sábado, 24 de dezembro de 2016

FELIZ E SANTO NATAL EM CRISTO!


Desejo a todos os nossos amigos visitantes um Santo e Feliz Natal. 
Deseo a todos los amigos y visitantes Felices Navidades. 
I wish to our friends' visitors an happy and Holy Christmas. 
Je désire à tous nos amis un heureux et joyeux Noel. 
Auguro a tutti gli amici uno Santo ed Felice Natale. 
Ich wunshe to unsere Freude eine Wundabar und Stille Nacht.


IGREJA CATÓLICA: ALMA DO NATAL


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AS MAIS BELAS CANÇÕES DE NATAL


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NATAL

Jesus nasceu! e na pequena estrebaria
José apressa-se em fazer a manjedoura
ajunta palha e feno, mudo de alegria,
enquanto a Mãe em êxtase se entesoura

Os animais se aproximam cautelosos
inebriados diante a luz que transfigura
e os pastores de joelhos, jubilosos,
louvam o Criador agora criatura!

Há uma paz imensa nesta noite fria
todos os anjos cantam a doce melodia
que une céu e terra em amor profundo;

É Natal, a Mãe embala seu pequeno filho
e a luz que inunda a gruta tem o brilho
da salvação que libertou o mundo!

                                                                              (Arcos de Pilares)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

O NASCIMENTO DE JESUS

Maria sentiu um leve estremecimento no ventre. Estremecimento e não dor. Percebera-o nitidamente em meio ao movimento harmônico do trote do burrico pela estrada poeirenta. No recolhimento de sua oração profunda, sua mão busca tocar levemente o ventre como uma resposta imediata da Mãe ao sinal enviado pelo Filho: a longa preparação do Tempo dos Profetas há de ser realidade em breve naquele tempo da história e Deus feito homem vai nascer no mundo. É o primeiro sinal. Suave estremecimento, perceptivel apenas por Maria, naquele momento da longa travessia que perpassa agora os campos abertos que levam mais adiante à Belém de todas as profecias.

José, puxando o burrico, olha para trás e se preocupa. O vento começa a soprar mais forte e mais frio e a jornada agora é mais lenta e penosa, nos declives mais acentuados da estrada que serpenteia pelo vale e pelos contrafortes de formações rochosas. E há muitas pessoas e alarido em torno deles. De tempos em tempos, são obrigados a parar e dar passagem a outros viajantes em marcha mais apressada ou para superarem com extremo cuidado os trechos mais íngremes. Quase todos os peregrinos têm o mesmo destino e o mesmo objetivo: apresentarem-se às autoridades em Belém e cumprirem as normas do novo recenseamento imposto pelas autoridades romanas. 

Em meio a um acontecimento regional e específico da história humana, está prestes a ocorrer o mais extraordinário evento da humanidade. Em meio ao burburinho e à agitação de toda aquela gente, Maria recebeu o primeiro sinal da manifestação da vinda do Messias prometido. Um murmúrio de humanidade no sagrado ventre consubstancia em definitivo o Mistério da Anunciação. Um leve estremecimento acaba de prenunciar o nascimento de Deus. 


As ruas estreitas se consomem de tanta gente. Há um cenário de mercado livre por toda a Belém daqueles dias. Eles acabaram de cumprir os registros formais do recenseamento e agora buscam ansiosamente uma pousada para o pernoite. Não é apenas o albergue principal da cidade que está com a lotação esgotada; as casas se transformaram em emaranhados de pessoas e utensílios, num entra e sai sem fim de gente ruidosa e apressada. Há o burburinho comum das crianças e o festim grotesco das ofertas gritadas e dos negócios de ocasião. No vaivém das ruas apinhadas e confusas, Maria e José buscam refúgio fora da cidade, além das casas mais ermas e mais afastadas. Aqui e ali ainda se veem acampamentos rústicos, improvisados, à guisa de refúgio de grupos mais ou menos numerosos. Além, mais além, as formações calcárias formam reintrâncias e cavernas, que muitas vezes são utilizadas como estrebarias pelos mercadores das grandes rotas até Jerusalém.

José leva o burrico na direção destas cavernas. Ele não sente no rosto o vento frio da tarde que se desvanece, nem o cansaço da longa jornada. Seu pensamento é todo, totalmente por Maria. A preocupação em encontrar um lugar digno para ela o consome por completo. A ânsia de dar descanso e refúgio a Maria tolhe todos os seus sentidos e atividades. A dimensão do mistério insondável o atordoa e o aniquila: a humanidade de José sente o peso incomensurável dos desígnios da Providência.

Passa adiante da primeira entrada, que não passa de um buraco estreito e irregular na rocha. A seguinte é pouco melhor do que isso. As demais mostram-se maiores e limpas, mas já estão todas ocupadas. As pessoas amontoam-se nos espaços exíguos em silêncio, homens na sua grande maioria, cercados por animais, feno e capim. São estrebarias que agora acomodam pessoas. José se inquieta ainda mais. Não há possibilidade aparente de privacidade para o nascimento de Jesus, não há lugar nenhum para um abrigo ainda que provisório. 

Avançado o paredão rochoso, José agora se depara com um cinturão de amendoeiras que margeiam o caminho adiante, que se abre, então, para campos e vales ao longe. Bem distante, na encosta suave do outro lado do vale, consegue divisar um pastor empurrando o seu rebanho. Nesse momento, sente os ombros dolorosamente pesados e seu andar vacilante. Seu olhar havia percorrido cada entrada rochosa e cada rosto humano em busca de recepção e de um gesto de boa vontade. E nada. Agora volve o seu olhar para Maria, como que pedindo perdão pela sua incapacidade e incerteza daquele momento. A humanidade inteira geme as suas ânsias pelo olhar desconsolado de José. 

Ao passar pela terceira gruta, Maria sentiu, como uma vibração percorrendo todo o seu corpo, o sopro do Espírito de Deus. Desde o primeiro sinal, recolhera-se, ainda com maior devoção, à oração de dar glórias ao Pai pelo que estava prestes a acontecer. Como serva da Anunciação, era agora a mesma serva como Mãe de Deus. E, nesse momento, pressentira o segundo sinal. A Divina Promessa iria dispensar a Redenção em breve à humanidade pecadora. Ao olhar para José, compreendendo a sua aflição e seu desapontamento, fitou-o com os olhos da perseverança e da fé inquebrantáveis e o brilho deste olhar emanava a própria luz de Deus.

Diante do olhar de Maria, a humanidade de José se detém e suas dúvidas se dissipam. Então, ele avança mais vinte, mais cinquenta metros, contorna as árvores e avista a gruta que emerge da continuação do maciço rochoso à esquerda. É e será sempre a visão do paraíso. Não é exatamente uma gruta, mas uma escavação que avança em profundidade na rocha e é protegida por uma murada frontal de pedras mal alinhadas, trançadas com restos de vigas de madeira, espalhados em desordenada profusão, que fecham de maneira irregular a entrada do lugar, protegendo-o dos ventos e das intempéries. Escondida, erma, isolada, bendita seja a gruta de Belém! 

