sábado, 30 de outubro de 2021

ET SEPARABUNT...

Sairão pois os anjos; vede que ansiedade e que tremor será o dos corações dos homens naquela hora. Sairão os anjos e irão primeiramente ao lugar dos papas: Et separabunt (faz horror só imaginar, que em uma dignidade tão divina e em homens eleitos pelo Espírito Santo há de haver também que separar)... Et separabunt malos de medio justorum [e separarão os maus do meio dos justos (Mt 13, 49)]. E separarão os pontífices maus dentre os pontífices bons. Eu bem creio que serão muito raros os que se hão de condenar, mas haver de dar conta a Deus de todas as almas do mundo, é um peso tão imenso que não será maravilha que, sendo homens, levasse alguns à perdição. Todos nesta vida foram chamados a ser sacerdotes santos; mas o dia do Juízo mostrará que a santidade não consiste no nome, mas em obras. Nesta vida beatíssimos, na outra mal-aventurados: ó que grande miséria!

Sairão após estes outros anjos e irão ao lugar dos bispos e arcebispos: Et separabunt malos de medio justorum. Lá vai aquele porque não deu esmolas; aquele porque enriqueceu os parentes com o patrimônio de Cristo; aquele porque, tendo uma esposa, procurou outra melhor dotada; aquele porque faltou com o pastoreio da doutrina às suas ovelhas; aquele porque na sua diocese morreram tantas almas sem sacramentos; aquele por simonias; aquele por irregularidades; aquele por falta de exemplos da vida e também algum por falta de ciência necessária, empregando o tempo e o estudo em divertimentos, da corte e não de um prelado ou do campo e não de um pastor. 

Valha-me Deus, que confusão tão grande será! Mas que alegres e que satisfeitos estarão neste passo, um São Bernardino de Sena, um São Boaventura, um São Domingos, um São Bernardo, e muitos outros varões santos e sisudos que, quando lhes ofereceram as mitras, não quiseram subir à alteza da dignidade, porque reconheceram a do precipício. 

Por outro lado, que tais levarão os corações aqueles miseráveis condenados? Dirão: 'Maldito seja o dia em que nos elegeram, e maldito quem nos elegeu; maldito seja o dia em que nos confirmaram, e maldito quem nos confirmou'. Se um homem mal pode dar conta de sua alma, como poderá dar conta de tantas? Se este peso prostrou por terra os maiores gigantes da Igreja, quem não temerá e tenderá a fugir dele?

(Excertos dos Sermões do Pe. Antônio Vieira)

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

AS CORES DAS VESTES LITÚRGICAS


Nos primeiros séculos, a liturgia cristã foi muito despojada por duas razões principais: primeiro, para não imitar a liturgia judaica e nem os cultos pagãos, cujos cerimoniais eram muito pomposos; segundo, para não expor demasiado a Igreja às perseguições que acompanharam a sua implantação no vasto mundo romano. Assim, maior simplicidade implicava menor exposição e, neste sentido, em termos das cores das vestes, não se tinha distinção além da utilização de cores mais alegres para as celebrações festivas e de cores mais sombrias para os períodos de penitência.

A cor branca é a única que aparecia referenciada nos ritos batismais, como cor própria dos novos vocacionados. No século V, os bispos celebravam trajados de vestes brancas de linho e, aparentemente, vestes litúrgicas de cores alternativas só foram introduzidas na liturgia da Igreja a partir do século VIII. No Missal de São Pio V (1570), são mencionadas cinco cores distintas para as vestes litúrgicas: branca, vermelha, preta, verde e roxa.

O contexto das diferentes cores expressa o vínculo peculiar dos mistérios da fé e o sentido progressivo da vida cristã ao longo do ano litúrgico. Assim, a cor branca expressa alegria, pureza e  luz, sendo aplicada no Tempo Pascal, no Natal e em outras festas de celebração do Senhor (exceto Paixão) e também nas festas litúrgicas de Nossa Senhora, dos Anjos e dos Santos não mártires, nas solenidades de Todos os Santos e de São João Batista e nas festas de São João Evangelista, Cátedra de São Pedro e da Conversão de São Paulo.

