quinta-feira, 30 de maio de 2019

30 DE MAIO - SANTA JOANA D'ARC


Jeanne D'Arc nasceu em 6 de janeiro de 1412, na aldeia de Domrémy-la-Pucelle (na região da Lorena francesa). Descendente de camponeses analfabetos, apresentou-se, ainda adolescente e em trajes masculinos diante do rei da França Carlos VII, como a enviada por Deus para comandar as tropas francesas para a libertação da cidade de Orleans, então dominada pelos ingleses (os monarcas ingleses dominavam desde o século XI vários territórios franceses e a chamada Guerra dos Cem Anos, que durou na verdade 116 anos (1337 - 1453), foi o conflito sangrento travado entre os dois países, movidos pelo desejo francês de recuperar os territórios perdidos para a Inglaterra). Em face de vários eventos sobrenaturais, tal missão foi concedida e Orleans foi libertada em 9 de maio de 1429. Esta vitória recendeu a esperança das tropas francesas que conseguiram, em seguida, a retomada de vários outros territórios e que culminou com a coroação do rei francês em Reims, em 17 de julho de 1429. 

(coroação do rei Carlos VII e Joana D'Arc à frente das tropas francesas)

No dia 23 de maio de 1430, em Compiègne, Joana D' Arc foi aprisionada e vendida aos ingleses, a preço de ouro. Presa em Rouen, foi julgada numa farsa de processo e condenada à morte na fogueira por heresia. Foi queimada viva em 30 de maio de 1431, com apenas 19 anos de idade, após ter recebido os sacramentos da confissão e da comunhão. Suas cinzas (além do coração que, ao contrário do resto do corpo, permaneceu intacto e cheio de sangue) foram lançadas no Rio Sena, por ordem dos ingleses, para evitar quaisquer cultos futuros de suas relíquias. A revisão da condenação e a invalidação do processo que a julgou ocorreram já na época do Papa Calisto III (1455-1458), mas somente quase quinhentos anos depois, em 1920, é que Joana d'Arc foi canonizada pelo Papa Bento XV e hoje é venerada como a santa padroeira da França.

OREMUS! (150)

A sequência completa destes pensamentos e reflexões é publicada diariamente na Página OREMUS na Biblioteca Digital deste blog.


30 DE MAIO

Non turbetur cor vestrum [Não se perturbe o vosso coração (Jo 14,1)]

'Uma terceira qualidade quereríamos no apóstolo que atende à santificação das almas. Há na Igreja um sopro do Espírito Santo, que convoca ao heroísmo, à dedicação completa. No meio dos espinhos de um mundo novamente pagão, brotam, sempre mais numerosas, flores imaculadas, que recreiam com sua frescura, e encantam com seu perfume: espíritos eleitos, de todas as idades e condições.

Quiséramos que, com uma santa coragem, os sacerdotes soubessem propor os alvos de uma santidade mais elevada. Porque tantas almas caem nas redes do mundo? Por acreditarem achar nele aquilo que faz o objeto de seus anseios; infelizmente tarde demais, percebem elas que os frutos dessa convivência são a inquietação, a dúvida, a tristeza, a desconfiança, o ódio. Sede corajosos!

Sabei tomar pela mão as almas e impeli-las, doce mas firmemente, para Jesus, para a amizade com Ele, para a transformação nEle. Fazei-lhes compreender que, só assim, elas acharão a paz, a fé, a alegria, a esperança, o amor; só assim elas acharão a vida. Sede discretos em começar, constantes em continuar, corajosos em levar a termo' (Pio XII).

(Oremus — Pensamentos para a Meditação de Todos os Dias, do Pe. Isac Lorena, 1963, com complementos de trechos traduzidos do latim pelo autor do blog)

quarta-feira, 29 de maio de 2019

VERSUS: PRIMADOS DA FÉ CATÓLICA X HERESIAS

PRIMADOS DA FÉ CATÓLICA



De tudo o que temos dito, parece evidente que o verdadeiro e autêntico católico é o que ama a verdade de Deus e a Igreja, Corpo de Cristo; aquele que não antepõe nada à religião divina e à fé católica: nem a autoridade de um homem, nem o amor, nem o gênio, nem a eloquência, nem a filosofia; mas que depreciando todas estas coisas e permanecendo solidamente firme na fé, está disposto a admitir e a crer somente aquilo que a Igreja sempre e universalmente tem crido.