Ela está suja, úmida, mal cuidada, mas não de todo desconhecida ou abandonada, porque um boi ali se encontra, com bastante feno e água. Há sujeira e palha solta em todos os lugares. Num canto, um arranjo de pedras enegrecidas indica o lugar de costume de se acender o fogo. Aliviado e feliz, José se consome nos arranjos práticos do refúgio improvisado. Ajuda Maria a entrar na gruta e se apressa a alimentá-la e a acomodá-la o melhor possível; dá feno e água ao burrico que é levado para junto do boi, monta um tablado de feno no chão, dispondo cuidadosamente os fardos; com paus e pedras, faz um arremedo de cercado em torno de Maria e o cobre com a sua manta grossa de viagem; empilha num canto os troncos e os pedaços de madeira espalhados; limpa as pedras e o chão com feixes de palhas e, com gravetos e pedaços de madeira seca, acende o fogo. A pequena luz se espalha pela escondida, erma, isolada, bendita gruta de Belém! 


O silêncio da gruta é quebrado apenas pelo crepitar das últimas chamas. O fogo aqueceu o espaço limitado e agora existe mais penumbra do que claridade. O fogo emoldura em repentes luminosos o rosto de José enquanto, pelas aberturas das muradas de pedras, o luar desenha feixes de luzes prateadas que cortam a escuridão que envolve toda a gruta. De repente, Maria põe-se de joelhos em contrita oração. Prostra-se com o rosto no chão e José percebe, apesar de toda a escuridão, o que está para acontecer. Coloca-se também de joelhos, também em fervorosa oração, louvando a Deus por ser testemunha e personagem de mistério tão extraordinário. Em muda expectativa, contempla o perfil de Maria apenas esboçado na escuridão da gruta.

A princípio, supõe ver os feixes de luar convergirem para o rosto de Maria ou auréolas de luz provenientes do fogo a envolverem completamente. Mas sabe que é muito mais que isso: uma luz, de claridade e brilho espantosos, nasce, emana e flui dela, enchendo a gruta de uma tal iridescência, que todas as coisas perdem a forma, o volume e a natureza material. Maria não se transfigura em luz, ela é a própria luz! O rosto de Maria é luz, as vestes de Maria são luz, as mãos de Maria são luz. Mas não é uma luz deste mundo, nem o brilho do cristal mais polido, nem o resplendor do diamante mais lapidado, nem a etérea luminosidade dos átomos em fissão; tudo isso seria uma mera pátina de luz. Maria torna-se um espelho do próprio Deus, da qual emana a luz do Céu!

José se transfigura neste redemoinho de luz sem ser a luz. Seus olhos puderam contemplar o terceiro e definitivo sinal da Natividade de Deus. E trêmulo, mudo, pasmado, contempla o recém-nascido acolhido entre os braços de Maria, recebendo o primeiro carinho e o primeiro beijo da Mãe Imaculada. Pressuroso e em êxtase, prepara a humilde manjedoura, o primeiro altar de Jesus na terra. O Filho do Deus Vivo já habita entre nós!

(Adaptação livre do autor do blog sobre os eventos prévios ao nascimento de Jesus)

LUZ NAS TREVAS DA HERESIA PROTESTANTE (V)

Segunda Objeção* do crente: 'Pede-se um texto da bíblia que prove que Maria foi concebida sem pecado.'

Resposta do Pe. Júlio Maria de Lombaerde:

É a segunda objeção formidável, que prova a supina ignorância de quem a formula. Falam da conceição imaculada de Maria, sem saber de que se trata, em que consiste e qual a significação das palavras. Eis porque vou citar, não somente um texto da bíblia, mas sim diversos, e explicar o mais claro possível o que é a imaculada conceição, para que o meu amigo protestante entenda que ele pretende combater o que ignora. Escute bem, meu amigo.

I. O que é o pecado original

O pecado original é o pecado cometido por Adão e Eva, desobedecendo a Deus. Este pecado, em Adão era atual, e o afastou de Deus, como fim sobrenatural. Em nós, é um pecado de raça. O gênero humano forma um corpo único, como ensina São Paulo: 'assim como o corpo é um, e tem muitos membros... assim é também Cristo, porque num espírito fomos batizados todos nós, para sermos um só corpo' (1 Cor 12, 12). Cristo é a cabeça sobrenatural deste corpo, sendo Adão a sua cabeça natural e moral. A cabeça moral pecando, todos os membros participam deste pecado.

Quando Deus criou nossos primeiros pais, estabeleceu-os no estado de inocência, de justiça original e de santidade, outorgando-lhes dons de três qualidades: naturais, sobrenaturais e preternaturais. Os dons naturais são as propriedades do corpo e da alma, exigidos por sua natureza dos homens, para alcançar o seu fim natural. Os dons sobrenaturais são: a graça santificante que faz deles filhos de Deus e predestinados à visão beatífica. Os dons preternaturais consistem na imunidade do sofrimento, da morte, da ignorância e da concupiscência. 

Adão e Eva, desobedecendo a Deus, cometeram um pecado mortal (Gn 2,17) e perderam a graça divina, com todos os dons que excediam as exigências da natureza humana. Perderam todos os dons sobrenaturais e preternaturais, conservando apenas os dons naturais, porém muito enfraquecidos. Os dons naturais não lhes foram retirados em sua constituição intrínseca, mas em seu exercício; as paixões desnorteando o juízo e enfraquecendo a vontade.

Este pecado, sendo um pecado de raça, transmite-se a todos os que pertencem à raça humana. O pecado entrou no mundo por um homem só, diz o Apóstolo (Rom 5,22). E ainda: 'Se um só morreu para todos é porque todos estavam mortos' (2 Cor 5,14). Todos estavam mortos em Adão. Todos! Logo também Maria Santíssima.

Entende-se por morta em Adão o fato de Maria, em virtude da sua conceição, estar sujeita ao pecado original por direito, porém não estava sujeita a este pecado de fato, porque uma graça singular do Redentor preservou-a, afastando dela a privação que constitui o pecado original. Maria, em virtude da sua descendência natural de Adão, estaria sujeita ao pecado, se não fosse, como pessoa, preservada dele. Como criatura, Maria devia herdar o pecado original; como Mãe de Deus, devia ela ser preservada.

II. A objeção protestante

A curta definição supra, simples definição do pecado original, é imediatamente impugnada pelos protestantes, que não querem compreender a verdade. O mesmo pastor, já citado diversas vezes, que tem a reputação de ser um farol da seita, para não dizer um lampião, começa logo com suas invenções. 

Maria Imaculada – quer dizer que a bendita Virgem foi concebida sem pecado, tal qual o seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo. Ignorância, sempre a mesma ignorância. Quem é, entre os teólogos católicos, que assevera tal absurdo? O amigo protestante inventa um absurdo e pretende refutá-lo, quando tal absurdo nunca figurou na doutrina católica, e é por ela formalmente combatido. Para combater a doutrina católica, caro protestante, é necessário conhecer esta doutrina, e não inventá-la de sua cabeça.

