quarta-feira, 28 de abril de 2021

28 DE ABRIL - SÃO LUÍS DE MONTFORT

 

Missionário do Espírito Santo e da Virgem Santíssima, São Luís Maria Grignion de Montfort foi o portador da graça divina de uma mensagem de transcendência extraordinária: a necessidade de uma devoção ardente à Mãe de Deus e do conhecimento da missão ímpar de Nossa Senhora no Segundo Advento do seu Filho.

Nasceu em 31 de janeiro de 1637 em Montfort (França), sendo ordenado sacerdote em 1700. Em 1706, foi recebido pelo Papa Clemente XI que, confirmando a sua vocação missionária, outorgou-lhe o título de 'Missionário Apostólico'. Nesta missão, combateu duramente a doutrina jansenista na França, que, crendo na predestinação, apresentava um Deus tirânico e sem misericórdia.

Fundou três instituições religiosas: a Companhia de Maria (congregação de sacerdotes missionários), as Filhas da Sabedoria (freiras dedicadas à assistência aos doentes nos hospitais e à instrução de meninas pobres) e os Irmãos de São Gabriel (congregação de leigos voltados para o ensino). Escreveu várias obras, dentre elas o 'Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem', referência básica da mariologia cristã. Morreu em 28 de abril de 1716, aos 43 anos e apenas 16 anos como sacerdote, em Saint-Laurent-sur-Sèvre (França). Foi beatificado em 1888 e canonizado em 1947, pelo Papa Pio XII.

terça-feira, 27 de abril de 2021

POEMAS PARA REZAR (XXXVIII)


Ato de Caridade

Que eu faça o bem e de tal modo o faça,
Que ninguém saiba o quanto me custou.
- Mãe, espero de Ti mais esta graça:
Que eu seja bom, sem parecer que o sou.

Que o pouco que me dês, me satisfaça
E, se do pouco mesmo, algum sobrou,
Que eu leve esta migalha onde a desgraça
Inesperadamente penetrou.

Que a minha mesa, a mais, tenha um talher,
Que será, minha Mãe, Senhora Nossa,
Para o pobre faminto que vier.

Que eu transponha tropeços e embaraços:
- Que eu não coma, sozinho, o pão que possa
Ser partido, por mim, em dois pedaços!

Djalma Andrade (1894-1975)

segunda-feira, 26 de abril de 2021

A VIDA OCULTA EM DEUS: DEUS FAZ A ALMA RECAIR À MISÉRIA ORIGINAL

 

Às vezes, ó meu Deus, depois de ter elevado a Vós a alma interior e feito com que se deleite das alegrias da Vossa intimidade, com leveza e mansidão, a faz abandonar de novo, e repentinamente, no poço da sua miséria natural. Então a escuridão a envolve, o frio toma conta dela e a paralisa, e ondas de amargura sobem aos seus lábios. E assim parece que toda a sua felicidade nada mais era do que um sonho. Ela se sente mais 'pecadora' do que nunca. Tudo nela parece sombrio e maculado. Nada é puro aos seus olhos, nem o que é, nem o que faz. Torna-se então um oceano de tristeza.

Quem sabe se nunca mais conhecerá a alegria dos dias felizes? Eles estão tão distantes e, em vez disso, o mal está aí, tão real, tão universal, tão tenaz e tão profundo! É verdade que ainda possui uma leve esperança no mais íntimo da alma, mas esta é tão tênue que ela mesma dificilmente ousa acreditar nela.

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte II -  A Ação de Deus; tradução do autor do blog)

domingo, 25 de abril de 2021

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'A pedra que os pedreiros rejeitaram tornou-se agora a pedra angular' (Sl 117)

 25/04/2021 - Quarto Domingo da Páscoa

22. O BOM PASTOR 


No Quarto Domingo da Páscoa, Jesus se apresenta como o Bom Pastor: 'Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas' (Jo 10, 11). Jesus acabara de curar um cego de nascença e os fariseus o condenavam por ter praticado um milagre tão extraordinário num sábado. Mas o cego, superando a obstinação, a hipocrisia e as ameaças daqueles homens, não apenas viera reencontrar Jesus mas, como ovelha do Bom Pastor, prostrou-se diante dele e o adorou. Diante da multidão perplexa por estes fatos, Jesus projeta no cego curado as ovelhas do seu rebanho, e se apresenta como o Bom Pastor que acolhe as suas ovelhas com doçura extrema e infinita misericórdia, e que é capaz de dar a sua vida por elas.

