sábado, 12 de janeiro de 2019

OREMUS! (12)

12 DE JANEIRO

Mundamini qui fertis vasa Domini [purificai-vos, vós que levais os vasos do Senhor] (Is 52,11)

Seria essa uma das consequências do nosso exame diário de consciência: maior cuidado pela pureza de nossa alma. Se deviam ser puros e inocentes aqueles que apenas tocavam nos vasos do Templo, quanta inocência Deus não estará exigindo daqueles que devem tratar diariamente com o Panis Angelicus [Pão dos Anjos (Sagrada Eucaristia)].

Triste e lamentável seria, se justamente a alma do sacerdote destoasse daquela pureza e dignidade que a Igreja requer em tudo o que está a serviço do culto divino. Deponentes igitur omnem malitiam, et omnem dolum, et simulationes, et invidias, et omnes detractiones. Sicut modo geniti infantes [Deponde, pois, toda malícia, toda astúcia, fingimentos, invejas e toda espécie de maledicência, como crianças recém-nascidas (1Pd 2,1)]. Como seria diferente a minha vida, se diariamente, à noite, eu examinasse, com minha consciência, os pensamentos, palavras e ações do dia!

Não foi sem motivo que a Igreja insistiu comigo, dizendo: Estote ergo talis, ut sacrificiis divinis digne servire valeas [portanto, possas servir ao sacrifício divino de maneira digna; trecho do rito de ordenação constante do Pontifical Romano]. Revendo e estudando a minha vida de todos os dias, irei me convencer de que tudo leva certamente o selo da boa vontade, mas que alguma coisa poderá estar em desacordo com esse digne servire [servir dignamente]. Não irei permitir, então, que certas falhas me acompanhem sempre, como coisa normal, que a minha indiferença não vê, e, por isso mesmo, não condena.

(Oremus — Pensamentos para a Meditação de Todos os Dias, do Pe. Isac Lorena, 1963, com complementos de trechos traduzidos do latim pelo autor do blog)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

COMPÊNDIO DE SÃO JOSÉ (I)


01. Quais são as referências bíblicas que encontramos sobre São José? 

No Novo Testamento as primeiras notícias que possuímos sobre são José nos são dadas pelos evangelistas Mateus e Lucas, os quais procuraram ilustrar com interesse as referências sobre o nascimento, a infância e a adolescência de Jesus. Desta forma eles nos deram esta ficha biográfica de José: 

a) descendente da casa de Davi (Mt 1,16; Lc 1,27);
b) esposo de Maria (Mt 1,18-22);
c) conhecido por todos como pai de Jesus (Mt 1,20; 13,55; Lc 3,23 ; 2,48); também João faz a mesma referência (Jo 6,42);
d) ficou perplexo diante do mistério da Encarnação de Jesus no seio de Maria (Mt 1,19);
e) foi com Maria a Belém para o recenseamento ordenado por César Augusto (Lc 2,41);
f) fugiu para o Egito e voltou depois com Maria e o Menino para Nazaré (Mt 2,14-21);
g) em companhia de Maria, encontrou Jesus que tinha doze anos junto ao templo de Jerusalém e em seguida o Menino desceu com eles para Nazaré, onde lhes era submisso (Lc 2,41-52);
h) tinha a profissão de Carpinteiro (Mt 13,55);
i) era um homem justo (Mt 1,19). 

02. Existem outras referências sobre São José nos Evangelhos? 

Não. São apenas estas, inclusive não é registrada nenhuma palavra sua. Complexivamente são apenas vinte e seis versículos que lhe são dedicados, onde os evangelistas o nomeiam por quatro vezes. 

03. Por que sendo José, depois de Maria, o colaborador de Deus mais importante na história da salvação, é tão silenciado? 

É verdade que São José é um dos maiores santos dos evangelhos, é maior que João Batista que recebeu um elogio de Jesus sobre sua pessoa (Mt 11,11), é maior que Isabel que concebeu milagrosamente o precursor do Salvador (Lc 1,13-17) , é maior que Pedro que recebeu os poderes de Jesus (Mt 16,18) e dos demais apóstolos que foram os colaboradores diretos de Jesus (Mt 10,1-4), é maior que os patriarcas, que os profetas e os reis porque cumpriu uma especialíssima missão. Entretanto, não devemos estranhar esta 'pouca importância descritiva' sobre José, visto que os evangelistas estavam preocupados em narrar a vida de Jesus e seu ministério, ainda mais porque sua santidade falava mais alto do que qualquer palavra. 

