quarta-feira, 31 de agosto de 2016

FOTO DA SEMANA

'Irmãos, vivei com alegria. Tendei à perfeição, animai-vos, tende um só coração, vivei em paz, e o Deus de amor e paz estará convosco' 
(II Cor 13, 11)

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

AS MEDIDAS DA FÉ CRISTÃ

A fé pode aumentar, a fé pode diminuir e se perder. A fé, consistindo essencialmente na adesão de nosso espírito à verdade revelada, aumenta ou diminui segundo seja a adesão mais ou menos firme. Ora, sendo a alma humana ativa por natureza, é indispensável que a sua fé aumente ou diminua. Ela aumenta se a alma avança no conhecimento do Pai e do Filho e do Espírito Santo, se a alma penetra melhor nas verdades do Credo, em uma palavra, se a alma progride no caminho da verdade.

Mas como a fé requer, juntamente com assentimento do espírito, o movimento de piedade da vontade que quer crer, evidentemente a fé também pode e deve crescer pelo caminho da vontade que se submete cada vez mais docilmente, cada vez mais amorosamente à verdade divina. Assim, duas coisas ajudarão singularmente a fé em seu progresso, a saber: a instrução e a piedade. A instrução, o cristão a encontrará na pregação, no catecismo, nas leituras santas; a piedade consistirá sobretudo na fidelidade às promessas do batismo; o cristão, ajudado pela oração e pelos sacramentos, crescerá na fé.

Todo cristão que quer crescer na fé deve vigiar com redobrada atenção contra tudo que for capaz de enfraquecer a fé. Ele deve tomar cuidado para não se deixar levar pelas máximas deste mundo, pois o mundo, enquanto mundo, só se ocupa das coisas sensíveis; a fé, ao contrário, nos mostra o preço inestimável das coisas invisíveis. O mundo só vê o presente; a fé, que nos esclarece tanto sobre o passado quanto sobre o presente, nos faz velar principalmente sobre o futuro. O mundo está todo voltado para os gozos da terra; a fé nos ensina que este é o tempo das privações e das penitências e nos mostra que Deus é o único bem verdadeiro em que podemos repousar nossas almas e esperar os verdadeiros gozos.

É preciso pois velar para permanecer fiel, quer dizer, crente. E, quem assim velar, verá infalivelmente crescer em sua alma as luzes tão doces, tão serenas da verdade eterna; e quanto mais entrar nesta luz, mais ele provará o quanto o Senhor é doce, o quanto é precioso e inestimável o dom da fé. Ao contrário, toda alma que não velar, que se deixar embalar pelas promessas insignificantes de um mundo que nada tem, que nada sabe, que nada pode, toda alma que não velar, verá a sua fé diminuir para em seguida se perder completamente.

Se tivéssemos olhos para ver o lamentável espetáculo das almas que perdem a fé, não teríamos lágrimas que chegassem para chorar tão grande infelicidade. Alguns perdem a fé logo depois do batismo; esses não receberam a instrução cristã necessária, e suas almas nunca fizeram o ato de fé. Privado de seu ato, o hábito posto em suas almas no dia do batismo foi facilmente reduzido a nada. É muito raro que as almas que perderam a fé nestas condições a tornem a encontrar. Elas tornam-se estranhas a Deus e a Nosso Senhor Jesus Cristo e vivem apenas uma vida terrestre, triste prelúdio de uma morte eterna.

Outros perdem a fé pouco depois da primeira comunhão. Esses entram em um mundo descrente do qual não desconfiam, e imaginam que eles é que foram ingênuos por terem acreditado um pouco. Se chega o pecado mortal, coisa fácil de acontecer, será fácil também perder a fé e fechar os olhos à pura luz que os havia tornado tão felizes no dia de sua primeira comunhão.

Ainda outros perdem a fé nas escolas. Tanto escolas primárias como escolas superiores fazem frequentemente os batizados perderem a fé. Aí não se ensina a conhecer o único e verdadeiro Deus, a saber o Pai e o Filho e o Espírito Santo; as escolas primárias têm como principal objetivo a formação do plural e do sistema métrico; às superiores só interessa o diploma de bacharel e de doutor. Sem falar daquelas onde se ensina consciente e propositadamente a impiedade, o indiferentismo ou mesmo o ateísmo.

Finalmente, há os que perdem a fé pelos interesses materiais. Preocupados demais com os negócios, entregues inteiramente às especulações financeiras, esquecem seu batismo, negligenciam o cuidado com sua alma, não vivem mais da fé, não velam mais para que sua fé seja alimentada e perdem-na, talvez mesmo sem sentir. 

Ó Deus, Deus meu, vós que por vossa graça nos haveis dado a fé, por esta mesma graça conservai-nos sempre na fé!

(Excertos da obra 'Cartas sobre a Fé' do Pe. Emmanuel Andre)

domingo, 28 de agosto de 2016

'QUEM SE HUMILHA SERÁ ELEVADO'

Páginas do Evangelho - Vigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum 


Humildade e mansidão são os frutos da fé para deleite de abundantes graças de Deus para aquele que vive a generosidade despojada dos que seguem a Jesus: 'Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração' (Mt 11, 29). Na parábola do Evangelho deste domingo, estas virtudes essenciais da graça são manifestas na transposição dos primeiros e dos últimos lugares de um grande banquete. 

Diante do Filho de Deus vivo, os escribas e fariseus se preocuparam primeiro em ocupar lugares de honra à mesa. Eles observavam Jesus, eles tinham curiosidade, interesse e empenho em questionar Jesus por qualquer uma de suas palavras ou ações, mas não percebiam a própria insensatez e vaidade de suas ações primeiras: a busca desenfreada por ocupar os primeiros lugares, a vanglória de usufruir com pompas uma posição destacada na mesa de jantar, a jactância de se apropriar sem rodeios das melhores posições para exercerem, com maior júbilo e sem reservas, o desmedido orgulho de suas escolhas humanas.

Eis que Jesus os conclama a viver a humildade da vida em Deus, sem buscar os privilégios e os prestígios efêmeros do mundo: 'Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar... Mas, quando tu fores convidado, vai sentar-te no último lugar' (Lc 14, 8, 10). Como convivas do banquete, seremos provedores de honra ou da vergonha, dependendo da medida de nossa humildade ou da desdita de nosso orgulho: 'Porque quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado' (Lc 14, 11).

E a humildade não pode prescindir do despojamento, da generosidade desinteressada, da mansidão. A mão que estende a dádiva não se curva à retribuição; a ação de oferta não se compraz da gratidão; a semente que gerou fruto não impõe recompensa alguma. Oferece o 'banquete' de seus dons e talentos aos pobres, e aleijados, e coxos, e cegos...'porque eles não te podem retribuir' (Lc 14, 14). Assim, sem a gratidão e os louvores humanos, o homem sábio ajunta tesouros e a recompensa eterna na ressurreição dos justos.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

O PAI NOSSO DE SÃO CIRILO DE JERUSALÉM

Pai nosso, que estás nos céus. Ó incomensurável benignidade de Deus! Aos que o tinham abandonado e jaziam em extremos males, é concedido o perdão dos males e a participação da graça, a ponto de ser invocado como Pai. Pai nosso que estás nos céus. Os céus poderiam bem ser os que portam a imagem do celestial, nos quais Deus habita e vive.

