quarta-feira, 19 de abril de 2023

O VALOR DAS ADVERSIDADES

1. É bom passarmos algumas vezes por aflições e contrariedades, porque frequentemente fazem o homem refletir, lembrando-lhe que vive no desterro e, portanto, não deve pôr sua esperança em coisa alguma do mundo. Bom é encontrarmos às vezes contradições, e que de nós façam conceito mau ou pouco favorável, ainda quando nossas obras e intenções sejam boas. Isto ordinariamente nos conduz à humildade e nos preserva da vanglória. Porque, então, mais depressa recorremos ao testemunho interior de Deus, quando de fora somos vilipendiados e desacreditados pelos homens.

2. Por isso, devia o homem firmar-se de tal modo em Deus, que lhe não fosse mais necessário mendigar consolações às criaturas. Assim que o homem de boa vontade está atribulado ou tentado, ou molestado por maus pensamentos, sente logo melhor a necessidade que tem de Deus, sem o qual não pode fazer bem algum. Então se entristece, geme e chora pelas misérias que padece. Então causa-lhe tédio viver mais tempo, e deseja que venha a morte livrá-lo do corpo e uni-lo a Cristo. Então compreende também que neste mundo não pode haver perfeita segurança e nem paz completa.

(Da Imitação de Cristo, de Thomas de Kempis)

terça-feira, 18 de abril de 2023

SOBRE OS LIMITES INSONDÁVEIS DA GRAÇA DIVINA


Na França do século 19, havia um pianista judeu muitíssimo virtuoso. Seu nome era Hermann Cohen. O seu talento especial não apenas o transformou em uma estrela de eventos nos salões de Paris, como lhe valeu a honra de ser reconhecido como alguém de renome ao nível do húngaro Franz Liszt (1811-86), um dos maiores pianistas de todos os tempos. Então, de repente, no auge de uma carreira brilhante, Hermann Cohen, inexplicável e silenciosamente, afastou-se desta vida de estrelato para uma condição de absoluto anonimato.

Muitos anos depois, reapareceu em público revestido com os trajes de um monge carmelita, fruto de uma extraordinária conversão espiritual à fé católica. Uma vez convertido, inscreveu-se para admissão na Ordem do Monte Carmelo, sendo imediatamente aceito. Com o hábito da ordem religiosa, recebeu o nome de Agostinho e, no devido tempo, pronunciou os votos solenes de pobreza, castidade e obediência, completou os estudos teológicos e foi ordenado sacerdote. O zelo inspirador do Padre Agostinho e os seus incansáveis trabalhos missionários logo se tornaram ainda mais celebrados entre os parisienses do que suas magistrais performances musicais de antigamente. Como outrora, com paixão incomparável, ele se dedicou a oferecer às pessoas, em lugar de acordes profanos, uma música que tocava as almas com as belezas da Verdade eterna. 

Neste propósito, orava incessantemente pela conversão de sua amada mãe, então uma judia não batizada e excluída da Santa Igreja. Nesta infeliz condição, entretanto, a mãe do padre carmelita faleceu em 13 de dezembro de 1855. O padre Agostinho foi tomado então de uma profunda tristeza. Naqueles dias, enquanto pregava os sermões do Advento em Lyon, expressou a sua angústia  a um amigo em Cuers nos seguintes termos: 'Deus acaba de infligir um golpe terrível em meu coração. Minha pobre mãe está morta... e eu cheio de incertezas. No entanto, tantas orações foram oferecidos por ela que tenho a confiança de que algo muito especial tenha ocorrido entre a sua alma e Deus, do qual nada sabemos. Preciso ir a Paris para consolar a minha família'.