Usamos a cor vermelha no Domingo de Ramos, na Sexta-Feira Santa, no Domingo do Pentecostes, nas celebrações da Paixão do Senhor, nas festas natalícias dos Apóstolos e Evangelistas e nas celebrações dos Santos Mártires (neste contexto, a cor vermelha expressa o sacrifício destes homens e mulheres como testemunhas da morte de Cristo).

A cor verde, símbolo da vida e da esperança, é aquela que se usa mais vezes durante o ano, nos domingos e dias feriais do Tempo Comum. Usa-se a cor roxa, símbolo da dor e da penitência, no Tempo do Advento e da Quaresma, podendo também usar-se nas missas de defuntos em substituição à cor preta, característica destes eventos. 

No III Domingo do Advento e no IV Domingo da Quaresma, podem ser utilizadas vestes cor-de-rosa, símbolo do alívio do roxo e, em datas especialmente solenes, podem ser trajados paramentos festivos ou mais nobres, ainda que não sejam da cor do dia, tipicamente incluindo ornamentos ou tecidos dourados, à guisa de ouro. Variantes destes regramentos gerais ou mesmo a utilização de cores não tradicionais em eventos especiais (por exemplo, vestes azuis na Solenidade de Nossa Senhora da Conceição), podem ser aplicadas, mas sempre como concessões especiais das respectivas conferências episcopais.

(texto adaptado do Secretariado Nacional de Liturgia, de Portugal)

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

ORAÇÃO PARA PEDIR A SABEDORIA


Concede-me, Deus misericordioso, que deseje com ardor o que Tu aprovas, que o procure com prudência, que o reconheça em verdade, que o cumpra na perfeição, para louvor e glória do Teu nome.

Põe ordem na minha vida, ó meu Deus, e permite-me que conheça o que Tu queres que eu faça, e que o cumpra como é necessário e útil para a minha alma. Que eu chegue a Ti, Senhor, por um caminho seguro e reto; caminho que não se desvie nem na prosperidade nem na adversidade, de tal forma que Te dê graças nas horas prósperas e nas adversas conserve a paciência, não me deixando exaltar pelas primeiras nem me abater pelas segundas.

Que nada me alegre ou entristeça, exceto o que me conduza a Ti ou de Ti me separe. Que eu não deseje agradar nem receie desagradar senão a Ti. Tudo o que passa torne-se desprezível aos meus olhos por Tua causa, Senhor, e tudo o que Te diz respeito me seja caro, mas Tu, meu Deus, mais do que o resto. Que eu nada deseje fora de Ti.

Concede-me, Senhor meu Deus, uma inteligência que Te conheça, uma vontade que Te busque, uma sabedoria que Te encontre, uma vida que Te agrade, uma perseverança que Te espere com confiança e uma confiança que te possua enfim. Concede-me ser atormentado com as Tuas dores pela penitência, recorrer no caminho aos Teus benefícios pela graça, gozar das Tuas eternas alegrias sobretudo na pátria pela glória. Tu que vives e reinas pelos séculos dos séculos. Amém.

(São Tomás de Aquino)

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

O NASCIMENTO DE JOÃO PAULO II

 
(Karol Wojtyla com os seus pais Karol e Emilia Wojtyla)

João Paulo II nasceu em 18 de maio de 1920, em Wadowice, na Polônia. O que não se sabe comumente é que o futuro papa nasceu de uma gravidez difícil e de alto risco, e que a sua mãe foi aconselhada pelo seu médico à época para fazer o aborto.

A mãe de João Paulo II - Emilia Wojtyla - ficou bastante deprimida com a recomendação do seu médico particular - o Dr. Jan Moskała - para abortar, pois correria sérios riscos de morte durante o parto.  Além de não optar pelo aborto, Emilia buscou a orientação de um segundo médico - Dr. Samuel Taub, um médico judeu de Cracóvia, que havia se mudado para Wadowice após a Primeira Guerra Mundial. Este segundo médico reconheceu e manifestou à gestante os riscos inerentes à gravidez em curso mas, em momento algum, sugeriu a interrupção da mesma.

