terça-feira, 16 de julho de 2013

GLÓRIAS DE MARIA: MÃE E FORMOSURA DO CARMELO


No dia 16 de julho de 1251, São Simão Stock suplicava a intercessão de Nossa Senhora  para resolver problemas da Ordem Carmelita quando teve uma visão da Virgem que, trazendo o Escapulário nas mãos, lhe disse as seguintes palavras:

"Filho diletíssimo, recebe o Escapulário da tua Ordem, sinal especial de minha amizade fraterna, privilégio para ti e todos os carmelitas. Aqueles que morrerem com este Escapulário não padecerão o fogo do Inferno. É sinal de salvação, amparo e proteção nos perigos, e aliança de paz para sempre". 


Imposição e Uso do Escapulário

- Qualquer padre pode fazer a bênção e imposição do Escapulário à pessoa.

2 - A bênção e a imposição valem para toda a vida e, portanto, basta receber o Escapulário uma única vez.

- Quando o Escapulário se desgastar, basta substituí-lo por um novo.

- Mesmo quando alguém tiver a infelicidade de deixar de usá-lo durante algum tempo, pode simplesmente retomar o seu uso, não sendo necessária outra bênção.

5 - Uma vez recebido, o Escapulário deve ser usado em todas as ocasiões (inclusive ao dormir), preferencialmente no pescoço.

6 - Em casos de necessidade de retirada do Escapulário, como no caso de doenças e/ou internações em hospitais, a promessa de Nossa Senhora se mantém, como se a pessoa o estivesse usando.

7 - Mesmo um leigo pode fazer a imposição do Escapulário a uma pessoa em risco de morte, bastando recitar uma oração a Nossa Senhora e colocar na pessoa um escapulário já bento por algum sacerdote.

8 - O Escapulário pode ser substituído por uma medalha que tenha, de um lado, o Sagrado Coração de Jesus e, do outro, uma imagem de Nossa Senhora (por autorização do Papa São Pio X).
Oração a Nossa Senhora do Carmo
     Ó Virgem do Carmo e mãe amorosa de todos os fiéis, mas especialmente dos que vestem vosso sagrado Escapulário, em cujo número tenho a dita de ser incluído, intercedei por mim ante o trono do Altíssimo. 

          Obtende-me que, depois de uma vida verdadeiramente cristã, expire revestido deste santo hábito e, livrando-me do fogo do inferno, conforme prometestes, mereça sair quanto antes, por vossa intercessão poderosa, das chamas do Purgatório.

        Ó Virgem dulcíssima, dissestes que o Escapulário é a defesa nos perigos, sinal do vosso entranhado amor e laço de aliança sempiterna entre Vós e os vossos filhos. Fazei, pois, Mãe amorosíssima, que ele me una perpetuamente a Vós e livre para sempre minha alma do pecado. 

       Em prova do meu reconhecimento e fidelidade, ofereço-me todo a Vós, consagrando-Vos neste dia os meus olhos, meus ouvidos, minha boca, meu coração e todo o meu ser. E porque Vos pertenço inteiramente, guardai-me e defendei-me como filho e servidor vosso. Amém.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

A MORTE DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

(São Tomás de Aquino: 1224 ou 1225 - 1274)

Depois de lhe terem apresentado o Santíssimo corpo do Senhor, perguntaram-lhe, como se faz a todo o Cristão para se assegurar da sua fé neste sacramento essencial, se ele acreditava que esta hóstia consagrada era o verdadeiro corpo do Filho de Deus, que nasceu das entranhas da Virgem Maria e foi suspenso do patíbulo da cruz, que morreu por nós e ressuscitou ao terceiro dia. Ele respondeu com uma voz clara, com vibrante devoção, e deitando lágrimas: 

'Se nesta vida pode haver sobre este sacramento uma ciência maior que aquela que nos é dada pela fé, nesta eu respondo que sei verdadeiramente, e com toda a certeza que este Deus é verdadeiramente homem, Filho de Deus Pai e da Virgem mãe. Creio de todo o meu coração e confesso pela minha boca o que o padre afirmou acerca deste Santíssimo Sacramento.' Pronunciou então as palavras cheias de piedade, que os presentes não puderam reter e que foram, segundo dizem, as seguintes: 

