sexta-feira, 28 de outubro de 2016

DA EXPLICAÇÃO DO MAGNIFICAT (VI)


Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que O temem

Depois de ter glorificado a Deus pelos favores infinitos com que foi cumulada e de ter feito a admirável profecia: 'todas as gerações me chamarão bem-aventurada', profecia que compreende um mundo de maravilhas que o Onipotente operou e há de operar em todos os séculos e por toda a eternidade, para tornar essa Virgem Mãe gloriosa e venerável em todo o universo, eis uma outra profecia, cheia de consolação para todo o gênero humano, especialmente para aqueles que temem a Deus, pois essa divina Maria nos declara que a misericórdia de Deus se estende de geração em geração sobre aqueles que O temem.

Qual é essa misericórdia? 'É o nosso boníssimo Salvador', diz Santo Agostinho. Por isto, o Pai eterno é chamado Pai das misericórdias, porque Pai do Verbo encarnado, que é a própria misericórdia. É desta misericórdia que o profeta pedia a Deus, em nome de todo o gênero humano, a vinda a este mundo pelo mistério da Encarnação, quando dizia: 'Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia, e dai-nos o vosso Salvador'.

Pois, como o Verbo encarnado é todo amor e todo caridade, é também todo misericórdia. Deus é sempre misericordioso por natureza e por essência, diz São Jerônimo, e sempre pronto a salvar por sua clemência os que não pode salvar por sua justiça. Mas somos tão desgraçados e tão inimigos de nós mesmos que, quando a misericórdia se nos apresenta para salvar-nos, nós lhe voltamos as costas e a desprezamos.

É pela Encarnação que o Filho de Deus exerceu a sua misericórdia, segundo as palavras do Príncipe dos Apóstolos: 'que nos regenerou segundo a sua grande misericórdia' (I Pd 1, 3). Pois todos os efeitos de misericórdia que o Salvador operou sobre os homens, desde o início do mundo até agora, e operará por toda a eternidade, procederam e procederão do adorável mistério de sua Encarnação, como de sua fonte e princípio primeiro. É por isso que Davi, pedindo perdão de seus pecados, ora desta maneira: 'ó meu Deus, tende piedade de mim, segundo a vossa grande misericórdia'.

Três coisas são necessárias à misericórdia. A primeira é ter compaixão da miséria alheia; pois é misericordioso quem traz no coração, por compaixão, as misérias dos miseráveis. A segunda, é ter uma grande vontade de socorrê-los em suas misérias. A terceira, é passar da vontade à ação. Ora, o nosso bom Redentor encarnou-se para exercer em nós a sua grande misericórdia.

Pois, fazendo-se homem, e tomando um corpo e um coração capaz de sofrimento e dor como o nosso, Ele se encheu de tal compaixão de nossas misérias e as levou em seu coração com tanta dor, que não há palavras para exprimi-la. Pois, de um lado, tendo um amor infinito por nós, como um pai boníssimo por seus filhos; e, de outro lado, tendo sempre diante dos olhos todos os males do corpo e do espírito, todas as angústias, todas as tribulações, todos os martírios e tormentos que seus filhos deveriam padecer até o fim do mundo; seu Coração foi dilacerado por mil dores, extremamente sensíveis e penetrantes, as quais lhe teriam dado mil vezes a morte, se o seu amor, mais forte que a morte, não lhe houvesse conservado a vida, a fim de sacrificá-la por nós na cruz.

Na verdade, o que não fez Ele e o que não sofreu para livrar-nos efetivamente de todas as misérias temporais e eternas nas quais nos tinham mergulhado os nossos pecados? Todas as ações de sua vida, e de uma vida de trinta e três anos, e de uma vida divinamente humana e humanamente divina; todas as virtudes que praticou, todos os passos e peregrinações que fez sobre a terra, todos os trabalhos que passou e todas as humilhações, privações e mortificações que suportou; todos os seus jejuns, preces, vigílias, pregações; todos os seus sofrimentos, chagas, dores, a sua morte crudelíssima e cheia de opróbrio, o seu precioso sangue derramado até à última gota; todas essas coisas, digo eu, não foram todas essas coisas empregadas, não só para libertar-nos de toda espécie de males, mas também para dar-nos a posse de um império eterno, cheio de uma imensidade de glória, grandezas, alegrias, felicidades e bens inconcebíveis e inefáveis?