Não; absolutamente não, a Igreja nunca ensinou que Maria foi concebida sem pecado, tal qual Nosso Senhor Jesus Cristo. Tal asserção ridícula não passa de uma grotesca calúnia. A imaculada conceição não consiste em qualquer derrogação das leis da natureza, que presidem à procriação do homem. Nascer de uma Virgem milagrosamente feita mãe pela exclusiva operação do Espírito Santo, é um privilégio que Jesus Cristo reservou para si mesmo. Não quis partilhá-lo com ninguém, nem sequer com aquela que devia dar-lhe a vida.

Maria Santíssima entrou neste mundo pelas vias comuns da natureza, ela foi o fruto bendito de Santa Ana e de São Joaquim. Conforme São Boaventura e o Papa Bento XIV, pode-se distinguir no homem uma dupla conceição: uma ativa, que é a procriação do corpo, e uma passiva, que é a união da alma ao corpo gerado. A conceição ativa de Maria Santíssima em nada difere da conceição das outras crianças. A conceição passiva, ao contrário, é completamente diferente.

A nossa alma, no momento de unir-se ao corpo que ela deve vivificar, é contaminada pelo pecado original; enquanto a alma de Maria Santíssima foi milagrosamente preservada desta mancha. O pecado original é essencialmente uma privação. É a privação da graça primordialmente concedida à natureza humana, na pessoa de Adão. Na ordem intelectual e moral, pode-se dizer que a diferença entre o primeiro homem (Adão) e o homem decaído, o primeiro criado na natureza pura, e o segundo na natureza manchada, é o mesmo que aquela que existe na ordem física entre um homem civilizado, despojado dos vestidos que devia trajar, e um selvagem, que nunca usou roupagem.

Nos desígnios de Deus, a graça sobrenatural devia encontrar-se em todos os homens que nascem, mas depois do pecado original, a alma, chegando à existência é pobre, nua, miserável, privada dos dons magníficos da graça. Essa nudez é para a alma uma mancha, como a ausência das vestes é, para um homem civilizado, uma verdadeira mancha.

Tiremos agora a conclusão desta doutrina. O pecado original sendo essencialmente a privação da graça santificante, que a alma devia ter, deve-se concluir que a imaculada conceição consiste em que Maria Santíssima nunca conheceu, nem um único instante, esta privação, mas que desde o momento que foi criada a sua alma e unida ao corpo, preparado naturalmente para recebê-la, ela achou-se revestida da justiça e da santidade, por uma graça especial de Deus e uma aplicação antecipada dos méritos do Salvador.

Este privilégio é sumamente glorioso para Maria Santíssima e é único em seu gênero, porém não pode, de nenhum modo ser assemelhado à conceição humana do Salvador. De fato, o corpo do Salvador foi formado no seio de uma Virgem, por uma operação pura e divina do Espírito Santo, enquanto o corpo de Maria Santíssima teve a origem comum dos outros corpos humanos. A santidade original é, em Jesus, uma condição de sua natureza, um atributo essencial da sua pessoa. Em Maria, a santidade original é um privilégio, uma graça gratuita, concedida em previsão dos méritos do Salvador.

O Redentor estava infinitamente acima da corrupção comum. Maria Santíssima estava sujeita a esta corrupção, mas foi dela preservada. Assim entendido – no sentido da doutrina católica, a prerrogativa da Mãe não prejudica a excelência do Filho. Jesus é inocente por natureza; Maria o é por graça. Jesus o é por excelência; Maria Santíssima o é por privilégio. Jesus o é como Redentor; Maria Santíssima o é como a primeira resgatada pelo sangue divino, mas num resgate antecipado. Eis a bela, a gloriosa, e luminosa doutrina da imaculada conceição, que os protestantes ignoram por completo, e que pretendem combater, sem conhecê-la.

III. A lei geral

A lei geral é o que o pecado de Adão e Eva passa a todos os seus descendentes, por isso todos os homens nascem com a mancha do pecado original. Esta verdade é claramente ensinada pela Sagrada Escritura, e especialmente por São Paulo (Rom 5). O Concílio Tridentino a proclamou dogma católico e a tradição da Igreja, neste particular, é constante e universal. 

O Criador, para lembrar aos nossos primeiros pais a sua dependência da criatura, proibiu-lhes que comessem da fruta da árvore do bem e do mal (Gen 2,17). Adão e Eva desobedeceram a Deus, e esta desobediência constitui o pecado original. Tudo isso figura na Bíblia (Gn 3,6). O tal pecado, sendo cometido pelo primeiro homem, passa a toda a sua posteridade. Adão viveu, diz a Bíblia, e gerou à sua semelhança e conforme sua imagem (Gn 5,3). Adão, pecador, gerou outro pecador. É lógico. Por um só homem entrou o pecado no mundo, diz São Paulo (Rom 5,12). Todos nós, como filhos de Adão e Eva, nascemos com a alma manchada pelo pecado original.

O testemunho de São Paulo é explícito: 'Assim como o pecado entrou no mundo por um só homem e pelo pecado a morte, assim também passou a morte a todos os homens, porque todos pecaram num só' (Rom 5,12). Segundo São Paulo, houve, pois, pecado num homem só, e este pecado, com as consequências, tornou-se universal, como diz o santo rei Davi: 'Fui gerado na iniquidade, e minha mãe concebeu-me no pecado' (Sl 50,7). Eis a lei geral: todos os homens, como filhos de um pai decaído, como era Adão, nascem decaídos, do mesmo modo como de um rei decaído nascem filhos decaídos.

IV. As exceções a esta lei

O grande argumento dos protestantes é que todos os homens pecaram. E eles concluem: Maria, a Mãe de Jesus, era de raça humana – logo ela pecou. O raciocínio é exato, porém o caso é de repetir a palavra de Judite: 'Quem sois vós para tentar a Deus' (Jd 6,2), para por limites a seu poder? Tal é a lei geral, porém o supremo legislador pode derrogar as leis por ele estabelecidas.

A Bíblia está repleta destas derrogações. O movimento do sol e da lua está matematicamente fixado pela lei da natureza; enquanto Josué não hesitou em fazê-lo parar: 'Sol, detém-se em Gibaon, e tu, lua, no vale de Ajalon. E o sol se deteve e a lua parou' (Js 10, 12-13). É uma lei que as águas seguem a correnteza do seu curso, entretanto Moisés estendeu a sua mão sobre o mar 'e o mar tornou-se enxuto, e as águas foram partidas...como muro à sua direita e à sua esquerda' (Ex 14, 21-22). É uma lei que um morto fica morto até à ressurreição geral, entretanto o próprio Cristo-Deus, diante do cadáver de Lázaro já em putrefação, exclamou: 'Lázaro, sai...' E imediatamente aquele que estava morto saiu vivo (Jo 11, 43-44). Que prova isso, meu caro protestante? Isso prova que nada é impossível a Deus (Lc 18,27).

Todos os homens pecaram em Adão e Eva, e nascem com o pecado original. É a lei geral. Deus pode derrogar esta lei, como pode derrogar muitas outras, quando o julgar necessário ou conveniente. Ora, era absolutamente necessário que ele derrogasse esta lei em favor do seu próprio Filho. O Deus de toda pureza não podia entrar em contato com o pecado. Estes dois termos excluem-se mutuamente. Se Jesus se contaminasse pelo pecado, não seria mais a pureza infinita e não o sendo mais, deixaria de ser Deus, porque em Deus tudo é infinito.

