domingo, 28 de agosto de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Com carinho preparastes uma mesa para o pobre' (Sl 67)
 
 28/08/2022 - Vigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum 

40. 'QUEM SE HUMILHA SERÁ ELEVADO'


Humildade e mansidão são os frutos da fé para deleite de abundantes graças de Deus para aquele que vive a generosidade despojada dos que seguem a Jesus: 'Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração' (Mt 11, 29). Na parábola do Evangelho deste domingo, estas virtudes essenciais da graça são manifestas na transposição dos primeiros e dos últimos lugares de um grande banquete.

Diante do Filho de Deus vivo, os escribas e fariseus se preocuparam primeiro em ocupar lugares de honra à mesa. Eles observavam Jesus, eles tinham curiosidade, interesse e empenho em questionar Jesus por qualquer uma de suas palavras ou ações, mas não percebiam a própria insensatez e vaidade de suas ações primeiras: a busca desenfreada por ocupar os primeiros lugares, a vanglória de usufruir com pompas uma posição destacada na mesa de jantar, a jactância de se apropriar sem rodeios das melhores posições para exercerem, com maior júbilo e sem reservas, o desmedido orgulho de suas escolhas humanas.

Eis que Jesus os conclama a viver a humildade da vida em Deus, sem buscar os privilégios e os prestígios efêmeros do mundo: 'Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar... Mas, quando tu fores convidado, vai sentar-te no último lugar' (Lc 14, 8, 10). Como convivas do banquete, seremos provedores de honra ou da vergonha, dependendo da medida de nossa humildade ou da desdita de nosso orgulho: 'Porque quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado' (Lc 14, 11).

E a humildade não pode prescindir do despojamento, da generosidade desinteressada, da mansidão. A mão que estende a dádiva não se curva à retribuição; a ação de oferta não se compraz da gratidão; a semente que gerou fruto não impõe recompensa alguma. Oferece o 'banquete' de seus dons e talentos aos pobres, e aleijados, e coxos, e cegos...'porque eles não te podem retribuir' (Lc 14, 14). Assim, sem a gratidão e os louvores humanos, o homem sábio ajunta tesouros e a recompensa eterna na ressurreição dos justos.

sábado, 27 de agosto de 2022

ÁGUAS DE DOWN

Quando um pequeno riacho nasce no alto da montanha, as suas águas são tranquilas e cristalinas e, ao longo dos declives e das  depressões dos terrenos a jusante, tomam vulto, assumem a dimensão dos redemoinhos, acolhem águas já não muito tranquilas e se arrebentam contra outras nem de longe cristalinas. E vira um rio. Um rio de muitas águas, um rio de incertas e tormentosas correntezas e quedas memoráveis.

A vida humana comumente é assim. Somos rios, ou melhor, ficamos rios, de tormentosas e desvairadas correntezas e abismos. Somos águas barrentas e tumultuadas, os vórtices e redemoinhos nos cumulam de realidades cotidianas, nos precipitamos em corredeiras ou cascatas com o subterfúgio ou a salvaguarda de fazer, por nós mesmos, o trajeto, o ritmo e a rebentação do rio que somos. Chamamos isso de vida e vivemos assim.

Mas nem todos somos rios, nem todos ficamos rios de correntezas descuidosas. Porque nem todos os pequenos riachos acumulam vertigens terreno abaixo; porque nem todos os riachos meandram para acolher além as suas águas mais remotas. Há riachos que permanecem riachos no alto da montanha. São e serão os riachos das grandes alturas, as surgências que se moldam pela pequenez, pela simplicidade, pela serenidade do curso, pelas águas cristalinas.

Estes pequenos riachos são as portentosas obras de Deus na vida dos homens comuns, que vivem os rios da incerteza. São aquelas crianças nascidas como especiais, são as crianças autistas, com problemas neurológicos, com síndrome de Down. Que, à nossa volta, encontram-se tão distantes de nós porque vivem no cimo das nascentes, nas fontes das águas puras das grandes montanhas. Que não falam a nossa linguagem pois se camuflaram contra os tormentos e os abismos da alma humana; que não compartilham nossas ideias e nossas crenças porque não se alimentam do desvario dos vórtices e dos redemoinhos das águas em desatino; que não vivem a nossa vida costumeira porque não são feitos de barro, cascalho e detritos.

