segunda-feira, 19 de maio de 2014

HISTÓRIAS MEDIEVAIS

DO VALOR DO EXEMPLO

Um abade da Ordem Negra (Beneditinos), um bom homem de comprovada experiência, tinha monges muito singulares e relapsos. Alguns deles haviam conseguido certo dia diversas espécies de carne e vinhos finos. Com medo do abade, não se atreveram a consumir tais coisas num dos quartos do mosteiro, mas reuniram-se num grande tonel de vinho, levando para lá suas provisões. 

Isso foi delatado e o abade, profundamente entristecido, chegou correndo, olhou para dentro do tonel e, com a sua chegada, transformou a alegria dos moleques em tristeza. Vendo como estavam assustados, bancou o alegre, entrou junto deles no barril e disse: 

- Ah, irmãos, queríeis comer e beber aí sem mim? Isso não é justo. Na verdade, vou participar.

Lavou as mãos, comeu e bebeu com eles e, pelo exemplo, devolveu-lhes a alegria perdida. No dia seguinte, depois de preparar e instruir o prior, o abade postou-se diante dele no Capítulo, pediu perdão com a maior humildade, fingiu terror e medo, e exclamou:

- Senhor prior, confesso a vós e a todos os meus irmãos presentes que eu, pecador, caí no pecado da gula, e ontem, secretamente, escondido num tonel de vinho, pequei contra a prescrição e a regra do meu santo pai São Bento, saboreando carne. E prostrou-se no chão, preparando-se para a penitência. Quando o prior quis dissuadi-lo, respondeu: 

- Deixai-me sofrer punição e penitência, pois é melhor pagar aqui do que na outra vida. 

Depois da punição e da penitência, voltou ao seu lugar. Mas aqueles monges, com medo de fossem chamados se ocultassem sua culpa, também se ergueram e confessaram seu pecado. O abade mandou dar-lhes severos castigos, conforme combinara antes com o outro monge, censurou-os asperamente e ameaçou-os com duras penas para que não acontecesse mais semelhante coisa. 

Assim, como médico esperto, ele curou, pelo exemplo, o mal que não pudera combater com palavras.


DO PECADO DO ORGULHO

Certa vez, reinava o poderoso Imperador Joviniano; estando ele deitado na sua cama, o coração lhe inchou inacreditavelmente de orgulho, e ele disse para si mesmo: 'Haverá outro Deus além de mim?' Enquanto ainda pensava nisso, o sono o dominou, e quando se ergueu cedo pela manhã, reuniu seus guerreiros, dizendo-lhes:

- Meus caros, será bom comermos alguma coisa. pois hoje tenho vontade de ir à caça. Estavam dispostos a cumprir sua vontade, comeram e partiram para caçar. Contudo, enquanto o imperador cavalgava, assaltou-o um calor intolerável, pareceu-lhe que morreria, se não pudesse banhar-se em água fria. Por isso olhou em torno e viu a distância um grande lago. Falou então aos seus soldados: - Fiquem aqui, até que eu tenha me refrescado.

Depois esporeou seu cavalo e galopou até à água, saltou do cavalo, tirou todas as roupas, entrou na água e ficou ali até estar totalmente refrescado. Mas enquanto estava na água chegou certo homem, que era parecido com ele em rosto e postura, vestiu sua roupa, montou seu cavalo, e dirigiu-se até os guerreiros do imperador. Foi recebido por todos como o imperador em pessoa, e quando a caça terminara, dirigiu-se com eles ao castelo. 

Depois Joviniano saiu depressa da água, não encontrando seu cavalo nem sua roupa. Admirou-se muito com isso, e ficou muito triste; porém estando nu e não vendo ninguém, pensou: 'Que farei agora? Fui miseravelmente logrado'. Por fim voltou a si e disse: 'Aqui perto mora um soldado a quem promovi de posto; irei até ele e arranjarei cavalo e roupas, depois cavalgarei até meu castelo e verei como e por quem fui confundido dessa maneira'. Joviniano andou pois inteiramente nu até à moradia daquele soldado e bateu no portão. O porteiro, porém, perguntou pela razão de estar batendo, e Joviniano disse:

- Abre a porta e verás quem sou. O porteiro abriu a porta e depois de vê-lo, espantou-se e indagou: - Mas quem és? O outro respondeu: - Sou o Imperador Joviniano; vai até teu senhor e diz-lhe que me empreste roupas; pois perdi meu cavalo e minhas vestes. O outro, porém, respondeu:

