segunda-feira, 30 de junho de 2025

FRASES DE SENDARIUM (LIV)

 

'O caminho mais fácil para a santidade é aquele feito das meditações nos sofrimentos da Paixão de Nosso Senhor'

(São Boaventura)

Mais que pensar, vivas constantemente o sofrimento dos passos da Paixão de Cristo e recorda sempre aquele suor de sangue... Nele estavam também os teus e os meus pecados...

domingo, 29 de junho de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'De todos os temores me livrou o Senhor Deus' (Sl 33)

Primeira Leitura (At 12,1-11) - Segunda Leitura (2Tm 4,6-8.17-18) -  Evangelho (Mt 16,13-19)

  29/06/2025 - SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

AS COLUNAS DA IGREJA

Neste domingo, a liturgia católica celebra a Solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, primícias da fé, fundamentos da Igreja. De toda a fundamentação bíblica do primado de Pedro, é em Mt 16, 18-19 que aflora, mais cristalina do que nunca, a água viva que brota e transborda das Palavras Divinas as primícias do papado e da Igreja, nascidos juntos com São Pedro: 'Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la' (Mt 16,18). Esta será a Igreja Militante, a Igreja Temporal, A Igreja da terra, obra temporária a caminho da Igreja Eterna do Céu. Mas ligada a Pedro e aos sucessores de Pedro, sumos pontífices herdeiros da glória, poder e realeza de Cristo.

(Cristo entrega as chaves a São Pedro - Basílica de Paray-le-Monial, França)

E Jesus vai declarar, em seguida e sem condicionantes, o poder universal e sobrenatural da Santa Igreja Católica Apostólica e Romana: 'Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra será desligado nos céus' (Mt 16,19). Ligado ou desligado. Poder absoluto, domínio universal, primado da verdade, Cátedra de Pedro. Na terra árida de algum ermo qualquer da 'Cesareia de Felipe', erigiu-se naquele dia, pela Vontade Divina, nas sementeiras da humanidade pecadora, a Santa Igreja, a Videira Eterna.

Com São Paulo, a Igreja que nasce, nasce com um gigante do apostolado e se afirma como escola de salvação universal. Eis aí a síntese do espírito cristão levado à plenitude da graça: Paulo se fez 'outro Cristo' em Roma, na Grécia, entre os gentios do mundo. No apostolado cristão de São Paulo, está o apostolado cristão de todos os tempos; a síntese da cristandade nasceu, cresceu e se moldou nos acordes pautados em suas epístolas singulares proferidas aos Tessalonicenses, em Éfeso ou em Corinto. Síntese de fé, que será expressa pelas próprias palavras de São Paulo: 'Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé' (2Tm 4,7).

(São Paulo Apóstolo - Basílica de Alba, Itália)

São Pedro foi o patriarca dos bispos de Roma, São Paulo foi o patriarca do apostolado cristão. Homens de fé e coragem extremadas, foram as colunas da Igreja. São Pedro morreu na cruz, São Paulo morreu por decapitação pela espada. Mártires, percorreram ambos os mesmos passos da Paixão do Senhor. E se ergueram juntos na Glória de Deus pela Ressurreição de Cristo.

sábado, 28 de junho de 2025

QUESTÕES SOBRE A DOUTRINA DA SALVAÇÃO (XVIII)

P. 39 - Quais são os sentimentos e disposições adequadas que esta grande verdade deve produzir nos corações e na conduta dos membros da Igreja de Cristo?

Nada pode contribuir mais eficazmente para produzir as disposições mais necessárias e salutares em seus corações, tanto para com Deus, quanto para com os outros e para com aqueles que estão separados de sua comunhão, do que a consideração frequente e séria de sua vocação para a fé em Cristo e para a comunhão daquela Igreja, fora da qual não há salvação.

No que diz respeito a Deus, não pode deixar de inspirar-lhes os mais ternos sentimentos de afeto, amor e gratidão para com Ele, os que se veem tão altamente favorecidos pela sua infinita bondade, sem qualquer mérito de sua parte, e em preferência a tantos milhares de outros que são deixados na ignorância e no erro. Eles nunca devem deixar de louvá-lo e adorá-lo por um favor tão grande e inestimável, e devem ser assíduos em dar provas da sinceridade de sua gratidão e amor a Ele, por meio da obediência contínua aos seus mandamentos. Quão agradáveis são essas coisas ao Deus Todo-Poderoso, e o quanto Ele as exige daqueles a quem Ele tanto favoreceu, é evidente por sua própria Palavra Divina, onde somos frequentemente lembrados da grandeza da graça de nossa vocação e urgentemente ordenados a retribuir adequadamente a Deus por ela, por meio dessas virtudes sagradas.

'Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo' - diz São Paulo - 'que do alto do céu nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo, e nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos... Por isso também eu, tendo ouvido falar da vossa fé no Senhor Jesus, e do amor para com todos os cristãos, não cesso de dar graças a Deus por vós, lembrando-me de vós nas minhas orações. Rogo ao Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê um espírito de sabedoria que vos revele o conhe­cimento dele; que ilumine os olhos do vosso coração, para que compreendais a que esperança fostes chamados, quão rica e gloriosa é a herança que ele reserva aos santos, e qual a suprema grandeza de seu poder para conosco, que abraçamos a fé. É o mesmo poder extraordinário que ele manifestou na pessoa de Cristo' (Ef 1,3-4.15-20). Vede com que ardor ele deseja que tenhamos uma noção adequada dessa grande misericórdia! E um pouco depois, descrevendo a grandeza desse favor e o retorno que ele exige de nós, ele diz: 'porquanto é por ele que ambos temos acesso junto ao Pai num mesmo espírito. Consequentemente, já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus (Ef 2,18-20). E ainda: 'Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor: comportai-vos como verdadeiras luzes. Ora, o fruto da luz é bondade, justiça e verdade. Procurai o que é agradável ao Se­nhor, e não tenhais cumplicidade nas obras infrutíferas das trevas' (Ef 5,8-11). Em outro texto, nos diz: 'para que vos comporteis de maneira digna do Senhor, procurando agradar-lhe em tudo... Sede contentes e agradecidos ao Pai, que vos fez dignos de participar da herança dos santos na luz. Ele nos arrancou do poder das trevas e nos introduziu no Reino de seu Filho muito amado' (Cl 1,10.12-13). E, novamente, escrevendo a Tito, ele diz: 'É fiel esta palavra, e estas coisas quero que afirmes constantemente, para que os que crêem em Deus se esforcem por praticar boas obras' (Tt 3,8).

