Leste bem: 'A melhor herança é o bom exemplo'. Pratique com rigor essa verdade evangélica. Mas não te desanimes, quando falhares algumas vezes: será, então, o tempo de perceberes que o erro cometido é também a herança da nossa inesgotável fragilidade humana...
quarta-feira, 11 de junho de 2014
terça-feira, 10 de junho de 2014
OS GRAUS DO CONHECIMENTO DE DEUS
O conhecimento de um só Deus em três Pessoas, que nós recebemos pela fé, é mais alto, sem comparação, do que o conhecimento que temos de Deus pela simples razão natural. Existem três graus no conhecimento que o homem pode ter de seu Criador. O primeiro é o conhecimento natural, que lhe é dado pela luz da razão. O segundo, o conhecimento sobrenatural, que ele recebe pela luz da fé. O terceiro, o conhecimento ou visão beatífica, que ele recebe pela luz da glória.
Estes três graus se assemelham um pouco com os diversos modos com que nossos sentidos se aplicam ao conhecimento de um objeto sensível. Podemos conhecer um objeto material ou pelo tato, quando o apalpamos, ou pelo ouvido, quando escutamos sua descrição, ou pela visão, quando o vemos. Isso é explicado por São Tomás na sua Suma Contra os Gentios. Ora, esses três modos se aplicam bem aos três graus do conhecimento de Deus que vimos acima.
(i) A razão procura de certo modo tocar Deus, que está fora de sua visão. É o que diz São Paulo: 'Que busquem a Deus como que às apalpadelas' (At 17, 27). São Paulo desenha aqui um quadro que representa os pobres pagãos às apalpadelas, como cegos, atravessando a natureza e procurando tocar em Deus. O Apóstolo lhes mostra o meio de O encontrar: Ele não está longe, diz ele, pois vivemos, nos movemos e existimos por ele. (idem) Entrem em si mesmos e O encontrarão, Ele que é o Pai de toda a vida.
Quando apalpamos um objeto nos convencemos da existência desse objeto; em seguida medimos aproximadamente suas dimensões. Assim a razão natural, que apalpa Deus, está em condições de demonstrar a existência de Deus. Ela chega até a alcançar algo de sua imensidade, de sua eternidade, de seu poder infinito. Eis até onde puderam ir, segundo atesta São Paulo, os filósofos da antiguidade, pela investigação racional (Rm 1, 20).
(ii) Este adágio não pode nos satisfazer, a nós, católicos. Somos chamados a subir mais alto e a aprofundar nossa busca pelo conhecimento sobrenatural. Trata-se do conhecimento pela luz da fé, semelhante à que nos vem pelo sentido da audição: Fides ex auditu, diz São Paulo, a fé nos vem por audição, ou seja, quando ouvimos a palavra de Cristo, audito autem per verbum Christi. Ela nos traz um conhecimento mais íntimo de Deus, na medida em que a palavra santa nos revela as maravilhas escondidas na Sua essência, na medida em que ela nos inicia nos segredos dessa natureza criadora onde aprendemos a adorar a Trindade de Pessoas.
Temos ainda, é verdade, um pano nos olhos; mas, em vez de só apalpar o quadro, ouvimos deslumbrados sua descrição, pelo menos até onde nossa inteligência, presa às imagens terrestres, é capaz de o penetrar. Em vez de tocar somente em Deus, o Grande Vivo, analisamos, por assim dizer, a força e os atos da Vida Divina.
(iii) Virá um dia em que a venda será retirada de nossos olhos. Uma luz, chamada luz de glória, virá fortificar, elevar, dilatar nossa inteligência. Então veremos Deus. Sim, diz São João, nós o veremos como Ele é. Videbimus eum sicuti est (I Jo 3, 2); Sim, diz São Paulo, nós o veremos face a face. Videbimus facie ad faciem (I Cor 13, 12). O conheceremos como Ele nos conhece (idem). O que mais dizer? Elevados a este grau, teremos chegado ao termo dos desejos da criatura racional; possuiremos nosso fim.
