sábado, 14 de julho de 2018

POEMAS PARA REZAR (XXVI)



CANTAR DA ALMA 

(São João da Cruz)

Sei bem eu a fonte que mana e corre
mesmo de noite.
Aquela eterna fonte está escondida,
mas eu sei bem onde tem sua guarida,
mesmo de noite.
Sua origem não a sei, pois não a tem,
mas sei que toda a origem dela vem,
mesmo de noite.

Sei que não pode haver coisa tão bela,
e que os céus e a terra bebem dela,
mesmo de noite.
Eu sei que nela o fundo não se pode achar,
e que ninguém pode nela a vau passar,
mesmo de noite.
Sua claridade nunca é obscurecida,
e sei que toda luz dela é nascida,
mesmo de noite.

Sei quão caudalosas são suas correntes,
que céus e infernos regam em enchentes,
mesmo de noite.
A corrente que desta fonte vem
é forte e poderosa, eu o sei bem,
mesmo de noite.
A corrente que destas duas procede,
sei que nenhuma delas a precede,
mesmo de noite.

Aquela eterna fonte está escondida,
neste pão vivo para nos dar a vida,
mesmo de noite.
De lá está chamando as criaturas,
que nela se saciam mesmo às escuras,
porque é de noite.
Aquela viva fonte que desejo,
neste pão de vida eu a tenho e vejo,
mesmo de noite.

ESCAPULÁRIO DO CARMO: TRIBUTO DE SALVAÇÃO ETERNA


Em 16 de julho de 1251, na visão em que Nossa Senhora do Carmo entregava o escapulário a São Simão Stock, ela fez esta promessa: 'Recebe, filho amado, este escapulário. Todo o que com ele morrer, não padecerá a perdição no fogo eterno. Ele é sinal de salvação, defesa nos perigos, aliança de paz e pacto sempiterno'.

Na bula 'Sabatina', o Papa João XXII escreveu que todo aquele que usar correntemente o escapulário será libertado das penas do purgatório no sábado seguinte à sua morte. Esta graça ficou conhecida como 'privilégio sabatino' e foi ratificada pela Sagrada Congregação das Indulgências, em 14 de julho de 1908, desde que se cumpram as condições devidas.

E quais são estas condições devidas? As mesmas exigidas comumente a todos os fieis católicos, no exercício cotidiano da autêntica fé católica, sem concessões ao mundanismo e ao pecado. A graça extraordinária do escapulário é a certeza explícita de Nossa Senhora de que aqueles que o usam diariamente terão sempre as disposições de alma para viverem plenamente a fé católica e que alcançarão a salvação eterna por Jesus Cristo. Estas atitudes fundamentais são basicamente as seguintes:

⏩ Colocar e buscar cumprir a Santa Vontade de Deus na sua vida;
⏩ Buscar viver convictamente em estado de graça e confessar-se sempre que tiver caído em pecado;
⏩ Viver especialmente a virtude da pureza, guardando a castidade própria de cada estado de vida;
⏩ Escutar a Palavra de Deus na Bíblia e praticá-la na vida cotidiana;
⏩ Buscar a comunhão com Deus por meio da oração diária;
⏩ Ser sensível e atuante em relação ao sofrimento do nosso próximo, de forma concreta;
⏩ Receber adequadamente os sacramentos da Igreja, particularmente a Eucaristia.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

13 DE JULHO - SANTA TERESA DOS ANDES


Joana Fernandes Solar nasceu em Santiago do Chile, em l3 de julho de l900, no seio de uma família tradicional e teve a infância marcada por uma intensa vida mariana, que proporcionou a ela uma sólida base para uma vida cristã autêntica. Desde tenra idade, experimentou uma extraordinária relação sobrenatural com Jesus: 'desde que fiz minha Primeira Comunhão, Nosso Senhor me falava sempre, depois de eu comungar' e com Nossa Senhora: 'minha devoção especial era à Virgem; contava-lhe tudo'.

Aos dezenove anos de idade, em maio de 1919, entrou para o mosteiro das carmelitas dos Andes, tomando o nome de Teresa de Jesus. Sua santidade era óbvia para todos que conviviam com ela, particularmente nos tempos do Carmelo. Viveu no mosteiro dos Andes por apenas onze meses, pois contraiu febre tifoide, vindo a falecer em 12 de abril de 1920, na sua cidade natal. Os seus restos mortais estão depositados na cripta do Santuário de Auco - Rinconada, em Los Andes, no Chile. Foi beatificada pelo Papa João Paulo II, no dia 13 de abril de 1987, em Santiago do Chile e canonizada, pelo mesmo papa, na Basílica de São Pedro, no dia 21 de março de 1993, tornando-se a primeira santa do Chile e do Carmelo da América Latina.
(cela no Carmelo e jazigo no Santuário de Auco - Rinconada)