A sua tristeza e suas incertezas eram muitas, mas sua esperança na infinita bondade de Deus o sustentava. Ele deveria fazer a pregação naquela noite e muitos outros, no seu lugar, não teriam condições de o fazer. Mas, depois de muito chorar e de orar ainda mais, subiu ao púlpito como de costume. Ele pregou sobre a morte e, de acordo com o testemunho de todos os que o ouviram, falou com palavras que penetraram nas profundezas dos corações dos ouvintes, excitando as reflexões mais salutares e duradouras. E quando, ao final de seu discurso, evocou a sua própria realidade diante da morte, encontrou um coro de viva consternação e conforto.

E eis que, não muito tempo depois, ele encontrou-se com o Santo Cura d'Ars, a quem confidenciou  então a sua ansiedade pela morte da mãe, não convertida e passada desta vida sem a graça do batismo. 'Tenha esperança - disse-lhe o santo - 'Esperança! Você vai receber um dia, na Festa da Imaculada Conceição, uma carta que será muito consoladora para você'.

Estas palavras foram quase esquecidas quando, em 8 de dezembro de 1861, quase seis anos após a morte de sua mãe, padre Agostinho efetivamente recebeu de um sacerdote da Companhia de Jesus uma carta que tinha sido escrita por uma mulher que havia morrido recentemente em odor de santidade. A carta continha o seguinte texto:

'No dia 18 de outubro, depois da Santa Comunhão, encontrei-me enlevada num daqueles momentos de íntima união com Nosso Senhor em que Ele me faz sentir tão docemente a sua presença no Sacramento do Amor, que me parece que a fé não é mais necessária para crer. Depois de alguns momentos, Ele fez tornar a sua voz audível para mim de modo que eu pudesse compreender algumas explicações sobre uma conversa que eu havia tido na noite anterior. Lembrei-me então que, nessa conversa, uma amiga havia manifestado um certo estranhamento diante do fato de Nosso Senhor, que tudo prometia à oração, tivesse permanecido inerte às orações do padre Hermann, tantas vezes oferecidas pela conversão de sua mãe; e mais: a sua estranheza chegava quase a um descontentamento, e tive dificuldade em fazê-la entender que devemos adorar a justiça de Deus e não procurar penetrar em seus segredos. 

Diante da ousadia de se querer saber por que Nosso Senhor, sendo Ele o sumo Bem, havia resistido às orações do padre Hermann e não concedera a ele a conversão da sua mãe, Nosso Senhor respondeu: 'Por que ela sempre busca sondar os segredos de minha justiça e penetrar mistérios que não pode compreender? Diga-lhe que não devo a minha graça a ninguém, que a dou a quem eu quiser e que, agindo assim, não deixo de ser justo e a própria Justiça; mas que ela saiba também que, antes de falhar nas promessas que fiz à oração derrubaria os céus e a terra e que toda oração que tem a minha glória e a intenção pela salvação das almas por objeto sempre é ouvida, quando tem as qualidades necessárias. E para provar esta verdade, vou deixar você saber o que aconteceu no momento da morte da mãe do padre Agostinho...'

No momento em que a mãe do padre Hermann estava a ponto de dar o seu último suspiro, desmaiada e quase sem vida, Maria, nossa boa Mãe, apresentou-se diante de seu Divino Filho, e prostrando-se aos seus pés, disse: 'Graças e misericórdia, ó meu Filho, por esta alma que está prestes a perecer. Mais um momento e estará perdida, perdida por toda a eternidade! A salvação da alma da sua mãe é o que é mais querido a esse meu filho; mil vezes ele me consagrou e confiou isso à ternura, à solicitude do meu coração. Posso permitir que pereça? Esta alma é minha; Eu a quero, reivindico-a como herança, como preço do teu Sangue, e de minhas dores aos pés de tua Cruz.' 

