domingo, 14 de maio de 2023

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, 
cantai salmos a seu nome glorioso!(Sl 65)

Primeira Leitura (At 8,5-8.14-17) - Segunda Leitura (1Pd 3,15-18)  -  Evangelho (Jo 14,15-21)

 14/05/2023 - Sexto Domingo da Páscoa 

25. 'NÃO VOS DEIXAREI ÓRFÃOS, EU VIREI A VÓS' 


A liturgia deste Sexto Domingo da Páscoa é centrada na ação santificadora do Espírito Santo, nas almas e na vida da Igreja, como primícias da Festa de Pentecostes que se aproxima. A graça santificante, que nos torna filhos adotivos de Deus, nos é atribuída pela apropriação do Divino Espírito Santo, na chamada 'inabitação trinitária', que procede e se faz na encarnação do próprio Deus, Uno e Trino, em nossas almas.

Estamos inseridos no contexto dos capítulos do Evangelho de São João, que integram o chamado 'testamento espiritual' de Cristo, que reproduzem o longo discurso feito por Jesus aos seus discípulos, logo após o banquete pascal, e no qual o Senhor expõe e revela, de forma abrangente e maravilhosa, a síntese e a essência dos seus ensinamentos e da sua doutrina. Doutrina que se resume no amor sem medidas, no chamado a viver plenamente a presença de Jesus Ressuscitado em nossas vidas, como testemunhas da fé e da fidelidade aos seus mandamentos: 'Se me amais, guardareis os meus mandamentos' (Jo 14, 15).

Eis aí o legado de Jesus aos seus discípulos: a graça e a salvação são frutos do amor, que é manifestado em plenitude, no despojamento do eu e na estrita submissão à vontade do Pai: 'Amai ao Senhor vosso Deus com todo vosso coração, com toda vossa alma e com todo vosso espírito. Este é o maior e o primeiro dos mandamentos' (Mt 22, 37-38). A graça nasce, manifesta-se e se alimenta do nosso amor a Deus, pois 'quem me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele ' (Jo 14, 21). Nos mistérios insondáveis de Deus, somos transformados no batismo, pela infusão do Espírito Santo em nossas almas, em tabernáculos da Santíssima Trindade, moradas provisórias do Pai, do Filho e do Espírito Santo, como sementes da glória antecipada das moradas eternas na Casa do Pai.

A presença permanente da Santíssima Trindade em nossas vidas vem por meio da manifestação do Espírito Santo, o Defensor, o Paráclito, conforme as palavras de Jesus: 'Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós' (Jo 14, 18) e ainda 'eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco' (Jo 14, 16). Como templos do Espírito Santo e tabernáculos da Santíssima Trindade, somos moldados como obras de Deus para viver em plenitude o Espírito da Verdade. Sob a ação do Espírito Santo, podemos, então, trilhar livremente o caminho da santificação, até os limites de um despojamento absoluto do próprio ser para a plena manifestação da glória de Deus em nós.

sábado, 13 de maio de 2023

FÁTIMA - 106 ANOS (1917 /2023)

  

'Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da Terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos de seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores'.

Ver Postagem Especial na Biblioteca Digital do Blog
(a história completa de Fátima resumida em 100 questões):


FÁTIMA EM 100 FATOS E FOTOS

sexta-feira, 12 de maio de 2023

SOBRE A VERDADEIRA DEVOÇÃO

A palavra 'devoção' tem origem latina e significa 'dedicação'. Pessoa devota é aquela dedicada a Deus. Não há termo mais forte do que 'dedicação' para indicar a disposição da alma a tudo fazer e sofrer pela pessoa a quem se dedica.

A dedicação às criaturas (refiro-me à legítima e autorizada por Deus), tem necessariamente limites. A dedicação a Deus não os tem, nem os pode ter. Se tiver a mínima reserva, a mais leve exceção, não será mais dedicação. A verdadeira e sólida devoção é a disposição da alma pela qual se está pronto a agir e sofrer em tudo, sem exceção nem reserva, ao bel prazer de Deus. Tal disposição é o mais excelente dom do Espírito Santo. Nunca serão demais o ardor e a constância em pedi-la; ninguém deve ufanar-se de tê-la inteira e perfeita, porque esta pode sempre crescer, ou em si mesma, ou em seus efeitos.