Lembremos que este conhecimento beatífico, tão grande, tão glorioso, está em germe no conhecimento que temos pela fé, pois a fé é um começo de possessão da verdade total que é o próprio Deus. A fé é obscura, visto que os mistérios que ela nos propõe estão acima da capacidade da razão, no estado de vida atual; mas ela é luminosa, pois esses mistérios, escondidos a nossos olhos pela excessiva luz, iluminam com sua luz maravilhosa as coisas temporais e as eternas.
Logo, não devemos considerar os mistérios da fé como pontos negros que atrapalhariam o olhar de nossa inteligência; eles são astros explodindo de luz e que se escondem de nós nessa própria luz, cujo reflexo nos descobre todo um oceano de verdades escondidas aos sábios deste mundo e reveladas aos humildes e aos pequenos. O primeiro e mais luminoso desses astros é, sem dúvida, o mistério da Santíssima Trindade.
(Excertos da obra 'O mistério da Santíssima Trindade' do Pe. Emmanuel-André, Ed. Permanência, 2006)
segunda-feira, 9 de junho de 2014
09 DE JUNHO - SÃO JOSÉ DE ANCHIETA
Mais de 400 anos depois da sua morte, ocorrida em 9 de junho de 1597, na pequena vila de Reritiba, atual cidade de Anchieta, no Espírito Santo, o padre jesuíta José de Anchieta tornou-se o terceiro santo brasileiro da Igreja Católica, após Madre Paulina (nascida na Itália e canonizada em 2002, 60 anos após a sua morte) e Frei Galvão (canonizado em 2007, 185 anos após a sua morte). Desde 1617, quando os jesuítas brasileiros oficializaram junto a Companhia de Jesus, em Roma, o pedido de canonização do padre, o processo teve inúmeras paralisações e recomeços, constituindo-se em um dos mais demorados da história da Igreja. Somente quando, em 1980, o Papa João Paulo II promoveu a beatificação do padre a partir de um decreto que dispensava a comprovação formal de milagres por sua intercessão direta, a causa foi rapidamente reativada, culminando com a canonização de São José de Anchieta em 03 de abril de 2014.
Nascido em São Cristóvão da Laguna, na ilha de Tenerife, pertencente ao arquipélago das Canárias (Espanha), José de Anchieta educou-se na Universidade de Coimbra em Portugal, ingressando em seguida na Companhia de Jesus. Tornado sacerdote, veio para o Brasil em 1553, chegando à Bahia com outros seis padres jesuítas. No ano seguinte, já na capitania de São Vicente, fundou, no planalto de Piratininga, junto com o padre Manoel da Nóbrega, a cidade de São Paulo. Com a morte do padre Manoel da Nóbrega em 1567, assumiu o o cargo de provincial do Brasil, intensificando ainda mais o extraordinário trabalho missionário junto aos primeiros habitantes da nova terra - os povos indígenas - que lhe valeram o título de 'Apóstolo do Brasil'.
domingo, 8 de junho de 2014
FESTA LITÚRGICA DE PENTECOSTES
Páginas do Evangelho - Festa Litúrgica de Pentecostes
Emitte Spiritum tuum et creabuntur et renovabis faciem terrae
'Enviai, Senhor, o vosso espírito criador e será renovada toda a face da terra'
Originalmente, Pentecostes representava uma das festas judaicas mais tradicionais de 'peregrinação' (nas quais os israelitas deviam peregrinar até Jerusalém para adorar a Deus no Templo), sempre celebrada após 50 dias da Páscoa e na qual eram oferecidas a Deus as primícias das colheitas do campo. No Novo Pentecostes, a efusão do Espírito Santo torna-se agora o coroamento do mistério pascal de Jesus Cristo, na celebração da Nova Aliança entre Deus e a humanidade redimida.