E realmente a gravidez transcorreu com dificuldades: Emilia ficava a maior parte do tempo em repouso absoluto, com alimentação controlada e sentindo-se muito prostrada. No dia do nascimento de Karol Wojtyla, enquanto a mãe passava pelos últimos procedimentos para o parto no apartamento da família e sob a supervisão de uma parteira, o seu marido e o filho Edmund, de 13 anos, saíram de casa por volta das 17h, para rezar o Ofício Divino na igreja paroquial que ficava bem em frente à casa, do outro lado da rua.

No momento em que era entoada a Ladainha de Loreto em honra a Nossa Senhora, Emilia pediu à parteira que abrisse a janela, para que o primeiro som que seu filho pudesse ouvir fosse um cântico de louvor a Nossa Senhora. Emília Wojtyla deu à luz o seu filho, ouvindo a canção da Ladainha de Loreto. João Paulo II, muitos anos depois, afirmou ao seu secretário particular - Pe. Stanislaw Dziwisz - que ele nasceu ao som da ladainha em honra da Mãe de Deus e que havia sido eleito papa na mesma hora do dia em que nasceu.

Emilia Wojtyla morreu de ataque cardíaco e insuficiência hepática em 1929, quando o jovem Karol Wojtyla estava a um mês de seu nono aniversário. As causas de santidade em favor dos pais de São João Paulo II já foram formalmente abertas na Polônia. Karol, um tenente do exército polonês, e Emilia, uma professora escolar, casaram-se em Cracóvia em 10 de fevereiro de 1906. O casal católico deu à luz três filhos: Edmund em 1906; Olga, que morreu logo após o seu nascimento; e Karol em 1920.

terça-feira, 26 de outubro de 2021

TESOURO DE EXEMPLOS (107/109)

 

107. NÃO TERIA SIDO UM ANJO?

Pio IX (1846-1878), o grande papa da Imaculada, era filho do conde Mastai-Ferreti. Quando menino, costumava ajudar à missa, na capela doméstica dos seus pais. Um dia, estando ajoelhado no degrau do altar, notou que, do lado oposto, um vulto o chamava por sinais.

O menino teve medo de sair do seu lugar. Mas, como viu que o vulto insistia, cada vez mais, deixou o lugar e passou para o outro lado onde se achava aquele vulto. Naquele mesmo instante, desprendeu-se do teto uma grande estátua que caiu exatamente no lugar onde o coroinha, havia poucos segundos, estava ajoelhado. É que os Santos Anjos protegem as crianças de um modo maravilhoso.

108. INSPIRAÇÃO DO ANJO DA GUARDA

Em um dia de 1890, 31 crianças da escola de uma aldeia na Boêmia foram a passeio pelos campos vizinhos. Estando ali, desencadeou-se uma furiosa tempestade que as obrigou a se refugiarem debaixo de uma grande árvore até que cessassem a chuva e os raios.

De repente uma das meninas se sentiu impelida a sair daquele abrigo, gritando:
➖ Vamo-nos embora! - e pôs-se a correr.
Seguiram-na instintivamente todas as crianças. Apenas se haviam afastado um pouco, caiu um raio naquela árvore, causando enorme estrago. Os pais das crianças, gratos aos Santos Anjos, ergueram ali um grande cruzeiro para perpetuar a lembrança do acontecimento.

109. PERDOAR AOS INIMIGOS

João Gualberto era homem como outros. Trazia uma espada à cinta e costumava viver metido em brigas e desafios. Tinha um irmão a quem amava com toda a sua alma. Um dia, porém, um malvado matou o seu irmão. Gualberto conhecia muito bem o assassino, e daquele dia em diante procurava ocasião de varar-lhe o peito com a sua espada. Ele o havia jurado e assim o faria.

