Mostrando postagens com marcador Vida de Oração. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Vida de Oração. Mostrar todas as postagens

sábado, 27 de julho de 2024

AMOR DE SALVAÇÃO


'E do alto lançaste a mão e desta profunda escuridão arrancaste a minha alma, chorando por mim minha mãe, Tua fiel, diante de Ti, mais do que choram as mães nas exéquias do corpo. Ela via a minha morte na fé e no espírito que recebera de Ti, e Tu ouviste-a, Senhor, ouviste-a e não desprezaste as suas lágrimas, quando irrigavam profusamente a terra debaixo dos seus olhos em todo o lugar da sua oração: ouviste-a.

Pois donde veio aquele sonho com que a consolaste, para que acedesse a viver comigo e a ter comigo a mesma mesa em casa? O que começara por não querer, repudiando e detestando as blasfêmias do meu erro. Viu, com efeito, de pé, numa espécie de régua de madeira, um jovem que vinha em direção a ela, resplandecente, alegre e sorrindo-lhe, estando ela acabrunhada e consumida pela tristeza e das suas lágrimas diárias, para informar, como é costume, não para saber, e como ela respondesse que chorava a minha perdição, ele ordenou e advertiu, para que ficasse tranquila, que reparasse e visse que, onde ela estava, estava também eu. 

Quando ela reparou, viu-me ao seu lado de pé na mesma régua. Porquê isto, senão porque os Teus ouvidos estavam junto do seu coração, ó Tu, bom e onipotente, que cuidas de cada um de nós como se cuidasses de um só, e de todos como de cada um?'

(Confissões, de Santo Agostinho)

terça-feira, 11 de junho de 2024

ORAÇÃO AO ESPÍRITO SANTO PELO DOM DA ORAÇÃO MENTAL


Ó Santo e Divino Espírito,
não quero mais viver para mim mesmo;
em Vos amar e agradar
quero empregar tudo o que me resta da vida.
Com este fim, Vos peço
que me concedais o dom da santa oração [mental].

Vinde ao meu coração, ensinai-me vós mesmo
a praticá-la como se deve.
Dai-me a força de não abandoná-la por tédio no tempo da aridez;
dai-me o espírito de oração,
isto é, a graça de sempre orar e de fazer as orações
que sejam as mais agradáveis ao vosso divino Coração.

Por meus pecados me havia perdido;
mas por tantos sinais de vossa ternura,
reconheço que quereis a minha salvação e santificação.
Quero santificar-me para vos agradar
e amar mais a vossa infinita bondade.
Amo-vos, ó meu soberano Bem, meu amor e meu tudo,
e porque vos amo, dou-me inteiro a Vós.

Ó Maria, minha esperança, protegei-me!

(Santo Afonso Maria de Ligório)

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

ONTEM, HOJE E AMANHÃ


Há dois dias em cada semana com os quais nunca deveríamos nos preocupar: dois dias nos quais deveríamos ficar livres de quaisquer ansiedades ou medos.

O primeiro é o dia de ontem com os seus erros e acertos; seus pecados e tropeços, suas feridas e todas as suas dores. Ontem passou e não está mais sob nosso controle. 

Nem todo o dinheiro do mundo pode trazer o ontem de volta. Não podemos desfazer um único gesto que fizemos; nem apagar qualquer palavra que dissemos. Ontem apenas já era.

O outro dia da semana com o qual não devemos nos preocupar é o amanhã: com as suas adversidades, seus fardos, suas grandes aspirações ou os seus grandes fiascos. O amanhã está além do nosso controle.

Amanhã o sol nascerá como sempre, seja com todo o seu esplendor ou então escondido atrás de um firmamento de nuvens. E até que o sol nasça - amanhã - não devemos ter isso em conta, simplesmente porque o amanhã ainda não existe.

Resta-nos, então, somente um dia. Hoje. Podemos, homens e mulheres, somente lutar as batalhas diárias - do dia de hoje. O que significa no dia de hoje ou libertar ou sobrecarregar a nossa vida com o lastro de ontem ou de amanhã.

Não é a experiência de hoje que nos prostra e nos faz sucumbir, mas os remorsos e as amarguras de ontem ou os temores e angústias que podem nos aguardar o amanhã.

Ontem nunca conheceu o Hoje; Hoje nunca conhecerá o Amanhã. Basta-nos, portanto, viver um dia de cada vez. Viver o Hoje, sempre.

(autor desconhecido; tradução do autor do blog)

sábado, 23 de maio de 2020

VIDA DE ORAÇÃO


➤ A oração é a união da mente e do coração com Deus, uma conversação viva com Ele, presença venerável diante da fonte da vida. Por isso durante a oração é preciso se esquecer de tudo aquilo que está ao redor e se apresentar a Deus com profundo reconhecimento de sua incapacidade e indignidade. Uma oração sincera ilumina e reanima a alma, e lhe dá a oportunidade de sentir o sabor da felicidade próxima. Ela dá força à alma e ao corpo, ilumina a face. Ela — que é um fio de linha dourado, une a criatura ao Criador. Ela dá coragem e força diante de quaisquer tentações, contribui no sucesso nos negócios, reforça a fé e outras virtudes, auxilia na melhoria da vida, gera lágrimas de arrependimento e nos dispões para obras de caridade.

➤ Para vivermos uma vida cristã e para que o espírito não se apague dentro de nós, é indispensável a oração caseira e a oração comunitária. Assim como é indispensável adicionar óleo na lamparina para que não se apague, é indispensável frequentar a Igreja, participar dos ofícios e ali rezar com fé, com compreensão e fervor. E como a oração torna-se mais sincera e fervorosa através da abstinência, é preciso viver moderadamente e observar o jejum. Nada extingue o espírito em nós tão depressa quanto a imoderação, o abuso e maneira dispersa de vida...