HERESIAS

Sabe-se que toda doutrina nova e nunca antes ouvida, insinuada por uma só pessoa, fora ou contra a doutrina comum dos fiéis, não tem nada a ver com a religião, mas que melhor constitui uma tentação, doutrinado nisto especialmente pelas palavras do Apóstolo Paulo: 'É necessário que entre vós haja partidos para que possam manifestar-se os que são realmente virtuosos' (1Cor 11,19). Como se dissesse: Deus não elimina imediatamente os autores de heresias para que se manifestem os que são de uma virtude provada, ou seja, para que apareça em que medida cada um é tenaz, fiel, constante e nele mora a fé católica.



E, verdadeiramente, apenas um vento de novidades começa a soprar, imediatamente se vê como os grãos coalhados de trigo se separam e se distinguem da casca sem peso e, sem grande esforço, é arrancado fora de lá o que não é sustentado por peso algum. Alguns voltam imediatamente; outros, no entanto, transtornados e desalentados, temem perecer, mas se envergonham de regressar, espancados como estão e mais mortos que vivos; parece exatamente como tivessem bebido uma dose de veneno que já não podem eliminar e que, ainda que não lhes mate logo, não lhes permite seguir realmente vivendo.

Situação desgraçada! Quantas violentas aflições, quantas perturbações lhes assaltam! Já se deixam levar pelo erro como um vento impetuoso; já se recolhem em si mesmos como ondas na tempestade e são lançados na praia; outras vezes, com audácia temerária, dão sua conformidade ao que é errado; em outros momentos, sob o impulso de um medo irracional, se espantam até do que é verdade. Não sabem mais onde ir, onde voltar, não sabem o que querem, não sabem do que devem fugir, não sabem o que deve ser mantido e o que, ao contrário, deve ser rechaçado. E se ao menos soubessem que estas dúvidas e esta angústia de um coração vacilante são o remédio que a misericórdia divina lhes preparou!

Por isto precisamente, afastados do porto seguro da fé católica, são sacudidos, golpeados, como imersos na tempestade, para que, recolhidas e amainadas as velas da mente, que estavam estendidas ao largo e desdobradas aos ventos infiéis das novidades, voltem a buscar morada no refúgio confiado de sua mãe boa e tranquila e, uma vez rechaçadas as ondas amargas e alvoroçadas do erro, possam alcançar a fonte de águas vivas e saltitantes e beber dela.

Que 'desaprendam' bem o que não fizeram bem em aprender e que compreendam, de todos os dogmas da Igreja, o que a inteligência pode compreender e o que não pode compreender, que creiam.

(Excertos da obra 'Comonitório - Regras para conhecer a fé verdadeira', de São Vicente de Lerins)

terça-feira, 28 de maio de 2019

VERDADES QUE O CRISTÃO DEVE RECORDAR A CADA DIA

Lembra-te, ó cristão:

o que deves fazer ou o que te pode acontecer no dia de hoje:

 glorificar a Deus
 imitar Jesus Cristo,
invocar a Santíssima Virgem 
honrar o seu Anjo da Guarda
 imitar os Santos
 mortificar o seu corpo
praticar as virtudes
subjugar as paixões
expiar os seus pecados
buscar salvar a sua alma

aproveitar o tempo
edificar o próximo
 desprezar as coisas do mundo
 combater os demônios
fugir do inferno
desejar o Paraíso

padecer  as dores da vida
aceitar o sofrimento como graça
sofrer talvez a morte
enfrentar quem sabe o Juízo Final
viver, enfim, o tempo da eternidade.

(texto original reescrito e readaptado pelo autor do blog)

domingo, 26 de maio de 2019

'A MINHA PAZ VOS DOU'

Páginas do Evangelho - Sexto Domingo da Páscoa


Neste Sexto Domingo da Páscoa, somos chamados a viver plenamente a presença de Jesus Ressuscitado em nossas vidas, como testemunhas da fé e da fidelidade às suas Santas Palavras: 'Se alguém me ama, guardará a minha palavra' (Jo 14, 23). Eis aí o legado de Jesus aos seus discípulos: a graça e a salvação são frutos do amor, que é manifestado em plenitude, no despojamento do eu e na estrita submissão à vontade do Pai: 'Desci do Céu não para fazer a minha vontade, mas sim a d’Aquele que me enviou' (Jo 6, 38) e 'Amai ao Senhor vosso Deus com todo vosso coração, com toda vossa alma e com todo vosso espírito. Este é o maior e o primeiro dos mandamentos' (Mt 22, 37-38).

