quinta-feira, 23 de novembro de 2023

FRASES DE SENDARIUM (XVI)

 
'Nosso coração nunca se farta, porque o bem infinito não tem limites' 

(São Gregório de Nissa)


'Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso, pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve' (Mt 11,29)

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

SOBRE AS OBRAS FEITAS POR CARIDADE



1. Por nenhuma coisa do mundo, nem por amor de pessoa alguma, se deve praticar qualquer mal; mas, em prol de algum necessitado, pode-se, às vezes, omitir uma boa obra, ou trocá-la por outra melhor. Desta sorte, a boa obra não se perde, mas se converte em outra melhor. Sem a caridade, nada vale a obra exterior; tudo, porém, que da caridade procede, por insignificante e desprezível que seja, produz abundantes frutos, porque Deus não atende tanto à obra, como à intenção com que a fazemos.

2. Muito faz aquele que muito ama. Muito faz quem bem faz o que faz. Bem faz quem serve mais ao bem comum que à sua própria vontade. Muitas vezes parece caridade o que é mero amor-próprio, porque raras vezes nos deixa a inclinação natural, a própria vontade, a esperança da recompensa, o nosso interesse.

3. Aquele que tem verdadeira e perfeita caridade em nada se busca a si mesmo, mas deseja que tudo se faça para a glória de Deus. De ninguém tem inveja, porque não deseja proveito algum pessoal, nem busca sua felicidade em si, mas procura sobre todas as coisas ter alegria e felicidade em Deus. Não atribui bem algum à criatura, mas refere tudo a Deus, como à fonte de que tudo procede, e em que, como em fim último, acham todos os santos o deleitoso repousar. Ó quem tivera só uma centelha de verdadeira caridade logo compreenderia a vaidade de todas as coisas terrenas!

(Da Imitação de Cristo, de Thomas de Kempis)

terça-feira, 21 de novembro de 2023

O DOGMA DO PURGATÓRIO (LXIX)

 

Capítulo LXIX

Alívio às Santas Almas pelas Indulgências - Orações e Jaculatórias

Há certas indulgências que são fáceis de obter e que se aplicam também aos mortos. Esperamos ajudar ao leitor indicando as principais [a obra original é de 1888; acessar aqui o atual Manual de Indulgências da Igreja Católica]:

(i) Oração 'Eis-me aqui, ó bom e dulcíssimo Jesus' - indulgência plenária para quem, depois de se ter confessado e comungado, recitar esta oração diante de uma imagem de Cristo crucificado, acrescentando alguma outra oração em intenção do Soberano Pontífice [e da Igreja].

(ii)  Santo Rosário - muitas e grandes indulgências estão associadas à recitação do Santo Rosário, se fizermos uso de contas indulgenciadas pelo nosso Santo Padre, o Papa, ou por um sacerdote que tenha recebido tais faculdades.

(iii) A Via Sacra - como já dissemos, à Via Sacra estão associadas várias indulgências plenárias e um grande número de indulgências parciais. Estas indulgências não exigem a confissão e a comunhão; basta estar em estado de graça e ter uma dor sincera de todos os nossos pecados. 

Quanto ao exercício propriamente dito da Via-Sacra, não se requer senão duas condições: (i) visitar as quatorze estações, passando de uma para outra, tanto quanto as circunstâncias o permitam; (ii) meditar ao mesmo tempo na Paixão de Jesus Cristo; as pessoas que não souberem fazer uma meditação conexa com a Via sacra podem contentar-se em pensar afetuosamente em alguma circunstância da Paixão que esteja de acordo com a sua capacidade; exortamo-las, contudo, impor como uma obrigação recitar sempre um Pai Nosso e uma Ave Maria em cada estação, e a fazer um ato de contrição pelos seus pecados.

(iv) Atos de Fé, Esperança e Caridade - Indulgência de sete anos e sete quarentenas de cada vez que forem recitados.

(v) Ladainha da Santíssima Virgem - trezentos dias de indulgência por vez.

(vi) Sinal da Cruz - cinquenta dias cada vez; mediante uso de água benta, indulgência de cem dias.

(vii) Jaculatórias como 'Meu Jesus, misericórdia!' - cem dias cada vez; 'Jesus, manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao Vosso' - Trezentos dias, uma vez ao dia; 'Doce Coração de Maria, sede a minha salvação' - trezentos dias por vez'.

(viii) Oração 'Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo; para sempre seja louvado! Amém. - cinquenta dias cada vez que duas pessoas se saúdam com estas palavras.

