terça-feira, 31 de dezembro de 2019

ORAÇÃO PARA O ÚLTIMO DIA DO ANO

Obrigado, Senhor,
pelo ano que termina,
porque estou aqui, junto Convosco e com minha família (com meus amigos),
vivendo a alegria de ter vivido um ano mais
em Vossa Santa Presença.

Obrigado, Senhor,
por mais um ano de vida,
por ter tido ainda este tempo para viver 
as santas alegrias do Natal e deste Ano Novo.
Por estar com pessoas que amo
e que compartilham comigo
a mesma fé e o sincero propósito
de viver o Evangelho a cada dia.

Obrigado, Senhor,
por tantas graças recebidas neste ano que passa;
eu Vos ofereço hoje o meu nada
e, dentro do meu nada, todo o meu amor humano possível,
como herança de Vossa Ressurreição.
No meio das luzes do mundo nesse dia de festa,
eu me recolho à sombra da Vossa Misericórdia;
e Vos honro e Vos dou glória nesse tempo
pelos tempos que estarei Convosco para sempre.

Obrigado, Senhor,
por estar aqui na Vossa Presença,
no tempo que conta mais um ano que se vai,
na gratidão da alma confiante
que aprendeu o caminho do Pai.
Das coisas boas que fiz, dou-Vos tudo,
porque as recebi de Vosso Santo Espírito.
E Vos suplico curar com Vosso Corpo e Sangue
as cicatrizes dos meus pecados.

Obrigado, Senhor,
pela caminhada diária com Maria, 
que nos ensina no cotidiano de nossas vidas
a ir ao Vosso encontro todos os dias.
Pelo meu Santo Anjo da Guarda,
pelos meus santos de devoção, 
pelo papa, e pela Vossa Igreja,
eu Vos agradeço, Senhor, e Vos louvo, 
neste último dia do ano.

Obrigado, Senhor,
pelo ano que termina.
Que eu não me lembre nesse tempo
das dores e sofrimentos que passei,
das tristezas e angústias que vivi:
que todo mal seja olvidado agora
na alegria de eu estar aqui Convosco,
e pela resignação à Santa Vontade de Deus.

E que nesta última hora do tempo que se vai,
do ano que chega ao fim:
mais uma vez, não seja eu que viva,
mas o Cristo que vive em mim.
Amém.


(Arcos de Pilares)

OREMUS! (365)

A sequência diária e completa (uma postagem para cada dia do ano) destes pensamentos e reflexões está agora disponível na Página OREMUS! na Biblioteca Digital deste blog.

31 DE DEZEMBRO 

Oremus! [Oremos!]

Escreve Santo Afonso no prefácio do seu livrinho sobre a oração: tenho publicado várias obras espirituais. Parece-me, no entanto, que nenhuma escrevi, mais útil que o presente opúsculo, sobre a oração. Se me fosse possível, quisera mandar imprimir tantos exemplares deste livro quantos fiéis há na terra, e distribuí-los a todos, para que não houvesse um só que não se instruísse acerca da necessidade que todos temos de rezar.

Oremus! [Oremos!]... dizendo assim é que subo ao altar, todos os dias. E com que consciência posso eu convidar os fiéis à oração, se eu mesmo não rezo? Ou terei chegado ao ponto de não compreender essa palavra, e de não sentir a sua força? Oremus! [Oremos!]... é o convite que me faz a Igreja, tantas e tantas vezes ao dia. É a insistência de uma mãe que não quer perder os seus filhos. Oremus! [Oremos!]... é o resumo de todos os sermões, conferências e retiros de que eu preciso para melhorar a minha vida.

Oremus! [Oremos!]... é o aviso que Nosso Senhor me deu, tantas e tantas vezes, insistindo comigo neste ponto, mais que em qualquer outro. Oremus! [Oremos!]... seja este o último pensamento deste ano, para que seja a minha preocupação de todos os anos e de todos os dias. Que eu reze! Que eu não abandone a oração, para não chegar ao ponto de abandonar a Deus, e ser por Ele abandonado. Oremus! [Oremos!]... que este desejo de rezar possa agora suprir tudo o que eu não rezei durante a minha vida. Que esta preocupação me persiga sempre. Somente assim terei uma alma nova, para viver um Ano Novo. Sine intermissione orate! [Orai incessantemente! (sem interrupções) (1Ts 5,17)].

