quinta-feira, 28 de março de 2019

PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE A QUARESMA

Quais são as razões para se velar os altares das igrejas durante o Tempo da Quaresma? 

O costume de se cobrir as imagens e crucifixos dos altares das igrejas, durante o período quaresmal, com véus roxos (o chamado velatio), tem essencialmente duas razões principais:

(i) sinal de antecipação do luto da Igreja pelos eventos da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, em memória do recolhimento e do isolamento do Senhor no Horto das Oliveiras;

(ii) centralização da devoção cristã nos eventos do Mistério Pascal de Cristo, em relação a quaisquer outros anelos de devoção aos santos ou mesmo a Nossa Senhora.

As cruzes devem permanecer veladas até ao término da celebração da Paixão do Senhor na Sexta-feira Santa, e as imagens até o início da Vigília Pascal.

Quais orações da Missa devem ser omitidas durante o Tempo da Quaresma? 

Nas missas do Tempo Quaresmal, não são pronunciadas nem o Glória e nem o Canto de Aleluia. O primeiro pode e deve ser enunciado por ocasião de uma festa ou solenidade particular inserida no Tempo Pascal (por exemplo, como acontece com a Festa de São José, em 19 de março). Nos dias de Quaresma, nunca é enunciado, nem mesmo no Quarto Domingo da Quaresma (Domingo Lautere ou da Alegria). O Canto de Aleluia não deve ser enunciado em tempo algum durante o período pascal.

Quais são os eventos da Igreja, durante o Tempo da Quaresma, que aprofundam ainda mais a memória da Paixão do Senhor?

À medida que avança o tempo pascal, a Igreja como que submerge com o sofrimento, paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. É como se a Igreja morresse junto com Cristo. Assim, depois do luto e velamento dos altares, a renúncia aos cantos de louvor, em meio a mortificações, jejum e penitências, a submersão aos mistérios da paixão torna-se ainda mais e mais profunda. Depois da Missa da Quinta-Feira Santa, o próprio Santíssimo é removido do altar principal que se desnuda. Os sinos são substituídos pelas matracas de madeira. Na Sexta-Feira Santa, não há nem Missa e, no início da Vigília Pascal, abre-se mão até de luz! Esta extraordinária sequência de eventos é memória viva de como o Cristo se esvaziou completamente de sua glória para nos remir e salvar dos nossos pecados.

Como devemos viver a Quaresma segundo o espírito da Igreja? 

(i) praticar correntemente o jejum e mortificar-nos não só nas coisas ilícitas, mas também em coisas lícitas, num sentido de proposição de penitências pessoais;
(ii) intensificar os momentos de oração e de todas as práticas de caridade cristã para com o próximo;
(iii) ouvir com profunda devoção a Palavra de Deus, com o firme propósito de praticá-la na nossa vida diária;
(iv) preparar-nos com grande zelo para a recepção dos sacramentos da confissão e da comunhão pascal 

quarta-feira, 27 de março de 2019

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

Cristo nos pede duas coisas: que condenemos os nossos pecados e perdoemos os pecados dos outros; e que façamos a primeira por causa da segunda, que nos será então mais fácil, pois aquele que pensa sobre os seus pecados será menos severo para com os seus companheiros de miséria. E que não perdoemos apenas com a boca, mas do fundo do coração, para não voltarmos contra nós próprios o ferro com que pensamos trespassar os outros. Que mal pode fazer-te o teu inimigo, em comparação com o que podes fazer a ti próprio com o teu azedume? 

Considera pois quantas vantagens retiras duma ofensa acolhida com humildade e mansidão. Desse modo, em primeiro lugar — e é o mais importante — mereces o perdão dos teus pecados. Seguidamente, exercitas a paciência e a coragem. Em terceiro lugar adquires a mansidão e a caridade, pois aquele que é incapaz de se zangar com os que lhe fizeram mal será ainda mais caridoso com os que o amam. Em quarto lugar, arrancas totalmente a cólera do teu coração, o que é um bem incomparável; evidentemente, aquele que liberta a sua alma da cólera também se desembaraça da tristeza: não desperdiçará a sua vida em tristezas e vãs inquietações. É que nós punimo-nos a nós próprios quando odiamos os outros; só fazemos bem a nós próprios quando os amamos. 