- Estás mentindo, miserável ladrão, pois, antes de ti, o senhor Imperador Joviniano passou por aqui a caminho do castelo, com seus guerreiros; meu senhor o acompanhou, já voltou e está sentado à mesa. Mas vou anunciar-lhe que te fazes passar pelo imperador. O porteiro apresentou-se logo ao seu senhor e contou-lhe o que o outro dissera. Assim que escutou tudo, o soldado mandou que lhe trouxessem aquele homem; e contemplando-o, o guerreiro não o reconheceu, mas o imperador o reconhecia bem.

Então o guerreiro disse: - Diz-me quem és e como te chamas. O outro respondeu: - Sou o Imperador Joviniano, e há pouco tempo te promovi a um posto superior. O outro retrucou: - Oh, miserável ladrão, com que atrevimento te chamas de imperador? Pois há pouco, o meu senhor, o imperador, cavalgou por aqui em direção do castelo. Eu o segui por algum tempo e estou de volta. Mas não escaparás sem castigo por te haveres denominado imperador. 

E mandou que lhe dessem uma boa surra, e o expulsassem da sua propriedade. Joviniano, surrado e escorraçado, chorou amargamente e disse: 'Ó meu Deus, como é possível que o guerreiro a quem recentemente promovi não me conheça mais e me tenha mandado surrar tão cruelmente?' Nisso lhe ocorreu: 'Aqui perto mora um dos meus conselheiros,um duque; vou até ele, comunicar-lhe minha aflição. Dele receberei roupas e poderei voltar ao meu castelo'.

Quando chegou ao portão da moradia do duque, bateu, e o porteiro, escutando as pancadas, abriu o portão, e vendo um homem despido, admirou-se e disse: - Meu caro, quem és e por que chegaste aqui assim nu? O outro porém respondeu: - Sou o imperador, e por acaso perdi meu cavalo e minhas roupas, por isso venho ver o duque para que ele me ajude na minha aflição; por isso peço que apresentes meu pedido ao teu senhor. 

Quando o porteiro escutou isso admirou-se, voltou à casa do seu senhor e contou-lhe tudo. O duque, porém, disse: - Manda-o entrar! Quando entrou, porém, ninguém o reconheceu, e o duque lhe disse: - Afinal, quem és? O outro respondeu: - Sou o imperador, e fiz com que tivesses fortuna e honrarias, fiz de ti um duque, e meu conselheiro.

O duque, porém, disse: - Miserável demente! Pouco antes da tua chegada, cavalguei com o imperador, meu senhor, até o seu castelo, e acabo de voltar de lá; mas não vai escapar sem castigo por teres querido apoderar-te de tal honra. Mandou que o encerrasse numa prisão, a pão e água, depois tiraram-no de lá, deram-lhe uma boa surra, e expulsaram-no dos domínios do duque. 

Quando estava assim exilado, Joviniano emitiu mais suspiros e lamentações do que se poderia acreditar, e disse de si para si: 'Ai de mim, que farei, agora que me tornei objeto de insulto e vergonha do povo? Será melhor ir ao meu castelo, pois os meus certamente me reconhecerão, e se não for assim, ao menos minha mulher me reconhecerá por certos sinais'.

Depois disso, foi sozinho ao seu palácio, bateu no portão, e quando o porteiro escutou as pancadas abriu. Vendo-o, disse-lhe: - Mas quem és? O outro respondeu: - Admira-me que não me reconheças, pois estás comigo há tanto tempo. O outro, porém, disse: - Estás mentindo! Estou há muito tempo com o Imperador, meu senhor. E o outro retrucou: - Pois eu sou o imperador, e se acreditas nas minhas palavras, peço por amor de Deus que vás procurar a imperatriz e lhe diga que, através desses sinais, ela providencie meus trajes imperiais, pois por acaso perdi todos os meus; os sinais que vou te dar ninguém na terra conhece além de nós dois.

E o porteiro disse: - Não duvido de que estejas louco, pois o meu senhor, o imperador, neste momento está à mesa, e ao lado dele a imperatriz. Mas vou anunciar a ela que disseste que és o imperador, e estou certo que será severamente punido. O porteiro foi pois ter com a imperatriz e lhe disse tudo o que ouvira. Ela ficou muito perturbada, virou-se para o seu marido e disse: - Senhor, sabeis que seguidamente aconteceram entre nós, em segredo, coisas singulares. Agora um sujeito devasso que está no portão manda-me dizer pelo porteiro que é o imperador.