Por fim, para mostrar a necessidade absoluta dessa correspondência grata da nossa parte com a grande bondade de Deus para conosco, ele nos assegura que somente sob a condição de perseverarmos em nossa santa fé e na esperança de nosso chamado, podemos esperar a recompensa eterna de sermos apresentados sem mancha diante de Deus: 'Considerando que' - 'diz ele - 'algumas vezes vocês estavam alienados e eram inimigos em sua mente, em más obras; mas agora Ele os reconciliou no corpo da sua carne, para apresentá-los santos, imaculados e irrepreensíveis diante dele, se assim continuarem na fé, fundamentados e firmes, e inabaláveis no Evangelho que ouviram, que é pregado em toda a criação que está debaixo do céu' (Cl 1,21-23). São Pedro também descreve a graça da nossa vocação nos termos mais belos e assegura-nos que o próprio desígnio de Deus ao nos chamar era que pudéssemos retribuir-lhe adequadamente, proclamando os seus louvores. 'Vós sois uma geração eleita, um sacerdócio real, uma nação santa, um povo adquirido, para que proclameis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua admirável luz' (1Pd 2,9). Que grande obrigação tudo isso nos impõe de viver uma vida boa e de nos esforçarmos em todas as coisas para fazer a vontade de Deus, especialmente quando o próprio Cristo diz expressamente: 'Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos céus'!

P. 40. Quais são as disposições e o comportamento que esta inestimável bondade de Deus exige dos membros da sua Igreja uns para com os outros?

São Paulo descreve-nos isso de forma muito clara, da seguinte maneira: 'Exorto-vos, pois, – prisioneiro que sou pela causa do Senhor –, que leveis uma vida digna da vocação à qual fostes chamados, com toda a humildade e ama­bilidade, com grandeza de alma, suportando-vos mutuamente com caridade. Sede solícitos em conservar a unidade do Espírito no vínculo da paz. Sede um só corpo e um só espírito, assim como fostes chamados pela vossa vocação a uma só esperança. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo. Há um só Deus e Pai de todos, que atua acima de todos, por todos e em todos' (Ef 4,1-6).  Vejam aqui com que cores fortes ele mostra que a humildade, a mansidão e o amor fraternal são virtudes essenciais à nossa vocação, e que tudo o que pertence à nossa santa religião exige que vivamos na prática constante delas; que estamos todos unidos em um só corpo, a Igreja de Cristo animada por um só espírito, o espírito de Jesus, que guia e conduz esse corpo a toda a verdade; que somos chamados a uma só esperança da nossa vocação, a posse do próprio Deus na glória eterna; que todos servimos a um único Senhor, nosso Senhor Jesus Cristo; que todos professamos uma única fé, aquela santa fé que Ele revelou à humanidade, sem a qual é impossível agradar a Deus; que todos somos santificados por um único batismo; que todos servimos a um único Deus; que todos somos filhos de um único Pai; e que este Pai celestial está sempre presente conosco, e toda a nossa conduta está nua e aberta diante Dele. Quão impróprio, então, deve ser aos olhos deste nosso Pai, ver-nos entretendo discórdias ou má vontade entre nós! E quão indigno de nossa vocação e desonroso para nossa religião se, sendo membros do mesmo corpo, servos do mesmo mestre e filhos do mesmo Pai, unidos por tantos laços fortes de religião, vivêssemos em animosidade e inimizade uns com os outros!

Em outro texto, o mesmo santo apóstolo, descrevendo as disposições necessárias para aqueles a quem Deus chamou, como seus eleitos, para a graça inestimável de serem membros da sua santa Igreja, diz: 'Portanto, como eleitos de Deus, santos e queridos, revesti-vos de entra­nhada misericórdia, de bondade, humildade, doçura, paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, toda vez que tiverdes queixa contra outrem. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai também vós' (Cl 3,12-13).  E o comportamento contrário é tão impróprio e tão indigno da nossa vocação, que São Tiago declara que é até diabólico: 'Se tendes zelo amargo e contendas em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade; porque isso não é sabedoria que desce do alto, mas é terrena, sensual, diabólica' (Tg 3,14). Tudo isso é extraído da doutrina expressa do nosso grande Mestre, que não apenas ordena a todos os seus seguidores que vivam em amor fraternal e união entre si, mas declara que isso está tão ligado à sua vocação que é o sinal distintivo de que pertencem a Ele: 'Nisto todos saberão' - diz Ele - 'que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros' (Jo 13,35).

(Excertos da obra 'The Sincere Christian', V.2, do bispo escocês George Hay, 1871, tradução do autor do blog)

sexta-feira, 27 de junho de 2025

POEMAS PARA REZAR (LXI)


 TRANSFIGURAÇÃO

Meu Deus, aqui estou com pés e mãos atados,
grossas correntes freiam meus ombros e braços
minha cabeça jaz imóvel e engastada 
sobre o meu corpo rígido e desfigurado.

Tenho olhos para olhar mas olho o chão
tenho a boca ansiosa por falar e que se cala
almejo passos que não me levam a lugar algum
e mãos que não conhecem afagos nem abraços

Que coração é esse que só pulsa o sangue
que mantém vivo um organismo morto?
Que mente é essa que me rouba os tesouros
do mais íntimo clamor da minha alma?

Esse ser medonho e de inconsolável desespero
sou eu refém de minhas vontades e fantasias
submerso em mim, inflado de mim, sedento de mim
parasita que se alimenta do que eu sempre fui.

Ah não, Senhor, que é vã essa miragem
de criatura vã e inútil desse mundo;
dai-me a graça, que o vosso Santo Espírito
ilumine meu caminho de volta e conversão! 

E, então, rompei esta couraça da miséria trama
arrebentai as algemas deste infortúnio extremo,
tirai os meus olhos do chão e o coração do peito
para que pulse amor muito mais que sangue.

Libertai meus pés e mãos da mundana sanha
de me submergir na minha própria lama
Erguei meu corpo e fazei ascender da terra
uma árvore boa que dê frutos bons! 

