sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

O HOMEM QUE CONSTRUIU SOZINHO UMA CATEDRAL

Um ex-monge espanhol, forçado a abandonar a ordem monástica por problemas de tuberculose, encenou, então, uma tarefa hercúlea e inacreditável: construir sozinho uma imensa catedral dedicada a Nossa Senhora do Pilar, na localidade de Mejorada del Campo, nas cercanias de Madrid.

Justo Gallego Martínez (nascido em 1925) é um agricultor e nunca possuiu formação especializada em arquitetura e construção civil. Ainda assim, praticamente sozinho (com eventual ajuda de alguns voluntários), desde 1963 e por mais de 50 anos, tem dedicado a sua vida exclusivamente à construção do templo, num terreno recebido como herança de família. 

Com a venda e aluguel de outros bens herdados e com a ajuda de doações particulares, adquiriu os materiais de construção e pagou a consulta de especialistas em questões mais complexas da obra (o zimbório da catedral, por exemplo, tem cerca de 40m de altura). Atualmente, com mais de 90 anos de idade, continua firme em sua cruzada particular, consciente de que não terá tempo para concluir a obra monumental, cuja finalização coloca, então, 'nas mãos de Deus'.


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

REGRAS PARA BEM ASSISTIR A SANTA MISSA

I. Desde o princípio até que o sacerdote chegue ao altar, deves fazer com ele a preparação, que consiste em te pores na presença de Deus, reconhecer a tua indignidade, e pedir perdão das tuas faltas.

II. Desde que o sacerdote sobe ao altar até ao Evangelho, considera a vinda e a vida de Nosso Senhor neste mundo, fazendo uma consideração simples e geral.

III. Desde o Evangelho até depois do Credo, considera a pregação do Nosso Salvador, protesta querer viver e morrer na fé e na obediência a sua santa palavra e em união com a santa Igreja Católica.

IV. Desde o Credo até ao Pai Nosso, concentra o teu coração nos mistérios da morte e Paixão do nosso Redentor, que são atual e essencialmente representados neste santo Sacrifício que, com o sacerdote e com o resto do povo, oferecerás a Deus Pai, em sua honra e para tua salvação.

V. Desde o Pai Nosso até à Comunhão, esforça-te por despertar em teu coração muitos desejos, almejando ardentemente estar sempre junto e unido a Nosso Senhor com um amor eterno.

VI. Desde a Comunhão até o fim, dá graças à sua divina Majestade pela sua Encarnação, vida, morte e Paixão, e pelo amor de que te dá provas neste santo Sacrifício, pedindo-lhe encarecidamente que por este te seja sempre propício, aos teus parentes, aos teus amigos, e à toda a Igreja. Humilhando-te de todo o coração, recebe devotamente a bênção divina, que Nosso Senhor te dá por meio do seu ministro.

Mas, se queres durante a Missa fazer a tua meditação sobre os mistérios que vais seguindo dia-a-dia, não será preciso que te distraias a fazer estes atos particulares, mas bastará que, no princípio, formes a intenção de querer adorar e oferecer este santo sacrifício pelo exercício da tua meditação e oração, pois que em toda a meditação se encontram os referidos atos, ou expressamente, ou implícita e virtualmente.

(São Francisco de Sales)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

FOTO DA SEMANA

'Porque está próximo o dia, está próximo o dia do Senhor, dia carregado de nuvens, dia marcado para as nações' (Ez 30, 3)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

SOBRE O PECADO DA OMISSÃO

A omissão é o pecado que com mais facilidade se comete e com mais dificuldade se conhece; e o que facilmente se comete e dificultosamente se conhece, raramente se emenda. A omissão é um pecado que se faz não fazendo; e pecado que nunca é má obra, e algumas vezes pode ser obra boa, ainda os muito escrupulosos vivem muito arriscados em este pecado.

Estava o Profeta Elias em um deserto metido em uma cova, quando lhe apareceu Deus e lhe disse: 'E bem Elias, vós aqui?' — 'Aqui, Senhor! Pois aonde estou eu? Não estou metido em uma cova? Não estou retirado do mundo? Não estou sepultado em vida? E que faço eu? Não me estou disciplinando, não estou jejuando, não estou contemplando e orando a Deus?' Assim era, pois se Elias estava fazendo penitência em uma cova, como o repreende Deus e isso lhe estranha tanto? Porque ainda que eram boas obras as que fazia, eram melhores as que deixava de fazer. O que fazia era devoção, o que deixava de fazer era obrigação. Tinha Deus feito a Elias profeta do povo de Israel, tinha-lhe dado ofício público; e estar Elias no deserto, quando havia de andar na corte; estar metido em uma cova, quando havia de aparecer na praça; estar contemplando no Céu, quando havia de estar emendando a terra, era mesmo grande culpa.