Vemos, por esta definição, ser a devoção algo de interior, de muito íntimo, visto afetar o fundo da alma e o seu ponto mais espiritual: a inteligência e a vontade. A devoção não consiste no raciocínio, nem na imaginação ou na sensibilidade. Não somos devotos, por sermos capazes de bom raciocínio a respeito das coisas de Deus, por termos grandes ideias, belas imagens dos objetos espirituais, ou porque nos enternecemos algumas vezes até as lágrimas. Vemos ainda não ser a devoção coisa passageira, mas habitual, fixa, permanente, extensiva a todos os momentos da vida e reguladora de toda a conduta.

A devoção funda-se no princípio de que Deus, sendo a única fonte e o único autor da santidade, a criatura racional deve em tudo depender dEle e deixar-se inteiramente governar pelo espírito de Deus. A criatura deve sempre aderir a Deus do mais íntimo do seu ser; atentar constantemente a ouvi-lo em seu íntimo, sempre fiel em realizar o que Ele pede a cada momento. Não podemos ser realmente devotos, se não formos almas interiores, dados ao recolhimento, habituados a entrarmos em nós mesmos, ou antes, a nunca nos dissiparmos, a possuirmos a nossa alma em paz.

O curioso, precipitado, amigo da exterioridades, inclinado a imiscuir-se nos negócios alheios, não pode habitar em si mesmo. O espírito crítico, maldizente, irônico, arrebatado, desdenhoso, altivo, susceptível em tudo que se relacione com o amor próprio, apegado ao seu parecer, indócil, teimoso ou escravo do respeito humano, da opinião pública e, por conseguinte, fraco, inconstante, instável nos princípios e na conduta, nunca será devoto, no sentido que tenho explicado. O verdadeiro devoto é homem de oração fazendo suas delícias em se entreter com Deus, sem nunca ou quase nunca sair da sua presença.

Para fazer oração não necessita de livro, de método, nem de esforços da inteligência, ou da vontade. Basta-lhe entrar docemente em si, onde sempre encontra Deus, a paz, por vezes saborosa, por vezes árida, mas sempre íntima e real. Prefere a oração na qual muito dá a Deus, a oração na qual sofre, a oração que combate pouco a pouco o amor próprio sem lhe dar alimento algum. O verdadeiro devoto não busca absolutamente a si mesmo no serviço de Deus, esforçando-se por praticar a máxima da Imitação: 'Em qualquer parte onde estiverdes, abnegai-vos'.

O verdadeiro devoto procura cumprir perfeitamente todos os deveres do seu estado e todas as conveniências reais da sociedade, é constante nos exercícios de devoção. Contanto que não faça a sua vontade, estará sempre certo de fazer a de Deus. O verdadeiro devoto não se precipita em busca das boas obras: espera apresentar-se a ocasião. Faz tudo que de si depende para obter êxito, mas abandona este a Deus. Prefere as boas obras humildes, às grandiosas, não se esquivando, porém, a estas quando interessam à glória de Deus e edificação do próximo. O homem devoto não é escrupuloso nem inquieto a respeito de si mesmo, caminha com simplicidade e confiança.

Determina-se a não recusar coisa alguma a Deus, a nada conceder ao amor próprio e não a cometer faltas voluntárias; mas não se perturba, procede com retidão, não é meticuloso. Caindo em alguma falta, não se perturba: humilha-se, ergue-se e não pensa mais nisso. Não estranha suas fraquezas, suas imperfeições, nunca desanima. Sabe que nada pode, mas que Deus tudo pode. Não se fia em seus bons propósitos e suas resoluções, senão na graça e bondade de Deus.