Quando o falso imperador ouviu isso, mandou que o outro entrasse na presença de todos; quando foi introduzido assim nu, um cão que sempre o amara muito saltou para morder seu pescoço. A criadagem impediu o cão de matar o homem, que não sofreu mais nenhum dano. Também havia um falcão num poleiro, que, assim que o avistou, rebentou sua corrente e fugiu voando da sala. Nisso o imperador disse a todos que estavam sentados na sala: - Meus caros, ouçam minhas palavras, que direi a este vagabundo. Quem és, e por que vieste? O outro porém respondeu: - Oh, senhor, que pergunta singular. Eu sou o imperador e dono deste lugar.

Então o imperador disse a todos os que estavam sentados à mesa ou postados ao redor dela: - Dizei-me pelo juramento que me prestastes, quem é vosso imperador e senhor? E eles responderam: - Oh, senhor, pelo juramento que vos prestamos, a resposta é simples: nunca vimos aquele ladrão, mas vós sois o nosso senhor e imperador, a quem conhecemos desde a juventude, por isso vos pedimos unanimemente que aquele ali seja castigado, para que todos tirem um exemplo dele, e nunca mais se tente uma tal insolência.

Diante disso o imperador virou-se para a imperatriz e disse: - Diz-me, minha senhora, pela fidelidade que me dás: conheces aquele homem que se diz imperador e teu senhor? Mas ela respondeu: - Oh, caro senhor, porque me perguntas isso? Não estou contigo há mais de trinta anos, e não te dei três filhos? Uma coisa porém me admira, é como esse patife chegou a saber de fatos secretos entre nós dois. 

E o imperador disse então ao que fora introduzido na sala: - Meu caro, como ousaste fazer-te passar por um imperador? Decretamos que sejas hoje amarrado à cauda de um cavalo, e se tiveres a ousadia de dizeres isso mais uma vez, vou te condenar à morte mais vergonhosa. Depois disso, chamou seus guardas e disse: - Ide e amarrai este homem à cauda dum cavalo, mas não o mateis.

E foi o que aconteceu. Mas depois as entranhas daquele homem se moveram mais do que alguém possa imaginar, e duvidando de si mesmo disse: - Amaldiçoado o dia em que nasci e que meus amigos me abandonaram! Minha mulher e meus filhos não me reconheceram. E enquanto falava assim pensou: 'Aqui perto mora meu confessor, vou dirigir-me a ele: talvez me reconheça, pois muitas vezes ouviu minhas confissões'.

Depois dirigiu-se ao eremita e bateu na janela da sua ermida. O outro indagou: - Quem está aí? E ele respondeu: - Sou eu, o Imperador Joviniano. Abre tua janela para que eu possa falar contigo. Assim que o eremita escutou a voz, abriu a janela mas, vendo o homem, bateu-a com força fechando-a de novo, e disse: - Afasta-te de mim, maldito, pois não és o imperador, e sim o diabo em forma humana! 

Quando o outro escutou isso caiu no chão de tanta dor, arrancando os cabelos da cabeça e da barba, e disse: - Ai de mim, que devo fazer? Dizendo isso lembrou-se de como recentemente, quando jazia na cama, seu coração inchara de orgulho, e que ele dissera: 'Existirá outro Deus além de mim?' - Logo bateu na janela do eremita e disse: - Ouvi, eu vos peço, por amor ao Crucificado, ouvi minha confissão, mesmo de janela fechada. E o outro disse: - Para mim está bem.

Ele então confessou, entre lágrimas, toda a sua vida, especialmente como se colocara acima de Deus e dissera não acreditar em nenhum outro Deus senão ele próprio. Quando a confissão e a absolvição tinham passado, o eremita abriu a janela, reconheceu-o, e disse: - Bendito o Altíssimo, agora te reconheço; tenho aqui umas poucas peças de roupa, veste-as e vai ao teu palácio, e espero que lá te reconheçam.