Não ser mais o eu de tão desditosa sorte
eis o que vos imploro, ó Senhor meu Deus,
roubai do corpo que sucumbe à morte
a minha alma sedenta de ganhar os Céus!

(Arcos de Pilares)

quinta-feira, 26 de junho de 2025

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

Não foi por necessitar do nosso serviço que Deus nos mandou segui-lo, mas para dar-nos a salvação. Pois seguir o Salvador é participar da salvação, e seguir a luz é receber a luz. Quando os homens estão na luz, não são eles que a iluminam, mas são iluminados e tornam-se resplandecentes por ela. Nada lhe proporcionam, mas dela recebem o benefício e a iluminação. Do mesmo modo, o serviço que prestamos a Deus nada acrescenta a Deus, porque ele não precisa do serviço dos homens. Mas aos que o seguem e servem, Deus concede a vida, a incorruptibilidade e a glória eterna. Ele dá seus benefícios aos que o servem precisamente porque o servem e aos que o seguem precisamente porque o seguem; mas não recebe deles nenhum benefício, porque é rico, perfeito e de nada precisa. Se Deus requer o serviço dos homens é porque, sendo bom e misericordioso, deseja conceder os seus dons aos que perseveram no seu serviço. Com efeito, Deus de nada precisa, pois o homem é que precisa da comunhão com Deus. É esta, pois, a glória do homem: perseverar e permanecer no serviço de Deus. Por esse motivo dizia o Senhor a seus discípulos: 'Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi' (Jo 15,16), dando assim a entender que não eram eles que o glorificavam seguindo-o, mas, por terem seguido o Filho de Deus, eram por ele glorificados. E disse ainda: 'Quero que estejam comigo onde eu estiver, para que eles contemplem a minha glória' (Jo 17,24).

(Santo Irineu)

26 DE JUNHO - SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ

   


São Josemaria Escrivá de Balaguer nasceu em 09 de janeiro de 1902 em Barbastro, Espanha. Em 02 de outubro de 1928, durante um retiro espiritual em Madrid, concebeu e fundou o OPUS DEI, atualmente prelazia pessoal da Igreja Católica. A missão específica do Opus Dei é promover, entre homens e mulheres de todo o âmbito da sociedade, um compromisso pessoal de seguir a Cristo, de amor a Deus e ao próximo e de procura da santidade na vida cotidiana. Faleceu em Roma em 26 de junho de 1975. Foi beatificado em 17 de maio de 1992 e canonizado, pelo Papa João Paulo II na Praça de São Pedro, em 06 de outubro de 2002. Sua obra mais conhecida é Caminho, escrita como orientações espirituais em diferentes parágrafos. Outras obras do autor são ForjaSulco e É Cristo que Passa.

A CRUZ NÃO É UM CONSOLO FÁCIL

'A doutrina cristã sobre a dor não é um programa de fáceis consolações. Começa logo por ser uma doutrina de aceitação do sofrimento, inseparável de toda a vida humana. Não vos posso esconder - e com alegria pois sempre preguei e procurei viver a verdade de que, onde está a Cruz, está Cristo, o Amor - que a dor apareceu muitas vezes na minha vida; e mais de uma vez tive vontade de chorar. Noutras ocasiões, senti crescer em mim o desgosto pela injustiça e pelo mal. E soube o que era a mágoa de ver que nada podia fazer, que, apesar dos meus desejos e dos meus esforços, não conseguia melhorar aquelas situações iníquas.

Quando vos falo de dor, não vos falo apenas de teorias. Nem me limito a recolher uma experiência de outros, quando vos confirmo que, se sentis, diante da realidade do sofrimento, que a vossa alma vacila algumas vezes, o remédio que tendes é olhar para Cristo. A cena do Calvário proclama a todos que as aflições hão-de ser santificadas, se vivermos unidos à Cruz.

Porque as nossas tribulações, cristãmente vividas, convertem-se em reparação, em desagravo e em participação no destino e na vida de Jesus, que voluntariamente experimentou, por amor aos homens, toda a espécie de dores, todo o gênero de tormentos. Nasceu, viveu e morreu pobre; foi atacado, insultado, difamado, caluniado e condenado injustamente; conheceu a traição e o abandono dos discípulos; experimentou a solidão e as amarguras do suplício e da morte. Ainda agora, Cristo continua a sofrer nos seus membros, na Humanidade inteira que povoa a Terra e da qual Ele é Cabeça, Primogênito e Redentor'.
(É Cristo que Passa)

terça-feira, 24 de junho de 2025

NATIVIDADE DE SÃO JOÃO BATISTA

  

Além de Jesus e de Maria, apenas o nascimento de João Batista (24 de junho) é comemorado pela Santa Igreja Católica, glória ímpar para aquele que foi aclamado, pelo próprio Cristo, como 'o maior dentre os nascidos de mulher' (Mt 11,11)

'Houve um homem mandado por Deus. Seu nome era João… Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz' (Jo 1,6-8)

'Eis que eu envio o meu mensageiro à tua frente. Ele preparará o teu caminho diante de ti' (Mt 11,7).

'Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre, e Isabel ficou repleta do Espírito Santo' (Lc 1,41)

'Eu sou a voz que clama no deserto: aplainai o caminho do Senhor' (Is 40,3)

'Eu vos batizo com água, mas vem Aquele que é mais forte do que eu, do qual não sou digno de desatar a correia das sandálias; Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo' (Lc 3, 16). 

domingo, 22 de junho de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'A min'alma tem sede de Vós, como a terra sedenta, ó meus Deus'
(Sl 62)

Primeira Leitura (Zc 12,10-11.13,1) - Segunda Leitura (Gl 3,26-29) -  Evangelho (Lc 9,18-24)

  22/06/2025 - DÉCIMO SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM

'E VÓS, QUEM DIZEIS QUE EU SOU?'


Jesus encontra-se em oração em um lugar retirado. O Filho de Deus, em sua condição humana, suplicando graças à Trindade Santa, da qual constitui a Segunda Pessoa, constitui um mistério insondável. E Jesus reza sozinho, em profunda meditação, como a indicar, com soberana clareza, que a revelação extraordinária que será dada a seguir - a identidade do Cristo - perpassa pela oração profunda e pelos mistérios da graça. E, neste espírito de profundo recolhimento interior, que antecede grandes revelações, Jesus indaga aos seus discípulos: 'Quem diz o povo que eu sou?' (Lc 9, 18).