Mal a Santíssima Virgem cessou de falar, quando uma graça, forte e poderosa, jorrou da fonte de todas as graças, o adorável Coração de Jesus, e espraiou-se sobre a alma daquela pobre judia moribunda, que a fez triunfar instantaneamente sobre toda a sua obstinação. A alma voltou-se imediatamente com amorosa confiança para Aquele cuja misericórdia a perseguiu até nos braços da morte, e disse: 'Ó Jesus, Deus dos Cristãos, Deus que meu filho adora, eu creio, espero em Vós, tende piedade em mim!'. Neste grito, ouvido só por Deus e que brotava do mais profundo do coração daquela mulher, estavam incluídos os sinceros arrependimentos pela sua obstinação e pelos seus pecados, o desejo do Batismo, o desejo explícito de o receber, e viver de acordo com as regras e preceitos de nossa sagrada religião se possível fosse a ela retornar à vida. Essa explosão de fé e esperança em Jesus foi o último sentimento dessa alma; ao pronunciá-lo diante do trono da Divina Misericórdia, romperam-se os débeis fios que ainda a prendiam em sua morada terrena, e ela se lançou aos pés dAquele que fôra o seu Salvador antes de ser o seu Juiz. 

Depois de ter mostrado a mim todas estas coisas, Nosso Senhor acrescentou: 'Faze saber isto ao Padre Agostinho; é uma consolação que desejo conceder aos seus longos sofrimentos, a fim de que em toda a parte abençoe e faça abençoar a bondade do coração de minha mãe e o seu poder sobre o meu'. Uma completa estranha para o reverendo padre Hermann, a pobre enferma que acaba de escrever estas linhas sente-se feliz por pensar que elas trarão consolo e bálsamo à ferida sempre sangrenta do seu coração - o coração de um filho e de um sacerdote. Ela se atreve a pedir-lhe a esmola de suas orações fervorosas e espera que ele não as recuse a quem, embora desconhecida para ele, está unida a ele pelos laços sagrados da mesma fé e das mesmas esperanças'. 

(Excertos da obra 'Glimpses of the Supernatural', 1884; texto publicado originalmente no blog 'Carmelite Spirituality', tradução do autor do blog).

domingo, 16 de abril de 2023

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Dai graças ao Senhor porque Ele é bom; eterna é a sua misericórdia!(Sl 117)

Primeira Leitura (At 2,42-47) - Segunda Leitura (1Pd 1,3-9)  -  Evangelho (Jo 20,19-31)

 16/04/2023 - Segundo Domingo da Páscoa 

21. 'MEU SENHOR E MEU DEUS!'


O segundo domingo do tempo pascal é consagrado como sendo o 'Domingo da Divina Misericórdia', com base no decreto promulgado pelo Papa João Paulo II na Páscoa do ano 2000. No Domingo da Divina Misericórdia daquele ano, o Santo Padre canonizou Santa Maria Faustina Kowalska , instrumento pelo qual Nosso Senhor Jesus Cristo fez conhecer aos homens Seu amor misericordioso: 'Causam-me prazer as almas que recorrem à Minha misericórdia. A estas almas concedo graças que excedem os seus pedidos. Não posso castigar, mesmo o maior dos pecadores, se ele recorre à Minha compaixão, mas justifico-o na Minha insondável e inescrutável misericórdia'.

No Evangelho deste domingo, Jesus já havia se revelado às santas mulheres, a Pedro e aos discípulos de Emaús. Agora, apresenta-Se diante os Apóstolos reunidos em local fechado e, uma vez 'estando fechadas as portas' (Jo 20, 19), manifesta, assim, a glória de Sua ressurreição aos discípulos amados. 'A paz esteja convosco' (Jo 20, 19) foi a saudação inicial do Mestre aos apóstolos mergulhados em tristeza e desamparo profundos. 'A paz esteja convosco' (Jo 20, 21) vai dizer ainda uma segunda vez e, em seguida, infunde sobre eles o dom do Espírito Santo para o perdão dos pecados: 'Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos' (Jo 20, 22-23), manifestação preceptora da infusão dos demais dons do Espírito Santo por ocasião de Pentecostes. A paz de Cristo e o Sacramento da Reconciliação são reflexos incomensuráveis do amor e da misericórdia de Deus. 

