sábado, 25 de abril de 2015

HORA SANTA DE ABRIL


Em uma Hora Santa como esta, hora de silêncio e de oração íntima, Jesus-Eucaristia confiou os desejos ardentes do seu Coração a Margarida Maria, sua discípula e primeira apóstola. Ó que momento de ventura, que solene instante aquele, em que a terra voltou a ressoar a súplica ardorosa do Deus-Homem proclamada nas planícies da Samaria e nas montanhas da Galileia, lamentando e implorando o nosso amor como fez no Getsêmani e no Calvário! Sim, naquela noite em Paray-le-Monial, uma noite radiante e gloriosa, Ele nos pediu o nosso amor e nos deu em troca, não os tesouros que já nos havia dado; ó não, Ele nos ofereceu mais que o Céu ou os tesouros redentores do Calvário... Ele nos deu pra sempre o seu Adorável Coração!

Cantemos: 'Hosana no mais alto dos céus!' De ora em diante, o Coração de Jesus é nosso por inteiro! E que também o pobre, o doente, o triste, o fraco, possam cantar: 'Hosana aqui também na terra!' O Coração de Jesus é nosso aqui nesta vida e será nosso além das sombras da morte! Hosana! Oremos, meus irmãos, e se realmente amamos Jesus, vamos dar a Ele um grande louvor de fé e caridade, para que nos revele, nesta Hora Santa, os providenciais desígnios do seu Sagrado Coração! Senhor, aqui estão os vossos amigos fieis e mais íntimos; revela-nos, pois, como confidentes privilegiados, vossos veementes desejos e o triunfo de louvor que encerrastes nesta sublime devoção.

Dizei, ó Mestre, o que pedis? Dizei-nos, com a autoridade do vosso soberano direito, o que exige a realização dos vossos planos? Vós que contemplais os recessos mais íntimos dos corações, vede as almas dos vossos amigos sedentas pelas vossas palavras! Vós nos honrastes com a vocação de consoladores do Vosso Sagrado Coração. Queremos, então, oferecer-Vos, em cada coração, um leito perfumado de rosas, onde possais descansar vossa cabeça exangue! Sim, aceitai este nosso consolo; aceitai nossos braços estendidos como suporte frágil de vossa santa agonia como aceitastes o consolo do anjo na agonia do Getsêmani!

Jesus, olhai para nós nesta noite com maior amor do que olhastes para Verônica, pois Vos oferecemos algo muito mais rico que um véu, nós vos oferecemos as nossas almas! Estamos sozinhos convosco, Senhor, vossos amigos fieis e e de confiança, aqueles que velam esta hora junto ao Vosso Coração agonizante. Abri os Vossos lábios divinos, dizei-nos, ó Mestre Amado; porque somos aqueles que agora circundam o Gólgota do Vosso altar, para implorar a graça, a honra e, mais que isso, a glória imerecida de carregar, como amorosos Cireneus, a vossa cruz...

Coração de Jesus, neste momento de confidência íntima, dizei-nos sobre o vosso desejo de propagação do Vosso reino espiritual e de vossa entronização neste mundo rebelde... Ordenai, Senhor, que morramos por Vosso amor e nós morreremos... Falai-nos por meio da ferida do Vosso lado, que está conquistando o mundo, especialmente durante os últimos três séculos, pela ternura e misericórdia. Que as criaturas guardem silêncio e que apenas Vós, ó Jesus, nos possais falar na Eucaristia... e assim viveremos! 

(Pausa) 

(Pedi a Jesus a grande graça de ouvir a sua divina voz)

Voz de Jesus 

Aproximai-vos, alma querida; sou Eu, não temais! Vede! Eu próprio me despojei do esplendor da majestade que teria vos feito tremer. Olhai para mim! Venho a vós ainda mais pobre do que sois. Venho sozinho e despojado de tudo. Eu mantive apenas a glória das minhas chagas, e nenhum outro tesouro que não seja meu Coração que vos amou tanto. Olhai-me de perto, o Nazareno que nasceu em um estábulo, o filho de pessoas simples, que quer vos conhecer. Eu era um pobre, um humilde artesão na oficina de José, o carpinteiro; que caminhava com os pés descalços e vivia uma vida de simplicidade e trabalho duro por amor aos mais humildes e fracos. Quero reinar sobre eles, eu nasci e escolhi reinar sobre eles!

Ó sim, eu gostaria que os pobres, os trabalhadores, e todos os que sofrem e labutam, aceitem o benigno e consolador reino do meu Coração Divino. Anseio vê-los aos meus pés completamente conquistados pela minha manjedoura e pela minha cruz. Eu reivindico para mim, como minha herança escolhida, a multidão dos que choram, dos que sofrem por fome da verdade e sede da justiça. Ó dia feliz que há de vir quando eu finalmente vê-los ajoelhando-se e cantando diante de Mim a sua fé, a sua esperança, o seu amor! 

Vós todos, meus amigos íntimos, estejam prontos para esta grande Páscoa; estejam prontos para o trono e a coroa deste dia glorioso. Implorai esta graça aqui diante do altar; orai sem cessar em obtê-la... ó, trazei-me de volta aquelas almas que me foram roubadas pelos renegados que, por seus esforços malignos, insistem em me roubá-las para sempre! Fazei com que os pobres venham até Mim; entronizai-me em vossas casas; porque eu sou Jesus, aquele divino Pobre de Nazaré, vosso amigo.


(Pausa) 


As almas

Sim, Jesus, Vós reinareis entre os pobres; aqueles que venceram pela bondade do Vosso Sagrado Coração Vos proclamarão como Rei! Recebei a oração em Vosso louvor que ressoará neste momento das profundezas silentes do Vosso Tabernáculo. Pelas lágrimas que Vós derramastes na humilde gruta de Belém:

(Todos, em voz alta) 

Reinai, Coração de Jesus, sobre os vossos amigos, os pobres!

Pelas lágrimas que Vós derramastes em segredo na vossa muito amada Nazaré...
Reinai, Coração de Jesus, sobre os vossos amigos, os pobres!
Pelas lágrimas que Vós derramastes por ocasião da morte do Vosso amigo Lázaro...
Reinai, Coração de Jesus, sobre os vossos amigos, os pobres!
Pelas lágrimas que Vós derramastes pela ruína do vosso povo e da vossa pátria ingrata...
Reinai, Coração de Jesus, sobre os vossos amigos, os pobres!
Pelas lágrimas de sangue que Vós derramastes no Jardim do Getsêmani, mil vezes venturoso...
Reinai, Coração de Jesus, sobre os vossos amigos, os pobres!
Pelas lágrimas amargas que Vós derramastes pela traição de Judas...
Reinai, Coração de Jesus, sobre os vossos amigos, os pobres!
Pelas lágrimas de tristeza profunda que Vós derramastes pela tripla negação de Pedro e pelo abandono dos Vossos Apóstolos...
Reinai, Coração de Jesus, sobre os vossos amigos, os pobres!
Pelas lágrimas de desolação que Vós derramastes ao ver a Vossa Mãe esmagada pela tristeza no caminho do Calvário...
Reinai, Coração de Jesus, sobre os vossos amigos, os pobres!
Pelas últimas lágrimas que Vós derramastes na despedida desta terra, especialmente pelos mais pobres, os vossos amigos...
Reinai, Coração de Jesus, sobre os vossos amigos, os pobres!

