domingo, 7 de fevereiro de 2021

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Louvai a Deus, porque ele é bom e conforta os corações (Sl 146)

 07/02/2021 - Quinto Domingo do Tempo Comum

11. SOFRIMENTO, APOSTOLADO E ORAÇÃO


No Evangelho deste Quinto Domingo do Tempo Comum, Jesus manifesta aos homens três grandes pilares da fé cristã: o sofrimento, o apostolado e a oração. Todos eles estão intrinsecamente associados, todos eles são essenciais no plano salvífico do Pai: a saúde do corpo e da alma (cura) implica o apostolado (a necessidade de servir ao outro) e a força de ambos emana e se alimenta da oração, fruto da intimidade do homem com si mesmo e diante de Deus.

Jesus, assim que chegou à casa de André e Simão, sanou de imediato a febre alta que prostrava na cama a sogra de Pedro. Na febre desta mulher, estão expostos todos os males físicos e espirituais da humanidade, que constituem os sofrimentos e as tentações inevitáveis à condição humana e que somente podem ser curados em nome do Senhor. Naquele dia exaustivo, 'Jesus curou muitas pessoas de diversas doenças e expulsou muitos demônios' (Mc 1, 34).

'Então, a febre desapareceu; e ela começou a servi-los' (Mc 1, 31). A alma, consolada em Deus sente, então, o impulso imperativo de praticar o bem, de acolher e de servir. O homem incensado por Deus tem alma de apóstolo e sua ação se transforma em missão: levar o Evangelho aos que o cercam e levar a todos ao Senhor da Vida. Jesus demonstra isso, ainda no início de sua pregação pública, indo a todos os lugares e andando por toda a Galileia, para proclamar a Boa Nova: 'Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois foi para isso que eu vim' (Mc 1, 38). A semente deve ser lançada pela terra inteira, e dará fruto ou não, se for ou não for aceita, se for ou não acolhida.

A saúde do corpo e da alma e a vocação para o apostolado emanam da oração nascida da sincera entrega do homem diante de sua consciência, na intimidade com Deus. Os Evangelhos descrevem muitas situações em que Jesus está em oração em um lugar retirado, como esta de hoje: 'De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto' (Mc 1, 35). Nestes momentos de profunda meditação, Jesus vai buscar consolo e alento no diálogo amoroso com o Pai e nos revela, com soberana clareza, que a superação de todos os nossos sofrimentos e mazelas, de corpo e de alma, tem como única fonte e remédio a oração profunda com Deus nos mistérios da graça. 

sábado, 6 de fevereiro de 2021

ONDE ESTÃO OS CATÓLICOS?

'quem guardar os preceitos da Lei, mas faltar em um só ponto, se tornará culpado de toda ela' (Tg 2,10)


Onde estão os católicos? Escondidos em cavernas nas montanhas? Protegidos por couraças no fundo dos mares? Fazendo retiros espirituais em mosteiros e lugares ermos e pouco acessíveis? Ou estão instalados em casamatas à prova de fogo e tempestades? 

Onde estão os católicos? Por que não se ouvem mais as suas vozes, por que não se veem mais as suas obras? Estarão todos investidos de anonimato, incensados de penumbras, reféns de isolamentos? Por que não gritam mais pelas ruas e praças das cidades, por que não incendeiam de fé e caridade legiões de homens, por que se esquivam entre esquinas e passagens como sombras fugidias?

Onde estão os católicos? Para erguer em passeatas o estandarte de Cristo, para defender e lutar pela Igreja de Cristo, para expor e impor à humanidade a verdade e a doutrina de Cristo? Poderiam estar nos desertos, quem sabe nas catacumbas de agora ou exilados em florestas e pântanos? Presos talvez? Escravizados por hordas de bárbaros invencíveis? Flagelados em alguma ilha remota e desconhecida? Martirizados em campos de concentração? 

Onde estão os católicos? Por que não são vistos nas ruas, nas praças, nos livros, nas artes, na ciência, em procissões e nem nos templos fechados? O que aconteceu aos homens de fé cristã, eivados de sacramentos, impulsionados pela caridade e o amor ao próximo, alimentados pela sagrada eucaristia, detentores do culto e glória a Deus no Santo Sacrifício da missa, fortalecidos pela oração constante e herdeiros das moradas eternas? 

Onde estão os católicos? Sacerdotes, religiosos e leigos que professam um só batismo e uma só religião, uma Igreja una, santa, católica e apostólica regida pelo primado de Pedro, uma doutrina que tem por estandarte a Cruz de Cristo, tangida pelos mistérios da encarnação do Filho do Homem e pelas torrentes de graças emanadas à humanidade de todos os tempos, no curto espaço de tempo entre uma Sexta Feira de Provação e um Domingo de Ressurreição? 