Santificado seja teu nome. Santo é por natureza o nome de Deus, quer o digamos ou não. Mas uma vez que naqueles que pecam por vezes é profanado, segundo o que se diz: Por vós meu nome é continuamente blasfemado entre as nações, oramos que em nós o nome de Deus seja santificado. Não que por não ser santo chegue a sê-lo, mas porque em nós ele se torna santo quando nos santificamos e praticamos obras dignas de santificação.

Venha o teu reino. É próprio de uma alma pura dizer com confiança: Venha o teu reino. Quem ouviu Paulo dizer: 'Que o pecado não reine em vosso corpo mortal' (Rm 6,12) e se purificar em obra, pensamento e  palavra, dirá a Deus: Venha o teu reino.

Seja feita a tua vontade, assim no céu como na terra. Os divinos e bem-aventurados anjos de Deus fazem a vontade de Deus, como Davi dizia no salmo: 'Bendizei ao Senhor, todos os seus anjos, heróis poderosos, que executais sua palavra' (Sl 103,20). Rezando, pois, com vigor, dize isto: como nos anjos se faz a tua vontade, Senhor, assim na terra se faça em mim.

Nosso pão substancial dá-nos hoje. O pão comum não é substancial. Mas este pão é substancial, pois se ordena à substância da alma. Este pão não vai ao ventre nem é lançado em lugar escuso mas se distribui sobre todo o organismo, em proveito da alma e do corpo. O 'hoje' equivale a dizer de 'cada dia', como também dizia Paulo: 'Enquanto perdura o hoje'.

E perdoa-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores. Temos muitos pecados. Caímos, pois, em palavra e em pensamento e fazemos muitas coisas dignas de condenação. E se dissermos que não temos pecado, mentimos (1Jo 1,8), como diz João. Fazemos com Deus um pacto pedindo-lhe nos perdoe nossos pecados como também nós perdoamos ao próximo suas dívidas. Tendo presente, portanto, o que recebemos em troca do que damos, não sejamos negligentes, nem deixemos de perdoar uns aos outros. As ofensas que se nos fazem são pequenas, simples, fáceis de reconciliar. As que nós fazemos a Deus são enormes e temos necessidade só de sua benignidade. Cuida, então, que por faltas pequenas e simples contra ti não te excluas do perdão, por parte de Deus, dos pecados gravíssimos.

E não nos induzas em tentação, Senhor. Porventura com isto o Senhor nos ensina a pedir que de modo algum sejamos tentados? Como se encontra em outro lugar: 'Aquele que foi tentado não tem experiência' (Ecl 34,10) e ainda: 'Tende por suma alegria, meus irmãos, se cairdes em diversas provações' (Tg 1,2)? Mas jamais entrar em tentação é o mesmo que ser submerso por ela. A tentação, pois, se assemelha a uma torrente difícil de atravessar. Os que, então, não são submersos nas tentações, atravessam, como bons nadadores, sem serem arrastados pela corrente. Os que não são assim, uma vez que entram, são submersos. Assim, por exemplo, Judas, entrando na tentação da avareza, não passou a nado, mas, submergindo, afogou-se corporal e espiritualmente. Pedro entrou na tentação de negação, mas, tendo entrado, não submergiu; antes, nadando com vigor, se salvou da tentação. 

Escuta novamente, em outro lugar, o coro dos santos todos rendendo graças por terem sido subtraídos à tentação: 'Tu nos provaste, ó Deus, acrisolaste-nos como se faz com a prata. Deixaste-nos cair no laço; carga pesada puseste em nossas costas; submeteste-nos ao jugo dos tiranos. Passamos pelo fogo e pela água, mas tu nos conduziste ao refrigério' (Pv 17,10). Tu os vês falar abertamente de sua travessia sem serem vencidos? 'Tu nos conduziste ao refrigério' (Sl 19, 7). Chegar ao refrigério é ser livrado da tentação.

Mas livra-nos do mal. Se a expressão 'não nos induzas em tentação' significasse não sermos de modo algum tentados, não se diria: 'mas livra-nos do mal'. O mal é o demônio, nosso adversário, do qual pedimos ser libertos. Depois, terminada a prece, dizes: 'amém', selando com este amém, que significa 'faça-se', o que se contém na oração ensinada por Deus.

(Excertos da 'Quinta Catequese Mistagógica aos Recém-iluminados', de São Cirilo de Jerusalém )

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

O PÃO DOS HEREGES

São João Crisóstomo, Bispo e Confessor da Igreja, era um orador exímio cuja eloquência fazia cair por terra as heresias mais persistentes, em função do vigor e tenacidade de sua argumentação em defesa da fé católica. Por esta razão, ficou conhecido como o 'martelo dos hereges'. Conseguiu, com sua pregação, converter inúmeros hereges macedônios. 

Menos uma mulher. Esta, de tal forma obstinada no paroxismo de suas heresias, não aceitava nenhuma reconsideração de suas crenças erradas e não se inclinava de forma alguma aos ensinamentos do bispo e de suas pregações. Atraída de tal forma pelo mal, afastou-se da Igreja e passou a frequentar decididamente as práticas e rituais de seitas absolutamente heréticas.

Tal fato desagradou profundamente o seu marido, que tentou persuadi-la destas práticas. Por maiores que fossem os seus esforços e conselhos, porém, tudo foi em vão. A mulher perdera por completo a fé cristã e mergulhou no submundo das piores heresias. Nada a sensibilizava e, a cada tentativa, parecia recrudescer sobre ela o domínio da iniquidade. Em meio a um esgotamento e infelicidade crescentes, o marido tomou a decisão de se separar em definitivo da mulher. 

Tal imperativo moveu a mulher a repensar certos conceitos e certos valores, que estavam sutilmente esquecidos. A relação entre ambos era de um amor verdadeiro e sincero; as demandas de um eram muito bem complementadas pela renúncia do outro. A separação criava dor, desconforto, e perdas muito sentidas para um e para o outro. Haveria possibilidade de uma solução amigável?

No coração feminino, há lugar para todas as incontáveis nuances dos sentimentos humanos. Se era preciso ceder de um lado, era igualmente possível manter o jogo do outro. Na tela das aparências, era possível ter duas realidades. Assim pensou a mulher e assim adotou o propósito de acompanhar o marido às missas do bispo e, ao mesmo tempo, comungar o pão dos hereges de cada dia. Frequentando de forma dissimulada o ritual profano, recolhia o pão herético e depois o passava para ser guardado por uma criada de estimação. Na missa de domingo, ao lado do marido, fingia receber a Sagrada Hóstia mas, de forma dissimulada, o repassava à criada que também a acompanhava e se alimentava, então, com o pão profano.

Nesta prática, se acomodou à vertigem das aparências que se mostraram bastante fáceis e seguras. A criada era de absoluta confiança e o marido se comprazia de tal conversão, e manifestava esse fato com grande regozijo ao bispo. Numa destas missas, porém, eis que ocorreu um fato muito singular: ao levar à boca o pedaço macio do pão profano, este imediatamente se transformou em pedra atritando rigidamente contra os seus dentes. Atônita, a mulher cuspiu o pão dos hereges, feito pedra, no chão da igreja. Diante do espanto geral, a mulher narrou ao marido e ao bispo os fatos acontecidos, suplicando a confissão e sua conversão. São João Crisóstomo publicou o milagre e mandou que aquela pedra em que o pão dos hereges havia se convertido fosse conservada em Constantinopla, para perpétua memória dos fieis cristãos.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

POEMAS PARA REZAR (XXI)


DEUS NUNCA TE ESQUECE

Deus te quer, Deus cuida de ti, Ele te chama pelo teu nome.
Te vê e te compreende tal como tu és.
Sabe o que se passa contigo,
Todos os teus sentimentos e pensamentos,
tuas preferências e vontades,
tua fortaleza e fragilidade.