O verdadeiro devoto tem horror ao mal, porém, maior ainda é o seu amor ao bem. É generoso, magnânimo e havendo necessidade de arriscar-se por seu Deus, não teme feridas, nem a morte. Prefere, finalmente, praticar o bem, mesmo com risco de cometer alguma imperfeição, a omiti-lo para evitar o perigo de pecar. Nada mais agradável do que a companhia de um verdadeiro devoto: é simples, franco, reto, despretensioso, meigo, afável, sincero e verdadeiro. A sua conversa é alegre, interessante, pois sabe tomar parte em divertimentos honestos. Leva a condescendência até aos últimos limites, contanto que não haja nisso pecado. Digam o que quiserem, a verdadeira devoção não é triste. Nem para o devoto, nem para os outros.

Quem servir a Deus, como deve, há de reconhecer a verdade da sentença: 'Servir a Deus é reinar', mesmo na ignomínia e nos sofrimentos. Os que procuram neste mundo a felicidade fora de Deus, todos sem exceção acabam por referendar as palavras de Santo Agostinho: 'O coração do homem, unicamente feito para Deus, estará sempre inquieto enquanto não repousar em Deus'.

(Excertos da obra 'Manual das Almas Interiores', do Pe. Grou, 1932)

quarta-feira, 10 de maio de 2023

SERMÕES DO CURA D'ARS (X)

SOBRE A COMUNHÃO INDIGNA

Se todo o pecado mortal traz a morte à nossa alma, separando-a de Deus para sempre e cumulando-a de toda a espécie de desgraças, a que estado deve ser reduzido o mais terrível de todos os crimes, que é o sacrilégio? Ó meu Deus, quem pode fazer uma ideia do terrível estado de uma alma envolta pelo sacrilégio? Sim, diz-nos Jesus Cristo, quando virdes a abominação da desolação no lugar santo, predita pelo profeta Daniel, entendei-a bem. Ai de mim! Tendo escolhido o coração do homem para fazer dele a sua morada e o seu templo, Jesus Cristo previu, sem dúvida, as profanações e as abominações funestas que o demônio buscaria fazer aí pelo pecado; que pensamento triste e desolador para Deus! Mas a maior e mais terrível de todas as tristezas é prever que o seu adorável corpo e o seu precioso sangue seriam profanados. Ó meu Deus! Poderão os cristãos ser realmente culpados de um tal crime, que o próprio inferno nunca poderia inventar um semelhante? 

São Paulo deplorou-o no seu tempo. Um dia, não podendo fazer-lhes sentir toda a escuridão desse crime terrível, disse-lhes, chorando amargamente: Que tormento não receberia aquele que pusesse uma mão parricida no corpo de um Deus feito homem, aquele que ferisse esse coração... Ah, esse coração terno que nos ama até à cruz e que fez irromper o sangue das suas veias! Ah, esse sangue adorável derramado por nós, que nos santificou no santo batismo, que nos purificou no sacramento da penitência... parece impossível encontrar castigos suficientemente severos e cristãos capazes de tal crime. E eis que há um ainda infinitamente mais terrível: receber indignamente o adorável Corpo e o precioso Sangue de Jesus Cristo, profaná-lo, conspurcá-lo e degradá-lo. É possível este crime? Ah, pelo menos, é possível para os cristãos? Sim, há monstros de ingratidão que levam a sua cólera a tal extremo! Sim, se o bom Deus mostrasse as comunhões de todos os que estão aqui ao ar livre, ai de nós, quantos apareceriam com a sua sentença de reprovação escrita na sua consciência criminosa com o sangue de um Deus feito homem! Este pensamento nos faz estremecer e, no entanto, nada é tão comum como estas comunhões indignas; quantos têm a temeridade de se aproximar da Mesa Santa com pecados escondidos e disfarçados na confissão! 

