domingo, 12 de outubro de 2014

GLÓRIAS DE MARIA: NOSSA SENHORA APARECIDA, PADROEIRA DO BRASIL

A história é bem conhecida: em 1717, Dom Pedro de Almeida Portugal e Vasconcelos (Conde de Assumar), efetivado como governador das Capitanias de São Paulo e Minas Gerais, viajou de navio de Portugal a Santos, com grande comitiva. Tomando posse do governo em São Paulo, seguiu rumo às minas de ouro em Minas Gerais, fazendo uma longa parada em Guaratinguetá, no período de 17 a 30 de outubro. Para a recepção do ilustre viajante, foram-lhe servidos os melhores pratos da culinária local, incluindo os saborosos pescados do Rio Paraíba do Sul.

Para a nobre tarefa de pescar uma grande quantidade de peixes, foram convocados os pescadores Domingos Alves Garcia, seu filho João Alves e Felipe Pedroso, cunhado de Domingos, entre outros. Entretanto, mesmo com o conhecimento enorme que tinham dos melhores pontos de pesca, não conseguiam nada. Mas algo extraordinário estava para ocorrer. Na rede lançada, surgiu primeiro uma pequena imagem em terracota de Nossa Senhora da Conceição, sem a cabeça, que foi recolhida e guardada com zelo pelos pescadores no fundo do barco. E eis que, numa nova investida, mais abaixo no rio, sem nada de peixe, veio a cabeça da imagem. Um objeto de dimensões tão reduzidas coletado do leito largo e vigoroso do Paraíba do Sul! E, surpresa ainda maior, novas investidas da rede trouxeram agora cardumes de peixes, em tão grande quantidade, repetindo-se, no largo do Porto de Itaguaçu, o milagre de Cristo no Mar da Galileia.


Cientes dos fatos extraordinários ocorridos, os pescadores locais recuperaram a imagem e passaram a venerá-la em suas casas, como imagem peregrina, até que a mesma foi colocada em pequeno oratório na casa de Atanásio Pedroso, filho de Felipe, e depois, com o culto já generalizado na ‘Nossa Senhora Aparecida’, erigiu-se uma pequena capela de sua devoção em Itaguaçu, com o apoio do Padre José Alves Vilela, pároco da Igreja de Santo Antônio de Guaratinguetá. Sob a sua coordenação, a devoção recebeu a aprovação episcopal e foi construída, então, a Igreja de Nossa Senhora Aparecida, no chamado Morro dos Coqueiros, inaugurada em 1745, apenas 28 anos após o achado da imagem. Em torno da igreja, implantou-se rapidamente uma comunidade que constitui hoje a cidade de Aparecida. A igreja tornou-se de imediato centro de romarias e de devoções marianas de toda a natureza.


Com a intensa participação popular e, pela ausência de sacerdotes no Brasil, optou-se pela solicitação de auxílio junto a comunidades religiosas europeias. Em 1894, com a chegada dos padres redendoristas alemães, as atividades religiosas, os cultos e as romarias tornaram-se muito mais organizados, favorecendo muito a rápida difusão da evangelização e a consolidação da igreja como santuário de frequente peregrinação. Tais eventos culminaram com a solene coroação da imagem de Nossa Senhora Aparecida em 8 de setembro de 1904 (com manto azul e coroa de ouro cravejada de diamantes e rubis, ofertados pela Princesa Isabel em visita ao santuário em 6 de novembro de 1888) e com a elevação do santuário à condição de Basílica Menor em 29 de abril de 1908. Em 16 de julho de 1930, o Papa Pio XI outorgou o título de Nossa Senhora Aparecida como Padroeira do BrasilEm 1967, ano da comemoração do jubileu dos 250 anos da aparição da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, o Papa Paulo VI ofertou ao Santuário Nacional da Padroeira do Brasil uma Rosa de Ouro, ato repetido pelo Papa Bento XVI em 2007. O dia da Padroeira do Brasil é celebrado em 12 de outubro, feriado nacional. 

As enormes e crescentes manifestações populares exigiram a construção de uma nova basílica, com dimensões e infraestrutura compatíveis com o maior centro de peregrinação espiritual do Brasil que se tornou Aparecida. Desta forma, entre 1955 e 1980, foi construída a atual Basílica, inaugurada a 04 de julho de 1980 pelo Papa João Paulo II e elevada a Santuário Nacional em 1984. Que continua a receber milhares de peregrinos, infindáveis romarias, em agradecimento, louvor e veneração à Virgem Padroeira do Brasil. Na Sala das Promessas, em meio a milhares de ex-votos, tem-se uma ideia da admirável senda de prodígios e milagres alcançados por tantos romeiros e fieis, pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida.