Mas que significam as palavras seguintes: 'sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que O temem?' Significam, segundo a expressão dos santos doutores, que, assim como o nosso Salvador encarnou-se e morreu por todos os homens, derrama também os tesouros de suas misericórdias sobre todos aqueles que não lhes opõem obstáculos, mas que O temem. De modo que, assim como me é uma fonte inexaurível de graça e de misericórdia, acha também um soberano prazer em comunicá-las continuamente a seus filhos, em todo tempo e em todo lugar.

Mas não quis fazer inteiramente só essa grande obra. Pois, além de fazer todas as coisas com o seu Pai e o seu divino Espirito, quis ainda associar a sua Mãe Santíssima nas grandes obras de sua misericórdia. Não é bom que o homem esteja só, disse Deus, quando quis dar a primeira mulher ao primeiro homem: façamos-lhe um adjutório semelhante a Ele. Assim, o novo homem, que é Jesus, quer ter um adjutório que é Maria, e seu Pai eterno lhe concede para ser sua coadjutora e cooperadora na grande obra da salvação do mundo, que é a obra de sua grande misericórdia.

Maria é pois a administradora da misericórdia, porque Deus a encheu inteiramente de uma bondade, de uma doçura, de uma liberalidade extraordinária e de um poder sem igual, a fim de que ela queira e possa assistir, proteger, amparar e consolar todos os aflitos, todos os miseráveis, e todos quantos a ela recorrerem em suas necessidades. É o que ela faz continuamente para com os indivíduos, os reinos, as províncias, as cidades, as casas e até para com todo o mundo, segundo as palavras de um dos mais santos e mais sábios Padres da Igreja, São Fulgêncio: 'Há muito que o céu e a terra se teriam reduzido ao nada de que foram tirados, se Maria os não sustentasse'.

(Da Explicação do Magnificat, de São João Eudes)

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'Temos o dever de levantar a nossa voz, de relembrar as grandes verdades da fé, não somente aos humildes, mas também aos poderosos, aos felizes deste mundo, aos chefes dos povos, aos que são admitidos aos conselhos de governo dos estados. E de propor a todos as certíssimas sentenças, cuja verdade a história confirmou com caracteres de sangue, como estas: 'O pecado faz a infelicidade dos povos (Pv 14, 34) e 'Os poderosos serão poderosamente atormentados’ (Sp 6, 7). E também a que está no Salmo 2: 'E agora, ó Reis, compreendei; cientificai-vos, juízes da terra .... Submetei-vos à lei do Senhor, temerosos de que Ele se ire, e venhais a perecer fora do caminho da justiça`. Essas ameaças fazem esperar as mais duras consequências visto que campeia a iniquidade pública e que a falta principal dos governantes e dos povos consiste na exclusão de Deus e na rejeição da Igreja de Cristo. Desta dupla apostasia decorre a subversão de todas as coisas e a multidão quase infinita de misérias para os indivíduos e as sociedades' (Encíclica Communium Rerum, de 21 de abril de 1909).

Papa São Pio X

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

10 QUESTÕES SOBRE A PASSAGEM POR UMA PORTA SANTA


1. O que é uma Porta Santa?

Uma porta representa, de certa forma, um 'símbolo humano', presente em todas as culturas. Com efeito, um homem possui duas atitudes básicas em relação a uma porta: entrar e sair por ela. No caso de uma Porta Santa também se entra e se sai por ela, mas há um elemento adicional muito importante nesta passagem: são derramadas abundantes bênçãos e graças especiais quando por ela passamos. Em um Jubileu, a Porta Santa serve para indicar aos fieis que o ato de passar pela porta da igreja significa uma atitude de recolhimento, de agradecimento, de pedir perdão ou de suplicar novas graças, ou seja, de se ter a certeza de que vamos receber neste ato uma bênção muito especial.

