domingo, 10 de janeiro de 2021

EVANGELHO DE DOMINGO

 

'Que o Senhor abençoe, com a paz, o seu povo!' (Sl 28)

 10/01/2021 - Batismo do Senhor

7. BATISMO DO SENHOR


No Evangelho do Batismo do Senhor, encerra-se na liturgia o tempo do Natal. João Batista, nas águas do Jordão, realizava um batismo de penitência, de ação meramente simbólica, pois não imprimia ao batizado o caráter sobrenatural e a graça santificante imposta pelo Batismo Sacramental, instituído posteriormente por Nosso Senhor Jesus Cristo: 'Depois de mim virá alguém mais forte do que eu. Eu nem sou digno de me abaixar para desamarrar suas sandálias. Eu vos batizei com água, mas ele vos batizará com o Espírito Santo' (Mc 1, 7-8).

O Batismo de Jesus constitui, ao contrário, um ato litúrgico por excelência, pois o Senhor se manifesta publicamente em sua missão salvífica. Chega ao fim o tempo dos Profetas: o Messias tão anunciado torna-se realidade diante o Precursor nas águas do Jordão. E o batismo de Jesus é um ato de extrema humildade e de misericórdia de Deus: assumindo plenamente a condição humana, Jesus quis ser batizado por João não para se purificar pois o Cordeiro sem mácula alguma não necessitava do batismo, mas para purificar a humanidade pecadora sob a herança dos pecados de Adão. Ao santificar as águas do Jordão e nelas submergir os nossos pecados, Jesus santificou todas as águas do Batismo Sacramental de todos os homens assim batizados.

Jesus foi batizado por João no rio Jordão. Ao sair da água, 'viu o céu se abrindo e o Espírito, como pomba, descer sobre ele' (Mc 1, 10). À ação do Espírito Santo, conformada na forma de uma pomba, complementa-se de imediato a manifestação dos sagrados mistérios da Santíssima Trindade, pela voz que vem do Céu: 'Tu és o meu Filho amado, em ti ponho meu bem-querer' (Mc 1, 11). No batismo do Jordão, manifesta-se em plenitude a divindade de Cristo. 

Eis a síntese da nossa fé cristã, legado de Deus a toda a humanidade, sem distinção de pessoas: 'ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença' (At 10, 35). No Jordão, o céu se abriu para o Espírito Santo descer sobre a terra. No Jordão, igualmente, manifestou-se por inteiro o perdão e a misericórdia de Deus e a graça da salvação humana por meio do batismo. E, com o batismo de Jesus, tem início a vida pública do Messias preanunciado por gerações. Esta liturgia marca, portanto, o início do Tempo Comum, período em que a Igreja acompanha, a cada domingo e a cada semana, as pregações, ensinamentos e milagres de Jesus sobre a terra, o tempo em que o próprio amor de Deus habitou em nós.

sábado, 9 de janeiro de 2021

DICIONÁRIO DA DOUTRINA CATÓLICA (XIX)

 

SACRAMENTAL

É uma coisa ou uma ação de que a Igreja costuma servir-se para obter efeitos, principalmente espirituais. As coisas são os objetos benzidos: a água benta, os escapulários, medalhas, Agnus Dei, velas ou ramos bentos, etc. As ações são as bênçãos que os Ministros Sagrados fazem sobre as pessoas ou sobre as coisas que consagram ao culto divino. Os Sacramentais foram instituídos pela Igreja; são úteis mas não necessários; podem obter a graça de Deus, mas só por virtude da oração da Igreja e da piedade de quem a reza. Os seus principais efeitos são: o perdão dos pecados veniais, a colação da graça atual, a preservação de males de ordem temporal, a separação de coisas e de pessoas do uso profano, o afastamento do demônio para que não nos moleste. O Apóstolo São Paulo ensina que 'toda a criatura é santificada pela palavra de Deus e pelas orações' (1Tm 4, 4-5) e é precisamente a oração que acompanha as bênçãos da Igreja que atrai sobre os Sacramentais a virtude que têm de produzir os seus efeitos de santificação.

