhos dos homens, temei a justiça divina!'
196. TUDO POR DEUS
Quereis um exemplo? Ei-lo: São Francisco Xavier. Amou a ciência; as ilusões da juventude; as alegrias dos camaradas; os entusiasmos da esperança; amou as diversões e o mundo. Um dia, porém, compreendeu que tudo aquilo era vaidade e que corria perigo a sua salvação eterna e deixou tudo. Desde aquele dia, só teve um ideal, o ideal de seu amigo Inácio de Loiola: a maior glória de Deus.
Ei-lo: não é velho, completou quarenta e seis anos, está no vigor da vida. Consomem-no agora as ânsias da salvação das almas perdidas e a glória de Deus. Não o interrogueis porque nunca falará do que realizou pelo nome de Deus. Eu o recordarei rapidamente. Percorreu a Itália. Embarcou para a Índia, penetrou em Goa e ali formou uma cristandade numerosa. E dali? Foi à Costa da Pescaria. E dali? A Travancore. E dali? Foi percorrer as ilhas Molucas e alcançou o arquipélago filipino. E dali? Voltou novamente à Índia para visitar as cristandades e consolidar nelas a fé cristã.
➖ E não descansou nunca?
➖ O amor de Deus não consente que repouse; parte para as costas de Yamaguchi e de Bungo.
➖ E continuou caminhando?
➖ Sim; soube que além de mares longínquos havia um povo de muita inteligência e amigo de grandes empresas: o Japão, e para lá se foi. Percorreu-o sem descanso e regressou de novo à Índia.
➖ Nem então lhe deu descanso o seu zelo?
➖ Pelo contrário; soube que havia um império imenso, chamado império da China, e concebeu o pensamento de ganhá-lo para Deus.
E põs-se logo a caminho.
➖ E percorreu muitas léguas?
➖ Mais de três mil léguas.
➖ E batizou muitos pagãos?
➖ Contam-se por milhares, talvez por milhões.
➖ Sofreu muito?
➖ Não há língua humana que o possa dizer.
➖ Sofreu muitas perseguições?
➖ Contínuas e imensas.
➖ E nunca desanimou?
➖ Nunca. Teve a sublime loucura de ganhar almas para Deus e levar a luz da fé e da verdade a todos os povos do mundo.
Abraçado ao crucifixo, morreu amando com todo ardor a Deus e as almas imortais.
197. UMA ÚLTIMA COMUNHÃO NO BOSQUE
No Tirol (Áustria), um sacerdote foi chamado para socorrer a um doente num sítio distante, na montanha. Tomou logo os Santos Óleos e o Santíssimo e montou a cavalo. Muito linda era a serra, entrecortada de límpidos regatos e vales cobertos de árvores. Ao voltar, pensava o padre, desfrutaria do ar fresco e perfumado dos pinheirais.
Chegou ao sítio, socorreu ao doente mas, ao dar-lhe a comunhão, notou que levara duas hóstias. Isto o contrariou um pouco, pois, em vez de passear, teria de regressar com o Santíssimo, em silêncio e rezando. De sobrepeliz e estola ia descendo e rezando, quando ouviu um grito:
➖ Um padre! Um padre!
Um moço veio correndo e disse:
➖ Senhor Padre, depressa, depressa! Um lenhador acabou de ter o peito esmagado por uma árvore.
Compreendeu logo porque levara duas hóstias. Era a Divina Providência! Confessou o pobre homem e ali mesmo lhe deu a última comunhão. Perguntou a ele, naquele momento final, se fizera algo especial para merecer tão grande graça.
➖ Padre - disse-lhe o homem - cada vez que via um sacerdote levar o viático a algum doente, rezava uma Ave-Maria para ter a graça de não morrer sem receber o Santíssimo Sacramento.
198. PROFANAÇÃO DAS FESTAS
O famoso Antíoco, querendo destruir Jerusalém, enviou o odioso capitão Apolônio com um exército de vinte e dois mil homens, com ordem de matar os homens e vender as mulheres e os adolescentes. Apolônio entrou na cidade, e simulando paz, permaneceu tranquilo por algum tempo, esperando o dia de festa em que todo o povo com as mulheres e crianças sairiam alegremente às praças e ruas a fim de gozar do espetáculo dos seus soldados. Na hora em que a multidão era mais densa, a um sinal do capitão, todos os soldados se lançaram sobre aquele povo e, percorrendo a cidade, encheram as ruas de mortos e de sangue.
Essa matança de corpos é figura de outra mais horrível, a das almas, que o demônio mata nas festas realizadas nas vilas e cidades. Vede como a juventude (e os outros também) espera o domingo, o dia santo (mesmo os maiores) para correr aos campos de jogos e desportos. A religião não proíbe os divertimentos honestos, desde que não se omitam os deveres religiosos. Quais são, porém, os dias em que mais se peca e ofende a Deus?
199. CAÍRAM MORTOS
No século V, dois irmãos gregos, órfãos e donos dos bens paternos, tiveram a crueldade de expulsar de casa e abandonar na rua a sua única irmã chamada Atenais. De nada valeram as lágrimas e súplicas da abandonada, que teve de partir errante pela terra.
Depois de alguns anos os dois desapiedados irmãos foram chamados pelo imperador de Constantinopla. Apresentaram-se e foram conduzidos à sala do trono e ali viram Atenais, a errante, sentada no esplendor de sua beleza e poder que, por uma série de atos providenciais, chegara a se tornar imperatriz e esposa do imperador Teodósio. Ela pôs-se de pé e dirigiu-lhes estas tremendas palavras: 'Vós não me conheceis? Sou a vossa irmã Atenais'. Vendo o que viam, e ouvindo o que ouviram, aqueles desgraçados caíram mortos.
Também nós, com os nossos pecados, não fazemos outra coisa senão expulsar de casa o nosso irmão maior, Jesus Cristo; mas, dentro de poucos anos, quando a morte nos chamar, nós o veremos no seu trono resplandecente e ouviremos a sua voz: 'Não me conheceis? Sou Jesus Cristo, vosso irmão, a quem tanto maltratastes'.
200. O TESOURO DA FÉ
A. Dizem que São Luís, rei de França, todos os anos se dirigia à vila, onde nascera e fôra batizado. Ali passava alguns dias em recolhimento e oração. No último dia, dirigia-se à igreja, ajoelhava-se aos pés da pia batismal e a beijava e a regava com as suas lágrimas, por ter sido ali feito cristão e filho de Deus, que lhe dera o dom da santa fé.
B. O grande Santo Afonso de Ligório, que recebeu de Deus com tanta abundância o dom da santidade e o dom da ciência, todas as noites, antes de recolher-se ao descanso, ajoelhava-se diante do Sacrário e dava graças a Deus pelo tesouro da fé e pelo batismo que o tornara filho do mesmo Deus, irmão de Jesus Cristo e herdeiro do Céu.
(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)