São crianças especiais, porque são criaturas especiais de Deus, são os dons especiais de Deus. O amor humano manifestado a cada uma delas - desmedido, completo e absolutamente sem amarras ou inquietudes humanas - é um amor tão particularmente humano, que tem o sopro divino. Um amor que faz retornar rios tempestuosos à origem, que transporta mentes em redemoinho à calmaria das montanhas mais elevadas da alma. Para mergulhar as mãos em águas serenas, para beber de águas cristalinas, para ver e estar com Deus pairando sobre as águas.

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

'EU SOU O SENHOR TEU DEUS'


'Eu sou o Senhor, sem rival, não existe outro Deus além de mim. Eu te cingi, quando ainda não me conhecias, 

a fim de que se saiba, do levante ao poente, que nada há fora de mim. Eu sou o Senhor, sem rival; 

formei a luz e criei as trevas, busco a felicidade e suscito a infelicidade. Sou eu o Senhor, que faço todas essas coisas. 

que os céus, das alturas, derramem o seu orvalho, que as nuvens façam chover a vitória; abra-se a terra e brote a felicidade e, ao mesmo tempo, faça germinar a justiça! Sou eu, o Senhor, a causa de tudo isso

ai daquele que discute com quem o formou, vaso entre os vasilhames de terra! Acaso diz a argila ao oleiro: 'Que fazes?'. Acaso diz a obra ao operário: 'És incompetente?'

ai daquele que ousa dizer a seu pai: 'Por que me geraste?' E à sua mãe: 'Por que me concebeste?'

eis o que diz o Senhor, o Santo de Israel e seu criador: 'Pretendeis pedir-me conta do futuro, ditar-me um modo de agir?'

fui eu quem fez a terra, e a povoou de homens; foram minhas mãos que estenderam os céus, e eu comando todo o seu exército'.

(Isaías 45, 5 - 12)

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

AS FLORES E O GATO GIGANTE

'Sonhei que estava no pátio cercado por meus alunos e que cada um deles tinha uma flor na mão. Alguns tinham uma rosa, outros um lírio; alguns tinham uma violeta e muitos, uma rosa e um lírio juntos. De repente, apareceu um enorme gato com chifres, do tamanho de um cachorro, com os olhos acesos como uma chama, com unhas grandes e grossas, e sua barriga era anormalmente deformada.

O gato gigante aproximou-se traiçoeiramente dos jovens e, circulando em volta deles, foi um a um, agarrando a flor que cada um segurava e as jogava ao chão. Diante de tal aberração, senti um grande medo e me chamou muito a atenção de que os jovens, cujas flores eram roubadas, permaneciam indiferentes e sem reação.

Quando percebi que o grande felino estava vindo em minha direção, para também roubar as minhas flores, quis fugir, mas uma voz me disse: 'Não fuja. Diga aos meninos para levantarem as mãos e os braços para que o gato gigante não possa pegar as suas flores'. Parei e levantei o braço. O grande felino fez um esforço imenso para pegar as flores que eu tinha na mão, mas, como era demasiado pesado e empanturrado, caiu desajeitadamente no chão.

E me foi dito que o lírio ou a flor que carregamos nas mãos é a santa virtude da pureza ou castidade, contra a qual o diabo continuamente faz guerra. Quem levanta a mão e se defende é quem reza, confessa, assiste à missa e comunga. E quem não levanta a mão e deixa roubar as suas flores são os que comem e bebem com avidez e passam o tempo sem fazer nada, sem se dedicar seriamente ao estudo e ao trabalho que têm a fazer. São aqueles que se envolvem em conversas ruins ou leem maus livros ou revistas impuras; aqueles que não fazem mortificações ou sacrifícios, e não evitam ocasiões de pecado; estes ficam sem levantar a mão e são roubados pelo diabo.