Depois o imperador partiu, dirigiu-se ao seu palácio, e bateu no portão. O porteiro abriu logo e recebeu-o com o maior respeito. Mas o outro disse: - Então me conheces? E o porteiro retrucou: - Ora, sim, meu senhor, e muito bem. Apenas me admiro porque estive o dia inteiro aqui parado e não vos vi sair de casa. O outro entrou no salão de reuniões, e todos os que o viram baixaram as cabeças. Mas o outro imperador estava com sua mulher.

Porém um guerreiro que saiu do aposento real olhou para ele, voltou para o quarto e disse: - Meu senhor, na sala está um homem diante do qual todos se curvam honrando-o, e é tão parecido em tudo convosco, que realmente não sei qual de vós é o imperador. Quando o falso imperador escutou isso, disse à imperatriz:
- Vai até lá e vê se o conheces. Ela saiu depressa e, quando o viu, admirou-se, voltou ligeiro aos aposentos e falou: - Oh, senhor, anuncio-vos que há outro lá fora, mas não posso absolutamente distinguir qual de vós é o meu senhor. O outro então disse: - Se for assim, quero sair e trazer a verdade à luz do dia.

Quando entrou no salão, pegou o outro pela mão, fê-lo ficar ao seu lado, chamou todos os guerreiros que estavam na sala, e a imperatriz, e disse: - Pelo juramento que me prestastes, dizei-me agora qual de nós é vosso imperador. E a imperatriz respondeu primeiro: - Meu senhor, quero responder em primeiro lugar mas, Deus nas alturas seja minha testemunha: não consigo de modo algum afirmar qual de vós é meu senhor. E assim disseram todos os demais. 

E ele disse: - Meus caros, escutai-me. Este é o vosso imperador e senhor; mas, uma vez que ele se ergueu contra Deus, Deus o puniu; o conhecimento dos homens afastou-se dele, até que ele tivesse compensado ao seu Deus. Eu, porém, sou seu anjo da guarda e guarda da sua alma, administrei seu império enquanto ele estava fazendo penitência; agora, porém, sua penitência está cumprida, ele desagravou seus pecados, por isso obedecei-lhe, e eu vos recomendarei a Deus. Com essas palavras desapareceu diante dos olhos deles; o imperador agradeceu a Deus e viveu toda a sua vida em paz, dedicando-a a Deus e que Ele nos permita fazermos o mesmo.

(Excertos da obra 'Histórias Medievais', de Hermann Hesse)

domingo, 18 de maio de 2014

'EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA'

Páginas do Evangelho - Quinto Domingo da Páscoa


Jesus inicia o Evangelho deste Quinto Domingo da Páscoa manifestando o poder de sua Divindade e da autêntica fé cristã: 'Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tendes fé em mim também' (Jo 14, 1). Sim, a medida do nosso amor é a confiança em Deus e nos desígnios da Providência Divina. Que nada além desta disposição interior, de colocar tudo nas mãos de Deus, seja o nosso conforto e consolação. Deus governa todas as coisas e sabe, muito além de nós mesmos, como nos levar a uma mais perfeita santificação. Ele nos cumula de bênçãos e graças, nos chama a cada nova situação, nos clama pela nossa confiança quando aparentemente nos abandona.

Em seguida, confia aos discípulos que eles são herdeiros do Reino dos Céus, a pátria eterna dos bem aventurados, os que colherão com fatura os frutos das sementes de amor e confiança plantadas no Coração do Pai: 'Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós e, quando eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que onde eu estiver estejais também vós' (o 14, 2-3). Nos mistérios insondáveis de Deus, as moradas são muitas e desiguais, sem que os eleitos padeçam dessa desigualdade pois todos serão igualmente possuidores da Visão Beatífica e serão cumulados plenamente da glória que lhes bastam.

É o próprio Jesus que nos vai abrir as portas do Céu, com a sua Paixão, Morte e Ressurreição. Ao romper as portas celestes, antes seladas pelos pecados dos homens, Jesus torna-se o rei de um reino que não é deste mundo e que tem as dimensões da eternidade. Um reino de muitas moradas, preparadas por Jesus para cada um de nós, filhos da esperança transformados em herdeiros das bem aventuranças celestes. E, assim, por meio de Jesus, chegaremos ao Pai, a habitação eterna: 'Acreditai-me: eu estou no Pai e o Pai está em mim' (Jo 14, 11).

