sábado, 21 de março de 2015

SOBRE A CERTEZA DA MORTE


A sentença de morte foi escrita para todo o gênero humano: és homem, deves morrer. Dizia Santo Agostinho: 'só a morte é certa; os demais bens e males nossos são incertos'. É incerto se o recém-nascido será rico ou pobre, se terá boa ou má saúde, se morrerá moço ou velho. Tudo isto é incerto, mas é indubitavelmente certo que deve morrer.

Magnatas e reis também serão ceifados pela morte, a cujo poder não há força que resista. Resiste-se ao fogo, à água, ao ferro, ao poder dos príncipes, mas não se pode resistir à morte. Conta Vicente de Beauvais que um rei da França, achando-se no termo da vida, exclamava: 'com todo o meu poder, não posso conseguir que a morte espere mais uma hora!' Quando chega esse momento, não podemos retardá-lo nem por um instante sequer.

Por muitos anos, querido leitor, que ainda tenhas de viver, há de chegar um dia, e nesse dia uma hora, que te será a última. Tanto para mim, que escrevo, como para ti, que lês este livro, está decretado o dia, o instante, em que nem eu poderei mais escrever nem tu poderás ler. 'Quem é o homem que viverá e não verá a morte?' (Sl 89,49). Está proferida a sentença. Nunca existiu homem tão néscio que se julgasse isento da morte. O que sucedeu a teus antepassados, também sucederá a ti. De quantas pessoas, que, no princípio do século passado, viviam em tua pátria, nenhuma existe com vida. Até os príncipes e monarcas deixarão este mundo. Não subsistirá deles mais que um mausoléu de mármore com inscrição pomposa que somente serve para nos patentear que dos grandes deste mundo só resta um pouco de pó resguardado por aquelas lajes. São Bernardo pergunta: 'Dize-me: onde estão os amadores do mundo?' E responde: 'Nada deles resta, senão cinzas e vermes'.

É mister, portanto, que não procuremos essa fortuna perecedora, mas a que não tem fim, já que nossas almas são imortais. De que te serviria ser feliz neste mundo — ainda que a verdadeira felicidade não se pode encontrar numa alma que vive afastada de Deus — se depois tens de ser desgraçado eternamente? Já tens preparado tua casa a teu gosto, mas reflete que cedo terás de deixá-la para ir apodrecer numa cova. Talvez alcançaste uma dignidade que te torna superior aos outros, mas a morte virá e te igualará aos mais vis plebeus deste mundo.

...

É certo, pois, que todos fomos condenados à morte. Todos nascemos — disse São Cipriano — com a corda ao pescoço, e a cada passo que damos mais nos aproximamos da morte. Meu irmão, assim como foste inscrito no livro do batismo, assim, um dia, o serás no registro dos mortos. Assim como, às vezes, mencionas teus antepassados, dizendo: meu pai, meu tio, meu irmão, de saudosa memória, o mesmo dirão de ti teus descendentes. Como muitas vezes tens ouvido planger os sinos pela morte dos outros, assim outros ouvirão que os tocam por ti.

Que dirias de um condenado à morte que se encaminhasse ao patíbulo galhofando e rindo-se, olhando para todos os lados e pensando em teatros, festins e divertimentos? E tu, neste momento, não caminhas também para a morte? E em que pensas? Contempla nessas sepulturas teus parentes e amigos, cuja sentença já foi executada. Que terror se apodera de um condenado, quando vê seus companheiros pendentes da forca e já mortos! Observa esses cadáveres; cada um deles diz: 'Ontem, a mim; hoje, a ti' (Ecl 38, 23). O mesmo te repetem, todos os dias, os retratos de teus parentes já falecidos, os livros, as casas, os leitos, as roupas que deixaram.

Que loucura extrema não pensar em ajustar as contas da alma e não aplicar os meios necessários para alcançar uma boa morte, sabendo que temos de morrer, que depois da morte nos está reservada uma eternidade de gozo ou de tormento, e que desse ponto depende o sermos para sempre felizes ou desgraçados! Temos compaixão dos que morrem repentinamente e não se acham preparados para a morte e, contudo, não tratamos de nos preparar, a fim de não nos acontecer o mesmo. Cedo ou tarde, quer estejamos apercebidos, quer de improviso, pensemos ou não na morte, ela há de vir; e a toda hora, a cada instante nos vamos aproximando do nosso patíbulo, ou seja da última enfermidade que nos deve tirar deste mundo.

