quarta-feira, 23 de outubro de 2019

SOBRE O ANIQUILAMENTO INTERIOR

Quando nos falam de renunciarmos a nós mesmos, de aniquilar-nos; quando nos dizem ser esse o fundo da moral cristã, consistir nisso a adoração em espírito e verdade, tal palavra nos parece dura e até injusta: não queremos ouvi-la e repelimos quem no-lo prega da parte de Deus. Convençamo-nos, uma vez por todas, de que esse preceito nada de injusto encerra e na prática é mais suave do que pensamos. Em seguida, humilhemo-nos se nos faltar coragem para pô-lo em prática e, ao invés de condená-lo, condenemos a nós mesmos.

Que nos pede o Senhor ordenando que nos aniquilemos? Pede fazermos justiça a nós mesmos, colocarmo-nos em nosso lugar e reconhecermo-nos tais quais somos. Quando mesmo tivéssemos nascido e vivido sempre na inocência, quando jamais houvéssemos perdido a graça original, outra coisa não seríamos, por nós mesmos, senão nada; não poderíamos considerar-nos de outro modo sem nos desconhecermos e injustos seríamos pretendendo que diversamente Deus ou os homens nos tratassem. Que se pode dever ao que nada se é? Que pode exigir o que nada é? Se a sua própria existência é uma graça, também e com razão maior é tudo quanto tem.

Há, portanto, injustiça formal da nossa parte em recusarmos ser tratados e tratar-nos a nós mesmos como verdadeiros nadas. Diz-se nada custar e ser justa essa confissão em relação a Deus; mas que assim não é a respeito dos homens, porquanto estes, nada sendo, como nós, não têm título algum para obrigar-nos a tal confissão e às suas consequências. A confissão nada custa em relação a Deus, se nos limitamos a fazê-la de boca; porém, quando faz-se mister procedermos de acordo com ela, deixarmos que Ele se arrogue e exerça sobre nós todos os direitos que lhe pertencem, consentirmos em que disponha ao seu talante de nosso coração, de todo o nosso coração, de todo o nosso ser, custa-nos infinitamente e com grande dificuldade não chamamos isso de injustiça. Ele, todavia, poupa a nossa fraqueza, não usa dos seus direitos com todo o rigor, jamais nos expõe a certas provas aniquiladoras, sem ter obtido o nosso consentimento.

Quanto aos homens, concordo não terem por si mesmos domínio algum sobre nós e que injusto é da sua parte qualquer desprezo, humilhação ou ultraje. Mas nem por isso temos direito de nos queixarmos dessa injustiça, porque no fundo não é injustiça a nós, que nada somos, a quem nada é devido, mas para com Deus, cujo mandamento violam desprezando-nos, humilhando-nos, ultrajando-nos. É, pois, o Senhor quem deve ressentir-se da injúria que lhe fazem maltratando-nos e não nós, que em tudo quanto nos acontece não devemos ser sensíveis senão à injúria feita a Deus. Meu próximo despreza-me; não tem razão, porque não é mais do que eu e Deus lhe proíbe. Mas não terá ele razão porque eu sou verdadeiramente digno de estima, porque em mim nada há merecedor de desprezo? Não, porque se ele arrebata meus bens, mancha a minha reputação, atenta contra a minha vida, é certamente culpado e muito culpado para com Deus; mas será também para comigo? Estarei autorizado a querer-lhe mal, a vingar-me?

Não: porque tudo quanto possuo, tudo quanto sou, não pertence propriamente a mim; que só tenho de meu o nada e a quem nada se pode tirar. Se assim encarássemos, sempre do lado de Deus e jamais do nosso, tudo que nos acontece, não seríamos tão melindrosos, tão sensíveis, tão sujeitos a nos queixarmos e irritarmos. Toda a desordem vem sempre de supormos que somos alguma coisa, de nos arrogarmos direitos que nos faltam, de em tudo começarmos sempre por nos considerarmos diretamente e não prestarmos atenção aos direitos e aos interesses de Deus, os únicos lesados no que nos concerne.

Confesso que isso é de prática muito difícil e, para consegui-lo, faz-se mister renunciarmos, absoluta e completamente, a nós mesmos. Mas, em suma, é justo e a razão coisa alguma pode opor. Deus, portanto, nada exige de nós que não seja razoável, quando a seu respeito e a respeito do próximo quer que nos portemos como nada sendo, nada tendo, nada pretendendo.

