segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

TESOURO DE EXEMPLOS (125/127)


125. OLÁ! VOCÊ VIROU CAROLA?

Pedro Jorge Frassati, falecido santamente em Turim em 4 de abril de 1925, era filho de um ilustre embaixador. Muito rico, conservou, entretanto, sua inocência, sua fé e um coração extremamente sensível às misérias alheias. Tornou-se um campeão de Cristo e um apóstolo do bom exemplo. Frassati não era desses que só praticam a religião quando encerrados dentro de quatro paredes. A propósito lê-se em sua biografia o seguinte fato.

Um dia, ao sair de uma igreja, conservava ainda na mão o seu rosário. Um conhecido passando por ali justamente naquele momento e, não perdendo a ocasião, diz-lhe, mofando:
➖ Olá, Jorge! você virou carola?
E Jorge, sem se perturbar, respondeu prontamente:
➖ Não; eu continuo apenas um bom cristão; e disso não me envergonho, antes me glorio.

Antes de expirar - e contava então somente vinte e quatro anos de idade - Frassati fez a seguinte profissão de fé: 'Cada dia compreendo melhor a graça de ser católico. Pobres, infelizes os que não têm fé. Viver sem a fé, sem uma herança que se possa defender, sem uma verdade que se possa sustentar por um combate contínuo, não é viver, é vegetar. Não devemos vegetar, devemos viver; porque, apesar de todas as decepções, devemos lembrar-nos sempre que somos os únicos a possuir a verdade. Temos uma fé que defender, e a esperança de chegar à nossa Pátria. Para o alto os corações e avante sempre pelo triunfo do reinado de Cristo na sociedade. E Jorge Frassati foi um desses apóstolos do reino de Cristo na sociedade; foi um militante da Ação Católica, foi um combatente ardoroso até à morte.

126. A COLEGIAL QUE SE CONVERTEU

Estudava em um colégio de irmãs uma menina de treze anos apenas. Era uma alma forte; era um coração indômito. Não sei o que tinha aquela criatura, mas exercia uma influência poderosa sobre todas as colegas que viviam com ela. Quando pregava a revolução entre as suas companheiras, contra as ordens das Irmãs, a revolução estalava tumultuosa, e só a mão forte da Superiora conseguia impor de novo a disciplina.

Um dia aquela menina altiva e insolente foi severamente repreendida e castigada. Aquela tarde não poderia sair a passeio com as colegas. Tinha que ficar no colégio, escrevendo cem vezes estas palavras: 'Primeiro mandamento da lei de Deus: Amarás o senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças'.

Ficou na sala vigiada por uma professora. Pôs o papel diante de si e começou a escrever: 'Primeiro mandamento da lei de Deus: Amarás o senhor, teu Deus...' E continuou escrevendo... Logo estava cansada. Largou a pena e passou os olhos pela sala. Bem em frente, pendurada na parede, estava uma imagem de Jesus Crucificado. Contemplou-o como jamais o contemplara. Parecia-lhe que aquelas palavras que acabava de escrever, a ela eram dirigidas por aquele santo Cristo, que tinha diante dos olhos. Lentamente, solenemente, com acento de ternura, com olhos cheios de lágrimas, dizia-lhe aquele Deus amoroso: 'Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração'...

O que se passou então naquela alma forte e naquele coração indômito, que lhe saltaram as lágrimas e ali mesmo se ajoelhou e se fixaram longo tempo os olhos daquele Deus-Amor e daquela menina-revolução? Em seguida levantou-se e pediu humildemente licença à mestra para ir uns instantes à capela. Tinha sede de falar de mais perto com Deus e Deus estava ali, a dois passos dela, no sacrário.

Quando se levantou estava transformada. Desde aquele dia foi a santa do colégio. Anos mais tarde, quando o capelão e o confessor falavam dela, diziam: 'as almas ou são grandes santas ou grandes pecadoras'. Naquela tarde de sua vida começou a ser santa e o foi até o fim, até o heroísmo.

127. COMO MORRE UM VIGÁRIO

O pároco de Constantina, em terras de Sevilha, era um homem de fé ardente. Prenderam-no os bárbaros comunistas, lançaram-no numa asquerosa prisão, deram-lhe muitas pauladas, negaram-lhe todo o alimento e, por fim, fizeram em nome do comunismo o que não poderiam deixar de fazer, isto é, saquearam a casa paroquial e a igreja.

