quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

CARTA À JUVENTUDE


A primeira artimanha do demônio consiste em persuadi-los de que o serviço de Deus exige uma vida triste, sem nenhum divertimento ou prazer. Mas isto não é verdade, meus caros jovens. Eu vou lhes indicar um plano de vida cristã que poderá mantê-los alegres e contentes, fazendo-os conhecer quais são os verdadeiros divertimentos e prazeres para que vocês possam exclamar como o santo profeta Davi: 'Sirvamos ao Senhor na santa alegria'.

A segunda artimanha do demônio consiste em fazê-los conceber a falsa esperança de uma longa vida que permite converter-se na velhice ou na hora da morte. Prestem atenção, meus caros jovens, muitos se deixaram prender por esta mentira. Quem nos garante que chegaremos à velhice? Mas a vida e a morte estão entre as mãos de Deus que dispõe de tudo a seu bel-prazer.

E mesmo se Deus lhes concedesse uma longa vida, escutai, entretanto, sua advertência: 'o caminho do homem começa na juventude, ele o segue na velhice até a morte'. Ou seja, se jovens começamos uma vida exemplar, seremos exemplares na idade adulta, nossa morte será santa e nos fará entrar na felicidade eterna. Se, pelo contrário, os vícios começam a nos dominar desde a juventude, é muito provável que eles nos manterão em escravidão por toda a nossa vida, até a morte. Triste prelúdio a uma eternidade terrível.

Para que esta infelicidade não lhes aconteça, eu lhes apresento um método de vida alegre e fácil, mas que lhes bastará para se tornarem a consolação de seus pais, a honra de pátria de vocês, bom cidadãos da terra, em seguida felizes habitantes do céu... Meus caros jovens, eu os amo de todo o meu coração e basta-me que vocês sejam jovens para que eu os ame extraordinariamente. Eu lhes garanto que vocês encontrarão livros que lhes foram dirigidos pelas pessoas mais virtuosas e sábias em muitos pontos, mas, dificilmente, vocês poderão encontrar alguém que os ame mais do que eu, em Jesus Cristo, e lhes deseja mais a felicidade.

Conservem no coração o tesouro da virtude porque, possuindo-o, vocês têm tudo, mas se o perderem, tornar-se-ão os homens mais infelizes do mundo. Que o Senhor esteja sempre com vocês e que Ele lhes conceda seguir os simples conselhos presentes, para que possam aumentar a glória de Deus e obter a salvação da alma, fim supremo para o qual fomos criados. Que o Céu lhes dê longos anos de vida feliz e que o santo temor de Deus seja sempre a grande riqueza que os cumule de bens celestes aqui e por toda a eternidade. Vivam contentes e que o Senhor esteja com vocês.

(São João Bosco) 

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

BREVIÁRIO DIGITAL - ILUSTRAÇÕES DE DORÉ (VIII)

PARTE VIII (1Sm 6 - 2Sm 21)

  [Os betsamitas que segavam o trigo veem o retorno da Arca do Senhor (I Sm 6,13)]

  [Samuel testemunha Saul como futuro chefe do povo de Israel (I Sm 9,17)]


 [Morte de Agag, rei de Amalec (I Sm 15,33)]


  [Davi decepa a cabeça de Golias, o gigante filisteu (I Sm 17,51)]


  [A tentativa de Saul matar Davi com uma lança (I Sm 18,11)]


  [A fuga de Davi por uma janela de sua casa (I Sm 19,12)]


  [Jônatas permite a fuga de Davi (I Sm 20,42)]


  [Discurso de Davi ao rei Saul (I Sm 24,9-16)]


 [Saul e a necromante de Endor (I Sm 28,11)]


  [Morte de Saul prostrando-se sobre uma espada (I Sm 31,4)]


  [Combate entre os doze homens de Benjamin e os doze homens de Davi (II Sm 2,15-16)]


   [Davi tomando Rabá, cidade dos amonitas (II Sm 12,27)]


   [A morte de Absalão, preso nos galhos de uma árvore (II Sm 18,9-15)]


    [Davi recebe a notícia e lamenta a morte de Absalão (II Sm 18,32)]


[Resfa, filha de Aías, protege os corpos dos sete martirizados (II Sm 21,10)]


[Abisaí mata o filisteu e salva Davi da morte (II Sm 21,17)]

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

DEUS SABE O QUE FAZ

Deus criou-me para lhe prestar um serviço específico: Ele me confiou uma obra que não confiou a outro. Tenho a minha missão que posso nunca conhecer nesta vida, mas saberei na próxima. De alguma forma sou necessário para os seus propósitos, tão necessário no meu lugar como um Arcanjo no dele... tenho uma parte nesta grande obra. 