Isto, como já se disse, seria justo quando mesmo tivéssemos conservado a nossa primeira inocência. Mas, se nascemos culpados, se estamos inteiramente cobertos de pecados pessoais, se contraímos infinitas dívidas para com a justiça divina, se merecemos não sei quantas vezes a condenação eterna, não é para nós castigo demasiado brando só sermos tratados como nadas? E não deve o pecador colocar-se infinitamente abaixo do que nada é? Se qual for a provação imposta a ele por Deus, sejam quais forem os maus tratos suportados do próximo, terá direito de se queixar? Poderá acusar de rigor excessivo a Deus ou de injustiça os homens? Não deve, antes, considerar-se muito feliz em resgatar, com alguma pena temporal, tormentos eternos? 

Se a religião não é uma ilusão, se é verdade o que a fé nos ensina acerca do pecado e dos suplícios que lhe estão reservados, como pode entrar no espírito de um pecador - a quem Deus se dispõe a perdoar - que não merece tudo quanto se possa suportar de males neste mundo, embora dure sua vida milhões de séculos? Sim, é injustiça soberana, é monstruosa ingratidão de quem ofendeu a Deus (e quem de nós não o ofendeu?) não aceitar de bom grado, em reconhecimento, por amor, por dedicação aos interesses de Deus, tudo quanto de sofrimentos, se essas humilhações aprouver à divina bondade enviar-lhe. 

E o que será se tais sofrimentos, se essas humilhações passageiras são, não só a compensação do inferno, mas o preço de uma felicidade eterna, o preço da posse eterna de Deus; se no céu seremos glorificados na proporção do nosso aniquilamento aqui na terra? Teremos ainda horror a nos aniquilarmos? Pensaremos que é nos fazer mal, quando, por sermos pecadores e para emergirmos do nada, exige-se a renúncia completa do nosso eu, com a promessa de uma recompensa que sempre durará?

Acrescento que semelhante forma de aniquilamento, contra a qual a natureza tanto se insurge e clama, ao invés de tão penosa como imaginamos, é até suave, porque antes de tudo Jesus Cristo a declarou como tal: 'Tomai sobre vós o meu jugo', disse Ele; 'é doce e leve'. Por mais pesado que seja esse jugo, Deus o suaviza para os que o tomam de boa vontade e consentem em carregá-lo por seu amor. O amor não nos impede de sofrer mas faz como que amemos o sofrimento e torna-o preferível e a todos os prazeres.

A recompensa presente do aniquilamento é a paz do coração, a calma das paixões, a cessação de todas as agitações do espírito, das murmurações, das revoltas interiores. Vejamos, em pormenores, a prova disto. Qual é o maior mal do sofrimento? Não é a própria dor, é a revolta, a sublevação interior que a acompanha. A alma aniquilada sofreria todos os males imagináveis sem perder o repouso conexo ao seu estado: é fato de experiência. Custa-nos conseguir o nosso aniquilamento, temos que fazer grandes esforços sobre nós mesmos: mas também gozamos da paz na proporção das vitórias alcançadas.

O hábito de renunciarmos a nós mesmos, de não atendermos ao nosso eu, torna-se cada dia mais fácil; admiramo-nos de que não nos faça mais sofrer, no fim de certo tempo, aquilo que nos parecia intolerável, assustava a imaginação, sublevava as paixões e punha a natureza em estado violento. Nos desprezos, nas calúnias e humilhações, o que as torna tão duras de suportar é o nosso orgulho; é o nosso desejo de ser estimados, considerados, tratados com certas atenções; é o pavor que temos das zombarias e do desprezo do próximo. Eis o que nos agita e enche de indignação, o que nos torna a vida amarga e insuportável. Trabalhemos com afinco para aniquilar-nos; não demos alimento nenhum ao orgulho, deixemos caírem todos os artifícios de estima e amor próprio, aceitemos interiormente as pequenas mortificações que se apresentarem.

Pouco a pouco chegaremos a não mais nos inquietarmos com o que se pensa e ou se diz de nós, nem com o modo pelo qual nos tratam. Um morto nada sente; para ele não há honra nem reputação; os louvores e as injúrias lhe são indiferentes. A maior parte dos sofrimentos e desgostos por que passamos no serviço de Deus provém de não estarmos bastante aniquilados em sua presença, de conservarmos certa vida própria no meio dos nossos exercícios, de imiscuir-se um secreto orgulho em nossa devoção. E por isso não somos indiferentes às consolações e à sua falta; sofremos quanto Deus parece afastar-se de nós; esgotamo-nos em desejos e esforços tendentes a fazê-lo voltar; ficamos abatidos e desolados, se o afastamento perdura muito. 