SACRAMENTO

É um sinal sensível que, por instituição divina, tem a virtude de significar e produzir a graça. Quem recebe um Sacramento recebe a graça de Deus, que faz santo aquele que o recebe dignamente e produz nele o efeito próprio de cada sacramento. Foi esse o fim porque Jesus Cristo os instituiu. São sete: Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência, Extrema-Unção [Unção dos Enfermos], Ordem e Matrimônio. Pelo Batismo, que apaga o pecado original, o homem nasce para a vida espiritual e sobrenatural; pela Confirmação, robustece e cresce na vida sobrenatural; pela Comunhão, alimenta a vida espiritual; pela Penitência, recebe o perdão dos pecados; pela Extrema-Unção, limpa os restos do pecado; pela Ordem, é confiado a alguns fieis o poder de reger e dirigir os outros na sociedade religiosa; o Matrimônio torna legítimos os atos da geração e santifica a propagação do gênero humano. Pelos sete sacramentos, Jesus Cristo providenciou acerca da vida sobrenatural do homem como ser individual e social.

SACRÁRIO

É o tabernáculo ou pequeno armário colocado sobre o altar para nele se conservar a Sagrada Eucaristia. Deve ser de metal ou de madeira dourada e forrado por dentro de seda branca; dispensa-se, porém, o forro de seda, se for dourado interiormente. Dentro do sacrário, está um pequeno vaso chamado cibório ou píxide, sobre um corporal, contendo a Sagrada Eucaristia e não pode estar mais nada. Deve estar sempre coberto com um pavilhão, que pode ser sempre de cor branca ou, mais preferível, da cor dos paramentos litúrgicos do dia. Diante do sacrário não se pode colocar a cruz, nem vasos de flores, nem quaisquer objetos. É também proibido sobrepor-lhe qualquer objeto (com exceção da cruz). Só pode haver um em cada igreja, e há de estar colocado de modo inamovível, no altar-mor ou principal, exceto nas igrejas em que haja colegiada ou nas sés episcopais, onde deve estar em altar lateral. Convém todavia que na igreja haja outro sacrário, que possa receber o Santíssimo em alguma circunstância inesperada. O sacrário deve ser benzido.

SACRIFÍCIO

É a oblação externa de uma coisa sensível com a sua destruição ou mudança, feita exclusivamente a Deus pelo legítimo Ministro, em reconhecimento do seu supremo domínio sobre todas as criaturas. Há também um sacrifício interior, invisível, o qual consiste na oferta que fazemos a Deus de nós mesmos, para vivermos unidos a Ele e fazermos a sua vontade. O único Sacrifício da Religião Cristã é a oblação do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, debaixo das espécies do pão e do vinho consagrados na Missa, Sacrifício que fica completo com a comunhão do sacerdote que, em nome de Jesus Cristo mesmo, o oferece. Pode entender-se por sacrifício qualquer ato em honra de Deus para o aplacar, assim como todos os obséquios feitos ao próximo enquanto se referem a Deus, e também qualquer mortificação. O homem precisa de fazer sacrifícios por causa da remissão dos pecados, da conservação da graça e da consecução da glória eterna.

SACRILÉGIO

É a profanação das coisas santas ou consagradas a Deus ou a violação ou mau trato de pessoas ou coisas sagradas, enquanto sagradas. É pessoal, real ou local, segundo é praticado em pessoa, em coisa ou em lugar consagrados a Deus. É pecado mortal porque constitui grave irreverência às pessoas, coisas ou lugares consagrados ao culto divino. Porém, para se julgar da gravidade do pecado é preciso atender ao grau de santidade da pessoa, da coisa ou do lugar violados, ao grau de irreverência e à intenção do agente.

SALMOS DE DAVI

São os salmos que compõem um livro da Sagrada Escritura, no Antigo Testamento. São 150, e chamam-se de Davi porque foi este Rei quem compôs a maior parte deles. Os Salmos são a forma antiquíssima de orar publicamente, usada no tempo da sinagoga. Estão cheios da moral mais pura, respiram o espírito de piedade, despertam todos os sentimentos dignos de um coração cristão. Os Salmos formam a oração oficial da Igreja na recitação do Ofício divino e em muitas orações litúrgicas.

SANTA SÉ OU SEDE APOSTÓLICA

Por esta designação, entende-se o Romano Pontífice, as Congregações Romanas, os Tribunais e Ofícios, pelos quais o Romano Pontífice costuma tratar os negócios da Igreja.

SECULARIZAÇÃO

É o indulto concedido pela Santa Sé aos religiosos de direito pontifício ou pelo Bispo aos de direito diocesano, o qual tem por efeito separar perpetuamente o religioso da Ordem ou da Congregação a que pertencia, voltando ao estado secular.