(Pausa) 

Voz de Jesus 

Almas amorosas, meu coração vos abençoa pela consolação destas súplicas ardorosas! Sim, Eu triunfarei pois Eu sou rei. Eu vim para salvar o mundo, sujeitando-o ao amor do meu Coração. Como um mar tempestuoso, este mundo ingrato me rejeita com furor; na minha barca, a Igreja, eu perpasso pelos séculos, oferecendo aos homens a calma, a liberdade, a paz. Ai de mim! A tempestade redobra a sua fúria; há governantes que desejam o naufrágio da Igreja, a arca da salvação... São muitos os ricos, os sábios e os poderosos que, seguindo o exemplo do Sinédrio iníquo de Jerusalém, conspiram contra Mim, trabalhando para destruir o meu sacerdócio e para arruinar a minha Igreja. Meu Vigário é perseguido...

Minha soberania é quase por toda parte oficialmente ignorada. Um furacão de ódio dispersou os meus Apóstolos e os meus amigos. Este ódio tem profanado muitos santuários de retiro e de oração e conspurcado os meus direitos e a minha lei! No entanto, Eu sou e permaneço Rei, porque Eu sou Jesus, o Filho do Deus Vivo! Ah, vós que verdadeiramente amais a glória do meu nome, pelo menos vós, meus amigos, implorais ao Céu pela vitória da Santa Igreja. Não vos esqueçais que a agonia dela também é minha; aqueles que a ultrajam também me ultrajam e ferem o meu Divino Coração!

(Pausa) 

As almas

Senhor, ouvimos o clamor das blasfêmias contra Vós e a Vossa Santa Igreja. Ouvimos também o pranto de dor que oprime o Vosso Coração pela ingratidão de nações que devem a sua cultura e liberdade ao Vosso Santo Evangelho e pela ingratidão dos poderosos que somente o são pela outorga de Vossa autoridade. Perdão, ó rei escarnecido; confundais e converteis os vossos inimigos. Nós Vos pedimos isto de todo o nosso coração: pela pobreza e abandono do vosso maravilhoso nascimento...


(Todos, em voz alta) 

Triunfai em Vossa Igreja, ó Sagrado Coração!

Pela Vossa fuga para o Egito e pelos sofrimentos do Vosso exílio, sob a perseguição de inimigos implacáveis...
Triunfai em Vossa Igreja, ó Sagrado Coração!
Por tantos anos passados ​​na vida obscura e venturosa em Vossa oficina de Nazaré...
Triunfai em Vossa Igreja, ó Sagrado Coração!
Pela Vossa vida de retiro, oração e penitência durante os 40 dias passados ​​na solidão do deserto...
Triunfai em Vossa Igreja, ó Sagrado Coração!
Pelo desprezo com que os doutores da lei de Israel o trataram e pelos muitos insultos com que receberam o Vossos Evangelho...
Triunfai em Vossa Igreja, ó Sagrado Coração!
Pelas feridas de ingratidão praticadas por tantos que foram beneficiados com as Vossas bênçãos e mesmo com milagres extraordinários...
Triunfai em Vossa Igreja, ó Sagrado Coração!
Pela tristeza mortal causada pela cegueira do Vosso povo, que Vos condenou a uma morte de cruz...
Triunfai em Vossa Igreja, ó Sagrado Coração!

(Pausa) 

Voz de Jesus 

Almas fervorosas! Se ao menos Eu pudesse, tão triste e perseguido, encontrar aconchego no coração das famílias, no abrigo seguro dos lares! Ai de mim! Este santuário cairia em ruínas se satanás e o mundo pudessem me desterrar daí, Eu que sou o puro Amor! Perguntai a Lázaro, a Marta, a Maria, aos meus amigos de Betânia, se há mal que não seja sanado, tristeza que não seja adoçada, feridas que não sejam curadas quando Eu, Jesus, estabeleço meu reino de amor em um lar e uma família que me amam e me adoram! Padres que estais vergados por uma vida brumosa e exaustiva sob o peso de tantas ansiedades e responsabilidades, deixai-me entrar em vossas casas! Eu sou o sol que traz paz e temperança; Eu sou a alma de uma nova vida...


Mães sobrecarregadas, que sofrem por vós e por vossos filhos; mães aflitas, como a minha Mãe de ternura, por que vós não me convidais para abençoar a aurora e o crepúsculo, a paz e a tribulação, as alegrias e as lágrimas do vosso amado lar? Vós, que sois as testemunhas privilegiadas da agonia mística do meu Coração no Sacrário, sabeis que o vosso apostolado poderia abrir a Mim as portas das casas que, tantas vezes, são cruelmente fechadas diante de Mim. Vigiai e orai para que os meus direitos familiares e sociais sejam reconhecidos e peçais, apesar de satanás, que o meu Coração possa triunfar e conduzir as vossas famílias!

(Breve Pausa) 

As almas

Jesus, adorável Peregrino, vagando em busca de amor, permanecei, não no limiar de nossas casas: vosso cabelo e roupas estão úmidas com o orvalho da noite. Entrai...Sejais, em espírito e verdade, o Rei das nossas famílias que Vos amam. Sim, Jesus, nosso Esposo; Jesus, nosso Irmão; Jesus, nosso Amigo... Vinde! Reinai em todas as nossas casas, imploramos a Vós! Pelo amor filial que manifestastes à Vossa Mãe Santíssima; pelas ternuras e vigílias do Vosso Imaculado Coração...

(Todos, em voz alta)  

Triunfai nas famílias, ó Rei de Amor!

Pelo afeto que manifestastes ao humilde carpinteiro a quem chamastes de pai, e pela santa intimidade que vivestes com ele...
Triunfai nas famílias, ó Rei de Amor!
Pelo amor de predileção que manifestastes em Vosso coração para com João, o Apóstolo de vossas inefáveis confidências...
Triunfai nas famílias, ó Rei de Amor!
Pela simpatia que manifestastes aos mais apequenados do rebanho, pelas crianças, pelos vossos amigos fieis...
Triunfai nas famílias, ó Rei de Amor!
Pela invejável e deliciosa amizade que manifestastes em Betânia, onde apenas um sofrimento insuportável - Vossa ausência - era sentido...
Triunfai nas famílias, ó Rei de Amor!
Pela delicada bondade que manifestastes no casamento de Caná e por Vossa ternura para com Madalena penitente...
Triunfai nas famílias, ó Rei de Amor!
Pela deferência que manifestastes com Zaqueu e Simão, o fariseu e, finalmente, pela sede de justiça que impusestes na alma da feliz samaritana...
Triunfai nas famílias, ó Rei de Amor!