(Oremus — Pensamentos para a Meditação de Todos os Dias, do Pe. Isac Lorena, 1963, com complementos de trechos traduzidos do latim pelo autor do blog).

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

DISCURSO SOBRE O SANTO NOME DE JESUS

Vocatum est nomen ejus Jesus - Deram-lhe o nome de Jesus

O grande nome de Jesus não é de invenção humana; foi o Pai Eterno que o deu a seu divino Filho, diz São Bernardino de Sena. É um nome novo e saído dos lábios do Senhor, segundo o profeta, um nome que só Deus podia dar Àquele que destinara para Salvador do mundo. É um nome a um tempo novo e eterno porque, como a redenção foi decretada desde a eternidade, assim o nome do Redentor lhe foi assinalado desde a eternidade. 

Entretanto, na terra, o nome de Jesus só foi imposto a Nosso Senhor no dia da circuncisão: depois que se completaram os oito dias para ser circuncidado o Menino, foi-lhe dado o nome de JESUS, diz Lucas. Deus quis então recompensar a humildade de seu Filho, dando-lhe esse nome glorioso. Sim, enquanto Jesus se humilha sujeitando-se com a circuncisão a receber a marca dos pecadores, é justo que seu Pai o glorifique dando-lhe um nome que, como se exprime São Paulo, sobrepuja em dignidade e grandeza todos os outros nomes. E manda que esse nome seja adorado pelos anjos, pelos homens e pelos demônios ou, para nos servirmos das expressões do mesmo Apóstolo, Deus quer que ao nome de Jesus se curve todo o joelho no céu, na terra e no inferno.

Se todas as criaturas adoram esse grande nome, nós, pecadores, muito mais do que os outros, somos obrigados a adorá-lo, porque por nosso amor é que o Filho de Deus leva esse nome de Jesus, que significa Salvador; é para salvar os pecadores, como canta a Igreja, que Ele desceu do céu e se fez homem. Devemos adorá-lo, e ao mesmo tempo render graças a Deus por haver dado a Nosso Senhor, para o nosso bem, esse nome que nos consola, nos defende, e nos inflama; três pontos que vamos tratar neste discurso, depois de pedir a Jesus e Maria as luzes de que temos necessidade.

I

Em primeiro lugar, o nome de Jesus nos consola; em todas as penas basta-nos dizer: Jesus! para nos sentirmos aliviados. Quando recorremos a Jesus, Ele não pode deixar de consolar-nos; Ele quer consolar-nos porque nos ama, e Ele o pode, porque não é só homem mas também Deus todo-poderoso; do contrário, esse grande nome de SALVADOR não lhe convidaria em toda verdade. O nome de Jesus supõe um poder infinito e ao mesmo tempo uma sabedoria e um amor infinitos; se essas perfeições não se achassem reunidos em Jesus Cristo, Ele não poderia salvar-nos, como o disse São Bernardo. Esse Santo diz ainda, falando da circuncisão: 'Ele foi circuncidado como filho de Abraão; foi chamado Jesus como Filho de Deus'. Nosso Senhor está marcado, como homem, com o sinal dos pecadores, porque Ele se encarregou de satisfazer pelos pecadores, e desde o seu nascimento quer começar a expiar os pecados deles por seus sofrimentos e pela efusão de seu sangue; mas Ele é chamado Jesus, é chamado Salvador, como Filho de Deus, porque só a Deus compete salvar.

O nome de Jesus é chamado pelo Espírito Santo óleo derramado. E não sem razão, observa São Bernardo: o óleo aclara, nutre e cura; assim o nome de Jesus. Em primeiro lugar é luz: aclara quando anunciado. Com efeito, pergunta o Santo, donde veio essa luz que a fé difundiu com tanta rapidez sobre a terra ao ponto de levar em pouco tempo grande número de gentios ao conhecimento e ao serviço do verdadeiro Deus? Foi da pregação do nome de Jesus. É a esse nome que devemos a felicidade de sermos feitos filhos da verdadeira luz, isto é, filhos da Santa Igreja, tendo nascido no grêmio da Igreja Romana, em países cristãos e católicos: graça e sorte não concedidas à maior parte dos homens, que nascem entre os idólatras, maometanos ou hereges. 