SIGILO SACRAMENTAL

É o absoluto segredo que o confessor guarda de tudo o que conhece por meio da confissão sacramental e de cuja revelação pode resultar gravame ao penitente. Assim determina o Código de Direito Canônico: o sigilo sacramental é inviolável; por isso acautele-se diligentemente o confessor, para que nem por palavra, nem por escrito, nem por sinal ou qualquer outro modo, nem por motivo nenhum denuncie o pecador. A mesma obrigação têm o intérprete e todos aqueles que de qualquer modo tiverem notícia da confissão. É inteiramente proibido ao confessor o uso da ciência adquirida pela confissão, com gravame do penitente, excluído mesmo o perigo de revelação. Nem pode o confessor ser testemunha, em tribunal, dos penitentes que confessa ou do que soube pela confissão sacramental.

SÍLABO

É a coleção de 80 proposições que contêm os principais erros modernos condenados pelo Papa Pio IX e publicado em 1864. São erros em defesa do panteísmo, do socialismo, do naturalismo, do comunismo, das sociedades secretas e erros contra os direitos da Igreja sobre a sociedade civil, sobre o casamento civil e vários outros. Condenados como estão pela suprema Autoridade da Igreja, nenhum católico os pode defender nem admitir.

SIMONIA

É a deliberada vontade de comprar ou vender alguma coisa espiritual (como a graça e os sacramentos,) ou coisa temporal anexa a coisa espiritual (como o cálice consagrado, por causa da consagração, um benefício eclesiástico, etc.). É pecado mortal, por falta de reverência para com as coisas divinas, tais como a consagração do cálice. Mas não há simonia quando se dá alguma coisa espiritual, segundo legítimo costume reconhecido pela Igreja. Como não há simonia comprando, por exemplo, um cálice consagrado pelo preço do cálice, sem aumento por causa da consagração. 

SÍNODO DIOCESANO

É a assembleia, presidida pelo bispo, na qual tomam parte os sacerdotes que a isso têm direito. Deve ser celebrado em cada diocese ao menos de dez em dez anos. No sínodo são tratados assuntos que dizem respeito às necessidades particulares ou à utilidade do clero e do povo dessa diocese. É convocado e presidido pelo bispo, que é o único legislador nos sínodos, tendo somente voto consultivo os sacerdotes convocados.

SINÓTICOS (Evangelhos)

Dá-se este nome à narração evangélica dos três primeiros Evangelistas porque, dispondo em três colunas os textos das partes comuns, obtém-se uma sinopse (vista de conjunto) concordante em muitos 
pontos.

SOBREPELIZ

É uma veste litúrgica de tecido branco que, entrando pela cabeça, desce dos ombros até aos joelhos, com mangas compridas e largas. É conveniente que seja de linho ou de cânhamo.

SUBDIACONATO

É a Ordem que confere o poder de preparar, nos vasos sagrados, a matéria do Sacrifício da Missa, de cantar a Epístola na Missa solene, de purificar os sanguíneos e os corporais e de oferecer o cálice com a patena ao Diácono nas Missas cantadas. O Subdiaconato só pode ser recebido depois do 3.° ano do curso teológico e com a idade de 21 anos completos.

SUFRÁGIO

É toda a obra feita com a intenção de prestar alívio às almas que sofrem no Purgatório. O Segundo Livro dos Macabeus (Mc 12, 43) ensina que é santo e salutar o pensamento de orar pelos defuntos, para que lhes sejam perdoados os pecados, isto é, para que sejam aliviados das penas que sofrem por causa dos seus pecados. As almas que estão no Purgatório permanecem em união de caridade com os que ficaram neste mundo; podemos por isso, e devemos, usar de caridade para com elas, pois lhes são proveitosas as nossas boas obras. As principais, que têm o nome de sufrágios, são: a Missa, a Sagrada Comunhão, a oração, os atos de piedade, os sacrifícios próprios, a esmola e as indulgências. Para que as orações e boas obras dos fiéis aproveitem às almas do Purgatório, é necessário que quem as faz esteja na graça de Deus e tenha intenção de aplicá-las a essas almas.

SUPERSTIÇÃO

Vulgarmente dá-se o nome de superstição a certas crenças ou preconceitos que não têm nenhum fundamento sério, como o número 13 à mesa, o azeite cair no chão e coisas semelhantes. A superstição é uma espécie de culto prestado, direta ou indiretamente, ao demônio, com o fim de obter por meio de certas práticas uma coisa que se deseja. Praticam a superstição os feiticeiros, os adivinhos, os mágicos e os que a eles recorrem. Detestem os fiéis todas e quaisquer práticas supersticiosas. Desprezem as cartas ou escritos em que se propõem certas orações de piedade para serem distribuídas a certo número de pessoas para se conseguir algum bem ou evitar algum mal. Detestem especialmente a consulta de espíritos e as sessões de espiritismo, quer nas mesmas intervenha médium, quer não. Incorrem em excomunhão, ipso facto [pelo próprio ato em si] os que tomarem parte ativa nas sessões de espiritismo ou as promoverem ou apenas assistirem a elas.