Por isso também temos falsos alarmes a respeito do nosso estado. Afigura-se estarmos mal com Deus, porque Ele nos priva de algumas doçuras sensíveis. Julgamos más as nossas comunhões, porque as fazemos sem gosto, a mesma coisa acontecendo quanto às nossas leituras, orações e outras práticas. Sirvamos a Deus com espírito de aniquilamento; sirvamo-lo por Ele e não em atenção a nós; sacrifiquemos os nossos interesses à sua glória e ao seu bel-prazer; então, estaremos sempre contentes com o seu modo de nos tratar, persuadidos de que nada merecemos e de ser imensa a bondade de sua parte, não digo aceitando, porém suportando os nossos serviços.

Nas grandes tentações contra a pureza, a fé, a esperança, o que há de mais penoso para nós não é precisamente o temor de ofender a Deus, senão o medo de perder-nos, ofendendo-o. É o nosso interesse que nos ocupa muito mais do que a sua glória. Eis a razão de ter um confessor tanta dificuldade em tranquilizar-nos e reduzir-nos à obediência. Cremos que ele nos engana, transvia e perde, porque nos obriga a deixar de lado as nossas vãs apreensões. Aniquilemos o nosso conceito; não julguemos por nós mesmos... Encontraremos a paz e paz perfeita, no esquecimento total de nós mesmos. Nada há no céu, na terra, nem do inferno capaz de perturbar a alma verdadeiramente aniquilada.

(Excertos da obra 'Manual das Obras Interiores' do Pe. Grou)

terça-feira, 22 de outubro de 2019

A CATEDRAL SUBMERSA


Conta uma velha lenda que existia uma ilha aonde o povo era muito virtuoso e nela havia uma belíssima catedral gótica, com torres e sinos de ouro. A catedral assim brilhava porque refletia a piedade e a virtude daquela população. Quanto melhor se comportavam as pessoas, mais intenso era o brilho refletido pela catedral.

Mas – ó desgraça – a partir de um certo momento, a moral das pessoas começou a decair e, com isso, a catedral foi perdendo o brilho, ficando opaca e depois escura e, por fim, quando mal podia ser vista e a população vivia na iniquidade, eis que um maremoto destruiu a ilha e submergiu a antiga catedral. De tempos em tempos, eventos sísmicos fazem a catedral emergir e o vento faz ainda repicar os seus sinos. Mas logo estes se calam e a catedral volta para o fundo do mar, em repouso submersa.

Esta catedral é a figura de muitas almas. Quando virtuosas e plenas de bons exemplos, brilham com destacado esplendor. Mas, na decadência dos seus atos, perdem o brilho e o eco dos seus feitos, tornam-se empalidecidas e depois opacas e submergem, enfim, nas trevas do pecado. Às vezes, uma palavra qualquer ou uma ação isolada fazem renascer das águas a catedral submersa. Por pouco tempo, porém, pois os prazeres e as veleidades do mundo a arrastam de imediato, outra vez, para o fundo de suas próprias misérias.

Caro leitor, mantenha a sua catedral livre das águas turbulentas desse mundo fútil e corrompido. Erga a voz da fé - os sinos da alma! - para com todos os homens e em todos os tempos, sem concessões dúbias ao respeito humano. A oração perseverante, a comunhão frequente e uma piedosa devoção a Nossa Senhora são as âncoras seguras para firmar a catedral da sua alma sobre rocha firme e torná-la o límpido cristal capaz de refletir em plenitude a própria luz de Cristo!

