segunda-feira, 15 de abril de 2024

DECÁLOGO SOBRE A DESCONFIANÇA

1. 'Quem pensa estar de pé, tome cuidado para não cair!' (I Cor 10,12)

2. 'Maldito o homem que confia em outro homem, que da carne faz o seu apoio e cujo coração vive distante do Senhor!' (Jr 17,5)

3. 'Mais vale procurar refúgio no Senhor do que confiar no homem' (Sl 117,8)

4. Não coloqueis nos poderosos a vossa confiança, são apenas homens nos quais não há salvação (Sl 145,3)

5. 'Vós, pois, caríssimos, advertidos de antemão, tomai cuidado para que não caiais da vossa firmeza, levados pelo erro desses homens ímpios' (II Pd 3,17)

6. 'Caríssimos, não deis fé a qualquer espírito, mas exa­minai se os espíritos são de Deus, porque muitos falsos profetas se levantaram no mundo' (I Jo 4,1)

7. 'Guarda bem o que Deus te deu; guarda-te de tudo o que Ele proibiu e aguarde com confiança o que Ele prometeu' (São Bernardo)

8. 'A terceira maneira de resistir às tentações e vencê-las é desconfiar de nós mesmos. Quem se considera firme deve ter cuidado para não cair, como nos diz o Grande Apóstolo (Cornelio Lapide)

9. 'Deus não permite que o diabo engane a alma que desconfia de si mesma e permanece forte na fé' (Santa Teresa de Ávila)

10. 'Nossa melhor política é colocar toda a nossa confiança na graça de Deus e desconfiar inteiramente de nossas próprias forças' (São Roberto Belarmino).

domingo, 14 de abril de 2024

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Sobre nós fazei brilhar o esplendor de vossa face!' (Sl 4)

Primeira Leitura (At 3,13-15.17-19) - Segunda Leitura (1Jo 2,1-5a) -  Evangelho (Lc 24,35-48)

  14/04/2024 - TERCEIRO DOMINGO DA PÁSCOA

20. TESTEMUNHAS DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR


Neste Terceiro Domingo da Páscoa, os Evangelhos evocam mais uma das muitas manifestações de Jesus Ressuscitado aos discípulos reunidos no Cenáculo. Mesmo depois dos relatos das aparições de Jesus às santas mulheres, à Maria Madalena, ao próprio Pedro, e aos dois discípulos de Emaús, muitos ainda permaneciam incrédulos e continuavam a negar a ressurreição de Jesus. E o dogma da ressurreição, essência da fé cristã, não poderia conviver com tais dúvidas e não poderia prescindir da solidez confiante do testemunho de muitos e de todos.

Por isso, mais uma vez, Jesus se apresenta aos seus discípulos e os saúda com a paz de Cristo. Homens incrédulos responderam à saudação de Jesus como homens incrédulos: 'Eles ficaram assustados e cheios de medo, pensando que estavam vendo um fantasma' (Lc 24, 37). Turbados pela presença de Jesus, julgaram ver um espírito, um fantasma que atravessava paredes e portas fechadas. O temor e a desconfiança deles era tão grande que foram capazes, mais uma vez, de confundirem o mistério da graça com uma reação baseada na lógica simples da natureza humana. Jesus surgira do nada, e as portas estavam fechadas; tratava-se, pois, da aparição de um fantasma...

Jesus os conclama a compreender o mistério da graça: 'Por que estais preocupados, e por que tendes dúvidas no coração? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede! Um fantasma não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho. E, dizendo isso, Jesus mostrou-lhes as mãos e os pés' (Lc 24, 38 - 40). E, agora, movidos por uma incredulidade mais afeta à alegria pela confirmação da ressurreição de Cristo do que a descrença pelo sobrenatural, os discípulos oferecem a Jesus, a pedido dele, um pedaço de peixe assado: 'Ele o tomou e comeu diante deles' (Jo 24, 43). Não podia existir prova mais definitiva da real presença de Jesus Ressuscitado; em seu corpo glorioso, embora não precisasse de alimento algum, Aquele que antes comia e bebia com eles, estava de novo comendo com eles. Era o mesmo Jesus, Jesus Ressuscitado, não um espírito, não um fantasma.