Quantos não têm a tristeza do pecado que o bom Deus lhes pede; quantos não se esforçam por se corrigirem; quantos ainda conservam um desejo secreto de voltar a cair no pecado! Quantos não evitam as ocasiões de pecado e, no entanto, são capazes de os cometer? Quantos não guardam inimizades no seu coração aos pés da Mesa Santa? Examine a sua consciência e certifique-se se você já teve alguma dessas disposições ao se aproximar da Santa Comunhão; se já passou por esse infortúnio, meu filho, que termos eu poderia usar para fazê-lo sentir todo o horror disso? Ah! se me permitissem, iria ao inferno para lá arrebatar Judas infame e traidor ardendo devido ao adorável sangue de Jesus Cristo que tão horrivelmente profanou. Ah! se você pudesse ouvir os gritos e os uivos desse homem, se você pudesse perceber os tormentos que suporta por causa de seu sacrilégio, você morreria de medo. Então, o que será daqueles que, talvez durante toda a vida, não fizeram nada além de sacrilégio? Cristãos que vão me ouvir e que são culpados deste crime, ainda poderão viver bem? Sim, o sacrilégio é o maior de todos os crimes, pois ataca um Deus e o mata, e atrai sobre nós toda a sorte de desgraças.

Se eu estivesse a falar com idólatras ou mesmo com hereges, começaria por provar-lhes a realidade de Jesus Cristo no adorável sacramento da Eucaristia; mas não, ninguém de vocês tem a menor dúvida sobre isso. Ah se Jesus Cristo não estivesse lá para aqueles que se aproximam dele com tão mau estado de espírito; mas não, ele está lá, mesmo para aqueles que ousam se apresentar com o pecado em seus corações, assim como está para aqueles que se encontram em estado de graça. Quero apenas começar por citar um exemplo que fortalecerá a vossa fé nesta matéria e vos dará uma ideia das medidas que deveis tomar para não profanar este grande sacramento de amor. Conta-se que um sacerdote que estava a celebrar a Santa Missa, depois de ter pronunciado as palavras da consagração, duvidou que Jesus Cristo estivesse realmente presente em corpo e alma na Sagrada Hóstia; no mesmo momento, a Sagrada Hóstia ficou manchada de sangue. Jesus Cristo parecia querer, com tão grande milagre, repreender o seu ministro pela sua falta de fé e fortalecer os cristãos nesta verdade de fé: Ele está realmente presente na Sagrada Eucaristia. A Sagrada Hóstia derramou sangue tão abundantemente que o corporal, as toalhas do altar e o próprio altar ficaram manchados de sangue. Quando o Santo Padre foi informado deste fato, mandou levar o corporal para uma igreja, onde foi usado todos os anos na festa de Corpus Christi com grande veneração. Não, meu filho, tudo isto não é o mais necessário para você, porque ninguém o duvida; mas a minha intenção é mostrar-lhe o mais possível a grandeza e o horror do sacrilégio. Este conhecimento nunca será dado ao homem mortal; seria preciso que ele fosse o próprio Deus para o poder compreender; no entanto, para vos dar uma ligeira ideia, dir-vos-ei que aquele que tem esta grande desgraça comete um pecado mais ultrajante para o bom Deus do que todos os pecados mortais que se cometeram desde o princípio do mundo e os que se poderão cometer até ao fim dos séculos. É, pois, impossível mostrá-lo em toda a sua iniquidade; e, no entanto, como são comuns tais sacrilégios!