Jesus vai ratificar esta premissa essencial da fé cristã com clareza divina: 'Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim' (Jo 14, 6). Não há outro caminho possível, não há opções de rumo, nem atalhos, nem passagens ocultas. Por isso Jesus é tão explícito ao unir, no anúncio pleno de sua divindade, os termos Caminho, Verdade e Vida. Só existe um Caminho de Verdade para a Vida Plena dos herdeiros dos Céus: seguir Jesus com confiança extremada e jubilosos na fé que abraçamos, e que nada nem ninguém nos perturbe o coração nesta caminhada de salvação para as eternas moradas de Deus. 

sábado, 17 de maio de 2014

ORAÇÕES DE MAIO: POR INTERCESSÃO DE MARIA (III)


Ó Rainha e Mãe de misericórdia, que concede graças a todos os que recorrem a ti, com tanta generosidade porque és uma rainha, e com tanto amor porque és nossa Mãe amantíssima; a ti me recomendo neste dia, eu que sou tão desprovido de méritos e virtudes e tão carregado de dívidas para com a Justiça Divina.

Ó Maria, tu tens as chaves de todas as divinas misericórdias; não te esqueças de minhas misérias, e não me deixes em minha pobreza. Tu és tão generosa com todos, e dás muito mais do que te pedem... Sejas generosa assim também comigo.

Ó Senhora, proteja-me; isso é tudo que eu peço de ti. Se tu me proteges, nada temo. Eu não temo os maus espíritos, pois tu és mais poderosa do que todos eles. Eu não temo os meus pecados, pois tu podes, com uma palavra, obter-me o pleno perdão de Deus. E se eu tiver o teu amparo, eu não temo nem mesmo a ira de Deus, pois uma única tua oração será capaz de aplacá-lo. 

Em suma, se tu me proteges, tudo espero, porque tu tens todo o poder. Ó Mãe de misericórdia, eu sei que tens prazer e se regozijas por ajudar os mais miseráveis e socorrer aos que não são relutantes ao teu auxílio. Eu sou um pecador, mas não sou obstinado; eu desejo mudar a minha vida. Tu podes, então, ajudar-me; ajuda-me e me salve. Eu agora me ponho inteiramente em tuas mãos. 

Diga-me o que eu devo fazer para agradar a Deus, e eu estarei pronto para tudo, e espero fazer tudo com a tua ajuda; Ó Maria - Maria, minha Mãe, minha luz, meu consolo, meu refúgio, minha esperança. Amém. Amém. Amém.

(Excertos da obra 'Glórias de Maria', de Santo Afonso Maria de Ligório)

FOTO DA SEMANA

Quando é preciso ser homem... de Deus! Sacerdotes católicos ministrando missas e comunhões nas frentes de batalha da Segunda Guerra Mundial.

(sacerdote católico rezando missa e ministrando a comunhão - Iwo Jima, Monte Suribachi, 23/02/1945)


(sacerdote rezando pelos soldados mortos utilizando, como altar improvisado, um tanque de guerra japonês destruído - Saipan, 29/06/1944)

sexta-feira, 16 de maio de 2014

AOS QUE SOFREM E SE ATORMENTAM


Jesus Cristo: Por que estás triste, filha Minha? O que é que te atormenta? 

A alma: Senhor, é que eu não posso mais. Sofro horrivelmente; é muito pesada a cruz que levo sobre os ombros; sobrecarrega-me; e eu quisera, se possível fosse, livrar-me dela. Choro incessantemente; aflijo-me; em vão procuro quem me console; o meu único alívio é queixar-me, soluçar, e dar livre curso às minhas lágrimas. Quão mal sabem consolar os tristes aqueles que estão alegres! As suas palavras ainda me irritam mais. Se eles sofressem como eu sofro, outra seria a sua linguagem. 

Jesus Cristo: Desabafa, à vontade, o teu coração angustiado. Não Me ofendem as tuas lágrimas, nem as tuas queixas amorosas; pois, fui Eu que te fiz sensível às penas e a dor, às contrariedades e à cruz; ouve-Me, porém, com atenção, Eu amo-te verdadeiramente; desejo fazer-te feliz, e sei consolar-te porque conheço, por experiência própria, o que é uma dor acerba e uma cruz pesada. 

I. Eu estou contigo na tribulação. Eu bem podia tirar-te de sobre os ombros essa cruz que te sobrecarrega, como também podia ter evitado que ela te caísse sobre eles. Mas de quem te queixas tu? Quem julgas que te fabricou essa cruz, que assim te oprime? Pensas que foram os homens ignorantes ou maus. Pensas acaso que foram os elementos? 