Sou o elo de uma corrente, um vínculo de conexão entre pessoas. Ele não me criou para nada. Vou fazer o bem, vou fazer a sua obra. Serei um anjo de paz, um pregador da verdade na minha própria casa, mesmo sem pretensão, se eu guardar os seus mandamentos e o servir na minha vocação.

Por isso vou confiar nEle. Onde e como eu estiver, nunca poderei ser rejeitado. Se estou doente, a minha doença pode servi-lo; na confusão, a minha confusão pode servi-lo; se eu estou triste, a minha tristeza pode servi-lo. 

A minha doença, confusão ou tristeza podem ser causas necessárias para algum grande fim, que está muito além de nós. Ele não faz nada em vão; Ele pode prolongar a minha vida ou pode abreviá-la; Ele sabe o que está a fazer. Ele pode tirar-me amigos, pode enviar-me para o meio de estranhos, pode me fazer sentir desolado, fazer o meu espírito submergir, esconder o futuro de mim, ainda assim Ele sabe o que está a fazer.

(Excertos da obra 'Meditações e Devoções', do Cardeal Newman)

domingo, 26 de janeiro de 2020

PÁGINAS COMENTADAS DOS EVANGELHOS DOS DOMINGOS


'O povo que andava na escuridão viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu. Fizeste crescer a alegria, e aumentaste a felicidade; todos se regozijam em tua presença como alegres ceifeiros na colheita, ou como exaltados guerreiros ao dividirem os despojos' (Is 9, 1-2)

sábado, 25 de janeiro de 2020

VÍDEOS CATÓLICOS: SEJA LOUVADO O SANTÍSSIMO!

John Henry NEWMAN, cardeal inglês do século XIX canonizado pelo Papa Francisco em 13 de outubro do ano passado, é autor de inúmeras orações e hinos, sendo um dos mais belos o Praise to the Holiest in the Height! 



PRAISE TO THE HOLIEST IN THE HEIGHT!

Praise to the Holiest in the height,
And in the depth be praise:
In all His words most wonderful;
Most sure in all His ways.

 O loving wisdom of our God,
When all was sin and shame,
He, the last Adam, to the fight
And to the rescue came.

O wisest love! that flesh and blood
Which did in Adam fail,
Should strive afresh against the foe,
Should strive and should prevail.

And that a higher gift than grace
Should flesh and blood refine,
God’s presence, and His very self
And essence all-divine.

O generous love! that He, who smote
In man for man the foe,
The double agony in man
For man should undergo.

And in the garden secretly,
And on the cross on high,
Should teach His brethren, and inspire
To suffer and to die.

Praise to the Holiest in the height,
And in the depth be praise:
In all His words most wonderful;
Most sure in all His ways.

(Cardeal Newman)


SEJA LOUVADO O SANTÍSSIMO NAS ALTURAS!

Seja louvado o Santíssimo nas alturas,
e seja louvado no abismo:
Em todas as suas palavras, o mais maravilhoso;
o mais seguro em todos os seus caminhos.

  Ó sabedoria amorosa de nosso Deus,
Quando tudo era pecado e vergonha,
Ele, o segundo Adão, veio
para lutar e nos resgatar.

Ó amor de sabedoria! A mesma carne e sangue
que fracassaram em Adão,
refazem-se agora contra o inimigo,
refazem-se agora para prevalecer.

E dádiva maior que a graça
refaz-se em nova carne e sangue,
a própria presença de Deus 
se manifesta pela essência toda divina.

Ó amor generoso! Ele, que feriu,
Do homem para o homem, o inimigo,
A dupla agonia no homem
que o homem deveria sofrer*.

Seja no escondimento do Horto,
ou no mais alto da Cruz,
para ensinar e inspirar os seus Filhos
para sofrer e, por amor, morrer.

Seja louvado o Santíssimo nas alturas,
e seja louvado no abismo:
Em todas as suas palavras, o mais maravilhoso;
o mais seguro em todos os seus caminhos.

* estrofe de tradução e entendimento difíceis: a 'dupla agonia' pode referir-se ao embate do primeiro homem (humanidade perfeita de Cristo) contra o segundo homem (humanidade decaída pela natureza humana), para vencer a ação contínua do inimigo que, prevalecendo sobre Adão, foi derrotado por Cristo ('Ele, que feriu o inimigo').

