sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'Quanto às consequências da tristeza, elas são terríveis. Não há nada que dê ao diabo tanto poder sobre nós: até mesmo o pecado mortal frequentemente serve muito menos aos interesses do inferno. A tristeza entorpece o efeito dos sacramentos e destrói sua influência benfazeja; torna amargo o que é doce e converte os remédios da vida espiritual em veneno. Sob sua ação deletéria, nos tornamos tão delicados que somos incapazes de sofrer e trememos diante do simples pensar em uma mortificação corporal. 

A coragem, que nos é tão necessária para crescer na santidade, apressa-se em sair de nós, como a água que escoa de um vaso poroso, e nos tornamos tímidos e passivos quando deveríamos estar em plena atividade e ardor. A visão de Deus está velada à nossa alma e a cada dia em que esse acesso de tristeza se prolonga, vemo-nos afundar mais e mais no abismo e descer tão baixo que daí em diante nenhum consolo razoável poderá nos alcançar. Não importa quão forte seja essa expressão, não exageramos em dizer que a tristeza espiritual é uma tendência para o estado de Caim e de Judas...  E  como podemos vencer as tentações? É necessário ter bom humor, sempre bom humor'.

(Pe. Frederick Faber)

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS


A Grande Revelação do Sagrado Coração de Jesus foi feita a Santa Margarida Maria Alacoque durante a oitava da festa de Corpus Christi de 1675...

         'Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais sensível é que há corações consagrados que agem assim. Por isto te peço que a primeira sexta-feira após a oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para  honrar Meu Coração, comungando neste dia, e O reparando pelos insultos que recebeu durante o tempo em que foi exposto sobre os altares ... Prometo-te que Meu Coração se dilatará para derramar os influxos de Seu amor divino sobre aqueles que Lhe prestarem esta honra'.


... e as doze Promessas:
  1. A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de meu Sagrado Coração.
  2. Eu darei aos devotos do meu Coração todas as graças necessárias a seu estado.
  3. Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias.
  4. Eu os consolarei em todas as suas aflições.
  5. Serei seu refúgio seguro na vida, e principalmente na hora da morte.
  6. Lançarei bênçãos abundantes sobre todos os seus trabalhos e empreendimentos.
  7. Os pecadores encontrarão em meu Coração fonte inesgotável de misericórdias.
  8. As almas tíbias se tornarão fervorosas pela prática dessa devoção.
  9. As almas fervorosas subirão em pouco tempo a uma alta perfeição.
  10. Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais empedernidos.
  11. As pessoas que propagarem esta devoção terão os seus nomes inscritos para sempre no meu Coração.
  12. A todos os que comungarem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna.

    ATO DE DESAGRAVO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS 
    (rezai-o sempre, particularmente nas primeiras sextas-feiras de cada mês)

Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é deles tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos aqui prostrados, diante do vosso altar, para vos desagravarmos, com especiais homenagens, da insensibilidade tão insensata e das nefandas injúrias com que é de toda parte alvejado o vosso dulcíssimo Coração.

Reconhecendo, porém, com a mais profunda dor, que também nós, mais de uma vez, cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a vossa misericórdia, prontos a expiar não só as nossas próprias culpas, senão também as daqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não vos querendo como pastor e guia, ou, conspurcando as promessas do batismo, renegam o jugo suave da vossa santa Lei.

De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-vos, mas particularmente das licenças dos costumes e imodéstias do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias contra vós e vossos santos, dos insultos ao vosso vigário e a todo o vosso clero, do desprezo e das horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do divino Amor, e enfim, dos atentados e rebeldias oficiais das nações contra os direitos e o magistério da vossa Igreja.

Oh, se pudéssemos lavar com o próprio sangue tantas iniquidades! Entretanto, para reparar a honra divina ultrajada, vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe, de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação que vós oferecestes ao Eterno Pai sobre a cruz, e que não cessais de renovar todos os dias sobre os nossos altares.

Ajudai-nos, Senhor, com o auxílio da vossa graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a viveza da fé, com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nossos próximos, impedir, por todos os meios, novas injúrias à vossa divina Majestade e atrair ao vosso serviço o maior número possível de almas.