Está contigo em tuas horas de alegria
e também nas horas de angústia.

Conhece as tuas aspirações
e se compadece de tuas faltas.

Se interessa por todas as tuas ansiedades e aflições;
e em todos os momentos de tua vida
te  envolve e te sustenta em Seus braços.

Não te esquece nunca;
quando estás rindo ou quando choras,
cuida de ti com infinito amor.

Escuta a tua voz, a tua respiração,
as batidas do teu coração;
e te quer mais do que tu serias capaz de querer a ti mesmo.

(Beato John Henry Newman, tradução do autor do blog)

terça-feira, 23 de agosto de 2016

NO LIMIAR DO SOBRENATURAL (VI)

16 de abril de 2016. Um terremoto de 7,8 graus arrasa o Equador, causando a morte de aproximadamente 350 pessoas e enormes prejuízos materiais. Em Manta, uma das zonas costeiras mais afetadas pelo sismo, só restou escombros da escola mantida no local pela Comunidade das Oblatas de São Francisco de Sales. Na limpeza dos escombros, uma surpresa completa: a urna de vidro envolvendo a imagem de Nossa Senhora da Luz, padroeira das oblatas, permaneceu intacta por inteiro em meio à destruição geral. Além desta imagem que ficava à entrada da escola, outra imagem da Virgem e outra de Jesus Sacramentado, além dos paramentos litúrgicos usados para a celebração eucarística, ficaram inteiramente preservados.


domingo, 21 de agosto de 2016

SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DA VIRGEM MARIA

Páginas do Evangelho - Assunção de Nossa Senhora
 'O Todo-Poderoso fez grandes coisas a meu favor'

As glórias de Maria podem ser resumidas na portentosa frase enunciada pelo anjo Gabriel: 'Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus' (Lc 1, 30). Ao receber a boa-nova do anjo, Maria prostrou-se como serva e disse 'sim', e por meio desse sim, como nos ensina São Luís Grignion de Montfort, 'Deus Se fez homem, uma Virgem de tornou Mãe de Deus, as almas dos justos foram livradas do limbo, as ruínas do céu foram reparadas e os tronos vazios foram preenchidos, o pecado foi perdoado, a graça nos foi dada, os doentes foram curados, os mortos ressuscitados, os exilados chamados de volta, a Santíssima Trindade foi aplacada, e os homens obtiveram a vida eterna'.

Esta efusão de graças segue Maria na Visitação, pois ela é reflexo da presença e das graças do Espírito Santo que são levadas à sua prima Isabel e à criança em seu ventre. No instante da purificação de São João Batista, o Precursor, Santa Isabel foi arrebatada por inteira pelo Espírito Santo: 'Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo' (Lc 1,41). Por meio de uma extraordinária revelação interior, Santa Isabel confirma em Maria o repositório infinito das graças de Deus: 'Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu' (Lc 1,43).

E é ainda nesta plenitude de comunhão com o Espírito Santo, que Maria vai proclamar o seu Magnificat: 'Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo. Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem. Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos. Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes. Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre' (Lc 1, 46-55).

Mãe da humildade, mãe da obediência, mãe da fé, mãe do amor. Mãe de todas as graças e de todos os privilégios, Maria foi contemplada com o dogma de fé divina e católica da assunção, em corpo e alma, à Glória Celeste. Dentre as tantas glórias e honras a Maria, a Igreja celebra jubilosa neste domingo a Serva do Senhor como Nossa Senhora da Assunção. 

sábado, 20 de agosto de 2016

'REGRAS E PRECEITOS DO MONGE' DE SANTO EFRÉM


Quando desejardes dar alguma resposta, deves por em tua boca a humildade, antes de mais nada, uma vez que sabes muito bem que, por ela, todo o poder do inimigo se reduz a nada. Tu conheces a bondade do teu Mestre, que foi blasfemado, e como Ele se fez humilde e obediente inclusive até a morte. Filho meu, trabalha por ti mesmo para firmar a humildade em tua boca, em teu coração e em tua mente, pois há um mandamento que a exige. Lembra-te de Davi, que vangloriava-se por sua humildade e disse: 'Porque me humilho, o Senhor me libertou e me abençoou' (Sl 30, 8). 

Filho meu, apega-te à humildade e farás com que as virtudes de Deus te acompanhem. E se permanecerdes no estado de humildade, nenhuma paixão, qualquer que seja, poderá dominar-te. Não existe medida para a beleza do homem que é humilde. Não há paixão, qualquer que seja, capaz de dominar o homem humilde; e não há medida para a sua beleza. O homem humilde é um sacrifício a Deus. O coração de Deus e de seus anjos descansam naquele que é humilde. Mais ainda: quando os anjos o glorificam, é porque houve uma razão para ele obter todas as virtudes; porém, aquele que se revestiu da humildade não necessita de nenhuma razão além de se ter feito humilde.

Filho meu, estas são as virtudes da humildade. Filho meu, conserva a paz, pois está escrito: 'Aquele que é sábio, nesse momento conservará a paz' (Am 5, 13). Mantém a paz até que te questionem. E quando te questionarem, fale usando palavras humildes; comporta-te também de maneira humilde. Não lamentes. Se a pergunta exigir extensa resposta, senta-te. Nunca fales enquanto os outros estiverem usando palavras de desprezo; mas, alegremente, não esqueças que teus pensamentos devem ser estes: não escutai as palavras de desprezo. Prestai tua máxima atenção, porém, à toda palavra valiosa, pois está escrito: 'Se tu deixas passar a palavra e não a escuta, te enganas a ti mesmo', Te dei mandamentos desde o princípio; guarda-os desde a juventude. Examina o que diz Paulo: 'Desde o tempo em que eras um menino, conhecias a Santa Escritura, que tem o poder para te salvar' (2Tim 3,15). 

Aprende toda regra dos preceitos do monge, e faz-te querido em todos os teus trabalhos... No deserto em que te estabeleceste, mantém esta maneira de agir e não fujas de um lugar para outro. Não te dirija à morada de ninguém para lamentar no que crês, muito menos por causa dos desejos do teu estômago. Não estejas em companhia do homem agitado e problemático, mas assegura-te em continuar com tua vida silenciosa; não estejas também na boca dos teus irmãos. Te suplico, meu amado no Senhor, que deixeis que tua meta principal seja aprender; escutar com atenção (ou obedecer) te dará a paz, pois está escrito: 'o proveito da instrução não é a prata'. Cuida-te para jamais deixar de escutar (ou desobedecer). Que a palavra de Saul não se realize em ti, nem em tua geração, pois Deus é mais facilmente persuadido pela obediência do que pelo sacrifício (1 Sm 15, 22).

