sexta-feira, 30 de setembro de 2022

OS TRÊS DEGRAUS DA SABEDORIA MUNDANA

1. A sabedoria do mundo é terrestre e visa apenas os bens da terra. E desta sabedoria fazem secreta profissão os sábios mundanos, quando apegam o coração ao que possuem e se empenham em tornar-se ricos. Quando intentam processos e demandas inúteis para obter dinheiro ou para conservá-lo. Quando não pensam, não falam não agem, senão para alcançar ou conservar qualquer ganho terreno; a confissão, a oração e tudo o mais fazem superficialmente, como quem se desempenha de um ônus, a raros intervalos, para salvar as aparências.

2. A sabedoria do mundo é carnal, pelo amor ao prazer. E desta sabedoria fazem profissão os sábios mundanos, quando buscam apenas os prazeres dos sentidos. Quando gostam de boa mesa. Quando de si afastam tudo o que poderia mortificar ou incomodar o corpo, como os jejuns e as austeridades. Quando, ordinariamente, não pensam mais que em comer, beber, divertir-se, rir, passar agradavelmente o tempo. Quando andam em busca de leitos confortáveis, jogos que divirtam, festas agradáveis, companhias mundanas. E depois que sem escrúpulos se deram todos esses prazeres, vão atrás de um confessor - o menos escrupuloso que encontrarem - a fim de obter assim, por pouco preço, a paz em sua vida sensual e útil, e a indulgência plenária de todos os pecados.

3. A sabedoria do mundo é diabólica, porque é um amor pela estima e pelas honras. E desta sabedoria fazem profissão os sábios mundanos, quando aspiram, muito embora secretamente, grandezas, honras, dignidades e cargos elevados. Quando se esforçam para serem vistos, estimados, louvados e aplaudidos pelos homens. Quando não colimam em seus estudos, trabalhos, lutas, senão a estima e louvor dos homens, a fim de que sejam tidos por honestos, sábios, grandes líderes, sábios jurisconsultos, pessoas de infinito mérito e grande consideração. Quando não podem suportar o desprezo e a repressão. Quando escondem o que têm de falhas e só mostram o que possuem de belo.

É preciso, com Jesus Cristo, detestar e condenar estas sabedorias falsas, a fim de obter a verdadeira, que não busca seu interesse, que não é da terra, nem se encontra no coração dos que vivem em comodismo e que abomina tudo o que é grande e prestigioso aos olhos dos homens.

(São Luís Maria Grignion de Montfort)

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (LIV)

RAINHA CONCEBIDA SEM PECADO ORIGINAL, rogai por nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

29 DE SETEMBRO - SÃO MIGUEL ARCANJO

  

(São Miguel com elmo e armadura medieval - Catedral de Bruxelas)

'Houve uma batalha no Céu: Miguel e os seus Anjos guerrearam contra o Dragão. O Dragão batalhou, juntamente com os seus Anjos, mas foi derrotado e não se encontrou mais um lugar para eles no Céu' (Ap 12, 7-8).

'Naquele tempo, surgirá Miguel, o grande Príncipe, constituído defensor dos filhos do seu povo e será tempo de angústia como jamais houve' (Dn 12, 1).

Assim como Lúcifer é o chefe dos demônios, Miguel é o maior dentre os anjos, Príncipe das milícias celestes, protetor da Santa Igreja e da humanidade contra as forças do inferno. Assim, a designação de arcanjo (oitavo coro dos anjos) tem sentido genérico e nominativo, pois certamente São Miguel, sendo o primeiro dentre os Anjos, é o maior dos serafins. Dentre os vários santuários destinados à devoção ao Arcanjo São Miguel, Príncipe das milícias celestes, destaca-se aquele localizado no Monte Saint Michel na França, cuja foto constitui a abertura e o símbolo deste blog.

(Santuário de São Miguel - Monte Saint Michel/França)

São Miguel, rogai por nós!
Intercedei a Deus por nós!

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO, ROGAI POR NÓS!

 'Bendito seja o teu nome, ó Deus de nossos pais, que no tempo da aflição, perdoas os pecados aos que te invocam' (Tb 3, 13)


Eis que chegados como nunca os tempos da aflição, invoquemos a Deus pela oração de Tobias, suplicantes pelo perdão dos pecados dos que vivemos no santo temor de Deus. E invoquemos aos Céus pelas divinas consolações. A Providência Divina será sensível às petições de tão poucos - pequenez sublimada de nada - que pelo menos ousam confrontar o oceano de iniquidades que busca submergir a todos? E quais outros Lázaros, mendigos de Abraão suplicante, pode-se contar que restarão ainda em cada canto pelo menos dez justos (Gn 18)?