Em Aparecida, ao contrário de tantos outros centros de peregrinação mariana, a Virgem fez-se aparecer apenas sob a forma de uma pobre e pequena imagem de terracota de 38cm de altura, sem quaisquer visões, mensagens ou prodígios sobrenaturais, para falar aos simples, aos humildes, aos fracos, aos desvalidos, que as almas simples, despojadas de valores intrinsecamente humanos e entregues somente à confiança e à misericórdia de Deus por Maria, são as glórias dos Céus.


ORAÇÃO A NOSSA SENHORA APARECIDA

Ó Senhora da Conceição Aparecida, que fizestes tantos milagres que comprovam vossa poderosa intercessão junto ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, obtende para nossas famílias as graças de que tanto necessitam. Defendei-nos da violência, das doenças, do desemprego e, sobretudo, do pecado, que nos afasta de Vós. Protegei nossos filhos de tantos fatores de deformação da juventude. E concedei a todos os membros de nossas famílias a graça de poderem trilhar o caminho de perfeição e de paz ensinado por Vosso Divino Filho, que afirmou: "Disse-vos estas coisas para que tenhais paz em Mim. Haveis de ter aflições no mundo; mas tende confiança, Eu venci o mundo!" Amém.

'FAZEI TUDO O QUE ELE VOS DISSER'

Páginas do Evangelho - Solenidade de Nossa Senhora Aparecida


Neste dia da solenidade de Nossa Senhora Aparecida, nós a encontramos junto com Jesus, como convidados de certas bodas em Caná. Não sabemos detalhes do evento, os nomes dos noivos ou do mestre de cerimônia, o tempo da celebração. Mas a presença de Jesus e de Maria naquela ocasião em Caná da Galileia são o testemunho vivo da santidade e das graças associadas àquela união matrimonial. Muitos teólogos manifestam inclusive que foi, neste enlace de santa vocação e harmonia, que Jesus elevou o casamento à condição de sacramento, imagem de suas núpcias eternas com a Santa Igreja.

E o vinho veio a faltar. Nossa Senhora tem a clara percepção da situação constrangedora e aflitiva dos noivos e de suas famílias, porque faltou o vinho. É a Mãe que roga, que intercede, que suplica ao Filho Amado: 'Eles não têm mais vinho' (Jo 2, 3). Medianeira e intercessora de nossas aflições e angústias, de Caná até os confins da terra, Nossa Senhora leva a Jesus as súplicas de todos os seus filhos e filhas de todos os tempos. É ela que nos abre as portas da manifestação da glória de Jesus para a definitiva aliança dos céus com a humanidade pecadora, mediante a sua súplica de Mãe face à angústia humana: 'Fazei tudo o que Ele vos disser' (Jo, 2,5).

E eis que havia ali seis talhas de pedra, que foram 'enchidas até a boca' (Jo, 2,7). E a água se fez vinho, nas mãos do Salvador. Da angústia, faz-se a alegria; da aflição, tem-se o júbilo; da ansiedade, nasce o alívio e a serenidade. Alegria, júbilo, alívio e serenidade que são os doces frutos da plena santificação. Este vinho nos traz a libertação do pecado e nos coloca nas sendas do céu, pois nos deleita com as graças da virtude, do santo juízo, da sabedoria de Deus. Mas nos cabe encher nossas talhas de água até a boca, prover os nossos corações do mais pleno amor humano, para que a santificação de nossas almas seja completa no coração de Deus.

'Este foi o o início dos sinais de Jesus' (Jo, 2,11). Em Caná da Galileia e por Maria, mais que o primeiro milagre, a glória de Jesus foi manifesta à humanidade pecadora. O firme propósito pessoal em busca da virtude e da superação das nossas vicissitudes humanas é a água que será transformada no vinho pela graça e pela misericórdia de Deus em nossos corações aflitos e inquietos, enquanto não repousados na glória eterna. Enchei, portanto, as vossas talhas de água e fazei tudo o que Ele vos disser, com a intercessão de Maria. Eis aí a pequena e a grande via em direção ao Coração de Deus, que nos foi legada um dia em Caná da Galileia.

sábado, 11 de outubro de 2014

AS SETE IGREJAS DO APOCALIPSE

DO LIVRO DO APOCALIPSE:

João, às sete igrejas que estão na Ásia: A vós, graça e paz, da parte daquele ‘que é, que era e que vem’; da parte dos sete espíritos que estão diante do trono de Deus; e da parte de Jesus Cristo, a testemunha fiel, o primogênito dentre os mortos, o soberano dos reis da terra. (Ap 1, 4 - 5).

