quarta-feira, 4 de março de 2020

A VIDA OCULTA EM DEUS: A DESORDEM E A LUTA


Por uma desordem, consequência do pecado original, cada faculdade, diz São Tomás de Aquino, busca seu bem próprio sem ocupar-se do bem comum, ainda que o conjunto possa perecer. Acontece então como quando se torna preciso domar uma manada de feras; o que não se consegue senão com o chicote e sem perdê-las de vista. E se algumas carecem de domínio sobre si mesmas, sobretudo no princípio, eis então uma jaula de feras. Não as menosprezeis sob o pretexto de dominá-las a chicotadas porque não conseguirás. Descartai tais armadilhas e elevai-vos até Deus. Como poderíeis fazer isso? É um segredo, porém o Espírito Santo vos ensinará. 

Além disso, o inimigo espreita ao redor das almas. E aquelas que se lhe escapam e se esforçam em servir a Deus lhe são particularmente odiosas. Para perturbá-las, tenta de tudo. Quer impedir que deem frutos. E para isso ataca as flores assim que brotam. Pois cada flor que cai antes do tempo é um fruto perdido para a colheita. E cada bom pensamento apagado pelo medo, cada bom desejo sufocado pelo temor, são outras tantas flores estéreis. O demônio sabe disso. E por isso excita na alma esses mil pequenos surtos incômodos e pensamentos de tola vaidade, de suscetibilidade invejosa, de impaciência enraivecida, de avidez caprichosa que molestam, inquietam, paralisam, intimidam e que acabam por dividir simultaneamente a atenção do espírito e a aplicação da vontade. Deus, por outro lado, jamais está na perturbação e na inquietude. Por estes sinais reconheceis que estes pensamentos não são dEle. O demônio é bastante sutil em perturbar as vidas de alma interior!

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte I -  O Esforço da Alma; tradução do autor do blog)

domingo, 1 de março de 2020

PÁGINAS COMENTADAS DOS EVANGELHOS DOS DOMINGOS


'Por um só homem, pela falta de um só homem, a morte começou a reinar. Muito mais reinarão na vida, pela mediação de um só, Jesus Cristo, os que recebem o dom gratuito e superabundante da justiça. Como a falta de um só acarretou condenação para todos os homens, assim o ato de justiça de um só trouxe, para todos os homens, a justificação que dá a vida. Com efeito, como pela desobediência de um só homem a humanidade toda foi estabelecida numa situação de pecado, assim também, pela obediência de um só, toda a humanidade passará para uma situação de justiça' (Rm 5, 17-19)

sábado, 29 de fevereiro de 2020

IN SINU JESU: 'ESCOLHA SEMPRE SER FIEL A MIM'


Não é por meio de privilégios, graças especiais ou experiências místicas
que as almas são aperfeiçoadas no amor;
é por uma adesão total à minha vontade
é por uma morte real a tudo o que não for a minha vontade.

Essa sua vida passará rapidamente.
No final, você terá conforto em apenas uma coisa:
no 'Sim' que você terá dito ao meu amor por você
e na sua adesão à minha Vontade, uma vez que ela vai perpassar
minuto a minuto, hora a hora, dia após dia, em sua vida.

Diga-me, então, que o que eu quiser, você fará.
Diga-me que tudo o que está fora da minha vontade para você é nada.
Peça-me para limpar sua vida do lixo acumulado de tantos anos.
Peça-me para deixá-lo limpo de coração e pobre de espírito.
Não procure nada além do que o meu coração deseja que você tenha.
Peça apenas o que o meu coração lhe deseja dar.

Aí reside a sua paz.
Aí reside a sua alegria.
Aí reside a salvação e a glória.
Seus planos, seus desejos e suas ansiedades
são apenas nuvens de fumaça sopradas pelo vento.
Somente o que eu quero perdura.
Somente o que eu quero pode lhe dar felicidade.
Procure o que eu quiser e confie em mim para lhe dar o que você procura.
Almas que perseguem o arco-íris
passam pelos tesouros que eu coloquei sob os seus pés,
deixando-os para trás para perseguir um futuro que não existe
e que nunca existirá.