Adoro te devote 
Adoro te devote, latens 
Deitas, Quæ sub his figuris vere latitas: 
Tibi se cor meum totum subiicit, 
Quia te contemplans totum deficit. 
Visus, tatus, gustus in te fallitur, 
Sed auditu solo tuto creditur. 
Credo quidquid dixit Dei Filius: 
Nil hoc verbo Veritatis verius. 
In cruce latebat sola Deitas, 
At hic latet simul et humanitas; 
Ambo tamen credens atque confitens, 
Peto quod petivit latro pænitens. 
Plagas, sicut Thomas, non intueor; 
Deum tamen meum te confiteor. 
Fac me tibi semper magis credere, 
In te spem habere, te diligere. 
O memoriale mortis Domini! 
Panis vivus, vitam præstans homini! 
Præsta meæ menti de te vivere 
Et te illi semper dulce sapere. 
Pie pellicane, Iesu Domine, 
Me immundum munda tuo sanguine. 
Cuius una stilla salvum facere 
Totum mundum quit ab omni scelere. 
Iesu, quem velatum nunc aspicio, 
Oro fiat illud quod tam sitio; 
Ut te revelata cernens facie, 
Visu sim beatus tuæ gloriæ. 
Amen.

Adoro-te devotamente, divindade escondida, 
Que sob esta figura verdadeiramente Te escondes: 
A Ti o meu coração se submete, 
Porque te contemplando, tudo falta. 
Visão, tato e paladar em Ti falham, 
Só o ouvido tudo crê. 
Creio em tudo o que disse o Filho de Deus: 
A verdade da Verdade é melhor recebida. 
Na cruz escondia-se só a divindade, 
Mas aqui esconde-se também a humanidade; 
No entanto ambos acredito e confesso, 
Peço o que pedia o ladrão penitente. 
Chagas, como Tomé viu, não vejo, 
Mas, meu Deus, em Ti confio. 
Faz-me sempre mais em Ti acreditar, 
Em Ti esperar, Te amar. 
Oh memorial da morte do Senhor! 
Pão vivo, vida dás ao homem! 
Concede à minha alma de Ti viver, 
Pelo Teu sabor sempre ser alimentado. 
Senhor Jesus, pio pelicano, 
A mim imundo lava o Teu sangue. 
Do qual uma só gota chega para salvar 
Todo o mundo de todos os pecados. 
Jesus, que velado agora contemplo, 
Rezo para que se faça o que tanto anseio; 
Que a Tua face revelada eu olhe. 
E bem-aventurado veja a Tua glória. 
Amém.

E recebendo o Santíssimo Sacramento, pronunciou a seguinte oração:

'Sumo te pretium redemptionis anime mee, sumo te viaticum peregrinationis mee, pro cuius amore studui, vigilavi et laboravi; te predicavi, te docui, nichil umquam contra te dixi, sed si quid dixi, ignorans dixi nec sum pertinax in sensu meo; sed si quid male dixi de hoc sacramento et aliis, totum relinquo correctioni sancte Romane Ecclesie, in cuius obedientia nunc transeo ex hac vita'. 

«Recebo-Te, preço da redenção da minha alma. Recebo-Te, viático da minha peregrinação, por cujo amor estudei, vigiei, trabalhei, preguei e ensinei. Nunca disse nada contra Ti. Se o fiz, foi por ignorância, e não sou persistente na minha opinião. Mas o que de mal eu disse deste sacramento ou de outras coisas, tudo entrego à correção da santa Igreja Romana, de cuja obediência eu nunca me desviei nesta vida'. 

Depois de ter recebido o sacramento, pediu, com uma devoção que só podia acrescentar ao seu mérito e dar aos outros exemplo, que lhe fosse trazido no dia seguinte o óleo da santa unção, o sacramento dos moribundos, afim que o Espírito desta unção, que o tinha enviado para guiar os seus companheiros, o conduzisse ao Céu a que aspirava. Pouco tempo depois de o ter recebido, entregou ao Senhor a sua alma, que ele tinha conservado tão santa quanto a tinha recebido. Ela deixou o corpo tão alegremente que parecia viver maravilhosamente fora deste. 

