sexta-feira, 21 de abril de 2017

LUZ NAS TREVAS DA HERESIA PROTESTANTE (XI)

Sétima Objeção* do crente: apresentar um texto das Sagradas Escrituras que prove que os padres podem perdoar os pecados.

Em sétimo lugar, o crente pede um texto, que prove que os padres podem perdoar os pecados. Pois não; seguem-se aqui os textos; porém espero que o amigo crente há de citar-me também um texto que prove que os padres não podem perdoar os pecados, um só... É pouca exigência, não é? Certo de que o tal texto nunca será apresentado, eu vou já satisfazer o meu crente, e até além de seu pedido.

I. O que é a confissão

O que é a confissão? É um sacramento instituído por Jesus Cristo no qual o sacerdote, em nome de Deus, perdoa os pecados cometidos depois do batismo. Qualquer criança de catecismo sabe isso de cor. Eis a asserção; escute agora as provas. Diga lá: Os homens precisam ou não precisam de perdão?Isto é: os homens pecam ou não pecam? O Espírito Santo responde por todos, até pelos biblistas. 'O justo cai sete vezes por dia' (Pv 24,16). E se o próprio justo cai sete vezes, que será do pobre que não é justo? 

'Não há homem que não peque' (Ecle 7,21). 'E aquele que diz que não tem pecado', diz São João, 'faz Deus mentiroso' (I Jo 1,10). Ora, se todo homem é pecador, e se o pecado não pode entrar no céu, deve haver um meio de alcançar perdão deste pecado, visto o homem ser destinado ao céu. 'Nesta porta do Senhor, só o justo pode entrar' (Sl 117,20). 'Não sabeis que os pecadores não possuirão o reino de Deus?' (I Cor 6,9).

II. Sua necessidade

E qual é este meio? É a confissão, nos diz São João. 'Se confessarmos os nossos pecados', diz o apóstolo, 'ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e purificar-nos de toda injustiça' (I Jo 1,8). Examine isso, amigo crente, se o texto figura em sua Bíblia. O Espírito Santo o tinha dito já muito antes do Apóstolo: 'Aquele que esconde seus crimes não será purificado; aquele, ao contrário, que se confessar e deixar seus crimes, alcançará a misericórdia' (Pv 28,13). 'Não vos demoreis no erro dos ímpios', diz ainda o Espírito Santo, 'mas confessai-vos antes de morrer' (Ecli 17,26).

Eis a necessidade de confissão para todos os homens, antes de Jesus Cristo, como depois. De fato mostrarei que a confissão não é propriamente uma criação nova feita por Jesus Cristo, mas, que existindo já no Antigo Testamento, foi por ele elevada à dignidade de sacramento. Modificou-a, sem dúvida, porém já havia entre os judeus uma coisa que muito se lhe assemelhava. Jesus Cristo, conhecendo a fraqueza humana e querendo salvar seus filhos, instituiu este grande sacramento de misericórdia.

Escute bem, caro crente, e além dos textos do bom senso, verifique bem os textos das Escrituras, que são claros e positivos. Vou provar-lhe aqui duas coisas: (i) que Cristo podia perdoar os pecados; (ii) que Ele comunicou este mesmo poder aos apóstolos, que eram os primeiros padres.

III. Cristo pode perdoar pecados

Diz São Mateus (9, 2-7): 'Jesus curou um homem paralítico e lhe disse: tem confiança – os teus pecados te são perdoados'. Dizem os Judeus: 'Este blasfema'. Jesus responde que faz este milagre para que saibam que: 'O Filho do Homem tem, na terra, o poder de perdoar os pecados' (Mt 9,6). E a multidão, vendo isto, maravilhou-se e glorificou a Deus que dava tal poder aos homens (Mt 9,8). Que quer dizer isto, amigo biblista?

Agora um pouco de reflexão sobre o texto inspirado no Evangelho. Jesus Cristo faz aqui um milagre para provar que, como homem, pode perdoar os pecados, por isso ele diz: 'O Filho do homem tem, na terra, o poder de perdoar os pecados' (Mt 9,6). E o povo glorifica a Deus, que deu tal poder aos homens (Mt 9,8). Eis uma prova de que Jesus Cristo, mesmo como homem, havia recebido este poder de seu Pai.

IV. Comunicou este poder

E como comunicou ele este poder aos seus apóstolos? Escute bem, porque aqui está a força do argumento católico e a ruína da negação protestante. No dia da sua ressurreição, como para significar que a confissão é uma espécie de ressurreição espiritual do pecador, apareceu no meio dos apóstolos e, mostrando-lhes as suas mãos e seu lado, lhes disse: 'A paz seja convosco. Assim como meu Pai me enviou, eu vos envio a vós' (Jo 21,21).