➤ As pessoas caíram na descrença por não fazerem orações. Seus corações vazios abrem espaço para o príncipe desta era agir neles. Essas pessoas não suplicam ao Senhor pelo orvalho vivificante da graça do Espírito Santo, e assim, seus corações corrompidos por sua natureza, ficam totalmente ressecados e começam a arder com a chama infernal da descrença e diversas impetuosidades...Para poder passar o dia inteiro em total santidade, em paz e sem pecados, o único recurso — é a mais sincera e fervorosa oração matinal logo após o sono. Ela introduzirá Cristo com o Pai e o Espírito Santo dentro do coração, e desta maneira dará forças à alma para resistir ao mal.

➤ Às vezes, ao longo da oração, apenas alguns minutos são agradáveis a Deus e compõem um serviço sincero para Ele. Na oração o principal é levar seu coração a Deus experimentando desse modo a doçura da presença de Deus na alma. O mérito da tua oração será medido pelos critérios humanos. Assim, por exemplo, às vezes nos encontramos com pessoas frias, e por decoro nós as elogiamos e agradecemos hipocritamente, ou fazemos alguma coisa para elas sem a sinceridade do coração. Às vezes porém fazemos isso com sinceridade, calor e amor. Do mesmo modo também agimos com Deus. E não é assim que tem de ser. É preciso sempre manifestar a Deus glória, gratidão e súplicas do fundo do coração. Devemos amá-Lo com todo coração e confiar Nele.

➤ A oração é a elevação da mente e do coração a Deus. Disto é evidente que não consegue rezar aquele que tem a mente e o coração atados a algo carnal, como por exemplo, ao dinheiro, à honra, ou quem odeia ou tem inveja do próximo. Isto acontece porque as paixões amarram o coração no momento em que Deus lhe dá a verdadeira liberdade. Se esforce para a simplicidade da criança no trato com as pessoas e na oração a Deus. A simplicidade é a maior benção e dignidade da pessoa. Deus é totalmente simples, pois é totalmente espiritual e bom. Não permita que a sua alma se divida para o bem e o mal.

➤ Quando estiver orando, é essencial tomar o poder do nosso coração e dirigi-lo até o Senhor... Será que é bom ouvir a repreensão do Senhor? 'Este povo somente Me honra com os lábios; seu coração, porém, está longe de Mim' (Mt 15,8)... O que Deus quer precisamente é o nosso coração: 'Filho, dá-me o teu coração' (Pr 23, 26). Pois o coração é a parte mais importante na pessoa. Consequentemente, aquele que não ora a Deus com todo seu coração, é o mesmo que não tenha rezado. Nossa oração deve ser toda espírito e consciência.

➤ Pronuncie as palavras da oração com o coração firme. Por exemplo, quando rezar à noite, não se esqueça de expor ao Espírito Santo com toda sinceridade e arrependimento do fundo do coração, os pecados que você comete durante o dia. Apenas alguns instantes de arrependimento sincero — e você será purificado pelo Espírito Santo de todo o mal; estará mais branco do que a neve. Então, lágrimas irão escorrer de seus olhos, a vestimenta da verdade de Cristo o cobrirá e você estará unido com Cristo, juntamente com o Pai e o Espírito.

(São João de Kronstadt – Minha Vida em Cristo)


quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

THESAURUM IN CAELO!


Si vis perfectus esse... et habebis thesaurum in caelo! (Mt 19,21)

Deum glorificare; 
Jesum imitari; 
Beatissimam Virginem et Sanctos venerari; 
Angelos invocare; 
Animam salvare; 
Corpus mortificare; 
Virtutes a Deo exorare; 
Peccata expiare; 
Paradisum comparare; 
Infernum evitare; 
Aeternitatem considerare; 
Tempus bene applicare; 
Proximum ædificare; 
Mundum formidare; 
Dæmones impugnare; 
Passiones frenare; 
Mortem semper exspectare; 
Ad iudicium te præparare.

**************

Se queres ser perfeito... e terás um tesouro no Céu! (Mt 19, 21)

Deus para glorificar; 
Jesus para imitar; 
A bem aventurada Virgem e os santos para venerar; 
Os anjos para invocar; 
A alma para salvar; 
O corpo para mortificar; 
Virtudes para conquistar; 
Pecados para expiar; 
O paraíso para ganhar; 
O inferno para evitar; 
Eternidade para preparar; 
Tempo para bem aproveitar; 
O próximo para edificar; 
O mundo para desprezar; 
Demônios para combater; 
Paixões para refrear; 
A morte sempre esperar; 
E para o Juízo se preparar.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

NÃO REZE O 'PAI NOSSO' ASSIM ...


Não diga 'Pai'
se você realmente não vive como um filho ou uma filha do Pai.

Não diga 'nosso'
se você é apenas seu 'eu' dentro do próprio egoísmo.

Não diga 'que estais nos Céus'
se você continua preso e acorrentado às coisas do mundo.

Não diga 'santificado seja o vosso Nome'
se você invoca Deus apenas com seus lábios, mas o seu coração não se santifica com Ele.

Não diga 'venha a nós o vosso Reino'
se você entende por reino as glórias e as utopias deste mundo.

Não diga 'seja feita a vossa vontade assim na terra como no Céu'
se você se desfalece diante dos primeiros sinais da dor e do sofrimento (a Cruz de Cristo tem a mesma medida no Céu e na terra).

Não diga 'O pão nosso de cada dia nos dai hoje'
se você ainda não entendeu que aquilo que lhe é desnecessário pertence ao próximo.

Não diga 'perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido'
se você não distribui com fartura os frutos do perdão e da caridade.

Não diga 'e não nos deixeis cair em tentação'
se você não consegue controlar a imaginação e evitar as ocasiões do pecado.