(Pausa) 

Voz de Jesus 

Um vez que vós viestes me consolar, não terminem esta Hora Santa sem recordar aqui, aos Meus pés, aqueles que são os favoritos do Meu Coração misericordioso: os caídos, os filhos pródigos, aqueles que se desviaram da aprisco. Um sem número deles passam diante desta Hóstia Consagrada sem levantarem os olhos para Mim! Passam os soberbos que insultam o meu aniquilamento; os blasfemos que me cobrem com o seu opróbrio; os apóstatas e os ímpios, que chegam até Mim com a ousadia do sarcasmo nos lábios! 

Ai de mim! Quão grande é a legião dos ingratos, daqueles que me fazem sofrer com a sua indiferença glacial! Quem pode contá-los? Vejo-os do Meu Sacrário; entre eles estão também meus ex-amigos... os traidores e os desleais... E há também crianças! Ouvi-me, mães! Sim, há crianças que traem o Coração de Jesus, o grande amigo delas!

A minha alma está triste até a morte com a perda de tantos pobres pecadores. E, nesta mesma hora, muitos estão em sua agonia final... Portanto, vós, Meus apóstolos, ficai de joelhos e fazei uma fervorosa oração para que sejam fechadas as portas do inferno e que se abra para eles o Céu do Meu Coração, que os espera com o perdão e misericórdias infinitas! Salvai-os! Eles são almas que pertencem a Mim. Eu confio a vós a salvação delas!

(Pausa) 

As almas

Obrigado, ó Bom Jesus, por nos deixar compartilhar convosco a preocupação com estas almas desgarradas. Vamos acolhê-las como nosso tesouro; vamos amá-las pelas lágrimas que elas Vos têm custado! Elas não estarão perdidas para sempre enquanto a Divina Chaga do Vosso Coração não estiver fechada.  Ah, que esta Divina Ferida, fonte do perdão, assim como o Céu, permaneça aberta para elas! Recebei, pois, em Vossa bondade inesgotável, esta oração, que nós Vos oferecemos por meio do Coração de Todas as Dores de Maria, em favor dos miseráveis pecadores e, particularmente, Jesus, não Vos esqueçais daqueles que estão em nossas próprias casas...

(Todos, em voz alta) 

Convertei os pecadores, ó Sagrado Coração!

Por Vossas mãos perfuradas porque nos abençoaram e nos perdoaram...
Convertei os pecadores, ó Sagrado Coração!
Por Vossos divinos pés transpassados, porque deixaram na terra as marcas da paz e da misericórdia...
Convertei os pecadores, ó Sagrado Coração!
Por Vossos lábios que falavam a língua de misericórdia e sentiram uma sede ardente pelas nossas almas doentias...
Convertei os pecadores, ó Sagrado Coração!
Pelos Vossos olhos divinos, iluminados com a luz do Paraíso, que derramaram muitas lágrimas para lavar as nossas faltas e apagá-las para sempre...
Convertei os pecadores, ó Sagrado Coração!
Pelo Vosso Sagrado Corpo, tornado uma chaga viva, para dar vida a um mundo que insiste em transgredir a Divina Lei...
Convertei os pecadores, ó Sagrado Coração!
Pelo Vosso Lado aberto, no qual queremos nos refugiar durante a vida, na hora da morte, e por toda a eternidade...
Convertei os pecadores, ó Sagrado Coração!

(Pausa) 

Voz de Jesus 

Não vos afastais do Meu Sacrário, amigos do Meu Sagrado Coração, sem que Eu vos possa recordar uma queixa pungente, sempre viva, a sangrar da ferida aberta do meu Lado por um pecado... uma ferida maior que todas, pois provocada pelos bons que se dizem Meus amigos! Ó como me ferem cruelmente os que me regulam o seu amor! Ah, se vós soubésseis as lágrimas de angústia que eu choro quando os filhos de minha própria casa tratam-me com cortesia indiferente e uma frieza respeitosa como a um estrangeiro distinto. Eles se atrevem a agir dessa forma para com o Deus de amor, o Salvador misericordioso, que os convida a sentar-se diariamente num banquete de graças abundantes. É um exército inteiro, milhares de almas que seriam santas de pronto, se tivessem mergulhado generosamente no abismo do Meu Coração. Ai, quão pouco o Meu amor é compreendido e quão mal é retribuído por eles...

Todas essas almas pertencem a Mim, por direito, pelo mais sagrado dos direitos, mas a tibieza os abate e paralisa a ascensão dos seus corações. Elas são almas belas, mas não vibram pelos interesses da minha glória. Por falta de generosidade, falta-lhes o zelo em seu amor. Elas me veem padecer na cruz mas, por falta de meditação e oração, não compartilham a minha dor. Elas me veem preso e abandonado em minha prisão eucarística, mas a minha solidão não sensibiliza os seus corações; pelo contrário, isto as aborrece e, assim, elas não conseguem dedicar uma só palavra de ternura para o Deus escondido no altar. Como são infelizes essas pobres almas! Um frio glacial as aniquilam e fere a Mim ao mesmo tempo. E não sabendo o que dizer ao Prisoneiro do Amor, elas se vão e, como os Apóstolos, abandonam-me sozinho com a minha agonia e os meus anjos...

Mas vós outras, almas como Verônica, sedentas pela minha glória, expiais nesta noite a ferida cruel feita em meu Coração pela falta de delicadeza, de generosidade, e de zelo por tantos dos meus próprios filhos! Para dissipar a tristeza que eles me causam, Vós me cantais hinos de amor ardentes e de reparação...por vossa causa, anseio esquecer as ofensas destes meus filhos ingratos! Olhai uma vez mais essa ferida aberta e profunda que me fazem aqueles da minha própria casa... 

Vós que ardeis com um fogo celestial de amor e zelo, tende piedade de mim, vosso Jesus, porque Eu busco em todos os lugares por almas fieis e apóstolos em quem possa confiar, mas não os encontro! Sabeis por quê? É porque Eu ensino, resgato e santifico as almas na cruz. Mas quantos que se dizem meus amigos seguram esta cruz com repulsa! Mas vós, vós que me amais sinceramente, me prestais uma grande consolação... pelo vosso fervor, vosso espírito de sacrifício, vosso desejo de santidade!

(Pausa) 

As almas

Senhor Jesus, eu também tenho sido uma alma tíbia que tem-se mantido distante do Vosso Coração por medo do sacrifício. Eu também tenho receado as santas exigências do vosso amor e ternura; eu também tenho temido prender-me às redes do vosso amor; tenho resistido em me acolher em vossos braços e em render-me para sempre e sem reservas ao vosso Coração vencedor! Ó, Jesus, perdoai tanta covardia!