Feliz doutor que correu tão ligeiro no estádio, que travou corajosamente o combate e que obteve uma vitória triunfal! Ele merecia dizer como o Apóstolo: 'Combati até ao fim o bom combate, acabei a minha corrida, guardei fé. E agora eis que está preparada para mim a coroa de glória' (2Tm 4, 7-8), coroa que ele era verdadeiramente digno de receber pelo seu estudo da doutrina inspirada!

domingo, 14 de julho de 2013

O BOM SAMARITANO

Páginas do Evangelho - Décimo Quinto Domingo do Tempo Comum


'Quem é o meu próximo?' (Lc 10, 29). Diante da pergunta capciosa do mestre da lei, Jesus não responde diretamente. Era preciso um ensinamento maior: para quem pratica a caridade, o próximo são todas as outras pessoas; para quem se exalta na malícia do pecado, o próximo é algo tão intangível quanto a enorme soberba do douto perscrutador do evangelho deste domingo, tão cheio de artimanhas, tão  farto de arrogância.

E Jesus, então, lhes conta uma pequena história: 'Certo homem descia de Jerusalém para Jericó...' (Lc 10, 30). Um certo homem... provavelmente um judeu como eles, deslocando-se de Jerusalém para Jericó, a cerca de 30 km e em altitude bem mais baixa que Jerusalém. Sem dúvida, tratava-se de um homem de posses e descuidado de sua segurança, pois viajava sozinho. E eis que, então, o homem é assediado por assaltantes, tem os seus bens saqueados e, mais que isso, é espancado e ferido brutalmente, até ser abandonado semimorto à beira da estrada.

E no local da encenação deste drama comovente, vão passar três personagens singulares: um sacerdote, um levita e um samaritano. Os dois primeiros, anestesiados pelos seus interesses e preocupações mundanas e imbuídos do frio calculismo dos incômodos e perturbações que uma tal ação de socorro poderia lhes causar, vão passar insensíveis ao largo do homem ferido. Muito diferente será a reação do viajante samaritano que, não apenas pára para socorrer o pobre homem, como alivia as suas dores e, mais ainda, assume a responsabilidade pelo completo restabelecimento da sua saúde e pela cura dos seus ferimentos.   

'Quem é o meu próximo?' não foi, afinal, a pergunta certa feita pelo mestre da lei, o mesmo que antes dera resposta correta a outra pergunta de Jesus: 'Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao teu próximo como a ti mesmo!' (Lc 10, 27). 'Amar o próximo como a ti mesmo' significa em todos 'amar a Deus com todo o coração e com toda a alma'. Todos são próximos de todos. Os dons e os talentos de cada um devem ser compartilhados com todos. E esta partilha se faz com as mãos estendidas da humildade e da misericórdia. Este é o legado de Jesus para nós: 'Vai e faze a mesma coisa' (Lc 10, 37). Fazendo a mesma coisa, todos os outros serão apenas um: o próximo, que nos coloca dentro do Coração de Deus!

sábado, 13 de julho de 2013

VÍDEOS CATÓLICOS

Alguns gestos simples nos mostram o quanto podemos ser criaturas miseráveis...


... mas certas palavras confirmam que fomos criados à Imagem de Deus.

Gianna Jessen - Sobrevivente de um Aborto (Parte I)



Gianna Jessen - Sobrevivente de um Aborto (Parte II)




sexta-feira, 12 de julho de 2013

A ORAÇÃO DA PAZ QUE SÃO FRANCISCO NÃO ESCREVEU

A bela e famosa 'Oração de São Francisco' pela paz não foi escrita por São Francisco de Assis (1182 - 1226), e tem história muito mais recente. A referência mais antiga da oração data de 1912, em um texto em francês, publicado em Paris, em uma pequena revista católica chamada La Clochette (O Sininho) pertencente à chamada La Ligue de la Sainte-Messe (A Liga da Santa Missa), cujo fundador foi Fr. Esther Bouquerel, que poderia ter sido o seu provável autor. Mas isso também não é certo e, portanto, a oração tem autor desconhecido. 

A referência a São Francisco se deve ao fato de que a versão original (ou alguma das primeiras impressões do texto) foi impressa junto a uma imagem deste santo, o que teria resultado em uma associação direta (e equivocada) do texto da oração com a autoria atribuída a São Francisco de Assis. Abaixo, são apresentados o texto original da oração e a tradução da mesma mais difundida em português.

