domingo, 12 de setembro de 2021

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Andarei na presença de Deus, junto a ele, na terra dos vivos' (Sl 114)

 12/09/2021 - Vigésimo Quarto Domingo do Tempo Comum

42. 'E VÓS, QUEM DIZEIS QUE EU SOU?' 


Num dado dia, na 'região da Cesareia de Felipe' (Mc 8, 27), Jesus revelou a seus discípulos a sua própria identidade divina e o legado da Cruz. Neste tesouro das grandes revelações divinas, o apóstolo Pedro será exposto a duas manifestações bastante distintas, fruto das próprias contradições humanas: num primeiro momento, dá um testemunho extraordinário de fé; num segundo momento, entretanto, é incapaz de entender a dimensão salvífica dAquele que acabara de saudar como o Messias Prometido.

Nesta ocasião, as mensagens e as pregações públicas de Jesus estavam consolidadas; os milagres e os poderes sobrenaturais do Senhor eram de conhecimento generalizado no mundo hebraico; multidões acorriam para ver e ouvir o Mestre, dominados pela falsa expectativa de encontrar um personagem mítico e um Messias dominador do mundo. Então, Jesus indaga aos seus discípulos: 'Quem dizem os homens que eu sou?' (Mc 8, 28) e, logo em seguida, 'E vós, quem dizeis que eu sou?' (Mc 8, 29). Se os homens do mundo O tomam por João Batista, por Elias ou por um dos antigos profetas, a resposta de Pedro é um primado de confissão de fé, transcrita pelo mais sintético dos evangelistas: 'Tu és o Messias' (Mc 7, 32).

Jesus é o Cristo de Deus e o seu reino não é deste mundo. Ante a confissão de Pedro, Jesus revela a sua origem e a sua missão e faz o primeiro anúncio de sua Paixão, Morte e Ressurreição: 'o Filho do Homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei; devia ser morto, e ressuscitar depois de três dias' (Mc 8, 31). E, diante da incompreensão dos apóstolos expressa na repreensão pública de Pedro, dá o testemunho da cruz pela privação do mundo: 'Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la' (Mc 8, 34 - 35).

Sim, Jesus Cristo é o Messias, o Filho de Deus Vivo: Deus feito homem na eternidade de Deus. Mas a missão salvífica de Jesus há de passar não por um triunfo de epopeias mundanas, mas por um tributo de Paixão, Morte e Ressurreição; não pelo manejo da espada ou por eventos feitos de glórias humanas, mas pela humildade, perseverança e um legado de Cruz. Eis aí o legado definitivo de Jesus aos homens de sempre: a Cruz de Cristo é o caminho da salvação e da vida eterna. Tomar esta cruz, não apenas hoje ou em momentos específicos de grandes sofrimentos em nossas vidas, mas sim, todos os dias, a cada passo, em cada caminho, é a certeza de encontrá-lo na glória e da plenitude das bem-aventuranças. A Cruz de Cristo é a Porta do Céu.

sábado, 11 de setembro de 2021

O FESTIVAL DOS MISTÉRIOS

 

A Sagra dei Misteri - ou o festival dos mistérios - constitui uma das manifestações mais importantes de cultura popular da região de Molise, na Itália. O evento acontece no dia do Corpus Domini, ou Corpo de Cristo (Corpus Christi no Brasil) e consiste em uma procissão de 13 'carros alegóricos', cada um simulando a representação medieval de eventos sacros de grande relevância (os chamados 13 'mistérios'), que são levados nos ombros por fileiras de jovens e transportados pelas principais ruas da cidade de Campobasso.

Cada mistério é representado por um 'Carro dos Mistérios' (Le Macchine dei Misteri), criados em 1748 por Paolo Saverio di Zinno, com exceção do carro que simboliza o 'Sagrado Coração de Jesus', que foi construído somente após a Segunda Guerra, reproduzindo fielmente um rascunho original de Zinno, e que não tinha sido construído à época. A grande atração destes 'carros alegóricos' é que incluem personagens vivos e não estátuas, particularmente as 'crianças voadoras', que ficam encaixadas em armações metálicas elevadas em relação à plataforma dos carros. 


