quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

03 DE DEZEMBRO - SÃO FRANCISCO XAVIER


Francisco nasceu no castelo de Xavier, em Navarra, na Espanha, a 7 de abril de 1506. Aos dezoito anos foi para Paris estudar, tornando-se doutor e professor. Ao conhecer Santo Inácio de Loyola, sua conversão profunda o levou a ser cofundador da Companhia de Jesus. Tornando-se sacerdote e empenhado no caminho da santidade, São Francisco Xavier (na verdade, de Xavier) foi designado por Santo Inácio a seguir em missão apostólica ao Oriente, para atender o pedido feito pelo Rei João III de Portugal.

Francisco Xavier tinha 35 anos quando cruzou o oceano para evangelizar os domínios portugueses de ultramar. Nesta missão, chegou à cidade de Goa, capital das possessões portuguesas no Oriente, em 6 de maio de 1542. E ali realizou proezas de evangelização, levando as primícias da fé cristã até ao extremo sul da Índia. Neste zelo apostólico, cruzou terras e oceanos em condições de risco extremo, perfazendo, em pouco mais de uma década, uma das mais extraordinárias ações missionárias da história da Igreja. Pregou a palavra de Cristo em inúmeras incursões a áreas remotas e a diferentes povos das possessões portuguesas, da Índia, das ilhas de Málaca, das Molucas e de várias ilhas vizinhas, chegando até o Japão e, mais tarde, até às costas da China, onde veio a falecer, de febre e exaustão, em 3 de dezembro de 1552, aos 46 anos.

O grande Apóstolo do Oriente realizou naquelas regiões milagres portentosos, que incluem vários episódios de ressurreições e feitos espantosos. Seu corpo incorrupto foi exposto em Goa um ano depois de sua morte e seus olhos negros se mantinham como se estivessem vivos, com um olhar penetrante. Mesmo agora, séculos depois, seu corpo incorrupto ainda pode ser visto em Goa. Foi canonizado pelo papa Gregório XV em 12 de março de 1622, junto com Santo Inácio, Santa Teresa de Jesus, São Felipe Neri e Santo Isidoro de Madri. São Francisco Xavier é proclamado pela Igreja como Patrono Universal das Missões, ao lado de Santa Teresinha do Menino Jesus.

(túmulo do santo na Basílica do Bom Jesus em Goa) 

São Francisco Xavier, rogai por nós!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

SOBRE A MANSIDÃO

É certo, ganha-se mais sendo manso do que severo. Dizia São Francisco de Sales que não há nada mais amargo que a noz; mas quando bem preparada, torna-se doce e agradável. O mesmo se dá com as repreensões; embora sejam em si desagradáveis, contudo quando feitas com amor e bondade, são bem aceitas e produzem maior proveito. São Vicente de Paulo dizia que, no governo de seu instituto, fizera apenas três repreensões severas, acreditando ter boas razões para agir assim. Mas depois sempre se arrependeu porque nenhuma surtira efeito, ao passo que as correções feitas com mansidão sempre tiveram bom resultado. 

São Francisco de Sales, por sua mansidão, alcançava dos outros tudo o que desejava. Assim conseguiu levar para Deus os pecadores mais endurecidos. A mesma coisa fazia São Vicente de Paulo que ensinava a seus missionários esta regra: 'A afabilidade, o amor e a humildade têm uma força maravilhosa para ganhar os corações dos homens, e levá-los a abraçar as coisas mais desagradáveis à natureza humana'. Uma vez mandou um grande pecador a um de seus padres para que o convertesse. Mas o missionário, vendo inúteis todos seus esforços, pediu ao santo que lhe dissesse alguma coisa. Ele o fez e o pecador se converteu. Este declarou depois que a singular bondade e extrema caridade do santo lhe ganharam o coração. Por isso o santo não admitia que seus missionários tratassem os seus penitentes com dureza, e lhes dizia que o espírito infernal se serve do rigor de alguns para causar maior dano às almas.