(Verbetes da obra 'Dicionário da Doutrina Católica', do Pe. José Lourenço, 1945)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

SOBRE O ÓDIO E O DESEJO DE VINGANÇA

O amor que devemos ter aos  nossos inimigos nos força a depor por terra todo ódio de inimizade e todo o desejo de vingança. O ódio por inimizade, também chamado de malevolência, é aquele pelo qual se deseja algum mal a uma certa pessoa por considerá-la má em essência. Como é um sentimento que se opõe ao amor de benevolência e à amizade, constitui a forma mais extrema de ódio a uma pessoa. Impõe-se sempre, em nome da caridade, depor por terra e de imediato esse ódio de inimizade, pelas seguintes razões expostas:

(i) pelas Sagradas Escrituras: 

São João afirma expressamente que 'quem odeia o seu irmão é assassino. E sabeis que a vida eterna não permanece em nenhum assassino' (I Jo 3,15) e ainda 'Se alguém disser: “Amo a Deus”, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê. Temos de Deus este mandamento: o que amar a Deus, ame também ao seu irmão' (I Jo 4, 20-21).

(ii) pelos argumentos teológicos:

O ódio de inimizade se opõe diretamente à caridade e constitui, por si mesmo, uma grave desordem moral. Entretanto, poderia ser um pecado leve seja pela imperfeição do ato (por faltar vontade ou consentimento explícitos) seja por uma eventual falta de materialidade grave (desejo de danos de pequena monta, por exemplo), embora tal proposição possa ser, nestes casos, discutível e muito perigosa.

Como corolário, tem-se que o ódio de inimizade é intrinsecamente mal, por não ser lícito desejar ao próximo nenhum mal enquanto mal, mas é possível desejar a alguém algum mal físico ou temporal (nunca espiritual) para a sua correção (por exemplo, uma enfermidade para uma pessoa se arrepender de sua má vida) ou mesmo a morte de um perseguidor da Igreja, visando o fim do sofrimento de muitos (embora seja melhor rogar pela sua conversão) ou ainda na intenção do bem de alguns em detrimento de um só (por exemplo, desejar um castigo para um pai de família que ameaça e afronta continuamente sua esposa e os seus filhos).

Não  sendo lícito desejar o mal ao inimigo, tampouco se pode amaldiçoá-lo. A maldição é, em si, um pecado mortal contra a caridade, à qual se opõe diretamente. No entanto, na prática, pode também constituir pecado menos grave (venial) por imperfeição do ato, porque fruto de uma raiva momentânea e não constituir uma vontade definitiva. Entretanto, mesmo tais atos devem ser obstados e corrigidos com energia, por razões de se evitar o escândalo e muitos outros inconvenientes que carregam consigo.

Em relação ao desejo de vingança, eis aqui a luminosa doutrina exposta por São Tomás sobre o tema: 'A vingança é exercida por uma má pena imposta ao culpado, a qual deve levar em conta a intenção de quem a exerce. A busca por impor algum mal ao culpado e se regozijar por isso é absolutamente ilícito, porque isso é apenas ódio, que se opõe à caridade que devemos ter para com todos os homens... A razão de tudo isso é que não podemos ir contra alguém que nos infligiu um mal primeiro, pois isso nos é proibido pelas palavras do apóstolo: 'Não te deixes vencer pelo mal, mas triunfa do mal com o bem' (Rm 12,21). Por outro lado, se a intenção da pessoa que executa a vingança é conseguir o bem do culpado por meio da punição, pois estaria conseguindo a sua emenda ou, pelo menos, sua contrição, a tranquilidade dos demais e o exercício da justiça e da honra devida a Deus, então a vingança pode ser lícita, levando-se em conta outras devidas circunstâncias.