Em seguida, após confirmar a sua missão salvífica, Jesus exorta os seus discípulos a serem, mais que apenas as testemunhas singulares da Ressurreição, os continuadores de sua missão, constituindo-os sacerdotes da Igreja e herdeiros do seu sumo e eterno sacerdócio. Missão destinada a ser cumprida pelo ministério sacerdotal até o fim dos tempos, na busca da confirmação da obra universal da redenção e para a salvação e a santificação das almas: 'e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sereis testemunhas de tudo isso' (Lc 24, 47 - 48).

sábado, 13 de abril de 2024

ORAÇÃO AO ANJO DA GUARDA DA BOA MORTE


Meu bom Anjo da Guarda, não sei quando e de que modo irei morrer. É possível que eu seja levado de repente ou que, antes do meu último suspiro, eu me veja privado das minhas capacidades mentais. E há tantas coisas que eu gostaria de dizer a Deus, no limiar da Eternidade...

Por isso hoje, com a plena liberdade da minha vontade, venho pedir, Anjo da minha Guarda, que faleis por mim a Deus nesse temível momento. Direis, então, ao Senhor:

🙏Que quero morrer na Santa Igreja Católica, Apostólica Romana, no seio da qual morreram todos os santos, depois de Jesus Cristo, e fora da qual não há salvação;

🙏 Que peço a graça de participar nos méritos infinitos do meu Redentor e que desejo morrer pousando os meus lábios na Cruz que foi banhada com o seu Sangue;

🙏 Que abomino e detesto todos os meus pecados que ofenderam a Jesus e que, por amor a Ele, perdoo os meus inimigos, como eu próprio desejo ser perdoado;

🙏 Que aceito a minha morte como sendo da vontade de Deus e que, com toda a confiança, me entrego ao seu amável e Sacratíssimo Coração, esperando por toda a sua misericórdia;

🙏 Que, no meu inexprimível desejo de ir para o Céu, me disponho a sofrer tudo quanto a sua soberana Justiça haja por bem infligir-me.

Não recuseis, ó Santo Anjo da minha Guarda, ser o meu intérprete junto de Deus e expor diante dEle que estes são os meus sentimentos e a minha vontade. Amém.

(São Carlos Borromeu)

sexta-feira, 12 de abril de 2024

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'Uma só razão têm os homens para não obedecer, e é quando se lhes pede algo que repugne abertamente o direito natural ou divino; pois todas aquelas coisas em que se infringe a lei natural ou a vontade de Deus, é tão ilícito o mandar como o fazer. Se, no entanto, suceder que alguém seja obrigado a escolher uma de duas coisas, ou a desprezar os mandamentos de Deus ou o dos Príncipes, deve obedecer a Jesus Cristo, que manda dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus, e seguindo o exemplo dos Apóstolos, responder animosamente: importa obedecer antes a Deus do que aos homens. Porém, não há razão para acusar quem procede deste modo de quebrar a obediência; pois se a vontade dos Príncipes contraria a vontade de Deus, eles ultrapassam os limites do seu poder e perturbam a justiça: nem mesmo assim pode valer a sua autoridade, a qual é nula onde não é justa'.

(Papa Leão XIII, Encíclica Diuturnum Illud, 1881)

quinta-feira, 11 de abril de 2024

TESOURO DE EXEMPLOS (316/320)

 

316. POR QUE ERA ATEU

Encontraram-se, certo dia, um pároco e um homem notoriamente ímpio e avarento. Na conversa com o padre, nao fêz segredo de sua impiedade e declarou abertamente que, embora respeitador das crenças alheias, nao acreditava em Deus. O vigário, tomando uma folha de papel, escreveu sobre ela a palavra 'Deus'. 
➖ O senhor está vendo esta palavra? - perguntou ao ateu.
➖ Perfeitamente - respondeu o outro. 
O pároco tirou do bolso uma moeda de dois mil réis (das antigas) e colocou-a exatamente sobre a palavra que escrevera e tornou a perguntar: 
➖Você ainda vê a palavra 'Deus'? 
➖ Agora nao a vejo, porque a moeda me impede. 
➖ Pois é isso mesmo, meu amigo, o que se está dando com a sua pessoa. Você vê só o dinheiro e por isso nao enxerga mais a Deus. O próprio Salvador disse: 'Os cuidados deste mundo e a ilusão das riquezas sufocam a palavra de Deus'.