quinta-feira, 12 de julho de 2018

SOBRE A OBEDIÊNCIA

O primeiro grau da humildade é a obediência sem demora. É peculiar àqueles que estimam nada haver mais caro que o Cristo; por causa do santo serviço que professaram, por causa do medo do inferno ou por causa da glória da vida eterna, desconhecem o que seja demorar na execução de alguma coisa logo que ordenada pelo superior, como sendo por Deus ordenada. Deles diz o Senhor: 'Logo ao ouvir-me, obedeceu-me'. E do mesmo modo diz aos doutores: 'Quem vos ouve a mim ouve'.

Pois são esses mesmos que, deixando imediatamente as coisas que lhes dizem respeito e abandonando a própria vontade, desocupando logo as mãos e deixando inacabado o que faziam, seguem com seus atos, tendo os passos já dispostos para a obediência, a voz de quem ordena. E, como que num só momento, ambas as coisas - a ordem recém-dada do mestre e a perfeita obediência do discípulo - são realizadas simultânea e rapidamente, na prontidão do temor de Deus. Apodera-se deles o desejo de caminhar para a vida eterna; por isso, lançam-se como que de assalto ao caminho estreito do qual diz o Senhor: 'Estreito é o caminho que conduz à vida', e assim, não tendo, como norma de vida a própria vontade, nem obedecendo aos próprios desejos e prazeres, mas caminhando sob o juízo e domínio de outro e vivendo em comunidade, desejam que um abade lhes presida. Imitam, sem dúvida, aquela máxima do Senhor que diz: 'Não vim fazer minha vontade, mas a dAquele que me enviou'.

Mas essa mesma obediência somente será digna da aceitação de Deus e doce aos homens, se o que é ordenado for executado sem tremor, sem delongas, não mornamente, não com murmuração, nem com resposta de quem não quer. Porque a obediência prestada aos superiores é tributada a Deus. Ele próprio disse: 'Quem vos ouve, a mim me ouve'. E convém que seja prestada de boa vontade pelos discípulos, porque 'Deus ama aquele que dá com alegria'. Pois, se o discípulo obedecer de má vontade e se murmurar, mesmo que não com a boca, mas só no coração, ainda que cumpra a ordem, não será mais o seu ato aceito por Deus que vê seu coração a murmurar; e por tal ação não consegue graça alguma, e, ainda mais, incorre no castigo dos murmuradores se não se emendar pela satisfação.

(das Regras de São Bento)

terça-feira, 10 de julho de 2018

INTERPRETAÇÕES DOS SONHOS DE DOM BOSCO (II)


Ainda no contexto do primeiro sonho de Dom Bosco, são feitas as seguintes considerações adicionais:

O primeiro Conselho tem sido comumente interpretado como sendo o Concílio Vaticano I, realizado no Vaticano entre 08/12/1869 e 18/07/1870, quando foi bruscamente interrompido pele deflagração da guerra franco-alemã em 19/07/1870, que culminou com a ocupação de Roma em 20/09/1870 pelas tropas de Victor Emmanuel II. Em 20/10/1870, o Papa Pio IX (1846 - 1878) suspendeu formalmente o Concílio para uma posterior reabertura e continuação, o que nunca ocorreu. O segundo Conselho corresponderia, então, ao Concílio Vaticano II, que sucedeu ao primeiro quase cem anos depois, tendo sido convocado pelo Papa João XXIII (1958 - 1963) em 25 de dezembro de 1961. Realizado no Vaticano, o CVII estendeu-se entre 11 de outubro de 1962 e 07 de dezembro de 1965, e foi concluído pelo Papa Paulo VI (1963 - 1978), então sucessor do papa João XXIII, falecido em 1963.

O Concílio Vaticano I foi proclamado pelo Papa Pio IX em dezembro de 1864, portanto, menos de três anos após a revelação do sonho profético de Dom Bosco e teve de ser bruscamente interrompido pela guerra ('os pilotos foram mandados de volta aos seus navios', sob a fúria crescente do vento e da tempestade). A Igreja vivia tempos extraordinariamente difíceis à época; o racionalismo e o modernismo devastavam os espíritos em favor de uma descrença quase que generalizada (particularmente da sociedade europeia) diante de fenômenos não explicados rigorosamente pelas leis da natureza. E a visão de Dom Bosco iria confirmar que isso era apenas o prenúncio de tempos muito mais calamitosos.