(Excertos da obra 'Teologia da Caridade', de Antonio Royo Marin)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

Ó mundanos, amadores do tempo e das coisas que com ele passam e totalmente esquecidos do eterno, lembrai-vos que há de vir um dia, que será cláusula de todos os dias e princípio de duas eternidades, uma de suma felicidade e outra de miséria suma, uma nas alturas louvando a Deus, outra blasfemando a Deus nas profundezas. Vós outros que consumis os dias e os anos em vosso deleite e armais dilações à penitência de hoje para amanhã, de amanhã para outro dia e outro ano e muitos anos, ó que mau é o vosso engano agora e que pior será então o vosso desengano? Há de chegar (é certo) aquele estado, onde não há amanhã, nem tarde, hoje e nem ontem, nem séculos, nem anos, nem dias, nem horas, nem diferença alguma de tempo, senão uma duração fixa e interminável, ou sempre gozando de Deus ou sempre ardendo em fogo. Temamos estes sinais à vista de tão horrendo significado e empreguemos os breves espaços da vida temporal como quem há de vir a parar nos sem limites da vida eterna.
(Pe. Manuel Bernardes)

TESOURO DE EXEMPLOS (43/45)

 

43. SENHORA, SEDE VÓS A MINHA MÃE

Era no mês de novembro. Amarelas e secas caíam as folhas das árvores, como secas e murchas caem do coração as ilusões da vida, quando se aproxima o inverno da velhice. Em Ávila, numa nobre casa, está agonizando na primavera da vida uma distinta e piedosa senhora: dona Beatriz Ahumada. Os sacerdotes, ali reunidos, rezavam as orações dos agonizantes, quando aquela senhora abriu os olhos, olhou ao redor de si e com voz apagada, disse:

➖ Teresa! Chamem a Teresa!

Uma menina de uns doze anos, de singular modéstia e extraordinária formosura, penetrou no quarto e aproximou-se da cabeceira da mãe agonizante. Esta, fixando a filha, e como se Nosso Senhor lhe revelasse os futuros destinos daquela menina, exclamou: 

➖ Bendita... bendita! E expirou.

Levantando-se a menina desfeita em pranto, beijou pela última vez aquelas mãos frias e retirou-se a um aposento, onde havia um quadro de Nossa Senhora pendurado à parede. Ali deixou correr livremente suas lágrimas. Depois, erguendo os olhos com inefável ternura e uma fé imensa, disse do fundo da alma estas comovedoras palavras:

➖ Senhora, eis que já não tenho mãe; sede vós a minha mãe daqui em diante.

Aquela menina, protegida da Mãe do Céu, veio a ser uma das maiores mulheres da História, Santa Teresa de Jesus, que mereceu as honras dos altares. Tanto bem lhe adveio por haver tomado a Maria Santíssima por Mãe desde os primeiros dias de sua vida.

44. NÃO CHORES, MINHA MÃE

Carlos, menino muito devoto de Nossa Senhora, caiu gravemente doente. Seus pais, sumamente aflitos e angustiados, levaram-no ao hospital. Chegaram os médicos, examinaram o enfermo e disseram:

➖ É preciso operá-lo; seu estado é grave.

Fizeram-se os preparativos e o enfermeiro já estava pronto para dar-lhe clorofórmio, que é um líquido que faz o doente adormecer e ficar insensível às dores da operação, quando o menino começou a falar:

➖ Não, respondeu, não quero clorofórmio; garanto-lhes que ficarei quietinho. e dirigindo-se à mãe, que estava do lado, disse:
➖ Mamãe, dá-me o crucifixo; quero sofrer por Jesus.

Durante toda a operação, não se queixou nem chorou, mas oferecia a Deus as suas dores, com os olhos fixos no Crucifixo. Os médicos ficaram admirados de ver tanto valor e coragem num menino. Desde aquele dia não pôde articular palavra; fazia-se entender por escrito.

Seu professor, um Irmão Marista, deu-lhe uma estampa de Nossa Senhora com uma inscrição que dizia: 'Quem me ama, siga-me'. E Carlos, considerando como dirigido a si aquele convite da Mãe de Deus, escreveu: 

➖ Mamãe, eu amo muito a Nossa Senhora e quero segui-la.

E como a mãe se pusesse a chorar, Carlos continuou escrevendo:

➖ Não chores, minha mãe; vou para o céu, onde rezarei por ti e por papai e estarei em companhia de Nossa Senhora; dá-me um abraço. 

Depois de abraçar sua mãe, a quem muito amava, Carlos fixou com ternura a imagem de Maria, beijou-a e expirou.

