sábado, 19 de novembro de 2016

POR QUE NOSSA SENHORA CHORA?

Anjara é uma pequena cidade situada a noroeste da Jordânia, citada no Antigo Testamento como Masfa de Galaad ou Gileade (Juízes 11, 29-40). Perto dali, foi o local de nascimento do profeta Elias. Segundo a tradição, Jesus e sua mãe Maria passaram por Anjara e ficaram abrigados numa gruta do Monte Ajloun, na região de Galaad e ao leste do vale do Jordão. Anjara é predominantemente muçulmana, mas tem uma paróquia católica e outra ortodoxa. 

Embora tenha existido um clero e uma comunidade católica lá desde os meados do século XIX, um pequeno santuário mariano foi implantado ali apenas na terceira década do século XX, na forma de uma pequena gruta, simulando aquela que a tradição local sustenta que foi abrigo da Virgem. Na época, uma antiga imagem italiana da Virgem foi entronizada no santuário que, mais tarde, foi aumentado para uma capela e, em seguida, para o templo atual, que é hoje conhecido como o santuário da Virgem de Nossa Senhora do Monte ou de Nossa Senhora de Anjara, único templo mariano da Jordânia. O santuário está localizado num convento que pertence ao Instituto do Verbo Encarnado, que mantém também ali uma pequena congregação religiosa feminina pouco conhecida fora da Jordânia - as Irmãs de Matará.


Em 6 de maio de 2010, uma das irmãs desta congregação, de origem egípcia e chamada Mariam Um al-Kanisa (que significa Maria Mãe da Igreja), preparava-se para fazer a limpeza do santuário quando, ao olhar para a imagem da Virgem, teve a estranha sensação de ter percebido um piscar da imagem através do vidro de proteção. A religiosa pensou que o fato poderia ter sido devido ao reflexo de água existente sobre o vidro e aproximou-se da imagem para limpá-la externamente. Neste momento, ela percebeu que a imagem de madeira tinha tomado uma aparência completamente natural que, manifestou, então, além do piscar dos olhos, duas lágrimas de sangue. Assustada, ela gritou e começou a conclamar aos prantos as outras irmãs que, acorrendo ao santuário, tornaram-se todas testemunhas oculares do fato. Pouco depois, a imagem perdeu a aparência natural e as lágrimas passaram a secar sobre a face de madeira.

Exames posteriores confirmaram a natureza do sangue humano e, diante dos fatos, o Patriarcado Latino de Jerusalém reconheceu o milagre, ao passo que o patriarca local declarou: 'A Virgem Maria chora conosco e por nós'.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

OS SOFRIMENTOS DO PURGATÓRIO (II)


2º sofrimento — Pena do Dano

A pena mais terrível do Purgatório é certamente a pena do dano, isto é, a se­paração forçada de Deus ou uma força irresistível que a cada instante afasta brus­camente de Deus a alma que a todo mo­mento, por instinto de sua natureza, corre a se unir com ele. Pode-se fazer uma ideia dela pelo su­plício de uma mãe que, chamada pelo filho prestes a ser devorado por uma fera, fosse retida por uma força invencível no momento em que se precipitasse em seu socorro, e isso não uma só vez, porém dez, cem vezes.

Há neste suplício, dizem os santos, uma angústia mais sensível, de certo modo, que a do inferno. Os míseros condenados não amam a Deus, seu desejo insaciável e sem­pre renascente é ver a Deus aniquilado. Mas as santas almas do Purgatório amam ao Senhor, amam-No tanto quanto O conhecem, e porque O viram, compreenderam o amor que lhes tem, sentem quanto há sido bom para com elas, sabem quanto serão felizes perto Dele e em sua união e, todavia, estão detidas longe Dele! Nada podem, nada, para se lhe aproximarem! É uma sede sem fim, a qual nada é capaz de imitar. É uma fome sem limites, que não há nada que possa fartar. É um peso enorme que abafa, e do qual não é possí­vel desembaraçar-se.

Santa Teresa experimentou alguma coisa destas angustias misteriosas: 'Em vão', diz ela, 'tentaria eu explicar sua natureza. A alma, por vezes, sente um desejo irresistível de Deus que parece transportá-la a um deserto onde ela nada mais vê para poder descansar. Nenhuma consolação, nem do Céu, onde ainda não está, nem da terra a que já não pertence'.