Neste 'certo dia', as mensagens e as pregações públicas de Jesus estavam consolidadas; os milagres e os poderes sobrenaturais do Senhor eram de conhecimento generalizado no mundo hebraico; multidões acorriam para ver e ouvir o Mestre, dominados pela falsa expectativa de encontrar um personagem mítico e um Messias dominador do mundo. Na oração profunda, Jesus afasta-se do júbilo fácil do mundo e das multidões errantes, que o tomam por João Batista, por Elias, por um dos antigos profetas. E se aproxima intimamente daqueles que haverão de ser os primeiros apóstolos da Igreja nascente, compartilhando-lhes na pergunta do juízo de fé: 'E vós, quem dizeis que eu sou?' (Lc 9, 20), a resposta à sua identidade salvífica, saída da boca de Pedro: 'O Cristo de Deus' (Lc 9, 20).

Sim, Jesus é o Cristo de Deus e o seu reino não é deste mundo. Ante a confissão de Pedro, Jesus revela a sua origem e a sua missão e faz o primeiro anúncio de sua Paixão, Morte e Ressurreição: 'O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia' (Lc 9, 22). E, um passo além, faz o testemunho da cruz, pela privação do mundo: 'Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará (Lc 9, 23-24).

Eis aí o legado definitivo de Jesus aos homens de sempre: a Cruz de Cristo é o caminho da salvação e da vida eterna. Tomar esta cruz, não apenas hoje ou em momentos específicos de grandes sofrimentos em nossas vidas, mas sim, todos os dias, a cada passo, em cada caminho, é a certeza de encontrá-lo na glória e da plenitude das bem-aventuranças. A Cruz de Cristo é a Porta do Céu.

sábado, 21 de junho de 2025

A CIÊNCIA DE DEUS (II)

'Aquele que constrói seus aposentos no céu, e firma sobre a terra a abóbada celeste, aquele que convoca as águas do mar, e as derrama sobre a face da terra – 'Senhor' é o seu nome' (Am 9,6). 


O versículo bíblico acima é uma explanação cristalina da intervenção direta de Deus no ciclo das águas na terra - o chamado ciclo hidrológico. Este começa com a evaporação (particularmente das grandes massas de água dos oceanos, que corresponde cerca de 97,5% de toda a água do planeta) e posterior concentração do vapor de água na alta atmosfera, formando as nuvens. A condensação do vapor de água na atmosfera forma as chuvas que se precipitam sobre diferentes lugares da terra, dando origem a três diferentes tipos de processos: infiltração, escoamento superficial e evapotranspiração (evaporação + transpiração de plantas e animais).

sexta-feira, 20 de junho de 2025

O DOGMA DO PURGATÓRIO (CIII)

Capítulo CIII

Meios de se Evitar o Purgatório - A Mortificação Cristã - A Mortificação Cotidiana dos Afazeres Comuns - O Valor de uma Pequena Mortificação Imposta pela Beata Emily de Verceil

O terceiro meio de satisfação neste mundo é a prática da mortificação cristã e da obediência religiosa. Carregamos em nosso corpo a mortificação de Jesus, diz o Apóstolo, para que a vida de Jesus também se manifeste em nossos corpos (2Cor 4, 10). Esta mortificação de Jesus, que o cristão deve carregar em si é, no seu sentido mais amplo, a parte que ele deve assumir nos sofrimentos do seu Divino Mestre, suportando em união com Ele as provações que possa ter de enfrentar nesta vida ou o sofrimento que voluntariamente inflige a si mesmo. A primeira e melhor mortificação é aquela que está ligada aos nossos deveres diários, às dores que temos de suportar, ao esforço que devemos fazer para cumprir adequadamente os deveres do nosso estado e para suportar as contradições de cada dia. Quando São João Berchmans disse que a sua principal mortificação era a vida comum, não disse nada mais do que isto, porque para ele a vida comum abrangia todos os deveres do seu estado.

Além disso, aquele que santifica os deveres e sofrimentos de cada dia e que, assim, pratica a mortificação fundamental, logo avançará e imporá a si mesmo privações e sofrimentos voluntários para escapar das dores da outra vida. As menores mortificações, os sacrifícios mais insignificantes, especialmente quando feitos por obediência, têm grande valor aos olhos de Deus.

A Beata Emily, dominicana e prioresa do mosteiro de Santa Maria em Vercelli, inspirou suas religiosas com um espírito de perfeita obediência em vista do Purgatório. Um dos pontos da Regra proibia as religiosas de beber entre as refeições sem a permissão expressa da superiora. Ora, esta última, sabendo, como vimos, do valor do sacrifício de um copo de água aos olhos de Deus, costumava recusar essa permissão, para dar às suas irmãs a oportunidade de praticar uma mortificação fácil, mas suavizava sua recusa dizendo-lhes para oferecerem sua sede a Jesus, atormentado por uma sede cruel na cruz. Ela então as aconselhava a sofrer essa leve privação com o objetivo de diminuir os seus tormentos nas chamas expiatórias do Purgatório.

Havia em sua comunidade uma irmã chamada Maria Isabel, que era muito leviana, gostava de conversar e de outras distrações externas. A consequência era que ela tinha pouco gosto pela oração, era negligente na recitação do Ofício e só cumpria seu dever principal com as maiores reservas. Assim, ela nunca tinha pressa em ir para o coro e, assim que o ofício terminava, era a primeira a sair. Um dia, enquanto se apressava para sair do coro, ela passou pela cabine da prioresa, que a deteve: 'Onde você vai com tanta pressa, minha boa irmã?' - disse ela - 'e por que você está tão ansiosa para sair antes das outras irmãs?' A irmã, pega de surpresa, primeiro observou um silêncio respeitoso, depois reconheceu com humildade que o Ofício era cansativo para ela e parecia muito longo. 'Tudo bem' - respondeu a prioresa - 'mas se lhe custa tanto cantar louvores a Deus sentada confortavelmente no meio de suas irmãs, o que você fará no Purgatório, onde será obrigada a permanecer no meio das chamas? Para poupá-la dessa terrível provação, minha filha, ordeno que você saia do seu lugar a partir de agora por último'. 