2. O que significa passar pela Porta Santa?

Cada vez que cruzamos uma Porta Santa, ganhamos uma graça especial e essa é a indulgência plenária. Esta passagem é sinal de uma renovação e de uma atitude de conversão e arrependimento. A passagem pela Porta Santa significa expressar todos os bons propósitos renovados que um cristão se propõe para mudar de vida. Cristo chamou a si mesmo de 'Porta', como expressão de salvação, segurança, acolhida e paz. Todas estas são as condições para se adentrar ao redil de Cristo por uma porta plena da liberdade de se entrar e sair dela quando se quiser.

 3. Por que a Porta Santa é aberta apenas em um Jubileu?

Deus está sempre propício a nos conceder as suas bênçãos e suas graças. Mas existe um tempo, chamado de 'kairos' no Novo Testamento, em que Deus tende a se tornar mais propício a nos cumular com as suas graças e atender especialmente os nossos pedidos. Este tempo especial encontra-se exatamente no tempo de um Jubileu, ou seja, neste ano do perdão, neste Ano da Misericórdia. 

4. A Porta Santa é um chamado para que as pessoas se aproximem de Deus?

Passar pela Porta Santa é adentrar na própria graça de Deus, na própria misericórdia de Deus. É, pois, um chamado a tantos cristãos tíbios ou indiferentes em sua fé a se colocarem por inteiro na presença de Deus e, numa súplica de perdão e arrependimento, voltarem à Igreja e alcançarem os frutos da misericórdia divina. Uma vez arrependido e confessado dos seus pecados, ao passar pela Porta Santa , o cristão é perdoado na misericórdia de Deus e obtém, assim uma indulgência plenária.

5. Como um cristão deve passar por uma Porta Santa?

Não se trata de uma mera passagem pela Porta Santa. Fazer uma entrada e uma saída protocolares, fazendo-se um sinal da cruz ou uma mera oração formal. É preciso mais. A passagem efetiva, sinal de transformação da pessoa que a fez, não ocorre por um passe de mágica ou automaticamente. É preciso fazê-lo com um verdadeiro espírito de arrependimento, de conversão e de plena confiança no perdão e na misericórdia de Deus.

6. Por que é importante esta indulgência plenária?

A indulgência plenária constitui uma anistia absoluta, ou seja, Deus perdoa todos os nossos pecados, quaisquer que sejam eles e, ainda mais, o dano e as consequências destes pecados.  Assim, no roubo, faz-se uso indevido do valor roubado, que muitas vezes não pode ser restituído. Na confissão, perdoa-se o pecado do roubo, mas não o dano, a consequência do furto. A indulgência plenária, ao contrário, remove não apenas os pecados, mas todos os seus danos e consequências. A alma fica completamente livre, como se a pessoa houvesse acabado de ser batizada e, se morresse nesta condição, adentraria a glória celeste sem passar pelo purgatório.

7. Quais são as condições que devem ser cumpridas para se atravessar a Porta Santa e se obter a indulgência plenária?

Antes de cruzar a Porta Santa, o cristão deve confessar-se, comungar e rezar pela intenções do Santo Padre e da Igreja.

8. Qualquer sacerdote pode abrir uma Porta Santa?

Não; uma Porta Santa só pode ser aberta pelo próprio papa ou por bispos especialmente designados pelo papa para fazê-lo, em determinados lugares.


9. Por que não são abertas as portas de todos as igrejas?

A escolha de determinados templos específicos tem o caráter do extraordinário, do especial. Trata-se de um evento singular da Igreja, e não um ritual corrente. Além disso, inclui-se no rito da passagem pela Porta Santa o caráter de 'peregrinação', que pode ser curta ou muito mais extensa, mas que , em qualquer caso, incorpora solenemente no cristão uma atitude de perseverança e de busca confiante no perdão e na misericórdia de Deus.

10. Como se faz a passagem por uma Porta Santa?

Fisicamente, numa atitude de recolhimento e humildade (de silêncio, com a cabeça baixa, de joelhos, etc). Espiritualmente, com reverência e devoção, fazendo-se as orações julgadas mais pertinentes e de livre escolha naquele momento. O mais importante, entretanto, é sempre fazê-lo com reta intenção e tendo atendido todas as condições previamente indicadas.