'Ó Jesus', exclama a santa, 'quem po­deria fazer uma pintura fiel desse estado? É um martírio que a natureza custa a suportar; os ossos se separam e ficam como deslocados, as mãos tomam tal ri­gidez que se não podem juntar, e, até o seguinte dia, sente-se uma dor tão vio­lenta, como se todo o corpo estivesse desconjuntado; um só desejo nos consome: morrer! morrer! ir a Deus! Esse esta­do', conclui a santa, 'é o das Almas do Purgatório'.

Oh! vós que amastes tanto na terra e que tanto sofrestes com a morte daqueles que amáveis, vós a quem a separação ain­da tortura, escutai, escutai o grito dessas almas que chamam a Deus e que nos di­zem: 'Vós no-lo podeis dar, ó dai-nos nosso Deus! Fazei-nos dignos Dele!'

(Excertos da obra 'Mês das Almas do Purgatório', do Monsenhor José Basílio Pereira, 1943)

Oração pelas Almas do Purgatório

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Senhor, preparai e fortalecei nossos corações com a abundância de vossa graça, a fim de que, penetrando, em espírito de fé, caridade e compaixão, nas tristes prisões do Purgatório, possamos levar aos fieis que nele sofrem os tesouros de su­frágios que dão alívio aos seus padecimentos, glória à vossa divina Majestade, con­solação e paz às nossas almas.

V. Vinde, Senhor, em meu auxílio.
R. Deus, acudi em meu socorro.
V. Dai às almas o repouso, Senhor.
R. E da luz eterna o esplendor.
V. Descansem em paz.
R. Amém.

Ó Jesus, abandonado de todos e até de vossos apóstolos no Jardim de Getsêmani, dignai-vos lançar os olhos de misericórdia sobre as almas do Purgatório, em particular sobre as que não recebem orações nem consolações e que, pelo decurso do tempo ou efeito de irreligiosidade e negligência, estão esquecidas; fazei que participem das orações, santos sacrifícios, boas obras, cujo mérito não pôde ser aplicado àqueles por quem a Igreja os oferta. Ah! Senhor, não terei eu abandonado, em um criminoso esquecimento, almas que tenham jus ao meu reconhecimento, sejam de parentes, de amigos ou de benfeitores? 

Quero de ora em diante reparar tão grande ingratidão. Se conhecesse algum meio eficaz, por mais penoso que me fosse, empregá-lo-ia para aliviar essas pobres almas sem proteção no meio de um oceano de sofrimentos. Entretanto, eu me proponho fazer todos os sacrifícios que puder, e todo bem que fizer ofereço-vos à vossa glória pelas almas do Purgatório. Em consideração de nossa fé e esperança em vós, em consideração, principalmente, da agonia mortal e cruel abandono que sofrestes: dignai-vos, ó Jesus, remir-lhes as penas que ainda têm de sofrer, a fim de que pos­sam ter livre entrada no reino eterno a que aspiram e onde celebrarão a grandeza ine­fável de um Deus que não desampara ninguém. Amém.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

OS SOFRIMENTOS DO PURGATÓRIO (I)


1º sofrimento — Pena dos sentidos


Ó meus caros mortos, se para meu coração toda a pena fosse a da separação, seria cruel, por certo; mas o pensamento de comunicar convosco pela oração, e ainda mais a ideia de vos tornar a ver no Céu, e de vos tornar a ver mais santos e mais amantes, aliviaria esta dor; mas, ah! este mesmo pensamento que me dá a es­perança de vos tornar a ver, leva-me a contemplar-vos nas chamas do Purgatório, sofrendo e consternados.

Não escutarei a imaginação, que poderia levar-me além da realidade; quero ouvir os santos, e o que me dizem eles acerca do que vós sofreis, é bastante para excitar a minha compaixão, e obrigar-me a so­correr-vos. 'Reuni', diz Santa Catarina de Gênova, 'todas as penas que os homens têm sofri­do, sofrem e sofrerão, desde o principio do mundo até o fim dos tempos; juntai todos os tormentos que os tiranos e os algozes têm feito sofrer aos mártires; será uma pálida imagem dos tormentos do Purgatório; e, se aos pobres encarcerados fosse permitida a escolha, prefeririam aqueles suplícios durante mil anos a fica­rem no Purgatório mais um dia; porque, diz São Tomás, 'o fogo que os envolve é o mesmo que atormenta os condenados no inferno, e esse fogo é terrível!'

Deus, escolhendo o fogo, soube achar um reparador digno de sua justiça! Não há dor, dizem os que têm estudado a natureza desse elemento, que iguale a que ele causa. Não objeteis que o corpo não está no Purgatório: a dor, diz São Tomás, não é o golpe que se recebe, mas a sensação dolorosa desse golpe. Quanto mais delicadeza há nessa sensação, mais viva é a dor, e a alma, ainda sendo ferida, ela so­zinha experimenta ao mesmo tempo a aflição que lhe fariam sofrer todos os membros do corpo atacados separada­mente.