Ora, Jesus Cristo, como homem, tinha, como acabo de mostrá-lo, recebido de seu Pai o poder de perdoar os pecados; logo, ele deu este poder aos seus apóstolos. Nota bem cada palavra deste texto, pois Cristo sabia falar e compreendia a significação de cada palavra. Ele diz: 'Assim como meu Pai me enviou', isto é, com o poder de perdoar os pecados, 'assim eu vos envio a vós', isso é, eu vos envio dotados do mesmo poder, fazendo o que fiz, perdoando os pecados, como eu os perdoei. Pode ser mais claro e mais positivo?

E, para dissipar a última possibilidade de dúvida ou de sofisma, Cristo continua, soprando sobre eles (Jo 21, 22): 'Recebei o Espírito Santo' como se dissesse: 'Recebei um poder divino: só Deus pode perdoar pecados; pois bem recebei este poder divino' (Jo 21,22). 'Àquele a quem perdoares os pecados, ser-lhes-ão perdoados, e àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos' (Jo 21,23). Pode isso ser mais claro? Impossível! Veja o mesmo texto em São Mateus (18,18).

A conclusão é rigorosa: Cristo podia perdoar os pecados. Ele comunicou este poder aos apóstolos e, por eles, aos sucessores dos apóstolos; pois a Igreja é uma sociedade que deve durar até ao fim do mundo (Mt 28,20). Se Cristo deu aos sacerdotes o poder de perdoar os pecados, impôs aos fiéis o dever de confessar estes pecados, porque poder e dever são correlativos. Todo poder impõe um dever, e não pode haver poder numa pessoa sem que exista um dever numa outra pessoa. Eis a instituição divina da confissão provada por muitos textos e com uma lógica irrefutável.

Só um cego para não ver e protestante obcecado para não compreender. Para que serve então a bíblia, se os textos mais claros não são compreendidos: só sendo castigo de Deus! 'Têm olhos e não enxergam', diz o salmista: 'têm ouvidos e não ouvem' (Sl 113, 5-6).

V. No Antigo Testamento

Sendo este assunto de inigualável importância e sendo contra ele que os protestantes costumam dirigir suas baterias de ódio, não será inútil entrar em mais alguns pormenores deste grande sacramento da misericórdia divina. Quero mostrar-lhe, caro crente, que o senhor nem sabe ler sua Bíblia, nem compreender os seus ensinamentos. Não somente a confissão existe como sacramento, instituído por Jesus Cristo, mas já existia uma espécie de confissão no Antigo Testamento, de que a Bíblia fala em muitos lugares. Escute bem, sim? E verifique os textos.

Eis um texto dos Números I (5, 6-7): 'Quando um homem ou uma mulher tiver cometido um dos pecados mais comuns à humanidade, ou por negligência tiver violado os mandamentos do Senhor, confessará os pecados, restituirá àquele contra quem pecou a justa indenização do mal que lhe tiver causado, juntando-lhe a quinta parte'. Aí está não só a confissão, mas ainda a penitência e a restituição, absolutamente como faz a Igreja Católica. 

Este Moisés era bem pouco protestante, não acha, amigo crente? Já prescrevia a confissão, antes da vinda de Cristo; é por isso que Jesus disse que não vinha destruir a lei, mas cumpri-la, e que São Mateus diz que os profetas e a lei, até João, profetizaram (Mt 11,13). Eis, pois, a profecia da nossa confissão e a resposta, ou condenação antecipada da negação protestante. Há muitos outros textos deste gênero, porém seria fastidioso prolongá-los (por exemplo: Pv 28,13; Ecli 6,24).

No tempo da vinda de Jesus existia essa prática da confissão, como se pode ver na pregação de João Batista, onde é dito que todos vinham ter com ele, da região da Judéia e de Jerusalém, confessavam os seus pecados e ele os batizava no rio Jordão (Mt 3, 5-6). Que bomba para os batistas, que imitam tão pouco seu modelo! Vê-se que São João Batista não tinha nada de protestante, nem de batista! Não somente São Mateus (3,6) e São Marcos (1,5) mostram a confissão usada entre os judeus, mas o livro dos Atos refere que quem se convertia vinha fazer a confissão das suas culpas (At 19,18). Daquela época até hoje, a história atesta que sempre a confissão foi praticada pelos cristãos: imperadores, reis, bispos, sacerdotes, assim como pelos simples fiéis dos quais citam os confessores.