Eu, João, vosso irmão e companheiro na tribulação, e também no Reino e na constância em Jesus, encontrava-me na ilha de Patmos, por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus. No dia do Senhor, entrei \em êxtase, no Espírito, e ouvi atrás de mim uma voz forte, como de trombeta, a qual dizia: 'O que vês, escreve-o num livro e envia-o às sete igrejas, a Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia' (Ap 1, 9 - 11).

Estas sete igrejas, explicitadas no Livro do Apocalipse de São João, escrito na Ilha de Patmos, por volta da segunda metade do primeiro século da nossa era, pertenciam todas à Província da Ásia durante a ocupação romana (e das quais restam somente ruínas localizadas no território da atual Turquia). Por essa razão, são referenciadas como sendo as sete Igrejas do Apocalipse. A cada uma delas, São João endereça uma mensagem particular de Jesus, de exortação à conduta moral e religiosa de cada uma destas comunidades. 

1. Éfeso: provavelmente a maior cidade da costa ocidental da Ásia Menor e que era o centro cultural e da administração romana da Província da Ásia. São Paulo permaneceu em Éfeso por muitos anos durante a primeira metade do primeiro século da nossa era.


'Ao anjo da igreja que está em Éfeso, escreve: ‘Assim fala aquele que segura na mão direita as sete estrelas, aquele que está andando no meio dos sete candelabros de ouro: Conheço a tua conduta, o teu esforço e a tua constância. Sei que não suportas os maus.  Puseste à prova os que se dizem apóstolos e não o são, e descobriste que são mentirosos. És perseverante. Sofreste por causa do meu nome e não desanimaste. Mas tenho contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te de onde caíste! Converte-te e volta à tua prática inicial. Se, pelo contrário, não te converteres, virei e removerei o teu candelabro do seu lugar. Mas em teu favor tens isto: detestas a prática dos nicolaítas, a qual também eu detesto. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor darei como prêmio comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus’ (Ap 2, 1-7).

2. Esmirna: cidade do sudoeste da Turquia situada às margens do Mar Egeu; era dotada de grandes construções, ginásios e termas; provável cidade de origem do poeta Homero.


'Ao anjo da igreja que está em Esmirna, escreve: ‘Assim fala o Primeiro e o Último, aquele que esteve morto, mas voltou à vida: – Conheço tua tribulação e tua pobreza. Contudo, és rico. Conheço também a blasfêmia da parte dos que se dizem judeus, mas na realidade não são judeus, e sim, uma sinagoga de Satanás. Não tenhas medo dos sofrimentos que vais passar. O diabo lançará alguns dentre vós na prisão. Assim sereis colocados à prova. Tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e eu te darei a coroa da vida. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. O vencedor não será atingido pela segunda morte’ (Ap 2, 8 - 11).

3. Pérgamo: antiga cidade grega que situava-se na Mísia, em um espaçoso vale, distante 26 km do Mar Egeu; Com Éfeso e Esmirna, disputava a relevância como centro urbano e cultural da Ásia Menor ao final do Século I de nossa era;


'Ao anjo da igreja que está em Pérgamo, escreve: ‘Assim fala o que tem a espada afiada, de dois gumes: – Conheço o lugar onde moras: é onde está o trono de Satanás. Mas tu conservas o meu nome e não renegaste a fidelidade para comigo, nem mesmo nos dias em que Antipas, minha testemunha fiel, foi morto entre vós, aí onde mora Satanás. Contudo, tenho algumas coisas contra ti: tens no teu meio adeptos da doutrina de Balaão. Este ensinou Balac a fazer Israel tropeçar, isto é, prostituir-se e comer carne sacrificada aos ídolos. Do mesmo modo, tu admites também adeptos da doutrina dos nicolaítas. Converte-te, portanto. Senão, virei a ti depressa e lhes farei guerra com a espada que sai de minha boca. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor darei o maná escondido e lhe darei uma pedrinha branca, na qual estará escrito um nome novo, que ninguém conhece, a não ser quem a recebe’ (Ap 2, 12 - 17).

4.Tiatira: importante centro comercial na Ásia Menor que foi fundada em um vale fértil para ser um posto militar; destruída por um terremoto durante o reinado de César Augusto (27 a.C.- 14 d.C), Tiatira foi reconstruída com auxílio dos romanos.