Perdoai, também, e esqueçais essa culpa de apatia, esta falta de um amor generoso, esta indecisão pelo sacrifício, de muitos dos vossos amigos que estão predestinados à santidade e a uma grande glória. Perdoai-nos, Jesus, e triunfai, santificando os justos! Por vossas primeiras palavras de ternura que, quando criança, fizestes vossa Mãe sorrir de felicidade...

(Todos, em voz alta) 

Reinai e santificai os justos, ó Sagrado Coração!

Pelas vossas palavras das bem aventuranças no Sermão da Montanha...
Reinai e santificai os justos, ó Sagrado Coração!
Pelas vossas palavras de consolo e de doce intimidade manifestadas a vossos amigos e discípulos...
Reinai e santificai os justos, ó Sagrado Coração!
Pelas vossas palavras de salvação confirmadas aos doze Apóstolos, futuro e esperança de fundação da vossa Igreja...
Reinai e santificai os justos, ó Sagrado Coração!
Pelas vossas palavras de bênção dirigidas às crianças, almas de vossa predileção...
Reinai e santificai os justos, ó Sagrado Coração!
Pelas vossas palavras de caridade e esperança levadas aos doentes, aos aflitos, e aos pobres...
Reinai e santificai os justos, ó Sagrado Coração!
Pelas vossas palavras de confiança imprimidas na alma dos simples, humildes e desamparados deste mundo...
Reinai e santificai os justos, ó Sagrado Coração!
Pelas vossas palavras de despedida, palavras de infinita doçura, proclamadas na noite da Quinta-feira Santa...
Reinai e santificai os justos, ó Sagrado Coração!
Pelas vossas sete últimas palavras no Calvário, pelas quais nos legastes o vosso Espírito e nos destes a vossa Mãe...
Reinai e santificai os justos, ó Sagrado Coração!


(Pausa) 

Voz de Jesus 

Eu vim para lançar fogo sobre a terra; e o que mais quero é que possa arder em chamas! Que vós possais tornar realidade este meu desejo; olhai e vede aqui, na Hóstia Consagrada, o Coração que tanto amou os homens, amou-os até o sacrifício perpétuo do altar, da Eucaristia! Por vós, Eu me mantenho acorrentado à terra, mas a terra relegou-me a um outro cativeiro bem diferente: o da indiferença, do desprezo e de uma cruel negligência! Ó nessa prisão Eu sofro mortalmente de frio; onde estão aqueles que foram redimidos? Onde estão as almas consoladas e libertadas da morte; onde estão aqueles que foram alimentados com o pão milagroso no deserto? O que aconteceu com os cegos de alma e os leprosos de coração, curados na fonte milagrosa do meu transpassado Coração?

Ah, lamentai comigo, vós, os meus amigos, que interromperam com os seus louvores o silêncio doloroso desta minha prisão. Eu sou vosso Prisioneiro e viestes me visitar! Ó não me abandonem mais, tornai-me o Cativo de vossos corações amorosos! E, depois, voltai ao mundo e dai a conhecer a todos o meu amor e o abandono no qual me encontro. Trazei-o a Mim... deixai-o vir a Mim, este mundo infeliz, tão carente e ansioso por consolo. Trazei as almas a Mim; excitai nelas a sede pela Santa Comunhão! Pregai a todos a minha Eucaristia e glorificai a Hóstia em que Eu, o mesmo Jesus de Nazaré, de Betânia e do Calvário, estou vivo! Vinde a mim, neste sacramento;, honrar-me sob os véus eucarísticos... amai e fazei o Amor amado!

(Pausa) 

As almas

Ó Jesus da Eucaristia, a nossa única ambição é arrastar as almas, muitas almas, ao Vosso Sacrário e que possamos inspirar nelas tal amor que elas se inflamem em buscar o abrigo eterno do Vosso Sagrado Coração. Para isso, nós colocamos no Coração Imaculado de Maria uma oração que possa enternecer a amargura da Vossa prisão. Ouvi-nos, ó Jesus-Eucarístico: pelo amor inefável que vos fizestes suportar os ultrajes no Jardim do Getsêmani e a iniquidade do beijo de Judas traidor...

Reinai pela Santa Eucaristia, ó Sagrado Coração!

Pela vossa mansidão quando recebestes o golpe cruel que profanou a beleza da Vossa face divina...
Reinai pela Santa Eucaristia, ó Sagrado Coração!
Pela vossa infinita paciência sob a zombaria cruel e a ironia da corte, que padecestes por toda a noite da Quinta-feira Santa...
Reinai pela Santa Eucaristia, ó Sagrado Coração!
Pela vossa doçura admirável diante da ignomínia da flagelação, uma punição reservada para escravos e para a qual a covardia de Pilatos Vos condenou...
Reinai pela Santa Eucaristia, ó Sagrado Coração!
Pelo Vosso silêncio compassivo diante a terrível afronta infligida à Vossa Pessoa divina, quando vestido e tratado como um louco...
Reinai pela Santa Eucaristia, ó Sagrado Coração!
Pela vossa extremada humildade quando fostes submetido à odiosa afronta de equiparação a um criminoso vil e ainda ser preterido em favor dele, por uma multidão...
Reinai pela Santa Eucaristia, ó Sagrado Coração!
Pelo vosso amor supremo quando aceitastes mansamente nos lábios agonizantes, o fel da nossa ingratidão...
Reinai pela Santa Eucaristia, ó Sagrado Coração!

(Pequena Pausa) 

Senhor, apesar de satanás e seus sequazes, Vós reinareis por Vosso Divino Coração; sim, Vós reinareis segundo a vossa promessa. As pessoas serão vossas; Vós as possuireis pelo vosso cetro de mansidão e de misericórdia e, na calmaria ou na tempestade, elas não deixarão de Vos louvar e Vos proclamar como Rei. Apressai, Jesus, a hora do triunfo prometido pelo Vosso Coração que é puro amor!

Senhor, Vós reinareis glorificado pela Vossa Santa Igreja. Ela vai dispor em Vossa Fronte um diadema de almas e Vós sereis exaltado acima de todos os poderes do céu, da terra, e do abismo. Apressai, Jesus, a hora do triunfo prometido pelo Vosso Coração que é puro amor! Senhor, Vós reinareis, louvado e abençoado pelos lares forjados em vossos sofrimentos e santificados pela Vossa Mãe. Vós sereis entronizado neles como Rei; Vós neles permanecereis sempre como Amigo e em cuidados de ternura. Apressai, Jesus, a hora do triunfo prometido pelo Vosso Coração que é puro amor!

Senhor, Vós reinareis, atraindo ao Vosso Coração, fonte da vida, os pecadores obstinados, que insistem em recusar-Vos o tributo do seu arrependimento e adoração. Vós quebrareis as suas cadeias e concedereis a eles a liberdade para torná-los felizes cativos do Vosso amor. Apressai, Jesus, a hora do triunfo prometido pelo Vosso Coração que é puro amor!