317. OCULTARA OS PECADOS

Em Lima, capital do Peru, uma senhora tinha três criadas. Uma era cristã, convertida do paganismo. Deixou, porém, a prática da oração, tornando-se leviana e livre nos costumes. Tendo adoecido, recebeu os sacramentos com pouca devoção. Revelou, depois, às suas companheiras de serviço, que tivera o cuidado de ocultar ao sacerdote todos os pecados que cometera. 

Alarmadas, as companheiras levaram o fato ao conhecimento de sua patroa, a qual alcançou da enferma a promessa de fazer uma confissão sincera. Marta, assim se chamava ela, confessou-se de novo e morreu depois de algum tempo. Apenas exalou o último suspiro, começou o seu cadáver a espalhar um mau cheiro insuportável, de modo que tiveram de levá-lo para fora da casa. O cão, por natureza tranquilo, pôs-se a uivar lúgubremente. 

Uma das criadas, indo dormir no quarto onde Marta falecera, foi despertada por rumores espantosos; todos os móveis eram como que agitados por uma força invisível e atirados ao chão. Com a outra criada, deu-se a mesma cena espantosa. Resolveram, pois, passar juntas a noite. Ouviram, a certa altura, a voz clara e distinta de Marta, que se lhes apresentou em estado horrível e rodeada de chamas. Disse-lhes que, por ordem de Deus, vinha fazer-lhes conhecer em que estado se achava e que fôra condenada por seus pecados de impureza e por suas confissões mal feitas. E acrescentou: 'Contai a outros o que acabo de revelar-vos, para que não sejam vítimas da mesma desgraça'. A estas palavras, lançou um grito de desespero e desapareceu (Villard, V. III).

318. DUAS CLASSES DE PESSOAS

Um pároco convidou um seu paroquiano a fazer a Páscoa.
➖ Mas, senhor vigário, para que confessar-me se eu não tenho pecado?
Respondeu-lhe o padre: 
➖ Olhe, senhor; só há duas classes de pessoas que não têm pecados: os que ainda não chegaram ao uso da razão e os que já a perderam.

319. JÁ FEZ A PÁSCOA?

Um dia, indo Dom Bosco a Carignano, sentou-se ao lado do cocheiro e durante a conversa disse-lhe:
➖ Espero que o senhor já tenha feito a Páscoa.
➖ Ainda não - respondeu o bom homem; e, ademais, faz muito tempo que não me confesso. Eu gostaria de confessar-me com o padre com quem me confessei a última vez, se o encontrasse.
➖ E quem é esse padre?
➖ É Dom Bosco; não sei se o senhor o conhece; confessei-me com ele em Turim.
➖ Pois sou eu mesmo, respondeu o santo.
Fixando nele o olhar, o condutor reconheceu-o.
➖ Como farei para confessar-me agora mesmo?
➖ Dê-me as rédeas e ajoelhe-se.
E enquanto os cavalos caminhavm lentamente, o homem confessou-se com grande alegria da alma.

320. NÃO SABE CALAR-SE!

Sócrates falava muito pouco. Um indiscreto perguntou-lhe, certa ocasião, se guardava silêncio por ignorância, ao que Sócrates respondeu: 'Um ignorante não sabe calar-se!'

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)


quarta-feira, 10 de abril de 2024

OITO MANEIRAS DE UM CATÓLICO PERDER A FÉ (III)

IV - PELO MUNDANISMO E PAIXÕES DESREGRADAS

Outra causa que leva à perda da fé é a corrupção do coração e a escravidão das paixões. Encontrareis homens que negam a imortalidade da alma, que negam a eternidade do inferno, que negam a infalibilidade da Igreja. Encontrareis homens que negam a origem divina da confissão. Mas por quê, meus irmãos, por quê? É porque essas verdades salutares põem um freio às suas paixões. Eles não podem acreditar nessas verdades e, ao mesmo tempo, satisfazer seus desejos criminosos.

Um homem honesto e virtuoso jamais pensaria em duvidar ou contradizer essas verdades sagradas. Apesar do seu orgulho inato, a mente é escrava do coração. Se o coração se eleva ao céu nas asas do amor divino, a mente também se eleva com ele. Mas, se o coração se enterra na lama das paixões imundas, logo exala vapores escuros e fétidos, que obscurecem o intelecto. A razão do infiel é a fraude  que carrega no coração.