Eles estão nas ruas e praças? Seriam por acaso estes tontos que se envaidecem de andar sem rumo, ensandecidos de tibieza e envilecidos pela indiferença? Não, definitivamente não. Eles estão em cavernas? Mas as cavernas estão vazias porque hoje lobos e ovelhas se comprazem juntos em apriscos ao ar livre, locupletados de ecumenismo. Nos desertos deste mundo então? Os desertos são apenas desertos, porque os que buscavam Deus no silêncio agora querem viver longe de Deus em meio ao vozerio dos homens. As prisões já não os molestam, o martírio é uma ficção religiosa distante e impensável; é o pecado que mora ao lado mas, de tal forma deixou de ser percebido, que é sumamente admitido apenas como uma concepção obsoleta e insossa.

Tudo e a única coisa que um católico deveria ter medo imponderável é justamente o pecado. Que faz perder a alma e a vida eterna. Que torna inútil ao homem a redenção de Cristo. Que transforma em fuligem todas as conquistas e obras humanas. Que transforma em farinha de vermes o culto ao corpo, à beleza e ao prazer dos sentidos. Que nos leva de herdeiros das moradas eternas ao destino do inferno.  

Onde estão os católicos? Eles estão no mundo, nas ruas e praças, no vozerio dos homens, no cotidiano do viver por viver, vestidos de galas e risos, covardes ou tíbios, insensatos ou sonolentos, vendidos ou sendo comprados a prestações, quase todos submergidos, emaranhados e escondidos pelas densas trevas do pecado que não mais julgam existir. Por isso não são mais vistos, porque já não são mais católicos, mas apenas crentes de suas próprias convicções e atributos humanos, cada vez mais tolerantes com o mal e com o avanço da iniquidade, reféns da apostasia e traidores contumazes da sã doutrina da Igreja e de Cristo (e bastaria um til fora da Verdade que é o Cristo para a perdição de todos eles!).  

Onde estão os católicos? Se calarem todos, as pedras falarão. Se perderem todos, os santos e os mártires ressuscitarão. Se o mundo inteiro submergir no pecado, a Santa Igreja faz morada entre as nuvens do céu. Ainda que tudo possa parecer que é tudo, haverá um pequeno resto para testemunhar o triunfo final da Igreja de Cristo sobre os portais do inferno. Sejamos as pedras, sejamos os santos e os mártires, sejamos as nuvens do céu: os católicos de hoje e de sempre, incensados de fé e perseverantes na graça. Ainda que sejamos os últimos ou ainda que sejamos poucos, sejamos aqueles que responderão ao Senhor da Vinha quando este voltar a esta terra em busca do tesouro da fé autêntica dos verdadeiros Filhos de Deus: 'Onde estão os católicos?' E ainda que sejamos muitos de muitos poucos - ainda que sejamos o pequeno resto, que seja uma só a nossa fé e a nossa voz na resposta de todos: 'Aqui!'

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

05 DE FEVEREIRO - SANTA ÁGUEDA

 


Santa Águeda (ou Ágata), uma das mais conhecidas mártires dos primeiros séculos do Cristianismo, nasceu durante a primeira parte do século terceiro (provavelmente entre os anos 230 e 235) de uma família rica e nobre de Catânia, então uma das cidades mais prósperas da Sicília. Dotada de beleza singular, já aos 15 anos, expressou seu desejo de tornar-se uma virgem consagrada a Deus. Durante as perseguições cristãs sob o imperador Decio Trajanus (250 - 253), o prefeito romano de Catânia, um homem chamado Quintianus, foi tomado de uma obsessão diabólica de possui-la. Rejeitado em todas as suas empreitadas, o desejo transformou-se em ódio demente, o que o levou a cometer todo tipo de insanidades contra a jovem, submetendo-a a torturas inimagináveis.


Fiel à sua consagração a Cristo, a jovem resistiu a todos os tormentos, induzindo, cada vez mais, a fúria obsessiva do prefeito romano. Assim, foi induzida à prostituição sagrada como sacerdotisa, pressões psicológicas, interrogatórios exaustivos, torturas variadas, até a mutilação de um dos seus seios. Este grave ferimento teria sido milagrosamente curado por São Pedro. Ao ser indagada sobre a espantosa cura, respondeu que tinha sido curada por Jesus. Transtornado de ódio, o seu carrasco a condenou à morte deitada sobre um braseiro, depois de fazê-la passar sobre cacos de vidro. Neste momento, um grande terremoto abalou a cidade e a população associou o fato às torturas impostas à jovem que foi, então, gravemente queimada, retirada das brasas e lançada na prisão, onde morreu, poucas horas depois, em 5 de fevereiro do ano de 251. 