45. DIANTE DA IMAGEM DE MARIA

Era Margarida uma jovem de dezesseis anos. Seu pai fôra maçom; sua mãe, nada piedosa. Educaram-na numa escola onde não se pronunciava o nome de Deus; mas Nosso Senhor amava aquela menina. De caminho para a escola, ao passar por uma igreja, sentia-se impelida a entrar a ali permanecia algum tempo a olhar para o altar.

Muitas vezes e de maneira maravilhosa falou Deus ao coração daquela menina, que, às escondidas, chegou a confessar-se e a comungar. A falta de religião no lar bem depressa a fez esquecer essas inspirações divinas. Não era má, nunca dera escândalo, mas nunca rezava nem ia à missa. Só pensava em divertir-se com as amigas, entregando-se com elas a bailes e passeios. Deus, porém, não permitiu que seu coração se manchasse de impurezas.

Era o primeiro dia da novena de Nossa Senhora do Carmo. Algumas moças, levando jarros, velas e flores, entraram na igreja, onde ia começar a novena solene. Margarida, que passava por ali com suas alegres companheiras, sentiu um não sei o quê no coração e , dirigindo-se às outras, disse:

➖ Vamos entrar; vamos ver o que fazem essas beatas.

E entrou... Pôs-se diante de Nossa Senhora do Carmo e contemplou-a muito tempo. Não sei o que lhe disseram aqueles olhos da Senhora; o que sei é que Margarida ajoelhou-se, ajuntou as mãos... a novena começou, terminou, passaram-se longas horas e ela ali estava imóvel, ajoelhada, os olhos fixos na Senhora e derramava lágrimas, muitas lágrimas... E ali ficaria a noite inteira, se o sacristão não lhe fosse dizer que saísse, pois ia fechar a igreja... que já era tarde.

Aquele fôra o dia de sua definitiva conversão. Quando, mais tarde, um missionário lhe perguntou o que fizera naquelas longas horas, que passou ajoelhada aos pés de Maria, respondeu:

➖ Não fiz mais que dizer-lhe que tivesse compaixão de mim, me perdoasse minhas graves culpas e, não permitindo que me tornasse infiel à sua voz, me desse a graça de começar uma vida tão penitente que reparasse meus erros passados. 

Deveu a Nossa Senhora a graça da conversão.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

ver PÁGINA: TESOURO DE EXEMPLOS

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

10 PÉROLAS DA SABEDORIA CRISTÃ

1. As graças de Deus e as virtudes são a escada e o caminho para subir ao céu. Os vícios e os pecados, porém, são a escada e o caminho para descer ao inferno. 

2. Os vícios e os pecados são veneno; as virtudes e as boas obras são remédio. 

3. Uma graça atrai outra graça; um vício puxa outro vício.

4. A virtude não quer ser elogiada, como o vício não quer ser desprezado. Isso quer dizer que o homem virtuoso não procura ser elogiado nem deseja o louvor das pessoas; e o mau não quer ser desprezado nem repreendido. E isso provém da soberba. 

5. O espírito repousa na humildade e a paciência é a sua filha.

6. Se amares, será amado. Se temeres, será temido. Se servires, será servido. Se te comportares bem com os outros, os outros comportar-se-ão bem contigo. 

7.  Bem aventurado aquele que ama sem desejar ser amado. Bem aventurado aquele que teme sem querer ser temido. Bem aventurado aquele que serve sem querer ser servido. Bem aventurado aquele que se comporta bem com os outros sem desejar que os outros se comportem bem com ele. Estas coisas são grandes; os tolos não conseguem entendê-las.

8. Existem três coisas muito grandes e úteis que, possuindo-as, não nos deixarão cair no mal. A primeira é suportar em paz e por amor a Deus todo o sofrimento que aparecer. A segunda, ter grande humildade por tudo que se fizer e receber. A terceira, amar com fidelidade os bens que o olho humano não pode ver.

9. As coisas mais ridicularizadas e negligenciadas pelas pessoas do mundo são as mais consideradas e veneradas por Deus e por seus santos. E as coisas mais amadas, abraçadas e reverenciadas pelas pessoas do mundo são as mais odiadas, negligenciadas, desprezadas por Deus e por seus santos. Acontece que as pessoas odeiam tudo o que deve ser amado e amam tudo o que deve ser odiado.

10. A santa contrição, a santa humildade, a santa caridade, a santa devoção e a santa alegria tornam a alma santa e boa.

(Excertos da obra 'Sabedoria de um simples: os ditos do Beato Egídio de Assis' de Frei Ary Pintarelli, 1997)

terça-feira, 5 de janeiro de 2021