Há um homem que já foi um bom católico, que costumava ir regularmente à missa e à confissão. Agora já não se confessa, é um infiel. Mas por quê? Terá, porventura, ficado mais esclarecido? Terá recebido algum conhecimento novo? Não; o único conhecimento novo que recebeu foi o triste conhecimento do pecado. Ele acreditou enquanto foi virtuoso. Só começou a duvidar quando começou a ser imoral; só se tornou um infiel quando se tornou um libertino. A história da sua vida é logo contada. Desejoso de satisfazer as suas paixões sem restrições e sem remorsos, tentou livrar-se de uma religião que o teria perturbado no meio dos seus prazeres ilícitos. A religião apareceu-lhe como a mão na parede, escrevendo a sua desgraça no meio da sua folia sem sentido. O respeito humano e a satisfação de suas paixões são as únicas causas que o levaram a tornar-se um infiel.

V - PELO CONVÍVIO COM OS ESCARNECEDORES DA RELIGIÃO

Frequentar a sociedade dos ímpios, dos zombadores da religião é, para muitos, outra causa de perda da fé. Um zombador da religião é um homem sem princípios, um homem afundado na mais grosseira ignorância do que é a religião. Ele blasfema contra o que não entende. Ele zomba das doutrinas da Igreja, sem saber realmente o que são essas doutrinas. Escarnece das doutrinas e práticas da religião, porque não as pode refutar. Fala com a maior gravidade das belas artes, das modas e até dos assuntos mais triviais, e ridiculariza os assuntos mais sagrados. No meio do seu próprio círculo social, profere os seus conceitos superficiais com toda a segurança pomposa de um pedante.

Imagine-se um jovem que foi educado como católico. Frequentou todos os dias uma escola católica até fazer a primeira comunhão. Aprendeu bem o catecismo. Mas os pais queixam-se de que já não reza as orações da manhã e da noite, que já não se confessa, não comunga e não vai à missa ao domingo. Por quê? Porque frequenta a sociedade das más companhias, que ridicularizam a religião e zombam de tudo o que é sagrado. 'As más companhias corrompem os bons costumes'. Na companhia de jovens pervertidos, ele logo sente vergonha de sua religião, torna-se completamente indiferente a ela, abandona toda prática de piedade e, finalmente, torna-se um infiel e também ele um zombador da religião.

VI - PELOS CASAMENTOS MISTOS

A experiência tem demonstrado suficientemente que os casamentos mistos são também uma causa para que muitos tenham perdido a sua fé. Esta é a razão pela qual a Igreja Católica sempre se opôs a eles. A parte católica está geralmente exposta ao perigo de perder a fé ou de se tornar indiferente a ela. A educação católica das crianças é também geralmente negligenciada e muitas vezes tornada impossível.

Há uma congregação, num dos estados americanos, que conta com cerca de duzentas famílias. Há nada menos que cinquenta e sete casamentos mistos nela. O número de convertidos é de apenas seis e o número dos que abandonaram a religião católica é de vinte e dois. Quanto às crianças, encontram-se atualmente cinquenta e quatro que estão a ser instruídas nos rudimentos da nossa religião, e espera-se que adiram à prática das suas doutrinas. Mas há cento e trinta e sete que estão a receber a sua formação religiosa em alguma seita religiosa ou são deixados a crescer na mais completa ignorância. Há mais trinta e um cujo fim último é ainda duvidoso. O número de ex-católicos é de quase quatro para cada catolico nesta congregação. Não há razão para crer que os casamentos mistos sejam menos produtivos de males em outras congregações. 

VII - PELA PARTICIPAÇÃO EM SOCIEDADES SECRETAS

O estado de irreligião e infidelidade em que estão mergulhados atualmente milhões de homens que foram católicos é obra das sociedades secretas da maçonaria. Mostrei previamente que o principal objetivo da maçonaria é destruir toda a religião revelada e introduzir o paganismo em seu lugar. Aderir a qualquer uma das sociedades secretas é abandonar a religião católica; pois a Igreja Católica excomungou todos aqueles que aderiram a uma sociedade secreta. No entanto, há milhares que se juntam a essas sociedades satânicas e abandonam Deus e sua santa religião por Satanás e sua obra de impiedade.