Não diga 'mas livrai-nos do mal'
se você não combate com toda a sua alma o mal que existe.

Não diga 'Amém'
se você não aceita sinceramente no seu coração e na sua alma as palavras do Pai Nosso.

(Autor desconhecido, tradução e adaptação pelo autor do blog) 

segunda-feira, 24 de julho de 2017

VIDA DE ORAÇÃO II

Foi feita a atualização da página 'Vida de Oração (II)' constante da BIBLIOTECA DIGITAL de SENDARIUM, com a compilação das orações publicadas no blog após junho/2014, apresentadas, de acordo om a ordem de publicação, na lista abaixo (em construção). Algumas destas orações são de autoria do autor deste blog.

'Orai sem cessar' (I Ts 5, 17)

ORAÇÃO: SI QUAERIS MIRACULA
ORAÇÃO PELA SALVAÇÃO DE UMA ALMA AGONIZANTE
ORAÇÃO: SANCTUS
ORAÇÃO DA SABEDORIA (SÃO TOMÁS DE AQUINO)
ORAÇÃO: 'LEMBRAI-VOS' (SÃO BERNARDO DE CLARAVAL)
LADAINHA PELAS ALMAS DO PURGATÓRIO
ORAÇÃO DE JOELHOS (Arcos de Pilares)
ORAÇÕES DE SANTO AGOSTINHO (I)
ANTÍFONAS DO Ó
AS NOVE JORNADAS DO ADVENTO
ORAÇÕES DE SANTO AGOSTINHO (II)
ORAÇÃO: PANGE LINGUA
LADAINHA DA SANTÍSSIMA VIRGEM (I)
LADAINHA DA SANTÍSSIMA VIRGEM (II)
LADAINHA DA SANTÍSSIMA VIRGEM (III)
LADAINHA DA SANTÍSSIMA VIRGEM (IV)
ORAÇÃO A JESUS (Cardeal Henry Newman)
TRÍDUO DE SÃO JOSÉ
ORAÇÃO DO PAPA CLEMENTE XI
ORAÇÃO À VIRGEM DO SORRISO (PARA A CURA DA DEPRESSÃO)
TRÊS ORAÇÕES A SANTAS MÁRTIRES DA IGREJA
ORAÇÃO DO ANJO DE PORTUGAL
AVE MARIA (de Franz Biebl)
SEQUÊNCIA DAS SETE VIRTUDES DE MARIA
ORAÇÃO: DIES IRAE
ORAÇÃO AO PAI (Arcos de Pilares)
ORAÇÃO A NOSSA SENHORA (SÃO BERNARDO)
ORAÇÃO: CONFITEOR
ORAÇÃO DE SÃO TOMÁS DE AQUINO
ORAÇÃO: IESU, DULCIS MEMORIA
DEVOCIONÁRIO DE NOSSA SENHORA DAS DORES
ORAÇÃO DE SÃO PATRÍCIO
SENHORA DE FÁTIMA, SENHORA DO ROSÁRIO (Arcos de Pilares)
AVE MATER

sexta-feira, 21 de julho de 2017

DEZ VIAS PARA A SANTIFICAÇÃO DIÁRIA

1. Dedicar um tempo de oração pessoal todos os dias

Temos que falar com Jesus para descobrirmos a sua santíssima vontade. Na oração, conhecemos melhor a Deus e a nós mesmos. Devemos ser generosos com Deus e dedicar 15 ou 30 minutos de diálogo, contemplação ou meditação. A oração bem feita ajuda-nos a começarmos o dia alegres e dispostos a reavivar a fé e o amor.

2. Escolher uma intenção para cada dia

Oferecer nossas orações, nossos esforços e nossos trabalhos do dia. Podem ser intenções particulares como uma pessoa doente, pela conversão dos pecadores ou pela santificação dos sacerdotes e seminaristas, etc. Quando nos concentramos numa intenção concreta, se torna mais fácil rezar.

3. Rezar o Rosário ou o Terço todos os dias

Ao rezarmos o terço ou o rosário todos os dias, confiamos mais diretamente na presença e no auxilio de nossa Senhora em nossas vidas, em nossas decisões e em nossos problemas e desafios de cada dia. Assim no rosário meditamos os principais mistérios de nossa fé. Os frutos de nossas orações: alegria espiritual, paz, iluminação de nossa mente, dependem do modo como rezamos. Devemos rezar bem.

4. Ler a bíblia todos os dias (Lectio Divina)

A Palavra de Deus deve ser o alimento principal de nossa vida de oração. É a luz da Palavra de Deus que nos guia pela estrada da felicidade verdadeira. Se não tomarmos cuidado corremos o risco de sabermos mais de futebol, de novela, de internet do que de Jesus Cristo, o Filho de Deus.

5. Conhecer os mandamentos e as promessas que Deus fez ao seu povo

Isso é o mínimo para um discípulo de Cristo. Seria uma vergonha dizermos que somos cristãos e não sabermos nem mesmo os dez mandamentos. Quem conhece e medita os mandamentos e as promessas do Senhor evita as decisões que conduzem ao pecado que é o grande inimigo de nossa salvação. É de grande proveito e de grande paz interior saber discernir bem entre o que agrada e o que ofende a Deus.

6. Fazer a confissão mensal

Ajuda-nos a manter pura e limpa nossa alma e a não relaxar no nosso combate contra o pecado. Ajuda-nos a vencer nossos vícios mais enraizados e a formar melhor nossa consciência. Se percebêssemos o grandioso valor da confissão, na qual são perdoados nossos pecados, seriamos mais fortes na fé e mais penitentes.