É preciso praticar a benignidade com todos, em todas as circunstâncias e em todo o tempo. Adverte São Bernardo que alguns são mansos enquanto as coisas correm de acordo com sua vontade. Mas quando atingidos por alguma contrariedade ou dificuldade, logo se inflamam, e começam a fumegar como um vulcão. Pode-se chamá-los muito bem de carvões acesos escondidos debaixo de cinzas. Quem quer ser santo, deve ser nesta vida como o lírio entre espinhos. Embora nasça entre eles, não deixa de ser lírio, isto é, sempre igualmente suave e benigno! Quem ama a Deus conserva sempre a paz no coração e a deixa transparecer no rosto, apresentando-se sempre o mesmo, tanto nas dificuldades como na prosperidade: 'As várias solicitações das criaturas não o perturbam na incessante luta da vida. Seu coração é como um santuário onde vive sempre em paz, unido a Deus'. 

Conhecemos o espírito de uma pessoa nas horas difíceis. São Francisco de Sales amava com ternura a Ordem da Visitação que lhe custara tantos trabalhos. Muitas vezes, por causa das perseguições que sofria, viu-a em perigo. Conservou, porém, sempre a mesma paz, contente até mesmo em vê-la destruída, se essa fosse a vontade de Deus. Foi então que ele disse estas palavras: 'De algum tempo para cá, as numerosas oposições e contradições que me têm acontecido me dão uma paz incomparável e muito suave. São sinais da união próxima de minha alma com Deus, e sinceramente, essa é a única ambição de meu coração'. 

Quando nos acontece ter que responder a quem nos maltrata, tenhamos cuidado em responder sempre com mansidão. 'Uma resposta branda aplaca o furor'. Uma resposta suave basta para apagar todo o fogo da raiva. Se nos sentimos aborrecidos, é melhor calar, porque nesse momento nos parece justo dizer o que nos vem na cabeça, mas depois, acalmada a paixão, veremos que todas as palavras que proferimos foram erradas. Quando nos acontece cometer alguma falta, é preciso que usemos de mansidão para conosco mesmos; irritar-se contra nós mesmos, após uma falta, não é humildade, mas refinada soberba, como se nós não fôssemos fracas e miseráveis criaturas. Dizia Santa Teresa: 'A humildade de que inquieta nunca vem de Deus, mas do demônio'.

Zangar-se contra nós mesmos, após uma falta, é uma falta maior do que a cometida, e trará consigo muitas outras, pois nos fará deixar as práticas de piedade, a oração, a comunhão; e, se as fazemos, serão mal feitas. Dizia São Luís Gonzaga que não se enxerga na água turva e nela pesca o demônio. Uma alma perturbada pouco conhece a Deus e aquilo que deve fazer. É preciso, portanto, quando caímos em alguma falta, voltarmo-nos para Deus com humildade e confiança e, pedindo-Lhe perdão, dizer, como Santa Catarina de Gênova: 'Senhor, estas são as ervas do meu jardim! Amo-Vos de todo o coração e me arrependo de Vos ter dado esse desgosto. Não quero mais fazê-lo, dai-me o Vosso auxílio'.

(Santo Afonso Maria de Ligório)

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

500 ANOS DO NASCIMENTO DE SANTA TERESA DE ÁVILA (I)

SANTA TERESA DE ÁVILA (1515 - 2015)

  • Tudo é uma noite numa má pousada.
Que será da pobre alma que, acabada de sair de tais dores e trabalhos, como são os da morte, cai logo nelas? Que mau descanso lhe vem! Que despedaçada irá para o inferno! Que multidão de serpentes de toda a espécie! Que temeroso lugar! Que desventurada hospedagem! Pois, se para uma noite mal se sofre uma má pousada, se são pessoas dadas a regalos (como o são os que para lá mais devem ir), que pensais, pois, que sentirá aquela triste alma em pousada que é para sempre, que não terá fim? 

Oh! Não queiramos regalos, filhas; estamos bem aqui; tudo é uma noite numa má pousada. Louvemos a Deus, esforcemo-nos por fazer penitência nesta vida. Mas, que doce será a morte para quem já a fez de todos os seus pecados e não tem de ir ao Purgatório! E como até poderá ser que, ainda neste mundo, comece a gozar da glória, não verá em si temor, senão inteira paz (Caminho da Perfeição, 40.9).

  • Aos que querem... chegar a beber desta água de vida. 

Agora, voltando aos que querem ir por ele sem parar até ao fim, que é chegar a beber desta água de vida, como devem começar, digo que importa muito, e tudo, ter uma grande e muito decidida determinação de não parar até chegar a ela, venha o que vier, suceda o que suceder, trabalhe-se o que se trabalhar, murmure quem murmurar, quer lá se chegue, quer se morra no caminho, ou não se tenha ânimo para os trabalhos que nele há, quer se afunde o mundo... (Caminho da Perfeição, 21.2).