Estas são, então, as regras do ofício do monge: deves comer com os irmãos; não levantes a cabeça enquanto não tiver terminado de comer; come com a roupa que te deixas ver em público; se acontecer de serdes o último a ser servido, não digas: 'Traga-me logo, pois aqui está sentado alguém maior que tu'; quando desejares beber da garrafa de água, não deixes que tua garganta cause confusão como um homem comum ... quando estiverdes dormindo em algum lugar com os irmãos, não permitas que pessoa alguma se aproxime a menos de um cotovelo de distância. Se o trabalho for tranquilo, não durmas sobre a esteira, mas dobra-a pois sois um homem jovem. Não durmas estendido, nem tampouco de costas, para que teus sonhos não te molestem.

Quando estiverdes caminhando com os irmãos, mantém-te sempre a alguma distância deles, pois quando caminhas com um irmão fazes com que teu coração esteja ocioso. Se estiverdes usando sandálias nos pés e o que caminha contigo não as têm, desata-as e caminha como ele. Faz o trabalho do pregador. Faça-o cuidadosamente enquanto estiverdes em tua habitação. Não comas enquanto o sol estiver brilhando. Não acendas a fogueira para ti apenas, ou te transformarás num homem exibido. Quando for necessário aquecer-se, chama algum homem pobre e miserável que está contigo no deserto, e serás elogiado, ao dizer: 'Não posso comer sozinho o meu pão'.

Se estiverdes numa montanha ou em um lugar onde há algum irmão doente, visita-o duas vezes ao dia: de manhã, antes de começardes a trabalhar com tuas mãos, e à tarde; pois está escrito, meu amado no Senhor: 'Estive doente e tu me visitaste' (Mt 25, 36. 43). Quando um irmão morre na montanha onde estás, não te sentes na cela onde consegues ouvir a notícia, mas vai sentar-te com ele e chora sobre ele; pois está escrito: 'Chora pelo homem falecido e caminha com ele até que seja enterrado, pois esta é a última coisa que se pode fazer por seu irmão. Saúda seu corpo com compaixão, dizendo: Lembra-te de mim diante do Senhor'...

Se um irmão vem até ti, regozija-te com ele. Saúda-o. Prepara água para seus pés. Não esqueça isto. Que ele reze. Ficai sentado. Saúda suas mãos e seus pés. Não o incomodes com perguntas como: 'de onde vens?'; pois está escrito: Desta maneira, alguns, sem saber, têm recebido anjos em sua morada? (Hb 12, 2). Crê naquele que veio a ti da mesma forma como crerias em Deus. Se ele for um homem mais virtuoso que tu, diga-lhe humildemente: 'Que teu favor esteja sobre mim', o que equivale a dizer: 'Tu és meu mestre'. Guarda tua comida e come com ele. E se tiverdes algum compromisso, desmarca-o; pois está escrito: 'Filho meu, sempre me traz prazer acompanhar o homem que quer caminhar'. Deves regozijar-te com ele e estar feliz. Fazei o máximo que puder para que te bendiga três vezes, para que a bênção do anjo que entrou com ele venha sobre ti.

E como exige a mesma fé da Igreja Católica, não te desvies dela, nem te ponhas fora dela. Cremos em só Deus, Pai todo-poderoso, e em seu Filho único, Jesus Cristo, nosso Senhor, por quem foi feito o universo, e no Espírito Santo, ou seja, [cremos] na Santíssima Trindade, a divindade plena. Ele [Jesus] é Deus, Ele estava com Deus, Ele é a Luz que vem da Luz, Ele é o Senhor que vem do Senhor. Ele foi gerado, não criado. Foi gerado como homem. Ele não é uma criatura, é Deus. Foi gerado pela Santíssima Virgem Maria, a mulher que levou Deus em seu seio. Ele tomou a carne do homem para o nosso bem, [veio] à terra e dela ascendeu. Escolheu pregadores, os Santos Apóstolos, cujas vozes, conforme o que está escrito, têm sido ouvidas em toda a terra (Sl 18,4). Foi crucificado e traspassado com uma lança. Daí veio a nossa salvação, Água e Sangue, isto é, o Batismo e o glorioso Sangue; quem não recebeu o Sangue, não foi batizado.

Faz isto, filho meu. Mantém esta fé e o Deus da paz estará contigo, e te salvará, e te libertará, e estarás em paz pelo resto dos teus dias. A salvação está no Senhor, filho querido, no Senhor. Lembra-te de mim, amado no Senhor, por Jesus, o Cristo, nosso Senhor, a quem pertencem a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.
(Santo Efrém da Síria)

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'O primeiro grau da contemplação é que consideremos sem cessar o que quer o Senhor, o que lhe agrada, aquilo que é aceito diante dele... humilhemo-nos sob a poderosa mão do Deus altíssimo e procuremos mostrar-nos bem miseráveis aos olhos da misericórdia, dizendo: 'Cura-me, Senhor e ficarei curado; salva-me e serei salvo' (Jr 17,14) e 'Senhor tem compaixão de mim, cura minha alma porque pequei contra ti' (Sl 40, 5). 

Tendo-nos adiantado um pouco no exercício espiritual, guiados pelo Espírito, perscrutador das profundezas de Deus, pensemos na suavidade do Senhor, como é bom em si mesmo. Com o profeta, roguemos ver a vontade de Deus e visitar já não mais nosso coração, mas seu templo, dizendo contudo: 'Dentro de mim, minha alma está perturbada: por isso lembrar-me-ei de ti' (Sl 41,7). Nestes dois pontos consiste toda a nossa vida espiritual: olhando para nós, nos perturbemos e entristeçamos, para nossa salvação; e respiremos desafogados na consideração das coisas divinas, para recebermos a consolação na alegria do Espírito Santo'. 

(São Bernardo)

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

CARTAS A MEU PAI (VII)

Pai:

A igrejinha estava imersa na obscuridade, embora lá fora o sol ainda estivesse a pino. Tive que me acostumar com as sombras até divisar os dois personagens presentes. A velha senhora estava ajoelhada logo no segundo banco. O homem estava sentado quase ao final da igreja, se abanando com uma espécie de lenço. Na verdade, ele estava sentado meio de lado, aparentemente incomodado com alguma coisa. A senhora permanecia quase que imobilizada de joelhos, envolvida completamente em sua oração e recolhimento.

De alguma forma, eu sabia que aquele encontro, aparentemente fortuito, aparentemente trivial, era um complemento de duas vidas que se fechavam no plano dos dias e diante a Vossa misericórdia infinita. Nada para Vós ocorre ao acaso, nada se faz, se fala ou se pensa sem que engrenagens espirituais complexas e extraordinárias sejam mobilizadas e encaixadas de forma admirável para produzir frutos de justiça ou de salvação. Nada é tangido pelo tempo e pela graça sem uma finalidade ensurdecedora que se move do Céu. Mas, para a maioria dos homens, a imensa maioria dos homens e mulheres deste mundo, tudo parece ser fruto das circunstâncias e contingências do acaso.

M.D. continuava a sua oração. Estava na quinta ave-maria do terceiro mistério gozoso. Seus lábios moviam silenciosa e harmonicamente, embebidos de cada palavra. Seu pensamento, naquele momento, não. Havia abandonado o aconchego da igrejinha e voado com a preocupação mundana da necessidade de achar a receita de um certo bolo de cenoura. Seus olhos percorreram a imagem do Crucificado no altar, sem percepção de detalhes ou um gesto de amor, mas na inteira absorção de pousar os olhos no reflexo vazio de quaisquer imagens.