Além disso, o nome de Jesus é um nutrimento que fortifica nossas almas, cada vez que nele pensamos. Enche de paz e consolação os fiéis, mesmo no meio das misérias e das perseguições que têm de sofrer sobre a terra. Sustentados pela virtude do nome de Jesus, os apóstolos exultavam de alegria no meio dos maus tratos e dos opróbrios: Eles saiam da presença do conselho, contentes por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus. É, pois, uma luz e um nutrimento, e é também um remédio para os que o invocam. Damos a palavra a São Bernardo: 'Se uma alma está aflita ou atribulada, pronuncie o nome de Jesus; e logo a tempestade fugirá e voltará a paz'. Se alguém tem a desgraça de cair no pecado e desespera do perdão, invoque esse nome de vida que logo sentirá a confiança do perdão; esse nome de Jesus, o Pai eterno lho deu como Salvador precisamente para obter o perdão aos pecadores.

Se Judas, tentado de desespero, tivesse invocado o nome de Jesus, não teria sucumbido, afirma Eutímio. Ele acrescenta que um pecador, seja ele qual for, não cairá jamais no abismo do desespero, contanto que invoque esse santo nome que é nome de esperança e salvação. Infelizmente os pecadores deixam de recorrer a esse remédio salutar, porque não querem sarar de suas enfermidades. Jesus Cristo está pronto a curar todas as nossas chagas; mas se alguém gosta de suas chagas e não deseja a cura, como poderá Jesus curá-lo? A venerável Irmã Maria Crucifixa viu um dia Nosso Senhor como num hospital; as mãos cheias de remédios, ia dum doente a outro; mas, em vez de lhe testemunharem reconhecimento e de chamarem-no, esses infelizes o repeliam. Assim fazem muitos pecadores: depois de se envenenarem voluntariamente pelo pecado, recusam a saúde, isto é, a graça que Jesus lhe oferece; ficam pois na sua miséria e se perdem.

Ao contrário, que temor pode ter um pecador que recorre a Jesus, pois que Jesus mesmo se oferece para obter de seu Pai o perdão aos culpados havendo já com a sua morte pago a pena que eles mereceram? 'O ofendido fez-se nosso intercessor, diz São Lourenço Justiniano; e Ele mesmo pagou o que lhe devíamos'. Alhures ele acrescenta: 'Quando pois vos sentirdes acabrunhados pela enfermidade, atormentados pela dor, agitados pelo temor, chamai Jesus em vosso auxílio, e Ele vos consolará'. Aliás basta que peçamos a seu Pai em seu nome, para obtermos tudo quanto lhe pedirmos: essa promessa, repetida muitas vezes pelo próprio Jesus Cristo, não pode deixar de ser cumprida: Tudo o que pedirdes a meu Pai em meu nome, Ele vo-lo dará. Tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, eu o farei.

II

Dissemos, em segundo lugar, que o nome de Jesus nos defende. Sim, nos protege contra as emboscadas e ataques de nossos inimigos. O Messias foi por Isaías chamado o Forte: Fortis; e o Sábio disse que o seu nome é uma torre fortíssima. Com isso nos dá a entender que quem se põe sob a proteção desse nome poderoso nada tem a temer dos assaltos do inferno.

Jesus Cristo, diz São Paulo, humilhou-se por obediência a seu Pai, ao ponto de morrer na cruz; eis por que Deus o exaltou. 'Com outras palavras, observa Santo Anselmo, Nosso Senhor humilhou-se de tal forma, que não podia humilhar-se mais; e por isso o seu divino Pai, pelo mérito dessa humildade e obediência do Filho, o exaltou o mais que pôde'. E de fato, diz o apóstolo, o Padre eterno deu a seu Filho divino um nome acima de todo outro nome, um nome tão glorioso e poderoso, que é venerado pelo céu, porque nos pode obter todas as graças; nome poderoso na terra, porque pode salvar a todos os que o invocam devotamente; nome poderoso no inferno, porque espanta todos os demônios. 