  • O demônio ... tem grande medo às almas determinadas.

Outra razão é porque o demônio ... tem grande medo às almas determinadas, pois já tem experiência do muito dano que lhe fazem e que tudo quanto dispõe para as prejudicar, vem a ser em proveito delas e de outros, e ele sai com perda. Não devemos, no entanto, andar descuidadas nem confiar nisto, porque nos havemos com gente traidora, e aos avisados não ousa tanto acometer, porque é muito covarde; mas, se visse descuido, faria grande dano. E se tem a alguém por mudadiço e que não está firme no bem, nem com grande determinação de perseverar, não o deixaria em paz nem a sol nem a sombra. Meter-lhe-á medos e mostrar-lhe-á inconvenientes que não mais acabam. Eu sei isto muito bem por experiência; e assim o soube dizer e digo, pois ninguém sabe o muito que isto importa. 

A outra razão - e faz muito ao caso -, é que a alma peleja com mais ânimo. Já sabe que, venha o que vier, não há de voltar atrás. É como quem está numa batalha e sabe que, se o vencem, não lhe perdoarão a vida e, se não morre na batalha, há de morrer depois. Peleja com mais determinação, quer vender bem cara a vida - como dizem - e não teme tanto os golpes, porque tem diante dos olhos o quanto lhe importa a vitória e que nela lhe vai a vida (Caminho da Perfeição, 23.4-5).

  • Não vos descuideis ... de não ofender o Senhor.

Tende conta e aviso nisto, - pois importa muito -, que não vos descuideis até que estejais com tão grande determinação de não ofender o Senhor, que antes perderíeis mil vidas do que fazer um pecado mortal. E dos veniais, tomai muito cuidado de não os fazer; isto com advertência, que de outra sorte, quem estará sem fazer muitos? Mas há uma advertência muito pensada; outra tão rápida que, fazer o pecado venial e advertir, é quase tudo uma e mesma coisa; nem nos podemos entender. Mas, pecado muito de advertência, por pequeno que seja, Deus nos livre dele; tanto mais que não pode haver pouco, sendo contra uma tão grande Majestade, e vendo que nos está a ver. Isto a mim parece-me pecado premeditado e como quem diz: 'Senhor, embora Vos pese, eu farei isto. Bem vejo que o vedes, e sei e entendo que não o quereis; mas antes quero seguir o meu capricho e apetite do que a Vossa vontade'. Que em coisas deste teor possa parecer pouco, a mim não me parece, por leve que seja a culpa, senão muito e muitíssimo (Caminho da Perfeição, 41.3).

  • A quem Deus muito quer leva por caminhos de trabalhos.

Pois eu vos digo, filhas, àquelas a quem Deus não leva por este caminho de contemplação, ao que tenho visto e entendido dos que vão por ele, que não levam cruz mais leve e vos admiraríeis das vias e modos pelas quais Deus lhas dá. Eu sei de uns e de outros, e sei claramente que são intoleráveis os trabalhos que Deus dá aos contemplativos; e são de tal sorte que, se não lhes desse aquele manjar de gostos, não se poderiam sofrer. E claro está que, pois aqueles a quem Deus muito quer leva por caminhos de trabalhos, e quanto mais os ama, maiores eles são (Caminho da Perfeição, 18.1).

domingo, 29 de novembro de 2015

'FICAI ATENTOS PARA FICARDES DE PÉ'

Páginas do Evangelho - Primeiro Domingo do Advento


Hoje começa um novo ano litúrgico da Santa Igreja com o Tempo do Advento, período que os cristãos são conclamados a viver em plenitude as graças da expectativa, da conversão e da esperança, à espera do Senhor Que Vem. O Ano Litúrgico 2015-2016 é o Ano C, no qual os exemplos e ensinamentos de Jesus Cristo são proclamados a cada domingo pelas leituras do Evangelho de São Lucas. 

O Tempo do Advento compõe-se de um período de quatro semanas, representando os séculos de espera da humanidade pela vinda do Redentor. A primeira semana é dedicada aos Novíssimos do homem e à segunda vinda de Nosso Senhor. A segunda e a terceira semanas são dedicadas ao Precursor João Batista e a quarta semana, à preparação para o nascimento já próximo do Salvador (no Natal). Nesse período, a liturgia se reveste de austeridade, utilizando-se de paramentos roxos, retirando as flores de ornamentação das igrejas e omitindo-se o canto do Glória durante a Santa Missa.