A razão é fácil de entender porque, no que fazia Elias, salvava a sua alma; no que deixava de fazer, perdiam-se muitas. Não digo bem: no que fazia Elias, parecia que salvava a sua alma; no que deixava de fazer, perdia a sua e as dos outros: as dos outros, porque faltava à doutrina; a sua, porque faltava à obrigação. É muito bom exemplo este para a corte e para os presbíteros que tomam a ocupação por escusa da salvação. Dizem que não tratam de suas almas, porque se não podem retirar. Retirado estava Elias e perdia-se; mandam-no vir para a corte para que se salve. Não deixe o presbítero de fazer o que tem por obrigação e pode ser que se salve melhor em um conselho do que em um deserto. Tome por disciplina a diligência, tome por cilício o zelo, tome por contemplação o cuidado e tome por abstinência o não tomar, e ele se salvará.

Mas porque se perdem tantos? Os menos maus perdem-se pelo que fazem, que estes são os menos maus; os piores perdem-se pelo que deixam de fazer, que estes são os piores: por omissões, por negligências, por descuidos, por desatenções, por divertimentos, por vagares, por dilações, por eternidades. Eis aqui um pecado de que não fazem escrúpulo os presbíteros e um pecado por que se perdem muitos. Mas percam-se eles embora, já que assim o querem; o mal é que se perdem a si e perdem a todos, mas de todas estas omissões hão de dar conta a Deus.

(Excertos do 'Sermão do Primeiro Domingo do Advento', do Padre Antônio Vieira)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

COMPÊNDIO DE SÃO JOSÉ (V)


21. Os artistas também contribuíram para uma representação de José idoso? 

Sim. Os artistas, influenciados pelos apócrifos, disseminaram a representação plástica de José idoso e de cabelos brancos, a fim de melhor salvaguardar a virgindade de Maria e, com isso, não se levou também em conta que o evangelista Lucas testemunha que Jesus 'era tido como filho de José (Lc 3,23). Felizmente, e graças à Josefologia, ultimamente o guarda do Redentor é representado na arte como um jovem cheio de vigor. 

22. Como era o costume da celebração do matrimônio no tempo de José? 

Não era muito diferente do costume de hoje. A cerimônia era constituída por duas etapas: o noivado e o matrimônio propriamente dito. A cerimônia do noivado era bastante simples e normalmente se realizava na casa do pai da noiva, onde o noivo pagava ao futuro sogro uma certa quantia baseada naquilo que ele possuía, ou podia, e isto era devido ao fato que uma mão de obra o pai a entregava ao genro. De fato, a partir desta cerimônia, a mulher passava a pertencer ao marido, de direito e de dever, embora ainda continuasse morando na casa paterna. Era, desta forma, selado o verdadeiro matrimônio, pois com o noivado os contraentes tinham direitos de esposos. O nascimento de um filho durante o noivado era tido como legítimo e se a noiva fosse infiel neste período era tratada como adúltera e sujeita aos castigos, inclusive de apedrejamento. 

23. Como se procedia à segunda etapa de celebração matrimonial? 

Esta era celebrada com mais solenidade, quando a noiva, na casa do pai, esperava o seu noivo toda enfeitada e coroada com flores na cabeça, acompanhada por suas amigas. O noivo dirigia-se à noite  e acompanhado por seus amigos para a casa da noiva. Ali, na presença dos convidados, dava-se o início à cerimônia onde o noivo dirigia-se à noiva com estas palavras: 'És minha esposa e eu sou teu esposo de hoje para sempre'. Em seguida começava a festa que podia durar até uma semana. 

24. Se José conduziu Maria para sua casa, então a anunciação do Anjo a Maria deu-se depois que tinham celebrado a segunda parte do matrimônio? 

Alguns afirmam que José e Maria não dividiam o mesmo teto na ocasião da anunciação do Anjo fundamentando-se nas palavras do Anjo: 'Antes de coabitarem, aconteceu que ela concebeu por virtude do Espírito Santo' (Mt 1,18). Porém, segundo os estudiosos, na interpretação exata deste versículo deve-se afirmar que 'antes que tivessem relações sexuais'. Lendo o texto de Mateus (Mt 1,20): 'Não temas receber Maria como tua esposa', alguns entenderam que Maria estava ainda na casa de seus pais, constatando, portanto, a gravidez de Maria antes da segunda parte do matrimônio. Porém, segundo a interpretação de grandes exegetas, as palavras do Anjo a José foram para tranquilizá-lo e devem ser entendidas como: 'Não temas ficar ou estar ao lado de tua esposa', ou seja, referem-se a algo que José já havia feito. Portanto a anunciação do Anjo a Maria deu-se dentro do clima familiar de convivência com José. 