04. Como explicar duas genealogias de Jesus? 

O evangelista Mateus, através de sua pena, percorre todo o caminho da ascendência de Jesus até chegar a Jacó (Mt 1,1-16). Ele nos faz ver a sucessão legal, respeitando os direitos messiânicos de Davi até Jesus. Na sua genealogia, Jesus é qualificado como Cristo, ou seja, o Messias. Naturalmente Mateus escreveu para os judeus e isso tinha uma importância particular. Ele defende a descendência davídica de Jesus, o que era indispensável para os hebreus, a fim do reconhecimento como 'aquele que deve vir'. O próprio João Batista perguntou a Jesus: 'és tu aquele que deve vir ou devemos esperar outro?' (Mt 11,3). Por outro lado, Lucas segue outra linha indicando a sucessão natural de Jesus e fez o percurso da genealogia de Jesus chegar a Levi, como pai de José (Lc 3,23). 

Para explicar melhor esta questão é necessário um estudo exegético aprofundado. Em todo caso, para esta questão de uma dupla genealogia os estudiosos propõem duas soluções: 

(i) Com base na Lei do Levirato, expressa no livro do Deuteronômio (Dt 25,5-10), era estabelecido que, se uma mulher ficasse viúva, devia tornar-se esposa do irmão do esposo falecido e o primeiro filho desse casamento era considerado filho legal do primeiro marido e filho natural do segundo marido;
(ii) Supõe-se que Maria era filha única de Levi e José, ao esposá-la, entrou com plenos direitos de filho na família de seu sogro, isto porque diante da lei, neste caso, Levi podia ser considerado pai de José. 

O importante é saber que José deu a Jesus o título messiânico: ele introduziu Jesus ao mundo como descendente de Davi, ou como afirmou São Bernardino de Sena: 'de uma certa maneira, José deu a Deus, na pessoa do Filho, a nobreza temporal'.

05. Podemos ainda conhecer outros dados referentes a São José? 

Claro que além destas referências explícitas podemos afirmar outros dados com base na história ou tradição e com poucas possibilidades de credibilidade também nos dados dos apócrifos, que são textos da mesma época dos escritos bíblicos ou até um pouco posteriores, chegando até aos primeiros séculos de nossa era, mas não são escritos considerados como inspirados, e portanto não foram considerados de uso oficial no ensino da Igreja. É sabido, contudo, que José pertencia à casa e à família de Davi e que herdou a promessa feita a Davi.

('100 Questões sobre a Teologia de São José', do Pe. José Antonio Bertolin, adaptado)

OREMUS! (11)

11 DE JANEIRO

Mihi vivere Christus est [para mim o viver é Cristo] (Fl 1,21)

Por eu ser um Alter Christus [outro Cristo], minha vida precisa refletir continuamente a vida do meu Mestre. E isto não me será possível, sem um profundo conhecimento de Nosso Senhor. Por eu ser o Praedicator veritatis [pregador da Verdade], preciso conhecer a Verdade em sua fonte, assim como ela veio ao mundo. Mas, como irei imitar um Mestre que não conheço? E como irei ensinar e viver a Verdade que não estudo?

A biografia de Nosso Senhor — completa, enquanto possível — está no Evangelho. Aí posso encontrar veluti viva et spirans imago eius [a imagem dEle, viva e palpitante]. Irei vê-lo, para que o possa imitar e ensinar, assim como Ele era realmente. Mas, o Evangelho é talvez o livro que menos leio, e que menos estudo. Acho indispensável a leitura diária dos jornais e revistas. Mas, do Livro por excelência, leio apenas algum trecho, aos domingos, para os fiéis; e, talvez, nem isso. 

Há livros que me interessam muito mais, porque, infelizmente, ainda não descobri que há, no Evangelho, uma riqueza inesgotável, para mim, e para as almas que eu devo alimentar com a Palavra divina. A falta de interesse pelo Evangelho, denuncia sempre, no sacerdote, a falta de interesse no próprio Nosso Senhor.

(Oremus — Pensamentos para a Meditação de Todos os Dias, do Pe. Isac Lorena, 1963, com complementos de trechos traduzidos do latim pelo autor do blog)

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

UMA LUZ NA NOITE


(Excertos da obra 'Gratia Plena', de Jean Galot, trad. monjas beneditinas, 1962)

OREMUS! (10)

10 DE JANEIRO

Infelix ego homo! [homem infeliz que sou!] (Rm 7,24)

Tratando-se das ocasiões de pecado, há um modo de encarar as coisas, não com simplicidade cristã, mas com exagerada naturalidade. Chama-se a isto mentalidade arejada, segundo a qual, as ocasiões não seriam tão frequentes, nem o perigo tão grande como quer a mentalidade antiga e acanhada. Nem tanto ao mar, mas também nem tanto à terra.