Senhor, Vós reinareis na Hóstia Consagrada, Vós vencereis pelo Vosso Sacrário irradiante; Vós dominareis a terra pela onipotência amável da Santa Eucaristia. Sim, graças à Santa Eucaristia, Vós atraireis de novo para Vós, os homens conquistados pelo amor do Vosso sangue derramado, até a morte de cruz, até aos extremos de Vossa imolação eucarística. Apressai, Jesus, a hora do triunfo prometido pelo Vosso Coração que é puro amor!

Pai-Nosso e Ave-Maria pelos agonizantes e pecadores.
Pai-Nosso e Ave-Maria pedindo o reinado do Sagrado Coração em todo o mundo, mediante a comunhão frequente e diária, a Hora Santa e a Cruzada da Entronização do Rei Divino em lares, sociedades e nações.
Pai-Nosso e Ave-Maria pelas intenções particulares dos presentes.
Pai-Nosso e Ave-Maria pelo nosso país.
Pai-Nosso, Ave-Maria e Glória pela intenção do Santo Padre.
Pai-Nosso e Ave-Maria pelas intenções particulares dos presentes.

(Cinco vezes)

Sagrado Coração de Jesus, venha a nós o vosso reino!


(Três vezes)

Imaculado Coração de Maria, rogai por nós!

São José, rogai por nós!
Santa Margarida Maria, rogai por nós!


ATO FINAL DE CONSAGRAÇÃO

Jesus Amado, o divino fogo que viestes atear na terra acendeu-se em nossas almas, e tomados por Ele, já não sabemos pedir nem desejar senão a Vossa glória e o reinado do Vosso Sagrado Coração. Vós dissestes à Santa Margarida Maria que esta revelação misericordiosa era o supremo e o último recurso para a nossa redenção. Confiantes, pois, em Vossas palavras, viemos ao Vosso altar em busca de graças de vida eterna, e ao Vosso Coração adorável, ardentemente desejosos de beber da água viva prometida à mulher samaritana, água divina que há de regenerar o mundo.

Sede Rei de tantos ingratos que Vos olham como o soberano destronado de suas almas infelizes. Tomai de volta e confirmai o Vosso império sobre eles, Jesus, pelo cetro do perdão. Reinai sobre os apóstatas, que, renovando os ultrajes da noite da Quinta-feira Santa, se locupletam de escárnios e riem, desdenhosos, da Vossa divina realeza. Dai-lhes de novo a luz perdida da fé e Jesus, Misericórdia que sois, vingai-Vos de suas ofensas perdoando-lhes as traições. Sede Rei, ó Jesus, das multidões que, por sórdidos interesses e induzidas ao erro por tantos sinedristas modernos que Vos desprezam, se amotinaram e se insurgiram contra Vós. Acalmai com um gesto de piedade esse oceano de almas pervertidas e desorientadas; reconquistai pelo Vosso Evangelho o coração destes infelizes e fazei imperar sobre eles o amor do Vosso Sagrado Coração!

Sede Rei de tantas almas boas e virtuosas, mas que são, infelizmente, tímidas, mornas, apáticas... que temem exagerar no tributo à dívida de caridade para convosco. Derretei o gelo destes corações, sacudi da sonolência a que se entregam tantos cristãos descuidados, enquanto o mundo se apressa em Vos julgar e condenar. Sede Rei nas famílias, com todo o esplendor da Vossa glória, com toda a munificência do Vosso Amor. Confiai a Vós os lares, a vida de trabalho, os amores e os sofrimentos destas famílias, que Vos outorgaram o lugar de honra e o trono espiritual no seio delas.

Sede Rei, enfim, sede rei nos Sacrários. Ó Jesus, eis que é chegada a hora em que um hino imenso, universal, um hino das famílias, de povos e nações mas, acima de tudo, um hino de louvor e adoração, seja cantado até aos confins da terra para Vos libertar do silêncio da vossa prisão eucarística: 'Aclamado seja o Divino Coração, por quem alcançamos a salvação; para Ele, a glória e a honra pelos séculos dos séculos! Que venha a nós o Vosso Reino!'

(Hora Santa de Abril, pelo Pe. Mateo Crawley - Boevey, tradução integral pelo autor do blog)

quinta-feira, 23 de abril de 2015

CARTAS A MEU PAI (V)

Pai:

Tive hoje um dia bem incomum neste mês de abril que passa voando. Logo, pela manhã, eu tive a visão das legiões de almas que acompanhavam Cristo Crucificado no caminho do Gólgota. Eu vi claramente os rostos das pessoas que me são tão familiares, tão conhecidas, e de milhares de milhões que me são absolutamente desconhecidas, mas que compõem a estupenda multidão dos vossos filhos. Todos eles só tinham olhares para o Cristo, todos eles olhavam tão somente para a cruz e os rostos brilhavam como feitos de luz. E eu estava ali, no meio deles, como parte do olhar humano transfigurado na busca e na posse eterna da Plena Visão!

Pode ter sido apenas um resquício ainda de sonho, ou algo além (é um bom motivo para incomodar mais uma vez meu diretor espiritual). Na legião de tantas almas, quantas milhares estavam crucificadas como Jesus! Eu passava correndo entre elas, e o sangue delas fluía como um rio abaixo de mim! E o sofrimento delas tornara-se um cântico único de glória, tão extraordinário que miríades de anjos tinham vindo escutar. D. era uma dessas almas crucificadas e, quando o seu olhar encontrou o meu, eu pressenti, num mísero segundo, o que seria a glória de se possuir a felicidade plena de se estar em Deus.

Outras legiões de almas carregavam as cruzes às costas, vergadas pelo lenho sagrado, semelhantes em desprezo e sofrimento, quase que semelhantes em tudo ao Senhor. T. estava bem na frente da minha visão e como me pareceu pesada e enorme a sua cruz, que esforço tremendo fazia vibrar os músculos das suas costas e o impacto dos pés descalços na pedra dura do chão... L. e M. caminhavam juntos, as cruzes quase que entrelaçadas... quantas almas, vergadas e oprimidas, por cruzes imensas... e um oceano delas marchava em êxtases de amor.

E a procissão sem fim de almas agora trazia legiões de legiões. Mas estas almas não estavam pregadas na cruz, não carregavam suas cruzes mas, ao contrário, as agarravam sem jeito, as puxavam insatisfeitas e as arrastavam entre lamúrias e lamentações, levantando nuvens de poeira, por entre as quais os vultos se amontoavam e se confundiam em massas disformes. Eram as almas tíbias e inseguras que se acostumaram ao hálito da fé, mas não se conformaram pela fé em novos Cristos. À medida que avançavam nos passos, maior claridade as ofuscava e a infinita misericórdia de Deus as abraçava e as cumulava de graças sobre graças. Não podia ver estas almas claramente, não me foi possível identificar e nem mesmo guardar memória de nenhuma, mas pressenti que muitas delas ou me eram conhecidas ou, pelo menos, não me eram totalmente estranhas. 