Seigneur, fais de moi un instrument de ta paix,
Là où est la haine, que je mette l’amour
Là où est l’offense, que je mette le pardon
Là où est la discorde, que je mette l’union
Là où est l’erreur, que je mette la vérité
Là où est le doute, que je mette la foi
Là où est le désespoir, que je mette l’espérance
Là où sont les ténèbres, que je mette la lumière
Là où est la tristesse, que je mette la joie.

O Seigneur, que je ne cherche pas tant à
être consolé qu’à consoler,
à être compris qu’à comprendre,
à être aimé qu’à aimer.
Car c’est en se donnant qu’on reçoit,
c’est en s’oubliant qu’on se retrouve,
c’est en pardonnant qu’on est pardonné,
c’est en mourant qu’on ressuscite à l’éternelle vie.

Senhor, fazei-me instrumento da vossa paz
Onde houver ódio, que eu leve o amor
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão
Onde houver discórdia, que eu leve a união
Onde houver dúvida, que eu leve a fé
Onde houver erro, que eu leve a verdade
Onde houver desespero, que eu leve a esperança
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó mestre, fazei que eu procure mais: consolar que ser consolado
Compreender que ser compreendido
Amar que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
É perdoando que se é perdoado;
E é morrendo que se vive
Para a vida eterna.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

AS REGRAS DA HUMILDADE DE SÃO BENTO

São Bento de Núrsia (480 - 547), monge italiano e irmão gêmeo de Santa Escolástica, foi o fundador da Ordem dos Beneditinos e autor das chamadas 'Regras de São Bento' (excerto abaixo), uma série de regulamentos e prescrições para a vida monástica, que serviram de modelo para várias outras comunidades religiosas. Sua festa litúrgica é comemorada no dia 11 de julho (ver também Medalha de São Bento).

DAS REGRAS DE HUMILDADE

[1] Irmãos, a Escritura divina nos clama dizendo: 'Todo aquele que se exalta será humilhado e todo aquele que se humilha será exaltado". [2] Indica-nos com isso que toda elevação é um gênero da soberba, [3] da qual o Profeta mostra precaver-se quando diz: 'Senhor, o meu coração não se exaltou, nem foram altivos meus olhos; não andei nas grandezas, nem em maravilhas acima de mim'. [4] Mas, que seria de mim se não me tivesse feito humilde, se tivesse exaltado minha alma? Como aquele que é desmamado de sua mãe, assim retribuirias a minha alma.

[5] Se, portanto, irmãos, queremos atingir o cume da suma humildade e se queremos chegar rapidamente àquela exaltação celeste para a qual se sobe pela humildade da vida presente, [6] deve ser erguida, pela ascensão de nossos atos, aquela escada que apareceu em sonho a Jacó, na qual lhe eram mostrados anjos que subiam e desciam. [7] Essa descida e subida, sem dúvida, outra coisa não significa, para nós, senão que pela exaltação se desce e pela humildade se sobe. [8] Essa escada ereta é a nossa vida no mundo, a qual é elevada ao céu pelo Senhor, se nosso coração se humilha. [9] Quanto aos lados da escada, dizemos que são o nosso corpo e alma, e nesses lados a vocação divina inseriu, para serem galgados, os diversos graus da humildade e da disciplina.

[10] Assim, o primeiro grau da humildade consiste em que, pondo sempre o monge diante dos olhos o temor de Deus, evite, absolutamente, qualquer esquecimento, [11] e esteja, ao contrário, sempre lembrado de tudo o que Deus ordenou, revolva sempre, no espírito, não só que o inferno queima, por causa de seus pecados, os que desprezam a Deus, mas também que a vida eterna está preparada para os que temem a Deus; [12] e, defendendo-se a todo tempo dos pecados e vícios, isto é, dos pecados do pensamento, da língua, das mãos, dos pés e da vontade própria, como também dos desejos da carne, [13]considere-se o homem visto do céu, a todo momento, por Deus, e suas ações vistas em toda parte pelo olhar da divindade e anunciadas a todo instante pelos anjos. [14] Mostra-nos isso o Profeta quando afirma estar Deus sempre presente aos nossos pensamentos: 'Deus que perscruta os corações e os rins'. [15] E também: 'Deus conhece os pensamentos dos homens'. [16] E ainda: 'De longe percebestes os meus pensamentos' [17] e 'o pensamento do homem vos será confessado'. [18] Portanto, para que esteja vigilante quanto aos seus pensamentos maus, diga sempre, em seu coração, o irmão empenhado em seu próprio bem: 'se me preservar da minha iniquidade, serei, então, imaculado diante d’Ele'.