A irmã submeteu-se com simplicidade, como uma criança verdadeiramente obediente; ela foi recompensada. O desgosto que ela havia experimentado até então pelas coisas de Deus transformou-se em devoção e alegria espiritual. Além disso, como Deus revelou à Beata Emily, tendo morrido algum tempo depois, ela obteve uma grande diminuição do sofrimento que a esperava na outra vida. Deus contou como tantas horas no Purgatório foram poupadas pelas horas que ela passou em oração por meio de um espírito de obediência.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.

quinta-feira, 19 de junho de 2025

CORPUS CHRISTI 2025

 

Corpus Christi, expressão latina que significa Corpo de Cristo, é uma festa litúrgica da Igreja sempre celebrada na quinta–feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade, que acontece no domingo seguinte ao de Pentecostes, 50 dias depois da Páscoa. 

O pão é pão e o vinho é vinho
como frutos do homem em oração;
é o que trazemos, é tudo o que temos,
como oferendas da nossa devoção. 

Não é mais pão, nem é mais vinho
quando espécies na consagração;
alma e divindade que se reconciliam
a cada missa, em cada comunhão.

Aparente pão, aparente vinho,
é mais que vinho, muito mais que pão;
o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo
 é o alimento da nossa salvação.

(Arcos de Pilares)

INDULGÊNCIAS DO DIA DA SOLENIDADE DE CORPUS CHRISTI

   

Nesta quinta-feira, dia da solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, o católico pode ser contemplado com as seguintes indulgências:

(i) Indulgência parcial: rezar, com piedosa devoção, a oração 'Alma de Cristo':

Alma de Cristo, santificai-me.
Corpo de Cristo, salvai-me.
Sangue de Cristo, inebriai-me.
Água do lado de Cristo, lavai-me.
Paixão de Cristo, confortai-me.
Ó bom Jesus, ouvi-me.
Dentro de vossa chagas, escondei-me.
Não permitais que eu me separe de vós.
Do espírito maligno, defendei-me.
Na hora da morte chamai-me e
mandai-me ir para vós,
para que com vossos Santos vos louve
por todos os séculos dos séculos.
Amém. 

(ii) Indulgência plenária: rezar, com piedosa devoção, a oração 'Tantum Ergo' ou 'Tão sublime Sacramento':

Tão sublime sacramento
vamos todos adorar,
pois um Novo testamento
vem o antigo suplantar!
Seja a fé nosso argumento
se o sentido nos faltar.
Ao eterno Pai cantemos
e a Jesus, o Salvador,
igual honra tributemos,
ao Espírito de amor.
Nossos hinos cantaremos,
chegue aos céus nosso louvor.
Amém.

Do céu lhes deste o pão,
Que contém todo o sabor.

Oremos: Senhor Jesus Cristo, neste admirável Sacramento, nos deixastes o memorial da vossa Paixão. Dai-nos venerar com tão grande amor o mistério do vosso corpo e do vosso sangue, que possamos colher continuamente os frutos da vossa redenção. Vós que viveis e reinais para sempre. Amém.

domingo, 15 de junho de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Ó Senhor nosso Deus, como é grande vosso nome por todo o universo!' (Sl 8)

Primeira Leitura (Pr 8,22-31) - Segunda Leitura (Rm 5,1-5) -  Evangelho (Jo 16,12-15)

  15/06/2025 - SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE

GLÓRIA À TRINDADE SANTA!


O mistério da Santíssima Trindade é um mistério de conhecimento e de amor. Pois, desde toda a eternidade, o Pai, conhecendo-se a Si mesmo com conhecimento infinito de sua essência divina, por amor gera o Filho, Segunda Pessoa da Trindade Santa. E esse elo de amor infinito que une Pai e Filho num mistério insondável à natureza humana se manifesta pela ação do Espírito Santo, que é o amor de Deus por si mesmo. Trindade Una, Três Pessoas em um só Deus.

Mistério dado ao homem pelas revelações do próprio Jesus, posto que não seria capaz de percepção e compreensão apenas pela razão natural, uma vez inacessível à inteligência humana: 'Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso, disse que o que ele (o Espírito Santo) receberá e vos anunciará, é meu' (Jo 16, 15). Mistério revelado em sua extraordinária natureza em outras palavras de Cristo nos Evangelhos: 'Em verdade, em verdade vos digo: O Filho não pode de si mesmo fazer coisa alguma, mas somente o que vir fazer o Pai; porque tudo o que fizer o Pai, o faz igualmente o Filho. Porque o Pai ama o Filho, e mostra-lhe tudo o que ele faz (Jo 5, 19-20) ou ainda 'Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece o Filho senão o Pai; nem alguém conhece o Pai senão o Filho (Mt 11, 27).

Nosso Senhor Jesus Cristo é o Verbo de Deus feito homem, sob duas naturezas: a natureza divina e a natureza humana: 'Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele' (Jo 3, 16 - 17). Enquanto homem, Jesus teve as três potências da alma humana: inteligência, vontade e sensibilidade; enquanto Deus, Jesus foi consubstancial ao Pai, possuindo inteligência e vontade divinas.

'Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo'. Glórias sejam dadas à Santíssima Trindade: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Neste domingo da Santíssima Trindade, a Igreja exalta e ratifica aos cristãos o maior dos mistérios de Deus, proclamado e revelado aos homens: O Pai está todo inteiro no Filho, todo inteiro no Espírito Santo; o Filho está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Filho (Conselho de Florença, 1442).

sábado, 14 de junho de 2025

MEDITAÇÃO SOBRE O INFERNO


Todo o Inferno está nestas palavras de Jesus Cristo: 'Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno'.

1. O Inferno é a separação, a perda de Deus - 'Afasta-te de mim, pecador'. É assim que Deus repele para longe de si a alma pecadora. É a perda de Deus, a perda da suma beleza, da suma bondade, do sumo bem. Enquanto a nossa alma estiver presa no cárcere da carne, não poderá nunca compreender a imensidade desta desgraça que, na frase dos santos, constitui o inferno dos infernos.