Escute bem, caro protestante. Ora, Cristo, infinitamente puro, não o seria mais, se ele tomasse um corpo formado por uma carne e um sangue maculados pelo pecado. O filho recebe o seu corpo do corpo e do sangue da sua mãe. O filho é uma continuação dos seus pais. O corpo de Jesus Cristo é um corpo formado pela carne e pelo sangue da Santíssima Virgem. Ele é o filho de Maria: 'Aquele que há de nascer de ti, será chamado o filho de Deus', diz São Lucas (Lc 1,35).

Sendo o corpo de Jesus formado do sangue de Maria, e devendo este corpo ser uma pureza infinita – pois é o corpo de Deus – é absolutamente exigido que a carne e o sangue de Maria sejam de uma pureza absoluta, isto é, sem pecado original. Havia duas maneiras de alcançar esta pureza: a purificação ou a isenção do pecado original. Qual destes dois modos há de ser mais conveniente?

A discussão é inútil. Se Maria Santíssima tivesse sido apenas purificada do pecado, ela teria sido escrava, pelo menos durante uns instantes, do demônio, e mais tarde o demônio teria podido lançar no rosto do Salvador este insulto: 'Tua mãe! Ela foi minha antes de ser tua! Eu a possuí maculada!' Uma tal suposição é horrível! Vai, Satanás, longe daqui. Nunca, nunca, nem durante um instante tu dominarás a mulher bendita entre todas as mulheres! O Senhor estará com ela desde o princípio, e onde está o Senhor, lá não pode estar Satanás. Ela será cheia de graça. E se ela fosse dominada pelo mal, se ela o fosse apenas um instante, não estaria mais cheia de graça; faltaria a graça inicial. Eis porque a Mãe de Jesus não podia ser simplesmente purificada do pecado... devia ser preservada.

V. A Imaculada Conceição

Eis-nos, com uma lógica irrefutável, em frente do mistério da imaculada conceição que não é outra coisa senão a preservação do pecado original, em previsão dos merecimentos futuros do Salvador. Diga, amigo protestante, não é lógico isso? Não é convincente? Não é necessário? Pois bem, a tal preservação é o que nós chamamos: imaculada conceição. Está vendo que tal privilégio, outorgado à pura Mãe de Jesus, não é, como aos protestantes se afigura: um bicho de sete cabeças, um espantalho misterioso!

É a coisa mais lógica do mundo, que eles negam por não saber o que é, e que seus pastores combatem, unicamente para dar-se um jeitinho bíblico, para passar por homens inteligentes, entendidos, zelosos discípulos da Bíblia, que não compreendem. A imaculada conceição abrange dois pontos importantes que convém salientar, porque destroem, de antemão, as objeções protestantes: (i) O primeiro é ter sido a Santíssima Virgem preservada da mancha original, desde o princípio da sua conceição; (ii) O segundo é que tal privilégio não lhe era devido por direito, mas foi-lhe concedido em previsão dos merecimentos de Jesus Cristo.

Como tal, Maria Santíssima foi resgatada por Jesus Cristo, como qualquer um de nós; mas convém notar que há duas maneiras de resgatar, ou salvar uma pessoa: antes da queda ou pelo levantamento. O primeiro resgate é de Maria Santíssima; o segundo é o nosso. Cristo morreu para todos, diz o Apóstolo (2 Cor 5,15) e ainda: 'Um só morreu para todos' (2 Cor 5,14). Morreu de fato para todos, e em previsão de sua morte preservou a sua Mãe da mancha do pecado, sendo ela, deste modo, a primeira resgatada, e a mais bela conquista do seu sangue.

VI. As provas da Bíblia

O que acabamos de dizer é lógico, meu caro protestante, e se impõe a uma inteligência não viciada pelo preconceito. Eu sei que isso não é ainda o bastante para vós, por isso apoiemos tal doutrina sobre a Bíblia. Abrindo o Gênesis, encontramos no capítulo 3,15, as seguintes palavras que Deus dirigiu ao demônio, depois da queda dos nossos primeiros pais: Inimicitias ponam inter te et mulierem, et sêmen tuum et sêmen illius: ipsa conteret caput tuum (Gn 3,15). A tradução popular deste texto é: Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua posteridade e a posteridade dela: ela te pisará a cabeça. A tradução literal seria: Porém inimizade entre ti e a mulher, entre a tua semente e a semente dela: ela te esmagará a cabeça.

A primeira tradução está mais ao alcance de todos: a segunda se aproxima mais do texto oficial da Vulgata. Este texto refere-se à Santíssima Virgem, pois é impossível restringir a sua significação à pessoa de Eva. Assim limitado, este texto perderia toda significação. Esta mulher é a Virgem Santíssima, filha de Adão e Eva pela natureza, filha e esposa de Deus, pela graça. Sua posteridade, sua semente é o seu filho unigênito Jesus Cristo, e em Jesus, somos os Cristãos. A serpente é o demônio; e os filhos do demônio são os infiéis e ímpios, diz Cornélio a Lápide

A Santíssima Virgem, por si, por Jesus e pela Igreja, esmaga a cabeça da serpente. Esmaga-a pela sua imaculada conceição, pela perfeição de sua santidade, pelo seu triunfo sobre o pecado e sobre a morte. Esmaga-a por Jesus, que é o vencedor de Satanás, do pecado do mundo. Esmaga-a pela Igreja, isso é, pelos membros fiéis, pelos católicos fervorosos que procuram viver para Deus. Diante deste texto luminoso, profético, que tanto exalta a grandeza e o poder da Santíssima Virgem, os amigos protestantes procuram todos os meios de desviar o sentido, e de excluir dele a Santíssima Virgem.

A tradição cristã sempre viu nesta passagem simbólica a figura do Cristo e de sua Santíssima Mãe; só a obcecação protestante procura contestar esta figura, sem depois saber a quem aplicá-la. Destroem, mas sobre as ruínas acumuladas são incapazes de edificar outro edifício. Procuram nos textos antigos se não houve qualquer divergência a respeito, e encontram qualquer coisa, sem mudança essencial, apenas acidental, mas que lhes permite pelo menos suscitar um protesto e formular uma objeção.

Há três versões diferentes do texto citado. O texto oficial da Vulgata diz: A mulher te esmagará a cabeça (ipsa). A versão hebraica diz: A semente da mulher te esmagará a cabeça (ipsum). A versão caldaica diz: O filho (Cristo) te esmagará a cabeça (ipse). Que belo achado! Os protestantes gritaram o seu eureca. Tudo serve: ipse ou ipsum, só não pode servir ipsa, porque este ipsa refere-se a Maria Santíssima. É o tradicional ódio à Mãe de Jesus. Haja discussão! Haja trevas! Haja objeções, haja dúvidas para afastar o texto da Mãe de Jesus, e remover a figura majestosa da Virgem, desta primeira página bíblica.

E no meio da balbúrdia, os pobres protestantes, não enxergam que tal mudança de pronome: ipse, ipsa, ipsum só tem valor secundário, que não muda em nada o valor do texto, nem a extensão de sua significação. Menos precipitação, menos paixão e mais sinceridade lhes teria mostrado que o sentido fica sempre aquele que interpretou São Jerônimo, adotando o pronome ipsa: ela: a Santíssima Virgem.