Ó meu Pai, e quantos não estarão lá no último dia? Quantos ficarão retidos nos contrafortes dos pecados, nas muralhas dos vícios, na masmorra das paixões mundanas? Quantos, quantos destes que hoje convivem comigo no barulho da vida, nas conversas profanas, no riso de todas as manhãs, no afã de mais um dia de trabalho, na ânsia de fazer mais planos, na incessante busca de ter mais, de ser mais, de viver em rios de prazer e alegria a vida que passa como um espasmo de vento, não levarão suas cruzes consigo, não estarão nas legiões dos herdeiros do Céu e se perderão para sempre nos caminhos do nada? Quantos? 

Rezei por I., ainda tão distante da verdade de Deus. Rezei por J., pelas suas muitas inquietações, juízos e questionamentos que submergem a beleza da sua fé em monturos de orgulho inútil de uma inteligência privilegiada. E rezei por N.M., rezei muito por ela, para que Vós, meu Pai, não desistais dela, nem quando ela parecer desistir de Vós. E, como sei quão belos são os vossos desígnios, rezei para que todos os vossos filhos se ergam do mundo e dele se libertem para se pregarem na cruz como Jesus Crucificado.

Das outras coisas que tive neste dia, busquei torná-las orações para Vós, na intenção principalmente daqueles que ainda não Vos conhecem. E isso é tudo por hoje, na vida de um filho vosso no meio do mundo. Boa noite, Pai. Com a vossa bênção, R.

('Cartas a Meu Pai' são textos de minha autoria e pretendem ser uma coletânea de crônicas que retratam a realidade cotidiana da vida humana entranhada com valores espirituais que, desapercebidos pelas pessoas comuns, são de inteira percepção pelo personagem R. As pessoas e os lugares, livremente designados apenas pelas suas iniciais, são absolutamente fictícios).

terça-feira, 21 de abril de 2015

ROSÁRIO DA ALMA SACERDOTAL (V)


DÉCIMO PRIMEIRO MISTÉRIO: O NOVO HOMEM

Nosso Senhor, ao morrer, não tinha figura nem beleza. Desde a planta dos pés até a cabeça não tinha um lugar são. Seus ossos estavam todos des­locados, seu sangue derramado, seu coração desfalecido. Então morreu; mas na morte levantou-se o novo filho do homem. A humilhação trouxe a vitória. Da noite e da escuridão, Ele ressurgiu: A Luz para a luz.

Eis o Primeiro Mistério Glorioso: a ressurreição de Nosso Se­nhor. Os sacerdotes imitam a Nosso Senhor. No compatimur de suas vidas e de seus ministérios, está encerrado o conglorificemur, assim como a frutificação está contida na semente. Começa então uma festa pascal para a alma. Para compreendermos esta páscoa do novo homem, meditemos o 1.° mistério glorioso: a ressurreição de Nosso Senhor! Ele ressurgiu dos mortos: no 3.° dia; pelo próprio poder e pela própria força; com as chagas resplandecentes e luminosas; para prova de sua divina missão.

No 3.° dia

'Destruí este templo', disse Cristo, Nosso Senhor. Assim aconteceu, as ruínas jaziam no mo­numento de pedras, no sepulcro. Os fariseus alegravam-se, os discípulos choravam, mas esperavam também. Veio o terceiro dia. Os raios matutinos do sol tocaram os mon­tes; e o edifício levantou-se, mais belo do que antes. Cresceu e cresceu tanto que até exce­deu o sepulcro. Cristo ressurgiu. O templo de Deus sobressai, como o templo dos judeus sobressaiu outrora bem alto sobre os telhados de Sião. Ele é visto per­feitamente, mas não se confiando quase a seus próprios olhos. 

Porque então tememos morrer para o mun­do? Subjuguemos e destruamos o velho homem. Deus formará em breve espaço de tempo o novo Adão, repetir-se-á o milagre da ressurreição. Por acaso não verificamos isto mesmo em muitas vidas de santos? Diversos, tendo começado muito tardiamen­te, galgaram rapidamente, contra todas as expectativas, as luminosas culminâncias da santi­dade; o motivo desta rapidez estava no rápido morrer a si próprios. Quanto mais profunda a nossa Passio, quanto mais resoluto o desfazermo-nos de nós mesmos, tanto mais cedo madrugará a aurora da nossa Páscoa.

Pelo próprio poder e pela própria força

Data est mihi omnis potestas in celo et in terra. Foi-me dado todo o poder no céu e na terra (Mt 28, 18), até mesmo no sepulcro. Sim, para Cristo havia uma noite na qual podia operar: a noite do sepulcro. E ele operou: a sua alma voltou para o sacrossanto corpo e chamou-o à vida. Ele acordou a si mesmo, ressurgiu dos mortos: o maior milagre da oni­potência. 

Que pequeninos, que diminutos estamos nós sacerdotes na presença de um tal mestre e taumaturgo! Certo que Cristo depositou grandes poderes nas nossas mãos: podemos chamar, à vida da graça, os mortos espiritualmente. Mas tratando-se da própria alma, isto é, de se con­duzir a si próprio de um estado de sonolência a um íntimo comércio com Nosso Senhor, então não se percebe a onipotência, mas a fraqueza. Sim, confessemo-lo humildemente: só com o au­xílio da graça chegaremos à perfeita abnegação de nós mesmos.

Com as chagas resplandecentes e luminosas

Como um herói, Jesus saiu do sepulcro. Era mais belo do que todos os filhos des­ta terra. Não se via em seus olhos a morte pálida e nem a putrefação em seu corpo. Circundado de uma celestial candura, pairava luminoso por cima do sepulcro. Os sinais de seus sofrimentos eram transformados em cicatrizes gloriosas; uma luz brilhantíssima e radiosa perpassava o fino e cristalino corpo.

Alia claritas solis, alia claritas lunae, et alia claritas stellarum — Uma é a claridade do sol, outra a claridade da lua, outra a claridade das estrelas (I Cor 15, 41). Nunca porém um astro resplandeceu tanto e tão claro como a estrela de Jacó. Apagou-se pálida, apenas enrubescida de sangue, por detrás do Gólgota; levantou-se, depois, em nunca vista exuberância e beleza infinita, na manhã da Páscoa. 

Como estrelas, luzem os sacerdotes por en­tre a tristeza cotidiana da vida terrena e o afã. Mostram aos homens os caminhos. Depois, porém, desfalecem pálidos e desfei­tos debaixo do sepulcro; mas só por anos. Levantam-se novamente. A imagem do sacerdote transforma-se em uma imagem do céu, mais brilhante do que antes. O seu sinal característico da ordem resplandece por toda parte, para longe. Os trabalhos, fatigantes e cheios de sofrimentos, da vinha do Senhor deixaram sinais inextinguíveis e reluzentes. Como troféus, Ele os leva em seu corpo glorioso. Ó bela e encantadora recompensa sacerdotal! Sic honor abitur.