Conhecidas estas tantas graças, o que você está esperando para passar por uma Porta Santa neste Ano do Jubileu? Descubra as mais próximas de você e (re)comece a sua peregrinação espiritual.

(Texto adaptado e resumido pelo autor do blog, a partir das respostas dadas em entrevista pelo Pe. Donato Jiménez, sacerdote agostiniano e professor emérito da Faculdade de Teologia Pontifícia e Civil de Lima/Peru a ACI Prensa).

VÍDEOS CATÓLICOS

Um alerta para os Tempos Finais

Um alerta, um aviso, um apelo à conversão! Um sacerdote mexicano, o Pe. Juan Rivas da cidade de Guadalajara, diante da manifestação preocupada de vários de seus paroquianos em relação a estranhos sinais vistos no céu da cidade, fala abertamente sobre os sinais ainda mais que evidentes dos tempos finais que vivemos e nos alerta a uma conversão imediata, uma vez que a Porta da Misericórdia está prestes a se fechar... 

terça-feira, 25 de outubro de 2016

LUZ NAS TREVAS DA HERESIA PROTESTANTE (II)

CAPÍTULO III

CONTRA O QUÊ OS PROTESTANTES PROTESTAM

Contra quem? Contra o quê? Protesta-se contra aquilo que é injusto ou nos incomoda; e, não sendo assim, protesta-se por vício ou por mania. Os protestantes protestam contra a Igreja Católica e contra os ensinamentos da mesma. Por quê? Terá a Igreja Católica cometido qualquer injustiça contra eles? Nunca! A Igreja Católica, como mãe carinhosa e como pai vigilante, ensina a doutrina recebida por Jesus Cristo. Exorta os homens a praticar a virtude, a afastar-se do mal, a respeitar as pessoas que não partilham o seu credo, embora refutem os erros por elas ensinados.

É a sua tarefa em tempo de paz. E em tempo de guerra, quando é atacada pelos inimigos, defende-se e defende o seu chefe Cristo, como o soldado, atacado pelos inimigos da pátria, defende a sua honra, a sua bandeira e o seu chefe. É o seu direito. É o seu dever. Atacada, ela se defende; perseguida, ela reza e sofre; levada ao patíbulo – o católico morre; porém a Igreja não pode morrer; ela se levanta mais radiante do meio do sangue dos seus filhos, para cantar o seu hino de triunfo em cima do túmulo dos seus perseguidores.

Quanto aos seus inimigos, ela perdoa, reza por eles e procura converter seus próprios algozes. Tudo isto é nobre, é leal, é brioso, e deve excitar a admiração e não o ódio. Não podendo protestar contra qualquer injustiça da parte da Igreja Católica, deve-se concluir que os protestantes protestam, porque ela os incomoda. Isso pode ser. A verdade incomoda a mentira; a virtude incomoda o vício; a honestidade incomoda a ganância; Deus incomoda o demônio.

Estamos de acordo neste ponto. A Igreja Católica, pelo seu ensino, sempre idêntico e sempre invariável; pela sua organização admirável; pela sua santidade que realiza na pessoa de seus filhos; pelas altas intelectualidades que a professam, defendem e exaltam, forma com tudo isso um astro luminoso, que incomoda a retina visual da miopia protestante. Assim, incomoda ao libertino a pureza de uma donzela, como incomoda ao ladrão a presença da polícia, como incomoda ao bêbado a temperança dos sensatos.

Isto é lógico. A mão coça onde há coceira, diz o ditado. Assim explicado, compreende-se a razão íntima do protesto dos protestantes e a mira desse protesto. Não protestam nem contra a barbaridade de um Calles no México; nem contra a tirania de um Lenin na Rússia, nem contra a perversidade do espiritismo, nem contra a imoralidade dos costumes e das modas. Isto, para eles, não merece protesto, mas merece-o a Igreja de Cristo, a Igreja do Papa, a Igreja de Roma, que atravessa os séculos, passando por cima dos ódios e da lama dos vícios, sempre bela, sempre pura, sempre majestosa e sempre divina! Ah! Isso é demais; é preciso protestar – e o protestante, escutando a calúnia dos seus pastores, em vez de escutar a voz do bom senso, protesta e vive protestando.