Se eu quisesse lhes falar, meu filhos, da morte corporal de Jesus Cristo, bastar-me-ia pintar-lhes um quadro dos tormentos que Ele suportou durante a sua vida; bastar-me-ia mostrar-lhes o seu pobre corpo todo em farrapos, tal como estava depois da flagelação, tal como está agora no madeiro da cruz; não seria preciso muito mais do que isso para tocar os vossos corações e fazer correr as vossas lágrimas. De fato, qual o pecador, o mais empedernido, que poderia resistir e não misturar as suas lágrimas com esse sangue adorável? ... Meus filhos, a morte que damos a Jesus Cristo pela comunhão sacrílega é ainda mais terrível e dolorosa. Quando estava na terra, só sofreu durante um certo tempo e só morreu uma vez; contudo, foi o seu amor que o fez sofrer e morrer; mas aqui, já não é a mesma coisa. Morre apesar de si mesmo, e a sua morte, longe de ser vantajosa para nós, como da primeira vez, torna-se a nossa desgraça, atraindo para nós toda a espécie de castigos, tanto neste mundo como no outro. Meu Deus, como somos cruéis para com um Deus tão bom! Quando pensamos na conduta desse apóstolo traiçoeiro que traiu e vendeu o seu divino Mestre, que durante muitos anos o tinha admitido no número dos seus favoritos mais queridos, que o tinha cumulado de tantos benefícios, que lhe tinha dado um cargo de preferência a outros, que tinha testemunhado tantos milagres! Quando nos lembramos, digo eu, das crueldades e barbaridades dos judeus, que fizeram a este divino Salvador tudo o que a raiva podia inventar de mais cruel, a este divino Salvador que tinha vindo a este mundo apenas para os salvar da tirania do demônio, para os elevar à gloriosa graça de filhos de Deus, não podemos senão considerá-los como monstros da ingratidão, dignos da execração do céu e da terra, e dos mais rigorosos castigos que o bom Deus pode infligir aos réprobos com todo o seu poder e justa cólera.

Mas eu vos digo que quem tiver a grande desgraça de comungar indignamente comete um crime ainda mais horrível do que o de Judas, que traiu e vendeu o seu divino Mestre, e ainda maior do que o dos judeus, que o crucificaram; porque Judas e os judeus pareciam ter ainda alguma desculpa para duvidar de que Ele fosse realmente o Salvador. Mas pode este cristão, este infeliz profanador, duvidar disso? Não são as provas da sua divindade suficientemente evidentes? Não sabem eles que, por sua morte, todas as criaturas pareciam ter sido renascidas por meio dela, que toda a natureza parecia ter sido aniquilada à vista da morte do seu Criador? Não foi a sua ressurreição manifestada por um número infinito dos mais impressionantes prodígios, que não podiam deixar dúvidas da sua divindade? Não foi a sua ascensão feita na presença de mais de quinhentas pessoas, quase todas derramando o seu sangue para apoiar estas verdades? Mas o miserável profanador nada sabe de tudo isso e, com todo o seu conhecimento, trai e vende o seu Deus e Salvador ao diabo e o crucifica em seu coração pelo pecado. Judas usou um beijo de paz para o entregar aos seus inimigos; mas o indigno comungante leva a sua crueldade ainda mais longe: depois de ter mentido ao Espírito Santo no tribunal da penitência, escondendo ou disfarçando um pecado qualquer, atreve-se, esse infeliz, a ir colocar-se entre os fiéis destinados a comer este pão, com um respeito hipócrita à vista! Ah, não, não, nada o detém, esse monstro da ingratidão; ele avança e consuma a sua condenação. Em vão, este terno Salvador, vendo-o aproximar-se, grita do fundo do seu tabernáculo, como ao pérfido Judas: 'Meu amigo, que fazes aqui? O que é que vais fazer, meu amigo, trair o teu Deus e o teu Salvador com um sinal de paz? Pára, pára, meu filho; ah, por favor, poupa-me'. Mas, não, não, nem os remorsos da sua consciência, nem as ternas censuras do seu Deus podem deter os seus passos criminosos. Ah, ele avança para mais uma vez matar o seu Deus e o seu Salvador! Oh, céu, que horror! Podeis suportar sem tremer este infeliz assassino do vosso Criador? Não é isto o cúmulo do crime e da abominação no lugar santo? O inferno, com toda a sua fúria, jamais poderia inventar algo assim; nem as nações idólatras jamais poderiam inventar algo assim por ódio ao verdadeiro Deus, se compararmos com os ultrajes que um cristão que comunga indignamente faz a Jesus Cristo.