Este é um exercício exaustivo para você
e para tantas almas como a sua,
que, encantadas por um ideal,
deixam de ver minha obra e o esplendor de minha vontade por elas,
revelado no presente.
Viva, então, no momento presente.
Escolha ser fiel a mim
nas pequenas coisas que eu lhe dou:
e peço que você faça isso minuto a minuto,
de hora em hora e dia após dia.

É insensatez depositar suas esperanças e gastar sua energia
em um bem imaginário,
quando o bem real que eu lhe ofereço está aqui e agora.
Não é proibido sonhar sonhos
ou imaginar um futuro onde você acha que será feliz.
Dei a você uma imaginação e não me ofendo quando você a utiliza.
O bem imaginado torna-se um mal, no entanto,
quando consome a sua energia
e drena a sua vitalidade,
que eu gostaria que me fosse oferecida em sacrifício
sendo fiel à realidade do que está aqui e agora;
e também quando você usa a sua imaginação
para fugir da obediência e da submissão a mim
nas circunstâncias e nos lugares 
onde as coloquei em cada momento.

Planeje o futuro vivendo no presente.
Abra o seu coração à minha voz todos os dias
e apegue-se às menores manifestações da minha vontade.
Renuncie a tudo o que brota de seus próprios desejos e imaginações,
e diga 'sim' a tudo o que brota do meu Coração
por demais amoroso e misericordioso.
Aí reside a sua paz, a sua alegria e a sua salvação.

(Excertos da obra 'In Sinu Jesu - Quando o Coração fala ao coração: Diário de um Sacerdote em Oração', por um monge beneditino, tradução pelo autor do blog)

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

MEDITAÇÕES PARA A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DA QUARESMA

DAS TENTAÇÕES


I - A TENTAÇÃO, LONGE DE SER UM MAL, PODE NOS TRAZER UMA GRANDE VANTAGEM

Nenhum mal moral é possível sem que a vontade não o queira: ainda que a porta da vontade esteja cerrada, o demônio e a imaginação podem fazer alarido em torno do coração, mas não podem alterar a sua pureza. Eis aí porque Jesus Cristo e todos os santos suportaram a prova da tentação, sem que a provação causasse o menor ferimento a suas almas. Vede como toda desolação nas tentações se dá sem razão. O ato de se desolar é um desafio do amor-próprio, descontente em se ver miserável, ou uma desconfiança da bondade de Deus, que jamais falta aos que O invocam, ou a pusilanimidade de uma alma, que se vê só na sua fragilidade, e longe dos socorros de Deus. 

Longe de ser um mal, a tentação pode, pelo contrário, trazer-nos uma grande vantagem. Pois: (i) ela nos dá a oportunidade de glorificar a Deus, porque, ao resistirmos generosamente, provamos a nossa fidelidade, derrotamos os seus inimigos e triunfamos; (ii)  leva-nos à humildade, ensinando-nos o lado ruim que existe em nós; ao espírito de oração, fazendo-nos ver a necessidade de recorrer a Deus; à vigilância, advertindo-nos a desconfiar de nossa força e evitarmos a ocasião do mal; ao amor divino, fazendo ressaltar a bondade de Deus. 

Além disso, evita o desânimo, desperta o fervor, dá a virtude de um caráter mais firme e mais rígido; ensina-nos a nos conhecer; e dá mais graça à alma nesta vida e mais glória na outra, na proporção dos méritos que a adornam e a faz mais digna de Deus, como está escrito dos santos: 'Deus os tem provado e os encontrado dignos de Si'.  Eis porque Deus disse ao povo de Israel: 'Eu não queria destruir os cananeus para que tenhais inimigos para combater' e o Papa Leão disse da mesma forma: 'É bom para a alma o temor de cair e de ter constantemente uma luta para sustentar'. 