(São João Crisóstomo)

terça-feira, 26 de março de 2019

FOTO DA SEMANA

'De todo o coração eu vos procuro; não permitais que eu me aparte de vossos mandamentos' (Sl 118, 10)

segunda-feira, 25 de março de 2019

50 JACULATÓRIAS DA ALMA PENITENTE (V)


41. Sei que hei de aparecer em vosso tribunal; sei que hei de dar-vos estreita conta de toda a minha vida. Não me atrevo, Senhor, a suportar vossos olhos irados. Ordenai agora minha vida, de modo que não me desmereça então vê-los benignos.

42. Aqui vos mostro, Senhor, todas as minhas chagas. Vede como são muitas, como são profundas, como são envelhecidas? Ó médico Divino, sarai as minhas chagas com as vossas, pois, para os filhos de Adão estarem sãos, quis as chagas o Filho de Deus.

43. Não te desalentes, minha alma , com a enormidade e a multidão dos teus pecados. Espera sempre em Deus até à noite cerrada da tua morte, porque em Deus há infinita misericórdia e redenção copiosa.

44. Ajudai-me, meu Deus Salvador; livrai-me por amor da glória do vosso nome. Não vos lembreis de minhas maldades; submergi-as no mar de vossa bondade imensa.

45. Olha, minha alma, olha para teu Deus posto por ti em uma Cruz, eis ali o que perdoa e apaga os teus pecados. Vê quanto padeceu por te salvar; vê com que fina caridade te ama. Guarda-te de jamais tornar a ofendê-lo.

46. A vós, Senhor, que sois dulcíssimo Esposo de minha alma, desprezei-vos; ao demônio, que é adúltero, fiz-lhe a vontade. Tomara morrer de sentimento de tão feia desordem. Tomara chorar de dia e de noite tão execranda maldade.

47. Que tenho eu com o mundo que passa como figura? Que tenho eu com a carne que murcha como flor? Que tenho com as coisas transitórias que tudo é engano, perigo, trabalho, vaidade? Eia, eia, salvemos a alma no madeiro da Cruz, fazendo penitência.

48. Ó momento do qual pende a eternidade! Só quem te não considera te não teme. Abri-me, Senhor, os olhos da alma, não me suceda adormecer na letargia da morte eterna.

49. Senhor, aqui venho fugindo de meus inimigos: abri-me as portas de vossa misericórdia. Recolhei o vosso fugitivo, meu Deus; recolhei-me depressa, que meus inimigos me vêm ao alcance.

50. Dulcíssimo Jesus: o vosso soberano nome quer dizer Salvador; obrai em mim conforme vosso nome e salvai-me.

[Excertos da obra 'Luz e Calor', do Pe. Manuel Bernardes (1644 - 1710)]

domingo, 24 de março de 2019

A FIGUEIRA ESTÉRIL

Páginas do Evangelho - Terceiro Domingo da Quaresma


Neste Terceiro Domingo da Quaresma, o Evangelho nos exorta a viver contínua e decididamente o caminho da plena conversão. E a busca da conversão exige de nós o afastamento incondicional do pecado e a via da santificação plena, como receptáculos abertos a toda a graça de Deus. Entre a retidão de nossos propósitos e a misericórdia do Pai, encontra-se o nosso lugar no portal da eternidade.

E Jesus nos fala primeiro que a grande tragédia humana é o pecado: 'Vós pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem sofrido tal coisa?' (Lc 13,2). Jesus falava dos galileus que tinham sido assassinados no templo por ocasião da Páscoa, a mando de Pilatos. Ele mesmo responderia que não, da mesma forma que não eram mais pecadores as 18 pobres vítimas da queda da torre de Siloé. A justiça divina não é amalgamada pelo castigo em si, mas pela resistência persistente e obstinada aos tesouros da graça. Não são desgraçados os que morrem em tragédias humanas, são miseráveis os que perdem a alma e a vida eterna consumidos na tragédia pessoal de apenas querer ganhar o mundo. 'Se não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo' (Lc 13, 5).

Jesus ratifica estes ensinamentos com a parábola da figueira estéril, que não produz bons frutos, ano após ano, símbolo da alma fechada a todas as graças recebidas. Mas o Senhor busca incessantemente a volta da ovelha desgarrada e a espera e a consome de favores e bênçãos, porque o 'Senhor é indulgente, é favorável, é paciente, é bondoso e compassivo' (Sl 102). É como o vinhateiro que nunca descuida da planta bruta, cultiva o solo, dispõe o adubo, rega a terra, acompanha ciosa e pacientemente os seus primeiros frutos. No nosso caminho de vida espiritual, o vinhateiro é o próprio Cristo, é Nossa Senhora, é a Santa Igreja, são os santos intercessores, é o nosso próprio Anjo da Guarda. Um derramamento abundante de graças à espera de nosso arrependimento sincero, de nossa dor ao pecado, de nossa conversão definitiva.