7. Fazer mortificações

É necessário porque nos ajuda a dominarmos nossos instintos humanos que tantas vezes nos arrastam para o pecado. Todos, sabemos que 'a carne é fraca'; por isso, é preciso observar as ocasiões que temos durante o dia para fazer alguma renúncia. Todo sacrifício que suportamos durante o dia deve estar unido ao sacrifício de Cristo na Cruz pois assim se transforma em salvação para muitas almas. O jejum é um meio simples e eficaz de por em prática este espírito de penitência e renúncia por um bem maior.

8. Praticar a caridade para com o nosso próximo

O que nos torna mais semelhantes a Jesus é o amor que temos a Deus e aos nossos irmãos. 'A caridade de Cristo nos impele'. Devemos estar atentos para ajudar os que nos rodeiam, sejam nas suas necessidades materiais ou nas suas necessidades espirituais com uma presença amiga, orante e solidária. Se não pusermos em prática o novo mandamento do amor não seremos verdadeiros discípulos de Cristo: 'Se vocês tiverem amor uns para com os outros, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos' (Jo 13, 35).

9. Fazer pequenos atos de humildade

Todos temos em nós a tendência para o orgulho, a tendência de enxergarmo-nos melhores que os outros e cheios de direitos e razões diante dos que nos rodeiam. A humildade é uma virtude, pois sempre que nos humilhamos em ações concretas conhecemos o nada que somos e o muito que é Deus. Não podemos esquecer o exemplo que Jesus deixou quando lavou os pés dos discípulos. Ele nos ensinou a repetir sempre esse gesto de humildade que expressa o nosso serviço aos irmãos: 'O Filho do Homem veio para servir e não para ser servido' (Mt 20,28).

10. Fazer um exame de consciência diário

Através do exame de consciência diário, vamos nos conhecendo melhor. Quais os nossos vícios, nossos defeitos, em quais atitudes durante o dia faltei com amor, com o respeito, com a humildade? É importante terminar o exame de consciência com um pequeno ato de contrição pedindo a Deus o seu perdão e sua misericórdia pelas faltas que cometemos ao longo do dia.

Ato de Contrição

Meu Pai, pequei contra Vós. Já não sou digno de ser chamado Vosso filho. Tende piedade de mim, que sou pecador. Quero fazer todo o esforço para não pecar mais. Amém.

(São Vicente Palotti)

terça-feira, 11 de outubro de 2016

GRAUS DA PERFEIÇÃO

1. Por nada deste mundo cometer algum pecado, nem mesmo venial com plena advertência, nem imperfeição conhecida.

2. Procurar andar sempre na presença de Deus, real, imaginária ou unitiva, segundo se coadune com as obras que está fazendo.

3. Nada fazer nem dizer coisa de importância, que Cristo não pudesse fazer ou dizer se estivesse no estado em que me encontro e tivesse a idade e a saúde que eu tenho.

4. Procure em todas as coisas a maior honra e glória de Deus.

5. Por nenhuma ocupação deixar a oração mental que é o sustento da alma.

6. Não omitir o exame de consciência, sob pretexto de ocupações, e, por cada falta cometida, fazer alguma penitência.

7. Ter grande arrependimento por qualquer tempo não aproveitado ou que se lhe escapa sem amar a Deus.

8. Em todas as coisas, altas e baixas, tenha a Deus por fim, pois de outro modo não crescerá em perfeição e mérito.

9. Nunca falte à oração e quando experimentar aridez e dificuldade, por isso mesmo persevere nela, porque Deus quer muitas vezes ver o que há na sua alma e isso não se prova na facilidade e no gosto.

10. Do céu e da terra busque sempre o mais baixo lugar e o ofício mais ínfimo.

11. Nunca se intrometa naquilo de que não te encarregaram, nem discuta sobre alguma coisa, ainda que esteja com a razão. E, no que lhe for ordenado, se lhe derem a unha (como se costuma dizer) não queira tomar também a mão, pois alguns, nisto se enganam, imaginando que têm obrigação de fazer aquilo que, bem examinado, nada os obriga.

12. Das coisas alheias não se ocupe, sejam elas boas ou más, porque além do perigo que há de pecar, essa ocupação é causa de distrações e amesquinha o espírito.

13. Procure sempre confessar-se com profundo conhecimento de sua miséria e com sinceridade cristalina.

14. Ainda que as coisas de sua obrigação e ofício se lhe tornem dificultosas e enfadonhas, nem por isso desanime, porque não há de ser sempre assim, e Deus, que experimenta a alma simulando trabalho no preceito (Sl 93,20), daí a pouco lhe fará sentir o bem e o lucro.

15. Lembre-se sempre de que tudo quanto passar por si, seja próspero ou adverso, vem de Deus, para que assim nem num se ensoberbeça nem no outro desanime.

16. Recorde-se sempre de que não veio senão para ser santo e assim não consinta que reine em sua alma algo que não o leve à santidade.

17. Seja sempre mais amigo de dar prazer aos outros do que a si mesmo e, assim, com relação ao próximo, não terá inveja nem predomínio. Entenda-se, porém, que isso se refere ao que for segundo a perfeição, porque Deus muito se aborrece com os que não antepõem o que lhe agrada ao beneplácito dos homens.

(São João da Cruz)

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

VIDA DE ORAÇÃO (II)

Orar, orar tanto quanto possível, faz também parte da perseverança na oração. Urge orar muito, porquanto de tudo carecemos, e é dever nosso interceder também por tantos outros. Pedir unicamente para si, e só advogar seus mesquinhos interesses, não é preencher sua missão na Terra; é desconhecer o poder e a eficácia da oração. Nossa oração deve ser a de um filho de Deus, isto é, estender-se a todas as necessidades da Igreja e da humanidade inteira.