Para prova de sua divina missão

As palavras ensinam, os fatos convencem. Muitas das palavras de Nosso Senhor caíram sobre pedras. Não se cria em sua divindade, ainda que a sua doutrina transpirava o sopro de Deus. Quan­do, porém, o Redentor, o Verbo feito carne, caíra no rochedo do Gólgota, quando ao de­pois saiu da semente, cresceu e se levantou para uma nova vida, aí então caiu dos olhos de muitos judeus o véu que lhes tapava os olhos. 'Verdadeiramente este homem era o filho de Deus' (Mc 15, 13); assim se disse de­pois da ressurreição mais ainda do que depois da morte. Conversões inúmeras, de multidões incalculáveis, eram a consequência.

Nada prova mais que o Espírito Divino está operando pelo sacerdote do que a ressurreição, do sepulcro, do velho homem. Isso abre os olhos do mundo. Quando o mundo vê o desprezo de si mesmo, e o espírito de sacrifício, e o amor, e a humildade, e a vida interior, então ele se encontra com um elemento divino. O mun­do respeita e venera tais sacerdotes. Ele vê neles algo de novo e extraordinário, isto é, o cunho da santidade e da nobreza do sobrenatural. É uma prova para o mundo da grandeza interior, da sublimidade e santidade que secretamente habitam nestas almas sacerdotais. O mundo crê em tais homens e lhes dá inteira e completa confiança.


DÉCIMO SEGUNDO MISTÉRIO: QUERO SEGUIR O AMADO ATÉ ÀS ALTURAS!


O pensamento do céu entrelaça-se intima­mente com a vida mortal do Redentor pois, como Deus, jamais Jesus abandonou a habita­ção do seu eterno Pai. Como seria possível a Jesus esquecer aquele paraíso, sendo hipostaticamente unido à divindade com a sua humana natureza?! Não viu Ele por acaso o céu sempre aberto? os an­jos a descerem e subirem (I Jo, 51). À Sua vida pois era um contínuo pensamento e uma prolongada saudade do céu. 

Até a cruel e cruenta passio era perpassada por fios de ouro de ininterrupta contemplação, até que a própria ascensão levantou o seu corpo e a sua alma àquelas sacrossantas alturas, onde sempre já tinha permanecido o seu espírito. Direção para o céu tomará também a vida sacerdotal, se ela represen­tar uma verdadeira e total imitação de Cristo Nosso Senhor. Qual a forma que tomará esta direção da alma e da nossa vida, isso nos indica o 2°. mistério glorioso, pois a ascensão de Nosso Se­nhor efetuou-se: quarenta dias depois da sua ressurreição; do Gólgota e diante dos Apóstolos.

Quarenta dias depois da sua ressurreição

Pouco espaço de tempo! Jesus já não era, como antes, deste mundo; logo também não mais para este mundo. Após a noite sepulcral, passou o seu ainda terreno corpo por uma grande transformação. Estático, espiritualizado, mais lu­minoso que o sol, voltou Ele para a luz. A pobre figura de servo desapareceu. Assim o Redentor sobreexcedeu a humanidade. Cresceu por cima da humanidade e entrou para aquele mundo que chamamos a pátria dos bem aventurados. Por isso Jesus não pertencia mais ao mundo. Somente quarenta dias permaneceu no mundo, ora aparecendo aos discípulos, ora às santas mulheres, dando ordens, organizando, constituindo a sua igreja. Então dei­xou o mundo e voltou para o Pai.

Tão depressa talvez não, mas mais rapidamente porém do que muitos julgam, tomamos o caminho para as alturas, quando o espírito e a gra­ça dominam e iluminam o homem, quando se inicia em nós a ressurreição espiritual. Sim, logo que começa a vida interior, pura, sem mácula, começam também os pensamentos a voar para o céu. Ó quão depressa podería­mos nós levar uma vida celeste! Quase sem se perceber, a alma em pouco e bem curto espaço de tempo separa-se desta terra vivendo então só em paragens mais elevadas. Aí então a alma acha-se como em sua pátria.

Do Gólgota!

O In monte Oliveti ressoa em tom triste e lúgubre nos ofícios de trevas na Semana San­ta. Ouvimos com estas três palavras o grito de angústia de Nosso Senhor retumbar pela noite silenciosa; vemos o Homem-Deus na sombra das vetustas oliveiras do Getsêmani ajoelhado, e brilhar, em todo o seu corpo, o precioso sangue que brota entre as mais acerbas dores e agruras da vida. É o começo da Paixão. Neste mesmo sitio a paixão deu lugar à ascensão.

São Lucas conta dos Apóstolos: Reversi sunt a monte qui vocatur Olive­ti (At 1, 12). A ascensão, pois, deu-se no Gólgota. Esse venerável monte, de uns oitocentos metros de altura, viu o Redentor descer às profundezas do mais completo abandono, mas viu-O também desaparecer nas nuvens. Como vencedor dos sofrimentos e da morte, olha Jesus das alturas para o Jardim das Oliveiras. Quem poderá compreender as alegrias inefáveis de nosso Salvador?!

Quem jamais poderá medir a felicidade que sente um sacerdote, quando, após trabalhosa edu­cação de si mesmo, se elevou além do terreno para o eterno que encanta e espiritualiza? Provou os sacrifícios do múnus sacerdotal, teve o seu bem duro 'Getsêmani', estava sempre pronto a sacrificar toda sua vida para o serviço de Deus Nosso Senhor, verter até, por seu amor, se fosse preciso, o sangue todo. 

A 'via dolorosa' de sua regra de vida era para ele o mais agradável pas­seio. Este sacerdote estava crucificado para o mundo e o mundo nele; por isso elevou-se do 'monte Olivete', do lugar de sua operosidade tão fecunda em sofrimentos, com alma e coração para o céu. Lá, onde estava a sua igreja e seu presbitério, lá, onde tantas vezes se entregou completa e inteiramente à vontade de Deus, foi também o monte de onde partia para o céu. O mesmo lugar viu também a sua vida íntima, sua vida de alma, sua vida de graça, tão bela, tão rica, tão separada do mundo, tão interior!

Diante dos Apóstolos

Os Apóstolos tinham já o costume de ver mi­lagres. Observaram grandes sinais e extraordinários milagres na vida de seu Divino Mestre: os que Ele fez no mar, junto dos sepulcros, no meio dos doentes, durante a sua paixão. Apesar de tudo isso, ficaram como absortos e petrificados quando o Senhor se elevou e se afastou de seus olhos. Esta cena tão única em seu gênero, produzindo nos Apóstolos estupefação e dor e saudade ao mesmo tempo, os sub­jugava. Seus olhares estavam fixos no amigo querido e amado. Já desaparecera de suas vis­tas, mas contudo ainda olhavam fixamente para o alto. 'Homens de Galileia, porque estais aqui olhando para o céu?' (At 1, 11). Era o mestre querido desaparecido por entre as nu­vens, podiam acaso esquecê-lo?