'Ao anjo da igreja que está em Tiatira, escreve: ‘Assim fala o Filho de Deus, aquele que tem os olhos como chama de fogo e os pés como bronze: – Eu conheço a tua conduta, teu amor e tua fidelidade, teu serviço e tua perseverança, e as tuas obras recentes, mais numerosas ainda que as do início. Mas tenho contra ti que toleras essa mulher, Jezabel, que se diz profetisa, mas ensina e seduz os meus servos a se prostituírem e a comerem carne sacrificada aos ídolos. Eu lhe dei prazo para se converter, mas ela não quer converter-se de sua prostituição. Vou prostrá-la de cama, e lançar numa grande tribulação os que se prostituem com ela, se não se converterem de sua conduta. Farei morrer os seus filhos, e então, todas as igrejas vão saber que eu sou aquele que sonda os sentimentos e os corações, e que vou retribuir a cada um de vós conforme sua conduta. A vós, porém, os outros em Tiatira, que não seguis essa doutrina e não quisestes conhecer as ‘profundezas’ de Satanás – como dizem –, não vos imponho outra obrigação. Mas segurai bem o que tendes, até que eu venha. E ao vencedor, ao que guardar até o fim as minhas obras, eu lhe darei poder sobre as nações; e ele as governará com cetro de ferro, e elas se quebrarão como vasos de argila. Pois assim como recebi do meu Pai este poder, darei ao vencedor a estrela da manhã! Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas’ (Ap 2, 18 - 29).

5. Sardes: cidade localizada no vale fértil do rio Hermo e no sopé do íngreme monte Tmolo; no sétimo século a.C., Sardes foi a capital da Lídia.


'Ao anjo da igreja que está em Sardes, escreve: ‘Assim fala aquele que tem os sete espíritos de Deus e as sete estrelas: – Conheço a tua conduta. Tens fama de estar vivo, mas estás morto. Vigia! Reaviva o que te resta, e que estava para morrer! Pois não acho perfeitas aos olhos do meu Deus as tuas obras. Lembra-te daquilo que tens aprendido e ouvido. Observa-o! Converte-te! Se não estiveres vigilante, virei como um ladrão, sem que tu saibas em que hora vou te surpreender! Todavia, aí em Sardes existem algumas pessoas que não mancharam suas vestes; estas vão andar comigo. O vencedor vestirá vestes brancas, e não apagarei o seu nome do livro da vida, mas o apresentarei diante de meu Pai e de seus anjos. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas’ (Ap 3, 1 - 6).

6. Filadélfia: antiga cidade grega, localizada ao longo da rota que ligava Pérgamo ao norte com Laodiceia ao sul; a cidade foi também devastada por um terremoto em 17 d.C., sendo reconstruída com a ajuda do imperador Tibério.


'Ao anjo da igreja que está em Filadélfia, escreve: ‘Assim fala o Santo, o Verdadeiro, que tem a chave de Davi, aquele que abre e ninguém fecha, e que fecha e ninguém abre: – Conheço a tua conduta. Vê, eu abri à tua frente uma porta e ninguém a poderá fechar. Pois tua força é pequena, mas guardaste a minha palavra e não renegaste o meu nome. Olha! Eu te entrego uma parte da sinagoga de Satanás, daqueles que se dizem judeus e na realidade não o são, mas são mentirosos. Vou fazer com que venham prostrar-se diante de teus pés, e reconhecerão, então, que eu te amo. Já que guardaste a minha ordem de perseverar, também eu te guardarei da hora da provação que está para vir sobre todo o universo, para por à prova os habitantes da terra. Eu venho logo! Guarda bem o que recebeste, para que ninguém roube a tua coroa. Do vencedor farei uma coluna no Santuário do meu Deus, e daí não sairá. Nela gravarei o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, de junto do meu Deus. E gravarei nela também o meu novo nome. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas’ (Ap 3, 7 - 13).

7. Laodiceia: próspera cidade da Frígia durante a época romana, era ainda importante centro comercial, têxtil e administrativo regional. 


'Ao anjo da igreja que está em Laodiceia, escreve: ‘Assim fala o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus: Conheço a tua conduta. Não és frio, nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, porque és morno, nem frio nem quente, estou para vomitar-te de minha boca. Tu dizes: ‘Sou rico e abastado e não careço de nada’, em vez de reconhecer que és infeliz, miserável, pobre, cego e nu! Dou-te um conselho: compra de mim ouro purificado no fogo, para ficares rico, e vestes brancas, para vestires e não aparecer a tua nudez vergonhosa; e compra também um colírio para curar os teus olhos, para que enxergues. Eu repreendo e educo os que eu amo. Esforça-te, pois, e converte-te. Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, eu entrarei na sua casa e tomaremos a refeição, eu com ele e ele comigo. Ao vencedor farei sentar-se comigo no meu trono, como também eu venci e estou sentado com meu Pai no seu trono. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas’  (Ap 3, 14 - 22).