A graça nasce, manifesta-se e se alimenta do nosso amor a Deus, pois 'quem não me ama, não guarda a minha palavra ' (Jo 14, 24). Mas este amor terá de ser libertado do mero sentimento arraigado às mazelas humanas para ser transformado em um amor espiritual sem medidas, desapegado dos valores mundanos. Este amor não provém dos sentimentos efêmeros, nem dos sentidos, nem das paixões desregradas, nem dos abismos volúveis das sensibilidades e das vontades humanas.

Este amor não se alimenta da paz do mundo, mas da paz que emana do próprio Coração de Deus: 'Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo.' (Jo 14, 27). Na paz de Deus, na confiança absoluta às divinas promessas, não há porque se perturbar ou se intimidar a fragilidade do pobre coração humano. A presença permanente do Cristo Ressuscitado em nossas vidas vem por meio da manifestação do Espírito Santo, o Defensor, conforme as palavras de Jesus: 'o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito' (Jo 14, 26). 

Sob a ação do Espírito Santo, o amor humano pode trilhar livremente o caminho da santificação, até o impossível, até os limites de um despojamento absoluto do próprio ser para a plena manifestação em si da glória de Deus, quando enfim, 'o meu Pai o amará, e nós (o Pai, o Filho e o Espírito Santo) viremos e faremos nele a nossa morada' (Jo 14, 23).

sábado, 25 de maio de 2019

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

Olhai em volta, meus irmãos… porque há tantas mudanças e lutas, tantos partidos e seitas, tantos credos? Porque os homens estão insatisfeitos e inquietos. E porque estão eles inquietos, cada um com o seu salmo, a sua doutrina, a sua língua, a sua revelação, a sua interpretação? Estão inquietos porque … tudo isso ainda não os levou à presença de Cristo que é a 'alegria e delícias eternas' [cf Sl 16,11]. Se tivessem sido alimentados pelo pão da vida [Jo 6,35] e provado do favo de mel, os seus olhos ter-se-iam tornado limpos, como os de Jônatas [1Sm 14,27] e teriam reconhecido o Salvador dos homens. Mas, não se tendo apercebido destas coisas invisíveis, têm de continuar a procurar e estão à mercê de rumores longínquos… 

Triste espetáculo: o povo de Cristo errando pelas colinas 'como ovelhas sem pastor'. Em vez de procurarem nos lugares que Ele sempre frequentou e na morada que Ele estabeleceu, atêm-se em projetos humanos, seguem guias estranhos e deixam-se cativar por opiniões novas, tornando-se joguetes do acaso e do humor do momento, e vítimas da sua própria vontade. Estão cheios de ansiedade, de perplexidade, de inveja e de preocupações, e são agitados e ... tudo isso porque não procuram 'um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos' [Ef 4,5-6] para nele encontrarem 'descanso para o espírito' [Mt 11,29].

(Cardeal  Newman)

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (XXXI)

XXXVII

DA AMIZADE — VÍCIOS OPOSTOS: DESPREZO E ADULAÇÃO

Existe algum outro dever moral necessário para a pacífica convivência, ainda que não seja tão necessário como a vindicta, a gratidão e a bondade?
Sim, Senhor; os deveres da amizade (CXIV, 2)*.

Que entendeis por amizade?
A virtude que nos impele a por em nossas palavras e ações exteriores quanto possa contribuir para fazer amável e prazenteiro o trato com os nossos semelhantes (CXIV, 1).

É virtude de grande estima no trato social?
É a virtude social por excelência, ao ponto de podermos chamar-lhe a flor e aroma das virtudes da justiça e da caridade.

De quantas maneiras se pode faltar a ela?
De duas: por defeito, quando não se repara nem se toma em conta o que pode agradar ou molestar ao próximo; por excesso, adulando-o ou não o contradizendo, oportunamente, quando o mereçam as suas palavras e atos (CXV, CXVI).

XXXVIII

DA LIBERALIDADE — VÍCIOS OPOSTOS: AVAREZA E PRODIGALIDADE

Qual é a última virtude conexa à virtude da justiça particular e destinada, como as anteriores, a satisfazer as obrigações morais dos homens uns para com outros?
A virtude da liberalidade (CXVII, 5).

Que entendeis por liberalidade?
Uma disposição de ânimo, em virtude da qual o homem não tem apego excessivo às coisas exteriores de utilidade comum, e está disposto sempre, com regra e medida, a desprender-se delas e especialmente do dinheiro que as representa, em bem da sociedade (CXVII, 1-4).

É virtude de grande importância?
Classificando-a pelo seu objeto, que são as riquezas, é a ínfima das virtudes, mas dignifica-se com a nobreza das outras quando contribui para que consigam os seus respectivos fins (CXVII, 6).