Lá atrás, D. tossiu rapidamente e o ar se impregnou do ricochete do gesto. O som se esvaiu na imensa quietude da nave, mas uma espécie de reverberação continuou percorrendo as alas entre os bancos e as paredes adornadas com as imagens da via crucis, espraiando-se em todas as direções do templo. Por um momento, se endireitou no banco e olhou na direção do altar, depreciando o fato do crucifixo parecer desproporcional ao próprio altar, quase que 'sumido' no espaço central em branco. A distração tomou a forma da figura da senhora que rezava no segundo banco, depois numa estação qualquer da via crucis e, em seguida, no gesto de enfurnar a cabeça entre as mãos e fechar os olhos.  

Ali, na obscuridade da pequena igrejinha, bálsamo do calor e da secura de mais uma tarde de verão, dois dos Vossos filhos construíam tempos e memórias de vida e eternidade. A senhora investia agora, muito mais concentrada na oração, pelo quarto mistério do Rosário. O homem se sentia devidamente refrescado e se preparava para encontrar a família lá fora para visitarem qualquer coisa mais daquele lugar de uma parada não obrigatória. Na toada da vida, que importava a reza diária do terço da velha senhora ou o descanso propício do turista de última hora? Não era apenas mais um dia na vida cotidiana de todos nós, um dia absolutamente comum?

Não, na verdade, não. Não seria um dia comum; pelo contrário: o último dia da vida de um homem é absolutamente incomum. O livre arbítrio não vai poder mais construir qualquer gesto ou distração, nem controlar o olhar ou a tosse, nem optar pela oração ou pela sombra refrescante de um lugar. Tiveram ali a visão do Crucificado, a última chance de estar diante dEle. O homem se levantou e saiu, seguido pelo seu Anjo da Guarda que me dirigiu ainda um olhar que, definido na dimensão humana, emanava algo como um traço de dor. A senhora estava terminando o terço, o seu último terço, e o seu Anjo rezava junto com ela. Quando saí da igrejinha, o sol começava a se por no horizonte, ao final de um dia mais que comum para a maioria dos homens e absolutamente incomum para muitos outros.

R.

('Cartas a Meu Pai' são textos de minha autoria e pretendem ser uma coletânea de crônicas que retratam a realidade cotidiana da vida humana entranhada com valores espirituais que, desapercebidos pelas pessoas comuns, são de inteira percepção pelo personagem R. As pessoas e os lugares, livremente designados apenas pelas suas iniciais, são absolutamente fictícios).

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

A VIA CRUCIS DOS AMIGOS DA CRUZ

I. Não procurar cruzes propositadamente ou pela própria culpa

Não procureis cruzes propositadamente ou por vossa culpa; não se deve fazer o mal para que dele resulte um bem; não se deve, sem inspiração especial, fazer as coisas de maneira má, para atrair sobre si mesmo o desprezo dos homens. É antes preciso imitar Jesus Cristo, de quem se disse fez bem todas as coisas, não por amor próprio ou por vaidade, mas para agradar a Deus e conquistar a alma do próximo. E se executardes os vossos trabalhos o melhor que puderdes, não vos hão de faltar contradições, perseguições, nem desprezos, que a Divina Providência vos enviará contra vossa vontade e sem vos consultar.

II. Consultar o bem do próximo

Se praticais algum ato indiferente, mas do qual o próximo se escandaliza, ainda que fora de propósito, abstende-vos dele, por caridade, para que cesse o escândalo dos pequenos; o ato heroico de caridade que praticardes nessa ocasião vale infinitamente mais do que aquilo que fazíeis ou pretendíeis fazer. Se, entretanto, o bem que fazeis é necessário ou útil ao próximo, e escandalizar, sem razão, algum fariseu ou mau espírito, consultai uma pessoa prudente, para saber se o que fazeis é necessário e muito útil ao bem do próximo; e, se ela assim o julgar, continuai e deixai falar, contanto que vos deixem agir, e respondei, em tais ocasiões, o que Nosso Senhor respondeu a alguns de seus discípulos que vieram dizer-lhe que os fariseus se haviam escandalizado com as suas palavras e ações: 'Deixai-os falar, são cegos'  (Mt 15, 14).

III. Admirar, sem pretender atingi-la, a sublime virtude dos santos

Apesar de alguns santos e pessoas importantes terem pedido, procurado e, por meio de ações ridículas, atraído sobre si mesmos, cruzes, desprezos e humilhações, adoremos e admiremos apenas a ação do Espírito Santo sobre as suas almas e humilhemo-nos diante de tão sublime virtude, sem ousar voar tão alto, um vez que, comparados a essas rápidas águias e rugidores leões, não passamos de criaturas sem coragem e sem força de vontade. 

IV. Pedir a Deus a sabedoria da Cruz

Podeis, entretanto, e mesmo o deveis, pedir a sabedoria da cruz, que é uma ciência saborosa e experimental da verdade, que nos faz ver, à luz da fé, os mais ocultos mistérios, entre os quais o da cruz, e isto só se obtém mediante grandes trabalhos, profundas humilhações e orações fervorosas. Se precisardes do espírito principal, que nos faz levar corajosamente as mais pesadas cruzes; do espírito bom e manso, que nos faz saborear, na parte superior da alma, as mais repugnantes amarguras; do espírito são e reto, que procura só a Deus; da ciência da cruz, que encerra todas as coisas; numa palavra, do tesouro infinito cujo bom emprego torna a alma participante da amizade de Deus, pedi a sabedoria; pedi-a incessante e fortemente, sem hesitar, sem receio de não a obter, e ela vos será dada, infalivelmente, e em seguida vereis claramente, por experiência própria, como pode ser possível desejar, procurar e saborear a cruz.

V. Humilhar-se das próprias faltas, sem se perturbar

Quando, por ignorância ou mesmo por vossa culpa, cometerdes algum erro de que resulte para vós alguma cruz, humilhai-vos imediatamente diante de vós mesmos, sob a mão poderosa de Deus, sem vos perturbar voluntariamente, dizendo: 'Eis, Senhor, uma peça que me pregou meu ofício'! E se houver pecado na falta que cometestes, aceitai a humilhação de vosso orgulho. Algumas vezes, e até muitas vezes, Deus permite que seus maiores servos, os mais elevados em graça, cometam as faltas mais humilhantes, a fim de humilhá-los aos seus próprios olhos e aos olhos dos homens, a fim de tirar-lhes a vista e o pensamento orgulhoso das graças que lhes dá e do bem que fazem, a fim de que, segundo a palavra do Espírito Santo, nenhuma carne se glorifique diante de Deus.

VI. Deus nos humilha para purificar-nos

Ficai bem persuadidos de que tudo o que existe em nós está inteiramente corrompido pelo pecado de Adão e pelos pecados atuais; e não apenas os sentidos do corpo, mas todas as potências da alma; e que, logo que o nosso espírito corrompido olha, refletida e complacentemente, algum dom de Deus em nós, esse dom, ação ou graça fica todo poluído e corrompido e Deus dele desvia os seus olhos divinos. Se os olhares e os pensamentos do espírito do homem estragam assim as melhores ações e os mais divinos dons, que diremos dos atos da própria vontade, que são ainda mais corrompidos que os do espírito?

