terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

O SINAL DA CRUZ (V)


In hoc Signo vinces - 'Por este Sinal vencerás'

V

A terceira razão do Sinal da Cruz ter sido dado aos homens é a de nos tirarmos da pobreza, pois é um tesouro inesgotável que nos enriquece. E nos enriquece porque é uma excelente súplica. O Sinal da Cruz é uma súplica poderosa; uma súplica universal. E o que é um homem suplicando? É um indivíduo que, diante de Deus, confessa sua indigência: indigência intelectual, indigência moral, indigência material. Assim, suplicou por nós sobre a Cruz o adorável Mendigo do Calvário. E o que faz o homem formando o Sinal da Cruz, quer com a mão, quer estendendo os braços? Imprime em si mesmo a imagem do Divino Mendigo. Identifica-se com Ele como Jacó cobrindo-se das vestes de Esaú, para obter a bênção paterna. 

Quando o homem, ameaçado por um perigo, assaltado pela dúvida, perseguido por uma tentação, dominado pelo sofrimento ou pela doença, ao pronunciar estas palavras de solene autoridade: 'Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo" — e, ao pronunciá-las, faz o Sinal redentor do mundo, o Sinal vencedor do inferno, como poderás admitir a menor resistência por parte do mal? Não satisfez o homem todas as condições necessárias ao resultado? E não está Deus em posição de intervir e de glorificar o seu Nome e o poder de Seu Cristo? 

A piedade de quem faz o Sinal da Cruz, muito contribui para a sua eficácia. O Sinal da é uma invocação tácita a Jesus Crucificado; é pois, tento mais eficaz quanto maior for o fervor com que é feito. Seja ela de coração ou de boca, a invocação é tanto mais apta a produzir efeito quanto mais o fiel é virtuoso e mais do agrado do Senhor. é uma súplica universal e, de certo modo, com ele pode-se dizer como o próprio Salvador: 'foi-me dado todo o poder do Céu e da terra'. 

Se o Sinal da Cruz presidisse todas as lições que hoje se dão, todos os livros que se imprimem, acreditas tu que haveríamos de estar, assim, inundados como estamos de erros, de sofismas, de ideias falsas e de sistemas incoerentes cujo resultado incontestável é fazer baixar a olhos vistos o mundo moderno às trevas intelectuais de onde o Cristianismo já o havia tirado?

Vinte vezes ao dia sedutores objetos se oferecem aos nossos olhos; maus pensamentos nos importunam o espírito; e, revoltados, os sentidos solicitam-nos o coração a traições covardes. Ó de quanta força carece o homem! E onde a encontrará? No Sinal da Cruz. O testemunho dos séculos, a experiência dos veteranos e o exemplo dos conscritos na virtude, atestam hoje como ontem o poder soberano que o Sinal Divino tem para dissipar os encantos sedutores, afugentar os maus pensamentos e reprimir os movimentos da concupiscência.

Vês este doente cercado de dores, abandonado de todos ou rodeado de parentes e amigos sem forças para lhes valer? Detrás dele, há o tempo que foge e, à sua frente, a eternidade que avança. Sim; a eternidade em que ele vai cair sem que nenhuma força humana possa retardar-lhe o momento da partida ou adoçar as angústias da. viagem! Este doente, meu caro amigo, és tu, sou eu, é todo o homem, rico ou pobre, súdito ou monarca. Se durante os combates da vida carecemos de luz, de força de consolação e de esperança, não teremos nós de tudo isto uma necessidade mil vezes maior nas lutas decisivas da morte? Pois bem, o Sinal da Cruz é tudo isto para todos nós. À maneira dos mártires que, ao caminhar ao último combate, não deixavam de se fortalecer pelo Sinal da Cruz, os verdadeiros cristãos dos séculos passados recorriam sempre ao Divino Sinal para adoçar as dores e santificar suas mortes.

Mendigo na ordem espiritual, o homem não é menos indigente na ordem temporal. Nosso corpo e nossa alma vivem senão de esmolas. Entre os bens necessários ao corpo, há dois em particular que gostaria de mencionar — a saúde e a segurança. Um e outro, o Sinal da Cruz no-los alcança. Quantos e quão numerosos são os testemunhos que o  Sinal adorável dAqueIe que veio ao mundo para curar todas as moléstias, não tem deixado nunca de dar vista aos cegos, ouvido aos surdos, fala aos mudos, saúde aos doentes e vida aos mortos. O Sinal da Cruz protege não só a nossa vida, mas tudo quanto nos pertença, e daí o hábito católico de se benzer, com o Sinal libertador, também as nossas casas, animais e todas as coisas de nosso uso particular. 