Esse nome sagrado faz tremer os anjos rebeldes, porque, ao ouvi-lo, se lembram do Forte por excelência, que destruiu o império que exerciam violentamente sobre os homens. 'Eles tremem, diz São Pedro Crisólogo, porque são forçados a adorar nesse nome toda a majestade de Deus'. Aliás nosso Salvador declarou que seus discípulos expulsariam os demônios em virtude de seu nome. E de fato, a Santa Igreja, em seus exorcismos, sempre se serve desse nome para expelir esses espíritos infernais dos possessos. E os sacerdotes que assistem aos moribundos, se servem do nome de Jesus para libertar os enfermos dos mais terríveis assaltos que o inferno faz naqueles momentos da morte.

Leia-se a vida de São Bernardino de Sena, e lá se verá quantos pecadores ele converteu, quantos abusos fez desaparecer, quantas cidades santificou, pregando aos povos a devoção ao nome de Jesus. Segundo a palavra de São Pedro, o santo nome de Jesus é o único pelo qual, pela vontade divina, podemos esperar a salvação. Jesus Cristo não nos salvou apenas uma vez; Ele nos salva continuamente por seus méritos, livrando-nos do perigo de pecar todas as vezes que o invocamos com confiança; assim cumpre a promessa: 'Tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, eu o farei'. Daí a animadora palavra de São Paulo que quem invocar o nome do Senhor, será salvo.

Repito, pois, com São Lourenço Justiniano: 'Em todas as vossas tentações, venham elas dos demônios ou dos homens que vos excitam ao pecado, chamai a Jesus em vosso auxílio, e triunfareis; e se as tentações continuarem a perseguir-vos, continuai a invocar Jesus, e não sucumbireis jamais'. É um fato de experiência: as almas fiéis a essa santa prática permanecem firmes no combate e conquistam infalivelmente a vitória. Ao nome de Jesus usamos sempre o de MARIA, que é igualmente terrível no inferno, e nada teremos a temer. 'Jesus! Maria!' haverá oração mais curta, mais fácil de reter? Ela não é menos poderosa para repelir todos os ataques dos inimigos da nossa salvação. Assim nos fala Tomás de Kempis.

III

O nome de Jesus não apenas nos consola, mas nos preserva de todo o mal; além disso, inflama de santo amor a todos os que O pronunciam com devoção. O nome de Jesus, ou de Salvador, é um nome que por si mesmo exprime o amor, por-que nos lembra, observa São Bernardino de Sena, tudo o que o Filho de Deus fez e sofreu para operar a nossa salvação. Daí a tocante exclamação dum piedoso autor: 'Ó meu Jesus, quanto vos custou o serdes Jesus, isto é, meu Salvador!'

São Mateus narra, falando da crucifixão de Nosso Senhor, que lhe puseram sobre a cabeça a inscrição: 'Aqui está Jesus, o Rei dos Judeus'. O Padre eterno, pois, quis que na cruz em que morreu nosso Redentor, se lesse o nome de Jesus, isto é, do Salvador do mundo. Por essa inscrição, Pilatos não pretendia declarar Jesus Cristo culpado por se arrogar o título de rei, como o acusavam os judeus, pois não se incomodou com a acusação, reconhecendo a inocência dele e protestando por não querer ter parte na sua morte: 'Eu sou inocente do sangue deste justo'. Por que então lhe dar o título de rei? Porque essa foi a vontade de Deus que nos quis com isso dizer: 'Ó homens, sabeis porque morre este inocente que é o meu Filho? Morre porque é o vosso Salvador; morre, esse divino Pastor, e morre no madeiro infame para salvar a vós suas ovelhas'.