(ix) Oração do Ângelus - indulgência de cem dias cada vez que for recitado, seja de manhã, ao meio-dia ou à noite, ao som de um sino, de joelhos e com o coração contrito.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

FRASES DE SENDARIUM (XV)

'Quando nascemos, somos filhos de nossos pais; quando morremos, somos filhos de nossas obras' 

(Pe. Antônio Vieira)

AÇÃOAbrir Caminhos Através de Obras, eis o legado cristão: AÇÃO conformada por meio do nosso próprio exemplo e da nossa própria santificação pessoal.

domingo, 19 de novembro de 2023

EVANGELHO DO DOMINGO

   

'Felizes os que temem o Senhor e trilham seus caminhos!' (Sl 127)

Primeira Leitura (Pr 31,10-13.19-20.30-31) - Segunda Leitura (1Ts 5,1-6)  -  Evangelho (Mt 25,14-30)

 19/11/2023 - Trigésimo Terceiro Domingo do Tempo Comum

52. A PARÁBOLA DOS TALENTOS


Como herdeiros das alegrias eternas, somos administradores e não proprietários dos bens recebidos nesta vida. Tudo vem de Deus e tudo há de voltar para Deus na medida em que cada um de nós deverá prestar as devidas contas da infinitude das graças recebidas por Deus para se cumprir o seu plano de nossa salvação. Como nada nos pertence, nem nosso corpo, nem os nossos pensamentos, viver a santidade consiste em fazer em tudo e por todos a Santa Vontade de Deus, colocando todos os nossos dons e talentos a serviço do Reino.

O 'homem (que) ia viajar para o estrangeiro' (Mt 25, 14) não é outro senão Jesus que subiu ao Céu e que, chamando os seus empregados, 'lhes entregou seus bens' (ainda Mt 25, 14). Bens, portanto, que pertencem a Deus e que são distribuídos aos homens de forma diversa, por meio de um, de dois, de cinco talentos, de acordo com os desígnios da Providência e na medida certa para levar a todos ao cumprimento ideal da sua missão salvífica. Desta forma, a glória de Deus é fruto não da graça de se ter mais ou menos talentos, mas da resposta de cada um de nós, pela própria vocação, de cumprir santamente a Vontade de Deus na administração coerente dos bens recebidos em benefício próprio e dos nossos irmãos.

Mérito que tiveram os empregados que receberam cinco e dois talentos: bens que renderam outros bens, na medida do amor de ambos: 'servo bom e fiel' (Mt 25, 21.23); talentos que se multiplicaram e que se distribuíram fartamente, pela medida expressa por um rendimento em dobro: 'Senhor, tu me entregaste cinco talentos. Aqui estão mais cinco, que lucrei' (Mt 25, 20) e 'Senhor, tu me entregaste dois talentos. Aqui estão mais dois que lucrei' (Mt 25, 22). Quem se mostra fiel na administração dos bens recebidos, será merecedor de bens ainda maiores e herdeiro das alegrias eternas: 'Vem participar da minha alegria!’ (Mt 25, 21.23).

Glória que será tirada dos servos infiéis, dos empregados maus e preguiçosos que, diante os dons e talentos recebidos, os enterram nos buracos de sua insensatez, do egoísmo e da busca desenfreada por posses e bens materiais, aviltando a graça de Deus e se consumindo nos próprios interesses e mesquinhez. Ao prestar contas de sua má administração, o servo infiel busca em vão refúgio na tentativa de culpar o patrão, mediante a concepção desvairada de um Deus injusto e severo, para apenas se condenar pelas próprias palavras e pelos pecados de negligência e omissão. E, condenado, perde até o pouco que porventura tenha feito em favor de outros e ganha a perdição eterna: 'Porque a todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. Quanto a este servo inútil, jogai-o lá fora, na escuridão. Aí haverá choro e ranger de dentes!’ (Mt 25, 29 - 30).

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

SOBRE OS MALES DOS ESCRÚPULOS

O escrúpulo, diz Santo Afonso de Ligório, não passa de um vão temor de pe­car causado por apreensões que não têm motivo algum. Por sua vez, Bergier diz que o escrú­pulo é uma pena de espírito, uma an­siedade de alma que faz que a pessoa creia ofender a Deus em todas as suas ações e nunca se quitar dos seus deveres assaz perfeitamente. Enfim, o escrúpulo, dizem os autores da ciência do confessor, é uma dúvida que não é fundada, ou que só o é muito ligei­ramente, e que perturba a consciência e a enche de inquietações. É um vão ter­ror, um receio extremado de achar pecado onde realmente não existe, nascendo daí na alma uma angústia que a torna irresoluta e inquieta.