25. Se Maria convivia com José, sob o mesmo teto, quando recebeu o anúncio do Anjo sobre sua maternidade divina, como entendemos o anúncio do Anjo a José diante de sua dúvida? 

O evangelista Mateus (Mt 1,20-25) relata que enquanto pensava assim, um Anjo do Senhor lhe apareceu em sonho e lhe disse: 'José, filho de Davi, não temas receber Maria como esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo…'; despertando do sono, José fez como o Anjo lhe havia mandado e recebeu sua esposa em sua casa, e sem ter relações com ela, Maria deu à luz um filho, e José deu a ele o nome de Jesus. Portanto, confirma para José a sua vocação de esposo e de pai de Jesus, realçando o exercício da maternidade de Maria (v. 23-25) e sua cooperação como pai putativo de Jesus (v. 25) com a intervenção da força divina (v. 20). Desta forma, fica esclarecido que o encontro do divino com o humano, ou seja, a encarnação de Jesus, aconteceu dentro da instituição da família. Daqui conclui-se a importância do matrimônio de José e Maria e a função indispensável de sua paternidade (v. 21-25). No momento culminante da história da salvação, José é o 'filho de Davi' (v. 20), preparado por Deus para ser esposo da Mãe de Jesus (v 20) e para dar o nome ao Menino (v. 21-25) que fora concebido pelo Espírito Santo (v. 18-20). Neste anúncio do Anjo, 'José, filho de Davi' garante desta forma a messianidade de Jesus e também a virgindade de Maria, a qual depende do fato de ela ser a esposa de José.

('100 Questões sobre a Teologia de São José', do Pe. José Antonio Bertolin, adaptado)

domingo, 17 de fevereiro de 2019

O SERMÃO DA MONTANHA

Páginas do Evangelho - Sexto Domingo do Tempo Comum


O chamado 'Sermão da Montanha', conjunto de proposições expostas por Jesus naquele tempo a uma 'grande multidão de gente de toda a Judeia e de Jerusalém, do litoral de Tiro e Sidônia' (Lc 6, 17) contempla, de forma admirável, a síntese do Evangelho e da doutrina cristã como legado do Reino dos Céus aos homens de todos os tempos.

O primado desta herança aos homens de todos os tempos se impôs quando o Senhor, diante da enorme multidão, volveu o seu olhar divino aos Apóstolos, antes de proferir as bem-aventuranças que expressam os preceitos e as virtudes que nos santificam e nos tornam herdeiros do Reino dos Céus. Na prática do amor e na busca da perfeição cristã, eis o legado de nossa santificação: 'Bendito o homem que confia no Senhor, cuja esperança é o Senhor' (Jr 17, 7).

Essa via de santidade é expressa pelo Senhor sempre em termos da sua concepção oposta: 'Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus!' (Lc 6, 20) versus 'Mas ai de vós, os ricos, porque tendes já a vossa consolação' (Lc 6, 24). 'Bem-aventurados os que agora tendes fome, porque sereis saciados (Lc 6, 21) versus 'Ai de vós os que estais saciados, porque vireis a ter fome' (Lc 6, 25). 'Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque havereis de rir!' (Lc 6, 21) versus 'Ai de vós, que agora rides, porque tereis luto e lágrimas!' (Lc 6, 25). 'Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, vos expulsarem, vos insultarem e amaldiçoarem o vosso nome, por causa do Filho do Homem!' (Lc 6, 22) versus 'Ai de vós quando todos vos elogiam!' (Lc 6, 26).

Com efeito, os caminhos da vida eterna não se conformam aos atalhos do mundo. Como Filhos de Deus, somos, desde agora, peregrinos do Céu mergulhados nas penumbras da fé e nas vertigens das realidades humanas, na certeza confiante do eterno reencontro: 'Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus' (Lc 6, 23).

sábado, 16 de fevereiro de 2019

DAS VERDADEIRAS AMIZADES

Ah! quanto é bom amar já na Terra o que se amará no Céu e aprender a amar aqui estas coisas como as amaremos eternamente na vida futura. Não falo simplesmente do amor cristão, que devemos ao nosso próximo, todo e qualquer que seja, mas aludo à amizade espiritual, pela qual duas, três ou mais pessoas comunicam mutuamente as suas devoções, bons desejos e resoluções por amor de Deus, tornando-se um só coração e uma só alma.