O Antigo Testamento já condenou aquele que ama o perigo. E São Paulo nos diz que, para nos enganar, o demônio é capaz de tudo; chega mesmo a se transfigurar: Ipse Satanas transfigurat se in angelum lucis [o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz]... A nossa fraqueza é tão grande, que facilmente chegamos a defender uma coisa, pelo simples motivo de a desejarmos. E assim, às vezes, dizemos não haver perigo, porque realmente queremos o perigo.

Estaremos em melhores condições que o Apóstolo? Infelix ego homo, quis me liberabit de corpore mortis huius? [Homem infeliz que sou! Quem me livrará deste corpo que me acarreta a morte?, palavras de São Paulo aos romanos, em Rm 7,24]. Spiritus quidem promptus est [o espírito, na verdade, está pronto] — não há dúvida; mas... caro autem infirma [mas a carne é fraca], e disto não podemos duvidar também. Temos uma natureza de morte; e quando ela quer alguma coisa, usa de todos os meios para a justificar: Quod volumus libenter credimus...[sempre acreditamos no que queremos acreditar].

(Oremus — Pensamentos para a Meditação de Todos os Dias, do Pe. Isac Lorena, 1963, com complementos de trechos traduzidos do latim pelo autor do blog)

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

TRÊS ATITUDES FUNDAMENTAIS

Desejo de ti três atitudes, a fim de não impedires o aperfeiçoamento a que te chamo e para que o demônio, sob a aparência de virtude, não instile em teu coração a semente da presunção, que poderia levar-te àqueles falsos julgamentos, que te desaconselhei. Pensando estar na verdade, errarias. Às vezes, o demônio até faz conhecer exatamente a realidade, mas para conduzir depois ao erro. A intenção do maligno é transformar-te em juiz dos pensamentos e intenções dos outros. Mas o julgamento, como disse, só a mim pertence.

1 – Não corrigir o próximo

A primeira coisa que te peço é que retenhas tua opinião e não julgues os outros imprudentemente. Eis como deves agir: se eu não te manifestar expressamente, não digo uma ou duas vezes, mas diversas vezes, o defeito de uma pessoa, jamais deves fazer referências sobre tal coisa diretamente à pessoa, que julgas possui-lo. Quanto aos que te visitam, corrigirás os defeitos genericamente, mediante conselhos sobre as virtudes, e isso com amor e bondade. Em caso de necessidade, usarás de firmeza, mas com mansidão. No caso de que eu te revele por diversas vezes os defeitos alheios, mas não tiveres certeza de que é uma revelação expressa, não fales diretamente sobre o caso. A fim de evitar a ilusão do demônio, segue o caminho mais seguro. O diabo pode enganar-te sob aparência de caridade, fazendo-te condenar os outros em assuntos não verdadeiros, com escândalo mesmo. Nesses casos, esteja na tua boca o silêncio.

Ao perceberes defeitos nos outros, reconhece-os primeiro em ti com muita humildade. No caso de existir realmente o pecado em alguém, mais facilmente ele corrigir-se-á se for compreendido bondosamente. A correção que não ofende, obrigá-lo-á a emendar-se. Aquela pessoa confirmará quanto querias dizer e tu mesma te sentirás mais segura, impedindo a intervenção do demônio, o qual não conseguirá enganar-te, prejudicando teu aperfeiçoamento. Convence-te de que não deves acreditar em opiniões. Ao escutá-las, atira-as para trás, nas costas; não as leves em consideração. Procura ir examinando apenas tua própria pessoa e minha bondade, tão generosa. Esta é a atitude de quem alcançou o último grau da perfeição e que, como já disse, sempre retorna ao vale do autoconhecimento. Atitude que, no entanto, não lhe impede o elevado estado de união comigo. Esta é a primeira coisa que deves praticar, a fim de me servires na verdade.

2 – Não julgar o interior do homem

Passo a falar da segunda atitude. Quando estiveres orando diante de mim por alguém e acontecer de perceberes a luz da graça numa pessoa e em outra não, parecendo-te que esta última está envolta em trevas, não deves concluir que a segunda se acha em pecado mortal. Teu julgamento seria muitas vezes errado. Outras vezes, ao pedires por uma mesma pessoa, de uma feita a verás luminosa e tua alma sentir-se-á fortalecida naquele amor de caridade pelo qual o homem participa do bem do outro; numa outra vez, o espírito daquela pessoa parecerá distante de mim, como que em trevas e pecado, fato que tornará penosa tua oração em seu favor, ao quereres conservá-la diante de mim.