Mas foram mais longe: conduziram-no à praça pública e ali o apresentaram àqueles mesmos paroquianos pelos quais ele havia trabalhado durante vinte e seis anos. A multidão, enfurecida pelos vermelhos, saciou contra ele o seu ódio vil. Levaram-no outra vez à igreja. Cinco dias durava já o martírio; há cinco dias que não via sua querida igreja paroquial. Ao entrar nela voltou-se com grave dignidade para aqueles sacrílegos, e lhes disse:
➖ Perdoo-vos o que a mim me tendes feito; mas profanastes a igreja de Deus e sentireis o peso da justiça divina.

Aproximou-se do altar do Santíssimo e... que dor! Viu que as sagradas partículas tinham sido atiradas ao chão. Quis ajuntá-las, mas não pôde. Derrubaram-no por terra e ali mesmo o golpearam barbaramente. Quando quis dizer: 'Viva Cristo Rei!' não terminou, pois um vil assassino atravessou-lhe a cabeça com uma bala.

Alguns meses mais tarde, em 15 de dezembro, quando a cidade de Constantina caiu em poder das tropas espanholas, ordenou a câmara que desenterrassem o cadáver do pároco. Estava perfeitamente incorrupto. Tinha sobre o peito um crucifixo. Aquele santo Cristo se lhe incrustara completamente na carne. Conseguiram separá-los, mas a cruz ficou para sempre gravada no peito do mártir. Ficou incrustada a cruz em seu peito. Trazei também vós no coração o espírito de Jesus Cristo e, estou certo, não deixareis de perdoar a todos os vossos inimigos.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

domingo, 23 de janeiro de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Vossas palavras, Senhor, são espírito e vida!' (Sl 18B)

 23/01/2022 - Terceiro Domingo do Tempo Comum

9. O UNGIDO DO PAI


O Evangelho de São Lucas traduz, em larga escala, a personalidade ímpar do autor, de alguém que, embora possa não ter sido testemunha ocular dos acontecimentos narrados: 'como nos foram transmitidos por aqueles que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da palavra' (Lc 1, 2), elaborou uma obra regida particularmente pelo rigor da informação e por uma ordenação lógica dos eventos associados à vida pública de Jesus: 'após fazer um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o princípio, também eu decidi escrever de modo ordenado' (Lc 1, 3), o que a torna fruto do trabalho de um eminente escritor e historiador: 'Deste modo, poderás verificar a solidez dos ensinamentos que recebeste' (Lc 1, 4).

Desta forma, a par a semelhança e a mesma contextualização geral com os demais evangelhos sinóticos (São Mateus e São Marcos), o evangelho de São Lucas é pautado por uma visão própria, objetiva e cronológica da doutrina e dos ensinamentos públicos de Jesus (tempo presente da narrativa), inserida num contexto histórico do passado (Antigo Testamento) e do futuro (tempo da Igreja), incorporando, assim, um caráter muitíssimo pessoal e, portanto, original, à transcrição das mensagens evangélicas.

Após um preâmbulo típico do rigor objetivo do historiador, São Lucas desvela o instrumento de evangelização adotado por Jesus - a pregação pública e sua estrita observância, neste sentido, aos preceitos da Lei - a leitura, aos sábados, da palavra sagrada nas sinagogas. No seu primeiro retorno à Nazaré, foi convidado a ler e a comentar uma passagem do Livro de Isaías: 'Abrindo o livro, Jesus achou a passagem em que está escrito: O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor' (Lc 1, 17 - 19).

Ao recolher o rolo de pergaminho e se sentar, ao final da leitura 'todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele' (Lc 1, 20), porque, de certa forma, compreendiam a grandiosidade deste momento, que se materializou, então, com a manifestação direta e sucinta de Jesus: 'Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir' (Lc 1, 21), anunciando aos homens ser Ele o Ungido pelo Espírito Santo para fazer novas todas as coisas, para abrir os tempos do Messias esperado por todo Israel e para testemunhar aos homens a presença viva do Reino de Deus sobre a terra.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

A VIDA OCULTA EM DEUS: A MODÉSTIA DA ALMA

 

A alma interior ama a paz. Suas preferências a levam a uma vida muito simples. Ela tem gostos modestos. As ocupações mais humildes da vida cotidiana não a desagradam; muito pelo contrário. Ela se dedica a eles com prazer. Trabalha seu jardim em silêncio; cuida para que seja muito limpo e bem cultivado; encoraja pequenas virtudes; interessar-se pelas folhas de grama e pela flor que se abre e se desenvolve são coisas que a encantam. Pois, no seu entendimento, nada deve ser negligenciado quando se trata de tornar o próprio coração mais agradável ao Coração de Deus e aumentar em todos os pontos a sua semelhança com o coração de Jesus.