Com efeito, ao final do relato do sonho em 1862, Dom Bosco questionou a um dos sacerdotes presentes (Dom Miguel Rua, o primeiro sucessor de Dom Bosco) o significado daquelas visões. Após a breve explanação do entendimento dos fatos pelo sacerdote, Dom Bosco lhe retrucou: 'preparam-se gravíssimos sofrimentos para a Igreja; o que até agora aconteceu é quase nada comparado com aquilo que deve acontecer'. Ou seja, os fatos narrados estão encerrados num contexto de tempo mais além que a época de Dom Bosco (e também do Concílio Vaticano I), num futuro mais abrangente, que permitiria uma 'preparação' cuidadosa dos inimigos da igreja para impor a ela 'sofrimentos gravíssimos'. 

Na época do CVI, a gravidade dos fatos era 'quase nada' diante da devastação que estava para acontecer durante a reunião do Segundo Conselho - Concílio Vaticano II (tempos de uma 'borrasca espantosa'). Todos os esforços de ordenamento e zelo doutrinário deste Conselho tornaram-se infrutíferos porque foram forjados no âmbito de uma crescente e desastrosa reforma litúrgica que, rompendo as amarras da Igreja à sã doutrina de Cristo e aos apelos da Virgem de Fátima, a impulsionou desordenadamente para águas turbulentas e mar aberto, à mercê das tempestades e dos ataques insidiosos de todos os seus inimigos ('aquilo que deve acontecer'). 

No nono aniversário de sua coroação como Papa, na Festa dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, em 29 de junho de 1972, o Papa Paulo VI revelou: 'Acreditamos que após o Concílio viria um dia de sol brilhante para a história da Igreja. Porém, em vez disso, veio um dia de nuvens, tempestades e de escuridão… e como foi que isso aconteceu? Há um poder, um poder adversário. Chamemo-lo pelo nome: o demônio. Parece que, por alguma rachadura misteriosa, a fumaça de Satanás entrou no templo de Deus'. Assim, a nossa época expressa a tragédia da nave-mãe submetida a todos os perigos em mar revolto.

Quatro testemunhas tentaram reproduzir os principais aspectos do conteúdo assombroso do sonho e os manuscritos tendem a concordar substancialmente, sendo que as suas pequenas diferenças traduzem meramente as naturais dificuldades de entendimento e apreensão de toda a narrativa apresentada. Em geral, tende-se a concordar que as visões de Dom Bosco abrangem certamente tempos diversos e vários pontificados, a começar por Pio IX. Entretanto, uma discrepância é muito significativa: a narrativa fala em dois ou em três papas da fase final da tremenda batalha? E o próprio Dom Bosco parece ter esclarecido mais tarde (em 1866) em favor da versão de três papas e não de dois, como parece ser mais indicado pela narrativa formal. O primeiro ferimento afeta gravemente um primeiro papa que cai e 'a segunda vez' refere-se ao ferimento mortal causado a um segundo papa que cai e morre, e ao qual sucede o terceiro papa que finalmente há de levar a nau da Igreja, com firmeza e segurança, até lançar âncoras diante dos dois pilares da Fé Católica e que se projetam às alturas do firmamento. É importante ressaltar que a nave majestosa da Igreja pode ser solidamente ancorada aos pilares por duas pequenas correntes, símbolos das devoções aos sagrados corações de Jesus e de Maria. 

É bem possível que estejamos vivendo uma parte da visão de Dom Bosco mas, como toda profecia genuína antes de seu cumprimento final, há muito de incerteza e ambiguidade para se pensar em estabelecer uma interpretação completa dos eventos. O presente exercício é uma mera tentativa de se compreender o conteúdo do sonho, à luz de fatos sobejamente conhecidos. Duas questões, entretanto, parecem ser conclusivas e definitivas: o final da visão revela um incondicional triunfo da Igreja, em escala mundial (a 'calmaria do mar' como um todo), conquistado depois de muita luta e sofrimento. E que este triunfo será alcançado necessariamente por meio da devoção ao Santíssimo Sacramento e pela intervenção explícita de Nossa Senhora, Auxílio dos Cristãos.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

INTERPRETAÇÕES DOS SONHOS DE DOM BOSCO (I)



No cenário do primeiro sonho de Dom Bosco, são descritas as seguintes visões:

(i) a presença de uma nave majestosa em mar revolto e sob forte ventania e tempestade; a nave majestosa tem por comandante supremo o Romano Pontífice.
(ii) uma esquadra gigantesca de navios, 'cujas proas eram terminadas por um agudo esporão de ferro em forma de lança' buscam, a todo custo e usando todo tipo de armas, afundar a nave majestosa.
(iii) a grande nave é escoltada por muitas outras naves menores que combatiam os navios inimigos.