A cada momento, quantas graves e importantes questões, das quais dependem em grande parte a salvação das almas e a glória divina, estão perante o tribunal de Deus à espera das respectivas soluções! Incluir em nossas preces os interesses do mundo, apresentá-los ao Senhor, recomendando-os a Ele, é isto orar de modo apostólico, católico, divino, e ao mesmo tempo humano. Assim o fez o Salvador, e é o que nos ensina na oração dominical. Se, por acaso, acontecer que não tenhamos intenção precisa ou particular, percorramos em espírito as diferentes regiões da Terra, a fim de confiar à proteção divina os interesses que nelas se debatem; todos reclamam o auxílio de nossas preces.

Do mesmo modo como aprendemos a andar, a ler e a escrever - andando, lendo e escrevendo - assim também aprendemos a orar bem exercitando-nos na prática da oração. Se esta nos parece enfadonha e insípida, é porque não recorremos a ela com assiduidade. No entanto, quanto importa o gosto da prece, a facilidade de orar! Se prezarmos a oração, seremos engenhosos em achar tempo para o exercício dela, pois encontramos sempre ocasião propícia para aquilo que nos apraz. 

[...]

As palavras são imagens e símbolos. Postas em vibração pela vara mágica da memória, elas nos descortinam magníficas perspectivas no reino da verdade e fazem brotar mananciais da mais suave consolação. O Espírito Santo compôs para nosso uso, no livro dos Salmos, as mais belas orações vocais que se conhecem, e o Salvador levou a condescendência a ponto de nos dar uma fórmula precisa desse gênero de prece. Na celebração de seu culto oficial, a Igreja só emprega orações vocais que, por via de regra, são muito breves. A maior parte da humanidade só conhece esse modo de orar, e nele encontra a salvação eterna. É, pois, essa forma de oração a estrada real que conduz ao Céu, a escada de ouro por onde sobem e descem os anjos, levando a Deus as mensagens da Terra e trazendo aos homens as graças divinas. Enfim, graças à oração vocal, a prece da Cristandade em todo o mundo é simultaneamente particular e comum.

[...]

Há um grande número de orações que constituem excelentes modelos, dignos de todo acatamento, não somente pelo valor intrínseco, mas ainda em razão do seu autor, que é ou o Espírito Santo ou a Igreja. Os Salmos são as mais antigas orações de que temos notícia. Inspirados por Deus, e destinados na maior parte ao culto do Antigo Testamento, nem por isso deixam de pertencer à Igreja, pela estreita conexão que têm com o Messias. São eles uma prece essencialmente nossa, porquanto só no Tabernáculo Eucarístico encontram seu significado próprio e sua completa realização. O objeto desses cantares são Deus e o homem, as relações que entre eles existem por meio da Revelação e da Lei, assim como as bênçãos, esperanças, recompensas e castigos que delas dimanam... Todas as comoções e sentimentos que fazem pulsar o coração humano acham eco nesses admiráveis cânticos. 

[...]

A Oração Dominical goza do particular privilégio de ser composta por palavras saídas dos lábios do Divino Salvador. Recitando-as, podemos dizer em toda a realidade: vivemos e oramos mediante o Filho de Deus. Aquele a quem dirigimos nossas súplicas houve por bem ensinar-nos pessoalmente o modo de formulá-las. Ainda que prescindisse dessa prerrogativa, a Oração Dominical não deixa de ser, por si mesma, a prece por excelência. É explícita, breve, completa. Neste último ponto de vista, ela possui a essência do que constitui a prece: a invocação e a súplica. O título de 'nosso Pai', que damos a Deus, implica tanto a honra do mesmo Deus como a utilidade nossa, porquanto traz à memória as relações que a Ele nos unem como a um pai; inspira-nos os mais reconfortantes sentimentos de respeito, amor e confiança; mostra-nos no gênero humano, a que pertencemos, a grande família do Pai celeste. 

As súplicas contêm tudo o que razoável e oportunamente poderíamos solicitar, e a ordem em que estão dispostas é a mais adequada. Referem-se ao fim a que devemos tender ou aos meios de alcançá-lo. O fim é duplo: consiste na glorificação de Deus e em nossa salvação pela posse do Céu. Os dois primeiros pedidos relacionam-se com esse intuito. Dispostos em duas séries, acham-se depois concatenados os meios de obtermos o nosso fim. Na primeira, solicitamos os bens necessários à alma ou à vida material — terceiro e quarto pedidos; na segunda, imploramos a preservação dos males que possam ameaçar ou impossibilitar a realização de nossos desígnios — os três últimos. Nossa ambição não poderia ir mais longe, nem almejar coisa melhor. Tudo se acha sumariado nessa prece divina. 

[...]

Outra excelente maneira de orar é o uso das jaculatórias. No que concerne à oração, é isto uma indústria pessoal. Consistem as jaculatórias em aspirações ou atos de virtude muito breves, os quais, no decurso do dia, segundo as circunstâncias e sem preparação especial, desprendem-se de nosso coração e se elevam a Deus. Tudo pode dar ocasião a esses impulsos da alma: o sofrimento ou o prazer; uma graça obtida ou uma tentação que nos assalte; o desejo de renovar nossos bons propósitos ou a lembrança do que constitui o ponto do exame particular; uma igreja ou a imagem de um santo; ou ainda a presença de tal pessoa a quem desejamos qualquer bem ou queremos preservar de algum mal; finalmente, o cuidado de aproveitar os instantes de lazer, assaz numerosos se neles atentarmos. 

(Excertos da obra 'A vida Espiritual - Reduzida a Três Princípios' do Pe. Maurício Meschler)

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

VIDA DE ORAÇÃO (I)

A oração é, para o homem, a origem de todo bem. Daí se infere que saber orar, dar à oração o devido apreço, entregar-nos à sua prática com zelo e fervor é, para o tempo como para a eternidade, um tesouro de valor inestimável. Orar é tudo o que há de mais simples, e a primeira razão disso é a própria necessidade que temos da oração.