Esse fogo do Purgatório, cuja natureza não conhecemos, dotado por Deus de uma espécie de inteligência para esmerilhar os recessos da alma e consumir todas as manchas que lhe deixou o pecado, obra ao mesmo tempo sobre a imaginação e a memória, sobre o juízo e a vontade. Não aprofundemos mais este ponto; po­rém, fixando a atenção, escutemos o grito pungente que, do fundo desse abismo de fogo, vem até nós: 'Eu sofro, sofro muito no meio destas chamas: uma gota d’água! uma prece, por piedade!'

(Excertos da obra 'Mês das Almas do Purgatório', do Monsenhor José Basílio Pereira, 1943)


Oração pelas Almas do Purgatório

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Senhor, preparai e fortalecei nossos corações com a abundância de vossa graça, a fim de que, penetrando, em espírito de fé, caridade e compaixão, nas tristes prisões do Purgatório, possamos levar aos fieis que nele sofrem os tesouros de su­frágios que dão alívio aos seus padecimentos, glória à vossa divina Majestade, con­solação e paz às nossas almas.

V. Vinde, Senhor, em meu auxílio.
R. Deus, acudi em meu socorro.
V. Dai às almas o repouso, Senhor.
R. E da luz eterna o esplendor.
V. Descansem em paz.
R. Amém.

Ó Jesus, abandonado de todos e até de vossos apóstolos no Jardim de Getsêmani, dignai-vos lançar os olhos de misericórdia sobre as almas do Purgatório, em particular sobre as que não recebem orações nem consolações e que, pelo decurso do tempo ou efeito de irreligiosidade e negligência, estão esquecidas; fazei que participem das orações, santos sacrifícios, boas obras, cujo mérito não pôde ser aplicado àqueles por quem a Igreja os oferta. Ah! Senhor, não terei eu abandonado, em um criminoso esquecimento, almas que tenham jus ao meu reconhecimento, sejam de parentes, de amigos ou de benfeitores? 

Quero de ora em diante reparar tão grande ingratidão. Se conhecesse algum meio eficaz, por mais penoso que me fosse, empregá-lo-ia para aliviar essas pobres almas sem proteção no meio de um oceano de sofrimentos. Entretanto, eu me proponho fazer todos os sacrifícios que puder, e todo bem que fizer ofereço-vos à vossa glória pelas almas do Purgatório. Em consideração de nossa fé e esperança em vós, em consideração, principalmente, da agonia mortal e cruel abandono que sofrestes: dignai-vos, ó Jesus, remir-lhes as penas que ainda têm de sofrer, a fim de que pos­sam ter livre entrada no reino eterno a que aspiram e onde celebrarão a grandeza ine­fável de um Deus que não desampara ninguém. Amém.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

PIO X E A SANTA COMUNHÃO

O papa São Pio X é reconhecido como o papa da Eucaristia, da codificação do direito canônico, da condenação ao modernismo e da restauração da música sacra. Todas estas honras são preciosas para descrever o seu glorioso pontificado na Igreja. Muitos outros predicados, entretanto, igualmente gloriosos, muitas vezes são pouco enfatizados.

Um deles era o cuidado extremado do papa com a manifestação do sagrado aos pequeninos, o que defendia ser necessário estabelecer desde a mais tenra idade. Há muito o jansenismo deixara como realidade um conceito demasiado severo de Deus e a imposição de preocupações exageradas para a comunhão das crianças, o que não era permitida antes dos 12 anos ou até mais em muitos lugares. 

Pio X estabeleceu a idade de 7 anos para se fazer a primeira comunhão e, assim, criar nos mais pequeninos, desde muito cedo, a devoção a Jesus Sacramentado. Para ele, bastava como base religiosa para receber o sacramento, que os pequeninos fossem capazes de saber as verdades fundamentais da fé cristã e ter clareza de distinção entre a ceia eucarística e a alimentação com o pão comum.


Um fato concreto ilustra bem estes cuidados extremados. Certa ocasião, uma senhora apresentou ao Santo Padre o seu pequeno filho, para receber dele uma bênção especial e este a interpelou:

- 'Quantos anos ele tem?'
- 'Quatro, santidade, e espero que em breve ele possa receber a comunhão'.