2. O Inferno é a maldição de Deus - 'Afasta-te pecador maldito', é tal a maldição eficaz de um Deus todo-poderoso. Se é terrível a maldição de um pai, de uma mãe, o que será a maldição de Deus? Pecador maldito, maldito no corpo, maldito na alma. Olhos, língua, mãos, pés, inteligência, coração, vontade, tudo é maldito, porque tudo serviu de instrumento ao pecado.

3. O Inferno é o fogo - 'Afasta-te pecador maldito, para o fogo'. Quando os profetas falam do Inferno, logo se lhes apresenta à imaginação o mar, o mar sem limites e sem fundo, e os condenados, nadando e mergulhando neste abismo de fogo. O fogo os envolve, penetra-os, circula em suas veias, insinua-se até à medula dos ossos.

4. O Inferno é a eternidade  - 'Afasta-te pecador maldito, para o fogo'. A eternidade... quem pode compreendê-la! É um tempo que não acaba. Mil anos, milhões de anos, mil milhões de anos. Contai as gotas de água do oceano, os grãos de areia das praias, as folhas das árvores... a eternidade tem mais anos, mais séculos. Sempre! Nunca! Sempre queimar, sempre sofrer! Nunca o menor alívio, a menor esperança!

Se os condenados que estão no Inferno pudessem voltar à Terra, o que fariam? Procurariam outra vez a ocasião do pecado, as danças, os espetáculos, as tabernas, as casas de perdição? Não! Correriam para a igreja, ao pé do altar do Santíssimo Sacramento, de Nossa Senhora, ao pé do confessor principalmente, para alcançar o perdão dos seus pecados. O que os condenados não podem mais, vós o podeis. Não estais no Inferno, mas talvez estejais no caminho do Inferno. Quanto antes, voltai para trás; talvez amanhã seja tarde.

(Excertos da obra 'O Pequeno Missionário', do Pe. Guilherme Vaessen, 1953)

sexta-feira, 13 de junho de 2025

QUESTÕES SOBRE A DOUTRINA DA SALVAÇÃO (XVII)

P. 37 - De que maneira, então, esses santos se expressam sobre esse assunto?

Seria interminável coletar todos os seus testemunhos; os poucos que se seguem podem ser suficientes como amostra do todo. Santo Inácio, bispo de Antioquia e discípulo dos apóstolos, em sua epístola aos filadelfianos, diz: 'Aqueles que se separam não herdarão o reino de Deus'. São Irineu, bispo de Lyon e mártir na segunda era, diz: 'A Igreja é a porta da vida, mas todos os outros são ladrões e salteadores e, portanto, devem ser evitados' (DeHar., lib. i. c. 3). São Cipriano, bispo de Cartago e mártir em meados da terceira era, diz: 'A casa de Deus é uma só, e ninguém pode ter a salvação senão na Igreja' (Epist. 62, 4). E no seu livro sobre a unidade da Igreja, ele diz: 'Não pode ter Deus como pai quem não tem a Igreja como mãe. Se alguém que estivesse fora da arca de Noé pudesse escapar, então aquele que está fora da Igreja também poderia escapar'.

No século IV, São Crisóstomo diz assim: 'Sabemos que a salvação pertence SOMENTE à Igreja e que ninguém pode participar de Cristo, nem ser salvo, fora da Igreja Católica e da fé católica' (Hom. i. in Pasch). Santo Agostinho, na mesma época, diz: 'Somente a Igreja Católica é o corpo de Cristo; o Espírito Santo não dá vida a ninguém que esteja fora deste corpo' (Epist. 185, 50). E em outro lugar: 'Ninguém pode ter a salvação, a não ser na Igreja Católica. Fora da Igreja Católica, pode ter tudo menos a salvação. Pode ter honra, pode ter o batismo, pode ter o Evangelho, pode acreditar e pregar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; mas não pode encontrar a salvação em nenhum outro lugar que não seja a Igreja Católica' (Serm. ad Cczsariens de Emerit). E ainda uma outra vez (Epist. 209, ad Feliciam).: 'Na Igreja Católica, há bons e maus. Mas aqueles que estão separados dela, enquanto as suas opiniões forem opostas às dela, não podem ser bons. Pois, embora a conversa de alguns deles pareça louvável, a sua própria separação da Igreja torna-os maus, de acordo com o que diz o nosso Salvador: 'Aquele que não está comigo está contra mim; e aquele que não ajunta comigo, espalha' (Lc 11,23).

Lactâncio, outra grande luz da quarta era, diz: 'É somente a Igreja Católica que mantém a verdadeira adoração. Esta Igreja é a fonte da verdade, é a casa da fé, é o templo de Deus. Se alguém não entrar nesta Igreja ou se afastar dela, a sua salvação eterna estará perdida. Ninguém deve iludir-se obstinadamente, pois a sua alma e a sua salvação estão em jogo' (Divin. Instit., lib. iv. c. 30). São Fulgêncio, no século VI, diz assim: 'Acredite firmemente, e sem qualquer dúvida, que ninguém que seja batizado fora da Igreja Católica pode participar da vida eterna, se, antes do fim desta vida, não for restaurado à Igreja Católica e incorporado nela' (Lib. de Fid., c. 37). Isto é suficiente para mostrar a fé do mundo cristão em todas as épocas anteriores; pois todos os escritores sagrados do cristianismo, em todas as épocas, falam sobre este assunto da mesma forma.

P. 38. Esses testemunhos são fortes e falam claramente sobre o assunto; mas, depois de tais provas, não é surpreendente que alguém questione esse ponto?

Isso, na verdade, só pode ser explicado pelo espírito geral de mundanismo e desconsideração por toda religião que agora prevalece universalmente; pois os primeiros reformadores e alguns de seus seguidores, vendo as fortes provas da Escritura para essa doutrina e não encontrando o menor fundamento nesses escritos sagrados para apoiar o contrário, reconheceram-na de forma justa, por mais que isso fosse contra eles mesmos. Vimos como os teólogos de Westminster se pronunciam sobre este assunto na Confissão de Fé, usada até hoje pela Igreja da Escócia, e que foi ratificada e adotada pela Assembleia Geral no ano de 1647, como padrão da sua religião. 