Para orar, não é mister talento excepcional, eloquência, dinheiro nem recomendação de espécie alguma. Até a devoção sensível não é necessária; a doçura, a consolação, são coisas acessórias e não dependem de nós. Se Deus no-las der, devemos recebê-las com reconhecimento, porquanto tornam a oração mais agradável. Orar, não obstante a aridez, é sempre orar. Consolados ou não, cumpre fazê-lo. Para isso, basta o conhecimento de Deus e de nós mesmos, saber o que Ele é e o que somos nós, como infinita é sua bondade e quão profunda a nossa miséria.

Para orar, uma única coisa é necessária: a fé, instruída pelo catecismo. As palavras serão ditadas pelas nossas próprias necessidades. Poucas ideias (quanto menos numerosas, melhor será), alguns desejos, e finalmente umas palavras saídas do coração - porque, se assim não for, não há oração propriamente dita - eis tudo o que é preciso. Haverá, por acaso, um homem que não tenha um só pensamento, um único desejo? Pois bem, é apenas disso que precisamos para empreender o nobre trabalho da oração. A graça, Deus no-la dá, de bom grado, a todos e a cada um em particular. Por conseguinte, orar é simplesmente falar com Deus. É conversar com Ele mediante a adoração, o louvor, a súplica. 

[...]

Durante a oração, o nosso proceder deve ser idêntico ao que temos relativamente a um amigo íntimo e querido. A ele confiamos com sinceridade o que nos vai na alma: dissabores ou alegrias, esperanças e receios. Dele recebemos conselhos e avisos, auxílio e conforto. Com ele decidimos os mais importantes negócios, singelamente e quase sempre sem que a sensibilidade se manifeste de forma alguma. E isto não obsta a que tudo seja tratado séria e lealmente. É assim que, na oração, devemos ser para com Deus. Quanto maior for a nossa simplicidade, tanto melhor será ao darmos largas ao coração.

Se muitas vezes a oração nos parece penosa e difícil, é culpa nossa. É porque não sabemos como nos portar, e fazemos dela uma ideia errônea. Manifestemos a Deus os sentimentos de nossa alma; digamos as coisas tais como se apresentam, e a oração será sempre proveitosa. Todo caminho leva a Roma, diz o adágio, e toda ideia abre o seu caminho para chegar a Deus. Só saberemos orar quando o fizermos simplesmente. Que nos adianta dirigir ao Senhor discursos sublimes ou torneados? Se acontecer que nenhuma ideia nos venha à mente, tenhamos a simplicidade de expor essa nossa indigência. E isto ainda é orar, glorificar a Deus e expressamente advogar a nossa causa.

[...]

A nós, e não a Deus, devemos atribuir a ineficácia de nossas preces. Três são as causas determinantes dessa insuficiência. Ou ela se encontra em nós, ou em nossa oração ou, enfim, no objetivo da mesma. Geralmente a oração deve reunir as seguintes condições:

Primeiramente, cumpre termos uma consciência nítida do que constitui o objeto de nossa prece; isto é, faz-se mister a intenção, a atenção e o recolhimento. O ponto importante é não nos querermos distrair ou não nos entregarmos cientemente às divagações. Como poderá Deus atender-nos, se nós mesmos não temos consciência do que estamos a dizer? Certamente o nosso anjo custódio sentirá pejo de apresentar à Majestade divina semelhante prece. Aliás, o nosso próprio interesse exige que procedamos de modo diverso, porquanto as distrações voluntárias não somente constituem obstáculo às graças divinas, mas acarretam necessariamente um castigo. Quanto às involuntárias, que sobrevêm mau grado nosso, elas não nos privam do mérito nem tiram à oração o seu valor satisfatório. Apenas interceptam o gosto, a doçura que nela poderíamos fruir. Deus conhece nossa fraqueza e tem paciência conosco.

Em segundo lugar, é preciso tomar a oração a sério e empenhar-nos em ser atendidos. Por conseguinte, devemos orar com zelo e fervor. Estes não consistem na multiplicidade das orações, senão na parte que a vontade nelas toma. Não sobe o incenso se o fogo, consumindo-o, não lhe desprende o perfume que se eleva aos céus. O fervor é a alma da prece; Deus escuta a voz do coração, e não as palavras que os lábios proferem. Conversar com Deus é sempre um ato importante; e o que lhe pedimos, algo de grande valia. Eis porque o zelo e o desejo são imprescindíveis. Se, porventura, a confiança na virtude da oração vier a fraquejar em nosso espírito, recorramos à intercessão de outrem, por meio de prece em comum ou pública. Invoquemos os santos e o bendito nome de Jesus, ao qual está particularmente ligada a eficácia da oração (Jo 16, 23).

Em terceiro lugar, importa que a prece seja humilde. Devemos aproximar-nos de Deus como mendigos, e não como credores. Somos réus de pecado e não podemos tratar o Criador de igual a igual. A própria humildade exterior vem muito a propósito. Ela apraz a Deus, O predispõe em nosso favor e excita o zelo em nosso coração.

Em seguida - e esta condição é de suma importância - é preciso orar confiadamente, com segurança. Tudo nos incita a isso. Deus quer que oremos; logo, quer atender-nos. Somos criaturas suas e filhos seus. Esses títulos que nos dão o direito a sermos ouvidos favoravelmente, Ele os conhece e preza mais que nós mesmos. Finalmente, e importa não olvidá-lo, temos que contar unicamente com a infinita misericórdia de Deus, à qual compete tudo decidir.

Se grande deve ser nossa confiança na oração feita em vista de obter bens espirituais, faz-se mister, porém, evitar dois escolhos, quando for questão de favores de ordem temporal: não implorá-los incondicionalmente, porquanto eles nos poderiam ser nocivos ou então pensar que nunca os devemos pedir. Ao contrário, cumpre fazê-lo, porém de modo conveniente. Deus quer que O reconheçamos também como origem e fonte de todos os bens temporais.