Jesus disse: 'Certos espíritos malignos não vão embora a não ser com oração e sacrifício'. Recomendo a todos que levantem o braço em oração devotamente todas as manhãs e todas as noites; confessando-se com frequência e comungando com fervor, fazendo uma visita diária a Nosso Senhor Sacramentado no Templo, rezando o Santo Rosário e dedicando-se cuidadosamente ao estudo e a fazer o que cada um deve fazer. Isso fará com que a santa virtude da castidade e pureza seja preservada, não importa quantos ataques o diabo possa empreender contra ela.

(Dos Sonhos de Dom Bosco)

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (XLI)

ESTRELA DA MANHÃ, rogai por nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XXXVIII)

Capítulo XXXVIII

Razões da Expiação no Purgatório - Faltas em Matéria de Justiça - Padre D'Espinoza e a Bolsa para Pagamentos - Santa Margarida de Cortona e os Dois Mercadores Assassinados

Uma multidão de revelações nos mostra que Deus castiga com rigor implacável todos os pecados contrários à Justiça e à Caridade e que, em questões de Justiça, Ele parece exigir que a reparação seja feita antes que a pena seja remitida; assim como, na Igreja Militante, os seus ministros devem exigir a restituição de modo a remir a culpa, de acordo com o axioma que 'sem restituição, não há remissão'.

Padre P. Rossignoli nos fala de um religioso de sua Ordem, chamado Augustin d'Espinoza, cuja vida santa consistia em uma ato contínuo de devoção às almas do Purgatório. Um homem rico que se confessou com ele, tendo morrido sem ter regulado suficientemente os seus negócios, apareceu-lhe de certa vez, perguntando-lhe primeiro se o conhecia. 'Certamente' - respondeu o religioso - 'Eu administrei o Sacramento da Penitência a você alguns dias antes da sua morte'. 'Pois você deve saber, então' - acrescentou a alma - 'que venho à sua presença por uma graça especial de Deus, para conjurá-lo a apaziguar a sua Justiça e fazer por mim o que não posso mais fazer por mim mesmo. Por favor, você pode me seguir?'

O sacerdote foi primeiro informar ao seu superior o que estava sendo pedido a ele e também para pedir permissão para seguir o estranho visitante. Obtida a permissão para sair do convento, saiu e seguiu a aparição, que, sem pronunciar uma única palavra, o conduziu a uma das pontes da cidade. Ali pediu ao sacerdote que o esperasse um pouco, desaparecendo por um momento e retornando depois com uma bolsa de dinheiro, entregando-a ao sacerdote para a carregasse, e voltaram ambos para o convento. Então, o falecido deu-lhe um bilhete escrito e mostrou-lhe o dinheiro. 'Tudo isso' - disse ele - 'está à sua disposição. Tenha a caridade de tomá-lo para pagar os meus credores, cujos nomes estão escritos neste papel, com o valor devido a cada um. Utilize o valor remanescente para fazer boas obras ao seu critério, para o descanso de minha alma'. E, com essas palavras, desapareceu.

Mal haviam transcorrido oito dias quando o padre d'Espinoza recebeu outra visita da mesma alma. Ele agradeceu ao sacerdote toda a sua dedicação: 'Graças à exatidão caritativa com que pagaste as dívidas que deixei na terra, graças também às santas missas que celebraste por mim, estou livre de todos os os meus sofrimentos e sou agora admitido na bem-aventurança eterna'.

Encontramos um exemplo desta mesma natureza na Vida da Beata [Santa] Margarida de Cortona. Esta ilustre penitente também se distinguiu pela caridade para com as almas que partiram. Elas apareceram para ela em grande número, para implorar a sua ajuda e sufrágios. Um dia, entre outros, viu-se diante de dois viajantes, que lhe suplicaram que os ajudasse a reparar as injustiças deixadas em sua conta. 'Somos dois mercadores' - disseram a ela - 'que foram assassinados na estrada por bandidos. Não podíamos confessar ou receber a absolvição; mas pela misericórdia de nosso Divino Salvador e de Sua Santa Mãe, tivemos tempo de fazer um ato de contrição perfeita e fomos salvos. Mas os nossos tormentos no Purgatório são terríveis porque, no exercício da nossa profissão, cometemos muitas injustiças. Até que esses atos sejam reparados, não podemos ter repouso e nem alívio. É por isso que te rogamos, serva de Deus, que possas ir ao encontro de nossos parentes e herdeiros, para adverti-los a fazer a restituição o mais rápido possível de todo o dinheiro que adquirimos injustamente'. Forneceram em seguida todas as informações necessárias sobre estes herdeiros e desapareceram. 