Que vícios se lhe opõem?
Os de avareza e prodigalidade (CXVIII, CXIX).

Que entendeis por avareza?
O amor desordenado às riquezas (CXVIII, 1-2).

É pecado grave?
Atendendo ao fim humano a que se propõe, é pecado ínfimo, porque se limita a introduzir a desordem no amor aos bens exteriores ou riquezas; porém, considerando a desproporção existente entre o espírito e os bens materiais de que se faz escravo, é o vício mais degradante e vergonhoso (CXVIII, 4,5).

É, além disso, vício muito pernicioso?
Sim, Senhor; porque é insaciável e, com o afã de amontoar riquezas, o avarento não se detém às vezes em cometer crimes e atropelos contra Deus, contra o próximo e contra si mesmo (CXVIII, 5).

É a avareza pecado capital?
Sim, Senhor; porque a abundância das riquezas, às quais todos obedecem, promete o que todos os homens desejam - a felicidade, e serve de estímulo a todas as suas ações boas e más (CXVIII, 7).

Quais são as filhas que a avareza tem?
As seguintes: avareza ou falta de misericórdia e compaixão, inquietação, violência, astúcia ou dolo, perjúrio, fraude e traição, porque o amor das riquezas leva consigo o afã de retê-las, a cobiça de aumentá-las e o emprego de meios ilícitos, como a violência, o engano, o perjúrio, a fraude e a traição, para adquiri-las (CXVIII, 8).

A prodigalidade, vício contrário à liberalidade, opõe-se também à avareza?
Sim, Senhor; porque se o avarento, por amor desmedido das riquezas, não está disposto a desprender-se delas para que frutifiquem em bem e proveito de todos, o pródigo, pelo contrário, não sabe olhar convenientemente por elas e tem propensão excessiva para dissipá-las (CXIX, 3).

Qual é destes dois vícios o mais pernicioso?
O da avareza, porque se opõe mais diretamente à liberalidade, cuja norma é: melhor é dar do que guardar.

Poderíeis fazer um resumo do número, ordem e nobreza das virtudes agregadas à justiça particular, tendendo aos seus objetos e fins?
Sim, Senhor. Ocupa o primeiro lugar a religião, que tem por objeto o culto e serviço de Deus, considerado como Criador e Soberano Dominador de todas as coisas; vem depois a piedade para com os pais e para com a pátria, em agradecimento pelo benefício de nos terem dado o ser; a seguir, a observância para com os superiores em autoridade, dignidade e excelência; em continuação, a gratidão para com os benfeitores particulares, e a vindicta contra os que nos agravaram em matéria que exija reparação; por último, a verdade, a amizade e a liberalidade para com todos os nossos semelhantes por motivo de respeito a nós mesmos.


XXXIX

DA EQUIDADE NATURAL OU EPIQUEIA

Não dissestes que existia também uma virtude anexa à Justiça geral ou legal?
Sim, Senhor; a que poderemos chamar com o nome genérico de equidade natural, conhecida também com o de epiqueia (CXX).

Qual é o seu objeto?
O de conferir à vontade o privilégio e o desejo de distribuir a Justiça em contraposição ou à margem das leis, quando a razão natural ou a luz dos primeiros princípios de caridade declaram inaplicável a lei escrita ou consuetudinária (CXX, 1).

Tem grande importância esta virtude?
Ela está à frente e, de certo modo, governa e mantém em sua própria esfera todas as que são destinadas a dirigir e consolidar as relações sociais (CXX, 2).

XL

DO DOM DE PIEDADE CORRESPONDENTE À JUSTIÇA

Qual dos dons do Espírito Santo corresponde à justiça ?
O dom de piedade (CXXI).

Em que consiste o dom de piedade?
Em certa preparação habitual da vontade que dispõe o homem para receber uma moção direta e pessoal do Espírito Santo, que o impele a tratar com Deus na ordem sobrenatural, como com um pai a quem com ternura se ama, reverencia e obedece, e com todas as criaturas racionais, como filhas de Deus e membros da grande família divina (CXXI, 1).

Logo, o dom da piedade põe o último e mais delicado toque nas relações do homem com Deus e com os seus semelhantes?
Sim, Senhor; é o complemento da virtude da Justiça e de todas as suas agregadas, e se os homens, correspondendo à moção do Espírito de Deus, o reduzissem à prática, o gênero humano se converteria em uma grande família divina, imagem fiel da que reina no céu.

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)