Era uma Sexta-feira Santa. João Gualberto montou a cavalo e saiu passear pelo campo. Foi andando até que se meteu num caminho estreito entre penhascos muito altos. Nesse momento, vê que vem ao seu encontro um viandante... fixa-o... conhece-o... e, veloz como um raio, salta de seu cavalo. Era o assassino de seu irmão. Ali o tinha diante de si; podia saciar seus desejos de vingança, e grita:
➖Canalha! assassino! Por Barrabás que agora mesmo morres em minhas mãos.

E, desembainhando a espada, lança-se sobre o outro. Nesse momento, o assassino, que vinha desarmado, prostra-lhe aos pés e, com voz angustiosa e com os braços em cruz, dirigia ele esta súplica:
➖ Irmão, hoje é Sexta-feira Santa; por amor de Cristo crucificado, perdoa-me!

O que se passou então no coração de Gualberto? Conteve-se; ergueu os olhos ao céu... olhou para a cruz gravada em sua espada. Pensou em Jesus Cristo que, do alto da cruz, perdoara aos seus crucificadores...
➖ Irmão - disse Gualberto ao assassino - por amor a Jesus Cristo eu te perdoo!

Despediram-se. O assassino afastou-se, arrependido e dando graças a Deus. Gualberto entrou numa capela que encontrou no caminho. Ajoelhou-se diante do Cristo que ali estava pregado na cruz. Tirou a espada, suspendeu-a aos pés daquela Vítima Divina e jurou aos pés da mesma deixar tudo e enveredar pelo caminho da santidade. E assim o fez e a Igreja comemora a sua santificação em 12 de julho.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

O LIVRE ARBÍTRIO E A SALVAÇÃO ETERNA

Por que é aparentemente tão difícil salvar a nossa alma? Por que - como nos é dito - poucas almas são salvas em comparação com o número de almas condenadas? Visto que Deus deseja que todas as almas sejam salvas (I Tm 2, 4), por que Ele não tornou isso um pouco mais fácil, como certamente poderia ter feito?

A resposta rápida e simples é que não é tão difícil salvar a nossa alma. Parte da agonia das almas no Inferno é o conhecimento claro de como teria sido fácil evitar a condenação. Os não católicos condenados podem dizer 'Eu sabia que havia alguma verdade no catolicismo, mas decidi nunca perguntar porque eu podia ver que, no futuro, eu teria que mudar o meu estilo de vida' (Winston Churchill disse uma vez que todo homem encontra a verdade em algum momento de sua vida, mas a maioria deles decide virar para o outro lado.) 

Os católicos condenados podem dizer: 'Deus me deu a fé e eu sabia que tudo que eu precisava era fazer uma boa confissão, mas achei melhor adiar e foi assim que morri com meus pecados ...'. Cada uma das almas no Inferno sabe que eles estão lá por sua própria culpa, por sua escolha. Deus não pode ser culpado por isso. Na verdade, quando você olha para trás em sua vida aqui na terra, você vê claramente o quanto Ele fez para tentar impedir que você se jogasse no Inferno, mas você escolheu livremente seu próprio destino, e Deus respeitou a sua escolha. 

Vamos nos aprofundar um pouco mais sobre o assunto. Sendo infinitamente bom, infinitamente generoso e infinitamente feliz, Deus escolheu - e não era de forma alguma obrigado - criar seres que fossem capazes de compartilhar a sua felicidade. Por ser puro espírito (Jo 4, 24), esses seres deveriam ser espirituais e não apenas materiais, como animais, vegetais ou minerais. Daí a criação de anjos sem matéria, e de homens, com alma espiritual em corpo material. 

Mas esse mesmo espírito pelo qual os anjos e os homens são capazes de compartilhar a sua felicidade divina inclui necessariamente a razão e o livre arbítrio; na verdade é através do livre arbítrio que eles escolhem Deus livremente e tornam-se capazes e participantes de sua felicidade. Mas como essa escolha de Deus pode ser verdadeiramente livre se não há alternativa que nos faça dizer não? Que mérito tem alguém em escolher comprar um volume de Cervantes se só tem Cervantes à venda na livraria? E se a alternativa ruim existe, e se o livre arbítrio é real e não apenas ficção, como é que não haverá anjos ou homens que escolherão o que não é bom?