As suas relíquias são mantidas em uma urna na Catedral de Catânia, como também em igrejas de Palermo. É venerada como santa protetora contra doenças dos seios e contra catástrofes (uma erupção do vulcão Etna, cerca de um ano após a sua morte, foi interrompida pouco antes de atingir a cidade de Catânia, devido à intercessão do povo em favor da jovem mártir). Na iconografia cristã, é representada pela palma (símbolo do martírio), por um gesto de rejeição contra a violação de sua pureza (ou segurando a cruz) ou ainda por alguma referência a um dos inúmeros martírios que sofreu.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

'EU IRIA ATÉ O FIM DO MUNDO...'

(Alice e Dietrich von Hildebrand)

Nas memórias de Alice von Hildebrand, esposa de Dietrich von Hildebrand, consta um fato que é bastante característico de nossos tempos. Quando o professor Dietrich era professor na Universidade de Fordham em Nova York (em 1946, logo depois da II Grande Guerra), travou contato com um aluno judeu que havia sido oficial da marinha durante a guerra. 

No convívio firmado entre os dois desde então, o aluno confidenciou ao professor que a sua busca de Deus teve origem quando presenciava o pôr-do-sol no Oceano Pacífico. Inicialmente buscara então fazer o curso de filosofia na Universidade de Columbia, mas viu que não era isso que procurava. E então encontrou o caminho da verdade nas aulas do professor Dietrich na Universidade de Fordham.

Numa outra ocasião, revelou que, apesar de ser judeu e estar rodeado de professores católicos, estes argumentaram que  que não o tentariam de modo algum converter ao catolicismo. Entre atônito e desapontado, Dietrich von Hildebrand lhe disse então: 'Eu iria até ao fim do mundo e regressaria apenas para fazer-te católico'. O jovem oficial não apenas se converteu ao catolicismo como, mais tarde, foi ordenado padre cartuxo em Vermont, também nos Estados Unidos.

domingo, 31 de janeiro de 2021

EVANGELHO DE DOMINGO

 

'Não fecheis o coração, ouvi hoje a voz de Deus!
(Sl 94)

 31/01/2021 - Quarto Domingo do Tempo Comum

10. 'CALA-TE!'


Num certo dia de sábado, ainda no início do tempo de sua pregação pública, Jesus se dirige a uma sinagoga de Cafarnaum. E se põe a ensinar aos presentes, não conforme as prescrições vigentes e nem como um escriba qualquer, mas com a autoridade suprema de ser Ele próprio a Verdade falada e afirmada por todos os profetas. Aqueles homens privilegiados da história escutaram naquele sábado as primeiras palavras de uma nova doutrina, nascida do próprio coração de Deus.

Deus falava aos homens naquele sábado em Cafarnaum. E as palavras de Jesus ressoavam pela sinagoga e reverberavam, com ruídos estridentes, nos portais do inferno, transtornando os espíritos imundos. O mal, então, reage na sua cantilena miserável, pelos gritos de um possesso qualquer: 'Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus' (Mc 1, 24). 

Jesus vai fazer o demônio se calar peremptoriamente: 'Cala-te e sai dele!' (Mc 1, 25). 'Cala-te!' Sim, pois não se deve dar ouvidos ao demônio em condição alguma, pois não se obtém proveito algum da sordidez do maligno; o mal apenas faz conluio com o mal e, mesmo a verdade - 'tu és o Santo de Deus' - torna-se repugnante e maliciosa nas entranhas do pai da mentira. Não existe confabulação ou argumentação possível com o mal, mas apenas a sua condenação explícita e imediata: 'Cala-te!' Jesus é imperativo ao expulsar o demônio do possesso e, assim, não lhe dar a menor chance de réplica. 

Não há melhor didática que tal ensinamento diante dos inevitáveis confrontos e tentações humanas diante da avassaladora força do mal: não admitir concessão alguma à sua manifestação. Diante do mal, diante das tentações, diante das ciladas dos espíritos maus às condições humanas, este 'cala-te!' deve soar de pronto e definitivo: 'Cala-te!' Diante das lamentações frouxas, da tibieza, da preguiça, do orgulho: 'Cala-te!' Contra todas as ocasiões de pecado e de perda dos fundamentos da nossa fé: 'Cala-te!' Contra o mundo, se o mundo estiver contra a Verdade: 'Cala-te!' Seguindo os preceitos de Jesus, não nos basta apenas praticar o bem, mas também fazer calar e desaparecer de vez o mal que grita e se estertora entre as misérias do mundo.