(texto reescrito e adaptado pelo autor do blog de original publicado na revista 'O Desbravador')

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

SEIS ÓDIOS E UMA ABOMINAÇÃO

'Seis coisas há que o Senhor odeia e uma sétima que lhe é uma abominação: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, um coração que maquina projetos perversos, pés pressurosos em correr ao mal, um falso testemunho que profere mentiras e aquele que semeia discórdias entre irmãos' (Pv 6, 16-19)


DA PACIÊNCIA NA POBREZA E NAS PERSEGUIÇÕES

Devemos, em segundo lugar, praticar a paciência nos incômodos da pobreza, quando os bens temporais nos vêm a faltar.  'Que é que vos poderá bastar', pergunta Santo Agostinho, 'se Deus não vos bastar'? Quem tem Deus, tem tudo, ainda que lhe faltem todas as outras coisas. Pode dizer então: 'Meu Deus, sois tudo para mim'! É por isso que o Apóstolo diz que os santos nada têm e possuem tudo (II Cor 6, 10). Quando, portanto, vos faltarem os remédios nas enfermidades, vos faltar a alimentação, vos faltar o fogo no inverno, vos faltarem as vestes, dizei: 'Meu Deus vós só me bastais' e assim contentai-vos.  

Suportai, do mesmo modo, as perdas das criaturas, como bens temporais, parentes e amigos... Dizei-me o que lucrais em abandonar-vos à melancolia? Pensais talvez que assim agradais à pessoa falecida. Não, decerto; desagradais a Deus e também ao defunto. Quanto mais grato seria a esse que vos conformásseis com a vontade divina e vos aplicásseis não a chorar, mas unir-vos mais com Deus e orar pela sua alma, caso se ache no purgatório! Derramar algumas lágrimas com a morte dos seus é fraqueza que se concede à natureza; mas lamentar-se demais é fraqueza de espírito e de amor de Deus. As religiosas santas [o texto foi dirigido originalmente à orientação espiritual de religiosas] sentem também a morte das pessoas amigas, mas logo se resignam, pensando que tal foi a vontade de Deus e com paz vão orar por elas. Em seguida multiplicam suas preces, as comunhões, e se apegam mais com Deus, reavivando a esperança de ir um dia possui-lo juntamente no céu. 

É necessário, em terceiro lugar, praticar a paciência nos desprezos e nas perseguições. 'Eu não cometi falta alguma', direis vós; 'para que hei de sofrer esta afronta, esta perseguição'? Deus não quer isto. Mas ignorais a resposta de Jesus Cristo a São Pedro mártir que se queixava de estar preso injustamente, dizendo: 'Que mal fiz eu, Senhor, para sofrer esta perseguição'? Jesus crucificado lhe respondeu: 'E eu que mal fiz para ser cravado nesta cruz'? 

Se, pois, o divino Redentor houve por bem abraçar a morte por vosso amor, não é demais que abraceis esta mortificação por seu amor. É verdade que Deus não quer o pecado de quem vos insulta e persegue, mas quer que sofrais esta contrariedade por seu amor e também para vosso bem. Se nós não cometemos a falta que nos é imputada, diz Santo Agostinho, temos todavia outros pecados que merecem estes castigos, e até castigos muitos maiores. 

... Não há remédio, diz o Apóstolo: 'todos aqueles que querem seguir a Jesus Cristo hão de sofrer perseguição' (II Tm 3,12). 'Se, pois, não quereis sofrer coisa alguma', continua Santo Agostinho, 'é para se temer que não tenhais ainda começado a seguir Jesus Cristo'. Quem foi mais inocente e mais santo que o nosso divino Salvador? Entretanto, os homens o perseguiram e o fizeram morrer coberto de chagas e de ignomínias em sua cruz. É por isso que São Paulo para nos animar a sofrer com calma as perseguições, nos exorta a ter sempre diante dos olhos o crucifixo: 'Lembrai-vos constantemente daquele que foi alvo de tantas contradições por parte dos pecadores' (Hb 12, 6). Tenhamos por certo que, se sofrermos com paz as perseguições, Deus tomará a si a defesa da nossa causa; e, se, por acaso, permitir que vivamos desonrados nesta terra, o fará para recompensar depois a vossa paciência com honras maiores em outra vida.

(Excertos da obra 'A Verdadeira Esposa de Jesus Cristo', de Santo Afonso Maria de Ligório)

domingo, 20 de outubro de 2019

PÁGINAS COMENTADAS DOS EVANGELHOS DOS DOMINGOS


'Proclama a palavra, insiste oportuna ou importunamente, argumenta, repreende, aconselha, com toda a paciência e doutrina' (2Tm 4,2)

PÁGINAS DO EVANGELHO (2018 - 2019)

sábado, 19 de outubro de 2019

OS TRÊS MORTOS DOS EVANGELHOS

No Evangelho (Lc 7, 11-17), encontramos três mortos ressuscitados pelo Senhor de forma visível e milhares de forma invisível. A filha do chefe da sinagoga (Mc 5,22-ss), o filho da viúva de Naim e Lázaro (Jo 11) são símbolos dos três tipos de pecadores ainda hoje ressuscitados pelo Senhor. A menina ainda se encontrava em casa de seu pai, o filho da viúva já não estava em casa da sua mãe, mas também ainda não estava no túmulo e Lázaro já estava sepultado. 