A pergunta que ainda pode ser feita é como Deus poderia ter permitido que a maioria das almas (Mt 7, 13-14; 20, 16) sofram o terrível castigo de rejeitar o seu amor? Resposta: quanto mais terrível é o Inferno,  com mais certeza Deus oferece a cada homem a graça, a luz e a força necessárias para evitá-lo. No entanto, como explica Santo Tomás de Aquino, a maioria dos homens prefere o agora e os prazeres conhecidos dos sentidos às futuras e desconhecidas alegrias do Paraíso. 

Então, por que Deus associou aos sentidos prazeres tão acentuados? Em parte, sem dúvida, para garantir que os pais tivessem filhos para povoar o Céu, mas também certamente para atribuir mérito muito maior ao ser humano que coloca a busca pelo prazer nesta vida abaixo das verdadeiras alegrias da vida futura, que são realmente as verdadeiras alegrias!! Só precisamos desejá-las com fervor suficiente para arrebatá-las (Mt 11,12)! Deus não é um Deus medíocre e deseja oferecer às almas que o amam um paraíso que tampouco é medíocre!

('Eleison Comments', pelo arcebispo Richard Williamson, 2011)

domingo, 24 de outubro de 2021

EVANGELHO DO DOMINGO

   

'Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!' (Sl 125)

 24/10/2021 - Trigésimo Domingo do Tempo Comum

48. 'SENHOR, QUE EU VEJA!'


São Marcos descreve, no Evangelho deste domingo, uma certa caminhada de Jesus pelas terras da Galileia, rumo a Jerusalém. Junto com Ele, além dos seus discípulos, ia uma grande multidão, ansiosa por ver, ouvir e compartilhar as santas alegrias do convívio com Aquele por quem já estavam plenamente convencidos de ser realmente o Messias esperado pelos séculos, ainda que com uma visão algo distorcida da verdadeira natureza divina do seu reino de glória.

O burburinho da multidão em marcha coloca em alerta um mendigo cego sentado à beira do caminho. Um homem cego, muito conhecido naquela região, tão conhecido que o seu nome ficou transcrito para sempre nas páginas das Sagradas Escrituras, Bartimeu, filho de Timeu. No meio do vozerio de tantos, grita mais alto do que todos: 'Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!' (Mc 10, 47). E, diante da reprimenda para se calar e não abafar os ensinamentos de Jesus, insiste ainda mais alto: 'Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!' (Mc 10, 48).

A fé vibrava firme na sua alma sem precisar dos acordes dos olhares e visões do mundo. Jesus percebeu de imediato a grandeza daquele sentimento, daquele gesto, daquela súplica, e o atendeu com deferência, fazendo calar o vozerio em volta: 'Chamai-o' (Mc 10, 49). De pronto e de súbito, diante do chamado de Jesus, Bartimeu se apura em pé num salto, desfaz-se do manto de uma vez e se coloca diante do Senhor, em muda expectativa. 'O que queres que eu te faça?' (Mc 10, 51) pergunta Jesus. E Bartimeu responde, cheio de fé e confiança no Senhor: 'Mestre, que eu veja!' (Mc 10, 51). E a luz da sua fé é então contemplada com os acordes da visão do Senhor: 'Vai, a tua fé te curou' (Mc 10, 52).

Bartimeu, privilegiado na graça, pediu a visão e recebeu a luz, a luz de Cristo, que rompe as trevas do pecado e eleva a alma às glórias eternas. Como cegos, muitas vezes tateando nas penumbras de uma fé claudicante, temos uma imensa dificuldade de vida espiritual e de aceitar e acolher Jesus em plenitude. Como Bartimeu, sejamos capazes de saltar além das quietudes e sonolências terrenas e nos livrarmos do manto das inquietações e vozerios do mundo, para irmos ao encontro do Senhor que passa e, como homens eivados de graça, 'seguir Jesus pelo caminho' (Mc 10, 52).