Recebei, ó Jesus de Infinito Amor, pelas mãos de Maria Santíssima Reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos constantes até a morte no fiel cumprimento dos nossos deveres e no vosso santo serviço, para que possamos chegar todos à Pátria bem-aventurada, onde vós, com o Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

31 DE JANEIRO - SÃO JOÃO BOSCO

 

Filho de uma humilde família de camponeses, São João (Melchior) Bosco nasceu em Colle dos Becchi, localidade próxima a Castelnuovo de Asti em 16 de agosto de 1815. Órfão de pai aos dois anos, viveu de ofícios diversos na pobreza da infância e da juventude, até ser ordenado sacerdote em 5 de junho de 1841, com a missão apostólica de servir, educar e catequizar os jovens, o que fez com extremado zelo e santificação durante toda a sua vida.

Em 1846, fundou o Oratório de São Francisco de Sales em Turim, dando início à sua obra prodigiosa, arregimentando colaboradores e filhos, aos quais chamava de salesianos, em meio a um intenso e profícuo apostolado. Em 1859, fundou  a Congregação Salesiana e, em 1872, com a ajuda de Santa Maria Domingas Mazzarello, fundou o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora para a educação da juventude feminina. Em 1875, enviou a primeira turma de seus missionários para a América do Sul. No Brasil, as primeiras casas salesianas foram o Colégio Santa Rosa em Niterói e o Liceu Coração de Jesus em São Paulo. 

Faleceu a 31 de janeiro de 1888 em Turim, aos 72 anos, deixando como herança cristã a Congregação Religiosa Salesiana espalhada por diversos países da Europa e das Américas. O Papa Pio XI, que o conheceu e gozou da sua amizade, canonizou-o na Páscoa de 1934. Popularizado como 'Dom Bosco', foi aclamado pelo Papa João Paulo II como 'pai e mestre da juventude' e se tornaram lendários os seus sonhos proféticos (exemplo abaixo), que ele narrava em suas pregações aos jovens salesianos.

A BIGORNA E O MARTELO

Em 20 de agosto de 1862, depois de rezadas as orações da noite e de dar alguns avisos relacionados com a ordem da casa, Dom Bosco disse: 'Quero contar-lhes um sonho que tive faz algumas noites'.

Sonhei que estava em companhia de todos os jovens em Castelnuovo do Asti, na casa de meu irmão. Enquanto todos faziam recreio, dirigiu-se a mim um desconhecido e convidou-me a acompanhá-lo. Segui-o e ele me conduziu a um prado próximo ao pátio e ali indicou-me, entre a erva, uma enorme serpente de sete ou oito metros de comprimento e grossura extraordinária. Horrorizado ao contemplá-la, quis fugir.

— 'Não, não' — disse-me meu acompanhante — 'não fujas; vem comigo'.
 'Ah!' — exclamei — 'não sou tão néscio para me expor a um tal perigo'.
— 'Então' — continuou meu acompanhante —'aguarda aqui'.
E, em seguida, foi em busca de uma corda e com ela na mão voltou novamente junto a mim e disse-me:
— 'Tome esta corda por uma ponta e agarre-a bem; eu agarrarei o outro extremo e por-me-ei na parte oposta e, assim, a manteremos suspensa sobre a serpente'.
— 'E depois?'
— 'Depois a deixaremos cair sobre a espinha dorsal'.
— 'Ah! não; por caridade. Pois ai de nós se o fizermos! A serpente saltará enfurecida e nos despedaçará'.
— 'Não, não; confie em mim' — acrescentou o desconhecido —'eu sei o que faço'.
— 'De maneira nenhuma; não quero fazer uma experiência que pode-me custar a vida'.

E já me dispunha a fugir, quando o homem insistiu de novo, assegurando-me que não havia nada que temer; e tanto me disse que fiquei onde estava, disposto a fazer o que me dizia. Ele, entretanto, passou do outro lado do monstro, levantou a corda e com ela deu uma chicotada sobre o lombo do animal. A serpente deu um salto voltando a cabeça para trás para morder ao objeto que a tinha ferido, mas em lugar de cravar os dentes na corda, ficou enlaçada nela mediante um nó corrediço. Então o desconhecido gritou-me:

— 'Agarre bem a corda, agarre-a bem, que não se lhe escape'.