Jesus, o Bom Pastor, conhece e ama, com profunda misericórdia, cada uma de suas ovelhas desde toda a eternidade: 'Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas ovelhas' (Jo 10, 14 - 15). Nada, nem coisa, nem homem, nem demônio algum, poderá nos apartar do amor de Deus. Porque este amor, sendo infinito, extrapola a nossa condição humana e assume dimensões imensuráveis. Ainda que todos os homens perecessem e a humanidade inteira ficasse reduzida a um único homem, Deus não poderia amá-lo mais do que já o ama agora, porque todos nós fomos criados, por um ato sublime e extraordinariamente particular da Sua Santa Vontade, como herdeiros dos céus e para a glória de Deus: 'Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas. A Ele a glória por toda a eternidade!' (Rm 11, 36).

A missão do Bom Pastor é universal, porque o rebanho é universal e só um verdadeiramente é o Bom Pastor, que não abandona nunca as suas ovelhas: 'Haverá um só rebanho e um só pastor' (Jo 10, 16). Todos aqueles que ainda não se encontram no redil do Bom Pastor, a Santa Igreja, devem ser buscados como ovelhas desgarradas, para que se unam ao único rebanho e que, sob a voz do Bom Pastor, sejam conduzidas com segurança às fontes da água da vida (Ap 7, 17): 'Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância' (Jo 1, 10). Jesus nos convoca, assim, à missão de um apostolado universal, delegando a todos nós, os batizados, a enorme tarefa da evangelização para que se faça, no redil da terra, um só rebanho e um só Pastor.

Reconhecer-nos como ovelhas do rebanho do Bom Pastor é manifestar em plenitude a nossa fé e esperança em Jesus Cristo, Deus Único e Verdadeiro: 'Dai graças ao Senhor, porque ele é bom! Eterna é a sua misericórdia!' (Sl 117). Como ovelhas do Bom Pastor - a pedra angular (At 4, 11), que nunca nos será tirada, não nos basta ouvir somente a voz da salvação; é preciso segui-Lo em meio às provações da nossa humanidade corrompida, confiantes e perseverantes na fé, pois 'desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal como Ele é' (1 Jo 3, 2).

sábado, 24 de abril de 2021

NA HORA DA NOSSA MORTE...


'Os pensamentos dos mortais são tímidos, diz o Espírito de Deus, no livro da Sabedoria. Durante a vida, a alma, encerrada no corpo, só pode ver a verdade através dos órgãos espessos dos sentidos; e seu progresso é detido pelo peso da massa corruptível que a cerca. Porém, no momento, tão assustador para a natureza, em que o homem parece morrer, assim, liberta da prisão do corpo e dos laços dos sentidos, tal como um cativo livre de suas correntes, assim, a alma começa a gozar de si mesma, de toda sua inteligência e de sua sensibilidade. Não, o homem viveu apenas a metade durante sua vida mortal; a morte é o nascimento do homem à verdadeira vida.

Como não posso representar o espanto da alma, e a revolução que ela experimenta no momento em que, livre das sombras da mortalidade, ela percebe o primeiro raio de luz eterna e o espetáculo desconhecido do mundo invisível, das multidões inumeráveis de novas naturezas que aparecem ao seu olhar; os espíritos celestes, os anjos de trevas, as almas humanas que a precederam na eternidade; quando ela vê revelada todas as verdades, e aquelas que sua razão já tinha previsto, e aquelas que a fé lhe tinha indicado, e aquelas em que não se pode atingir agora o pensamento humano; quando ela percebe a majestade do Ser supremo, sua justiça, sua bondade, seu poder, sua imensidade, a verdade de suas ameaças e de suas promessas!

Todas as disputas do homem são esclarecidas; os mistérios são descobertos, a venda da fé cai. A alma não crê mais, ela vê; ela vê um Deus vingador ou recompensador, não mais como um enigma e através de uma nuvem, mas face a face, e tal como Ele é. Quão é, então, a consolação de uma alma que previu de longe os anos eternos! Quão doce repouso ela deve provar no instante onde, ainda perturbada pelas agonias de seu último combate, ela vê o mesmo Deus que ela crera sem vê-lo, o objeto de seu amor e o termo de sua esperança! Ela não chega a uma terra estrangeira; já lhe passara diante de si suas obras santas; seu coração avança com o seu tesouro.