Eis uma razão a mais por que nos Cânticos o nome do Senhor é chamado óleo derramado; esse nome, diz São Bernardo, significa 'a efusão da divindade'. Na obra da nossa redenção, Deus levou o seu amor por nós até dar-se e comunicar-se a nós sem reservas: Ele nos amou e entregou-se por nós. Para poder comunicar-se a nós, tomou sobre si, diz Isaías, as penas que tínhamos de sofrer. Pela inscrição afixada à cruz quis Ele, diz São Cirilo de Alexandria, apagar a sentença de morte lavrada contra nós pecadores. É precisamente isso que nos ensina o apóstolo com as palavras: Cancelou o decreto que nos era desfavorável, que era contra nós, e o aboliu inteiramente, encravando o seu nome na cruz. Enfim, nosso amoroso Redentor quis subtrair-nos à maldição que merecêramos e, por isso, atirou sobre sua cabeça as maldições divinas, carregando-se de todos os nossos pecados: Cristo remiu-nos da maldição da lei, feito ele mesmo maldição por nós.

Assim, quando uma alma fiel pronuncia o nome de Jesus e se recorda do que o Senhor fez para salvá-la, é impossível que não sinta o seu coração inflamar-se por Aquele que a amou tanto. 'Quando dizemos ‘Jesus’, afirma São Bernardo, devemos figurar-nos um homem manso, afável, compassivo, cheio de todas as virtudes; devemos ainda pensar que Ele é o nosso Deus e que, para curar-nos de nossas chagas, quis ser desprezado e maltratado até morrer de pura dor na cruz'. 'Seja-nos caro, ó cristão', exorta Santo Anselmo, 'o belo nome de Jesus; Jesus esteja sempre em vosso coração; seja o único alimento de vossa alma e a vossa única consolação'. Ah! replica São Bernardo, só quem experimentou pode compreender a doçura, as celestes delícias que se sentem, mesmo neste vale de lágrimas, quando se ama ternamente a Jesus.

Expertus potest credere quid sit Jesum diligere - quem conheceu pode saber o que é amar Jesus

Isso souberam por experiência tantas almas piedosas: Santa Rosa de Lima ao comungar tinha o coração de tal forma abrasado do amor divino, que seu hálito queimava a mão que lhe dava água a beber, segundo o costume, após a comunhão; Santa Maria Madalena de Pazzi, empunhando o crucifixo, andava toda inflamada gritando: 'Ó Deus de amor! ó Deus de amor! direi mesmo, louco de amor!'; São Filipe Néri, cujo peito teve de ser alargado para dar espaço às palpitações de seu coração abrasado; Santo Estanislau Kostka, ao qual às vezes era preciso banhar o peito em água fria para temperar o ardor de que se consumia por Jesus; São Francisco Xavier que, pelo mesmo motivo, se descobria o peito dizendo: 'Basta, Senhor, basta'; declarando com isso que já não podia suportar a chama que ardia em seu coração.

Procuremos, pois, também nós ter, quanto possível, o amor de Jesus em nosso coração e o seu santo nome nos nossos lábios. O Apóstolo ensina que não podemos pronunciar com devoção o nome de Jesus a não ser pela graça do Espírito Santo. Assim o Espírito Santo comunica-se a todos os que pronunciam devotamente o nome de Jesus.

Para alguns, o nome de Jesus é um nome estranho; por que? porque não amam a Jesus Cristo. Os santos tiveram sempre nos lábios esse nome de salvação e de amor. Nas epístolas de São Paulo quase não se encontra uma página em que não se leia mais vezes o nome de Jesus. São João também o repete frequentemente. Um dia, o bem-aventurado Henrique Suso, querendo imprimir-se mais fortemente no coração o amor de seu divino Mestre, tomou um ferro afiado e gravou-se no peito o nome de Jesus; depois exclamou banhado em sangue: 'Senhor, quisera gravar-vos no fundo do meu coração, mas não posso; vós que tudo podeis, gravai vosso nome adorável no meu coração, de maneira que dele não possa desaparecer nem o vosso nome nem o vosso amor'. Santa Joana de Chantal chegou a imprimir o nome de Jesus em seu coração por meio dum ferro em brasa.