Ergue-te, e olha um pouco mais acima. Quem te deu essa cruz fui Eu mesmo; fui Eu que permiti que te impusessem. Mas, muito antes de impô-la, pesei-a: e até toquei-a na Minha, para santificá-la. Não me faças a injúria de a achares pesada demais; pois nisso Me acusarias de injusto ou de ignorante. É pesada, bem o sei, difícil de levar e aflitiva; mas não por demais. 

Ao cometeres o pecado abandonaste-Me para procurares um gozo ilícito nas criaturas; quero Eu, pois, que esse deleite o pagues tu agora com este tormento. Mais insuportável é o inferno, que mereceste por cada pecado teu. Parecia-te o mundo digno do teu amor; estavas muito aferrada às criaturas; e Eu quero desapegar-te delas, fazendo-te ver quanto elas são vãs, enganosas e custáveis, e quanta é a amargura que o seu trato deixa sempre no coração. 

A muitos tem a perseguição dado a coroa de mártires; a cada passo a prosperidade leva não poucos a serem viciosos. Quantos pecados, em tuas tribulações, não tens tu deixado cometer, por não teres à disposição tantos meios nem ocasião de pecar? É assim que, vendo-te aflita, te desgostas do mundo e de ti mesmo; purifica-te mais e lembra-te do céu; e recorres a Mim por única consolação. O caminho mais curto, e o mais seguro, para chegar ao céu - é o caminho da cruz. Anima o covarde, humilha o soberbo, purifica o penitente, ilumina o cego e coroa o justo. 

Não satisfeito com ter sido Eu próprio que te pus essa cruz aos ombros, tendo-lhe, primeiro, tomado o peso, Eu estou ao teu lado para te ajudar a levá-la, embora teus olhos não logrem descobrir-Me. Não durmo, filha Minha; não Me esqueço de ti nem te abandono, mas quero que, da tua parte, faças alguma coisa: quero que recorras à Minha proteção, e que te convenças de que nada podes sem o auxilio da Minha divina graça. Foi por esse caminho que levei os Meus santos; por esse caminho foi a Minha Mãe Santíssima; foi por ele que Eu mesmo dirigi também os Meus passos. 

A alma: Perdoai-me, Senhor, se a força da dor me faz perder o tino, e me leva a dizer que Vós não estivestes na cruz senão três horas, e que o meu padecimento dura já há muitos anos.

Jesus Cristo: Minha filha, é verdade que eu não estive senão três horas pregado sobre a cruz; mas desde o primeiro instante da Minha vida, Eu tive-a cravada no coração. Acaso só a sua representação não me fez suar sangue no horto? Pois isso mesmo que Eu então quis mostrar no exterior para o teu aproveitamento, passava-se a cada instante no íntimo da minha alma. Toda a minha vida foi um martírio nunca interrompido. 

Os meus servos, sabendo isto, animavam-se a padecer por Meu amor. 'Senhor', dizia-Me o venerável João de Ávila, 'mais dor e mais paciência. Seja ainda a dor maior, contanto que o amor também aumente; que eu me deleite em padecer por Vós.' A minha amorosa esposa Teresa também exclamava assim: 'Ou padecer, ou morrer'. Madalena de Pazzi acrescentava: 'Padecer e não morrer'.

Perguntando Eu, um dia, ao meu servo João da Cruz que recompensa queria ele pelas penas sofridas em Meu serviço, respondeu-Me: 'Quero padecer, Senhor, e ser desprezado por amor de Vós'. O meu servo Agostinho julgava ver, no pé da Minha Cruz, escritas estas palavras: Solução de todas as dúvidas. Não queiras, pois, ser mais do que os santos, nem ser mais bem tratada do que o teu Mestre, se não queres renunciar a ser Minha discípula. 

Também os pecadores levam a sua cruz; e com certeza mais pesada que a dos Meus servos; pois que é com impaciência e sem mérito algum que eles a sofrem. Ergue os olhos ao Calvário, e lá verás três cruzes: a Minha, que Eu mesmo quis, sem ter culpa alguma própria, levar por amor de ti; a do bom ladrão, que soube arrepender-se das suas culpas; e finalmente, a do mau ladrão, que viveu mal e que mal morreu, que viveu sofrendo, e continuará sofrendo indizíveis tormentos por toda a eternidade. Eu estava com ele na tribulação; tinha-Me ao seu lado; porém não quis aproveitar-se dos Meus merecimentos; e a sua impenitência tornou-lhe mais insuportáveis as suas dores. 