(Excertos adaptados da obra 'O Sinal da Cruz', do Monsenhor Gaume, 1862)

domingo, 2 de fevereiro de 2020

PÁGINAS COMENTADAS DOS EVANGELHOS DOS DOMINGOS


'(Jesus) devia fazer-se em tudo semelhante aos irmãos, para se tornar um sumo-sacerdote misericordioso e digno de confiança nas coisas referentes a Deus, a fim de expiar os pecados do povo. Pois, tendo ele próprio sofrido ao ser tentado, é capaz de socorrer os que agora sofrem a tentação' (Hb 2, 17-18)

PÁGINAS DO EVANGELHO (2019 - 2020)

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

31 DE JANEIRO - SÃO JOÃO BOSCO

 

Filho de uma humilde família de camponeses, São João (Melchior) Bosco nasceu em Colle dos Becchi, localidade próxima a Castelnuovo de Asti em 16 de agosto de 1815. Órfão de pai aos dois anos, viveu de ofícios diversos na pobreza da infância e da juventude, até ser ordenado sacerdote em 5 de junho de 1841, com a missão apostólica de servir, educar e catequizar os jovens, o que fez com extremado zelo e santificação durante toda a sua vida.

Em 1846, fundou o Oratório de São Francisco de Sales em Turim, dando início à sua obra prodigiosa, arregimentando colaboradores e filhos, aos quais chamava de salesianos, em meio a um intenso e profícuo apostolado. Em 1859, fundou  a Congregação Salesiana e, em 1872, com a ajuda de Santa Maria Domingas Mazzarello, fundou o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora para a educação da juventude feminina. Em 1875, enviou a primeira turma de seus missionários para a América do Sul. No Brasil, as primeiras casas salesianas foram o Colégio Santa Rosa em Niterói e o Liceu Coração de Jesus em São Paulo. 

Faleceu a 31 de janeiro de 1888 em Turim, aos 72 anos, deixando como herança cristã a Congregação Religiosa Salesiana espalhada por diversos países da Europa e das Américas. O Papa Pio XI, que o conheceu e gozou da sua amizade, canonizou-o na Páscoa de 1934. Popularizado como 'Dom Bosco', foi aclamado pelo Papa João Paulo II como 'pai e mestre da juventude' e se tornaram lendários os seus sonhos proféticos (exemplo abaixo), que ele narrava em suas pregações aos jovens salesianos.

A BIGORNA E O MARTELO

Em 20 de agosto de 1862, depois de rezadas as orações da noite e de dar alguns avisos relacionados com a ordem da casa, Dom Bosco disse: 'Quero contar-lhes um sonho que tive faz algumas noites'.

Sonhei que estava em companhia de todos os jovens em Castelnuovo do Asti, na casa de meu irmão. Enquanto todos faziam recreio, dirigiu-se a mim um desconhecido e convidou-me a acompanhá-lo. Segui-o e ele me conduziu a um prado próximo ao pátio e ali indicou-me, entre a erva, uma enorme serpente de sete ou oito metros de comprimento e grossura extraordinária. Horrorizado ao contemplá-la, quis fugir.

— 'Não, não' — disse-me meu acompanhante — 'não fujas; vem comigo'.
 'Ah!' — exclamei — 'não sou tão néscio para me expor a um tal perigo'.
— 'Então' — continuou meu acompanhante —'aguarda aqui'.
E, em seguida, foi em busca de uma corda e com ela na mão voltou novamente junto a mim e disse-me:
— 'Tome esta corda por uma ponta e agarre-a bem; eu agarrarei o outro extremo e por-me-ei na parte oposta e, assim, a manteremos suspensa sobre a serpente'.
— 'E depois?'
— 'Depois a deixaremos cair sobre a espinha dorsal'.
— 'Ah! não; por caridade. Pois ai de nós se o fizermos! A serpente saltará enfurecida e nos despedaçará'.
— 'Não, não; confie em mim' — acrescentou o desconhecido —'eu sei o que faço'.
— 'De maneira nenhuma; não quero fazer uma experiência que pode-me custar a vida'.