Não é de espantar, depois disto, que Deus sinta prazer em esconder os seus no segredo de sua face, para que não sejam manchados pelos olhares dos homens e pelos seus próprios conhecimentos. E, para escondê-los assim, o que não faz e não permite este Deus ciumento?! Quantas humilhações lhes proporciona! Em quantas faltas os deixa cair! De que tentações permite sejam atacados, como São Paulo! Em que incertezas, trevas e perplexidade os deixa! Ah! como Deus é admirável nos seus santos e nos caminho pelos quais os conduz à humildade e à santidade!

VII. Evitar, nas cruzes, o perigo do orgulho

Procurai bem, portanto, evitar crer, como os devotos orgulhosos e cheios de si, que vossas cruzes são grandes, que são provas de vossa fidelidade e testemunhas de um singular amor de Deus para convosco. Esta armadilha do orgulho espiritual é muito sutil e delicada, mas cheia de veneno. Deveis crer: 

(i) que vosso orgulho e moleza vos levam a considerar palhas como se fossem traves; picadas como se fossem chagas, um rato como se fosse um elefante; e uma palavrinha no ar - um nada, na verdade - como se fosse uma injúria atroz e um cruel abandono; 

(ii) que as cruzes que Deus vos envia são antes castigos amorosos de vossos pecados - e de fato o são - que sinais de especial benevolência;

(iii) que, seja qual for a cruz que Ele vos enviar, ainda assim vos poupa infinitamente, em virtude do número e da enormidade dos vossos crimes, que só deveis considerar à luz da santidade de Deus, que nada de impuro tolera e que atacastes; à luz de um Deus moribundo e aniquilado de dor, por causa de vosso pecado, e à luz de um inferno sem fim, que merecestes mil vezes e talvez cem mil; 

(iv) que na paciência com que sofreis há muito mais de humano e natural do que o julgais: provam-no as pequenas mitigações; as procuras secretas de consolação; as aberturas de coração - tão naturais - a vossos amigos e, talvez, ao vosso diretor; as desculpas tão finas e prontas; as queixas, ou melhor, as maledicências tão bem urdidas e tão caridosamente expressas, contra os que vos fizeram algum mal; as referências e complacências delicadas para com vossos males; a crença de Lúcifer de que sois algo de grande, etc. Nunca terminaria se me fosse necessário descrever as voltas e reviravoltas da natureza, mesmo nos sofrimentos.

VIII. Tirar maior proveito dos pequenos sofrimentos que dos grandes

Tirai proveito dos pequenos sofrimentos e mesmo mais que dos grandes. Deus não olha tanto o sofrimento quanto a maneira por que se sofre. Sofrer muito e mal é sofrer como condenado; sofrer muito e corajosamente, mas por uma causa má, é sofrer como mártir do demônio; sofrer pouco ou muito, mas sofrer por Deus, é sofrer como santo.

Se é verdade que se pode escolher as cruzes, isto é mais certo quanto às cruzes pequenas e escondidas quando nos vêm paralelamente às grandes e visíveis. O orgulho da natureza pode pedir, procurar e mesmo escolher e abraçar as cruzes grandes e visíveis; mas escolher e levar bem alegremente as cruzes pequenas e ocultas só pode ser o efeito de uma grande graça e de uma grande fidelidade a Deus. Fazei, pois, como o comerciante com o seu negócio: tirai proveito de tudo, não deixeis perder-se a mínima parcela da verdadeira Cruz, mesmo que seja uma picada de mosca ou de alfinete, a indelicadeza de um vizinho, uma injúria por descuido, a perda de um níquel, uma perturbaçãozinha da alma, um leve cansaço do corpo, uma dorzinha num dos membros, etc. 

Tirai proveito de tudo, como o merceeiro em sua mercearia, e, assim como ele enriquece em dinheiro, juntando moeda por moeda em seu cofre, breve estareis ricos em Deus. Ao menor contratempo que sobrevier, dizei: 'Deus seja bendito! Meu Deus, eu Vos agradeço', depois escondei na memória de Deus, que é vosso cofre, a cruz que acabais de ganhar, e só vos lembreis dela para dizer: Obrigado! ou Misericórdia!

IX. Amar a cruz, não com amor sensível, mas racional e sobrenatural

Quando vos dizemos para amar a cruz, não falamos em amor sensível, que é impossível à natureza. Distingui bem, portanto, estes três amores: o amor sensível, o amor racional, o amor fiel e supremo; ou, em outras palavras: o amor da parte inferior, que é a carne; o amor da parte superior, que é a razão; e o amor da parte suprema, ou cimo da alma, que é a inteligência esclarecida pela fé.

Deus não vos pede que ameis a cruz com a vontade da carne. Sendo ela inteiramente corrompida e criminosa, tudo o que dela se origina é corrompido e ela não pode, por si mesma, estar sujeita à vontade de Deus e à sua lei crucificadora. Eis por que, ao falar dela no Horto da Oliveiras, Nosso Senhor exclama: 'Meu Pai, seja feita a Vossa vontade e não a minha!' Se a parte inferior do homem em Jesus Cristo, ainda que santa, não pôde amar a cruz sem desfalecimento, com mais forte razão a nossa, que é toda corrompida, há de a repelir. Podemos, é verdade, experimentar, por vezes, até mesmo alegria sensível pelo que sofremos, como aconteceu a vários santos; mas essa alegria não vem da carne, ainda que nela esteja; vem apenas da parte superior, que se acha tão cheia da divina alegria do Espírito Santo, que a faz estender-se até à parte inferior, de tal sorte que em tal ocasião até mesmo a pessoa mais crucificada pode dizer: 'Meu coração e minha carne estremeceram de alegria no Deus vivo!' (Sl 83, 3).

Há outra espécie de amor, que denomino racional, e que se acha na parte superior, que é a razão. Este amor é todo espiritual e, como nasce do conhecimento da felicidade de sofrer por Deus, é perceptível e mesmo percebido pela alma, rejubilando-a interiormente e fortificando-a. Este amor racional e percebido, porém -apesar de bom e de muito bom - nem sempre é necessário para que se sofra alegre e divinamente.

É porque há outro amor, do cimo ou ápice da alma, dizem os mestres da vida espiritual - ou da inteligência, afirmam os filósofos - pelo qual, sem experimentar qualquer alegria dos sentidos, sem perceber nenhum prazer racional na alma, é possível amar e saborear, pela visão da fé pura, a cruz que carregamos, muito embora tudo esteja em guerra e estado de alarme na parte inferior, que geme, se queixa, chora e procura lenitivo, de tal sorte que se possa dizer, como Jesus Cristo: 'Meu Pai, seja feita a Vossa vontade e não a minha!' ou com a Santíssima Virgem: 'Eis aqui a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a Vossa palavra!' É com um desses dois amores da parte superior que devemos amar e aceitar a cruz.

X. Sofrer toda sorte de cruzes, sem exceção e sem escolha

Decidi-vos, queridos Amigos da Cruz, a sofrer toda sorte de cruzes, sem exceção e sem escolha: toda pobreza, toda injustiça, toda humilhação, toda contradição, toda calúnia, toda aridez, todo abandono, toda pena interior ou exterior, dizendo sempre: 'Meu coração está preparado, meu Deus, meu coração está preparado'. Preparai-vos, pois, para ser abandonados pelos homens, pelos anjos e pelo próprio Deus; para ser perseguidos, invejados, traídos, caluniados, desacreditados e abandonados por todos; para sofrer fome, sede, mendicidade, nudez, exílio, prisão, tortura e todos os suplícios, ainda que não os tenhais merecido pelos crimes que vos impuserem. 