Cristo, o verdadeiro Deus, dirigindo-se a Pedro, disse: 'Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela' (Mt 16,18). 'Estarei convosco até o fim dos séculos' (Mt 28,20). 'Se alguém, ainda que fosse um anjo do céu, vos anunciasse outro evangelho além do que vos tenho anunciado, seja anátema' (Gl 1,8). 'Pedro, rezei por ti, para que a tua fé nunca venha a desfalecer' (Lc 22,32). Tudo isto é claro; é tal um sol refulgente!

O protestante, entretanto, protesta, e tapando os olhos com os dois punhos, grita: 'Não! São Pedro não é o chefe da Igreja! Não é ele o primeiro papa! Ele nunca esteve em Roma! Não tem nenhuma autoridade! A Igreja romana está errada! A religião verdadeira é o protestantismo de Lutero! Cristo disse: 'Minha Igreja!' É um erro! grita o protestante, a igreja verdadeira é a de Lutero. Pobres protestantes! Protestam contra Deus, contra a Igreja fundada por Cristo, filho de Deus, contra a Igreja fundada por Cristo e contra a doutrina ensinada por Deus.

Mas, então, em que acreditais, pobres protestantes? Se fôsseis sinceros, devíeis responder: 'Só acreditamos no protesto'. Afirmamos tudo aquilo que a Igreja católica nega, e negamos tudo que ela afirma: eis a nossa religião. Nós protestamos! A Igreja Católica crê que São Pedro e seus sucessores são os representantes de Cristo na terra. Nós protestamos! A Igreja Católica crê na pureza imaculada da Mãe de Jesus, honrando-a e invocando-a. Nós protestamos! A Igreja crê na confissão, no poder que o sacerdote recebeu de Cristo, de perdoar os pecados. Nós protestamos!

A Igreja crê no céu para os justos, no inferno para os maus e no purgatório para aqueles que têm de expiar ainda umas faltas. Nós protestamos! A Igreja crê na intercessão dos santos, no culto dos finados, na união que existe entre os vivos e os mortos. Nós protestamos! A Igreja crê nos sete sacramentos, no poder da oração, no valor das boas obras, nas indulgências concedidas pela Igreja. Nós protestamos! A Igreja crê na bíblia, como um livro divino, exigindo uma interpretação autêntica, feita por uma autoridade legítima. Nós protestamos! A Igreja crê na tradição, conforme as palavras de São Paulo: 'Conservai as tradições que aprendestes, ou por nossas palavras, ou nossa carta' (2 Tess 2,14). Nós protestamos!

Eis o protesto dos protestantes. Eis porque, como e contra o quê eles protestam. Para quem quer refletir e é capaz de o fazer, a verdade se impõe com todo o rigor e com todas as suas consequências. O protestantismo é uma seita humana, de revoltosos ou de ignorantes, de orgulhosos ou de néscios. Numa palavra, é bem a seita anunciada por São Paulo: 'Muitos andam que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição, cujo deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas' (Fp 3, 18-19). Não é isso o retrato perfeito de tais pastores, protestantes, exploradores, vendedores de bíblias, de sermões e consciências, que só pensam em ganhar dinheiro e em passar boa vidinha? Reflitam sobre isto, pobres protestantes iludidos, enganados por estes falsários que nada têm de pastores, mas que, como o disse Cristo, 'são ladrões e salteadores' (Jo 10,1).

CAPÍTULO IV

COMO OS PROTESTANTES PROTESTAM

Há diversos modos de protestar. Protesta-se contra a mentira, pela manifestação da verdade. Protesta-se contra a injustiça pela valorização dos seus direitos. Protesta-se contra a calúnia pela exibição das provas contrárias. O protestantismo protesta contra a Igreja Católica! Já expliquei a razão deste protesto; mas, como é que ele protesta? Mostrando a verdade? Mostrando seus direitos? Mostrando sua inocência? Nada disso. É o contrário: ataca a verdade. Não respeita os direitos alheios. Calunia a inocência do que e de quem não conhece. Protesta unicamente pela calúnia, pelo ódio, pela hipocrisia e pelas objeções. É um protesto fora de todas as regras do bom senso, da lógica e da bíblia, que se ufana de praticar.