Assim, há pessoas com o pecado dentro do coração mas que ainda não o cometeram. Tendo consentido no pecado, ele habita-lhes a alma como morto, mas não saiu ainda para fora. Ora, acontece amiúde aos homens esta experiência interior: depois de terem escutado a palavra de Deus, parece-lhes que o Senhor lhes diz: 'Levanta-te!' E, condenando o consentimento que dantes haviam dado ao mal, retomam fôlego para viver na salvação e na justiça. 

Outros, após aquele consentimento, partem para as ações, transportando assim o morto que traziam escondido no fundo do coração para o expor diante de todos. Deveremos desesperar deles? Não disse o Salvador ao jovem de Naim: 'Eu te ordeno: Levanta-te!'? Não o devolveu a sua mãe? O mesmo acontece a quem atuou desse modo: tocado e comovido pela Palavra da Verdade, ressuscita à voz de Cristo e volta à vida. É certo que deu mais um passo na via do pecado, mas não pereceu para sempre. 

Já aqueles que se embrenham nos maus hábitos, ao ponto de perderem a noção do próprio mal que cometem, procuram defender os seus maus atos e encolerizam-se quando alguém lhes censura. A esses, esmagados pelo peso do hábito de pecar, albergam as mortalhas e os túmulos e cada pedra colocada sobre o seu sepulcro mais não é do que a força tirânica desse mau uso que lhes oprime a alma e não lhes permite, nem levantar-se, nem respirar. Por isso, irmãos caríssimos, façamos de tal modo que quem vive viva, e quem está morto volte à vida e faça penitência. Os que vivem conservem a vida e os que estão mortos apressem-se a ressuscitar.

(Sermões, Santo Agostinho)

terça-feira, 15 de outubro de 2019

15 DE OUTUBRO - SANTA TERESA DE ÁVILA


Terceira dos nove filhos do segundo casamento de Alonso Sanchez Cepeda e Beatriz D'Ávila y Ahumada, Teresa nasceu em 28 de março de 1515 na cidade medieval de Ávila, na região de Castela (Espanha). Inteligente e extremamente afável, desenvolveu desde muito cedo um espírito de intensa oração e vida interior que a levaria, antes dos 20 anos, a ingressar no Convento da Encarnação das Carmelitas onde vivenciou fenômenos místicos extraordinários, como a transverberação de seu coração por um Serafim e o 'desposório místico' com Cristo.

Superando doenças e provações diversas, transformou-se, então, na grande reformadora da Ordem dos Carmelitas, a partir de 1562, quando passou a aplicar à mesma as regras formais dos antigos conventos, impondo o rigor das orações, do silêncio completo e de meditações contínuas. Neste modelo, fundou vários outros conventos e, junto com São João da Cruz, o ramo masculino dos Descalços. Seus escritos e obras expressam a singular inspiração mística de sua vida interior e a poesia de sua intimidade espiritual com Cristo.  

Em 1582, durante uma viagem a Alba de Tormes, seu estado de saúde piorou rapidamente e a santa teve a certeza que era chegada a hora de sua morte. Ao receber os últimos sacramentos do Pe. Antônio de Heredia, ergueu-se de repente do leito exclamando: 'Oh, Senhor, por fim chegou a hora de nos vermos face a face!' e, em seguida, pronunciou sua última frase: 'Morro como filha da Igreja'. Eram 9 horas da noite do dia 4 de outubro de 1582. Uma vez que, exatamente no dia seguinte efetuou-se a mudança para o calendário gregoriano com a supressão de dez dias do mesmo, a data de sua celebração é comemorada no dia 15 de outubro.

Suas relíquias repousam ainda em Alba de Tormes. Teresa foi beatificada pelo Papa Paulo V em 1614 e canonizada por Gregório XV em 1622. O Papa Paulo VI, em 27 de setembro de 1970, proclamou Santa Teresa de Ávila como Doutora da Igreja.