A nave majestosa é a Igreja de Cristo, a única igreja verdadeira, Santa e Católica, sob o comando supremo do Romano Pontífice desde São Pedro. Muitas naves pequenas - as ações integradas de tantos e tantos religiosos e leigos que professam e preservam inalteradas a autêntica fé católica - escoltam e defendem a nave-mãe dos ataques, agressões, heresias e sacrilégios impetrados pelos inimigos da Igreja - e são tantos! - utilizando-se do indiferentismo religioso, do hedonismo, da proliferação de seitas e 'igrejas' irmanadas pelo ódio à nave de Pedro, pelo ateísmo militante, pela tentativa desenfreada de destruição completa das primícias da fé católica e da doutrina de Cristo! No mar revolto e tempestuoso do mundo, a Igreja continua a navegar incólume e firme, mesmo sob tenebrosas oscilações e percalços, porque os poderes do inferno nunca poderão prevalecer contra ela!

(iv) duas colunas gigantescas, muito próximas: uma mais robusta e mais elevada, encimada pela Hóstia; a outra, menos robusta e menos elevada, encimada por uma estátua de Nossa Senhora.
(v) as duas colunas encontravam-se afastadas da grande nau, 'no meio da imensa extensão do mar'.

A nave-mãe afastada das duas colunas significa uma perda de referências da Igreja com a sua Cabeça, que é Cristo, um tremendo afastamento da Fé, uma renúncia explícita à tradição bimilenar da Igreja e da doutrina do Salvador, manifestadas primariamente pelo abandono de dois portos seguros: as devoções à Eucaristia (e à Santa Missa de sempre) e à Nossa Senhora. A Igreja, sem estas âncoras seguras, torna-se nau sem rumo nas águas revoltas deste mundo.

(vi) o Sumo Pontífice tenta reunir o Conselho da Igreja duas vezes; na primeira vez, os membros são dispersos mas, na segunda vez, se mantêm sempre em torno do Pontífice.
(vii) os ataques dos inimigos tornam-se, então, extremados, mas são todos repelidos e anulados pela Igreja de Cristo.
(viii) os inimigos da Igreja, então, ficam ensandecidos de ódio e matam o Sumo Pontífice.

No primeiro Conselho, a Igreja ainda está à deriva e todos os esforços do Sumo Pontífice tornam-se infrutíferos, resultando em uma grande dispersão dos combatentes. No segundo Conselho, a nau assume agora uma rota fixa em direção de retorno ao porto seguro das duas colunas, rumo que nunca deveria ter sido abandonado. Muitas naves menores seguem resolutas e com grande júbilo a nave-mãe: a Igreja não está mais totalmente dispersa e a rota é a mesma para muitos, embora muitas outras naves ainda titubeiem e busquem se afastar do centro da batalha, receosos dos combates violentos que ocorrem sobre as águas. 

Diante da força recomposta da Igreja, os ataques inimigos recrudescem em escala violentíssima, as heresias e blasfêmias se avolumam como a espuma das águas em turbilhão, o estertor do mal se revela por inteiro (tristes e inglórios tempos dos homens), mas a nave-mãe e sua escolta fiel, apesar dos estragos e das avarias profundas, se recompõem de imediato pela aliança fiel aos desígnios da graça e rompem o mar em fúria em direção às duas colunas. Ensandecidos de furor diabólico, os ataques passam a ser abertos e pessoais (com 'armas curtas') contra os justos e os homens de fé, contra os religiosos, os bispos e governantes da Igreja e até mesmo contra o próprio pontífice, que é ferido duas vezes e morto.

(ix) os inimigos da Igreja se regozijam diante do triunfo final iminente, mas a morte do Pontífice é apenas o início da bancarrota geral da esquadra inimiga.
(x) a nave-mãe é firmemente ancorada às duas colunas e tem fim a batalha no mar.

Após um breve júbilo delirante dos inimigos diante a morte do Pontífice, outro imediatamente se levanta e assume o comando da nave-mãe, com firmeza ainda maior e ainda maior segurança, na rota em direção às duas colunas. O resultado, então, é espantoso: numa reviravolta tremenda, os navios inimigos se dispersam abruptamente, colidem entre si e se destroçam, submergindo num mar de águas escuras e profundas. A nave-mãe alcança finalmente o porto seguro e faz âncora firme entre os dois pilares da Eucaristia e da devoção à Nossa Senhora, acompanhadas pelas pequenas naves que combateram vivamente e, um pouco depois, também pelas que se mantiveram alheias à luta terrível. A Igreja do mundo é novamente a Igreja de Cristo em plenitude. Reina a calmaria no mar e ao mundo é concedido o tempo de paz.