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

ALMA EUCARÍSTICA

Ser uma alma eucarística não significa, apenas, comungar todos os dias ou fazer, de vez em quando, uma hora de adoração. São Luiz Gonzaga comungava uma vez por semana; nós, talvez, comungamos todos os dias. Entretanto, não pretenderemos ter uma alma eucarística como a sua, que durante os três primeiros dias da semana dava contínuas ações de graças pela comunhão recebida e nos três últimos se preparava, fervorosamente, para a comunhão que havia de receber. Era uma alma eucarística!

Alma eucarística era também um Père de Foucauld, ermitão missionário no Saara, apesar de não celebrar a Santa Missa todos os dias, às vezes nem mesmo nas grandes festas. Entretanto, que vida verdadeiramente eucarística não levava ele! Assim, mas em grau muito mais elevado, era a vida de Maria Santíssima: alma eucarística! Mas quais são os característicos de uma tal vida? Naturalmente serão os característicos da vida de Jesus neste mistério adorável: escondimento, ações de graças, obediência, oblação, tudo isso com o selo inefável do amor... 

Escondido, humildemente, debaixo dos véus eucarísticos; rendendo continuas ações de graças a Deus seu Pai, em Seu nome e em nome da humanidade inteira; obedecendo, exatamente, tanto à vontade do Pai Eterno, como à do último sacerdote que O chama, distraído ou sem respeito, para sobre o altar, ou que O leva para o coração sacrílego de algum cristão; oferecendo-se, continuamente, ao Pai Celeste, para O glorificar, adorá-Lo e prestar-Lhe reparação pelos pecados do mundo, e oferecendo-se aos homens, em alimento, para os nutrir e preparar para a vida eterna. 

E tudo isso, saindo do coração de Cristo, traz o sinete do amor. Não foi outra a vida de Maria. Viveu oculta quase toda a vida, quer no Templo, quer em Nazaré, quer em Éfeso, escondida aos olhares dos homens, assim como Jesus no tabernáculo; agradecendo, de momento em momento, ao Altíssimo as graças imensas a ela concedidas e ao mundo todo; obedecendo, com toda a perfeição, a Deus Nosso Senhor, a seu esposo, José: finalmente, oferecendo-se, sempre de novo, à Trindade Santíssima, em espírito de adoração, glorificação e de reparação pelas faltas dos homens, seus filhos, e oferecendo-se a si mesma a estes seus filhos em espírito de dedicação.

Eis a vida eucarística de Maria, copiada fielmente da vida de Jesus na Hóstia Sacrossanta. Mas é também eucarística a alma gloriosa de Maria, pelo amor que ela dedicou, desde a quinta-feira santa, a seu Filho Divino Sacramentado. Quem poderá descrever as Comunhões que ela recebia das mãos dos apóstolos santos? Se já é maravilhosa a fusão da alma de Cristo com a alma do cristão, que se dirá da fusão íntima da alma do Filho Divino com a alma da Mãe Imaculada! 

E com que recolhimento e fervor assistiria ela aos mistérios celebrados pelos apóstolos, que Jesus Cristo mesmo ordenara. Oh! É bem verdade que Maria fica sendo o modelo mais acabado da alma eucarística Por isso compreendemos como, justamente, Congregações de Nossa Senhora tenham adoração perpétua ao Santíssimo Sacramento, como as Missionárias Franciscanas de Maria, as Religiosas de Nossa Senhora de Lourdes... Por isso todos os bons cristãos, todos os santos têm procurado sempre unir estes dois grandes amores: o amor à Eucaristia e o amor à Virgem Santa. Como o conseguiu plenamente São Pedro Juliano Eymard, o grande apóstolo da Eucaristia! A Venerável Marie Eustelle, a suave santinha do sacramento do amor, o qual era para ela toda a sua respiração, quer na costura, quer nas ruas, quer em casa, quer nas igrejas.