Porém, ó surpresa! ó terror de uma alma que duvidava deste futuro, ou que nunca se ocupava dele, e que só aprende, em sua entrada na região eterna, os mistérios terríveis da eternidade! Infeliz! Ela consumira toda sua vida em recolher as vãs riquezas, vãs honras, ou prazeres ainda mais vãos. Ela dormiu seu sono, diz o profeta, e, em seu despertar, tudo se apagou ao seu redor, como os fantasmas de um sonho. Desprovida de todos estes apoios, só lhe resta apenas a espera de um julgamento inexorável. Ó sonho funesto! Ó assombroso despertar!

Na entrada do império eterno se levanta o tribunal onde o juiz soberano chama as almas que a morte lhe envia a todo instante, de todas as partes do universo. Seus julgamentos não têm a lentidão dos julgamentos humanos. Com a mesma rapidez que se vê o relâmpago iluminar do oriente ao ocidente, ele penetra as ações dos homens, os julga, os condena ou os absolve. A pele mortal mal descansou na sepultura, o calor da vida parece ainda amimá-la, e já a alma atravessou o abismo imenso que parece separar um e outro mundo. Já ela é julgada, já repousa no seio de Deus; ou ela é precipitada para sempre no fundo do abismo, ou ela é relegada por um tempo na morada de dor e de expiação que a justiça de Deus, conjuntamente com sua clemência, colocou entre os infernos e os céus. Se os momentos se contassem ainda na eternidade, qual tempo seria necessário para operar esta incompreensível revolução? O indivisível instante do último suspiro.

(Excerto de um sermão do Abade Beauvais)

sexta-feira, 23 de abril de 2021

O DOGMA DO PURGATÓRIO (V)


Capítulo V

Localização do Purgatório - Revelações dos Santos - Santa Teresa - São Luís Bertrand - Santa Maria Madalena de Pazzi

Santa Teresa tinha grande caridade para com as almas do Purgatório e as ajudava tanto quanto estava em seu alcance com as suas orações e boas obras. Em recompensa, Deus frequentemente mostrava a ela as almas que ela havia libertado; ela as via no momento de sua libertação do sofrimento e da sua entrada no céu. E, em geral, as almas saíam do seio da terra. 

'Recebi a notícia' - escreve ela - 'do falecimento de um religioso que havia sido o superior dessa província e depois de uma outra. Eu o conhecia e ele me prestou um grande serviço. Essa informação me causou grande inquietação. Embora este homem fosse louvável por muitas virtudes, fiquei apreensivo pela salvação de sua alma, porque ele havia ocupado o cargo de superior por um espaço de vinte anos, e sempre temo muito por aqueles que estão encarregados de cuidar das almas. Muito triste, fui a um oratório; ali invoquei nosso Divino Senhor para aplicar a este religioso o pouco bem que fizera durante a minha vida, e suprir o resto por seus infinitos méritos, a fim de que esta alma pudesse ser libertada do purgatório'.

'Enquanto eu implorava esta graça com todo o fervor de que era capaz, vi do meu lado direito esta alma sair das profundezas da terra e ascender ao céu em vórtices de alegria. Embora esse padre fosse avançado em anos, ele me pareceu com as feições de um homem que ainda não havia atingido a idade de trinta anos, e com um semblante resplandecente de luz. Esta visão, embora muito curta, deixou-me imersa em alegria e sem sombra de dúvida quanto à veracidade do que tinha visto. Como eu estava separada por uma grande distância do lugar onde esse servo de Deus havia terminado os seus dias, demorou algum tempo até que eu soubesse dos detalhes de sua morte edificante: todos aqueles que foram testemunhas disso não puderam olhar sem admiração como ele preservou a consciência até o último momento, as lágrimas que derramou e os sentimentos de humildade com os quais entregou s sua alma a Deus'.

'Um religioso da minha comunidade, um grande servo de Deus, estava morto há menos de dois dias. Estávamos rezando o Ofício dos Mortos para ele no coro; enquanto uma irmã fazia a leitura, eu estava de pé para rezar o versículo. Ao se chegar à metade da leitura, vi sair das profundezas da terra a alma deste religioso, como aquela de que acabei de falar, e ir para o céu'.

'Uma freira da minha comunidade, e uma grande serva de Deus, havia falecido há menos de dois dias. O Ofício dos mortos estava sendo celebrado para ela no coro: enquanto uma irmã fazia a leitura, eu ficava de pé para rezar o versículo. Na metade da leitura, vi a alma dessa religiosa sair, como aquela de quem acabei de falar, do fundo da terra e ir para o céu. Essa visão era puramente intelectual, enquanto a anterior se apresentou a mim sob a forma de imagens. Mas ambas me deixaram a alma com uma igual certeza'.