E correu a uma pereira que havia ali perto e atou a seu tronco o extremo que tinha na mão; correu depois para mim, agarrou a outra ponta e foi amarrá-la à grade de uma janela. Enquanto isso, a serpente agitava-se, movia-se em espirais e dava tais golpes com a cabeça e com sua calda no chão, que suas carnes rompiam-se saltando em pedaços a grande distancia. Assim continuou enquanto teve vida; e, uma vez morta, só ficou dela o esqueleto descascado e sem carne. Então, aquele mesmo homem desatou a corda da árvore e da janela, recolheu-a, formou com ela um novelo e disse-me:

— 'Presta atenção!'

Colocou a corda em uma caixa, fechou-a e depois de uns momentos a abriu. Os jovens tinham-se ajuntado ao ao meu redor. Olhamos o interior da caixa e ficamos maravilhados. A corda estava disposta de tal maneira, que formava as palavras: Ave Maria!

— 'Mas como é possível?' — disse — 'Você colocou a corda na caixa e agora ela aparece dessa maneira!'.

— 'Olhe' — disse ele — 'a serpente representa o demônio e a corda é a Ave Maria, ou melhor, o Santo Rosário, que é uma série de Ave Marias com a qual e com as quais se pode derrubar, vencer e destruir todos os demônios do inferno.

Enquanto falávamos sobre o significado da corda e da serpente, voltei-me para trás e vi alguns jovens que, agarrando os pedaços da carne da serpente, os comiam. Então gritei-lhes imediatamente:

— 'Mas o que é o que fazem? Estão loucos? Não sabem que essa carne é venenosa e que far-lhes-á muito dano?'

'Não, não' — respondiam-me os jovens — 'a carne está muito boa'.

Mas, depois de havê-la comido, caíam ao chão, inchavam-se e tornavam-se duros como uma pedra. Eu não podia ficar em paz porque, apesar daquele espetáculo, cada vez era maior o número de jovens que comiam aquelas carnes. Eu gritava a um e a outro; dava bofetadas a este, um murro naquele, tentando impedir que comessem; mas era inútil. Aqui caía um, enquanto que lá começava a comer outro. Então chamei os clérigos em meu auxílio e disse-lhes que se mesclassem entre os jovens e se organizassem de maneira que ninguém comesse aquela carne. Minha ordem não teve o efeito desejado, pois alguns dos clérigos começaram também a comer as carnes da serpente, caindo ao chão como os outros. Eu estava fora de mim quando vi a meu redor um grande número de moços estendidos pelo chão no mais miserável dos estados. Voltei-me, então, para desconhecido e disse-lhe:

— 'Mas o que quer dizer isto? Estes jovens sabem que esta carne ocasiona-lhes a morte e, contudo, a comem. Qual é a causa?'

Ele respondeu-me: ' Já sabes que animalis homo non percipit ea quae Dei sunt: Alguns homens não percebem as coisas que são de Deus'.

— 'Mas não há remédio para que estes jovens voltem em si?'

— 'Sim, há'.

— 'E qual seria?'

— 'Não há outro que não seja pela bigorna e pelo martelo'.

— 'Bigorna? Martelo? E como terei que empregá-los?'

— 'Terás que submeter os jovens à ação de ambos estes instrumentos'.

— 'Como? Acaso devo colocá-los sobre a bigorna e golpeá-los com o martelo?'

Então meu companheiro me esclareceu, dizendo:

— 'O martelo significa a Confissão e a bigorna, a Comunhão; é necessário fazer uso destes dois meios'.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

SOBRE A BUSCA DA SANTIDADE

A primeira razão que temos de aspirar à santidade, é 'a vontade de Deus': Haec est voluntas Dei sanctificatio vestra. Deus quer, não só que nos salvemos, mas também que sejamos santos. E qual o motivo desta vontade de Deus? 'É que Ele próprio é santo': Sancti estote, quoniam ego sanctus sum. Deus é a própria santidade; nós somos criaturas suas; Ele quer que a criatura reproduza a Sua imagem: mais ainda, quer que, 'na nossa qualidade de filhos, sejamos perfeitos, como Ele, nosso Pai celeste, é perfeito': Estote perfecti, sicut et Pater vester caelestis perfectus est. É o preceito de Jesus.