Com toda a razão podem cantar então as palavras de Davi: 'Oh! quão bom e agradável é habitarem juntamente os irmãos!' Sim, Filoteia, porque o bálsamo precioso da devoção está sempre a passar de um coração para o outro através de uma contínua e mútua participação; de tal modo que se pode dizer que Deus lançou sobre esta amizade a sua bênção, por todos os séculos dos séculos.

Todas as outras amizades são como as sombras desta e os seus laços são frágeis como o vidro, ao passo que estes corações ditosos, unidos em espírito de devoção, estão presos por uma corrente toda de ouro. Filoteia, todas as tuas amizades sejam desta natureza, isto é, todas aquelas que dependem da tua livre escolha, porque não deves romper nem negligenciar as que a natureza e outros deveres te obrigam a manter, como em relação aos teus pais, parentes, benfeitores e vizinhos.

Hás de ouvir que não se deve consagrar afeto particular ou amizade a ninguém, porque isto ocupa demais o coração, distrai o espírito e causa ciúmes; mas é um mau conselho, porque, se muitos autores sábios e santos ensinam que as amizades particulares são muito nocivas aos religiosos, não podemos, no entanto, aplicar o mesmo princípio a pessoas que vivem no meio do mundo — e há aqui uma grande diferença.

Num mosteiro onde há fervor, todos visam o mesmo fim, que é a perfeição do seu estado, e por isso a manutenção das amizades particulares não pode ser tolerada aí, para precaver que, procurando alguns em particular o que é comum a todos, passem das particularidades aos partidos. Mas no mundo é necessário que aqueles que se entregam à prática da virtude se unam por uma santa amizade, para mutuamente se animarem e conservarem nesses santos exercícios. Na religião, os caminhos de Deus são fáceis e planos e os que aí vivem se assemelham a viajantes que caminham numa bela planície, sem necessitar de pedir a mão em auxílio. 

Mas os que vivem no meio do mundo, onde há tantas dificuldades a vencer para ir a Deus, parecem-se com os viajantes que andam por caminhos difíceis, escabrosos e escorregadios, precisando sustentar-se uns nos outros para caminhar com mais segurança. Não, no mundo nem todos têm o mesmo fim e o mesmo espírito e daí vem a necessidade desses laços particulares que o Espírito Santo forma e conserva nos corações que lhe querem ser fiéis. Concedo que esta particularidade forme um partido, mas é um partido santo, que somente separa o bem do mal: as ovelhas das cabras, as abelhas dos zangões, separação esta que é absolutamente necessária.

Em verdade não se pode negar que Nosso Senhor amava com um amor mais terno e especial a São João, a Marta, a Madalena e a Lázaro, seu irmão, pois o Evangelho o dá a entender claramente. Sabe-se que São Pedro amava ternamente a São Marcos e a Santa Petronila, como São Paulo ao seu querido Timóteo e a Santa Tecla.

São Gregório Nazianzeno, amigo de São Basílio, fala com muito prazer e ufania da sua íntima amizade, descrevendo-a do modo seguinte: 'Parecia que em nós havia uma só alma, para animar os nossos corpos, e que não se devia mais crer nos que dizem que uma coisa é em si mesma tudo quanto é e não numa outra; estávamos, pois, ambos em um de nós e um no outro. Uma única e a mesma vontade unia-nos nos nossos propósitos de cultivar a virtude, de conformar toda a nossa vida com a esperança do Céu, trabalhando ambos unidos como uma só pessoa, para sair, já antes de morrer, desta Terra perecedora'. Santo Agostinho testemunha que Santo Ambrósio amava a Santa Mônica unicamente devido às raras virtudes que via nela e que ela mesma estimava este santo prelado como um anjo de Deus.

Mas para quê deter-te tanto tempo numa coisa tão clara? São Jerônimo, Santo Agostinho, São Gregório, São Bernardo e todos os grandes servos de Deus tiveram amizades particulares, sem dano algum para a sua santidade. São Paulo, repreendendo os pagãos pela corrupção de suas vidas, acusa-os de gente sem afeto, isto é, sem amizade de qualidade alguma. São Tomás de Aquino reconhecia, com todos os bons filósofos, que a amizade é uma virtude e entende a amizade particular, porque diz expressamente que a verdadeira amizade não pode se estender a muitas pessoas. A perfeição, portanto, não consiste em não ter nenhuma amizade, mas em não ter nenhuma que não seja boa e santa.

(Excertos da obra 'Filoteia ou Introdução à Vida Devota, de São Francisco de Sales)