De nós Jesus não pede tanto; contenta-se que o conservemos em nosso coração com um afeto sincero e que o invoquemos muitas vezes com amor. E já que tudo quanto Ele fez e disse durante sua vida, Ele fez e disse por nosso amor, é justo que façamos todas as nossas ações em nome e por amor de Jesus Cristo; São Paulo a isso nos exorta: 'Tudo o que fizerdes, em palavras ou por obra, fazei tudo em nome do Senhor Jesus Cristo'. E já que Jesus Cristo morreu por nós, devemos estar prontos a morrer pelo nome de Jesus, como o apóstolo que dizia: 'Estou pronto a sofrer não só as cadeias, mas também a morte pelo nome do Senhor Jesus'.

Concluamos este discurso. Se, pois, estivermos aflitos, invoquemos a Jesus, e Ele nos dará a força de resistir a todos os nossos inimigos; se enfim estamos áridos e frios no amor divino, invoquemos a Jesus, e Ele nos inflamará. Felizes as almas que tiverem sempre nos lábios esse nome tão santo e amável, nome de paz, nome de esperança, nome de salvação, nome de amor! Mas que felicidade, sobretudo a de morrer, pronunciando o nome de Jesus! Se desejamos exalar o derradeiro suspiro com esse doce nome nos lábios, devemos habituar-nos a repeti-lo muitas vezes durante a vida, e sempre com amor e confiança.

Ao nome de Jesus unamos sempre o belo nome de Maria, que é também um nome vindo do céu, um nome poderoso, que faz tremer o inferno e, ao mesmo tempo, um nome cheio de doçura, pois que nos recorda essa augusta Rainha que é a um tempo a Mãe de Deus e a nossa, Mãe de misericórdia, Mãe de amor.

Afetos e Súplicas

Ó Jesus, já que sois o meu Salvador, que destes o vosso sangue e a vossa vida para resgatar-me, gravai, peço-vos, o vosso nome adorável em meu pobre coração, a fim de que, tendo-o sempre impresso no coração pelo amor, eu o tenha também sempre nos lábios invocando-o em todas as minhas necessidades. Se o demônio me tentar, o vosso nome me dará força de resistir-lhe. Se a confiança me abandonar, o vosso nome me reanimará a esperança. Se estiver aflito, o vosso nome me fortalecerá, recordando-me o muito que sofrestes por mim. Se estiver frio no vosso amor, o vosso nome me inflamará, recordando-me o muito que sofrestes por mim. Se estiver frio no vosso amor, o vosso nome me inflamará, recordando-me o amor que me testemunhastes. No passado, caí muitas vezes no pecado, porque vos não invoquei; para o futuro, o vosso nome será a minha defesa, o meu refúgio, a minha esperança, o meu único consolo e o meu único amor. Assim espero viver, assim espero morrer, tendo sempre nos lábios o vosso santo nome.

Virgem Santíssima, obtende-me a graça de invocar sempre em minhas necessidades o nome de vosso divino Filho, Jesus, e o vosso, minha Mãe Maria; mas fazei que os invoque sempre com confiança e amor, dizendo-vos como o devoto Afonso Rodrigues: 'Ó meu dileto Jesus, ó minha querida Rainha, Maria, concedei-me a graça de sofrer e de morrer por vosso amor: já não quero ser meu, mas vosso e todo vosso, vosso na vida e vosso na morte, em que, com o vosso socorro, espero entregar a minha alma repetindo: Jesus e Maria, ajudai-me; Jesus e Maria, recomendo-me a vós; Jesus e Maria, eu vos amo, confio em vós, e eu vos dou toda a minha alma'.

(Excertos da obra 'Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo', de Santo Afonso Maria de Ligório)

domingo, 29 de dezembro de 2019

PÁGINAS COMENTADAS DOS EVANGELHOS DOS DOMINGOS


'Esposas, sede solícitas para com vossos maridos, como convém, no Senhor. Maridos, amai vossas esposas e não sejais grosseiros com elas. Filhos, obedecei em tudo aos vossos pais, pois isso é bom e correto no Senhor. Pais, não intimideis os vossos filhos, para que eles não desanimem' (Cl 3, 18-21)

PÁGINAS DO EVANGELHO (2019 - 2020)

sábado, 28 de dezembro de 2019

28 DE DEZEMBRO - SANTOS INOCENTES


Santos Inocentes de Deus,
almas cristalinas,
pousai vossos ternos anelos
nas sombras das colinas;
não inquieteis com vosso pranto
as feras sibilinas,
fitai o esgar dos carrascos
com doces retinas;
que a vida que foge breve,
em adagas repentinas,
renasça em eternos louvores
nas glórias divinas.
(Arcos de Pilares)