(tradução do autor do blog)

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

SOBRE A VIRTUDE DA DEVOÇÃO

A viva e verdadeira devoção pressupõe o amor de Deus, mas não um amor qualquer porque, quando o amor divino embeleza as nossas almas, ele se chama graça, o que nos torna agradáveis à majestade divina; e quando nos dá força para fazer o bem, é chamado de caridade; mas, quando se atinge um tal grau de perfeição, que não consiste apenas em fazer o bem, mas fazê-lo com cuidado, com frequência e com prontidão, então se chama devoção. 

Em suma, a devoção consiste em uma combinação de agilidade e vivacidade espirituais, por meio das quais a caridade faz as suas obras em nós, ou nós por meio dela, prontamente e calorosamente. Assim, para se ser devoto, além da caridade, requer-se uma grande diligência e presteza dos atos dessa virtude. E desde que a devoção constitui um excelente grau de caridade, que não só nos torna pronta, ativa e diligentemente a fazer cumprir a estrita observância dos mandamentos de Deus, como também nos incentiva a fazer, com afeto e prontidão, todas as boas ações que podemos, não apenas as que nos foram impostas, como também aquelas meramente aconselhadas ou inspiradas.

A caridade e a devoção se distinguem entre si como a chama e o fogo; sendo a caridade um fogo espiritual, quando bem incendiada se chama devoção, de forma que a devoção nada acrescenta ao fogo da caridade, a não ser como chama que faz a caridade tornar-se alerta, ativa e diligente, não apenas para se resguardar em nós os mandamentos de Deus, mas também na boa prática dos conselhos e inspirações celestiais.

Pela manifestação do Espírito Santo, seja na vida de todos os santos como pelo próprio exemplo da vida de Nosso Senhor, nos é assegurado que a prática da devoção pressupõe uma vida serena, feliz e tranquila. Mas o mundo não vê a devoção como sendo interior e feliz, nem torna a sua prática e as suas ações como sendo agradáveis, serenas e fáceis.

A devoção é o verdadeiro açúcar espiritual que lima as asperezas das mortificações e o perigo de se perder o fruto das consolações, que desfaz a tristeza do pobre e a ansiedade dos ricos, que dissipa a desolação dos oprimidos e a a insolência dos afortunados, que repele a melancolia aos solitários e a dissipação dos que vivem socialmente, que atua como fogo no inverno e suave orvalho no verão, que ensina a viver na abundância ou na pobreza, que nos eleva igualmente diante das honras ou dos desprezos do mundo, que nos torna propícios tanto nos momentos de dor como de serenidade, que nos consola sempre com suave resignação. 

A devoção é a doçura de todas as doçuras e a rainha das virtudes porque é a perfeição da caridade. Se a caridade é o leite, a devoção é o creme de leite; se a caridade é a planta, a devoção é a flor; se a caridade é uma pedra preciosa, a devoção é o brilho que dela emana; se a caridade é um bálsamo perfeito, a devoção é o seu aroma especial: um odor de suavidade que conforta os homens e regozija os anjos.

(Excertos da obra 'Introdução à Vida Devota' - Cap. I e II - de São Francisco de Sales, adaptação do texto pelo autor do blog)

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

O SINAL DA CRUZ (IV)


In hoc Signo vinces - 'Por este Sinal vencerás'

IV

A segunda razão do Sinal da Cruz ter sido dado aos homens é a de nos tirarmos da ignorância, pois é um livro sagrado que nos instrui. Todas as ciências, teologia, filosofia, sociologia, política, história, estão reduzidas nestas três palavras: 'criação, redenção, glorificação' — de modo insubstituível, são para o gênero humano mais necessárias que o pão para nutrir-se e mais que o ar para respirar. Só elas bastam para orientar a vida inteira. Orientam as alegrias, as tristezas, os pensamentos, as palavras, as ações, os sentimentos. Sendo assim, a simples razão diz que Deus devia estabelecer um meio fácil, permanente e universal que desse a todos este conhecimento fundamental. Não devia, porém, dá-lo de uma só vez e de passagem; devia renová-lo constantemente, assim como se renova a cada instante o ar que respiramos. 

Que sábio se encarregaria deste ensino indispensável? São Paulo, Santo Agostinho, São Tomás? Ou outro gênio qualquer do Oriente ou do Ocidente? Não. Estes morreram; e seria necessário algo que não morresse. Estes habitaram um lugar determinado e seria necessário algo que estivesse em toda a parte. Estes falaram línguas que nem todos compreendem e seria necessário algo que falasse uma língua inteligível a todos. O que seria pois este algo? É o Sinal da Cruz. Ele e só ele satisfaz a todas as condições exigidas: não morre: está em toda a parte e é por todos entendido. Um instante lhe basta para dar uma lição, como lhe basta um instante para todos o compreenderem.