Em cada século, as casas, as praças, as cidades enchem-se de novos habitantes. Os antigos estão no túmulo. Assim como para estes passaram os dias da vida, assim virá o tempo em que nem tu nem eu, nem pessoa alguma das que vivemos atualmente, existirá na terra.Todos estaremos na eternidade, que será, para nós, ou intérmino dia de gozo, ou noite eterna de tormentos. Não há aqui meio termo. É certo, e é de fé que um ou outro destino nos espera.

...

A morte é certa. Tantos cristãos sabem-no, o creem, o veem e, entretanto, vivem no esquecimento da morte como se nunca tivessem de morrer! Se depois desta vida não houvesse nem paraíso nem inferno, seria possível pensar menos na morte do que se pensa atualmente? Daí procede a má vida que levam.

Meu irmão, se queres viver bem, procura passar o resto dos teus dias sem perder de vista a morte. Quanto aprecia com acerto as coisas e dirige suas ações sensatamente aquele que as aprecia e dirige pela ideia de que deve morrer! (cf. Ecl 41, 3). A lembrança da morte — disse São Loureço Justiniano — desprende o coração de todas as coisas terrenas. Todos os bens do mundo se reduzem a prazeres sensuais, riquezas e honras (cf. 1Jo 2, 16). Aquele, porém, que considera que em breve não será mais que pó e que, em baixo da terra, servirá de pasto aos vermes, despreza todos esses bens.

Foi efetivamente pensando na morte que os santos desprezaram os bens terrestres. Por este motivo, São Carlos Borromeu conservava sobre sua mesa um crânio humano; tinha a morte continuamente diante dos olhos. O cardeal Barônio tinha gravado no anel esta inscrição: Memento mori: 'Lembra-te que tens de morrer'. O venerável Pe. Juvenal Ancina, bispo de Saluzzo, gravara numa caveira estas palavras: 'Fui o que és; serás o que sou'. Um santo ermitão, a quem perguntaram na hora da morte por que se mostrava tão contente, respondeu: 'tantas vezes tive a morte diante dos olhos, que agora, quando se aproxima, não vejo coisa nova'.

Que loucura seria a de um viajante que só cuidasse de ostentar luxo e grandezas nas localidades por onde teria de passar, sem pensar sequer que depois teria de viver miseravelmente no lugar onde durante toda a sua vida iria residir? E não será igualmente demente aquele que procura ser feliz neste mundo, onde são poucos os dias que tem de passar, e se arrisca a ser desgraçado no outro, onde viverá eternamente? Quem pede emprestado um objeto, pouca afeição lhe pode ter, porque sabe que em breve o tem de restituir. Os bens da terra são todos dados de empréstimo; é, pois, grande loucura tomar-lhes afeição, porque dentro de pouco tempo temos de abandoná-los. A morte de tudo nos privará. Todas as nossas propriedades e riquezas acabar-se-ão com o último suspiro, com o funeral, com o trajeto ao túmulo. A casa que mandaste construir passará às mãos de outrem; o túmulo será morada do teu corpo até ao dia do juízo, depois do qual passará ao céu, ou ao inferno, onde tua alma já lhe terá precedido.

(Excertos da obra 'Preparação para a morte – Considerações sobre as verdades eternas', de Santo Afonso de Ligório)

21 DE MARÇO - SÃO NICOLAU DE FLÜE



Nicolau de Flüe, conhecido também com Bruder Klaus (Irmão Klaus), nasceu em Sachseln, na Suíça, em 1417. Desde muito cedo, manifestou claramente uma vida de oração e mortificação. Em obediência aos pais, casou-se com Dorotéia Wyss e tiveram dez filhos, sendo cinco homens e cinco mulheres. No âmbito da vida matrimonial, continuou a desenvolver, com redobrado fervor, a sua prática religiosa e de oração cotidiana intensa, agora junto a uma numerosa família.

Em torno dos 50 anos, tomou a decisão que iria percorrer até a morte na via da santificação pessoal pelo ascetismo. Com o consentimento da esposa (mas não de todos os seus familiares) abandonou todo e qualquer afeto humano para viver em absoluto isolamento do mundo, dedicando-se exclusivamente a uma vida de oração e contemplação. Vivendo inicialmente numa pequena cabana e, mais tarde, numa ermida de pedra construída especialmente para ele, com acesso diário ao Santo Sacrifício, o santo foi personagem de um milagre impressionante: passou os últimos 20 anos de sua vida sem se prover de água ou de alimentos, mas vivendo somente da Sagrada Eucaristia!