(Excertos da obra 'A vida Espiritual - Reduzida a Três Princípios' do Pe. Maurício Meschler)

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

AS TRÊS VIAS PARA SE VENCER AS TENTAÇÕES

As três vias, para se vencer as tentações, propostas por Santa Teresinha de Lisieux:


1. Enfrentar ou ignorar a tentação sem temor do mal 

Não se dobrar à tentação, mas tomá-la como uma provação que deve ser enfrentada sem temor do mal ou que deve ser simplesmente ignorada, subjugando-a pela graça ou pela indiferença.

2. Converter a tentação provada em oração

Tornar o espírito mais forte e preparado para futuras tentações, inserindo as tentações provadas na oração diária, como agradecimento e súplica às graças concedidas por Deus a nós como frutos das tentações provadas e vencidas.

3. Fazer da tentação oferecimento e reparação

Tomar a tentação e transformá-la em instrumento para a maior glória de Deus, oferecendo-a e desagravando o Senhor desta e de muitas outras tentações iguais que estarão igualmente afetando muitos outros nossos irmãos na fé, encerrando tal propósito no mistério insondável da comunhão dos santos.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

ALMA DEVOTA: SILÊNCIO E VIDA INTERIOR


1. Procura tempo oportuno para cuidar de ti e relembra a miúdo os benefícios de Deus. Renuncia às curiosidades e escolhe leituras tais, que mais sirvam para te compungir, que para te distrair. Se te abstiveres de conversações supérfluas e passeios ociosos, como também de ouvir novidades e boatos, acharás tempo suficiente e adequado para te entregares a santas meditações. Os maiores santos evitavam, quando podiam, a companhia dos homens, preferindo viver com Deus, em retiro.

2. Disse alguém: 'Sempre que estive entre os homens menos homem voltei' (Sêneca, Ep. 7). Isso experimentamos muitas vezes, quando falamos muito. Mas fácil é calar de todo, do que não tropeçar em alguma palavra. Mas fácil é ficar oculto em casa, que fora dela ter a necessária cautela. Quem, pois, pretende chegar à vida interior e espiritual, importa-lhe que se afaste da turba, com Jesus. Ninguém, sem perigo, se mostra em público, senão quem gosta de esconder-se. Ninguém seguramente fala, senão quem gosta de calar. Ninguém seguramente manda, senão o que perfeitamente aprendeu a obedecer.

3. Não pode haver alegria segura, sem o testemunho de boa consciência. Contudo, a segurança dos santos estava sempre misturada com o temor de Deus; nem eram menos cuidadosos e humildes em si mesmos, porque resplandeciam em grandes virtudes e graças. A segurança dos maus, porém, nasce da soberba e presunção, e acaba por enganar-se a si mesma. Nunca te dês por seguro nesta vida, ainda que pareças bom religioso ou ermitão devoto.

4. Muitas vezes os melhores no conceito dos homens correram graves perigos, por sua demasiada confiança. Por isso, para muitos é melhor não serem de todo livres de tentações, mas que sejam frequentemente combatidos, para que não confiem demasiadamente em si, nem se exaltem com soberba, nem tampouco busquem com ânsia as consolações exteriores. Oh! Quem nunca buscasse alegria transitória, nem deste mundo cuidasse, que consciência pura teria! Oh! Quem arredasse todo vão cuidado, para só cuidar das coisas salutares e divinas, pondo toda a sua confiança em Deus, de que grande paz e sossego gozaria!

5. Ninguém é digno da consolação celestial, senão quem se excitar, com diligência, na santa compunção. Se queres compungir-te de coração, entra em teu quarto, despede todo o bulício do mundo, conforme está escrito: 'Compungi-vos em vossos cubículos' (Sl 4,5). Na cela acharás o que fora dela muitas vezes perdes. A cela bem guardada causa doçura, e pouco frequentada gera enfado. Se bem a guardares e habitares no princípio de tua conversão, ser-te-á depois querida companheira e suavíssimo consolo.

6. No silêncio e sossego faz progressos uma alma devota e aprende os segredos das Escrituras. Ali ela acha a fonte de lágrimas, com que todas as noites se lava e purifica, para tanto mais de perto unir-se ao Criador quanto mais retirada viver do tumulto do mundo. Aquele, pois, que se aparta de seus amigos e conhecidos verão aproximar-se Deus com seus santos anjos. Melhor é estar solitário e tratar de sua alma, que, descurando-a, fazer milagres. Merece louvor o religioso que raro sai, que foge de ser visto pelos homens e nem procura vê-los.

7. Para que queres ver o que não te é lícito possuir? Passa o mundo e a sua concupiscência (1Jo 2,17). A inclinação sensual convida a passeios; passada, porém, àquela hora, que nos fica senão consciência pesada e coração distraído? À saída alegre, muitas vezes sucede um regresso triste, e à véspera deleitosa uma triste manhã. Assim, todo gosto carnal entra suavemente; no fim, porém, remorde e mata. Que poderás ver alhures que aqui não vejas? Eis: aqui tens o céu, a terra e todos os elementos; e deles são feitas todas as coisas.

8. Que poderás ver, em parte alguma, estável debaixo do sol por muito tempo? Pensas talvez te satisfazer completamente? Pois não o conseguirás. Se visses diante de ti todas as coisas, que seria senão vã fantasia? Levanta os olhos a Deus nas alturas e pede perdão de teus pecados e negligências. Deixa as vaidades para os fúteis; tu, porém, atende ao que Deus te manda. Fecha atrás de ti a porta e chama a teu Jesus amado. Fica-te com ele em tua cela, porque tanta paz em outra parte não acharás. Se não tivesses saído, e escutado os rumores do mundo, melhor terias conservado a santa paz; enquanto folgares de ouvir novidades, terás que sofrer desassossego do coração.