Quão pouco eucarística é a nossa alma, ostensiva, egoísta, ingrata, dissipada, rebelde, esquecida dos interesses do Pai Eterno! Como comungamos? Como assistimos à Santa Missa? Como fazemos as nossas adorações e visitas? Digamos com o inspirado autor das Palhetas de Ouro: 'Há de ser sempre por Maria e com Maria que eu me aproximarei de Jesus Sacramentado'. Unidos, realmente, com Cristo, por meio da Senhora, teremos os sinais da Eucaristia gloriosa. O que não alcançou o grande irmão franciscano São Paschoal Baylon, por meio de Maria, junto ao tabernáculo? Senhora, Mãe de Jesus Cristo, fazei que seja eucarística a nossa alma. Que, imitando as virtudes próprias de Jesus-Hóstia, vivamos cada vez mais sob o influxo suave deste Mistério de amor. Assim seja!

(Excertos da obra 'A alma gloriosa de Maria', do Frei Henrique G. Trindade, 1937)

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

A MINHA CRUZ


Também a mim Jesus quis dar uma cruz. E que melhor coisa Ele podia dar-me, depois de si mesmo, do que o Trono onde reinou na hora da sua máxima vitória, quando subjugou o inferno? Se Ele há de aparecer no último dia flanqueado pela cruz, não é justo e belo que eu me encaminhe para a eternidade levando-a sobre os ombros?

Às vezes relanceio os olhos em torno e vejo muitas cruzes arrastadas pelos meus irmãos. Ao vê-las tão de longe, parecem-me pequenas e ligeiras mas, se me aproximo a examiná-las, constato que são feitas como a minha e, às vezes, ainda mais pesadas. Não seria uma estultice perguntar a Deus porque me deu uma cruz? Eu sou filho de Adão e filho de Jesus: filho do primeiro culpado e filho do maior inocente; portanto? Portanto, devo também eu ter uma cruz para fazer penitência e santificar-me na imitação de Jesus.

Quem é que sabe que eu tenho uma cruz? Quase ninguém. E quem se compadece ao ver-me vergado ao peso dela? Bem poucos e, certos dias, absolutamente ninguém. As criaturas tendem mais para a alegria que para a dor: eis porque os dolentes são muitas vezes abandonados. Mas se poucos ou ninguém se ocupa de mim, há um que sabe tudo o que tenho sobre os ombros e me pesa no coração: é Jesus. Que alegria apresentar-me a Jesus e ser conhecido por Ele somente! Assim, posso confidenciar com Ele só, eu e Ele, falar-lhe dos meus sofrimentos, sem que o mundo venha tentar-me com os seus perigosos confortos. Ah! Quando se sofre, é muito mais fácil entendermo-nos com Jesus do que com as criaturas.

O mundo tem um critério que é uma verdadeira malícia. Quando alguém geme sob o peso da cruz que o esmaga, julga-se que ele seja um culpado e, em vez de se admirar a sua paciência e expiação, considera-se exclusivamente a sua culpa e ele é desprezado. Jesus, ao contrário, segue o critério oposto. Quando vou encontrá-lo, Ele olha-me sorrindo. Mas por quê? Não o tenho eu ofendido mil vezes? Sim, mas agora trago a cruz do sofrimento e da penitência, e é isto o que mais lhe agrada. Se comigo entrassem na igreja todos os reis da Terra cingindo as suas coroas e empunhando os seus cetros, Jesus, ao dar-nos audiência, receber-me-ia a mim de preferência, porque eu trago uma cruz e eles não.

Pobre coração o meu! Também tu lamentas de teres de arrastar uma cruz, tu que eras chamado para a alegria e para a felicidade. Pobre coração! De que serviriam todas as minhas penitências, se tu não fosses o primeiro a sofrer, e se não sofresses mais que todos os sentidos e que toda a minha alma? Todo o mal que eu pratiquei não veio porventura de ti? Foste tu que me afastaste de Jesus para me impelir a amar as criaturas; por isso toca-te agora a parte mais amarga da expiação. De resto, és tu que recebes todas as manhãs o teu Jesus; e desejarias que Jesus descesse a um coração sem encontrar nele ao menos um pouco do seu calvário, uma relíquia da sua cruz, uma reminiscência da sua paixão e morte? Ah! Se não tivesses também tu a tua cruz, em um só dia tornar-te-ias tão mau como dantes.

Eu beijo, embora chorando, a minha cruz, porque, se não fosse ela, eu não me teria avizinhando tanto do Tabernáculo. Ah! Quando se sofre, não bastam já ao coração as imagens santas; quer-se uma realidade vivente, falante e, sobretudo, amante; mas onde encontrá-la fora do Tabernáculo? Agora, depois de tantas dores suportadas, se me propusessem aliviar-me da minha cruz com a condição de me distanciar de Jesus Sacramentado, embora esteja cansado de sofrer e desejoso de repousar em paz, repeliria a oferta, como se repele um veneno. A cruz amargura-me a alma e o coração, é verdade; mas não tão completamente, que não lhes deixe intactas e livres as partes mais recônditas, mais secretas e mais delicadas; e é aqui exatamente que vem repousar o meu Jesus quando o recebo na Comunhão. Se a cruz me fere e me pesa externamente, Jesus me alegra e me conforta na parte mais viva e mais íntima do meu ser.