O protesto verdadeiro, lógico, racional e convincente seria de mostrar, de provar a mentira, a injustiça ou a calúnia. Por que os protestantes não provam a mentira, a injustiça ou a calúnia da Igreja Católica contra eles? Pela razão que a Igreja não mente, nem comete injustiças, nem calúnias e que os mentirosos são eles; os fautores de injustiças são eles; os caluniadores são eles ainda. A Igreja Católica teria direito de protestar; ela não protesta, mas sim, mostra a verdade, prova esta verdade e pela verdade dissipa o erro.

Por que os protestantes não seguem o mesmo caminho? Em vez de limitar a sua ação em fabricar objeções, por que não provam eles a verdade do protestantismo? Se tal verdade existe, ela há de dissipar necessariamente o erro católico como a verdade católica dissipa o erro protestante. A primeira obra que uma religião deve fazer é provar a autenticidade, a autoridade e a legitimidade do seu ensino; em outros termos: é provar os seus dogmas. Por que não o fazem os protestantes? Pela razão muito simples de não terem dogmas. A negação ou o protesto não se sustentam por si mesmos, só podem existir onde há uma coisa positiva, que se possa negar, onde há uma verdade contra a qual se possa protestar.

***

O protestantismo é um verdadeiro parasita religioso, que só pode viver nas costas do catolicismo, procurando chupar-lhe a fé, como os parasitas – animais ou vegetais – que vivem do sangue ou do suco de outro. Tirai das costas do animal tal parasita-bicho e está morto; arrancai tal outro parasita da casca do vegetal, e morto estará também. Assim o protestantismo. Se o catolicismo pudesse morrer - o que é impossível – no mesmo dia e na mesma hora, estaria morto o protestantismo. Arrancai-o das costas do catolicismo e ele será um cadáver em putrefação.

A Igreja Católica é o objeto positivo; o protestantismo é a sua negação. A Igreja Católica é o sol luminoso e resplandescente do dia; o protestantismo é as trevas da noite onde se tropeça e perde o caminho: Vae ponentes tenebras lucem (Is 5,20). A Igreja Católica é uma instituição modelar, harmoniosa e divina; o protestantismo é a anarquia, a desordem e a revolta que procura aviltar esta instituição: Super hanc petram aedificabo ecclesiam meam (Mt 16,18). A Igreja Católica é um colosso de vida, de progresso, de expansão e de força; o protestantismo é um ancilóstomo ou necátor que procura fixar-se no organismo para aí produzir a opilação espiritual, o cansaço de Deus e o amarelão religioso: Ite in mundum universum, praedicate evangelium (Mt 16,15).

A Igreja Católica é a água divina, num voo direto, em demanda do céu; o protestantismo é a pulga que procura fixar-se nas asas do pássaro, para cansá-lo e impedir o seu voo: Sicut aquila, provocans ad voladum pullos suos (Dt 32,11). A Igreja Católica é árvore frondosa, em cujos ramos as aves do céu, que são os santos, se aninham; o protestantismo é o parasita que procura envolver o tronco, chupar-lhe a seiva, para esterilizá-lo: Fit arbor, ita ut voluvres caeli... habitent in ramis ejus (Mt 13,32).

A Igreja Católica é o farol luminoso, que Deus colocou à beira da estrada humana, para indicar aos homens a verdade e a virtude; o protestantismo é a noite escura, que cega o olhar do viandante e o faz precipitar-se no abismo: Posui te in lucem gentium (At 13,47). A Igreja Católica é a ponte que liga a terra ao céu, e onde os homens devem estar para, da terra, subirem ao céu; o protestantismo é o abismo horrendo, que passa por baixo da ponte, onde se precipitam aqueles que desprezam a ponte: Arcta via est, quae ducit ad vitam (Mt 7,14). A Igreja Católica é a arca fora da qual ninguém se salva, sendo todos – como no dilúvio – arrastados pelas ondas em furor; o protestantismo é o lodo terrestre, é o arrecife, formado pelas árvores arrancadas, pelas casas destruídas, que procura atalhar a navegação da arca: Tanquam navis quae pertransit fluctuantem aquam (Sab 5,10).