A alma fiel retira da tentação ao mal o mesmo fruto que da inspiração pelo bem. É esta a oportunidade para ela alcançar a perfeição da virtude com toda a boa vontade de que é capaz. Na tentação dos sentidos, [a alma] se eleva à infinita grandeza de Deus e se levanta. Elevada tão alto, mantém-se acima dos olhares baixos e sensuais; na tentação do espírito, mergulha até o nada; nas tentações do prazer, ama e abraça a cruz. É assim que temos tirado proveito de nossas tentações?

II - EM QUE CONDIÇÕES A TENTAÇÃO TORNA-SE UM BEM?

Existem certas condições que são necessárias antes, durante e depois da tentação: (i) Antes da tentação, é necessário evitar tudo que conduza ou incline para o mal, por exemplo: lidar com pessoas perigosas, olhares imodestos, modismos e leituras livres, os prazeres de uma vida fútil e e sensual: 'Quem ama o perigo nele perecerá e o que conta com as suas próprias forças será confundido'. A desconfiança é a mãe da segurança e expor-se voluntariamente ao perigo é tentar a Deus, é se fazer indigno do Seu auxílio. Além disso, é necessário não temer a tentação; temê-la a faz nascer; o melhor é não pensar nela e se concentrar apenas no que se tem a fazer. 

(ii) Durante a tentação, é necessário não se envolver por ela, com o pretexto de que será ligeira; de outra forma, ela se apoderaria de nós; antes deve-se descartá-la de pronto, firme e tranquilamente, rechaçando-a com desprezo, sem sequer se dignar a entreolhá-la; e, caso produza algumas impressões, basta desaprová-las suavemente e dedicarmos integralmente à ação presente. Aqueles que a enfrentam, correm o risco de manchar-se e os que a rejeitam com esforço excessivo perderiam a paz do coração, o recolhimento do espírito e a unção da piedade. Se não for possível  ter sucesso assim, é necessário se recorrer humildemente a Deus e dizer: 'Ó Senhor, quão profunda é a minha miséria! Quanto mal ainda tenho com o meu amor próprio! Quão bom sois Vós em amar um pecador como eu! Ó Jesus! Ó Maria! Ó todos os Santos e Anjos de Deus, bendizei ao Senhor, que quer se humilhar no Seu amor até a minha baixeza'. 

(iii) Depois, é necessário esquecer a tentação; a reflexão a faria reviver. É melhor tomar dela o valor de forma pacífica e reparar o mal passado, se este é conhecido, fazendo perfeitamente a ação presente; dirigir o olhar para Deus e envolver-se nos Seus braços com confiança e amor, dizendo como o filho pródigo: 'Pai, pequei contra o Céu e contra Vós', ou como o publicano: 'Meu Deus, tende misericórdia de mim, que sou pecador'. Examinemos, pois, se temos observado estas regras durante e depois das tentações.

(Excertos da obra 'Meditações para todos os dias do ano para uso do clero e dos fieis', de Pe. Andrés Hamon, Tomo II).


(hoje é dia de indulgência plenária pela Igreja)

DICIONÁRIO DA DOUTRINA CATÓLICA (I)


ABANDONO À DIVINA PROVIDÊNCIA

É a nossa inteira conformidade com as disposições da vontade de Deus. É muito racional este abandono, por mais misteriosa que seja a vontade divina, porque Deus nos ama e quer o nosso bem, conhece as nossas necessidades e pode sempre auxiliar-nos. A um tal abandono nos convida Jesus, dizendo: 'Não andeis cuidadosos da vossa vida, de que vos sustentareis, nem do vosso corpo de que vos vestireis. Olhai para as aves do céu, que não semeiam nem ceifam, nem recolhem em celeiros, e contudo vosso Pai celestial as sustenta. Porventura não sois vós mais do que elas? Procurai primeiro que tudo o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo' (Mt 6,25-). Jesus não reprova as nossas preocupações legítimas relativas às necessidades da vida; o que condena é a ansiedade exagerada, que provém do apego às coisas do mundo e da falta de confiança em Deus.