Além do carro recente do 'Sagrado Coração de Jesus', os outros 12 carros alegóricos simulam os seguintes 'mistérios':

1. Santo Isidoro: representação da dedicação ao trabalho agrícola (o santo é o padroeiro dos agricultores);
2. São Crispim: representação da dedicação ao trabalho artesanal (São Crispim abandonou as origens nobres romanas para costurar sapatos);
3. São Genaro: representação da fortaleza diante das adversidades (o santo é o padroeiro de Nápoles);


4. Abraão: representação da virtudes da fé e da obediência a Deus;
5. Maria Madalena: representação que demonstra que, por meio da penitência, obtém-se o perdão de Deus;
6. Santo Antônio Abade: representação da fortaleza contra as tentações (o santo quase cedeu às tentações);


7. Imaculada Conceição: representação do dogma mariano da imaculada concepção;
8. São Leonardo: representação da defesa dos inocentes (o santo abdicou de uma vida de regalias em favor do Evangelho);
9. São Roque: representação do consolo aos doentes (o santo, de origem francesa, é o protetor contra a peste e curou muitos enfermos na Itália);
10. Assunção: representação da Assunção de Nossa Senhora ao Céu de corpo e alma;
11. São Miguel: representação da rebelião dos anjos maus e enfrentados por São Miguel;
12. São Nicolau: representação dos milagres (resgate pelo santo de uma criança raptada).

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

QUANDO O INFERNO É AQUI...

Um tremor de magnitude 7,1 na escala Richter atingiu a região de Acapulco, no México, na última terça-feira. Um fenômeno particularmente intrigante desse evento foi o aparecimento das chamadas 'luzes de terremoto', explicadas pela ciência como sendo a emissão de descargas elétricas violentas nas regiões próximas a falhas geológicas. Estas luzes são bem documentadas previamente ou durante os sismos, e não comumente depois, como é o presente caso. Mas isso também não é relevante, porque a ciência humana e as intervenções da Providência Divina não são sempre excludentes. 

Grave, gravíssimo mesmo, é o fato de que as luzes intrigantes seguiram um terremoto de grande magnitude ocorrido no mesmo dia em que a Suprema Corte do México decidiu, por unanimidade, que qualquer punição ao aborto é inconstitucional. Deus utiliza a ciência dos homens mas não intervém por meio de acasos: a maior nação católica da América do Norte curvou-se em favor de um crime hediondo e voltou-se contra Deus. O mal se regala, blasfemando de júbilo, em favor dos direitos humanos e das mulheres como sendo uma vitória épica; mas as luzes que brilham nas trevas podem ser simplesmente o sinal de que, na verdade, o inferno começa agora.

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

ORAÇÃO DE PETIÇÃO UNIVERSAL (SANTA GERTRUDES)

Santa Gertrudes de Hefta experimentou durante a sua vida um sem número de intervenções místicas e espirituais, com especial inserção na realidade das almas do Purgatório. A oração abaixo de sua autoria (designada comumente como 'oração pelas almas do Purgatório', que é a rigor apenas uma das petições da oração) é comumente associada à promessa de Jesus, feita em uma aparição à freira cisterciense, de que ela libertaria 1000 almas do Purgatório se rezada com piedosa devoção - e atuaria ainda por uma efetiva conversão e salvação das almas deste mundo. Embora seja pouco provável que exista uma oração específica da santa pela libertação de mil ou de um número fixado pelas almas do Purgatório, trata-se de uma oração devocional de enorme relevância pelo conjunto de petições contidas na mesma e pelo rigor teológico destas petições no contexto do plano divino da salvação da humanidade.

Pai Eterno, eu Vos ofereço

o Sangue Preciosíssimo do Vosso Divino Filho, Jesus, 

em união com todas as missas que hoje se celebram no mundo inteiro, 

em intenção de todas as benditas almas do Purgatório, 

pelos pecadores em todos os lugares, 

pelos pecadores da Igreja universal, 

por aqueles que se encontram em minha própria casa,

pela minha família e também por mim. 

Amém.

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

SOBRE OS QUE SERÃO JULGADOS COMO ANJOS


É uma verdade incontestável que a misericórdia e a justiça de Deus caminham juntas e ambas - como atributos infinitos da Providência Divina - hão de acompanhar os juízos particulares de todos os homens no plano da eternidade. Essa realidade por si só já é tremenda: 'Deus tem misericórdia de quem o teme, não de quem se usa dela para não o temer' (Santo Afonso Maria de Ligório).

Essa premissa fundamental tem um corolário muitíssimo mais inquietante para o espectro dos homens. A associação divina entre justiça e misericórdia tende a pender em favor da justiça divina, tanto mais intensamente, para quem mais usufruiu da abundância das graças divinas. O pecado dos anjos rebeldes, por exemplo, resumiu-se em um ato de soberba extrema contra a Providência Divina, que resultou num imediato e irrevogável veredito de danação eterna no momento seguinte.

Quais são os homens que, na terra, em termos do acesso e usufruto das graças divinas, mais se aproximam dos anjos? Os sacerdotes, sem dúvida alguma; os padres, bispos, cardeais e papas da Santa Igreja Católica. Para eles, especialmente, é de se esperar uma realidade de juízo particular muitíssimo diferenciada daquela que seria aplicada aos leigos, a não ser em casos muito excepcionais. Assim, todo homem ímpio deverá passar pelo crivo da justiça divina, mas os maus sacerdotes serão julgados pelo rigor divino da sua justiça em uma escala incomparavelmente maior.  