VII. A grande discussão

Examinemos de perto o sentido da passagem, na mudança do pronome. Qualquer que seja a versão adotada, o texto prova sempre o triunfo da mulher, que é a Virgem Imaculada. O essencial é que haja um eterna inimizade entre a mulher e o demônio: Porei inimizades entre ti e a mulher. Eis o principal. Tal inimizade significa que deve haver oposição completa entre o demônio e a Virgem Santíssima.

Ora, esta oposição não seria completa se – ainda mesmo por um só instante estivesse sujeita ao pecado original. Donde se deve concluir que ela foi preservada deste pecado. Depois vem a continuação do primeiro fato. Não somente haverá inimizade entre o demônio e a Santíssima Virgem, mas esta inimizade continuará entre a posteridade de Satanás e a posteridade da Virgem. Inter semen tuum et semen illius.

Daí conclui-se logicamente que são as mesmas inimizades que já existem entre o demônio e a Virgem, que devem continuar a existir entre a posteridade, ou a semente de ambos. A semente do demo é o pecado. A semente da Virgem é Cristo. A inimizade entre Cristo e o demônio é absoluta, é radical, completa. E, sendo a mesma inimizade que existe entre o demônio e a mulher, deve-se concluir, de novo, que tal inimizade é absoluta, radical, completa; numa palavra: é a imaculada conceição.

Entre Cristo e o demônio nada pode haver de comum como o próprio demônio confessa: Quid nobis et tibi, Jesus? Que há entre nós e vós, Jesus? De modo que nada pode haver de comum entre o pecado e a Santíssima Virgem. Ora, se Maria não fosse imaculada, isso é, preservada do pecado original, ela teria tido, fosse apenas durante um instante, qualquer coisa de comum com o pecado, o próprio pecado original. Isso repugna ao texto bíblico, como repugna à dignidade da Virgem Santa.

Depois destes princípios, a mudança de pronome ipseipsaipsum torna-se uma questão de palavras, que nada muda a verdade católica. O texto contestado é pois o seguinte: Deve-se ler: Ipse ou Ipsum, conteret caput tuum. O sentido é o mesmo nos três casos: ipse é Cristo; ipsa é a Virgem Santa; ipsum é a semente ou Cristo. Ora, a Igreja Católica nunca pretendeu outorgar diretamente à Santíssima Virgem o privilégio de esmagar a cabeça da serpente, exclusivamente por si, mas unindo-se a seu Filho, pela ação de seu Filho, isso é, como Mãe de Deus.

Adotando, pois, a versão: ipse ou ipsum, dizendo que é Cristo que esmaga a cabeça da serpente, é preciso admitir que ele o faz como Deus-homem; pois Cristo é um homem; como tal ele está unido à sua Mãe: Cristo o faz diretamente, a Santíssima Virgem o faz indiretamente, mas ela fica inseparavelmente associada a este triunfo. Adotando, como a Vulgata, a versão ipsa dizendo que é Maria Santíssima que esmaga a serpente; não é ela só, mas unida ao Filho; ela o faz pelo poder de seu Filho, de modo que ela continua a ser associada a Jesus, a intermediária entre Jesus e o demônio. É a virtude de Jesus que esmaga a cabeça da serpente, pelo pé da Virgem Santa.

Isto é tão simples e lógico que, nas edições hebraicas, a mulher e o filho são unidos num único pronome: Eles te esmagarão a cabeça; o que ainda é o mais claro e o mais lógico, indicando deste modo o princípio e o instrumento: o filho e a mãe. Eis a tremenda discussão levantada pelos protestantes, no intuito de rebaixar a Mãe de Jesus; porém tal discussão em nada prejudica a glória de Maria Santíssima; de modo que, através das discussões humanas, a palavra divina continua resplandecente, fulminante, mostrando-nos, desde os albores da humanidade, a figura luminosa, nimbada de esperança e misericórdia: a Virgem Imaculada.

Tal é aliás a opinião do próprio São Jerônimo, que escolheu, entre as três diversas versões, três hebraicas que trazem ipsa, senão pela exatidão gramatical, senão pelo sentido espiritual. Ele mesmo dá a razão desta preferência: Não pode ser outra a semente da mulher, escreve ele, senão aquele que o apóstolo diz ter sido feito da mulher, isto é, Jesus Cristo. Cristo é verdadeiramente a semente da mulher, havendo ela nascido sem cooperação do homem.

Podia-se citar ainda o Antigo Testamento este texto de Isaías: 'O Senhor vos dará um sinal: Eis que uma Virgem conceberá e dará a Luz a um filho, e chamarão o seu nome Emanuel, isso é, Deus conosco' (Is 7,14). Este outro de Jeremias: 'Deus criou uma novidade na terra; uma mulher cercará [de cuidados] um homem' (Jer 31,22). Estes passos provam diretamente a virgindade perpétua da Santíssima Virgem, e indiretamente a sua conceição imaculada.

VIII. Provas do evangelho

Passemos ao Evangelho, onde tal verdade não é mais figurativamente anunciada, mas positiva e implicitamente revelada. O anjo, vindo participar à Santíssima Virgem que tinha sido escolhida entre todas as mulheres, para ser a Mãe do Filho de Deus, cumprimentando-a, em nome de Deus, com a seguinte saudação: 'Ave, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois entre as mulheres' (Lc 1,28). Que quer dizer isso? Deus proclama a Virgem cheia de graça. Ora, num vaso cheio não cabe mais nada.

Dizendo que Maria Santíssima é cheia de graça, é dizer que possui todas as graças que pode conter um criatura. Se ela não fosse imaculada, podendo sê-lo, lhe faltaria qualquer coisa; não seria mais: cheia de graça. O Senhor Deus é com ela. Ora, onde está Deus não pode estar o pecado. A presença de Deus expele todo pecado. Quando nós nascemos, Deus não está conosco, porque nascemos em pecado. Ele estava com Maria, sempre, desde a sua entrada neste mundo, porque era imaculada.

Maria Santíssima é bendita entre todas as mulheres. Por que bendita? Porque será Mãe de Deus. Isso é um título, uma dignidade, merecimento pessoal. A razão da benção deve brotar do fundo da criatura: e este fundo é a sua pureza imaculada, que a separa de todas e a eleva acima de todas as mulheres. Juntemos a esta prova decisiva as palavras inspiradas no Magnificat, onde a Virgem exclama: 'Fez grandes coisas em mim aquele que é poderoso' (Lc 1, 49). Esta grande coisa não é somente a maternidade divina, mas também a conceição imaculada, que é como a base deste privilégio.

Outra prova insofismável: Maria Santíssima continua: 'Deus pôs os olhos em sua humilde escrava'. Se houvesse tido o pecado original, deveria ter dito: Deus pôs os olhos na iniquidade da sua escrava, como dizem os santos, e como aconselha a Sagrada Escritura. Justus prior est accussator sui. Eis a revelação implícita do grande dogma da imaculada conceição. É o que fazia dizer São Cirilo, desde os primeiros séculos da Igreja: 'Qual é o homem de bom senso, que pode acreditar que o Filho de Deus tenha construído para si mesmo um templo, um trono animado, cedendo o primeiro direito deste templo, e o seu primeiro uso ao demônio, seu mortal inimigo? Uma tal ideia, pode ela penetrar num ser capaz de raciocínio?' Não havia protestante neste tempo. Que diria São Cirilo, se voltasse hoje e visse sustentarem tal absurdo?