... À perfídia de Judas, o indigno comungante acrescenta a ingratidão, a fúria e a malícia dos judeus. Ouçamos a terna censura que Jesus Cristo fez aos judeus: 'Por que me perseguis? É por ter iluminado os cegos, curado os coxos, restituído a saúde aos doentes, ressuscitado os mortos? Será então crime que eu vos tenha amado tanto?' É esta a linguagem que Jesus Cristo dirige aos profanadores do seu adorável corpo e do seu precioso sangue. E no entanto, diz-nos diretamente pela boca de um dos seus profetas que se tais insultos e afrontas tivessem sido feitos por inimigos ou por idólatras que nunca tiveram a felicidade de o conhecer, ou mesmo por hereges tangidos pelo erro, eles teriam sido menos sensíveis; 'mas vós' - Ele diria - 'vós que coloquei no seio da minha Igreja, vós que eu enriqueci com meus dons mais preciosos; vós que, pelo batismo, nascestes meus filhos e herdeiros do meu reino! Sois vós que atreveis a insultar-me com tão horrível sacrilégio? Quereis atingir o meu coração que vos amou até à morte? Filho ingrato, não estais ainda satisfeito com todas as crueldades que foram infligidas ao meu corpo inocente durante a minha dolorosa paixão? Esquecestes o estado deplorável a que fui reduzido depois da minha dolorosa e sangrenta flagelação, em que o meu corpo ficou como carne exposta? Esquecestes, filhos ingratos, os sofrimentos que tive de suportar ao carregar a minha cruz: tantos passos, tantas quedas e tantos sofrimentos? Esquecestes que morri no madeiro infame da cruz para vos salvar do inferno e vos abrir o céu? Ah, meu filho, não ficastes ainda tocado? Poderia eu ter levado mais longe o meu amor por ti? Meu filho; por favor, poupai o vosso Deus que tanto vos amou; porque me quereis dar uma segunda morte, recebendo-me com o pecado no vosso coração?'

... Mas, perguntaríeis vós, quem são estes que cometem esta grande desgraça? Quem poderia ser capaz de fazer tal coisa? E eu diria: sois vós, meu amigo, que contastes os vossos pecados com tão pouca dor e com tanta indiferença! Sois vós que, depois das confissões, volveis a cair no mesmo modo de vida fácil; que não mudais vosso modo de vida; que tendes sempre os mesmos pecados para contar em todas as vossas confissões... Quem é o culpado disso? Sois vós, homem da desgraça, que ousais fechar a boca antes de acusar vossos pecados. Quem é culpado disto? Sois vós, pobres cegos, que compreendestes que não contáveis os vossos pecados tal como os conhecíeis. Dizei-me, porque atreveis acercar-se à  Mesa Santa neste estado? Assim, neste estado, comungar? Quereis comungar; mas, miserável, onde quereis colocar o vosso Deus? Será que nos vossos olhos, que maculastes com tantos olhares impuros e adúlteros? Quereis comungar, mas onde quereis colocar o vosso Deus? Será que nas vossas mãos que maculastes com tantos sentidos infames? Quereis comungar, mas onde quereis colocar o vosso Deus? Será na vossa boca e na vossa língua? Ó grande Deus, uma boca e uma língua que tantas vezes profanastes com gestos impuros! Quereis comungar, mas onde quereis colocar o vosso Deus? Será no vosso coração? Ó horror! Ó abominação! Um coração escurecido e ressecado pelo crime, como um tição que se consome no fogo há quinze dias ou três semanas. Quereis comungar, meu amigo, quereis fazer vossa Páscoa? Quando Judas, o infame Judas, vendeu o seu divino Mestre, ficou como um homem desesperado até o entregar aos seus carrascos para ser condenado à morte ...Ai de mim, meu Deus, como é que uma pessoa culpada pode ir à Sagrada Comunhão para cometer o maior de todos os sacrilégios? São Paulo nos diz que, se os judeus tivessem conhecido Jesus Cristo como Salvador, nunca o teriam feito sofrer nem morrer; mas vós, meu amigo, podeis ignorar aquele que ides receber? Se não pensais nisso, pelo menos ouvi o sacerdote que fala em alta voz: 'Eis o Cordeiro de Deus, eis Aquele que tira os pecados do mundo'. Ele é o santo, ele é puro. Se és culpado, infeliz, não caminheis para a frente; se não sois, tremei para que os raios do céu não caiam sobre a vossa cabeça para vos castigar e lançar a vossa alma no inferno.