E já me dispunha a fugir, quando o homem insistiu de novo, assegurando-me que não havia nada que temer; e tanto me disse que fiquei onde estava, disposto a fazer o que me dizia. Ele, entretanto, passou do outro lado do monstro, levantou a corda e com ela deu uma chicotada sobre o lombo do animal. A serpente deu um salto voltando a cabeça para trás para morder ao objeto que a tinha ferido, mas em lugar de cravar os dentes na corda, ficou enlaçada nela mediante um nó corrediço. Então o desconhecido gritou-me:

— 'Agarre bem a corda, agarre-a bem, que não se lhe escape'.

E correu a uma pereira que havia ali perto e atou a seu tronco o extremo que tinha na mão; correu depois para mim, agarrou a outra ponta e foi amarrá-la à grade de uma janela. Enquanto isso, a serpente agitava-se, movia-se em espirais e dava tais golpes com a cabeça e com sua calda no chão, que suas carnes rompiam-se saltando em pedaços a grande distancia. Assim continuou enquanto teve vida; e, uma vez morta, só ficou dela o esqueleto descascado e sem carne. Então, aquele mesmo homem desatou a corda da árvore e da janela, recolheu-a, formou com ela um novelo e disse-me:

— 'Presta atenção!'

Colocou a corda em uma caixa, fechou-a e depois de uns momentos a abriu. Os jovens tinham-se ajuntado ao ao meu redor. Olhamos o interior da caixa e ficamos maravilhados. A corda estava disposta de tal maneira, que formava as palavras: Ave Maria!

— 'Mas como é possível?' — disse — 'Você colocou a corda na caixa e agora ela aparece dessa maneira!'.

— 'Olhe' — disse ele — 'a serpente representa o demônio e a corda é a Ave Maria, ou melhor, o Santo Rosário, que é uma série de Ave Marias com a qual e com as quais se pode derrubar, vencer e destruir todos os demônios do inferno.

Enquanto falávamos sobre o significado da corda e da serpente, voltei-me para trás e vi alguns jovens que, agarrando os pedaços da carne da serpente, os comiam. Então gritei-lhes imediatamente:

— 'Mas o que é o que fazem? Estão loucos? Não sabem que essa carne é venenosa e que far-lhes-á muito dano?'

'Não, não' — respondiam-me os jovens — 'a carne está muito boa'.

Mas, depois de havê-la comido, caíam ao chão, inchavam-se e tornavam-se duros como uma pedra. Eu não podia ficar em paz porque, apesar daquele espetáculo, cada vez era maior o número de jovens que comiam aquelas carnes. Eu gritava a um e a outro; dava bofetadas a este, um murro naquele, tentando impedir que comessem; mas era inútil. Aqui caía um, enquanto que lá começava a comer outro. Então chamei os clérigos em meu auxílio e disse-lhes que se mesclassem entre os jovens e se organizassem de maneira que ninguém comesse aquela carne. Minha ordem não teve o efeito desejado, pois alguns dos clérigos começaram também a comer as carnes da serpente, caindo ao chão como os outros. Eu estava fora de mim quando vi a meu redor um grande número de moços estendidos pelo chão no mais miserável dos estados. Voltei-me, então, para desconhecido e disse-lhe:

— 'Mas o que quer dizer isto? Estes jovens sabem que esta carne ocasiona-lhes a morte e, contudo, a comem. Qual é a causa?'

Ele respondeu-me: ' Já sabes que animalis homo non percipit ea quae Dei sunt: Alguns homens não percebem as coisas que são de Deus'.

— 'Mas não há remédio para que estes jovens voltem em si?'

— 'Sim, há'.

— 'E qual seria?'

— 'Não há outro que não seja pela bigorna e pelo martelo'.

— 'Bigorna? Martelo? E como terei que empregá-los?'

— 'Terás que submeter os jovens à ação de ambos estes instrumentos'.

— 'Como? Acaso devo colocá-los sobre a bigorna e golpeá-los com o martelo?'