Eis, meu caro protestante, não somente o texto pedido, mas diversos textos, uma explicação destes textos, para o senhor poder compreendê-los. Esta verdade é tão clara que o seu próprio pai Lutero não teve a ousadia de negá-la. Cito apenas uma passagem entre muitas. Escute bem: 'Era justo e conveniente - diz ele - fosse a pessoa de Maria preservada do pecado original, visto o filho de Deus tomar dela a carne que devia vencer todo o pecado' (Lut. In postil. maj.). O seu pai Lutero era menos protestante que os netinhos de hoje; sobretudo, era menos ignorante, e, apesar de sua revolta, compreendia melhor a bíblia que os nossos modernos biblistas e biblieiros, que só sabem ler com os óculos dos outros, e interpretar através dos óculos de qualquer pastor.

IX. Cheia de graça

Nova objeção. Não devia faltar. Eis, dizem eles, como os padres raciocinam. Dizem que Maria é cheia de graça e que ser cheia de graça é ser imaculada. Então Santa Isabel, 'cheia do Espírito Santo', ' São João Batista, também 'cheio do Espírito' e outros, são igualmente imaculados. É um argumento de criança. Examinem bem a diferença dos termos, e portanto da significação.

De SãoJoão, o evangelista diz: Spiritu Sancto replebitur (Lc 1, 15). De Santa Isabel, ele diz: Repleta est Spiritu Sancto Elisabeth (Lc 1, 41). De Maria Santíssima, o arcanjo diz: Ave, gratia plena (Lc 1,28). Estes termos são muito diferentes. A Sagrada Escritura emprega continuadamente o termo repletus como estar cheio, no sentido de abundância relativa ou uma certa quantidade, como repletus consolatione (2 Cor 7,4), cheio de consolação; repletus iniquitate (Miq 6, 12) cheio de iniquidade; repletus dilectione (Rom 15, 14), cheio de amor, etc.

Falando da Santíssima Virgem, o termo é diferente e significa uma plenitude completa. O grego Kecharitoménê, particípio passado de charitóô, de cháris, é empregado na Sagrada Escritura para designar a graça, tomado no sentido teológico, isso é, por um dom divino que adere à nossa alma. O sentido exato, dizem os exegetas é: omnino gratiosa reddita, que se tornou plenamente graciosa, em outros termos: omnino plena caelesti gratia: cheia de graça.

Os termos assim bem compreendidos, pode-se formar o silogismo: Maria Santíssima estava cheia de graça, ao ponto que nada mais podia conter. Ora, se ela tivesse o pecado original, ela não estaria mais cheia, pois podia receber uma graça (a preservação do pecado) que não recebera. É pois necessário admitir a imaculada conceição, como fazendo parte de sua plenitude.

Os teólogos citam outro argumento ainda (Tract. B. V. Lepicier, p.100): A graça estava na Santíssima Virgem, do mesmo modo que em Deus, devido à união dela com a divindade na produção do corpo de Jesus Cristo, que é o corpo de uma pessoa divina. Ora, esta graça tem por propriedade de nunca ter faltado a Deus. É, pois, necessário que Maria Santíssima nunca tenha sido privada da graça, o que só pode ser, admitindo a imaculada conceição. Outro argumento teológico: O anjo saúda a Maria como sendo bendita entre, ou acima de todas as mulheres. Ora, em que Maria seria superior a todas as mulheres, senão pela imaculada conceição?

X. Proclamação deste dogma

Maria Santíssima é verdadeiramente imaculada, isso é, preservada da mácula do pecado original, pela aplicação antecipada dos merecimentos de Jesus Cristo. É um dogma da nossa fé, solenemente proclamado pelo Papa Pio IX, em 1854. Aqui vem uma pedra formidável dos mansos protestantes. Ouço-os gritar: 'estão vendo, a tal imaculada conceição é uma novidade, data apenas de 1854! É uma invenção romana!' Pobres de espírito, escutem bem! Existir é uma coisa; ser proclamado é outra coisa.

Quando Denis Papin proclamou em 1710 a lei da pressão do vapor., já não existia a tal pressão? Quando Ramsden em 1779 proclamou a existência da eletricidade: já não existia ela? Quando Franklin proclamou a atração do pára-raio, em 1780, não existia ainda o raio, o trovão e o relâmpago? A asserção é ridícula. A Igreja proclamou a conceição imaculada em 1854, em defesa deste privilégio, contra os ataques ímpios protestantes, porém tal privilégio existiu sempre, na Bíblia, na Tradição e na pessoa da Virgem Maria.

XI.Conclusão

Tiremos a conclusão: Maria Santíssima é imaculada. É certo. O fim da Encarnação inclui a imaculada conceição. Este fim é resgatar-nos do pecado original; em consequência, a Encarnação e o pecado original excluem-se mutuamente. São dois termos opostos, como são opostos os termos de luz e trevas, de dia e noite. 

Como é que a Virgem, pela qual deve vir a libertação, pode ser escrava de Satanás? Como é que a Virgem, que deve dar a Cristo um corpo e um sangue imaculados, pode estar manchada pela culpa original? Seria isso dizer que pode circular uma água cristalina num canal imundo. Seria afirmar que uma mãe preta pode gerar um filho branco. Isso é o contrário da Bíblia que diz: quem pode tirar um fruto puro de uma semente impura? (Jó 14, 36).

Como então, mais tarde, Jesus poderia expulsar os espíritos imundos (Lc 4, 36), se ele mesmo era o fruto do pecado, pelo nascimento de uma mãe pecadora? Não está vendo que isso é insensato? Ela nos traz a luz e ela estaria nas trevas! Ela nos traz o preço do nosso resgate e ela seria devedora! Ela seria a mãe da pureza infinita, e ela seria impura. Ela seria a Mãe de Deus e filha do pecado! Ela seria revestida de sol, da lua e de estrelas, como descreve São João (Ap 12,1) e ela teria nascido nas trevas! Não se vê que isso é uma blasfêmia, um insulto a Deus! Concluamos, pois, dizendo que Maria Santíssima devia ser imaculada, e que o foi, conforme o bom senso e a Sagrada Escritura nos indicam.

* Esta 'objeção' foi proposta por 'um crente' como um desafio público ao Pe. Júlio Maria e que foi tornado público durante as festas marianas de 1928 em Manhumirim, o que levou às refutações imediatas do sacerdote, e mais tarde, mediante a inclusão de respostas mais abrangentes e detalhadas, na publicação da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', ora republicada em partes neste blog.