II. Eu te livrarei - É a esperança que adoça as amarguras da vida. A tua cruz é pesada; mas virá um dia em que te livrarei dela. Agora mesmo alguns momentos há, em que Eu te alivio, fazendo com que tu sintas algum tanto menos o seu peso. Aligeiram-te estas consolações, que às vezes misturo em teu penar; mas dia virá em que Eu te retirarei de todo, e então quererias tê-la levado com mais paciência e mais resignação. 

Muito padeceram, por meu amor, os meus mártires; mas os tormentos deles já acabaram. Se as tuas horas de sofrimento se te fazem longas e pesadas, muito mais pesadas se tornarão pela tua impaciência; e muito mais longa e pesada ainda será a eternidade para os condenados. Mas nesta vida mesmo, eu te livrarei da cruz sempre que isso convenha à tua salvação, e tu Me peças com confiança, com amor e com perseverança. 

III. Eu te glorificarei. - Se Me acompanhares no caminho do Calvário, levando a tua cruz com paciência, e melhor ainda com alegria, é assim que merecerás entrar no Meu Santo Reino. Aqui trabalhas, e lá descansarás; aqui sofres privações como peregrino, lá gozarás como quem já está na sua pátria; não tendo mal algum a evitar, terás a desfrutar um bem imenso; aqui pelejas contra o inimigo, lá reinarás sem ter inimigos. 

O prêmio com que Eu, no céu, galardoarei os seus trabalhos, é um bem interminável, sem mescla do menor mal. Por pequenas cruzes, terás grande recompensa; por sofrimentos passageiros, terás eterno gozo. É tão sem medida este gozo que te espera, que não poderás deixar de exclamar, ao entrar de posse dele: Gratuitamente me dais todo este gozo, Senhor; não mereciam tanto os meus pequenos sofrimentos. Oh! quem nunca houvera fugido da cruz! Agora conhece com quanta sabedoria os santos costumavam procurá-la.

A alma: Iluminai, Senhor, o meu entendimento, para que conheça os bens que o padecer encerra; inflamai a minha vontade para não repelir as cruzes que Vós vos dignais impor-me; e dai-me graça copiosa para levá-las não só com resignação e constância, mas até mesmo, Senhor, com gozo e com alegria. Assim seja!

(Excertos da obra 'Maria falando ao Coração das Donzelas' pelo Abade A. Bayle, 1917)

quinta-feira, 15 de maio de 2014

DA VIDA ESPIRITUAL (70)



Para santificar o mundo, para que cada leigo passe a ser realmente um apóstolo leigo, no cotidiano de sua vida familiar e social, é preciso colocar em prática esta missão, é preciso AÇÃO, é preciso Abrir Caminhos Através de Obras, por meio do nosso próprio exemplo e da nossa própria santificação pessoal.

terça-feira, 13 de maio de 2014

NOSSA SENHORA DE FÁTIMA E OS MUÇULMANOS


O Islã é a única grande religião pós-cristã do mundo porque, tendo sua origem no século VII sob Maomé, pôde reunir dentro dela alguns elementos do cristianismo e do judaísmo, juntamente com certos costumes particulares da Arábia. 

(...) O esforço missionário da Igreja em direção a este grupo tem sido, pelo menos aparentemente, um fracasso, pois os muçulmanos têm sido praticamente intangíveis à conversão. A razão é que para um seguidor de Maomé tornar-se um cristão é quase o mesmo que um cristão tornar-se um judeu. Os muçulmanos acreditam que eles têm a revelação final e definitiva de Deus para o mundo e que Cristo era apenas um profeta anunciando Maomé, o último dos profetas verdadeiros de Deus. No presente momento, o ódio dos países muçulmanos contra o Ocidente está se tornando um ódio contra o próprio cristianismo. 

(...) É nossa firme convicção ... que o Islã acabará por ser convertido ao cristianismo e de uma forma que até mesmo alguns dos nossos missionários nunca suspeitaria. É nossa convicção que isto não vai acontecer por meio do ensino direto do cristianismo, mas através de um chamado aos muçulmanos para a veneração da Mãe de Deus. 