Assim, o novo ano litúrgico começa com o anúncio por Jesus de sua Segunda Vinda gloriosa aos homens dos tempos finais: 'eles verão o Filho do Homem, vindo numa nuvem com grande poder e glória' (Lc 21, 27), manifestação que será precedida por eventos portentosos: 'Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra, as nações ficarão angustiadas, com pavor do barulho do mar e das ondas. Os homens vão desmaiar de medo, só em pensar no que vai acontecer ao mundo, porque as forças do céu serão abaladas' (Lc 21, 25 - 26). Jesus exorta, então, a todos  os seus discípulos (os Apóstolos e os homens em geral) sobre a necessidade da estrita vigilância, na oração constante e na confiança de uma vida de plenitude cristã, diante das coisas do mundo, que passam e repassam no cotidiano de nossas vidas, mas que não têm valores de eternidade: 'Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós; pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes de toda a terra' (Lc 21, 34 - 35).

Vigiar significa essencialmente não pecar, não ofender a Santidade de Deus com as misérias e as fragilidades humanas, não conspurcar a Infinita Pureza da alma que nos foi legada um dia com a lama dos prazeres, frivolidades e maldades de uma vida profanada pelos valores do mundo. Porque haverá o dia do juízo, no qual os homens serão levados ou deixados para trás: ''ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem' (Lc 21, 36). Vigiar é viver na confiança absoluta aos ditames de Divina Providência: 'levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima' (Lc 21, 28). Vigiar é estar preparado para que sejam santos todos os dias de nossa vida para que Deus escolha, dentre eles, o mais belo, para receber de volta as almas vigilantes que Ele próprio desenhou para a eternidade.

ANO LITÚRGICO 2015 - 2016

O Ano Litúrgico 2015-2016, de acordo com o rito católico romano, vai desde o primeiro domingo do Advento (29/11/2015) até a última semana do Tempo Comum (03/12/2016), durante o qual a Igreja celebra todo o mistério de Cristo, desde o nascimento até a sua segunda vinda. 

O ano litúrgico compreende dois tempos distintos: os chamados tempos fortes que incluem Advento, Natal, Quaresma e Páscoa, durante os quais certos mistérios particulares da obra redentora e salvífica de Cristo são celebrados e o chamado Tempo Comum no qual celebramos o Mistério de Cristo em sua totalidade, ou seja, encarnação, vida, morte, ressurreição e ascensão do Senhor. 

O Tempo Comum é subdividido em duas partes. A primeira parte começa no dia seguinte à festa do Batismo de Jesus e vai até a terça-feira antes da Quarta-feira de Cinzas, quando tem início a Quaresma. A segunda parte do Tempo Comum recomeça na segunda-feira depois de Pentecostes e se estende até o sábado que antecede o primeiro domingo do Advento, quando tem início um novo Ano Litúrgico, compreendendo sempre um período de 33 ou 34 semanas.



Ver Animação em Calendário 2015-2016

sábado, 28 de novembro de 2015

28 DE NOVEMBRO - SANTA CATARINA LABOURÉ

Hoje, 28 de novembro, a Igreja celebra a santidade de Catarina Labouré, a vidente das aparições de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa (Paris, 1830). Sínteses da vida dessa santa, dos carismas recebidos e das aparições de Nossa Senhora a ela são apresentadas nos slides abaixo.