VIII - PELO ORGULHO E RAZÃO TÍBIA SOBRE OS MISTÉRIOS DA FÉ

O orgulho e o raciocínio frágil sobre os mistérios da fé é outro meio que o demônio utiliza para fazer as pessoas perderem a fé. Há certos homens orgulhosos que dizem que não podem acreditar em tal artigo ou em tal mistério da fé, porque é muito obscuro, muito incompreensível e contrário à razão; eles não querem acreditar mais nas verdades da religião do que podem entender. Por isso, levantam tantas objeções às verdades reveladas, e assim demonstram uma lamentável falta de razão. Pois, para ser um homem, é necessário ter razão. A razão é a luz do homem. Mas a razão diz-nos que é necessário acreditar no que Deus revelou, porque Deus não pode revelar outra coisa senão a verdade, e que não tem sentido aquele que quer submeter à sua razão o próprio Autor da sua razão; e que querer compreender o que está acima da sua inteligência é não ter inteligência. Imagine-se um jovem católico que sempre acreditou no que Deus nos ensina através da sua Igreja. Associa-se frequentemente a alguém que, de forma perspicaz, argumenta sobre os mistérios da fé. este jovem começa a ouvi-lo com prazer. A consequência é que se expõe a todo o tipo de tentações contra a fé. Começa ele próprio a argumentar sobre os mistérios da fé, depois a duvidar deles e, por fim, a perder toda a fé neles. Morre infiel.

Ai de nós! Quantos são os que foram filhos fervorosos da Igreja Católica, que viveram na graça de Deus, em grande felicidade e paz, mas que, pelas razões que acabamos de expor, levam agora a vida perversa dos infiéis! A sua desgraça deve ser um aviso para todos nós. Portanto, 'aquele que se julga em pé, cuide-se para que não caia' (1 Cor 10,12).

(Excertos da obra 'Apostles' Creed', do Pe. Muller, 1889, tradução do autor do blog)

terça-feira, 9 de abril de 2024

OITO MANEIRAS DE UM CATÓLICO PERDER A FÉ (II)

II - PELA NEGLIGÊNCIA DOS DEVERES RELIGIOSOS

Muitos se afastam da fé porque seus pais negligenciaram dar-lhes qualquer instrução na religião. Há uma certa classe de pais que instruem seus filhos em tudo, menos na religião. Há outros pais que permitem que seus filhos cresçam na ignorância de tudo, exceto na maneira pela qual podem ganhar algum dinheiro. Ora, quando se aproxima o momento dessas crianças fazerem a primeira comunhão, os pais levam-nas ao sacerdote para as preparar para esse ato sagrado, em um prazo tão curto quanto uma ou duas semanas. Ora, o que é que as crianças podem aprender num par de semanas? É certo que o que aprendem muito raramente lhes entra no coração. Os seus corações não estão preparados para a Palavra de Deus; são levianos e, em muitos casos, corrompidos, e o que aprendem é aprendido por constrangimento. Logo que se libertam do constrangimento, atiram a sua religião porta fora: tornam-se os piores inimigos da Igreja Católica. O jovem que incendiou a igreja de Santo Agostinho, em Filadélfia, Pensilvânia, era católico e glorificava-se de poder queimar o seu nome do registo de batismo. Por um justo castigo de Deus, essas crianças católicas negligenciadas tornar-se-ão nossos perseguidores. Assim se verifica nestas crianças o que Deus diz através do profeta Isaías: 'Por isso o meu povo foi levado cativo, porque não teve conhecimento' (Is 5,13).

Há outros que não querem ser instruídos nos seus deveres religiosos, a fim de se dispensarem mais facilmente da obrigação de cumprir esses deveres. Ora, é essa mesma classe de homens que facilmente dá ouvidos aos princípios da infidelidade, porque esses princípios agradam mais à sua natureza corrupta do que os da nossa santa religião. A classe desses homens é muito numerosa e seu número está aumentando a cada dia. Pois, não tendo eles próprios nenhuma religião, nem desejando tê-la, que admira que os seus filhos sigam o seu exemplo? Tal como é a árvore, tal será também o fruto. 