Este último fato pode acontecer, às vezes, devido à presença de pecados naquele por quem oras; mas na maioria dos casos será por outras razões. Fui eu, Deus eterno, que me afastei da pessoa. Conforme expliquei ao tratar dos estados da alma, retiro-me das almas a fim de que elas progridam no meu amor. Embora a alma continue em estado de graça, ausento-me quanto às consolações e deixo o espírito na aridez, tristonho e vazio. Quando alguém ora por tal pessoa, costumo transmitir-lhe esses mesmos sentimentos. Quero que ambos, unidos, se entreajudem no afastamento da nuvem que pesa sobre aquela alma.

Como vês, filha querida, seria iníquo e digno de repreensão, se alguém julgasse que a alma está em pecado mortal somente porque a fiz ver envolta em dificuldades, privada de consolações espirituais que possuía antes. Tu e meus servidores deveis esforçar-vos por conhecer-vos melhor, bem como, por conhecer-me. Quanto a julgamentos semelhantes, deixai-os para mim. A mim, o que me pertence; vós, sede compassivos e desejosos de minha glória e da salvação dos outros homens. Manifestai as virtudes e repreendei os vícios, tanto em vós como nos outros, segundo a maneira como indiquei acima. Desse modo chegareis até mim, após entender e viver a mensagem do meu Filho, a qual consiste na preocupação consigo mesmo, não com os demais. É assim que deveis agir, se pretendeis praticar a virtude desinteressadamente e perseverar na última e perfeitíssima iluminação, repleta de desejo santo, isto é, de zelo pela minha glória e pela salvação do próximo.

3 – Respeitar a espiritualidade alheia

Após discorrer sobre as duas primeiras atitudes, ocupo-me da terceira. Quero que prestes muita atenção, a fim de que o demônio e tua fraca inteligência não te façam obrigar outras pessoas a viver como tu vives. Tal ensinamento seria contrário à mensagem do meu Filho. Ao ver que a maioria das almas segue pela estrada da mortificação, alguém poderia querer orientar todos os outros a seguirem pelo mesmo caminho. Ao notar que uma pessoa não concorda, aquele conselheiro se entristece, fica intimamente contrariado, convencido de que o fulano age mal.

Grande engano! Na realidade está mais certo quem pareceria andar errado, fazendo menos penitência. Pelo menos será mais virtuoso, sem grandes macerações, do que aquele que o fica a criticar. Já te disse que devem ser humildes aqueles que se mortificam. Considerem as penitências como meros instrumentos, não como a meta. Normalmente, as murmurações prejudicam o aperfeiçoamento no amor. Quem se penitencia, não seja mau, não ponha sua santidade unicamente no macerar o corpo. O aperfeiçoamento encontra-se na eliminação da vontade própria. A atitude desejável para todos é que submetam a má vontade pessoal à minha vontade, tão amorosa. É isso o que eu desejo. É esse o ensinamento do meu Filho. Quem o seguir estará na verdade.

Não desprezo a penitência. Ela é útil para reprimir o corpo, quando ele se opõe ao espírito. Mas, filha querida, não a deves impor como norma. Nem todos os corpos são iguais, nem todos possuem a mesma resistência física. Um é mais forte que o outro. Como afirmei, muitas vezes motivos fortuitos aconselham a interrupção de alguma mortificação iniciada. Ora, seria falsa tal afirmação se a penitência fosse algo de essencial para ti ou para outra pessoa. Se a perfeição estivesse na mortificação, ao deixá-la, julgaríeis estar sem minha presença, cairíeis no tédio, na tristeza, na amargura e na confusão. Deixaríeis o exercício da oração, realizando ao mortificar-vos. Interrompida assim, com tantos inconvenientes, a mortificação nem seria mais agradável ao ser retomada.

Eis o que aconteceria, se a essência da perfeição consistisse na mortificação exterior e não no amor pela virtude. Grande é o mal causado pela mentalidade, que põe na penitência o fundamento da vida espiritual. Tal mentalidade deixa a pessoa sem compreensão para com os outros, murmuradora, desanimada e cheia de angústias. Além disso, todo vosso esforço para honrar-me se basearia em ações finitas, ao passo que exijo de vós um amor infinito. É indispensável que considereis como elemento básico de vosso aperfeiçoamento a eliminação da vontade própria; submetendo-a a mim, fareis um ato de desejo agradável, inflamado, infinito para minha honra e para a salvação dos homens. Será um ato de desejo santo, que em nada se escandaliza, que em tudo se alegra, qualquer seja a situação que eu permita para vosso proveito.