Então meu companheiro me esclareceu, dizendo:

— 'O martelo significa a Confissão e a bigorna, a Comunhão; é necessário fazer uso destes dois meios'.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

CARTA À JUVENTUDE


A primeira artimanha do demônio consiste em persuadi-los de que o serviço de Deus exige uma vida triste, sem nenhum divertimento ou prazer. Mas isto não é verdade, meus caros jovens. Eu vou lhes indicar um plano de vida cristã que poderá mantê-los alegres e contentes, fazendo-os conhecer quais são os verdadeiros divertimentos e prazeres para que vocês possam exclamar como o santo profeta Davi: 'Sirvamos ao Senhor na santa alegria'.

A segunda artimanha do demônio consiste em fazê-los conceber a falsa esperança de uma longa vida que permite converter-se na velhice ou na hora da morte. Prestem atenção, meus caros jovens, muitos se deixaram prender por esta mentira. Quem nos garante que chegaremos à velhice? Mas a vida e a morte estão entre as mãos de Deus que dispõe de tudo a seu bel-prazer.

E mesmo se Deus lhes concedesse uma longa vida, escutai, entretanto, sua advertência: 'o caminho do homem começa na juventude, ele o segue na velhice até a morte'. Ou seja, se jovens começamos uma vida exemplar, seremos exemplares na idade adulta, nossa morte será santa e nos fará entrar na felicidade eterna. Se, pelo contrário, os vícios começam a nos dominar desde a juventude, é muito provável que eles nos manterão em escravidão por toda a nossa vida, até a morte. Triste prelúdio a uma eternidade terrível.

Para que esta infelicidade não lhes aconteça, eu lhes apresento um método de vida alegre e fácil, mas que lhes bastará para se tornarem a consolação de seus pais, a honra de pátria de vocês, bom cidadãos da terra, em seguida felizes habitantes do céu... Meus caros jovens, eu os amo de todo o meu coração e basta-me que vocês sejam jovens para que eu os ame extraordinariamente. Eu lhes garanto que vocês encontrarão livros que lhes foram dirigidos pelas pessoas mais virtuosas e sábias em muitos pontos, mas, dificilmente, vocês poderão encontrar alguém que os ame mais do que eu, em Jesus Cristo, e lhes deseja mais a felicidade.

Conservem no coração o tesouro da virtude porque, possuindo-o, vocês têm tudo, mas se o perderem, tornar-se-ão os homens mais infelizes do mundo. Que o Senhor esteja sempre com vocês e que Ele lhes conceda seguir os simples conselhos presentes, para que possam aumentar a glória de Deus e obter a salvação da alma, fim supremo para o qual fomos criados. Que o Céu lhes dê longos anos de vida feliz e que o santo temor de Deus seja sempre a grande riqueza que os cumule de bens celestes aqui e por toda a eternidade. Vivam contentes e que o Senhor esteja com vocês.

(São João Bosco) 

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

BREVIÁRIO DIGITAL - ILUSTRAÇÕES DE DORÉ (VIII)

PARTE VIII (1Sm 6 - 2Sm 21)

  [Os betsamitas que segavam o trigo veem o retorno da Arca do Senhor (I Sm 6,13)]

  [Samuel testemunha Saul como futuro chefe do povo de Israel (I Sm 9,17)]


 [Morte de Agag, rei de Amalec (I Sm 15,33)]


  [Davi decepa a cabeça de Golias, o gigante filisteu (I Sm 17,51)]


  [A tentativa de Saul matar Davi com uma lança (I Sm 18,11)]


  [A fuga de Davi por uma janela de sua casa (I Sm 19,12)]


  [Jônatas permite a fuga de Davi (I Sm 20,42)]


  [Discurso de Davi ao rei Saul (I Sm 24,9-16)]


 [Saul e a necromante de Endor (I Sm 28,11)]


  [Morte de Saul prostrando-se sobre uma espada (I Sm 31,4)]


  [Combate entre os doze homens de Benjamin e os doze homens de Davi (II Sm 2,15-16)]


   [Davi tomando Rabá, cidade dos amonitas (II Sm 12,27)]


   [A morte de Absalão, preso nos galhos de uma árvore (II Sm 18,9-15)]


    [Davi recebe a notícia e lamenta a morte de Absalão (II Sm 18,32)]


[Resfa, filha de Aías, protege os corpos dos sete martirizados (II Sm 21,10)]


[Abisaí mata o filisteu e salva Davi da morte (II Sm 21,17)]