Há outros que se afastam gradualmente da fé e se tornam infiéis, porque negligenciam um dever cristão essencial, o da oração. 'Os ímpios' - diz Davi - 'corrompem-se e tornam-se abomináveis nos seus caminhos... Todos eles se desviaram, e juntamente se tornaram inúteis; não há quem faça o bem, nem um sequer... A destruição e a infelicidade estão nos seus caminhos'. ' A causa de toda esta maldade' -  continua Davi - 'é que não invocaram o Senhor'. Deus é a luz do nosso entendimento, a força da nossa vontade e a vida do nosso coração. Ora, quanto mais negligenciarmos a oração a Deus, mais experimentaremos trevas em nosso entendimento, fraqueza em nossa vontade e frieza mortal em nosso coração. Nossas paixões, as tentações do demônio e as seduções do mundo nos atrairão de cabeça para baixo de um abismo de maldade para outro, até cairmos no mais profundo de todos, na infidelidade e na indiferença a toda religião.

III - PELA LEITURA DE MAUS LIVROS

Há outra causa especial para a perda da fé: é a leitura de maus livros. Os maus livros são (i) livros fúteis que não fazem bem, mas distraem a mente do que é bom; (ii) novelas e romances que não parecem ser tão maus, mas são muito maus na verdade; (iii) livros que tratam declaradamente de assuntos maus; (iv) maus jornais, periódicos, miscelâneas, revistas sensacionalistas, semanários [atualmente, com desgraça ainda maior, internet, redes sociais e programas de televisão]; (v) livros sobre bruxarias e superstições, adivinhações; (vi) literatura protestante e de outras falsas religiões.

Há certos livros fúteis que, embora não sejam maus em si mesmos, são perniciosos, porque fazem o leitor perder o tempo que poderia e deveria empregar em ocupações mais benéficas para a sua alma. Aquele que gastou muito tempo na leitura de tais livros e depois vai à oração, à missa e à santa comunhão, em vez de pensar em Deus e de fazer atos de amor e confiança, será constantemente perturbado por distrações; porque as representações de todas as vaidades que leu estarão constantemente presentes na sua mente. O moinho mói o milho que recebe. Se o trigo é mau, como pode o moinho produzir boa farinha? Como é possível pensar em Deus com frequência e oferecer-lhe atos frequentes de amor, de oblação, de súplica e outros semelhantes, se a mente está constantemente cheia do lixo lido em livros ociosos e inúteis? 

... Quanto aos romances, são, em geral, quadros, e normalmente quadros muito bem elaborados das paixões humanas. A paixão é representada como tendo sucesso no seu fim e atingindo os seus objetivos, mesmo com o sacrifício do dever. Esses livros, como uma classe, apresentam visões falsas da vida; e como é o erro dos jovens confundi-las com realidades, eles se tornam os enganos de suas próprias imaginações ardentes e entusiastas, que, em vez de tentar controlar, eles realmente nutrem com o alimento venenoso de fantasias e quimeras... Quanto mais fortemente as obras de ficção apelam à imaginação, e quanto mais amplo é o campo que proporcionam para o seu exercício, maiores são, em geral, as suas perigosas atrações; e é demasiado verdade que elas lançam, por fim, uma espécie de feitiço sobre a mente, fascinando tão completamente a atenção, que o dever é esquecido e a obrigação positiva posta de lado para gratificar o desejo de desvendar, até à sua última complexidade, a teia finamente tecida de alguma criação aérea da fantasia. Sentimentos fictícios são excitados, simpatias irreais são despertadas, sensibilidades sem sentido são evocadas. A mente está enfraquecida; perdeu aquela louvável sede de verdade que Deus imprimiu nela; cheia de um amor banal por ninharias, vaidades e tolices, não tem gosto por leituras sérias e ocupações proveitosas; todo o gosto pela oração, pela Palavra de Deus, pela receção dos sacramentos, está perdido; e, finalmente, a consciência e o bom senso dão lugar ao domínio da imaginação descontrolada. 