Temos melhor sorte que Sodoma pois temos agora Nossa Senhora. Nossa Senhora da Consolação. A Mãe de Deus, a mãe daquele que é a nossa única e verdadeira consolação - Jesus Cristo. Jesus é a fonte de todas as graças e de todo poder. A fonte perene de todas as consolações, na qual Maria está sempre presente e na qual pode encher muitas talhas de águas vivas. E as fazer, pela ação dos anjos guardiães, derramar em abundância sobre todos nós, pobres pecadores, para consolo de nossas aflições.

Que Nossa Senhora da Consolação possa interceder por nós no próprio Coração de Deus, como privilegiada Mãe que adentra ao mais íntimo do Sagrado Coração de Jesus. Que, neste Coração de Amor Infinito, encha as talhas de água viva e as reparta sobre os seus filhos nesta terra de aflições. Que o Brasil e o povo brasileiro sejam iluminados nestes dias decisivos por santas consolações. E que, assim, possamos ser mais do que apenas um pequeno resto, mas uma nação livre, fiel e santa, ainda e sempre a Terra da Santa Cruz!

Nossa Senhora da Consolação, rogai por nós!

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (LIII)

RAINHA DE TODOS OS SANTOS, rogai por nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

terça-feira, 27 de setembro de 2022

27 DE SETEMBRO - SÃO VICENTE DE PAULO

 

Filho de camponeses, Vicente de Paulo nasceu na pequena aldeia de Pay, região de Bordéus e dos Pirineus, em 24 de abril de 1575. Iniciou seus estudos com os franciscanos em Dax, formando-se mais tarde em teologia em Toulouse, onde tornou-se sacerdote em 23 de setembro de 1600. Forjava-se ali um dos maiores e mais belos exemplos da santificação e de apostolado missionário de toda a história da Igreja. 

Foi o fundador da Companhia da Missão (padres lazaristas) devotada à evangelização dos pobres e co-fundador da Congregação das Filhas da Caridade, cuja primeira superiora foi Santa Luísa de Marillac. Inspirado por seu amor a Deus e aos homens, Vicente de Paulo foi o criador de muitas obras de caridade e de piedade cristãs, às quais devotou toda a sua vida, pautada na missão de levar e viver plenamente o Evangelho de Cristo junto aos pobres, aos doentes, aos renegados, aos presos, aos desvalidos do mundo. O seu exemplo e seus ensinamentos inspiraram, mais tarde, em 1833, a criação das chamadas Conferências Vicentinas, que projetaram o legado da ação e das obras de caridade do santo ao mundo inteiro.




Este grande amigo e benfeitor dos mais necessitados faleceu em 27 de setembro de 1660 e seu corpo foi sepultado na igreja de São Lázaro (ou capela dos Lazaristas) em Paris, sendo encontrado praticamente incorrupto, quando exumado 52 anos após a sua morte. O coração do santo é conservado em um relicário na Capela de Nossa Senhora Milagrosa, também em Paris. Foi canonizado em 1737 pelo Papa Clemente XII e declarado patrono de todas as obras de caridade da Santa Igreja, em 1885, pelo papa Leão XIII.

São Vicente de Paulo, rogai por nós!

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XL)

 

Capítulo XL

Razões da Expiação no Purgatório - Pecados Contra a Caridade e o Respeito ao Próximo - São Luís Bertrand e o Jovem Religioso - Padre Nieremberg - Santa Margarida e o Religioso Beneditino 

A verdadeira caridade é humilde e indulgente para com os outros, respeitando-os como se fossem seus superiores. As suas palavras são sempre amigas e cheias de consideração pelos outros, não tendo nada de amargura ou de frieza, nada de desprezo, porque deve nascer de um coração manso e humilde como o de Jesus. Ela também evita cuidadosamente tudo o que poderia perturbar a unidade; ela toma todos os meios, faz todos os sacrifícios para efetuar uma reconciliação, de acordo com as palavras de nosso Divino Mestre: 'se você oferecer sua oferta no altar, e lá você se lembrar de que seu irmão tem alguma coisa contra você, deixe sua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-se com teu irmão, e depois, vindo, oferecerás a tua oferta' (Mt 5, 23).

Um religioso que feriu a caridade em relação a São Luís Bertrand recebeu um terrível castigo após a morte. Ele foi lançado no fogo do Purgatório e que teve de suportar esse sofrimento até satisfazer a Justiça Divina; mais ainda, não poderia ser admitido na morada dos eleitos até que tivesse realizado um ato de reparação exterior, que deveria servir de exemplo para os vivos. O fato é assim relatado na vida desse santo.

Quando São Luís Bertrand, da Ordem de São Domingos, residia no convento de Valência, havia na comunidade um jovem religioso que dava demasiada importância à ciência profana. Sem dúvida, as letras e a erudição têm seu valor mas, como declara o Espírito Santo, devem ceder ao temor de Deus e à ciência dos santos: scientiam sed non est super timentem Deum - nenhuma ciência é tão grande quanto aquele que teme o Senhor (Eclo 25,13). Esta ciência dos santos, que a Sabedoria Eterna veio nos ensinar, consiste na humildade e na caridade. O jovem religioso de quem falamos, embora pouco avançado na ciência divina, permitiu-se repreender o padre Bertrand por seu pouco conhecimento e disse-lhe: 'Vê-se, padre, que você não é muito instruído!' 'Irmão' - respondeu o santo com firmeza mansa - 'Lúcifer era muito instruído e ainda assim se condenou'.