Deus encontra a sua glória na nossa santidade. Não esqueçamos nunca esta verdade: cada grau de santidade a que chegarmos, cada sacrifício que fizermos para a adquirir, cada virtude que com seu brilho ornar a nossa alma, será eternamente uma glória para Deus. Diariamente cantamos, e parece-me que cada dia com mais satisfação: Tu solus sanctus, Jesu Christe - 'Só Vós sois Santo, ó Jesus Cristo' e, por isso, sois a grande glória de Deus. Durante toda a eternidade Jesus Cristo dará uma glória infinita ao Pai, mostrando-lhe as suas cinco chagas, magnífica expressão de soberana fidelidade e perfeito amor com que 'sempre cumpriu o que o Pai reclamava dEle': Quae placita sunt ei facio semper.

O mesmo se dá com os santos. Estão 'diante do trono de Deus' e incessantemente lhe dão alegria. O zelo ardente dos Apóstolos, o testemunho dos Mártires purpurado de sangue, a profunda ciência dos Doutores, a radiante pureza das Virgens constituem outras tantas homenagens agradáveis a Deus. Nesta 'multidão que ninguém pede contar', cada santo brilha com particular fulgor; e Deus olhará com eterna complacência para os esforços, lutas e vitórias desse santo, que são quais outros tantos troféus aos pés de Deus, a honrar as suas infinitas perfeições e a reconhecer os seus direitos.

É, portanto, para nós ambição legítima trabalhar com todas as forças para adquirir esta glória. que Deus recebe da nossa santidade; devemos aspirar ardentemente por fazer parte dessa sociedade bem-aventurada, em que o próprio Deus pôs as suas complacências. É para nós motivo de não nos contentarmos com uma perfeição medíocre, mas de visarmos incessantemente a corresponder, o mais perfeitamente possível, ao desejo de Deus: Sancti estote, quia ego sanctus sum.

Outra razão é que, quanto mais elevada for a nossa santidade, mais exaltaremos o valor do sangue de Jesus. Diz São Paulo que 'Jesus Cristo se entregou inteiramente à morte, e morte da cruz, para santificar a Igreja e fazer dela uma sociedade resplandecente, sem mácula nem ruga, santa e imaculada'. Foi este o fim do seu sacrifício. Ora uma das causas mais vivas de aflição para o Coração de Jesus durante a agonia no Horto das Oliveiras, foi a perspectiva da inutilidade do seu sangue para tantas almas que haviam de rejeitar o dom divino: Quae utilitas in sanguine meo? 

Jesus Cristo compreendia que uma só gota daquele sangue seria suficiente para purificar o mundo e santificar multidões de almas: mas, para obedecer ao Pai consentiu, com indizível amor, em derramar até à última gota este sangue que continha a virtude infinita da Divindade. E, no entanto, temos de dizer: 'Que utilidade resultou do derramamento deste sangue'? A grande ambição que faz palpitar o Coração de Jesus é glorificar o Pai; por isso, o seu mais veemente desejo - quomodo coarctor - era dar a vida para atrair ao Pai inúmeras almas que produzissem muitos frutos de vida e de santidade: In hoc clarificatus est Pater meus, ut fructum plurimum afteratis.

Mas quantos há que compreendam o ardor do amor de Jesus? Quantos correspondem aos desejos do seu Coração? Tantas almas que não cumprem as leis divinas! Outras guardam os mandamentos; mas pouquíssimas são as que se entregam a Jesus e à ação do Seu Espírito com essa plenitude que leva à santidade. Felizes das almas que se abandonam sem reserva à vontade divina! Inteiramente unidas a Cristo, que é a vide, 'produzem abundantes frutos e glorificam o Pai celeste': proclamam sobretudo a virtude do sangue de Jesus.