sexta-feira, 27 de novembro de 2015

DAS CONFISSÕES MAL FEITAS


Discípulo: Diga-me, Padre; qual será o primeiro “por quê” de tantas confissões mal feitas? 
Mestre: Os “por quês” podem ser diversos, mas o principal é sem dúvida 'o medo', ou seja a maldita vergonha pela qual o demônio fecha a boca de muitos, fazendo-os calar ou confessar mal certos pecados ou o número deles. Você sabe como é que o demônio age quando quer induzir alguém ao pecado? Cerca o infeliz de mil maneiras, vai-lhe sugerindo: 'Ora, cometa à vontade esse pecado... Afinal não é assim tão grave. Deus é bom... Ele não o quer castigar... Depois, com uma confissão Ele o perdoa e esta tudo acabado..' E assim, batendo hoje, batendo amanhã, e sempre na mesma tecla, o demônio acaba triunfando, ou seja fazendo-o cometer e talvez até repetir os pecados. Depois, então, quando o coitado, roído pelo remorso, resolve confessar-se, o demônio muda de tática. Novamente trata de impedir que Deus tome conta dessa alma, dizendo: 'Como ousas confessar esse pecado? O confessor ficará surpreendido, há de ralhar contigo, levá-lo-á a mal e é provável que te negue a absolvição. Ora, vamos, não temas, confessar-te-ás depois... Há tempo de sobra... Há sempre tempo para isso'. E assim o mais das vezes fecha a boca de quem estaria quase resolvido a falar e induz os pobres infelizes a se calarem e a cometerem sacrilégios.: 'Como ousas confessar esse pecado?'

Discípulo: É esta mesmo a tática do demônio? 
Mestre: Certamente! Ele mesmo o confessou a Santo Antonino, arcebispo de Florença. Um dia, tendo o santo visto o demônio junto do confessionário, perguntou-lhe: 'O que fazes aí?' — 'Estou esperando para fazer a restituição' — 'Qual restituição? Fala, ou ai de ti' — 'Venho restituir aos pecadores a vergonha e o medo que lhes roubei quando os fiz cometer os pecados'. 

Discípulo: Se não me engano, parece-me que li que Dom Bosco também viu o demônio em circunstâncias análogas. 
Mestre: Justamente! E ouça como foi: Certa noite, estava o santo confessando no coro da Igreja de São Francisco de Sales em Turim; era grande o número de jovens ali reunidos, esperando que chegasse a sua vez. Pelo confessionário passam dez, passam vinte, e chega finalmente um que, tendo já feito uma parte da confissão, pára de repente. 'Continue', diz-lhe Dom Bosco, que por inspiração divina lia na consciência dos seus filhos. 'Continue! E o resto?' — 'Não há mais nada, Padre, mais nada!' — 'Não temas, meu filho' continua o Santo, 'o Confessor não ralha, não castiga, perdoa sempre, perdoa sempre, perdoa tudo em nome de Deus; tem coragem...confessa-te bem'. — 'Não há mais nada! Nada mais!' — 'Mas por que, meu filho, queres, com uma confissão sacrílega, dar prazer ao demônio... causar tristeza a Jesus, fazê-lo chorar?' — 'Garanto-lhe Padre, que não tenho mais nada a dizer!' Dom Bosco que vê o perigo que o infeliz jovem corre, inspirado por Deus, abandona a luta inútil e diz: 'Pois bem, olha quem está atrás de ti!' O rapaz vira-se de repente, solta um grito agudo e, agarrando-se ao pescoço de Dom Bosco exclama: 'Sim Padre, eu tenho mais este pecado'. E conta o pecado que não ousava confessar. Os companheiros que estavam na igreja ouviram o grito; assim que saíram, cercaram o rapaz, e, curiosos, queriam saber o que tinha acontecido. E ele lhes respondeu, apesar de estar ainda um tanto assustado: 'Se vocês soubessem... Eu tinha cometido uma falta que não ousava confessar. Dom Bosco leu meu coração e eu vi o demônio que, sob a figura de um gorila de olhos de fogo e garras afiadas, estava pronto para me agarrar!' 

Discípulo: Dom Bosco era um santo! Que sorte confessar com um santo; não é, Padre? 
Mestre: Todos os confessores representam Jesus Cristo e Jesus Cristo é sempre santo; Ele tudo sabe, Ele vê tudo, tem pena de todos, perdoa tudo! 

Discípulo: Mas mesmo assim o demônio procura enganar e trair nas confissões? 
Mestre: Justamente; em todas as ocasiões. Assim como o lobo agarra as ovelhas pela garganta para que não gritem, e as carrega e as devora, assim também faz o demônio com certas almas; agarra-as pela garganta afim de que não confessem os pecados e as arrasta miseravelmente para o inferno. 