Santos Inocentes de Deus, rogai por nós

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

SOBRE A DIFAMAÇÃO E A CALÚNIA

'Também a língua é um fogo, um mundo de iniquidade. A língua está entre os nossos membros e contamina todo o corpo; e sendo inflamada pelo inferno, incendeia o curso da nossa vida' (Tg 3,6)

Quem de nós não poderia contar, ao menos, um caso de alguém que amargou graves prejuízos, vítima que foi da 'língua alheia'? Como o vício da detração, que tem na fofoca um dos seus sintomas mais evidentes, é um mal comum e disseminado entre os maus católicos que, apesar de somados anos de frequência à Igreja, não se corrigem. Queremos, com o presente artigo, baseado na sólida doutrina da Igreja sobre o assunto, oferecer uma advertência aos que não se emendam e, aos que buscam a plenitude da vida cristã, um auxílio doutrinal seguro em vista de uma conformação cada vez maior com Jesus Cristo, cujas palavras são 'Espírito e Vida'.

A detração é a difamação injusta do próximo e, para levá-la a cabo, pode-se usar tanto da murmuração (fofoca), que consiste em revelar e/ou criticar, sem justo motivo, os defeitos ou pecados ocultos dos outros, como da calúnia, que consiste em imputar a alguém defeitos ou pecados que ele não tem, nem cometeu ou simplesmente em exagerar os defeitos dele. Posto isso, diga-se que a gravidade do pecado de detração ou difamação é medida:

• pela importância do que se divulgou ou murmurou;

• pelo prejuízo ou dano causado não só à reputação de alguém, mas também por se ter-lhe provocado grave desassossego e desgosto;

• pela condição do murmurador(a) ou fofoqueiro(a): uma autoridade civil ou eclesiástica causa mais dano ao murmurar que uma pessoa comum considerada leviana;

• pela condição de quem foi detratado, porque não é a mesma coisa dizer que um 'moleque' é mentiroso e fazer o mesmo a respeito de uma autoridade, de um padre ou de um chefe de família.

Desgraçadamente, porém, o pecado da detração é tão comum como o furto, ou melhor: a detração ou fofoca é um furto, como diz Santo Tomás de Aquino: 'De duas formas pode o próximo ser prejudicado por uma obra: manifestamente, como sucede quando ele é vítima de um roubo ou de qualquer outra violência aberta; ou ocultamente, como no furto, ao modo de traição. De duas formas pode-se causar prejuízo ao próximo pela palavra: de modo manifesto, pela injúria; e de modo oculto, pela detração' (Suma Teológica, IIa, 73, a. 1). 

Mas a detração ou fofoca é, dentre todas as formas de furto, a mais grave e torna-se ainda mais grave quanto maior é o prejuízo que causa. O dano será tão mais grave quanto mais estimado for o objeto furtado. Ora, como diz a Escritura, 'é melhor um bom nome do que muitas riquezas' (Pv 22,1). Logo, a detração ou fofoca é não só o pior dos furtos, mas também, 'em si, pecado grave' (Santo Tomás, ibid).

Além do mais, quem furta algo nem sempre atua com cúmplices; o detrator ou fofoqueiro, ao contrário, sempre os tem, porque, se não os tivesse, a fama do próximo não padeceria nenhum prejuízo. Ora, como diz o Apóstolo São Paulo, 'quem faz tais coisas é digno de morte; e não só quem as faz, mas também os que junto com ele as praticam' (Rm 1,32). Sim, porque quem dá ouvidos ao detrator fofoqueiro ou o aplaude, é 'copartícipe' do seu pecado: peca contra a caridade, por estimular o difamador a levar adiante o seu crime, e contra a justiça, por permitir que na sua presença se manche a boa reputação do próximo.