'Neste mesmo mosteiro, com a idade de dezoito ou vinte anos, acabara de falecer outra freira, verdadeiro modelo de fervor, perseverança e virtude. Sua vida tinha sido uma sequência de doenças e sofrimentos. sempre tolerados com paciência. Eu não tinha dúvidas de que, depois de ter vivido assim, ela não teria mais méritos do que precisava para estar isenta do Purgatório. No entanto, enquanto eu estava no serviço, antes de ser enterrada e cerca de quatro horas após sua morte, eu vi a sua alma também sair da terra e subir ao céu'. - É o que nos escreve Santa Teresa.

Um exemplo semelhante é relatado na vida de São Luís Bertrand, da Ordem de São Domingos. Esta leitura, escrita pelo Padre Antist, religioso da mesma ordem que conviveu com o santo, está inserida na Acta Sanctorum, no dia 10 de outubro: no ano de 1557, quando São Luís Bertrand residia no convento de Valência, a peste irrompeu nesta cidade. O terrível flagelo, em ondas sucessivas, ameaçava todos os habitantes e cada qual temeu pela sua vida. Um religioso da comunidade, Padre Clément Benet, desejando ardentemente preparar-se para a morte, fez uma confissão geral de toda a sua vida ao santo e, após a confissão, disse a ele: 'Padre, se agora for do agrado de Deus me chamar, eu haverei de voltar e tornar conhecido a você a minha condição na outra vida'. 

Ele morreu realmente pouco depois e, na noite seguinte, apareceu ao santo dizendo-lhe que ainda estava retido no Purgatório por algumas pequenas faltas ainda a expiar, implorando a sua recomendação à comunidade. O santo comunicou imediatamente este pedido ao Padre Prior, que se apressou em recomendar a alma do defunto às orações e súplicas por parte de todos os irmãos daquela congregação. Seis dias depois, um homem da cidade, que nada sabia do ocorrido no convento, vindo confessar-se ao padre Bertrand, revelou-lhe que 'a alma do padre Clément havia se manifestado a ele. Ele tinha visto a terra se abrir e a alma do falecido padre emergir dela toda gloriosa: parecia - acrescentou ele - como uma estrela resplandecente que se elevou no ar em direção ao céu'. 

Lemos na vida de Santa Madalena de Pazzi, escrita pelo seu confessor, o Padre Cépari da Companhia de Jesus, que esta serva de Deus foi testemunha da libertação de uma alma nas seguintes circunstâncias. Uma de suas religiosas já estava morta há algum tempo, quando a santa, encontrando-se em oração diante do Santíssimo Sacramento, viu a alma desta irmã emergindo da terra, mas ainda presa às prisões do Purgatório. Ela estava envolvida por um manto de chamas, abaixo do qual um vestido de alvura deslumbrante a protegia contra o calor muito forte do fogo; e ela permaneceu por uma hora inteira aos pés do altar, adorando, em indizível prostração, o Deus escondido sob as espécies eucarísticas. Essa hora de adoração, que Santa Madalena a viu fazer, foi a última de sua penitência; assim que esta hora expirou, sua alma se elevou e voou em direção ao céu.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)

quinta-feira, 22 de abril de 2021

DOCUMENTOS DE FÁTIMA (IX)

 Dos Manuscritos da Irmã Lúcia

Nos manuscritos da Irmã Lúcia, este trecho descreve uma experiência vivida pela testemunha de Fátima, pouco depois de ter sido instada pela Virgem para escrever o texto do Terceiro Segredo (ocorrida no convento de Tuy - na Espanha - em 3 de janeiro de 1944).

"E senti o espírito inundado por um mistério de luz que é Deus e Nele vi e ouvi,  - A ponta da lança como chama que se desprende, toca o eixo da terra, - Ela estremece, montanhas, cidades, vilas e aldeias com os seus moradores são sepultados - O mar, os rios e as nuvens saiem (saem) dos seus limites, transbordam, inundam e arrastam consigo num redemoinho, moradias e gente em número que não se pode contar, é a purificação do mundo pelo pecado em que se mergulha. - O ódio, a ambição provocam a guerra destruidora!"


"Depois senti no palpitar acelerado do coração e no meu espírito o eco duma voz suave que dizia. - 'No tempo, uma só fé, um só Batismo, uma só Igreja, Santa, Católica, Apostólica: - Na eternidade, o Céu!' Esta palavra 'Céu' encheu a minha alma de paz e felicidade, de tal forma que, quase sem me dar conta, fiquei repetindo por muito tempo, - O Céu! O Céu!"