Discípulo: Que espertalhão malvado! Mas haverá quem, depois de enganado uma vez, se deixe levar por esse impostor? 
Mestre: Há muitos, muitíssimos, infelizmente! Ai daquele que começa a seguir por esse caminho! São geralmente os que cometem pecados contra a pureza que enveredam por tal caminho! Geralmente não há dificuldade em confessar os pecados contra a fé, os pecados de blasfêmias, os de profanação dos dias festivos, os de desobediência, de vingança e mesmo os de furto; mas quando se trata de acusar pecados de impureza, ou ter que acrescentar certas circunstâncias que os acompanharam, ou ainda quando se trata de dizer o número bastante considerável dessas faltas, então uma maldita vergonha surge e fecha sacrilegamente a boca do penitente. De mais a mais, a confissão sacrílega geralmente não fica sozinha. Depois de uma vem outras e assim essas almas infelizes continuam durante anos e anos, e além disso acrescentam a essas confissões mal feitas outras tantas comunhões sacrílegas. E não raro, acontece que aqueles que, tendo começado a esconder pecados graves desde as primeiras confissões, chegam a uma idade avançada sem nunca fazerem uma boa confissão e sem nunca repararem a desordem de suas almas. É inacreditável, nota o Padre da Bérgamo, é inacreditável como o medo e a vergonha são comuns principalmente entre os moços. Daí vem o hábito de continuar a calar os pecados para não sofrer a humilhação, o sacrifício de confessá-los. São Leonardo afirma ter tido a seus pés pessoas que, mesmo em perigo de morte não puderam vencer a vergonha que lhes fechava a boca. Santo Afonso recomenda aos padres que falem frequentemente nos seus sermões com calor, com insistência, sobre esse perigo da vergonha que faz calar e insiste para que façam ver ao povo como as confissões mal feitas arruínam as almas, porque essa praga das confissões sacrílegas reina por toda a parte, principalmente nos lugarejos. E, como é comum que fatos e exemplos impressionem o povo, sugere aos padres que contem muitos exemplos de almas que se perderam por causa de pecados não confessados. 

Discípulo: Conte alguns, Padre! 
Mestre: Com muito prazer! Conta-se que uma menina de sete anos tinha tido a infelicidade de cometer certos atos impuros. Envergonhada, não ousou confessá-los na ocasião e nem mais tarde. Tendo adoecido gravemente, chamou o confessor, recebeu o Santo Viático, a Extrema-Unção e morreu! Todos, mãe, irmãs, e amigas lamentaram a sua perda, mas era para elas um conforto julgá-la salva e santa. Porém, três dias depois do enterro, quando o sacerdote se aproximava do altar para celebrar em sufrágio de sua alma, sentiu que o seguravam pelo braço, e uma voz triste e comovente lhe dizia baixinho: 'Padre, não reze por mim porque eu estou condenada! Condenada por certos pecados que ocultei na confissão desde os sete anos'. 

Uma outra menina de 13 anos na ocasião da Páscoa tinha comungado junto com as companheiras: mas eis que, logo depois de recebida a santa partícula tem um estremecimento, contorce-se e cai por terra. Os presentes acodem assustados e a carregam para uma casa vizinha. Acabada a função, o Vigário se apressa a correr à cabeceira da menina que continua a delirar e debater-se; chama-a pelo nome e diz-lhe: 'Coragem, confia tudo a Jesus, àquele Jesus que recebeste na Comunhão!' Ouvindo essas palavras, ela arregala os olhos e, horrorizada exclama: 'A Jesus?! A Jesus?! Ah não! Eu o recebi mal, eu cometi um sacrilégio escondendo certos pecados na confissão'. E, continuando a debater-se, expira pouco depois diante dos presentes comovidos e penalizados. O que me diz desses exemplos? 

Discípulo: Digo que são terríveis e bastante para demonstrar como é grande o mal das confissões mal feitas. 
Mestre: Não estranhe, portanto a nossa insistência sobre a sinceridade requerida para as confissões. Eu, que, desde os primeiros anos de sacerdócio, por graça de Deus, tive a sorte de começar a catequizar e a pregar para jovens e adultos e continuo ainda hoje a exercitar-me nesta obra consoladora e frutuosíssima, nunca perdi o hábito de falar frequentemente sobre a necessidade da confissão sincera e posso dizer que nunca me arrependi. Ah! quantos jovens e adultos eu consolei, reconduzi ao bom caminho; quantos eu salvei nos Exercícios Espirituais, nas Missões e mesmo nas simples conferências e palestras! 