VI. Confessar-se a Deus

E não objetem os cegos protestantes, no afã inglório de fabricar objeções, que tal confissão consistia em confessar os pecados a Deus. É preciso ser cego para não ver o absurdo de tal subterfúgio. Pensariam eles que um criminoso prestes a ser executado faria realmente uma confissão, se se contentasse de confessar os seus pecados a Deus, no coração? Não. Cada execução que se tem efetuado, tem provado justamente o contrário.

A confissão é a revelação do pecado a um homem. Para que confessar seus pecados a Deus? Deus conhece todas as coisas e não tem que fazer com tal confissão. Além disso, vê-se no texto dos Números que a confissão devia ser feita a um homem, como a restituição da coisa tomada. Aliás, São Tiago é explícito a esse respeito: 'Confessai os vossos pecados uns aos outros', diz ele, 'e orai uns pelos outros, a fim de que sejais salvos' (Tg 5,16). Uns aos outros! Isto é: confessai os vossos pecados a um homem, que tenha recebido o poder de perdoá-los.

São Tiago fala aqui na confissão dos pecados, pública ou particular, porque tanto uma como outra é suficiente, e da confissão feita aos sacerdotes, que são os únicos que tem o poder de absolver. De que serviria, com efeito, confessar pecados íntimos ao público, que não os pode absolver, e ficaria escandalizado? Além disto, quem quereria confessar os seus pecados àqueles que poderiam divulgá-los e fazer perder a boa reputação? Os protestantes gritam contra a confissão auricular, isto é, particular, feita na intimidade. Sendo só isso, fiquem sossegados, pois, se a confissão auricular é suficiente, não é exigida e é permitido fazer a confissão pública, até na praça pública, se quiserem: basta o sacerdote estar presente para absolver. Deus não exige isso, pois em parte alguma figura a palavra confissão pública; porém, querendo fazer mais do que a lei ordena, é permitido.

VII. A declaração dos pecados

Agora mais um pequeno raciocínio sobre os muitos textos já citados, meu caro crente. Está, pois, bem provado que o padre pode perdoar os pecados; nada mais claro: 'Aquele a quem perdoardes os pecados, serão perdoados' (Jo 20,13). Convém notar que ninguém pode perdoar sem saber o que perdoa. Não é assim? O sacerdote é um juiz que deve decidir quais são os pecados que devem ser absolvidos. Ora, um juiz não pode pronunciar uma decisão sem ter conhecimento da causa. É, pois, necessário o pecador declarar seus pecados ao sacerdote. A conclusão é inevitável.

E não dizer – como certos crentes fazem – que o padre não é juiz, mas declara apenas que os pecados são perdoados. Não! O poder, que Jesus Cristo deu aos apóstolos, é o poder de ligar e de desligar e não o poder de declarar que o penitente está ligado ou desligado. Cristo disse, antes de comunicar este poder: 'Eu vos darei as chaves do reino do céu' (Mt 16,19). Ora, as chaves são dadas para abrir e fechar a porta, e não para declarar que a porta está aberta ou fechada. Santo Agostinho diz muito a propósito: 'Peço diante de Deus, que conhece o meu coração e me perdoará. Jesus Cristo teria dito, então, sem razão: o que desligardes na terra será desligado no céu? Foram então as chaves dadas à Igreja, sem algum fim?' (Rm 10,49 t. 10).

VIII. Conclusão

Eis, caros protestantes, provado pelo bom senso e pela Bíblia que a confissão não é invenção dos padres, mas uma instituição verdadeiramente divina. Instituição figurada e praticada no Antigo Testamento, e elevada por Jesus Cristo à dignidade de sacramento, da nova lei. O Antigo Testamento era figura da realidade instituída por Cristo. Examinai pois as escrituras, amigos, e sabereis compreender o que elas ensinam e prescrevem: 'A letra mata, o espírito vivifica' (2 Cor 3,6). É preciso não somente ler, mas compreender a Bíblia, do contrário, não passam de simples papagaios ou araras. A Igreja Católica não receia a luz, nem o estudo, só receia a ignorância.

* Esta 'objeção' foi proposta por 'um crente' como um desafio público ao Pe. Júlio Maria e que foi tornado público durante as festas marianas de 1928 em Manhumirim, o que levou às refutações imediatas do sacerdote, e mais tarde, mediante a inclusão de respostas mais abrangentes e detalhadas, na publicação da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', ora republicada em partes neste blog.

(Excertos da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', do Pe. Júlio Maria de Lombaerde)