Como é natural, os homens elevam o olhar desta terra imunda para as alturas tão lim­pas e puras, contemplando sacerdotes que repre­sentam uma ascensão da alma. Sacerdotes, cujo viver está no céu, operam para os seus paroquianos como operou o Redentor na sua gloriosa ascensão para os discípulos. Estes sacerdotes são um vivo Sursum cor­da para os fieis. Afastam o espírito de seus paroquianos dos prazeres deste mundo efêmero, da sensualidade e de todo pecado, de todo vão amor, terreno e temporal. Homens desta qualidade são uma verdadeira bênção para as paróquias. Quan­do morrem e trilham então o caminho para a eternidade, para onde seu espírito e seu olhar durante a vida sempre convergiram, então mui­tos e muitos lhe seguem com os olhos, tendo nos corações saudade da celeste pátria, saudade do céu.

(Excertos da obra 'A Pérola Preciosa', do Pe. Wendelin Meyer, trad. de Alberto Kolb) 

segunda-feira, 20 de abril de 2015

SÍNTESE DA DOUTRINA CATÓLICA

OS MANDAMENTOS DA CARIDADE 

1. Amarás o Senhor teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente. 
2. Amarás o próximo como a ti mesmo. 

A REGRA DE OURO 

Tudo aquilo que quereis que os homens façam a vós, fazei-o vós mesmos a eles (Mt 7, 12).

AS BEM-AVENTURANÇAS 

Bem-aventurados os pobres de coração, porque deles é o reino dos céus. 
Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. 
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. 
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. 
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. 
Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. 
Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois vós quando vos insultam, vos perseguem e, mentindo, dizem toda espécie de mal contra vós por minha causa. Alegrai-vos e exultai, porque grande é a vossa recompensa nos céus (Mt 5, 3 - 12). 

AS VIRTUDES TEOLOGAIS
1. Fé 
2. Esperança 
3. Caridade 

AS VIRTUDES CARDEAIS 

1. Prudência 
2. Justiça 
3. Fortaleza 
4. Temperança 

OS DONS DO ESPÍRITO SANTO 

1. Sabedoria 
2. Inteligência 
3. Conselho 
4. Fortaleza 
5. Ciência 
6. Piedade 
7. Temor de Deus 

OS FRUTOS DO ESPÍRITO SANTO 

1. Amor 
2. Alegria 
3. Paz 
4. Paciência 
5. Benignidade 
6. Longanimidade 
7. Benevolência 
8. Humildade 
9. Fidelidade 
10. Modéstia 
11. Continência 
12. Castidade 

OS MANDAMENTOS DA IGREJA 

1. Participar da Missa aos domingos e festas de guarda e permanecer livres de trabalhos e de atividades que poderiam impedir a santificação desses dias. 
2. Confessar os próprios pecados pelo menos uma vez ao ano. 
3. Receber o sacramento da Eucaristia pelo menos na Páscoa. 
4. Abster-se de comer carne e observar os jejum nos dias estabelecidos pela Igreja. 
5. Suprir as necessidades materiais da própria Igreja, segundo as próprias possibilidades. 

AS OBRAS DE MISERICÓRDIA CORPORAL 

1. Dar de comer aos famintos. 
2. Dar de beber aos sedentos. 
3. Vestir os nus. 
4. Acolher os peregrinos. 
5. Visitar os enfermos. 
6. Visitar os encarcerados. 
7. Sepultar os mortos. 

AS OBRAS DE MISERICÓRDIA ESPIRITUAL 

1. Aconselhar os duvidosos. 
2. Ensinar os ignorantes. 
3. Admoestar os pecadores. 
4. Consolar os aflitos. 
5. Perdoar as ofensas. 
6. Suportar pacientemente as pessoas incômodas. 
7. Rezar a Deus pelos vivos e pelos mortos. 

OS VÍCIOS CAPITAIS 
1. Soberba 
2. Avareza 
3. Luxúria 
4. Ira 
5. Gula 
6. Inveja 
7. Preguiça 

OS NOVÍSSIMOS 

1. Morte 
2 . Juízo 
3. Inferno 
4. Paraíso

domingo, 19 de abril de 2015

TESTEMUNHAS DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR

Páginas do Evangelho - Terceiro Domingo da Páscoa


Neste Terceiro Domingo da Páscoa, os Evangelhos evocam mais uma das muitas manifestações de Jesus Ressuscitado aos discípulos reunidos no Cenáculo. Mesmo depois dos relatos das aparições de Jesus às santas mulheres, à Maria Madalena, ao próprio Pedro, e aos dois discípulos de Emaús, muitos ainda permaneciam incrédulos e continuavam a negar a ressurreição de Jesus. E o dogma da ressurreição, essência da fé cristã, não poderia conviver com tais dúvidas e não poderia prescindir da solidez confiante do testemunho de muitos e de todos.

Por isso, mais uma vez, Jesus se apresenta aos seus discípulos e os saúda com a paz de Cristo. Homens incrédulos responderam à saudação de Jesus como homens incrédulos: 'Eles ficaram assustados e cheios de medo, pensando que estavam vendo um fantasma' (Lc 24, 37). Turbados pela presença de Jesus, julgaram ver um espírito, um fantasma que atravessava paredes e portas fechadas. O temor e a desconfiança deles era tão grande que foram capazes, mais uma vez, de confundirem o mistério da graça com uma reação baseada na lógica simples da natureza humana. Jesus surgira do nada, e as portas estavam fechadas; tratava-se, pois, da aparição de um fantasma...

Jesus os conclama a compreender o mistério da graça: 'Por que estais preocupados, e por que tendes dúvidas no coração? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede! Um fantasma não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho. E, dizendo isso, Jesus mostrou-lhes as mãos e os pés' (Lc 24, 38 - 40). E, agora, movidos por uma incredulidade mais afeta à alegria pela confirmação da ressurreição de Cristo do que a descrença pelo sobrenatural, os discípulos oferecem a Jesus, a pedido dele, um pedaço de peixe assado: 'Ele o tomou e comeu diante deles' (Jo 24, 43). Não podia existir prova mais definitiva da real presença de Jesus Ressuscitado; em seu corpo glorioso, embora não precisasse de alimento algum, Aquele que antes comia e bebia com eles, estava de novo comendo com eles. Era o mesmo Jesus, Jesus Ressuscitado, não um espírito, não um fantasma.

Em seguida, após confirmar a sua missão salvífica, Jesus exorta os seus discípulos a serem, mais que as testemunhas singulares da Ressurreição, os continuadores de sua missão, constituindo-os sacerdotes da Igreja e herdeiros do seu sumo e eterno sacerdócio. Missão destinada a ser cumprida pelo ministério sacerdotal até o fim dos tempos, na busca da confirmação da obra universal da redenção e para a salvação e a santificação das almas: 'e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sereis testemunhas de tudo isso' (Lc 24, 47 - 48).

sábado, 18 de abril de 2015

PALAVRAS DE SALVAÇÃO






'Nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios'. 

São Paulo (I Cor 1, 23).