Discípulo: Tem razão, Padre; de fato, nenhum sermão é ouvido de tão boa vontade como os que versam sobre a confissão... Padre, se é assim tão fácil encontrar quem se deixe enganar pelo demônio e se cala, renovando o sacrilégio na confissão, por que os sacerdotes e os confessores não indagam, não interrogam os penitentes para impedir as confissões mal feitas? 
Mestre: Coitados dos sacerdotes e dos confessores! Infelizmente eles sabem e vêm que algumas almas deixam muito a desejar mas, em geral, receiam ser indiscretos interrogando e esclarecendo certas coisas. Até pelo contrário, com certas pessoas, não ousamos parece-nos imprudência interrogar. Um pai ou uma mãe gostam de fazer sempre bom juízo dos seus filhos, e ficam penalizados quando têm que duvidar da sua conduta, da sua sinceridade, da sua inocência. Do mesmo modo sente o pobre sacerdote, no que diz respeito aos próprios filhos espirituais e penitentes. 

Discípulo: E então? 
Mestre: E então, continua-se em tal vida até que Deus intervenha com a sua mão providencial. Eis porque por ocasião dos Exercícios Espirituais, das Missões, da Páscoa e de outras tantas festividades do mesmo gênero, encontram-se muitas almas, as quais, tendo tido a desgraça enorme de calar uma vez certos pecados na confissão e continuaram depois com sacrilégios durante anos e anos até o dia em que, tocados por graça especial, podem finalmente abrir os olhos e tranquilizar a consciência por tanto tempo torturada pelo remorso. 

Pregavam-se os Exercícios em uma paróquia do Piemonte. Havia já alguns dias que tinham começado as confissões e, desde o princípio, eu notara uma pessoa de aspecto triste e indizivelmente constrangida que rondava o confessionário. Não fazia, porém, muito caso disso, quando eis que uma noite ela caiu aos meus pés e disse: 'Padre, ajudai-me; eu sou uma infeliz. Há quinze anos que eu me confesso mal; só fui capaz de cometer sacrilégios... e desatou em pranto' — 'Pois bem, cria coragem' eu respondi, Deus será misericordioso; para a senhora também Jesus será infinitamente bom. Diga-me: quantos anos tem? Como é que enveredou por esse caminho?' — 'Tenho vinte e sete anos; quando tinha doze apenas, por causa de uma curiosidade ilícita eu cometi um pecado que não ousei confessar. Com tal sacrilégio, aproximei-me da mesa da Comunhão e, desde aquele dia até hoje os pecados e sacrilégios sucederam-se uns aos outros. Rezei muito, chorei muito, fiz romarias mas tudo em vão! Confessava-me todos os meses e até com mais frequência por ocasião dos Exercícios Espirituais; repetia as confissões gerais mas esses pecados eu sempre os escondi, por pura vergonha' — 'E a senhora estava satisfeita com as suas confissões: comungava tranquilamente?' — 'Oh, Padre! se soubésseis como os remorsos amargos atormentavam o meu coração, cravando-se nele como espinhos agudos!' — 'Mas então por que continuava sempre do mesmo modo?' — 'Porque fui uma tola, eis tudo... Um medo indizível das reprimendas do confessor fechava-me a boca e um exagerado respeito humano das minhas companheiras arrastava-me para o comunhão nesse estado' — 'Há quanto tempo confessou-se pela ultima vez?' — 'Ah! Padre! confessei-me já três vezes durante esta Missão, com três confessores diferentes, sempre com o firme propósito de acabar com isto de uma vez por todas e dizer tudo. Mas, chegando ao ponto terrível, sentia um nó cruel que me apertava a garganta e assim calava-me' — 'E agora, como conseguiu manifestar-se?' — 'Padre, o vosso sermão de hoje sobre a necessidade absoluta da confissão bem feita, aquelas palavras tantas vezes repetidas 'experimentem e verão o quanto Jesus é bom', comoveram-me e foi então que decidi falar, custasse o que custasse. Ajudada pelo confessor, ela fez uma confissão geral das mais consoladoras, tendo recebido a absolvição, não parava de repetir: — 'Agora chega, Padre, chega de pecados e sacrilégios. Direi a todos que experimentei e que vi como Jesus é bom!'

Discípulo: São fatos que consolam, não é Padre? E ainda bem que reconhecem suas faltas! 
Mestre: Mas quantos não as reconhecem mesmo em ponto de morte! É uma coisa muito triste, mas infelizmente verdadeira; não raro há moribundos que, às portas da morte, teimam em esconder os pecados não confessados ou mal confessados desde a juventude, nesse estado deplorável passam para a eternidade. 