Tal leitura, em vez de formar o coração, degrada-o. Envenena a moral e excita o espírito. Envenena a moral e excita as paixões; muda todas as boas inclinações que uma pessoa recebeu da natureza e de uma educação virtuosa; arrefece, pouco a pouco, os desejos piedosos, e em pouco tempo expulsa da alma tudo o que havia de solidez e virtude. Por essa leitura, as jovens perdem de repente o hábito da reserva e da modéstia, tomam um ar de vaidade e frivolidade, e não demonstram outro ardor senão por aquelas coisas que o mundo estima, e que Deus abomina. Adotam as máximas, o espírito, a conduta e a linguagem das paixões, que estão ali sob vários disfarces artisticamente incutidos nas suas mentes e, o que é mais perigoso, cobrem toda esta irregularidade com as aparências de civilidade e um humor e disposição fáceis, complacentes e alegres.

Além de seus outros perigos, muitos desses livros infelizmente estão repletos de máximas subversivas da fé nas verdades da religião. A literatura popular atual, em nossos dias, está penetrada pelo espírito da licenciosidade, desde revistas periódicas até o arrogante e irreverente jornal diário; e as publicações semanais e mensais são, em sua maioria, pagãs ou anti-católicas. Expressam e inculcam, por um lado, o orgulho estoico, frio e polido do mero intelecto, ou, por outro, o sentimentalismo vazio e miserável. Alguns empregam a habilidade para caricaturar as instituições e ofícios da religião cristã, e outros, para exibir as formas mais grosseiras de vício e as cenas mais angustiantes de crime e sofrimento. A imprensa ilustrada tornou-se para nós o que o anfiteatro era para os romanos, quando homens eram mortos, mulheres eram ultrajadas e cristãos eram entregues aos leões, para agradar a uma população degenerada: 'O lodo da serpente está sobre tudo isso'.

... Consultar esses livros para obter um conhecimento do mundo é outra desculpa comum para a sua leitura. Bem, onde encontraremos um exemplo de alguém que se tornou um pensador mais profundo, um orador mais eloquente, um homem de negócios mais experiente, lendo maus romances e livros ruins? Eles apenas ensinam a pecar, como Satanás ensinou Adão e Eva a comerem da árvore proibida, sob o pretexto de obterem conhecimento real; e o resultado foi a perda da inocência, da paz e do paraíso, e o castigo da raça humana para sempre...Há uma classe de leitores que se lisonjeia com o fato de que os maus livros poderem magoar os outros, mas não a eles; não lhes causam qualquer impressão. Felizes e superiores mortais! São dotados de corações de pedra ou de carne e osso? Não têm paixões? Porque é que esses livros magoam os outros e não a eles? Será porque são mais virtuosos do que os outros? Não é verdade que as partes más e obscenas da história permanecem mais vivas e profundamente impressas nas suas mentes do que aquelas que são mais ou menos inofensivas? ...Ide aos hospitais e aos bordéis: perguntai ao jovem que está a morrer de uma doença vergonhosa; perguntai à jovem que perdeu a sua honra e a sua felicidade; ide ao túmulo escuro do suicida, perguntai-lhes qual foi o primeiro passo da sua carreira descendente, e eles responderão: a leitura de maus livros.

... Certamente, se somos obrigados por todos os princípios da nossa religião a evitar as más companhias, somos igualmente obrigados a evitar os maus livros; porque, de todas as más companhias corruptoras, a pior é um mau livro. Não há dúvida de que as influências mais perniciosas em ação no mundo, neste momento, provêm dos maus livros e dos maus jornais... Evita não só os livros e jornais notoriamente imorais, mas evita também todas essas miseráveis revistas sensacionalistas, romances e jornais ilustrados que estão profusamente espalhados por todo o lado. A procura que existe de tal lixo diz mal do sentido moral e da formação intelectual de quem os lê. Se quiserdes conservar a vossa mente pura e a vossa alma na graça de Deus, deveis fazer disso um princípio firme e constante de conduta para nunca mais abandonar. Estaríeis dispostos a pagar a um homem por envenenar a vossa comida? E por que deveríeis ser suficientemente tolos para pagar aos autores e editores de maus livros, panfletos e revistas, e aos editores de jornais irreligiosos, para envenenarem a vossa alma com os seus princípios ímpios e as suas histórias e imagens vergonhosas?

(Excertos da obra 'Apostles' Creed', do Pe. Muller, 1889, tradução do autor do blog)