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte III - A União com Deus; tradução do autor do blog)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

A TERCEIRA GUERRA MUNDIAL

Vivemos, desapercebidos como soldados rasos e medíocres, a Terceira Guerra Mundial. Não, não é mais um conflito armado entre exércitos aliados e inimigos, resolvido à base de granadas, tanques ou mísseis. A Terceira Guerra Mundial é uma guerra silenciosa e quase escondida, que não se alimenta da violência das armas, mas que se constrói e se faz com o aniquilamento dos espíritos. Aniquilamento total, que busca subverter a ordem mundial, no seu todo, na sua plenitude. Não é mais a guerra mundial de alguns, é a guerra mundial que envolve toda e completamente a humanidade.

É uma guerra silenciosa que visa achincalhar a religião, destruir a Igreja de Cristo, despedaçar a família e o matrimônio, fomentar a discórdia em todos os níveis, criar como propósitos coerentes e genéricos a anarquia e a indisciplina em nome de psicoses do 'politicamente correto', alçar às nuvens os direitos de minorias em detrimento de todos os princípios e valores morais da tradição cristã; flagelos distintos, medonhos e fulminantes, mas todos planejados e moldados na mesma forja do inferno. 

Estamos na crista desse tsunami gigantesco da iniquidade. Eis o tempo do domínio da iniquidade: a verdade é contestada como fake news e as mentiras e calúnias mais absurdas são retocadas e plasmadas com o verniz da certeza absoluta. Vende-se o negacionismo como moeda de troca; compra-se a preço vil a verdade científica de farsantes e bufões travestidos de doutores; incensam a libertinagem como uma conquista histórica, mas profanam a liberdade com ouvidos moucos; cancelam vozes e lobotomizam consciências, mas se locupletam com o ronco medonho de suas crenças miseráveis; riem de tudo e de todos que proclamam Deus como esperança e se fartam das gargalhadas com que incensam os seus próprios demônios e os demônios alheios. 

A Terceira Guerra Mundial é o mistério da iniquidade exposto - a todos os homens, em tudo o que é humano, como um ato de revolta contra Deus e a Igreja de Deus. Essa guerra foi pré-anunciada em Fátima com todas as letras e consequências, mas foi propositalmente olvidada, obscurecida e maquiada, particularmente pela própria Igreja (a forma mais brutal de destruir um inimigo não é confrontá-lo com armas, mas tomar posse de si mesmo, pois assim não existe mais nem mesmo o inimigo). Tudo se converte em princípios universalmente impostos, os 'ismos' da nova era da humanidade: o fetichismo, o panteísmo, o ecumenismo, o socialismo, o indiferentismo, o cinismo, o abismo.

Os homens de bem, a legião dos justos, os católicos fervorosos, onde estão? Em alguma trincheira, em alguma casamata? Armados até os dentes, como novos cruzados? Entrincheirados, sim. Em masmorras, sim. Escondidos, sim. E tristemente submissos, derrotados, prostrados em terra, sob o frenesi da tormenta impiedosa. As ondas gigantescas dos males anunciam o poderio do caos. Um tsunami de pecados varre o mundo num dilúvio universal e a salvação eterna é apenas um souvenir sem mais valia ou uma tatuagem por fazer. O que realmente nos tornamos? 

Mas um dia - um breve dia - a grande onda vai despedaçar-se no rochedo e virar só espumas. As águas revoltas serão outra vez remanso. E tudo que nasceu e floresceu do homem será então destruído. O Espírito de Deus, pairando sobre as águas, há de fazer o despertar, o recomeço, o Deus Conosco, a ratificação outra vez da mesma aliança eterna. A porta estreita terá então o vão do mundo e o Céu será herança comum de todos os homens. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

POEMAS PARA REZAR (XL)

 

TRÊS ATALHOS


Quando tudo - tudo mesmo - parecer perdido

não ficando pedra sobre pedra do que o bem seria

sendo apenas trevas as sombras de quem tem vivido

buscando no mundo apenas ter Deus por Pai e guia


Há três remédios que plasmam todas as feridas

três palavras mágicas que ofuscam a iniquidade

são três segredos que abrem todas as jazidas

três coisas apenas que têm valor da eternidade.


Espera!

Confia!

Persevera!


Eis aí teu Céu, bendita alma lavrada entre cascalhos,

refém liberta da tormenta de espasmos e redemoinhos:

esperança, confiança, perseverança - três atalhos

que à porta estreita conduzem todos os caminhos.

(Arcos de Pilares)