Mas seria verdade que o Sinal da Cruz repete e ensina como convém as três grandes palavras: 'criação, redenção, glorificação'? Sim. E não só as repete e ensina, mas explica-as com uma autoridade, profundidade e lucidez que só a ele pertencem. Repete-as com autoridade porque, sendo divino em sua origem, vem do próprio Deus. Repete-as com profundidade e lucidez porque se explica nos termos seguintes:

Quando levas a mão à tua fronte, dizendo — 'Em Nome' — o Sinal da Cruz te ensina a indivisível Unidade da Essência Divina. Dizendo — 'do Pai' — novo e imenso raio de luz penetra na tua inteligência. O Sinal da Cruz te diz que há um Ser, Pai de todos os Pais, princípio eterno da existência de todas as criaturas, celestes e terrestres, visíveis e invisíveis. Dizendo  — 'e do Filho' — o Sinal te diz que o Pai dos Pais tem um Filho semelhante a Ele. Fazendo-te levar a mão ao peito, quando assim o pronuncias, ele te diz que este Filho eterno de Deus se fez Homem no seio de uma Virgem para resgatar a humanidade. 'E do Espírito Santo' — esta palavra completa o ensino do Sinal da Cruz. Tu sabes agora que há um Deus, Uno na essência e Trino em Pessoas. Se a Primeira Pessoa necessariamente é Poder, a segunda é necessariamente a Sabedoria e a terceira é necessariamente o Amor. Este amor, completando a obra do Pai Criador e do Filho Redentor, santifica o homem e o conduz à glória. Pronunciando o nome do Espírito Santo, tens formada a Cruz e não só conheces o Redentor, mas também o instrumento da Redenção. 

Será possível ensinar com tão poucas palavras, com mais eloquência e em linguagem mais inteligível, os três grandes dogmas: — 'criação, redenção, glorificação' — eixos do mundo moral e princípios geradores da inteligência humana? Ser criado, ser remido, ser destinado à glória eterna, eis o princípio e todo o futuro do homem. Graças ao uso tão frequente do Sinal da Cruz em todas as classes da sociedade, tanto nas cidades e como nas aldeias, o mundo católico dos primeiros séculos e da Idade Média conservou, em grau até então desconhecido, o conhecimento da Ciência Divina, mãe de todas as ciências e mestra da vida.

O mundo moderno abandonou o Sinal da Cruz e, desde esse tempo, não mais teve a seu lado um Monitor que lhe avivasse, a cada instante, os três grandes dogmas indispensáveis à vida moral. Por isso, ao olvidar o Sinal da Cruz, 'criação, redenção, glorificação', essas três Verdades fundamentais são para ele como se não existissem. O mundo de hoje só conhece e adora o deus-eu, o deus-comércio, o deus-dinheiro, o deus-ventre, o deus-prazer ou a deusa-indústria, a deusa-política e a deusa-volúpia. Por serem meios de satisfazer a todos os seus maus desejos, ele conhece e adora as ciências da matéria: — a química, a física, a mecânica, a dinâmica, os sulfatos, os nitratos e os carbonatos. Eis aqui as divindades destes séculos e o seu culto.

Eis aqui a teologia, a filosofia, a política, a moral, a vida do mundo moderno, com seus egoísmos e vícios! Progredindo assim, breve estará bem a par dos contemporâneos de Noé, destinados a morrer nas águas do dilúvio. Para aqueles também consistia-lhes toda a ciência em conhecer e adorar os deuses do mundo moderno: comer, beber, edificar, comprar, vender e casar cada um, a si e aos outros, animados de todas estas más tendências que não faltam ao mundo atual! 

O Sinal da Cruz é um livro que nos educa e nos eleva. Sob tal ponto de vista, podes agora julgar se era sem razão que nossos pais constantemente faziam o Sinal da Cruz. E se deve à ignorância, uma ignorância muito deplorável do mundo atual, o abandono do Sinal da Cruz. Qual é esta ignorância? A chamada 'indigência do espírito', que procede da fraqueza em praticar a virtude e repelir o mal. E por que existe tal fraqueza? Porque o homem atual despreza os meios de obter a graça e de torná-la eficaz. O primeiro, o mais pronto, o mais comum e o mais fácil destes meios é a oração. E, de todas as orações, a mais fácil, a mais pronta, a mais comum e talvez, a mais poderosa, é o Sinal da Cruz.

(Excertos adaptados da obra 'O Sinal da Cruz', do Monsenhor Gaume, 1862)