Imaginai enfim que, depois de ter perdido vossos bens e vossa honra, de haver sido lançados para fora de vossa casa, como Jó e Santa Isabel, rainha da Hungria, vos joguem na lama, como àquela santa, e vos arrastem por sobre o estrume, como a Jó, todo purulento e coberto de úlceras, sem vos darem ataduras para vossas chagas ou, para comerdes, um pedaço de pão que não recusariam a um cavalo ou a um cão; e que, além desses males extremos, Deus vos deixe à mercê de todas as tentações dos demônios, sem derramar sobre vossa alma a mínima consolação sensível. Crede firmemente que esse é o ponto supremo da glória divina e a felicidade perfeita de um verdadeiro e perfeito Amigo da Cruz.

XI. Os quatro estimulantes do bom sofrimento

Para ajudar-vos a sofrer bem, tomai o santo hábito de olhar quatro coisas:
 
(i) O olhar de Deus

Primeiramente o olhar de Deus, que, como um grande rei, do alto de uma torre, olha complacentemente e louvando-lhe a coragem, o seu soldado que peleja. Que olhará Deus na terra? Os reis e imperadores em seus tronos? Muitas vezes Ele os contempla com desprezo. As grandes vitórias dos exércitos do Estado? As pedras preciosas? Numa palavra: as coisas que são grandes aos olhos dos homens? O que é grande aos olhos dos homens é abominação diante de Deus. Que olhará Ele então com prazer e complacência e de que pedirá notícias aos anjos e aos próprios demônios? Um homem que, por Deus, se bate com a sorte, o mundo, o inferno e ele próprio, um homem que carrega alegremente a sua cruz. Não viste na terra uma grande maravilha que todo o céu contempla com admiração?, disse o Senhor a Satanás:'“Não viste meu servo Jó, que sofre por mim?'

(ii) A mão de Deus

Em segundo lugar, considerai a mão deste poderoso Senhor, que permite todo o mal que da natureza nos advém, desde o maior até o menor; a mão que colocou um exército de cem mil homens no campo de batalha e faz cair as folhas das árvores e os cabelos de vossa cabeça; a mão que, havendo rudemente atingido Jó, vos toca docemente pelo pouco sofrimento que vos envia. Com essa mão Ele formou o dia e a noite, o sol e as trevas, o bem e o mal; permitiu os pecados que se cometem e que vos melindram; não lhes fez a malícia, porém lhes permitiu a ação.

Assim, quando virdes um homem injuriar-vos e apedrejar-vos, como ao rei Davi, dizei a vós mesmos: 'Não nos vinguemos. Deixemo-lo, porque o Senhor lhe ordenou de agir assim. Sei que mereci toda sorte de ultrajes e é justo que Deus me castigue. Parai, braços meus: Parai, língua minha. Não ataqueis. Nada digais. Este homem ou esta mulher me injuriam por palavras ou por obras; são embaixadores de Deus, que vêm de sua misericórdia, para exercer vingança amistosa. Não irritemos sua justiça usurpando os direitos de sua vingança; não desprezemos a sua misericórdia resistindo às suas amorosas chicotadas, para que ela não nos reconduza, por vingança, à pura justiça da eternidade'.

Olhai uma das mãos de Deus, que, onipotente e infinitamente prudente, vos sustenta, enquanto a outra vos atinge; com uma das mãos Ele mortifica e com a outra vivifica; rebaixa e exalta, e, com seus dois braços, doce e fortemente, alcança, de um polo ao outro, a vossa vida; docemente, não permitindo que sejais tentados e provocados acima de vossas forças: fortemente, secundando-vos com graça poderosa e correspondente à violência e duração da tentação e da aflição; fortemente, ainda uma vez, tornando-se Ele próprio, segundo o diz pelo espírito de sua Santa Igreja, 'vosso apoio à borda do precipício perto do qual vos encontrais, vosso companheiro no caminho onde vos perdeis, vossa sombra no calor que vos caustica, vossa vestimenta na chuva que vos molha e no frio que vos enregela; vossa carruagem na fadiga que vos aniquila, vosso socorro na adversidade que vos visita, vosso bastão nos caminhos escorregadios e vosso porto no meio das tempestades que vos ameaçam de ruína e naufrágio'.

(iii) As chagas e as dores de Jesus Cristo Crucificado

Em terceiro lugar, olhai as chagas e as dores de Jesus Cristo Crucificado. Ele mesmo vô-lo diz: 'Ó vós que passais pelo caminho espinhoso e crucificado por que passei, olhai e vede: olhai com os próprios olhos do vosso corpo e vede, com os olhos de vossa contemplação, se vossa pobreza, vossa nudez, vosso desprezo, vossas dores, vossos abandonos são semelhantes aos meus; olhai-me, a mim que sou inocente, e queixai-vos, vós que sois culpados!'

O Espírito Santo nos ordena, pela boca dos Apóstolos, esta mesma contemplação de Jesus Crucificado; ordena que nos armemos com este pensamento mais penetrante e terrível para todos os nossos inimigos que todas as outras armas. Quando fordes atacados pela pobreza, pela abjeção, pela dor, pela tentação e pelas cruzes, armai-vos com um escudo, uma couraça, um capacete e uma espada de dois gumes, a saber: o pensamento de Jesus Crucificado. Eis a solução de toda dificuldade e a vitória sobre qualquer inimigo.

(iv) Ao alto, o céu; em baixo o inferno

Em quarto lugar olhai, ao alto, a bela coroa que vos espera no céu, se carregardes bem vossa cruz. Foi esta recompensa que sustentou os patriarcas e os profetas em sua fé e nas perseguições; que animou os apóstolos e os mártires em seus trabalhos e tormentos. Preferimos - diziam os Patriarcas, com Moisés - sofrer aflições com o povo de Deus, para ser feliz com Ele eternamente, que gozar de um prazer criminoso por um só momento. Sofremos grandes perseguições por causa da recompensa, diziam os profetas com Davi.

Somos como vítimas destinadas à morte, como espetáculo para o mundo, os anjos e os homens pelos nossos sofrimentos, como a escória e o anátema do mundo, diziam os apóstolos e os mártires com São Paulo, por causa do peso imenso da glória eterna que este momento de breve sofrimento produz em nós. Olhemos sobre nossas cabeças os anjos que nos dizem, em alta voz : 'Tende cuidado para não perderdes a coroa marcada pela cruz que vos é dada, se a levardes bem. Se não a carregardes bem, outro o fará e vos arrebatará vossa coroa. Combatei fortemente, sofrendo com paciência, dizem-nos todos os santos, e entrareis no reino eterno'. Ouçamos enfim Jesus Cristo, que nos diz: 'Só darei minha recompensa àquele que sofrer e vencer pela paciência'.

Olhamos embaixo o lugar que merecemos e que nos espera no inferno com o mau ladrão e os réprobos, se, como eles, sofremos com murmurações, despeito e vingança. Exclamemos com Santo Agostinho: 'Queimai, Senhor, cortai, talhai e retalhai neste mundo para castigar meus pecados, contanto que os perdoeis na eternidade'!

XII. Nunca se queixar das criaturas

Nunca vos queixeis voluntariamente e entre murmurações, das criaturas de que Deus se serve para vos afligir. Distingui, para tanto, três espécies de queixas nos sofrimentos.