Senão, vede. Qual é o cântico entoado pelos eleitos, que São João nos mostra no Apocalipse prostrados diante do Cordeiro? 'Fostes imolado e, pelo Vosso sangue, nos resgatastes para Deus, de toda a tribo, de toda a língua, de todo o povo, de toda a nação... A Vós glória e louvor'! Os santos confessam que são os troféus do sangue do Cordeiro, troféus tanto mais gloriosos quanto mais eminente é a sua santidade. Procuremos, pois, com todo o ardor das nossas almas, purificar-nos cada vez mais no sangue de Jesus, produzir esses frutos de vida e santidade que Jesus Cristo nos mereceu pela sua Paixão e Morte. Se formos santos, os nossos corações exultarão, durante toda a eternidade, com a alegria que daremos a Jesus Cristo, cantando os triunfos do seu divino sangue e a onipotência da sua graça.

(Excertos da obra 'Jesus Cristo nos seus Mistérios', de Dom Columba Marmion)

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

COMPÊNDIO DE SÃO JOSÉ (III)


11. Como podemos deduzir o dia-a-dia de José no seu ambiente cultural?

Todas as pessoas simples, como José, viviam dentro de um ambiente marginalizador e classista. Claro que quem mais sofria eram as mulheres, consideradas inferiores aos homens, sem nenhuma incidência no meio social. Restava-lhes cozinhar, lavar roupa, buscar água no poço ou na fonte e dedicar-se à limpeza. Não participavam das funções nas sinagogas e, quando iam ao Templo, ocupavam os lugares depois dos homens. Elas não tinham permissão para ler a Torá no Templo e nem o testemunho de uma mulher podia ser levado em consideração; inclusive em público, nenhum homem de boa reputação cumprimentava uma mulher.

Naturalmente José, homem justo, não podia ter como práxis de seu comportamento estas atitudes discriminadoras e sobretudo para Maria, com a qual viveu uma profunda vida de amor e de doação, compartilhando toda a sua vida, nutrindo por ela um profundo respeito, uma grande ternura e uma perfeita comunicação de seu afeto, amando-a com amor intenso.

12. Qual o significado do nome José?

Este nome deriva da língua hebraica Yosef, forma abreviada de Yehosef que significa: 'Javé acresce, aquele que acrescenta a Yavé'; em latim Ioseph (ou Iosephus).

13. Qual era a profissão de José?

José foi um trabalhador e sua característica de homem trabalhador refletiu-se inclusive no Filho de Deus, o qual era conhecido como fabri filius (Mt 13,55) [filho do carpinteiro]. Como era o costume de então, José seguramente recebeu esta profissão de seu pai; portanto, ainda adolescente, já era um artesão. Como realçam os evangelhos, José possuía uma pequena oficina em Nazaré, um lugarejo perdido nas montanhas, lugar de lavradores, de gente simples e pobre. Portanto, ele não fabricava móveis refinados ou objetos de consumo da aristocracia ou da gente rica de seu país.

14. Não seria melhor classificá-lo como artesão?

Certamente, aliás, o texto evangélico usa uma expressão genérica para designar a sua profissão, ou seja, o qualifica como artesão. Desta forma, ele não fabricava somente móveis, mas também portas, janelas e tudo aquilo que era de necessidade das moradias de Nazaré. Com a categoria de artesão, podemos concluir que José era um artífice que manuseava a madeira e o ferro. Por isso, ele executava o seu trabalho não apenas recluso na sua carpintaria, mas também para fora, consertando um arado, uma roda de carroça, ou fazendo o fundamento de uma casa, etc. Naturalmente, esta sua profissão facilitava muito o seu contato com o povo de Nazaré e de toda a região que também solicitava os seus trabalhos. Por isso, José era uma pessoa bem relacionada, conhecia bem os problemas, os desejos e os sofrimentos do seu povo.

15. Será por isso (ser José um artesão) que José é tido como o protetor dos trabalhadores?

Não simplesmente por isso, porque outros santos trabalharam também tanto quanto ou até mais que ele, mas sim porque o seu trabalho teve uma função especial: aquela de nutrir o Filho de Deus e de educá-lo, da mesma forma também para sustentar Maria, sua esposa. O trabalho de José tem ainda uma outra qualificação particular: com ele Jesus aprendeu uma profissão e sustentou-se por trinta anos. 'Aquele que, sendo Deus, tornou-se semelhante a nós em tudo, dedicava a maior parte de sua vida sobre a terra, no trabalho manual, junto a um banco de carpinteiro' (Encíclica Laborem Exercens, 6).