Neste período, praticou intensamente a catequese espiritual a seus concidadãos, manifestando, em várias ocasiões, o dom da profecia. Em certa ocasião, atuou, de forma decisiva, para evitar conflitos associados a uma potencial divisão do território suíço, pelo que é celebrado também como padroeiro da Suíça. Após a sua morte, o culto pessoal estendeu-se não apenas na Suíça, mas também na Alemanha, França e Países Baixos. São Nicolau de Flüe faleceu no dia 21 de março de 1487, data do seu nascimento, aos setenta anos de idade. Foi canonizado por Pio XII em maio de 1947.

São Nicolau de Flüe, rogai por nós!

quinta-feira, 19 de março de 2015

19 DE MARÇO - SÃO JOSÉ


São José, esposo puríssimo de Maria Santíssima e pai adotivo de Jesus Cristo, era de origem nobre e sua genealogia remonta a David e de David aos Patriarcas do Antigo Testa­mento. Pouquíssimo sabemos da vida de José, além de suas atividades de carpinteiro em Nazaré. Mesmo o seu local de nascimento é ignorado: poderia ser Nazaré ou mesmo Belém, por ter sido a cidade de Davi. Ignora-se igualmente a data e as condições da morte de São José, mas existem fortes razões para afirmar que isso deve ter ocorrido an­tes da vida pública de Jesus. Com certeza, José já teria falecido quando da morte de Jesus, uma vez que não se explicaria, então, a recomendação feita aos cuidados mútuos à mãe e ao filho, dados, da cruz,  por Jesus a Maria e a São João Evangelista.

Não existem quaisquer relíquias de São José e se desconhece o local do seu sepultamento. Muitos pais da Igreja defendiam que, devido à sua missão e santidade, São José, a exemplo de São João Batista, teria sido consagrado antes do nasci­mento e já gozava de corpo e alma da glória de Deus no céu, em com­panhia de Jesus e sua santíssima Esposa. As virtudes e as graças concedidas a São José foram extraordinárias, pela enorme missão a ele confiada pelo Altíssimo. A dig­nidade, humildade, modéstia e pobreza, a amizade íntima com Je­sus e Maria e o papel proeminente no plano da Redenção, são atributos e méritos extraordinários que lhe garantem a influência e o poder junto ao tro­no de Deus. Pedir, portanto, a intercessão de São José, é garantia de ser ouvido no mais alto dos céus. Santa Tereza, ardorosa devota de São José, dizia: 'Não me lembro de ter-me dirigido a São José sem que tivesse obtido tudo que pedira'.

A devoção a São José na Igreja Ca­tólica é antiquíssima. A Igreja do Oriente celebra-lhe a festa, desde o século nono, no domingo depois do Natal. Foram os carmelitas que in­troduziram esta solenidade na Igreja Ocidental; os franciscanos, já em 1399, festejavam a comemoração do Santo Pa­triarca. Xisto IV inseriu-a no bre­viário e no missal; Gregório XV ge­neralizou-a em toda a Igreja. Cle­mente XI compôs o ofício, com os hinos, para a celebração da Festa de São José em 19 de março e colocou as missões na China sob a proteção do Santo. Pio IX introdu­ziu, em 1847, a festa do Patrocínio de São José e, em 1871, declarou-o Pa­droeiro da Igreja; muitos pontífices promoveram solenemente a devoção a São José, por meio de orações, homilias, encíclicas e devoções diversas.

São José, rogai por nós!

terça-feira, 17 de março de 2015

TRÍDUO DE SÃO JOSÉ


Oração Inicial (para todos os dias)

Pelo sinal da Santa Cruz, livrai-nos Deus de nossos inimigos.
V. Benditos e amados sejam os dulcíssimos nomes de Jesus, Maria e José.
R. Amém.

A Vós recorremos, bondoso Patriarca, e com todo o fervor de nosso afligido Coração, vos pedimos que, deste trono de glória em que vos colocaram vossas virtudes e merecimentos, escuteis propício nossas súplicas e tenhais piedade de nós. Humildemente confessamos que nossas tribulações são penas de nossas culpas; por isso, com dor no coração, pedimos a Deus perdão por todas elas.