E eis que se manifesta, então, o apóstolo da incredulidade, Tomé, tomado pela obstinação à graça: 'Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei' (Jo 20, 25). E o Deus de Infinita Misericórdia se submete à presunção do apóstolo incrédulo ao lhe oferecer as chagas e o lado, numa segunda aparição oito dias depois, quando estão todos novamente reunidos, agora com a presença de Tomé, chamado Dídimo. 'Meu Senhor e meu Deus!' (Jo 20, 28) é a confissão extremada de fé do apóstolo arrependido, expressando, nesta curta expressão, todo o tesouro teológico das duas naturezas - humana e divina - imanentes na pessoa do Cristo.

'Bem-aventurados os que creram sem terem visto!' (Jo 20, 29) é a exclamação final de Jesus Ressuscitado pronunciada neste Evangelho. Benditos somos nós, que cremos sem termos vistos, que colocamos toda a nossa vida nas mãos do Pai, que nos consolamos no tesouro de graças da Santa Igreja. E bem aventurados somos nós que podemos chegar ao Cristo Ressuscitado com Maria, espelho da eternidade de Deus na consumação infinita da Misericórdia do Pai. 

sábado, 15 de abril de 2023

O DOGMA DO PURGATÓRIO (LIV)

Capítulo LIV

Auxílio às Santas Almas - A Santa Missa - Santa Isabel e a Rainha Constança - São Nicolau de Tolentino e o pedido do amigo Pellegrino 

Lemos na Vida de Santa Isabel de Portugal [8 de julho] que, após a morte de sua filha Constança, ela ficou sabendo do lamentável estado da falecida no Purgatório e do preço que Deus exigiu pelo seu resgate. A jovem rainha, recém-casada com o rei de Castela, havia sido arrebatada por uma morte súbita do afeto da sua família e dos seus súditos. Isabel, assim que recebera a triste notícia, havia partido com o rei, seu esposo, para a cidade de Santarém, quando um eremita, saindo do seu isolamento, correu atrás do cortejo real, gritando que queria falar com a rainha. Os guardas o repeliram, mas a santa, vendo a persistência de suas intenções, deu ordem para que aquele servo de Deus fosse trazido à sua presença.

O homem relatou então que, enquanto estava rezando em seu convento, apareceu-lhe a Rainha Constança implorando que ele desse a conhecer urgentemente à sua mãe que ela estava padecendo nas profundezas do Purgatório, onde havia sido condenada a longos e terríveis sofrimentos, mas que seria libertada se, durante o período de um ano, o Santo Sacrifício da Missa fosse celebrado por ela todos os dias. Os cortesãos presentes ridicularizaram o eremita, tratando-o como um visionário, um impostor e um tolo. Isabel, dirigindo-se ao rei, perguntou o que ele achava de tudo: 'Eu acredito e seria sábio fazer o que lhe foi revelado de uma maneira tão extraordinária. E, afinal, mandar celebrar missas pelos nossos parentes falecidos nada mais é do que um dever paterno e cristão'. Um santo padre chamado Ferdinand Mendez foi nomeado para rezar as missas.

Ao final de um ano, Constança apareceu a Santa Isabel, vestida com um manto branco brilhante. 'Hoje, querida mãe' - disse ela - 'fui libertada das dores do Purgatório e estou prestes a entrar no Céu'. Cheia de consolo e alegria, a santa dirigiu-se à igreja para agradecer a Deus. Lá  encontrou o padre Mendez que assegurou a ela que, que no dia anterior, havia terminado a celebração das trezentas e sessenta e cinco missas que lhe haviam sido confiadas. A Rainha então entendeu que Deus havia cumprido a promessa que Ele havia feito ao piedoso eremita  e testemunhou a sua gratidão distribuindo abundantes esmolas aos pobres.