[19] Assim, é-nos proibido fazer a própria vontade, visto que nos diz a Escritura: 'Afasta-te das tuas próprias vontades'. [20] E, também, porque rogamos a Deus na oração que se faça em nós a sua vontade.

[21] Aprendemos, pois, com razão, a não fazer a própria vontade, enquanto nos acautelamos com aquilo que diz a Escritura: 'Há caminhos considerados retos pelos homens cujo fim mergulha até o fundo do inferno', [22] e enquanto, também, nos apavoramos com o que foi dito dos negligentes: 'Corromperam-se e tornaram-se abomináveis nos seus prazeres'. [23] Por isso, quando nos achamos diante dos desejos da carne, creiamos que Deus está sempre presente junto a nós, pois disse o Profeta ao Senhor: 'Diante de vós está todo o meu desejo'.

[24] Devemos, portanto, acautelar-nos contra o mau desejo, porque a morte foi colocada junto à porta do prazer. [25] Sobre isso a Escritura preceitua dizendo: 'Não andes atrás de tuas concupiscências'. [26] Logo, se os olhos do Senhor 'observam os bons e os maus', [27] e 'o Senhor sempre olha do céu os filhos dos homens para ver se há algum inteligente ou que procura a Deus' [28] e se, pelos anjos que nos foram designados, todas as coisas que fazemos são, cotidianamente, dia e noite, anunciadas ao Senhor, [29] devemos ter cuidado, irmãos, a toda hora, como diz o Profeta no salmo, para que não aconteça que Deus nos veja no momento em que caímos no mal, tornando-nos inúteis, [30] e para que, vindo a poupar-nos nessa ocasião porque é Bom e espera sempre que nos tornemos melhores, não venha a dizer-nos no futuro: 'Fizeste isto e calei-me'.

[31] O segundo grau da humildade consiste em que, não amando a própria vontade, não se deleite o monge em realizar os seus desejos, [32] mas imite nas ações aquela palavra do Senhor: 'Não vim fazer a minha vontade, mas a d’Aquele que me enviou'. [33] Do mesmo modo, diz a Escritura: 'O prazer traz consigo a pena e a necessidade gera a coroa'.

[34] O terceiro grau da humildade consiste em que, por amor de Deus, se submeta o monge, com inteira obediência ao superior, imitando o Senhor, de quem disse o Apóstolo: 'Fez-se obediente até a morte'.

[35] O quarto grau da humildade consiste em que, no exercício dessa mesma obediência abrace o monge a paciência, de ânimo sereno, nas coisas duras e adversas, ainda mesmo que se lhe tenham dirigido injúrias, [36] e, suportando tudo, não se entregue nem se vá embora, pois diz a Escritura: 'Aquele que perseverar até o fim será salvo'. [37] E também: 'Que se revigore o teu coração e suporta o Senhor'. [38] E a fim de mostrar que o que é fiel deve suportar todas as coisas, mesmo as adversas, pelo Senhor, diz a Escritura, na pessoa dos que sofrem: 'Por vós, somos entregues todos os dias à morte; somos considerados como ovelhas a serem sacrificadas'. [39] Seguros na esperança da retribuição divina, prosseguem alegres dizendo: 'Mas superamos tudo por causa daquele que nos amou'. [40] Também, em outro lugar, diz a Escritura: 'Ó Deus, provastes-nos, experimentastes-nos no fogo, como no fogo é provada a prata: induzistes-nos a cair no laço, impusestes tribulações sobre os nossos ombros'. [41] E para mostrar que devemos estar submetidos a um superior, continua: 'Impusestes homens sobre nossas cabeças'. [42] Cumprindo, além disso, com paciência o preceito do Senhor nas adversidades e injúrias, se lhes batem numa face, oferecem a outra; a quem lhes toma a túnica cedem também o manto; obrigados a uma milha, andam duas; [43] suportam, como Paulo Apóstolo, os falsos irmãos e abençoam aqueles que os amaldiçoam.