(...) O Corão, que é a Bíblia dos muçulmanos, tem muitas passagens relativas à Virgem Maria. Em primeiro lugar, o Alcorão acredita em sua Imaculada Conceição e, também, em seu nascimento virginal. O terceiro capítulo do Alcorão apresenta a história da família de Maria em uma genealogia que remonta a Abraão, Noé e Adão. Quando se comparam os relatos do Alcorão sobre o  nascimento de Maria com o Evangelho apócrifo do nascimento de Maria, somos tentados a acreditar que Maomé foi muito dependente deste último. Ambos os livros descrevem a velhice e a esterilidade da mãe de Maria. 

(...) Maria, então, é para os muçulmanos, a verdadeira Sayyida ou Senhora. A única rival séria possível para ela no credo [islâmico] seria Fátima, a filha do próprio Maomé. Porém, depois da morte de Fátima, Maomé escreveu: 'Tu serás a mais bendita de todas as mulheres no paraíso, depois de Maria'. Em uma variante do texto, Fátima diz: 'Eu supero todas as mulheres, exceto Maria'.

Isso nos leva ao nosso segundo ponto, ou seja, por que a Mãe de Deus, neste século XX, ter-se-ia revelado na pequena e remota aldeia de Fátima de modo que, para todas as gerações futuras, fosse conhecida como 'Nossa Senhora de Fátima'. Uma vez que nada acontece fora do céu sem uma fineza de todos os detalhes, eu acredito que a Santíssima Virgem escolheu ser conhecida como 'Nossa Senhora de Fátima' como uma promessa e um sinal de esperança para o povo muçulmano, e como uma garantia de que eles, que lhe devotam grande respeito, um dia, também aceitarão o seu Divino Filho.

As evidências para sustentar tais pontos de vista são dadas pelo fato histórico de que os muçulmanos ocuparam Portugal por séculos. Quando foram finalmente expulsos, o último chefe muçulmano tinha uma bela filha chamada Fátima. Um jovem católico se apaixonou por ela, e ela por ele, que não só permaneceu ali quando os muçulmanos se retiraram, mas abraçou a Fé. O jovem esposo, tão apaixonado por ela, mudou o nome da cidade onde viviam para Fátima. Assim, o lugar onde Nossa Senhora apareceu, em 1917 tem uma conexão histórica com Fátima, filha de Maomé.

A prova final da relação entre Fátima e os muçulmanos é a recepção entusiástica que os muçulmanos na África e na Índia e em outros lugares têm dado à imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima. Muçulmanos participaram dos cultos em honra de Nossa Senhora; eles permitiram procissões religiosas e até mesmo orações diante de suas mesquitas; e, em Moçambique, os muçulmanos, que não eram convertidos,tornaram-se cristãos assim que foi erigida no local uma imagem de Nossa Senhora de Fátima

Os missionários no futuro verão, cada vez mais, que o seu apostolado entre os muçulmanos será bem sucedido na medida em que eles pregarem Nossa Senhora de Fátima. Maria é o advento de Cristo, que leva o Cristo ao povo antes mesmo de Cristo nascer ... Porque os muçulmanos têm devoção à Maria, nossos missionários deverão [concentrar seus esforços] na expansão e desenvolvimento dessa devoção, com a plena convicção de que Nossa Senhora conduzirá os muçulmanos pelo resto do caminho até o seu Divino Filho. 

Muitos de nossos grandes missionários na África já quebraram o ódio amargo e os preconceitos dos muçulmanos contra os cristãos, por meio dos seus atos de caridade, suas escolas e hospitais. Resta agora adotar novo caminho: tomar o quadragésimo primeiro capítulo do Corão e lhes mostrar que [este texto] foi retirado do Evangelho de Lucas; que Maria não poderia ser, mesmo aos olhos deles, 'a mais bendita entre todas as mulheres do céu' se ela não tivesse dado à luz Àquele que seria o Salvador do mundo. Se Judite e Ester, do Antigo Testamento, eram pré-figuras de Maria, então poderia ser muito bem que Fátima seria uma pós-figura à Maria! Os muçulmanos devem estar preparados para reconhecer que, se Fátima deve dar lugar à honra à Santíssima Virgem, é porque ela é diferente de todas as outras mães do mundo e que, sem Cristo, ela não seria nada.

(Excertos do artigo 'Mary and the Muslins", do Arcebispo Fulton Sheen, 1952)