Pio X dirigiu-se, então, paternalmente à criança:

- 'Quem você recebe na comunhão?' 
- 'A Jesus Cristo'.
- 'E quem é Jesus Cristo?
- 'É Deus', respondeu o pequeno sem hesitar.

Virando-se para a mãe da criança, deliberou:

-'Traga-o aqui amanhã e eu mesmo lhe darei a comunhão'.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

COROA EM HONRA ÀS CHAGAS DE JESUS


Primeira Chaga: Chaga da Mão Direita de Jesus


Senhor Jesus Cristo, nós Vos amamos, honramos, adoramos, damos louvores e graças pela Chaga da vossa Mão Direita, pela dor e pelo Sangue que dela jorrou.


Santíssima Chaga da mão direita do meu Jesus, adoro-vos. Dói-me, bom Jesus, ver-Vos sofrer tão dolorosa pena. Dou-Vos graças, ó Jesus da minha vida, por me terdes cumulado de benefícios, apesar da minha obstinação no pecado. Ofereço ao Eterno Pai o sofrimento e o amor da Vossa santíssima humanidade e suplico que me ajudeis a fazer tudo para maior honra e glória de Deus.


Segunda Chaga: Chaga da Mão Esquerda de Jesus

Senhor Jesus Cristo, nós Vos amamos, honramos, adoramos, damos louvores e graças pela Chaga da vossa Mão Esquerda, pela dor e pelo Sangue que dela jorrou.

Santíssima Chaga da mão esquerda do meu Jesus, adoro-vos. Dói-me, bom Jesus, ver-Vos sofrer tão dolorosa pena. Dou-Vos graças, ó Jesus da minha vida, porque por Vosso amor me livrastes de sofrer a flagelação e a eterna condenação merecida por causa dos meus pecados. Ofereço ao Eterno Pai o sofrimento e o amor da Vossa santíssima humanidade e suplico ajuda para que faça bom uso das minhas forças e da minha vida, para produzir frutos dignos da glória e vida eterna, e assim aliviar a justa ira de Deus.

Terceira Chaga: Chaga do Pé Direito de Jesus

Senhor Jesus Cristo, nós Vos amamos, honramos, adoramos, damos louvores e graças pela Chaga do vosso Pé Direito, pela dor e pelo Sangue que dela jorrou.

Santíssima Chaga do pé direito do meu Jesus, adoro-vos, Dói-me, bom Jesus, ver-Vos sofrer tão dolorosa pena. Dou-Vos graças, ó Jesus da minha vida, por aquele amor que sofreu dores tão atrozes, derramando sangue para castigar os meus desejos pecaminosos e a procura dos prazeres. Ofereço ao Eterno Pai o sofrimento e o amor da Vossa santíssima humanidade, e peço a graça de poder lastimar as minhas transgressões e de perseverar no caminho do bem, cumprindo fielmente os mandamentos de Deus.

Quarta Chaga: Chaga do Pé Esquerdo de Jesus

Senhor Jesus Cristo, nós Vos amamos, honramos, adoramos, damos louvores e graças pela Chaga do vosso Pé Esquerdo, pela dor e pelo Sangue que dela jorrou.

Santíssima Chaga do pé esquerdo do meu Jesus, adoro-vos. Dói-me, bom Jesus, ver-Vos sofrer tão dolorosa pena. Dou-Vos graças, ó Jesus da minha alma, por terdes sofrido dores tão atrozes para me deter na minha corrida para o precipício, sofrendo Vós por causa dos pungentes espinhos dos meus pecados. Ofereço ao Eterno Pai o sofrimento e o amor da Vossa santíssima humanidade para me ressarcir dos meus pecados, que detesto com sincera contrição.

Quinta Chaga: Chaga do Coração de Jesus

Senhor Jesus Cristo, nós Vos amamos, honramos, adoramos, damos louvores e graças pela Chaga do Vosso Sagrado Coração, pelo Sangue e Água que dela jorraram, e nesta chaga escondemos as nossas almas. Amém.