Há, porém, um caso bem mais grave: aquele em que a detração se torna pecado contra o Espírito Santo por ser movida pela inveja das graças ou dons divinos recebidos por um irmão de fé. Quanto a pecados desse tipo, são muito duras as palavras do Evangelista: eles 'não serão perdoados neste século nem no futuro' (Mt 12,32) e o repete Santo Agostinho no Sermão do Senhor da Montanha, o qual, porém, em suas retratações atenua um pouco a afirmação, dizendo: 'Enquanto houver vida, porém, não há que desesperar'. O mesmo, aliás, fará Santo Tomás de Aquino na Suma Teológica, dizendo, no entanto, que sim, quem peca contra o Espírito Santo tem grandíssima dificuldade de arrepender-se e pedir perdão a Deus. Foi o caso de Judas Iscariotes.

Como quer que seja a gravidade do pecado da detração, bem pode ser avaliada pelo seguinte episódio que se deu com São Francisco de Sales, bispo de Genebra, na Suíça. Para um certo católico que, por uma fofoca destruíra uma família causando separação matrimonial, entre outros fatos, o santo lhe impôs uma estranha penitência: primeiramente depenar muitas galinhas, espalhar as penas por toda a cidade e depois voltar para saber a segunda parte da penitência. Voltou o penitente após cumprir aquela primeira parte e perguntou qual seria a segunda. Respondeu São Francisco: 'Agora, vá e recolha todas as penas'. Disse o homem: 'Mas isso é impossível'. Concluiu o bispo: 'Também é impossível recolher os cacos da família que você destruiu'.

Como se pode ver, desse pecado surgem males sem conta, pois um fofoqueiro, é muitas vezes, culpado de que se percam bens materiais, a reputação, a vida e até a salvação da alma. Isso pode atingir tanto o ofendido, que não sabe sofrer o agravo com paciência e procura revidá-lo, como também o próprio ofensor que, por orgulho e respeito humano, se recusa a dar satisfação ao ofendido. Lemos nas Sagradas Escrituras: 'seis coisas há que o Senhor odeia e uma sétima que lhe é uma abominação: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, um coração que maquina projetos perversos, pés rápidos em correr ao mal, um falso testemunho que profere mentiras e aquele que semeia discórdias entre irmãos' (Pv 6,16-19).

Ora, se o homem mentiroso é singularmente abominado por Deus, quem o poderia livrar dos mais rigorosos castigos? Depois, haverá coisa mais torpe e infame, como reparou São Tiago, do que 'servir-nos da mesma língua com que bendizemos a Deus Pai para maldizer os homens, feitos à imagem e semelhança de Deus. É como uma fonte que, pela mesma abertura, jorra água doce e água salobra' (Tg 3,9-11). Com efeito, a mesma língua que, antes louvava e glorificava a Deus, põe-se depois pela mentira a cobri-Lo, o quanto pode, de injúrias e ofensas.

Essa é a razão porque os mentirosos são excluídos da posse da celeste bem-aventurança. Por isso, quando Davi se dirigiu a Deus com a pergunta: 'Quem morará na Vossa casa?' – o Espírito Santo lhe respondeu: 'Aquele que diz a verdade no seu coração e que não solta em calúnias a sua língua'. (Sl 14,1-3). O pior dano da mentira é que ela constitui doença do espírito quase incurável, pois o pecado de calúnia e o de detração ou fofoca contra a fama e o bom nome do próximo não são perdoados, enquanto o acusador não prestar satisfação ao ofendido pelas injustiças praticadas. Isso, porém, se torna muito difícil aos homens, antes de tudo, porque se deixam levar por sentimentos de falsa vergonha e falsa dignidade. Ora, não podemos duvidar que, com tal pecado na consciência, a pessoa se condena aos eternos suplícios do inferno.

Ninguém pode, tampouco, esperar o perdão de suas calúnias e detrações se antes não der satisfação a quem foi por ele lesado na fama ou consideração, quer em juízo público quer em conversas familiares e reservadas, segundo a grave advertência de Nosso Senhor Jesus Cristo que disse: 'No dia do juízo os homens prestarão contas de toda palavra vã que tiverem proferido' (Mt 12,36).

(texto de autoria do Pe. Renato Leite e publicado originalmente em Fratres In Unum)