São Crisóstomo (conforme exposto por Santo Afonso de Ligório) tornou cristalina essa argumentação: 'A maior ciência dá lugar a um castigo mais severo; se o pastor cometer os mesmos pecados que as suas ovelhas, não receberá o mesmo castigo, mas uma pena muito mais dura'. E o seu testemunho adicional é avassalador para os maus sacerdotes: 'É o que a experiência deixa ver: um secular, depois de pecar, facilmente se arrepende. Se assiste a uma missa, se ouve um sermão enérgico sobre alguma verdade eterna - malícia do pecado, certeza da morte, rigor do juízo de Deus, penas do inferno -  entra facilmente em si e volta-se para Deus; porque estas verdades, como coisas novas, tocam-no e penetram-no de temor. Mas quando um padre há calcado aos pés a graça de Deus, com todas as luzes e conhecimentos recebidos, que impressão podem fazer ainda nele as verdades eternas e as ameaças das divinas Escrituras? Tudo quanto encerra a Escritura é para ele uma coisa sediça e de pouco valor; porque as coisas mais terríveis que lá se encontram, por muito lidas, já lhe não fazem impressão. Donde conclui que nada mais impossível que a emenda de quem sabe tudo e peca'.

'Quanto maior é a dignidade dos padres' - diz São Jerônimo - 'tanto maior é a sua ruína, se num tal estado chegam a abandonar a Deus'. São Bernardo afirma categoricamente que 'Quanto mais elevado é o posto em que Deus o colocou, tanto mais funesta será a sua queda', expressão similar ao pensamento de Santo Ambrósio: 'Quando se cai num plano, raro se experimenta grande mal; mas cair de um lugar alto não é só cair, é precipitar-se, e a queda será mortal'.

É o mesmo São Bernardo que afirmou: 'A ingratidão faz estancar a fonte da bondade divina'. Que ingratidão a Deus pode ser cometida pelos homens maior que a de um sacerdote que, desprezando os tesouros das graças da Igreja, abandona a sã doutrina e se vende, a preço vil, para os louros, afazeres e caprichos deste mundo? Achincalham a liturgia da Santa Missa, assumem a ideologia dos inimigos da Igreja, tornam-se vedetes da comunicação insossa, insuflam egos para se tornarem cegos, fazem todas as concessões possíveis ao ecumenismo, fecham todas as portas à sã doutrina. Abraçam a iniquidade com tal malícia e insensatez, que sobre eles São Jerônimo ousou dizer: 'Nenhuma besta há no mundo mais feroz do que um mau padre'.

E, quanto mais este infeliz se afunda num abismo de insanidades, mais nele se regala pela sensação de tranquilidade e de confraternizações mundanas cada vez maiores. A insensatez se ensoberbece pela insanidade. Quem mais perto esteve do Céu, mais dele se afasta numa desembestada correria. O sacerdote perde a sua condição divina e torna-se, cada vez mais, um homem comum. E nada pode ser mais trágico na história humana da salvação do que um homem comum ser julgado por Deus um dia como se fosse um anjo. 

terça-feira, 7 de setembro de 2021

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'A Sagrada Escritura nos adverte que até o justo cai sete vezes. Sempre que leio estas palavras, a minha alma estremece com um forte abalo de amor e de dor. Uma vez mais, vem o Senhor ao nosso encontro, com essa advertência divina, para nos falar da sua misericórdia, da sua ternura, da sua clemência, que nunca acabam. Estai seguros: Deus não quer as nossas misérias, mas não as desconhece e conta precisamente com essas debilidades para que nos façamos santos. Um abalo de amor, dizia-vos. Considero a minha vida e, com sinceridade, vejo que não sou nada, que não valho nada, que não tenho nada, que não posso nada; mais: que sou o nada! Mas Ele é o tudo e, ao mesmo tempo, é meu, e eu sou dEle, porque não me repele, porque se entregou por mim. Contemplastes amor maior?... Deus não se cansa de nos amar. A esperança demonstra-nos que, sem Ele, não conseguimos realizar nem o mais pequeno dever; e com Ele, com a sua graça, cicatrizam-se as nossas feridas; revestimo-nos da sua fortaleza para resistir aos ataques do inimigo e nos tornamos melhores. Em resumo: a consciência de que somos feitos de barro ordinário nos há de servir, sobretudo, para reafirmarmos a nossa esperança somente em Jesus Cristo'.

(São Josemaria Escrivá)