ADORAÇÃO

É o ato de culto de latria devido só a Deus, nosso Criador e supremo Senhor. De três modos devemos adorar a Deus: com adoração interior, que consiste em fazer atos de fé, de esperança, de amor, de gratidão, de submissão, apenas com pensamento; com adoração exterior, manifestando o nosso pensamento por meio de sinais sensíveis, tais como a genuflexão, a oração vocal, o sacrifício, e outros atos semelhantes; com adoração social ou pública. que consiste na oração feita em comum, na assistência à Missa e a outros atos de culto público. Podemos adorar a Deus em toda a parte, mas a igreja é o lugar mais próprio para manifestarmos a Deus o nosso culto de adoração. A adoração é devida igualmente a Jesus Cristo, porque é igualmente Deus. Devemos, pois, adorar a Deus não só com atos exteriores, mas de maneira que esses atos sejam a expressão sincera do amor que nos merece. Assim disse Jesus Cristo: ' Deus é Espírito, e é necessário que aqueles que O adoram, O adorem em espírito e em verdade' (Jo 4, 24).

ADVENTO

É o tempo de quatro semanas anteriores à festa do Natal. O primeiro dia do Advento ocorre no fim de novembro ou nos primeiros dias de dezembro e, com ele, começa o ano litúrgico ou ano eclesiástico. Quer a Igreja que durante o tempo do Advento os fieis se preparem com a oração e o jejum, para comemorarem cristãmente a vinda ou o nascimento de Jesus Cristo. As sextas-feiras do Advento são de abstinência sem jejum, mesmo para os fieis que têm o Indulto Quaresmal.

AGNÓSTICO 

É aquele que, sem negar a existência de Deus, afirma que não podemos provar que Deus existe. O agnóstico afirma um erro. Nós sabemos com certeza que Deus existe, porque sem Deus não se explica nada do que existe, visto como as coisas não existem por si mesmas e porque Deus revelou ou manifestou a sua existência a pessoas que tal nos afirmam e que são dignas de crédito. Com efeito, desde a primeira geração humana, as pessoas mais dignas de fé afirmam que Deus se revelou aos homens, provando com milagres que era Deus que se lhes revelava. A existência de Deus é afirmada na história de todos os povos e em todos os tempos. Tal afirmação não seria universal se não houvesse a certeza da existência de Deus.

AGNUS-DEI 

Termo que significa 'Cordeiro de Deus' é uma breve oração que o sacerdote repete três vezes, na Missa, antes de comungar. Também se dá este nome a uma espécie de medalha de cera branca, feita dos restos do círio pascal de anos anteriores, tendo de um lado a efígie de um cordeiro. Por virtude da oração da bênção, que é reservada ao papa, a medalha protege contra os perigos das doenças contagiosas, do mar, dos incêndios e das inundações.

ÀGUA-BENTA 

É aquela água sobre a qual o sacerdote faz uma bênção com orações prescritas pela Igreja. Serve para aspergir os fieis antes da Missa conventual, para aspergir as imagens dos santos, os paramentos, as casas, os frutos, etc. Está em pias próprias à entrada das igrejas para os fieis a tocarem com devoção, e é recomendável que a tenham em casa para se aspergirem com ela, podendo com isso ser purificados dos seus pecados veniais. 

ALELUIA 

Palavra hebraica conservada nas preces litúrgicas, e que significa 'Louvai a Deus'. É uma exclamação de alegria; por isso se chama 'Sábado de Aleluia' ao sábado da semana santa, dia em que se comemora a vigília da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

(Verbetes da obra 'Dicionário da Doutrina Católica', do Pe. José Lourenço, 1945)