Discípulo: Coitados! 
Mestre: Pode chamá-los desgraçados! ai de quem começa...
 
Discípulo: Mas a misericórdia infinita de Deus não vem em auxílio? 
Mestre: Você pode supor que Deus queira sempre, na hora da morte, usar de misericórdia com quem durante toda a vida, abusando dessa misericórdia, injuriou-o com sacrilégios? E além disso, na maioria dos casos, nem invocam essa misericórdia; pelo contrário, muitas vezes a desprezam. Aqui também quero persuadi-lo com fatos. 

O Padre Del Rio conta que uma jovem empregada se confessava frequentemente, pois que a patroa exigia, mas por vergonha e teimosia calava os pecados desonestos. Uma ocasião ela caiu gravemente enferma; sempre por causa da solicitude da patroa, confessou-se, e mais de uma vez, sacrilegamente. Depois que a curaram com muitos cuidados, chegava até a caçoar com as amigas pondo em ridículo o zelo da patroa e do confessor para induzi-la a fazer uma boa confissão. Tendo adoecido pela segunda vez e mais gravemente do que da primeira, a patroa tornou a chamar o sacerdote, o qual acudiu com presteza. Com toda a piedade e paciência que Deus concede em casos análogos, o padre procurou induzir a infeliz a uma sincera e dolorosa confissão. Mas tudo em vão! Sempre teimosa, perseverou durante a longa agonia no propósito de se esquivar e de se calar, recusando-se até a repetir a jaculatória e as invocações sugeridas pelo confessor; mostrava-se aborrecida com tudo aquilo e com a presença do Padre. E, quando por fim vendo que chegava o momento da morte, o sacerdote lhe pediu que beijasse o crucifixo, ela com um esforço supremo o afastou com maus modos e olhando-o com desprezo disse: 'Tirem da minha frente este Cristo, não preciso dele!' E voltou-se para o outro lado e, assim, com um suspiro horrível, expirou aquela alma impenitente e sacrílega. Ai daquele que começa...

O Padre Agostinho de Fusignano conta-nos um fato análogo, que se deu na sua presença. Uma mulher infeliz escondia na confissão os pecados mais graves. Apesar dos sermões ouvidos contra essa vergonha sacrílega, apesar das mais amorosas exortações, apesar do mais agudo remorso da consciência, ela não soube aproveitá-los. Cansada a misericórdia de Deus de esperar, feriu-a com uma doença violenta que a pôs em ponto de morte. O confessor foi chamado prontamente, mas a infeliz assim que o viu, exclamou: 'Padre, chegastes a tempo para ver uma mentirosa penitente ir para o inferno. Eu me confessava com frequência, mas deixava sempre os pecados mais graves' — 'Pois bem, confesse-os agora, respondeu o confessor' — 'Não posso, não posso' gritou desesperada a infeliz. O tempo da misericórdia já passou; é chegado o momento da justiça! E, delirando e contorcendo-se raivosamente, expirou, deixando em todos os presentes a mais triste e horrível impressão. Aqui também não será demais repetir: Ai daquele que começa...

Santo Afonso conta o caso de um senhor cuja conduta era aparentemente boa; fazia, porém, más confissões. Tendo adoecido gravemente, foi visitado pelo vigário, o qual suplicou-lhe que recebesse os sacramentos pois estava em perigo de vida. Mas o enfermo recusava-se a confessar. 'E por que, meu caro senhor, não quer confessar-se?' — 'Ah!' respondeu o doente, 'é porque estou condenado! E Deus, para castigar os meus sacrilégios, tira-me a vontade e a força de repará-los'. Dito isto, começou a morder a língua, a debater-se desesperadamente, gritando: 'Maldita língua, maldito silêncio, malditos sacrilégios'. Não foi possível convencê-lo, até que miseravelmente morreu. 

Discípulo: Chega Padre! São coisas que arrepiam a gente. Eu por mim não quero cometer sacrilégios.
Mestre: Mantenha essa santa resolução. Por que deixar-se dominar pelo demônio mudo, pisar o Sangue de Jesus Cristo, mudar o remédio em veneno e obrigá-lo a nos condenar, quando pelo contrário, Ele quer a nossa salvação?

(Excertos da obra 'Confessai-vos Bem', do Pe Luiz Chiavarino, 1939)