Pensando bem, vejo que é uma estultice considerar as cruzes unicamente como um castigo dos pecados cometidos. Mais que um castigo, a cruz é uma honra, porque é uma participação da paixão de Jesus e produz na alma uma semelhança belíssima com Ele. Que coisas seriam todas as virtudes cristãs se não fossem embelezadas e enriquecidas por uma cruz? É inútil procurar uma santidade que sofra, porque é impossível haver sabor de virtude que não amadureça sobre o Calvário. Portanto, se sofro, sou honrado e santificado pelo meu próprio sofrimento, e devo agradecer a Jesus que, quando vem encontrar-me, traz-me sempre um pouco desta santidade; nem me devo maravilhar se, depois de feita a Comunhão, voltando às costumeiras ocupações, encontro muitas vezes uma cruz bela e preparada. É o presente de Jesus ao seu dileto.

A minha cruz é ainda santa, porque me foi dada por Jesus, e é destinada a santificar-me. Contudo, quando adoro Jesus junto do Tabernáculo e, mais ainda, quando o aperto ao coração na Comunhão, depois de lhe oferecer tudo o que a cruz me faz sofrer, não sei por que extravagância do espírito, quisera deixar ali a minha cruz e ir-me embora sem ela. É este um sinal evidentíssimo da pouca perfeição com que o visito e o recebo, e uma revelação da minha insensatez, visto demonstrar como eu tenho esquecido a sentença de Jesus: que não é digno d'Ele quem não arrasta a sua cruz. Se há uma coisa que deveria me fazer amar a cruz e me torná-la leve, é exatamente a Eucaristia; e eu hei de querer servir-me da Eucaristia para livrar-me das minhas cruzes?

Quando contemplo as imagens do Coração de Jesus, faz-me sempre uma singular impressão vê-lo com uma cruz implantada ao meio, com uma abertura no lado e todo cingido em torno por uma coroa de espinhos: são estes os símbolos dos seus sofrimentos imensos. Mas o que mais me impressiona é ver que, das feridas produzidas pela cruz, pela lança e pelos espinhos, saem tantas flamas, que são outros tantos símbolos do amor. Portanto, concluo comigo mesmo que o Coração de Jesus é feito de tal maneira que as feridas, que os homens lhe fazem, correspondem não a raios da indignação e da vingança, mas a chamas de amor. 

Oh! Se o meu coração se assemelhasse um pouco ao Coração de Jesus! Como me tornaria santo bem depressa, se a todo o golpe que Jesus me dá com a cruz, a toda a tribulação que me manda, eu soubesse responder, não com lamentos e impaciências, como estou acostumado, mas com outras tantas chamas de amor! E, todavia, se desejo que o meu coração se torne semelhante ao seu, devo desejar amá-lo em proporção daquilo que sofro e desejar sofrer ainda mais para poder amá-lo sempre mais. Assim deveria fazer. Mas, quanto estou longe do perfeito cumprimento do meu dever!

A minha Cruz... Pobre cruz! Um pouco a desejo, e outro pouco a temo: ora a encontro bela, e ora me causa repulsão: hoje beijo-a e amanhã dela me afasto. E pensar que esta cruz afinal não é minha, mas a própria Cruz de Jesus! Se a olho bem vejo ainda, aqui e além, pérolas de sangue que correm misturadas a gotas de pranto. São o Sangue de Jesus e as lágrimas de Maria. E porque não desejá-la sempre, não a encontrar sempre bela, não a beijar sempre? Certo que, se espero conhecer-lhe o mérito escutando a voz do mundo, a cruz me será sempre apresentada como uma coisa detestável. O melhor será arrastá-la sempre recorrendo a Jesus e rogando-lhe que me faça conhecer tal qual ela é, e amá-la quanto merece. Assim farei sempre; e Jesus me verá todos os dias afastado das criaturas, reconhecido aos pés d'Ele e, como um prisioneiro do Tabernáculo, a mover-me incessantemente entre a sua Cruz e o seu Coração.