Santíssima Chaga do sagrado lado do meu Jesus, adoro-vos. Dói-me, bom Jesus, ver-Vos sofrer tão grande injúria. Dou-Vos graças, bom Jesus, pelo amor que me tendes, ao permitirdes que uma lança introduzida no Vosso corpo fizesse derramar a última gota de sangue, para me redimir. Ofereço ao Eterno Pai esta afronta e o amor da Vossa santíssima humanidade, para que a minha alma possa encontrar no Vosso Coração trespassado um refúgio seguro. Amém.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

PALAVRAS DE SALVAÇÃO


'É uma lástima ver como a grande maioria das pessoas reza o Rosário. Rezam-no com uma precipitação tremenda, engolindo inclusive parte das palavras. Ninguém aceitaria receber homenagem de uma maneira tão ridícula, nem mesmo o último dos homens. Entretanto, cremos que, desta forma, damos honras e louvores a Jesus e a Maria... Não seria natural, portanto, compreender porque mesmo as mais sagradas orações cristãs não produzam quase nenhum fruto e que, mesmo depois de tantos e tantos Rosários rezados, não nos tornamos mais santos?' (São Luís Maria de Montfort)

O ANJO QUE APAGAVA OS PECADOS

Conta-se que, certa vez, São João Clímaco, superior do Mosteiro do Monte Sinai no século VII, recebeu em confissão um homem profundamente perturbado pelos seus muitos pecados e ansioso por uma conversão definitiva.

'Padre, sou um grande pecador, mas Deus tocou-me o coração. Venho arrependido pedir perdão e fazer penitência neste mosteiro. Quero que os exemplos de tantos santos que vivem aqui me ajudem a me tornar santo também. Padre, aceita-me aqui como mais um dos seus servos!'

'Meu filho' - respondeu o santo - 'bendito seja Deus que te abriu os olhos para conheceres a gravidade das tuas culpas. Entra neste santo abrigo e procura com a oração e a penitência reparar os teus muitos erros cometidos'. 

'Padre' - insistiu o pecador arrependido - 'Deus lhe pague tanta caridade. Mas vou lhe pedir um pouco mais; concede-me agora a permissão especial de tornar pública a minha confissão, de modo que, confessando todos os meus pecados diante destes piedosos monges, eles possam ter compaixão de mim e, assim, todos possam rezar pela minha completa conversão'.

São João Clímaco julgou conveniente satisfazer os desejos daquele homem arrependido e fez reunir todos os frades na sala do convento para o ouvirem em confissão. Ajoelhado no meio da sala, o homem começou a declarar publicamente os seus muitos pecados. Todos os presentes, em profundo silêncio e recolhimento, ouviam a confissão.

Um velho frade, entretanto, mantinha os olhos concentrados no altar, tão apreensivo que parecia estar sendo testemunha de alguma visão. Num certo momento, reclinou-se quase até o chão em um ato que parecia revelar profunda reverência e oração. São João Clímaco observava toda a cena com vívido interesse e atenção, tendo percepção voltada principalmente para o homem em confissão e para o velho frade.

Terminada a confissão pública, o homem lhe perguntou: 'Padre, estou realmente perdoado de todos os meus pecados que possa merecer ser um servo a mais neste mosteiro? Será que Deus teria tanta piedade em favor de um pecador tão miserável?'

'Meu filho, o nome de Deus é Misericórdia!  Jesus veio ao mundo, como Ele próprio disse, 'não para condenar, mas para salvar o mundo' (Jo 3, 16). Você agora é um de nós e Deus acaba de envolvê-lo em seus braços e já não tem memória de nenhum dos seus pecados. Crê nisso?'

'Eu creio, Padre, eu creio firmemente nisso e que a salvação me encontrou neste santo dia. E que Deus me console na sua paz todos os dias da minha vida!'

O superior do mosteiro despediu-se do homem convertido e chamou reservadamente, então, o velho frade e lhe sondou o motivo do seu estranho comportamento durante o ato da confissão pública - 'Meu bom frade, percebi a sua atenção concentrada no altar, durante a confissão pública deste pecador arrependido. Por acaso, o Senhor Deus lhe favoreceu com alguma visão particular?'

'Sim, meu Padre' - respondeu o velho frade ainda claramente emocionado - 'para corrigir o meu coração mau e ainda insincero. Quando o senhor nos chamou para a confissão desse homem, aqui vim contrariado por interromper meus afazeres no jardim do mosteiro e para ter que ouvir o que eu pensei ser nada mais que uma cantilena de desvarios e pecados que eu não precisava ouvir. Mas o Bom Deus cuida de todos os seus filhos e olhou por este nosso irmão e pela minha pobreza espiritual  também. E, com certeza absoluta, nos curou a ambos'.

E continuou: 'Eu vi um anjo sobre o altar com um grande livro nas mãos e, à medida que o homem fazia a sua confissão pública, o anjo sorria e passava a sua mão sobre as páginas do livro, apagando os registros de todos os pecados. Ao final da confissão, ele me fez ver que todas as páginas do livro agora estavam em branco, tal como agora estava limpa e sã a alma daquele homem. E, com toda a certeza, também a minha'.