'Vós nos livrastes dos que nos afligem, e e envergonhastes os que nos odeiam' (Salmo 43). Tais foram as palavras dirigidas ao ilustre São Nicolau de Tolentino pelas almas pelas quais ofereceu o Santo Sacrifício da Missa. Uma das maiores virtudes desse admirável servo de Deus, diz o Padre Rossignoli, foi a sua caridade e sua devoção à Igreja Padecente (Merv., 21; Vie de Saint Nic. de Tolentino, 10 set.). Por ela, jejuava frequentemente a pão e água, infligia disciplinas cruéis a si mesmo e usava em torno da cintura uma pesada corrente de ferro. Quando estava para receber a dignidade do sacerdócio, hesitou muito antes de receber as ordens sagradas, mas assim o fez, com o pensamento de que, celebrando diariamente o Santo Sacrifício, poderia ajudar com muito mais eficácia as almas sofredoras do Purgatório. Por outro lado, as almas que ele socorreu com tantos sufrágios apareceram-lhe várias vezes para lhe agradecer ou para se recomendar à sua caridade.

Ele vivia perto de Pisa, inteiramente ocupado com os seus exercícios espirituais, quando em um sábado à noite viu em sonho uma alma em sofrimento, que lhe rogava que celebrasse a Santa Missa na manhã seguinte por ela e por várias outras almas que sofriam terrivelmente em Purgatório. O santo reconheceu a voz, mas não conseguia lembrar-se claramente da pessoa que falava com ele. 'Eu sou' - disse a aparição - 'o seu amigo falecido Pellegrino d'Osimo. Pela Divina Misericórdia, escapei do castigo eterno pelo meu arrependimento, mas não do castigo temporal devido aos meus pecados. Venho em nome de muitas almas infelizes como eu para pedir-vos que amanhã celebreis a Santa Missa por nós e, por meio dela, esperamos a nossa libertação ou pelo menos receber um grande alívio'. O santo respondeu, com a sua habitual amabilidade: 'Que Nosso Senhor se digne aliviar-te pelos méritos do seu precioso Sangue! Mas esta missa pelos mortos não posso rezar amanhã, pois devo cantar a Missa conventual em coro'. 'Ah! pelo menos venha comigo' - respondeu a aparição, entre gemidos e lágrimas - 'Eu te imploro, pelo amor de Deus, que venha e veja nossos sofrimentos e se é possível recusar as nossas súplicas e nos deixar sofrer tão severas agonias.

Pareceu ao santo então ter sido transportado ao Purgatório. Ele viu como que uma vasta planície, onde uma imensa multidão de almas, de todas as idades e condições, padeciam de torturas de todo tipo e terríveis de se ver. Por gestos e palavras, as almas imploravam por auxílio: 'Eis' - disse Pellegrino- 'o estado de sofrimento daqueles que me enviaram a você. Visto que sois agradável ​​aos olhos de Deus, temos confiança de que Ele nada recusará à oblação do Sacrifício por vós oferecido e que a sua Divina Misericórdia nos livrará'. Diante dessa terrível visão, o santo não pôde conter as lágrimas. Imediatamente pôs-se em oração para consolá-los dos tormentos e, na manhã seguinte, dirigiu-se ao prior, relatando-lhe a visão que tivera e o pedido de Pellegrino sobre a missa daquele dia. O Padre Prior, partilhando a sua emoção, dispensou-o de pronto de rezar a missa conventual,  no dia e no resto da semana, para poder assim oferecer o Santo Sacrifício pelos falecidos e dedicar-se inteiramente ao alívio das almas sofredoras. Agradecido por tal permissão, Nicolau dirigiu-se à igreja e celebrou a Santa Missa com extraordinário fervor. Durante toda a semana continuou a celebrar o Santo Sacrifício pela mesma intenção, além de oferecer orações diurnas e noturnas pelas almas, além de outras penitências e todo tipo de boas obras.