Mas os seus antecessores no século anterior, quando a religião presbiteriana começou na Escócia, falam com igual clareza sobre o mesmo assunto; pois na sua Confissão de Fé, autorizada pelo Parlamento no ano de 1560, 'como uma doutrina fundamentada na Palavra infalível de Deus', eles dizem o seguinte, no Artigo xvi: 'Assim como acreditamos em um único Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, também acreditamos firmemente que, desde o início, existiu, existe agora e existirá até o fim do mundo uma única Igreja, ou seja, uma única comunidade e multidão de homens, escolhidos por Deus, que o adoram e abraçam corretamente pela verdadeira fé em Jesus Cristo... Essa Igreja é católica, isto é, universal, porque contém os eleitos de todas as épocas e, fora dessa Igreja não há vida nem felicidade eterna; e, portanto, abominamos totalmente a blasfêmia daqueles que afirmam que os homens que vivem de acordo com a equidade e a justiça serão salvos, qualquer que seja a religião que professem'. Esta confissão da Igreja original da Escócia foi reimpressa e publicada em Glasgow no ano de 1771, de onde esta passagem foi retirada. O próprio Calvino confessa a mesma verdade, nestas palavras, falando da Igreja visível: 'Fora do seu seio' - diz ele - 'não se pode esperar remissão dos pecados, nem salvação, de acordo com Isaías, Joel e Ezequiel... de modo que é sempre altamente pernicioso afastar-se da Igreja' e isto ele afirma nas suas próprias instituições (B. iv. c. i 4).

Acrescentaremos mais um testemunho particularmente forte; é do Dr. Pearson, bispo da Igreja da Inglaterra, na sua exposição do Credo (edit. 1669), onde ele diz: 'A necessidade de acreditar na Igreja Católica apareceu, em primeiro lugar, no fato de Cristo a ter designado como o único caminho para a vida eterna. Lemos no início do Livro dos Atos (At 2,47), que o Senhor acrescentava diariamente à Igreja aqueles que deveriam ser salvos; e o que era feito diariamente naquela época tem sido feito continuamente desde então. Cristo nunca designou dois caminhos para o céu; nem construiu uma Igreja para salvar alguns e criou outra instituição para a salvação de outros homens (At 4,12). Não há outro nome dado aos homens sob o céu pelo qual devamos ser salvos, senão o nome de Jesus; e esse nome não é dado sob o céu senão na Igreja. 

Assim como ninguém foi salvo do dilúvio, exceto aqueles que estavam dentro da arca de Noé, construída para recebê-los por ordem de Deus; assim como nenhum dos primogênitos do Egito sobreviveu, exceto aqueles que estavam dentro das habitações cujas ombreiras das portas foram aspergidas com sangue, por designação de Deus, para sua preservação; assim como nenhum dos habitantes de Jericó pôde escapar do fogo ou da espada, exceto aqueles que estavam dentro da casa de Raab, para cuja proteção foi feita uma aliança; assim NINGUÉM escapará da ira eterna de Deus uma vez que não pertença à Igreja de Deus. 

Vede até que ponto a força da verdade prevaleceu entre os membros mais eminentes da Reforma antes que os princípios liberais se infiltrassem entre eles! Que reprovação deve ser esta perante o tribunal de Deus para aqueles membros da Igreja de Cristo que questionam ou procuram invalidar esta grande e fundamental verdade, a própria fronteira e barreira da verdadeira religião: que é tão repetidamente declarada por Deus nas suas Sagradas Escrituras, professada pela Igreja de Cristo em todas as épocas, atestada nos termos mais fortes pelas luzes mais eminentes do cristianismo e reconhecida com franqueza pelos escritores e teólogos mais célebres da Reforma! Não será que toda tentativa de enfraquecer a importância desta verdade divina será considerada pelo grande Deus como uma traição à sua causa e aos interesses da sua santa fé? E aqueles que assim o fizerem serão capazes de invocar a sua predileta e invencível ignorância em sua própria defesa perante Ele?

(Excertos da obra 'The Sincere Christian', V.2, do bispo escocês George Hay, 1871, tradução do autor do blog)

OS PAPAS DA IGREJA (XV)

 


quinta-feira, 12 de junho de 2025

ORAÇÃO PARA ANTES DE UMA CIRURGIA


Senhor, eu busco alívio e conforto nesta cirurgia que estou prestes a fazer, para cura do corpo e maior bem da minha saúde. Tornai, ó meu Jesus, esta experiência pessoal num ato de graça e misericórdia de Deus para comigo, para os médicos responsáveis e por todos os profissionais de saúde envolvidos, como uma celebração conjunta do vosso infinito amor pelos homens. Dai-me a paz interior, serenidade de espírito e confiança absoluta para entregar, em vossas santas mãos, hoje, durante a cirurgia e sempre, tudo o que tenho e tudo que sou. Amém.

quarta-feira, 11 de junho de 2025

TESOURO DE EXEMPLOS II (16/18)

 

16. O SENHOR PODE PERDOAR-ME OS PECADOS?

Um conhecido comerciante luterano de uma cidade do Norte adoeceu gravemente. Mandou chamar o pastor protestante e disse-lhe:
➖ Senhor pastor, o senhor pode perdoar-me os pecados?
➖ Não se perturbe, senhor, fique tranquilo: Deus já lhe perdoou tudo.
➖ Não pergunto se Deus já me perdoou; pergunto se o senhor pastor tem o poder de perdoar os meus pecados.
➖ Ah! isso eu não tenho, respondeu o pastor.
➖Sinto muito, senhor pastor. Sempre fui um protestante crente e li com confiança a Bíblia. No Evangelho de São João li que Nosso Senhor disse aos Apóstolos: 'Recebei o Espírito Santo: a quem perdoardes os pecados, serão perdoados, e a quem os retiverdes, estes lhe serão retidos'. Ora, se o senhor pastor não pode perdoar os meus pecados, é claro que não estamos na verdadeira Igreja de Cristo. Dito isto, despediu o pastor. 

Logo depois mandou chamar um sacerdote católico, o qual, ao entrar no quarto, foi recebido com estas palavras:
➖ Senhor Padre, o senhor pode perdoar os meus pecados?
➖ Posso, sem dúvida; mas o senhor é protestante!...
➖ E se eu me fizer católico, poderia?
➖ Sem dúvida alguma.
➖ Peço-lhe então que me receba na Igreja Católica: quero morrer na Igreja de Cristo e com o perdão dos meus pecados.