Meu amigo, sondai a vossa consciência, e vede em que estado está; vede se, ao deixar a Santa Mesa, comparecereis com confiança perante o tribunal de Jesus Cristo... Ao lhe dar uma ideia da magnitude do sacrilégio, não foi minha intenção afastá-lo da Sagrada Comunhão, mas apenas abrir os olhos daqueles que que o possam ter feito, de modo a reparar o mal que fizeram enquanto há tempo, e para trazer disposições ainda mais perfeitas para aqueles que têm a esperança de estarem isentos desse crime terrível. O que devemos concluir de tudo isso? Eis aqui: que façamos as nossas confissões e nossas comunhões como gostaríamos de fazê-las na hora da nossa morte, quando então compareceremos ante o tribunal de Jesus Cristo de modo que, almejando sempre fazer o bem, tenhamos o céu como recompensa.

terça-feira, 9 de maio de 2023

ORAÇÃO A JESUS PELA NOSSA SALVAÇÃO

ORAÇÃO A JESUS PELA NOSSA SALVAÇÃO

Divino Jesus, Filho Encarnado de Deus que, para a nossa salvação, vos dignastes nascer num estábulo, passar a vossa vida na pobreza, nas angústias e miséria, e morrer pelo suplício da cruz, dizei ao Vosso Pai Eterno, eu vo-lo conjuro, no momento da minha morte: 'Meu Pai, perdoai-lhe!'; dizei a Vossa Mãe querida: 'Eis vosso Filho!'; dizei a minha alma: 'Hoje estarás comigo no paraíso!'. Meu Deus, meu Deus, não me abandoneis nessa hora. Eu tenho sede: sim, meu Deus, a minha alma tem sede de Vós, que sois a fonte de águas vivas. A minha vida passa como a sombra; ainda um pouco de tempo e tudo estará terminado! Por isto, meu adorável Salvador, é que deponho o meu espírito nas Vossas mãos por toda a eternidade. Jesus, meu Senhor, dignai-vos receber a minha alma. Amém.

(Santo Afonso Maria de Ligório)

segunda-feira, 8 de maio de 2023

DOUTORES DA IGREJA (X)

  10São Boaventura, Bispo (†1274)

Doutor Seráfico

Concessão do título: 1588 - Papa Sisto V

Celebração: 15 de julho (Memória Obrigatória)

 Obras e Escritos  

  • Commentaria in Quatuor Libros Sententiarum - Comentário sobre os Quatro Livros de Sentenças [de Pedro Lombardo] (4 vols)
  • Itinerarium mentis in Deum - Itinerário da Mente para Deus
  • Christus Unus Omnium Magister
  • Breviloquium - Brevilóquio
  • De Reductione Artium ad Theologiam - Sobre a Redução das Ciências à Teologia
  • De perfecte evangelica - Sobre a Perfeição Evangélica
  • Collationes de decem praeceptis - Conferências sobre os Dez Mandamentos
  • Collationes in Hexaemeron - Conferências sobre Hexameron
  • Collationes de septem donis Spiritus sancti - Conferências sobre os Sete Dons do Espírito Santo
  • De mysterio Trinitatis - Sobre o Mistério da Trindade [Questões Disputadas]
  • De scientia Christi - Sobre o Conhecimento de Cristo [Questões Disputadas]
  • Apologia pauperum - Defesa dos Mendicantes
  • A Vida de São Francisco de Assis
  • Saltério à Virgem Maria
  • As Cinco Festividades do Menino Jesus
  • A Vinha Mística - Tratado sobre a Paixão de Nosso Senhor
  • Tratado de Preparação para a Missa
  • A Vida Perfeita e a Direção da Alma
  • Comentário ao Evangelho de Lucas
  • Comentário ao Evangelho de João
  • Comentário ao  Eclesiastes
  • Escritos sobre a Ordem Franciscana
  • Sermões e Orações