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)

terça-feira, 23 de agosto de 2022

PARA SER UM HOMEM ETERNO... (VII/Final)

    ... SEJA UM FILHO AMOROSO DE NOSSA SENHORA

Todas as coisas que falamos anteriormente são pontes seguras e luminosas para a eternidade junto de Deus. Aquele que se nutre do recolhimento e de vida interior, que se molda pelo sofrimento sem se abater pelas provações desta vida; aquele que se faz homem de oração e coloca em obras a sua fé cristã autêntica; aquele que possui alma de apóstolo, promove a caridade e se conduz em tudo nesta vida com os olhos na eternidade é um Homem Eterno.

Mas, além de todos estes bons e santos caminhos, há um que é uma escada direta para o Céu: amar e viver na presença de Nossa Senhora. Participar e compartilhar a graça de aprender o silêncio, a humildade, a fé e a esperança da Virgem Maria. Tomá-la como guia e exemplo, clamar pelo seu amparo, invocar a sua intercessão como medianeira e advogada nossa, como nossa mãe e como Mãe de Deus.

A eternidade é o único triunfo que vale tudo, a casa de todas as moradas, a fonte de todos os tesouros, a Jerusalém Celeste dos filhos de Deus. Este é a única coisa que tem valor nesta vida: uma vez alcançada, temos tudo; uma vez perdida, não temos nada. Não há meios termos, não há padrões intermédios: Deus nos criou como criaturas destinadas à sua glória e a glória divina não tem medidas porque é infinita. Deus é tudo e nos dá tudo, sem perda alguma. Isto é a eternidade com Deus: Deus infinito conosco. Aquele que se nega a ter tudo, não pode almejar ter um pouco de nada: sem Deus, resta apenas o mergulho medonho no vazio e nas trevas eternas; e isso é o inferno.

Não há caminho mais breve e nem meio mais fácil de encontrar a eternidade de Deus do que com Nossa Senhora por guia. Quem pode interceder melhor por nós junto de Deus do que a Mãe de Deus? A mãe de Jesus Cristo, a Senhora da Misericórdia? Que glória maior pode dar uma alma na eternidade do aquela que foi resgatada por meio da misericórdia divina derramada pelas mãos da Virgem Maria? Almas de Deus em primeiro lugar; e almas prediletas de Maria.

Para ser um homem eterno... seja um filho amoroso de Nossa Senhora. Um filho que ame profundamente a Mãe do Céu. Que aprenda com o exemplo da Mãe, que reze com ela e por ela, que molde a sua vida pela vida dela. Um vida de recolhimento, de silêncio, de oração. Seja um filho amoroso. Que faça o amor a Maria ser uma espada da fé cristã: amar Nossa Senhora de todo o coração, com todas as suas forças e aspirações e a amando-a por completo, na infinitude humana do amor pelo amor infinito de Deus.

Ame, louve e se encante com a Mãe de Deus como um filho amoroso. Um amor que não precisa de exposição, de exterioridades, das palavras humanas, mas feito de silêncio, de recolhimento e de oração, porque era assim o amor de Nossa Senhora por Jesus e foi, esse amor, a obra prima da criação divina entre os homens. A essa Senhora de muitos nomes e muitas honras e louvores, seja um filho de amor sem medidas. Com tal e tanto amor que ela possa ser 'sua' ou, na verdade, 'minha'. Que ela seja 'minha'. Particularmente minha, 'Minha Nossa Senhora...' Eis aí o homem eterno dos homens eternos, aquele que será tudo em Deus como alma predileta de Maria.