(Excertos da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', do Pe. Júlio Maria de Lombaerde)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'Temeis aproximar-vos do Pai; assustados com o som de Sua voz, precipitai-vos buscando esconder-vos por entre as folhagens. O Pai vos deu Jesus como mediador. Tal Filho pode obter tudo de seu Pai. Ele será atendido no que diz respeito a si mesmo, porque o Pai ama seu Filho. Vós teríeis medo de seu Filho, também? Ele é vosso irmão e vossa carne, Ele sofreu e tudo suportou, exceto o pecado, e isso para ensinar a misericórdia. Este seu irmão vos foi dado por Maria. Mas, talvez tenhais medo da sua majestade divina, visto que, tornando-se homem Ele permaneceu Deus. 

Estais à procura de um advogado junto a Ele? Recorrei a Maria. Nela haveis de encontrar a humanidade em seu estado puro. Eu não hesito em dizer que ela também será ouvida, naquilo que solicitar. O Filho ouvirá a sua Mãe, e o Pai ouvirá o seu Filho. Meus filhinhos, eis a escada dos pecadores, eis toda a minha segurança e a razão da minha esperança'.

(São Bernardo)

DO LIVRO DAS CINTILAÇÕES (II)

Do Livro das Cintilações*- II

IV - A humildade

25. Disse o Senhor no Evangelho: Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração e encontrareis repouso para vossas almas (Mt 11,29).

26. Disse Tiago Apóstolo: Humilhai-vos diante de Deus e Ele vos exaltará (Tg 4,10).

27. Disse Orígenes: Se não fores humilde e recolhido, não poderá habitar em ti a graça do Espírito Santo (In Lev., 6, 2; PG 12, 468).

28. Disse Agostinho: Deus se fez humilde; que se envergonhe o homem de ser soberbo (En. in Ps. 18, 15; PL 36, 163).

V - O perdão

29. Disse o Senhor no Evangelho: Se fores fazer tua oferenda no altar e te lembrares de que teu irmão tem algo contra ti, deixa tua oferenda diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão e, depois, vai fazer tua oferta (Mt 5, 23-24).

30. Disse Gregório: Nosso antigo inimigo não está preocupado em tirar nossos bens terrenos, mas em ferir nossa caridade (Hom. Ev., 27, 2; PL 76, 1205).

31. Disse Isidoro: Quanto mais se adia a reconciliação com o irmão, mais se adia o serenar de Deus. Em vão buscará Deus propício quem não se aplicar a rapidamente reconciliar-se com o próximo (Sent., III, 27, 7; PL 83, 702).

32. Disse Anastásio: Se não perdoas a injúria que te foi feita, é antes uma maldição sobre ti mesmo - e não uma oração - o que fazes ao rezar: Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.

VI - A compunção

33. Disse o Senhor no Evangelho: Em verdade, em verdade vos digo: vós chorareis e vos lamentareis e o mundo alegrar-se-á; sereis afligidos, mas vossa tristeza transformar-se-á em alegria (Jo 16,20).

34. Disse Gregório: Quando retornamos ao Senhor, Ele nos abraça bondosamente, pois já não pode ser indigna a vida de quem lavou seus pecados com lágrimas (Hom. Ev., 33, 8).

35. Disse Gregório: Tendo-nos manchado depois das águas do Batismo, renasçamos com a água das lágrimas (Hom. Ev., 25, 10; PL 76, 1196).

36. Disse Isidoro: Para Deus, as lágrimas de penitência equivalem às águas do Batismo (De Eccl. off. II, 17, 6; PL 83, 803).

VII - A oração

37. Disse o Senhor no Evangelho: Tudo o que pedirdes na oração com fé, recebereis (Mt 21, 22).

38. Disse Jesus, filho de Sirach [Jesus Ben Sirac, a quem se atribui a autoria do Livro do Eclesiástico]: A oração humilde trespassa as nuvens (Eclo 35,21).

39. Disse Jerônimo: Se é absurdo que um soldado parta sem armas para a guerra, assim também o cristão não deve fazer nada sem oração.

40. Disse Isidoro: A oração vem do coração e não dos lábios; pois Deus não leva em conta as palavras, mas o coração de quem ora. É melhor orar no silêncio do coração do que por palavras sem atenção do espírito. Se alguém ora sem falar e em silêncio, sua oração passa despercebida aos homens, mas não a Deus, que está presente em sua consciência (Sent., III, 7, 4).

41. Disse Isidoro: Nosso espírito é celeste; e contempla verdadeiramente a Deus, quando não é distraído por nenhuma preocupação terrena (Sent., III, 7, 7).

42. Disse Cipriano: Boa é a oração que vai acompanhada de jejum e de esmola (In De Dom. Orat., 32; PL 4, 540).

VIII - A confissão

43. Disse João Apóstolo: Se dissemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós. Mas, se confessamos nossos pecados, fiel e justo é Deus para perdoar e limpar-nos de todo pecado (I Jo 1,8-9).

44. Disse Agostinho: A confissão de todas as más ações é o início das boas obras (In Ioh. Ev. XII, 13; PL 35, 1491).

45. Disse Agostinho: Quem confessa seus pecados e se acusa de ter pecado faz um pacto com Deus (In Ioh. Ev. XII, 13; PL 35, 1491).

46. Disse Agostinho: O tempo (oportuno) para confessar é agora; confessa o que fizeste por palavras, por ações, de noite, de dia.

47. Disse Gregório: Quanto mais nos fechamos no silêncio, mais se alimenta o peso da dor interior (Pastor., 3, 14; PL 77, 72).

IX - A penitência

48. Disse o Senhor no Evangelho: Fazei penitência, pois aproxima-se o reino dos céus (Mt 3, 2).

49. Disse Jerônimo: Podridão da carne se trata a ferro e fogo (Ep. 117, 2; PL 22, 954).

50. Disse Jerônimo: Deus, por natureza, é misericordioso e disposto a salvar por clemência aqueles que Ele não pode salvar por justiça (In Ionam 2, 9).

51. Disse Isidoro: Penitência é questão de obras e não de meras palavras (Sent., II, 23).

52. Disse Isidoro: Há mais alegria em Deus e nos anjos por aquele que se livrou do perigo, do que por aquele que nunca conheceu o perigo do pecado; pois, quanto mais entristece a perda de algo, mais alegra reencontrá-lo (Sent., II, 14, 4).

X - O jejum

53. Disse Paulo Apóstolo: Todas as criaturas de Deus são boas e não é de rejeitar nenhum alimento, que deve ser tomado com ação de graças: ele é santificado pela Palavra de Deus e pela oração (I Tim 4,4-5).

54. Disse Jesus, filho de Sirach: O abstinente prolonga sua vida (Eclo 37,34).

55. Disse Jerônimo: O ventre cheio fala do jejum com facilidade (Ep. 52, 7, 2; PL 22, 533).

56. Disse Isidoro: Pelo comer, cresce a sensualidade; o jejum vence a luxúria (Syn., II, 14; PL 83, 848).

57. Disse Isidoro: Este é o jejum perfeito: quando jejua nosso homem exterior e o homem interior faz oração (Sent., II, 44, 1; PL 83, 651).

58. Disse Isidoro: Pelo jejum, até as profundezas dos mistérios são reveladas e se manifestam os segredos dos divinos arcanos (Sent., II, 44, 2; PL 83, 651).

59. Disse Gregório: Os que praticam o jejum com arrogância, afligem seus corpos pela abstinência, mas são escravos do mundo por seu espírito de gula (Hom. Ev., 32, 3; PL 76, 1235).