[44] O quinto grau da humildade consiste em não esconder o monge ao seu Abade todos os maus pensamentos que lhe vêm ao coração, ou o que de mal tenha cometido ocultamente, mas em lho revelar humildemente, [45] exortando-nos a este respeito a Escritura quando diz: 'Revela ao Senhor o teu caminho e espera nele'. [46] E quando diz ainda: 'Confessai ao Senhor porque ele é bom, porque sua misericórdia é eterna'. [47] Do mesmo modo o Profeta: 'Dei a conhecer a Vós a minha falta e não escondi as minhas injustiças. [48] Disse: acusar-me-ei de minhas injustiças diante do Senhor, e perdoastes a maldade de meu coração'.

[49] O sexto grau da humildade consiste em que esteja o monge contente com o que há de mais vil e com a situação mais extrema e, em tudo que lhe seja ordenado fazer, se considere mau e indigno operário, [50] dizendo-se a si mesmo com o Profeta: 'Fui reduzido a nada e não o sabia; tornei-me como um animal diante de Vós, porém estou sempre convosco'.

[51] O sétimo grau da humildade consiste em que o monge se diga inferior e mais vil que todos, não só com a boca, mas que também o creia no íntimo pulsar do coração, [52] humilhando-se e dizendo com o Profeta: 'Eu, porém, sou um verme e não um homem, a vergonha dos homens e a abjeção do povo: [53]exaltei-me, mas, depois fui humilhado e confundido'. [54] E ainda: 'É bom para mim que me tenhais humilhado, para que aprenda os vossos mandamentos'.

[55] O oitavo grau da humildade consiste em que só faça o monge o que lhe exortam a Regra comum do mosteiro e os exemplos de seus maiores.

[56] O nono grau da humildade consiste em que o monge negue o falar a sua língua, entregando-se ao silêncio; nada diga, até que seja interrogado, [57] pois mostra a Escritura que 'no muito falar não se foge ao pecado' [58] e que 'o homem que fala muito não se encaminhará bem sobre a terra'.

[59] O décimo grau da humildade consiste em que não seja o monge fácil e pronto ao riso, porque está escrito: 'O estulto eleva sua voz quando ri'.

[60] O undécimo grau da humildade consiste em, quando falar, fazê-lo o monge suavemente e sem riso, humildemente e com gravidade, com poucas e razoáveis palavras e não em alta voz, [61] conforme o que está escrito: 'O sábio manifesta-se com poucas palavras'.

[62] O duodécimo grau da humildade consiste em que não só no coração tenha o monge a humildade, mas a deixe transparecer sempre, no próprio corpo, aos que o vêem, [63] isto é, que no ofício divino, no oratório, no mosteiro, na horta, quando em caminho, no campo ou onde quer que esteja, sentado, andando ou em pé, tenha sempre a cabeça inclinada, os olhos fixos no chão, [64] considerando-se a cada momento culpado de seus pecados, tenha-se já como presente diante do tremendo juízo de Deus, [65] dizendo-se a si mesmo, no coração, aquilo que aquele publicano do Evangelho disse, com os olhos pregados no chão: 'Senhor, não sou digno, eu pecador, de levantar os olhos aos céus'. [66] E ainda, com o Profeta: 'Estou completamente curvado e humilhado'.

[67] Tendo, por conseguinte, subido todos esses degraus da humildade, o monge atingirá logo, aquela caridade de Deus, que, quando perfeita, afasta o temor; [68] por meio dela tudo o que observava antes não sem medo começará a realizar sem nenhum labor, como que naturalmente, pelo costume, [69] não mais por temor do inferno, mas por amor de Cristo, pelo próprio costume bom e pela deleitação das virtudes.

[70] Eis o que, no seu operário, já purificado dos vícios e pecados, se dignará o Senhor manifestar-Se por meio do Espírito Santo.

(Excertos da 'Regras de São Bento', tradução de Dom João Evangelista Enout)

quarta-feira, 10 de julho de 2013

DA VIDA ESPIRITUAL (54)


Um sacerdote não é um homem comum: ele fala como um homem comum, ele se veste como um homem comum, ele vai aos lugares aonde vão os homens comuns, ele tem sentimentos e fraquezas como um homem comum, ele se diverte como um homem comum, a sua fé é a de um homem comum? Filho, este homem é um homem comum, mas não é um sacerdote. Um sacerdote não é um homem comum: como pode alguém capaz de perdoar pecados e realizar o extraordinário milagre da transubstanciação a cada missa ser um homem comum? Ame profundamente os sacerdotes e reze constantemente por aqueles que parecem homens comuns.