Amoroso São José, pelo amor que professais ao vosso Jesus e Maria e pela autoridade que sobre eles exercestes aqui na terra, intercede agora por nós no céu, escutando nossas petições e apresentando-as vós mesmo à vossa Esposa Imaculada e ao vosso Divino Filho, para que sejam favoravelmente ouvidas, para maior glória de Deus e santificação de nossas almas. Amém.

Castíssimo esposo da Virgem Maria e amável protetor, meu São José, que jamais se ouviu dizer que alguém já tenha invocado a vossa proteção e implorado o vosso auxílio sem haver sido consolado. Cheio de confiança em vosso poder, já que exercestes com Jesus o cargo de pai, venho, à vossa presença, recomendar-me a Vós com todo o fervor. Não desprezeis minhas súplicas, antes bem acolhei-as e dignai-vos atendê-las piedosamente. Amém.

Primeiro Dia (16/03)

Aqui nós estamos em vossa gloriosa presença, doce protetor nosso São José, implorando o vosso eficaz patrocínio.

Dirige, ó grande santo, um olhar amoroso sobre nós, miseráveis filhos de Eva, e alcançai-nos a graça que vos pedimos, as virtudes da humildade, pureza e obediência, a honra de morrer assistidos por Jesus, por vossa Esposa e por vós, para o bendizermos e o louvarmos no céu eternamente. Amém.

Pede-se a graça que se deseja...
Rezar sete Pai-Nossos e Ave-Marias em memória das sete dores e alegrias de São José.

Segundo Dia (17/03)

Ao vossos pés nos prostramos com o mais humilde afeto, ó incomparável protetor nosso São José, confiando em vosso eficaz patrocínio.

Dirige, ó grande santo, um olhar amoroso sobre nós, miseráveis pecadores filhos de Eva, e alcançai-nos a graça que vos pedimos, juntamente com as três virtudes de terna piedade, gratidão aos divinos benefícios e firme confiança em Deus, que tanto e com tanto fruto praticastes vós mesmo, a fim de que enriquecidos com elas, possamos expirar docemente nos braços de Jesus e Maria, e chegarmos depois em vossa companhia no céu, por toda a eternidade. Amém.

Pede-se a graça que se deseja...
Rezar sete Pai-Nossos e Ave-Marias em memória das sete dores e alegrias de São José.

Terceiro Dia (18/03)

Prostrados ante Vós, insigne protetor nosso São José, acudimos também hoje em demanda de vosso eficaz patrocínio.

Dirige, ó grande Santo, um olhar amoroso sobre nós, miseráveis filhos de Eva, e apresentai nossas súplicas ao Pai Eterno, cujas vezes fizestes na terra tutelando o seu Divino Filho; oferecei-as também ao Espírito Santo, de quem fostes representante como Esposo de Maria; apresentai-as, enfim, ao Filho, para que sejam benignamente atendidas pela Santíssima Trindade, objeto de todo nosso amor, agora e sempre, por todos os séculos. Amém.

Pede-se a graça que se deseja...
Rezar sete Pai-Nossos e Ave-Marias em memória das sete dores e alegrias de São José.

Oração Final (para todos os dias)

Gloriosíssimo Patriarca São José, castíssimo Esposo da Mãe de Deus; ao vosso amparo acudimos, não desprezais nossas súplicas e livrai-nos de todos os perigos.
V. Bendito Patriarca São José, rogai por nós.
R. Para que sejamos dignos da graça que imploramos.

Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus e Mãe nossa, uni vossos rogos aos de vosso castíssimo Esposo e pelos maternais cuidados que dedicastes ao Menino Jesus, intercedei e rogai por nós, para que sejamos dignos de alcançar a graça que vos pedimos.

Sacratíssimo Coração de Jesus, ouvi benigno as súplicas de Maria, cheia de graça, e de José, varão justo, para que, por sua intercessão, logremos o favor solicitado, se for para a maior honra e glória vossa e bem de nossas almas. Vós que viveis e reinais por todos os séculos dos séculos. Amém.

POEMAS PARA REZAR (XVIII)


BUSCANDO A CRISTO 

A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa Cruz sacrossanta descobertos:
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.

A vós, olhos divinos eclipsados,
De tanto sangue e lágrimas cobertos,
Que, para perdoar-me, estais despertos
E, por não devassar-me, estais fechados.

A vós, pregados pés, por não fugir-me;
A vós, cabeça baixa, por chamar-me;
A vós, sangue vertido, para ungir-me;

A vós, lado patente, quero unir-me;
A vós, cravos preciosos, quero atar-me;
Para ficar unido, atado e firme.

(Gregório de Matos)