('100 Questões sobre a Teologia de São José', do Pe. José Antonio Bertolin, adaptado)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (XXIV)

XVI

DOS PRECEITOS RELATIVOS À PRUDÊNCIA 

Existe no Decálogo algum preceito relativo à prudência? 
Não, Senhor; porque os preceitos do Decálogo, expressão do que a lei natural exige, têm por objeto os fins da vida humana, e a prudência versa sobre os meios de consegui-los; se bem que, em certo modo a ela se referem todos os mandamentos, como reguladora de todas as virtudes (LVI. 1)*. 

Logo, os preceitos relativos à prudência são posteriores e complementares dos do Decálogo? 
Sim, Senhor; e se encontram também na Sagrada Escritura, no Antigo Testamento, e de modo mais concreto no Novo (Ibid). 

Não há no Antigo Testamento preceitos severíssimos contra os vícios opostos à prudência? 
Sim, Senhor; contra a astúcia, o dolo e a fraude (LVI, 2). 

Por que proibiu Deus de modo tão especial estes pecados? 
Porque quase sempre se tocam com as matérias da Justiça, ponto de vista de todo o Decálogo (Ibid). 

XVII 

DA VIRTUDE DA JUSTIÇA — O DIREITO NATURAL, POSITIVO, PRIVADO, PÚBLICO, NACIONAL, INTERNACIONAL, CIVIL E ECLESIÁSTICO — JUSTIÇA LEGAL E PARTICULAR — VÍCIOS OPOSTOS 

A virtude da justiça segue em categoria e importância à da prudência? 
Dado o seu caráter particular, a prudência, sem a qual não pode existir nenhuma virtude moral, ocupa o primeiro lugar; depois dela, a Justiça (LVII, CXXI). 

Que entendeis por Justiça? 
A virtude que tem por objeto o direito, isto é, o justo (LVII, 1). 

Que entendeis quando afirmais que tem por objeto o direito ou o justo? 
Que está destinada a manter a paz e harmonia entre os homens, fazendo que cada um respeite as pessoas, atribuições, faculdades e bens legitimamente adquiridos e possuídos pelos outros (Ibid). 

A que normas devemos atender para averiguar quais são os direitos legítimos dos outros? 
Primeiramente, ao que dita a razão natural; em segundo lugar, aos convênios havidos entre os homens prudentes e, por último, às disposições da autoridade legitima (LVII, 2-4). 

Como se chama o direito fundado nos ditames da razão? 
Chama-se direito natural. 

E o fundado em convênios e em leis promulgadas pela autoridade competente? 
Direito positivo, o qual se divide em privado e público, e este, por sua vez, em nacional e internacional, baseado o primeiro em convênios privados e em leis da nação e o segundo, em pactos entre os diversos Estados (Ibid). 

Não falastes também de direito civil e eclesiástico? 
Sim, Senhor; e se distinguem em que o primeiro se apóia em atos emanados da autoridade civil e o outro nos da eclesiástica. 

Limita-se o direito, enquanto objeto da virtude da Justiça, a impor ordem nas relações dos particulares entre si, ou estende-se às dos particulares com o conjunto ou sociedade? 
Abrange as duas coisas (LVTII, 5-7). 

Que nome tem a virtude da Justiça no segundo caso? 
Chama-se Justiça legal (Ibid). 

E no primeiro? 
Justiça particular (Ibid). 

Poderíeis definir com precisão a virtude da justiça? 
Sim, Senhor; consiste na disposição consciente, duradoura e irrevogável da vontade, mediante a qual se dá a cada um tudo o que lhe pertence (LVTII, 1). 

Como se chama o vício oposto a esta virtude? 
Chama-se injustiça; e o mesmo se opõe tanto à justiça legal quando prejudica o bem comum, como à particular, cujo objeto é manter as relações dos cidadãos sobre a base da igualdade (LIX). 

Em que consiste propriamente este último pecado de injustiça? 
Em atentar livre e espontaneamente contra o direito de outrem, isto é, em negar o que outro natural e razoavelmente deve e pode querer (LIX, 3). 