(Excertos da obra 'Centelhas Eucarísticas', de original italiano, 1906; trad. de Adolfo Tarroso Gomes, 1924)

terça-feira, 7 de outubro de 2014

ABERRAÇÕES LITÚRGICAS (VI)


O que é isso? Um ET de Varginha? Um natimorto? Um alienígena saído de alguma nave sepulcral? Nada disso: eis aí Jesus Cristo, na figura de um extraterrestre, morrendo na cruz, na concepção da XII Estação da Via Sacra representada na diocese francesa de Belfort-Montbéliard, quadro que traz logo abaixo a legenda bíblica (Jo 19, 30):

Jésus meurt sur la croix

Quand il eut pris le vinaigre, Jésus dit: 'tout est consommé' et en inclinant la tête il rendit le souffle. 


E que porcaria poderia ser o quadro acima? Um festim de bêbados? Uma família de drogados? Uma amostra grátis de demência coletiva? Não; essa 'obra de arte' retrata nada mais nada menos que uma paródia da Última Ceia de Jesus, e está exposta publicamente no Museu da Diocese de Würburg, na Alemanha. Seis mulheres e duas crianças compõem os 12 personagens do quadro; 3 adultos e as duas crianças são apresentados em nudez completa. O infeliz visitante, ao se posicionar frontalmente ao quadro, vê o reflexo de sua imagem ocupar o lugar do Jesus ausente (como se mostra na foto), no centro do arranjo demencial. 

domingo, 5 de outubro de 2014

05 DE OUTUBRO - SANTA FAUSTINA KOWALSKA


Helena Kowalska nasceu em 25 de agosto de 1905, na aldeia de Glogowiec (Polônia), terceira de dez irmãos, em uma pobre família de camponeses. Desde tenra infância, distinguiu-se pela piedade e obediência, amor à oração e pelo propósito de dedicar sua vida à glória de Deus. Teve de deixar a casa paterna aos 16 anos para trabalhar como empregada doméstica em Aleksandrow, perto de Lodz, a fim de buscar a própria subsistência e ajudar sua família. 

Foi aí que experimentou, em uma de suas inúmeras revelações místicas, o chamado definitivo para a vida religiosa. Após muitas recusas em Varsóvia, capital da Polônia, ingressou em 1º de agosto de 1925 na Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Misericórdia, onde recebeu o hábito de noviça em 30 de abril de 1926, com o nome de Irmã Maria Faustina do Santíssimo Sacramento; em 1º de maio de 1933, Irmã Faustina fez os seus votos perpétuos.

Fui incumbida por Jesus com a missão de ser a alma do apostolado e da devoção à Divina Misericórdia, por meio de inúmeras mensagens, visões, conversações e revelações que recebeu de Jesus, as quais foram escritas e sistematizadas na forma de um Diário, por expressa determinação do Senhor, e que constitui uma obra de raro valor teológico, atualmente traduzido em dezenas de línguas e divulgado no mundo inteiro.  

(trecho original do 'Diário')

Em 22 de fevereiro de 1931, Santa Faustina teve a extraordinária visão de Jesus da Infinita Misericórdia, vestido de branco, com a mão direita levantada em atitude de bênção e com dois raios, um branco e outro vermelho, irradiando-se do peito. Ouviu a seguir a instrução de Jesus para que se pintasse um quadro segundo o modelo que ela estava vendo, com a inscrição: 'Jesus, eu confio em Vós' e a promessa que a alma que venerasse a imagem seria salva para a glória eterna pelo próprio Jesus. O quadro foi pintado, mais tarde, pelo artista Eugeniusz Kazimirowski. Entre outras dezenas de revelações e instruções impressionantes, Jesus ensinou a Faustina o Terço da Misericórdia e pediu expressamente à Igreja a instituição do domingo seguinte à Páscoa como sendo a Festa da Misericórdia.

(quadro original de Jesus de Infinita Misericórdia)

Irmã Faustina ofereceu a sua vida a Deus em sacrifício pelos pecadores e a eles ofereceu jejuns extenuantes e, por essa razão, foi submetida a numerosos sofrimentos. Padeceu várias doenças físicas e viveu experiências místicas extremamente dolorosas – da chamada noite escura aos sofrimentos espirituais relacionados ao cumprimento da missão que havia recebido de Jesus Cristo. Neste calvário particular, faleceu no dia 5 de outubro de 1938, com fama de santidade, aos 33 anos de idade e após 13 anos de vida religiosa. Foi beatificada em 1993 e proclamada Santa Maria Faustina Kowalski pelo papa João Paulo II no ano 2000. As suas relíquias são atualmente veneradas no Santuário da Divina Misericórdia, em Cracóvia.

(Santuário da Divina Misericórdia, em Cracóvia/ Polônia)