No final da semana, Pellegrino apareceu novamente diante dele, mas agora não mais em estado de sofrimento, mas revestido com uma roupa branca e o esplendor de uma luz celestial, que envolvia também um grande número de outras almas. Todos o agradeceram, chamando-o de libertador; então subindo em direção ao Céu, eles entoaram estas palavras do salmista: Salvasti nos de affligentibus nos, et odientes nos confudisti - 'Vós nos livrastes dos que nos afligem, e e envergonhastes os que nos odeiam' (Salmo 43), sendo que os inimigos aqui mencionados constituem os pecados e os demônios, os seus instigadores.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.

sexta-feira, 14 de abril de 2023

ORAÇÃO DIÁRIA DAS TRÊS AVE MARIAS

Nossa Senhora revelou a oração diária das Três Ave Marias a Santa Matilde de Hackeborn (século XIII). Esta devoção constitui um instrumento de louvor, agradecimento e adoração da Mãe de Deus a tantos privilégios recebidos da Santíssima Trindade. Depois do Poder do Pai, da Sabedoria do Filho e do Amor misericordioso do Espírito Santo, nada se compara ao Poder, à Sabedoria e ao Amor misericordioso de Nossa Senhora. Por meio dessa devoção diária, Nossa Senhora prometeu à alma devota o seu auxílio e amparo durante toda a vida e especialmente na hora da sua morte, neste caso em presença viva como sinal das divinas consolações. 


'Maria, minha mãe; livrai-me de cair em pecado mortal'

Pelo Poder que o Pai Eterno vos concedeu:
(rezar a Primeira Ave Maria)

Pela Sabedoria que o Filho vos concedeu:
(rezar a Segunda Ave Maria)

Pelo Amor que o Espírito Santo vos concedeu:
(rezar a Terceira Ave Maria)

Ó Maria, por vossa Imaculada Conceição, purificai o meu corpo e santificai a minha alma!
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre. Amém.

(devoção aprovada pelo papa Leão XIII)

quinta-feira, 13 de abril de 2023

SOBRE A COMUNHÃO DOS SANTOS


A Irmã Maria da Eucaristia queria acender as velas para uma procissão e, como não tinha fósforos, vendo a lamparina que ardia diante das relíquias, dela se aproximou, mas a encontrou quase apagada, não lhe restando senão uma pálida luzinha no pavio carbonizado.

Apesar disso, conseguiu acender a sua vela e, a partir dela, as da comunidade toda que, daí a pouco, tinha todas as velas acesas. Foi, pois, esta pequena lamparina, quase extinta, que se produziu outras chamas seguras, as quais, por sua vez, puderam produzir uma infinidade de outras e até incendiar o universo. No entanto, se quiséssemos determinar a origem desse incêndio, seria preciso reportar-nos sempre àquela minúscula lamparina. Como poderiam então as outras chamas, sabendo disso, gloriar-se de ter causado tamanho incêndio, uma vez que apenas foram acesas por contágio da pequena centelha? 

... O mesmo se passa com a comunhão dos santos. Sem o sabermos, muitas vezes as graças e as luzes que recebemos ficam a dever-se a uma alma escondida, porque o Deus de bondade quer que os santos comuniquem uns aos outros a graça através da oração, para poderem depois dedicar uns aos outros um grande amor no Céu, um amor muito maior do que o de qualquer família da terra, mesmo a mais perfeita.

Quantas vezes pensei que todas as graças que recebi se deveram à oração que uma qualquer boa alma tenha feito por mim ao Deus de amor, e que só no Céu conhecerei. Sim, uma pequena centelha basta para fazer nascer grandes clarões em toda a Igreja, como doutores e mártires, que ocuparão no Céu um lugar bem acima do dela; mas nem por isso se pode concluir que a glória deles não será também a dela, porque no Céu não haverá olhares indiferentes ─ todos reconhecerão que se devem mutuamente as graças que lhes mereceram essa coroa de glória.

(Santa Teresa de Lisieux, Últimos Colóquios)