O irmão que cometeu esta falta não pensou em repará-la. Não obstante, não era um mau religioso e, algum tempo depois adoecendo gravemente, recebeu os últimos sacramentos com muito boa disposição e expirou pacificamente no Senhor. Decorreu um tempo considerável e Bertrand foi nomeado prior. Um dia, tendo permanecido no coro depois das matinas, o defunto apareceu-lhe envolto em chamas e, prostrando-se humildemente diante dele, disse: 'Padre, perdoe-me as palavras ofensivas que um dia eu lhe dirigi. Deus não permitirá que eu veja o seu rosto até que você tenha perdoado a minha culpa e rezado a Santa Missa em minha intenção'. O santo o perdoou de bom grado e, na manhã seguinte, celebrou a missa pelo descanso de sua alma. Na noite seguinte, estando novamente no coro, viu reaparecer o irmão falecido, agora radiante de glória e se elevando ao Céu.

Padre Eusébio Nieremberg, religioso da Companhia de Jesus, autor do belo livro Diferença entre Tempo e Eternidade, residiu no Colégio de Madri, onde morreu em odor de santidade em 1658. Este servo de Deus, que era singularmente devoto pelas almas do Purgatório, estava um dia rezando na igreja do colégio por um padre recém-falecido. O falecido, que por muito tempo havia sido professor de teologia, provou ser um religioso tão bom quanto um teólogo erudito; ele havia se distinguido por sua grande devoção à Santíssima Virgem, mas um vício havia se insinuado entre suas virtudes – ele não era caridoso em suas palavras e frequentemente falava das faltas de seu próximo. 

No momento em que o padre Nieremberg estava reverenciando a sua alma a Deus, este religioso apareceu e revelou-lhe o estado de sua alma. Ele tinha sido condenado a terríveis tormentos por ter falado frequentemente contra a caridade. Sua língua, instrumento de sua culpa, foi torturada por um fogo devorador. A Santíssima Virgem, em recompensa da terna devoção que ele tinha por ela, obteve permissão para que ele viesse pedir orações e, ao mesmo tempo, servir de exemplo para os outros, para que aprendessem a ser cautelosos em todas as suas palavras. Padre Nieremberg, após ter feito muitas orações e penitências por ele, logrou finalmente obter a sua libertação. 

O religioso que se faz menção na vida da bem-aventurada Margarida Maria, pelo qual aquela serva de Deus teve que sofrer tão terrivelmente durante três meses, entre outras faltas, foi punido também pelos seus pecados contra a caridade. Assim foi relatada essa revelação. A bem-aventurada Margarida Maria, estando um dia diante do Santíssimo Sacramento, viu-se de repente diante de um homem totalmente envolto em chamas, cujo fogo era tão intenso que lhe pareceu prestes a consumi-la também. O estado lastimável em que se encontrava esta pobre alma a fez cair em lágrimas. O homem era um religioso beneditino do mosteiro de Cluny, a quem ela havia se confessado no passado, com um grande bem à sua alma, ordenando-lhe que recebesse a Sagrada Comunhão. Em compensação por esse serviço, Deus permitiu que a sua alma pudesse dirigir-se à Margarida, para assim obter algum alívio para os seus sofrimentos.

A pobre alma implorou então que tudo que ela fizesse ou sofresse durante três meses fosse aplicado em sua intenção. Após pedir a devida permissão, ela assim o prometeu. Ele revelou então que a causa principal do seu grande sofrimento foi de ter sempre buscado os seus próprios interesses e não a glória de Deus e o bem das almas, dando assim demasiada importância à sua reputação. A segunda causa teria sido a sua falta de caridade para com os seus irmãos. A terceira, a afeição natural por criaturas a quem, por fraqueza, se rendera e às quais dera provas desta predileção em suas orientações espirituais, o que - acrescentou - teriam em muito desagradado a Deus.

É difícil dizer tudo o que a serva de Deus sofreu durante os três meses seguintes. O falecido nunca a deixou, sempre postado ao seu lado e envolto em chamas que a consumiam em dores excruciantes, que a faziam chorar sem cessar. A sua superiora, movida pela compaixão, ordenou-lhe penitências e disciplinas severas, porque a dor e o sofrimento destas coisas muito a aliviavam. Os tormentos - ela dizia - que a santidade de Deus lhe imprimia eram absolutamente insuportáveis. E eram apenas uma amostra do sofrimento suportado pelas pobres almas do Purgatório.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)