Eis que os apóstolos encontravam-se reunidos, com Maria e em oração constante, quando 'todos ficaram cheios do Espírito Santo' (At 2, 4), manifestado sob a forma de línguas de fogo, vento impetuoso e ruídos estrondosos, sinais exteriores do poder e da grandeza da efusão do Novo Pentecostes. Luz e calor associados ao fogo restaurador da autêntica fé cristã; ventania que evoca o sopro da Verdade de Deus sobre os homens; reverberação que emana a força da missão confiada aos apóstolos reunidos no cenáculo e proclamada aos apóstolos de todos os tempos.
O Paráclito é derramado numa torrente de graças, distribuindo dons e talentos, porque 'Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito.Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos' (1 Cor 12, 4-6). Na simbologia dos vários membros de um mesmo corpo, somos mensageiros e testemunhas de Cristo no meio dos homens, na identidade comum de Filhos de Deus partícipes e continuadores da missão salvífica de Cristo: 'Como o Pai me enviou, também Eu vos envio' (Jo 20, 21).
No Espírito Consolador, não somos mais meros expectadores de uma efusão de graças e dons tão diversos, mas apóstolos e testemunhas, iluminados e portadores da Verdade, pela qual será renovada a face da terra e pelo qual será apagada a mancha do pecado no mundo: 'Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos' (Jo 20, 22-23).
sábado, 7 de junho de 2014
DO DESEJO DE DEUS
Da mesma forma que os corpos pesados, se eles recebem impulso em um plano inclinado, ainda que ninguém os empurre, uma vez dada a primeira impulsão, são empurrados por si mesmos para baixo num movimento rápido (...) assim a alma, libertada de suas atrações terrestres, lança-se leve e veloz para as alturas, elevando-se das coisas inferiores rumo ao céu. Se nada vem de baixo para interromper seu elan – como a natureza do Bem tem a propriedade de atrair para si aqueles que levantam os olhos para ela – a alma se eleva sempre mais, além de si mesma, ‘tensionada’ pelo desejo das coisas celestes, em direção às coisas que estão adiante, como diz o Apóstolo (Fl 3,13), e seu voo a elevará cada vez mais alto. (...)
Com efeito, somente a atividade espiritual tem essa propriedade de alimentar sua força gastando-a, e de não perdê-la, mas aumentar seu vigor pelo esforço. Por esta razão dizemos que o grande Moisés, indo sempre adiante, nunca se deteve em sua ascensão nem impôs limite algum a seu movimento para as alturas; tendo posto uma vez o pé na escada ‘em cujo cimo estava Deus’, como diz Jacó, ele não cessou de subir ao degrau superior e de se elevar cada vez mais alto, porque a cada passo dado em sua subida, restava-lhe sempre um degrau mais alto do que aquele a que chegara.
(Excertos da obra 'Vida de Moisés', de São Gregório de Nissa)
Os puros de coração verão a Deus, diz o Senhor (Mt 5,8). Certamente tem-se experiência disso sempre quando se aumenta na alma a capacidade deste conhecimento. Deus, que é infinito, está acima de toda compreensão. Ele (...) não tem limites; sem mais nem menos por toda a eternidade. Quando o grande Davi fala de ascensões das ‘subidas no coração’ (Sl 84,9) (...) Creio que, através dessas palavras, queria dizer isso: em toda a eternidade, pelos séculos intermináveis, o que corre para ti, sempre sobe mais alto; cresce em proporção à sua capacidade. Mas tu és o mesmo, sempre sublime. (...) Isto é o que ao meu modo de ver ensinava o Apóstolo sobre a natureza dos bens inefáveis (...)
De fato, o bem alcançado é sempre maior do que o bem precedente (...) O que sobe não se detém jamais, segue de ascensão em ascensão (...) O desejo do que sobe jamais se satisfaz com o andado, segue um desejo mais intenso, logo outro, ainda mais profundo, e outro e outros, que impulsionam a alma a elevar-se sem cessar pela rota do infinito, anelando sempre bens superiores.
(Excertos da obra 'Homilias sobre o Cântico dos Cânticos' de São Gregório de Nissa)
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