(i) a primeira é involuntária e natural: é a do corpo que geme, suspira, se queixa, chora e se lamenta. Quando a alma, como já disse, está resignada com a vontade de Deus, em sua parte superior, não há nenhum pecado.

(ii) a segunda é razoável; é quando alguém se queixa e descobre seu mal aos que podem e devem tratá-lo, como um superior ou o médico. Esta queixa pode ser imperfeita, quando for muito insistente; mas não é pecado.

(iii) a terceira é criminosa: é quando alguém se queixa do próximo para se isentar do mal que ele nos faz sofrer, ou para se vingar; ou quando alguém se queixa da dor que sofre, consentindo nessa queixa e juntado a ela a impaciência e a murmuração.

XIII. Receber sempre a cruz com reconhecimento

Nunca recebais nenhuma cruz sem beijá-la humildemente e com reconhecimento; e quando Deus, todo bondade, vos houver favorecido com alguma cruz um pouco considerável, agradecei-lhe de maneira especial e fazei-o agradecer por outros, a exemplo daquela pobre mulher, que, tendo perdido todos os seus bens em virtude de um processo injusto que lhe moveram, fez celebrar imediatamente uma missa, com o dinheiro que lhe restava, a fim de agradecer a Deus a ventura que lhe era concedida.

XIV. Carregar suas cruzes voluntárias

Se quereis tornar-vos dignos de receber as cruzes que vos hão de vir sem vossa participação e que são as melhores, carregai outras voluntárias, seguindo os conselhos de um bom diretor. Por exemplo: tendes em casa algum móvel inútil pelo qual tendes afeição? Dai-o aos pobres, dizendo: quererias o supérfluo quando Jesus é tão pobre? Tendes horror a algum alimento? A algum ato de virtude? A algum mau odor? Provai-o, praticai-o, aspirai-o. Vencei-vos.

Amais alguém ou algum objeto um pouco terna e insistentemente demais? Ausentai-vos, privai-vos, afastai-vos do que vos lisonjeia. Tendes uma natureza muito inclinada a ver? A agir? A aparecer? A ir a algum lugar? Parai, calai, escondei-vos, desviai os olhos. Odiais naturalmente algum objeto? Alguma pessoa? Procurai-a frequentemente. Dominai-vos.

Se sois verdadeiramente Amigos da Cruz, o amor, que é sempre operoso, vos fará assim encontrar mil pequenas cruzes, com que vos enriqueceis insensivelmente, sem temor da vaidade, que se mistura tão frequentemente à paciência com que suportamos as cruzes muito visíveis; e porque fostes assim fiéis em pouca coisa, o Senhor vos estabelecerá em muito, como o prometeu; isto é, em muitas cruzes que vos enviará, em muita glória que vos preparará ...

(Da 'Carta Circular aos Amigos da Cruz' de São Luis Maria Grignion de Montfort)

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

GLÓRIAS DE MARIA: ASSUNÇÃO AO CÉU

A Assunção de Maria - Palma Vecchio (1512 - 1514)

"Pronunciamos, declaramos e de­finimos ser dogma de revelação divina que a Imaculada Mãe de Deus sempre Virgem Maria, cumprido o curso de sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma à Glória celeste”.

                            (Papa Pio XII, na Constituição Dogmática  Munificentissimus Deus, de 1º de novembro de 1950)


A solenidade da Assunção da Virgem Maria existe desde os primórdios do catolicismo e, desde então, tem sido transmitida pela tradição oral e escrita da Igreja. Trata-se de um dos grandes e dos maiores mistérios de Deus, envolto por acontecimentos tão extraordinários que desafiam toda interpretação humana: 

1. Nossa Senhora NÃO PRECISAVA morrer, uma vez que era isenta do pecado original;

2. Nossa senhora QUIS MORRER para se assemelhar em tudo ao seu Filho, pela aceitação de sua condição humana mortal e para mostrar que a morte cristã é apenas uma passagem para a Vida Eterna;  

3. Nossa Senhora NÃO PODIA passar pela podridão natural da carne tendo sido o Sacrário Vivo do próprio Deus;

4. A morte de Nossa Senhora foi breve (é chamada de 'Dormição') e ela foi assunta ao Céu em corpo e alma;

5. Aquela que gerou em si a vida terrena do Filho de Deus foi recebida por Ele na glória eterna;

6. Nossa Senhora foi assunta ao Céu pelo poder de Deus; a ASSUNÇÃO difere assim da ASCENSÃO de Jesus, uma vez que Nosso Senhor subiu ao Céu pelo seu próprio poder.


Louvor a Ti, Filha de Deus Pai,
Louvor a Ti, Mãe do Filho de Deus,
Louvor a Ti, Esposa do Espírito Santo,
Louvor a Ti, Maria, Tabernáculo da Santíssima Trindade!

15 DE AGOSTO - NOSSA SENHORA DO PILAR



A devoção a Nossa Senhora do Pilar tem origem na Espanha. Segundo a Tradição, o apóstolo São Tiago Maior, enviado à Espanha para anunciar o Evangelho, estava frustrado pelos resultados limitados de sua atuação, quando teve uma visão da Virgem incentivando-o no cumprimento de sua missão. Nossa Senhora lhe apareceu encimando uma coluna (pilar), às margens do Rio Ebro, na região de Saragoza. Nossa Senhora do Pilar é invocada como sendo o Refúgio dos Pecadores e a Consoladora dos Aflitos. Na Espanha e nos países ibéricos, a festa é comemorada em 12 de outubro.  

Nossa Senhora do Pilar é Padroeira da cidade de Ouro Preto/MG, maior acervo arquitetônico barroco do Brasil e patrimônio cultural da humanidade. A festa de Nossa Senhora do Pilar em Ouro Preto é comemorada em 15 de agosto, data de sua entronização. Eu visitei e conheço bem a Igreja do Pilar, a mais imponente e mais rica de Minas Gerais. Recentemente (2012), a Paróquia do Pilar em Ouro Preto comemorou 300 anos como comunidade paroquial (1712 - 2012), 300 anos com Maria, a Senhora do Pilar. À cidade histórica mais importante do Brasil, a minha homenagem nestes versos à sua Padroeira.

Nossa Senhora do Pilar

Estão abertas as portas da Igreja do Pilar.
Entro. E logo nos meus primeiros passos,
meu olhar encontra no mais alto do altar
a Santa Virgem com Jesus nos braços.


Hesito. Diante da bela imagem da Senhora,
de repente, imensa inquietude me possui:
pois o homem que inda sou traz lá de fora
o pobre pecador que eu sempre fui.

Mas, do Vosso olhar materno não viceja
revolta alguma, nada de condenação:
Este caminho que atravessa a igreja
É uma via crucis que só tem perdão!

Sob o Vosso olhar de Mãe na minha fronte,
avanço sem medo a tão grande tesouro:
Sois Porta da terra, aberta para o horizonte,
Sois Pilar do Céu, entronizada em ouro.


Se inda há algo em mim que me pertença,
por mais louvável, quanto mais profano,
que seja apenas o tênue fio da presença,
do amor que pulsa no meu peito humano.


E, assim, diante do Vosso altar, prostrado,
Padroeira de Ouro Preto, ouso suplicar:
que eu seja por Vosso Filho muito amado,
como eu Vos amo, ó Senhora do Pilar!

(Arcos de Pilares)