Foi instruído então nas verdades católicas, fez a abjuração diante de toda a família e a profissão solene de fé católica. Em seguida recebeu os últimos sacramentos da Igreja e morreu feliz (Muzzatti II, 214).

17. UM DEVOTO POUCO DEVOTO

Em Veneza, cidade da Itália, um senhor distinto costumava rezar todos os dias diante de uma imagem de São José, que conservava em seu quarto. Entretanto, muito pouco se incomodava com a exata observância da lei de Deus e dos preceitos da Igreja. É claro que São José não podia estar, contente com semelhante devoção. Todavia, em sua grande bondade, não quis deixar sem recompensa aquele pequeno obséquio, que o seu devoto lhe oferecia diariamente.

Aconteceu, pois, que, estando aquele senhor gravemente enfermo, viu entrar no seu quarto um personagem distinto e muito semelhante à imagem que venerava diariamente. O referido personagem não falava, não abria a boca, mas olhava para ele fixamente com ar de amorosa censura. Sob aquela vista e aquele olhar, o moribundo sentiu-se tocado no íntimo de seu coração, concebeu viva dor de seus pecados e, tendo feito logo uma confissão sincera e dolorosa, expirou pouco depois em paz com Deus e com São José.

18. EFICÁCIA DO BOM EXEMPLO 

Como preparação à Páscoa, pregava-se naquela vila uma santa missão. Vivia ali um capitão-médico que, como cristão, era um dos piores. Assistia as pregações, mas apenas com o intuito de ridicularizar os padres, o que não deixava de ser um mau exemplo muito funesto. Depois de alguns sermões começou, entretanto, a refletir mais seriamente. 

Uma noite, muito em segredo, procurou o pregador com a intenção de fazer-lhe objeções embaraçosas e, talvez, dizer-lhe até palavras injuriosas; mas bem depressa ficou desarmado e terminou por confessar-se e até se sentindo-se muito feliz. Voltou no dia seguinte um pouco triste.
➖ Estou convertido - disse - mas como poderei reparar todo o mal que tenho feito?
➖ Eu sei um meio, disse o missionário: o senhor se confessar em pleno dia, no confessionário da igreja.
➖ Ah! isso é bastante penoso, respondeu o velho militar, mas sinto-me no dever de fazê-lo e o farei.

Às três horas da tarde, dirigiu-se à igreja e ajoelhou-se perto do confessionário, ao redor do qual estavam muitas senhoras esperando a sua vez de confissão. Ficaram, naturalmente, muito surpreendidas, e, curiosas como só elas! Uma delas se atreveu a perguntar-lhe se viera para confessar-se.
➖ Sim, respondeu ele, mas por que me fazeis essa pergunta?
➖ É que o senhor pode se confessar primeiro: o pregador disse que é preciso ceder o lugar aos homens. 
➖ Obrigado, mas ainda não estou preparado. 

Como um relâmpago, correu pela vila a notícia de que o capitão-médico estava na igreja para se confessar; ninguém queria acreditar e todos vinham até à porta da igreja para espreitar o velho capitão. Quando chegou a sua vez, o capitão apresentou-se ao confessionário. Não é preciso dizer que daí em diante a missão teve pleno êxito. Se, em cada paróquia, algumas pessoas influentes tivessem um pouco de coragem, quanto bem não haviam de fazer com o seu exemplo!

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos' - Volume II, do Pe. Francisco Alves, 1960; com adaptações)

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terça-feira, 10 de junho de 2025

O SENTIDO DA VERDADEIRA DEVOÇÃO A NOSSA SENHORA

É bem possível que o empecilho [à vida espiritual] seja a falta de devoção a Nossa Senhora. Sem esta devoção, a vida interior é impossível, porque não está em conformidade com a vontade de Deus. E esta reside sobretudo em Nossa Senhora. Ela é a solidez da devoção, e não nos lembramos bastante disso. Os principiantes estão com frequência tão ocupados com a parte metafísica da vida espiritual, que não dão a esta devoção a necessária importância. Mencionarei aqui alguns pontos que eles não parecem não levar em consideração.

A devoção à Mãe de nosso Senhor não é um ornamento do sistema católico, uma beleza supérflua, nem mesmo um auxílio, dentre os muitos que podemos ou não empregar, mas é parte integral do cristianismo e, sem ela, nossa religião não é, estritamente falando, cristã. Seria uma religião diferente da que Deus revelou. Nossa Senhora é uma lei distinta de Deus, um meio especial de graça, cuja importância ressalta do ódio instintivo que lhe tem a heresia.

Maria é o pescoço do corpo místico unindo portanto todos os membros à Cabeça, e sendo o canal e o instrumento que dispensa todas as graças. A devoção a nossa Senhor é a verdadeira imitação de Jesus, porque, após a glória do Pai, foi a devoção mais ligada e mais cara ao sagrado Coração. É de uma solidez a toda prova, porque está perpetuamente ocupada como o ódio do pecado e a aquisição de virtudes substanciais. Descuidar-nos dela é desprezar a Deus, pois ela é a sua lei; é ferir a Jesus em sua Mãe.

Deus mesmo a colocou na Igreja, como um poder distinto, e, portanto, o seu culto é eficaz, é fonte de milagres, é parte da nossa religião, que de modo algum podemos pôr de lado. A espiritualidade é necessariamente ortodoxa. Isto é evidente. Ora, a doutrina não seria ortodoxa, se preterisse o ofício e as prerrogativas da Mãe de Deus. Assim, também a espiritualidade não é ortodoxa, em se desviando ou separando duma devoção tão generosa quão justa. Com efeito, um erro de doutrina é duplamente perigoso quando se relaciona com a vida espiritual. Envenena a tudo, e não há prejuízo que não se possa prever para a infortunada alma que lhe é sujeita.

Se, então, tendes os sintomas que indicam algo de errado, algo que vos retarda, verificai primeiro se vossa devoção a Nossa Senhora é o que devia ser, em qualidade e grau, em fé e confiança, em amor e lealdade. A perfeição está sob a sua proteção particular, porque é uma das especiais prerrogativas de que goza como rainha dos santos.

(Excertos da obra 'Progresso na Vida Espiritual', do Pe. Frederick Faber)