Não se comportam desse modo os infelizes que seguem por estradas diferentes daquela reta e suave ensinada por meu Filho. Comportam-se de outro jeito: julgam os acontecimentos de acordo com a própria cegueira e com o errado ponto de vista; caminham como loucos sem tirar proveito dos bens terrenos nem gozar dos celestes. Como afirmei antes, já possuem a garantia do inferno.

4 – Resumo das três atitudes anteriores

Essa é a resposta às tuas perguntas, filha querida, sobre a maneira de corrigir o próximo sem ser enganada pelo demônio e sem conformar-te ao teu fraco modo de pensar. Disse que deves corrigir o próximo genericamente, sem descer aos casos pessoais. A não ser que eu te revele expressamente a situação de pecado; mas assim mesmo, com muita humildade. Disse também, e torno a repetir, que jamais deves julgar o próximo, em geral ou em particular, pronunciando-te sobre o estado da sua alma, seja para o bem como para o mal. Expliquei o motivo: o julgamento pessoal é sempre enganador. Tu e os outros servidores meus, deixai para mim todo o julgamento.

Enfim, expus a doutrina relativa ao fundamento verdadeiro da perfeição, o qual deves ensinar a quem te procurar desejoso de abandonar o pecado e praticar a virtude, o autoconhecimento e o conhecimento do meu ser. Ensinarás a tais pessoas, que destruam a vontade própria, que jamais se revoltem contra mim, que considerem a penitência como um meio, não como finalidade principal. Afirmei ainda que não deves aconselhar a mortificação em grau igual para todos, mas de acordo com a capacidade de cada um, em seu estado de vida. A uns pedirás pouco, a outros mais, segundo a capacidade corporal.

Pelo fato de dizer-te que só deves corrigir genericamente, não pretendo afirmar que jamais hás de corrigir pessoalmente. Serás até obrigada a fazê-lo. Quando alguém se obstina em não emendar-se, podes recorrer a duas ou três pessoas (Mt 18, 16); e, se isso for inútil, apresenta o caso à hierarquia da Santa Igreja. Ensinei que não deves corrigir tomando como norma teu modo pessoal de ver, teu sentimento interior; baseando-te nele, não podes mudar de opinião sobre as pessoas. Sem prova evidente ou revelação expressa, não repreendas ninguém. Tal modo de agir é o mais seguro para ti, pois ele evita que o demônio te engane com aparências de amor fraterno.

(Excertos da obra 'O Diálogo', Revelações de Deus Pai a Santa Catarina de Sena)

OREMUS! (9)

09 DE JANEIRO

Similes ei erimus [seremos semelhantes a Deus] (1Jo 3,2)

Meu Deus, o que me pedes, neste mundo, é um nada; apenas alguns anos de luta. No entanto, o teu amor tem, reservada para mim, uma eternidade de glória: In hac brevi et exigua vita agones et labores; in illa vero vita, quae aeterna est, praemia meritorum [nesta vida breve e passageira, provações e fatigas; na outra e verdadeira vida, recompensa eterna (São Beda)].

Senhor, que este mundo não me faça perder de vista essa eternidade que, com tanto carinho, puseste diante dos meus olhos. Como irei desinteressar-me dessa recompensa que preparaste para teus filhos, ante mundi constitutionem [antes de criar o mundo]? Que dignidade, e que riqueza para mim: Nunc filli Dei sumus [desde agora somos fi­lhos de Deus!] No entanto, ainda preciso esperar: Nondum apparuit quid erimus [não se manifestou ainda o que seremos]; quero acalentar esta esperança, pois, cum apparuerit, similes ei erimus [quando se manifestar, sere­mos semelhantes a Deus].

Meu Deus, diante do que me espera, que eu não viva neste mundo como um escravo, nem sofra como se eu fosse um condenado ao desespero! Não posso me esquecer de que sou um dos teus filhos, com direito a uma parte da tua riqueza infinita. Ela está à minha espera, pois é herança minha. E eu estaria ofendendo a tua liberalidade, se quisesse fechar os olhos, para não ver aquilo que o teu amor, desde já, me quis mostrar. Levate oculos vestros! [levantai os vossos olhos! (Jo 4,35)].

(Oremus — Pensamentos para a Meditação de Todos os Dias, do Pe. Isac Lorena, 1963, com complementos de trechos traduzidos do latim pelo autor do blog)