Ora, esse temor de pecar ou de haver pecado em tudo e a toda hora, esse con­tínuo pavor que só repousa nos mais fra­cos indícios, enche entretanto o coração de angústias e de perplexidades, falseia o juízo, destrói a paz interior, gera a des­confiança e a tristeza, afasta dos sacra­mentos, altera a saúde do espírito e até mesmo a do corpo. Nada é mais nocivo, diz ainda Santo Afonso de Ligório, naquele que tende à perfeição e que se deu a Deus, do que os escrúpulos. 'Essas almas são loucas' - dizia Santa Tereza - 'pois, com os seus escrúpulos, acabarão por não mais ousar dar um passo na trilha da perfei­ção'.

Todavia, não se deve confundir a dúvida com o escrúpulo, nem o escrúpulo com a consciência timorata. Na dúvida, a alma, por prudência, julga dever ficar indecisa entre dois partidos, atendendo às razões de ambas as partes que lhe parecem con­trabalançar-se. O mesmo já não se dá com o escrúpulo. Se o temor não dominasse o escrupuloso, ele acharia bastantes luzes em si mesmo para se resolver e para jul­gar que o oposto do escrúpulo é mais pro­vável. Aliás, a dúvida propriamente dita não inquieta nem aflige o espírito, ao pas­so que o escrúpulo se torna o tormento incessante do escrupuloso. A razão desta diferença é, aliás, fácil de apreender: é que a dúvida tem um fundamento ao menos aparente, e o escrúpulo não o tem; o que faz os teólogos dizerem que nunca é lícito agir contra a consciência duvidosa, e que, ao contrário, se pode e se deve agir contra o escrúpulo, como se verá mais adiante.

Pessoas há que, confundindo o escrúpulo com a delicadeza de consciência, conside­ram-no como uma virtude, enganam-se estranhamente; porquanto, longe de ser uma virtude, ele é um defeito, e dos mais perigosos. O sábio e piedoso Gerson não receava dizer que, muitas vezes, uma consciência escrupulosa prejudica mais a alma do que uma consciência de­masiado fácil e por demais relaxada.

Também se confunde amiúde a cons­ciência timorata com a consciência escru­pulosa; a diferença é, entretanto, bem de­finida. A consciência timorata evita os menores pecados, com juízo e tranquili­dade; a escrupulosa, ao contrário, age sem fundamento, com perturbação e inquieta­ção; o que faz que esteja sempre agitada e transtornada.

Eis aqui os sinais ou sintomas pelos quais se conhecem as almas escrupulosas:

1. recear incessantemente, nas suas confissões, não ter demonstrado uma verdadeira dor; 
2. recear pecar nas menores coisas, como, por exemplo, fazer um juízo temerário, faltar à caridade ou ceder aos maus pensamen­tos; 
3. ser inconstante nas suas dúvi­das, mudar incessantemente de sentimen­to sob a mais leve aparência, julgando uma mesma ação ora lícita, ora ilícita; 
4. fartar-se frequentemente de reflexões minuciosas, e mesmo extravagantes, sobre as mais ligeiras circunstâncias das suas ações; 
5. não se ater, sobre isso, ao pa­recer do seu confessor, e mostrar muito apego ao próprio senso; consultar várias pessoas, pesar-lhes as razões, e só se ater a si mesmo; 
6. agir com ansiedade, com certa perturbação que tira a atenção e o discernimento, que embaraça a liberdade e retém a alma cativa. 

Tais são os princi­pais sintomas das consciências escrupulo­sas. Mas a quem é que pertence pronun­ciar-se em semelhante matéria? Ao con­fessor; porquanto o escrupuloso nunca acredita que o é; acredita sempre que os seus escrúpulos são verdadeiros pecados. Está na sombra, não vê a sua consciência: só o juiz espiritual é que pode vê-la; e é por isto que o penitente deve seguir-lhe os conselhos, e, se for reconhecido como escrupuloso, deixar-se tratar como aco­metido desta moléstia. Pelo contrário, se quiser decidir por si mesmo, quanto mais quiser tranquilizar-se tanto mais se perturbará e se colocará em risco de perder-se.

(Excertos da obra 'Tratado dos Escrúpulos da Consciência', Abade Grimes, 1854)