* (Liber Scintillarum, escrito por volta do ano 700, constitui uma coletânea de máximas e sentenças compiladas das Sagradas Escrituras ou proclamadas pelos Pais da Igreja, organizadas por um monge - que se autodenomina 'Defensor' - do Mosteiro de São Martinho de Ligugé; tradução de Jean Lauand)


quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

TIRAI A DUREZA DOS VOSSOS CORAÇÕES!

Uma palavra para todos os que quiserdes receber a Deus neste Natal: 'Padre, eu amo a Deus, que farei?' Se tiverdes a casa suja, varrei-a; se houver poeira, pegai em água e molhai-a. Haverá aqui alguns que não varrem a casa há dez meses ou mais, Existirá mulher tão desleixada que, tendo uma marido muito asseado, fique dez meses sem varrer a casa? 

Há quanto tempo não vos confessais? Irmãos, não vos pedi na Quaresma passada que vos acostumásseis a confessar-vos algumas vezes no ano? Pelo menos no Natal, nos dias de Nossa Senhora e em outras festas religiosas importantes do ano, mas penso que vos esquecestes. Praza a Nosso Senhor que não vos exijam contas disso no dia do Juízo. E se disserdes então: 'Eu não sabia, por isso não me confessei', dir-vos-ão: 'Bem que vo-lo disseram, bem que vo-lo gritaram, muito se afadigaram em alertar-vos; agora de nada serve puxar os cabelos porque antes não o quisestes fazer'.

Irmãos, pecamos todos os dias. Se até hoje fostes preguiçosos em varrer a vossa casa, pegai agora na vassoura, que é a vossa memória. Lembrai-vos do que fizestes ofendendo a Deus e do que deixastes de fazer a seu serviço; ide ao confessor e jogai fora todos os vossos pecados, varrei e limpai vossa casa. 

Depois de varrida, molhai o chão: 'Mas não posso chorar, padre'. E se vos morre o marido ou o filho, ou se perdeis um pouco do vosso dinheiro, não chorais? 'Claro que choro, padre, e tanto que quase chego ao desespero'. Pobres de nós que, se perdemos um pouco de dinheiro, não há quem nos possa consolar, mas se nos sobrevém um mal tão grande como perder a Deus - pois isso acontece a quem peca - o nosso coração é de tal forma uma pedra que são necessários muitos pregadores, confessores e admoestadores para que sintamos um pouco de tristeza! 

Mais valorizas a quantia perdida do que o Deus que perdes. Quando perdes uma quantia insignificante, não há quem consiga consolar-te, nem frades, nem padres, nem amigos, nem parentes. E, no entanto, não te entristeces quando perdes nada menos que o próprio Deus. Que significa isto, senão que tens tanta terra nos canais entre o coração e os olhos que a água não pode passar? 

'Que me leva a ter o coração tão duro e a não poder chorar?' De todos os tempos apropriados que há ao longo do ano, este é o mais apropriado para os duros de coração. Valorizai o tempo santo em que estamos, considerai esta semana como a mais santa de todas do ano. É uma semana santa, e se a aproveitardes bem e vos preparardes como já sabeis, certamente vos será tirada a dureza do coração.  

(Dos sermões de São João de Ávila)

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

E O SANGUE DE SÃO GENNARO NÃO SE LIQUEFEZ!

San Gennaro (São Januário) nasceu em Nápoles, no ano 270 d.C e, após sua ordenação como sacerdote no ano 302, foi empossado como bispo de Benevento. Em 304, sob a violenta perseguição aos cristãos promovida pelo imperador romano Diocleciano,  foi preso e conclamado a renunciar à fé cristã sob ameaça de martírio. Impassível diante destas ameaças, foi lançado em fornalha ardente e depois à flagelação em arena por feras famintas, escapando ileso de ambas as provações. Sob as ordens raivosas do pró-consul Timóteo, o santo foi então decapitado em Puzzoles, junto com outros mártires cristãos, no dia 19 de setembro de 305. Segundo a tradição, uma piedosa mulher recolheu o sangue que vertia do corpo de São Januário, quando este era transportado para Benevento.

No ano de 432, os restos mortais do santo foram transladados para Nápoles, sua cidade natal e em 820, levados para Benevento para, em 1497, retornarem definitivamente para Nápoles, incluindo a custódia contendo a porção recolhida do sangue do bispo mártir, endurecido e na forma de fragmentos. Em 16 de dezembro de 1631, a população de Nápoles invocou a proteção do milagre do sangue de São Gennaro para passar incólume às ameaças das lavas e cinzas de uma grande erupção do Vesúvio, ocorrida naquela data. Esta proteção repetiu-se em outras ocasiões de erupções do vulcão situado muito próximo à cidade de Nápoles (como em 1707 e 1944, por exemplo). 

Desde 1659, o fenômeno da liquefação desse sangue é rigorosamente registrado (já são mais de 10.000 registros), ocorrendo sistemática e periodicamente em três datas específicas: em 19 de setembro, festa do martírio do santo; no sábado que antecede o primeiro domingo de maio, aniversário da primeira transladação e em 16 de dezembro, data da erupção do Vesúvio. Em pouquíssimas ocasiões, sempre associadas a eventos futuros negativos, o sangue não se liquefez. O sangue de São Januário está recolhido em duas ampolas de vidro (a maior com 60 centímetros cúbicos e a menor com 25 centímetros cúbicos); o sangue endurecido ocupa até a metade da ampola maior e, na menor, encontra-se disperso em fragmentos.

(liquefação do sangue ocorrida em 19 de setembro de 2016)

A liquefação do sangue produz-se espontaneamente, sob as mais variadas circunstâncias, independentemente da temperatura ou do movimento das ampolas. Algumas vezes, o sangue liquefaz-se instantânea e inteiramente, ou, por vezes, permanece um denso coágulo em meio ao resto liquefeito, com variações de tonalidade que vão de um vermelho mais escuro até o rubro mais vivo. Não poucas vezes surgem bolhas e sangue fresco e espumante sobe rapidamente até o topo da ampola maior. Comprovações científicas demonstram tratar-se de sangue humano. Outros aspectos são bastante mais inexplicáveis: ocorrem variações de peso e de volume da massa sanguinolenta, embora esteja lacrada em ampolas hermeticamente fechadas.

(liquefação do sangue NÃO ocorrida em 16 de dezembro de 2016)

Em 16 de dezembro agora, o sangue não se liquefez, a primeira interrupção do fenômeno desde 1980. Com efeito, naquele ano, em 19 de setembro, o sangue não se liquefez e, cerca de dois meses depois, em 23 de novembro de 1980, um terremoto devastou a região da Irpinia, vizinha a Benevento, afetando 280.000 pessoas e causando quase 3.000 mortes. Outras datas recentes em que isto não ocorreu foram nos anos de 1973 (uma epidemia de cólera assolou a cidade de Nápoles) e 1939 e 1940 (anos do início e da entrada da Itália, respectivamente, nos conflitos da Segunda Guerra Mundial). E, para nossa consternação, dos cristãos de Nápoles e do mundo inteiro, o sangue de São Gennaro não se liquefez mais uma vez!