XVIII 

DO JUÍZO COMO ATO DA JUSTIÇA PARTICULAR

Tem a Justiça algum ato de especial importância, considerada, sobretudo, como justiça particular?
Sim, Senhor; o ato do Juízo, que consiste em determinar com exatidão aquilo que a cada um se deve dar, principalmente se se trata de ofício para administrar justiça aos litigantes, cargo próprio dos juízes, ou em particular para discernir em consciência e por amor à Justiça, até onde se estendem os deveres e os direitos de cada um (LX). 

Em caso de dúvida, deve inclinar-se o Juízo para o lado da benevolência? 
Tratando-se do próximo, sim, Senhor; pois a Justiça exige que jamais se pronuncie sentença condenatória, quer seja exterior, ou simplesmente interior e de pensamento, enquanto permaneça de pé alguma dúvida (LX. 4). 

Apesar disto, podemos em determinadas ocasiões presumir e suspeitar da existência do mal sem provas suficientes? 
Sim, Senhor; quando devamos preveni-lo ou remediá-lo, pois a Justiça legal, a prudência e a caridade nos mandam ser cautelosos e supor, ao menos como possível, a maldade de certos homens, ainda que dela não tenhamos a certeza, mas apenas conjecturas (LX, 4, ad 3). 

Tendes que formular alguma reserva a esta doutrina? 
Sim, Senhor; porque ainda neste caso, temos obrigação de não emitir contra quem quer que seja, juízo formalmente desfavorável. 

Poderíeis explicar-me com um exemplo? 
Se eu visse um homem de catadura suspeita, não teria o direito de julgá-lo ladrão, nem mesmo consigná-lo como tal; porém se o visse rondar a minha casa ou as dos meus amigos, teria direito de tomar cuidado para que tanto dentro de minha casa como das deles, tudo estivesse a salvo de uma surpresa ou tentativa de roubo.

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)

domingo, 27 de janeiro de 2019

O UNGIDO DO PAI

Páginas do Evangelho - Terceiro Domingo do Tempo Comum


O Evangelho de São Lucas traduz, em larga escala, a personalidade ímpar do autor, de alguém que, embora possa não ter sido testemunha ocular dos acontecimentos narrados: 'como nos foram transmitidos por aqueles que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da palavra' (Lc 1, 2), elaborou uma obra regida particularmente pelo rigor da informação e por uma ordenação lógica dos eventos associados à vida pública de Jesus: 'após fazer um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o princípio, também eu decidi escrever de modo ordenado' (Lc 1, 3), o que a torna fruto do trabalho de um eminente escritor e historiador: 'Deste modo, poderás verificar a solidez dos ensinamentos que recebeste' (Lc 1, 4).

Desta forma, a par a semelhança e a mesma contextualização geral com os demais evangelhos sinóticos (São Mateus e São Marcos), o evangelho de São Lucas é pautado por uma visão própria, objetiva e cronológica da doutrina e dos ensinamentos públicos de Jesus (tempo presente da narrativa), inserida num contexto histórico do passado (Antigo Testamento) e do futuro (tempo da Igreja), incorporando, assim, um caráter muitíssimo pessoal e, portanto, original, à transcrição das mensagens evangélicas. 

Após um preâmbulo típico do rigor objetivo do historiador, São Lucas desvela o instrumento de evangelização adotado por Jesus - a pregação pública e sua estrita observância, neste sentido, aos preceitos da Lei - a leitura, aos sábados, da palavra sagrada nas sinagogas. No seu primeiro retorno à Nazaré, foi convidado a ler e a comentar uma passagem do Livro de Isaías: 'Abrindo o livro, Jesus achou a passagem em que está escrito: O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor' (Lc 1, 17 - 19).

Ao recolher o rolo de pergaminho e se sentar, ao final da leitura 'todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele' (Lc 1, 20), porque, de certa forma, compreendiam a grandiosidade deste momento, que se materializou, então, com a manifestação direta e sucinta de Jesus: 'Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir' (Lc 1, 21), anunciando aos homens ser Ele o Ungido pelo Espírito Santo para fazer novas todas as coisas, para abrir os tempos do Messias esperado por todo Israel e para testemunhar aos homens a presença viva do Reino de Deus sobre a terra.