A Igreja é a barquinha de São Pedro que leva, através do oceano do mundo, os filhos de Deus, até aportar no céu; o protestantismo é a perdição, é a porta para o inferno: Si ecclesiam non audierit, sit tibi sicut ethnicus (Mt 18,17). A Igreja Católica é o reino de Deus, reino triunfante no céu; reino padecente no purgatório; reino militante na terra; o protestantismo, estando fora deste tríplice reino, é necessariamente o único reino aí não incluso: o reino de Satanás ou inferno: In hoc manifestati sunt filii Dei, et filii diaboli (Jo 3,10).

Para terminar resumamos tudo em duas palavras: a Igreja Católica é a obra de Deus, fundada por Deus, sustentada por Deus, inspirada por Deus, fazendo as obras de Deus; o protestantismo é obra dos homens (de Lutero), fundada pelos homens, hoje sustentada pelo dólar americano, inspirada pelo ódio, e fazendo as obras do ódio e da revolta: Ex fructibus eorum cognoscetis (Mt 7,20). É o bastante para os homens sinceros compreenderem o que é o protestantismo e como é que ele protesta. Protesta pelo ódio, pelos ataques, pelas objeções, pelas calúnias, pela hipocrisia, fazendo em tudo o contrário do que manda a bíblia e o bom senso. E têm a coragem de chamar isso de religião! É muita coragem!

(Excertos da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', do Pe. Júlio Maria de Lombaerde)

domingo, 23 de outubro de 2016

O VALOR DA ORAÇÃO HUMILDE

Páginas do Evangelho - Trigésimo Domingo do Tempo Comum 


Jesus falou muitas vezes sobre o valor da oração. Do valor da oração humilde e confiante, pautada no arrependimento sincero e na dor pelos pecados cometidos. Falou sobre a necessidade de orar sempre, com contrição e perseverança nas súplicas dirigidas à Divina Misericórdia. Mas, todas as vezes que Jesus falou sobre a oração, destacou sempre a premissa essencial do seu valor e ponderação: a humildade. A oração humilde é tangida pela Verdade porque emana da gratuidade da vida em comunhão com Deus.

No Evangelho deste domingo, outros dois personagens são trazidos à realidade das digressões humanas: um fariseu e um cobrador de impostos. Investidos de suas atribuições cotidianas, são apenas homens cumprindo metas e obrigações. Diante de Deus, duas almas, fruto de escolhas singulares da Infinita Sabedoria. Na vida de ambos, certamente o fariseu parecia ter escolhido a melhor parte, pelo menos até o dia em que ambos, vivendo vidas tão opostas, 'subiram ao Templo para rezar' (Lc 18, 10).

E ali, diante de Deus, as realidades humanas se consumiram no nada. O fariseu, eivado de orgulho e auto-suficiência, proferiu a oração despropositada e inútil: 'Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda’ (Lc 18, 11-12). No ato desonesto de louvar a si mesmo com desmedida jactância e julgar o próximo pela ótica dos valores humanos, arruinou a própria súplica. O cobrador de impostos, ao contrário, sabedor de suas fraquezas e misérias, prostrou-se em humilde recato e contrição, na sua súplica por clemência e perdão: 'Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!' (Lc 18,13).

O primeiro homem se viu em luz, e se banhou com desmedido orgulho nesta própria luz, mortiça e inútil, forjada tão somente por ações humanas. E saiu do templo com a concessão irrisória das alegrias humanas. O segundo homem, porém, apagou primeiro em si toda vaidade e interesses profanos e mergulhou, com inteira confiança e despojamento, na luz de Cristo. E, iluminado pela graça de Deus, alcançou misericórdia e experimentou a consoladora e definitiva paz daqueles que são plenamente justificados em Cristo: 'Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado' (Lc 18, 14).