Mas o Evangelho termina também com uma determinação explícita: 'Se (a figueira) não der (fruto), então tu a cortarás’ (Lc 13,9). Assim, uma vez desprezados todos os limites da graça e tornados vãos todos os esforços do vinhateiro, a figueira torna-se inútil e a tragédia humana se consome na perda eterna das almas criadas para a glória de Deus.

sábado, 23 de março de 2019

ORAÇÃO: Ó ALTÍSSIMO E GLORIOSO DEUS...



Ó ALTÍSSIMO E GLORIOSO DEUS...

(para ser rezada diante um Crucifixo)

Ó Altíssimo e glorioso Deus,
iluminai as trevas
do meu coração.

Dai-me uma fé reta,
uma esperança certa
uma caridade perfeita
e uma humildade profunda.

Dai-me, Senhor,
sabedoria e discernimento
para cumprir a Vossa verdadeira
e santa vontade.
Amém.
(São Francisco de Assis)

Alto e Glorioso Dio...

(versão cantada em italiano)

Alto e glorioso Dio illumina il cuore mio, dammi fede retta, speranza certa, carità perfetta. 

Dammi umiltà profonda, dammi senno e cognoscimento, che io possa sempre servire con gioia i tuoi comandamenti. 

Rapisca ti prego Signore, l’ardente e dolce forza del tuo amore la mente mia da tutte le cose, perchè io muoia per amor tuo, come tu moristi per amor dell’amor mio. 

Alto e glorioso Dio illumina il cuore mio, dammi fede retta, speranza certa, carità perfetta. 

Dammi umiltà profonda, dammi senno e cognoscimento, che io possa sempre servire con gioia i tuoi comandamenti.

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Altíssimo e glorioso Deus, ilumina o meu coração, dá-me uma fé reta, esperança certa, caridade perfeita.

Dá-me uma humildade profunda, dá-me sabedoria e discernimento, para que possa cumprir com alegria todos os teus mandamentos.

A ti rogo, Senhor, resguardar a força doce e ardente do teu amor, sobre todas as coisas do meu pensamento, para que morra por teu amor, como morrestes por amor do meu amor.

Altíssimo e glorioso Deus, ilumina o meu coração, dá-me uma fé reta, esperança certa, caridade perfeita.

Dá-me uma humildade profunda, dá-me sabedoria e discernimento, para que possa cumprir com alegria todos os teus mandamentos.

DA CONTRIÇÃO PERFEITA

Dois homens, suponhamos Pedro e Paulo, cometem um pecado mortal qualquer. Cometido o pecado, caem em si. Pedro diz: 'Cometi um pecado mortal, mas já estou arrependido de ter praticado um ato indigno, tão feio, e merecedor de castigo. Tenho medo do inferno. Meu Deus, perdoai, não quero perder minha alma!'.

Pedro tem a contrição imperfeita porque se arrepende por causa da fealdade do pecado e medo do inferno. Se com essa contrição receber a absolvição, morrendo, salva-se; mas sem absolvição, só com a contrição imperfeita, não se salva.

Paulo diz também: 'Pequei mortalmente; estou arrependido porque o pecado é coisa abominável, porque por ele perdi o direito ao céu e mereci o inferno; mas o que me dói mais é de vos ter ofendido a vós, meu Deus, que sois a perfeição infinita, digno de todo o amor e de ter sido, por meu pecado, a causa dos atrozes sofrimentos de Jesus em sua Paixão e Morte. Perdoai, meu Deus, meu Pai'.

Paulo tem a contrição perfeita porque se arrepende não só por causa da fealdade do pecado e medo do castigo, mas por amor de Deus. Se morrer, mesmo sem confissão, mas com desejo de se confessar, caso seja possível, salva-se.

Pedro detesta o pecado por ser um mal seu, ao passo que Paulo o detesta por ser um mal a Deus. Eis em poucas palavras um ato de contrição perfeita: 'Meu Deus, tenho um extremo pesar de vos ter ofendido, porque sois infinitamente bom e amável e porque o pecado vos desagrada'.

(Excertos da obra 'O pequeno Missionário', dos Missionários da Congregação da Missão, 1958)