(Excertos da obra 'Da Imitação de Cristo', de Thomas de Kempis)

quinta-feira, 7 de abril de 2016

DO FALAR CONTIDO


Ouvi, filhos, o conhecimento que eu vos dou: aquele que o guardar não perecerá pelos lábios, nem cairá em ações criminosas.

O pecador é apanhado pela sua leviandade; o orgulhoso e o maledicente nela encontrarão motivos de queda.

Que tua boca não se acostume ao juramento, porque isso leva a muitos pecados.

Que o nome de Deus não esteja sempre na tua boca, e que não mistures nas tuas conversas o nome dos santos, porque nisso não estarias isento de culpa.

Pois, assim como um escravo submetido continuamente à tortura, dela trará as cicatrizes, assim, todo homem que jura pelo nome de Deus, não poderá totalmente escapar ao pecado.

O homem que jura com frequência será cheio de iniquidade, e o flagelo não deixará a sua casa; se não cumprir o juramento, sua culpa recairá sobre ele; e, se o dissimular, pecará duplamente.

Se jurar em vão, isso não o justificará: sua casa será cheia de castigos.

Há uma outra palavra que merece a morte, e não deve ser encontrada na herança de Jacó!

Tudo isto está longe dos homens piedosos, que não se comprazem em tais crimes.

Não acostumes tua boca a uma linguagem grosseira, pois aí sempre haverá pecado.

Lembra-te de teu pai e de tua mãe, quando te achares no meio dos poderosos, para não acontecer que Deus se esqueça de ti na presença deles, e que, tornando-te insensato pela tua excessiva familiaridade, tenhas de suportar um insulto, e desejes não ter nascido, e amaldiçoes o dia do teu nascimento.

O homem acostumado a dizer palavras injuriosas jamais se corrigirá disso.

(Eclesiástico 23, 7 - 20)

terça-feira, 23 de junho de 2015

DAS CONSOLAÇÕES E SECURAS DA VIDA ESPIRITUAL (II)


Do que temos dito se segue que é grande engano e grave tentação, quando alguém, por se ver deste modo atribulado, chega a deixar a oração ou a ser nela menos assíduo, parecendo-lhe que não faz ali nada, antes perde tempo. Com esta tentação tem o demônio feito abandonar o exercício da oração não só a muitos dos seculares, mas também a muitos religiosos; e, quando de todo lhes não tira a oração, faz que não se deem tanto a ela nem gastem nela tanto tempo como poderiam. 

Começam muitos a dar-se à oração: e enquanto bonança e devoção, continuam com muito fervor, porém, apenas chega o tempo da secura e das distrações, logo desanimam, parecendo-lhes que aquilo não é oração mas antes nova culpa, pois estão ali diante de Deus com tanta dissipação e com tão pouca reverência. E assim vão pouco a pouco deixando a oração, cuidando que hão de fazer maior serviço a Deus em outros exercícios e ocupações, que não em estar ali deste modo. E como o demônio sente neles esta fraqueza, vale-se da ocasião e se apressa de tal modo a lhes sugerir pensamentos e tentações na oração, que persuadidos já que é tempo mal gasto, pouco a pouco chegam a deixá-la de todo, e com ela a prática da virtude.

E muitas vezes não param aqui. Por este caminho principiou a perdição de muitos. Há amigos, que só o são para a mesa, e que faltam no tempo da tribulação e necessidade, diz o Sábio (Ecl 6,10). Gozar pela graça de Deus ninguém recusa, porém trabalhar e padecer por amor de Deus é o único sinal do verdadeiro amor. Quando na oração há devoção e consolação, não é muito que persevereis e que vos detenhais e gasteis nela muitas horas, porque isso podeis vós fazer só por vosso gosto e contentamento; e é prova de que assim o fazeis, se, quando isso vos falta, já não perseverais na oração. 

Quando Deus manda desconsolações, securas e distrações, então se provam os verdadeiros amigos, então se conhecem os servos fieis, que não buscam o seu interesse, senão puramente a vontade e o beneplácito de Deus. E por isso então havemos de perseverar com humildade e paciência, ficando ali todo o tempo marcado e ainda um pouco mais, como no-lo aconselha nosso Padre Inácio, para assim vencermos a tentação e para nos mostrarmos esforçados e fortes contra o demônio.

Conta Paládio que, exercitando-se ele nas coisas divinas e na consideração dos bens espirituais, encerrado em uma cela, padecia graves tentações de secura, e grande moléstia de pensamentos; e lhe vinha à imaginação que deixasse aquele exercício, porque era para ele sem proveito. Foi logo buscar àquele santíssimo varão Macário Alexandrino, e lhe contou esta tentação, pedindo-lhe conselho e remédio. Respondeu-lhe o santo: Quando estes pensamentos te disserem que te vás, e que não fazes ali nada, responde-lhes logo: 'Quero estar aqui por amor de Cristo, guardando as paredes desta cela'. E foi o mesmo que dizer-lhe que perseverasse na oração, contentando-se com fazer aquela santa obra por amor de Cristo Nosso Senhor, ainda que não tirasse mais fruto que este.

Esta é muito boa resposta para quando nos vier a tentação do desânimo na oração; porque o fim principal que havemos de pretender neste santo exercício, e a intenção com que devemos tomá-la e ocupar-nos nele, não há-de ser o nosso gosto e consolação, senão fazer uma obra boa e santa. Com ela, agrademos a Deus e lhe damos contentamento, e juntamente lhe pagamos alguma coisa do muito que lhe devemos, por ser Ele quem é, e pelos inumeráveis benefícios que da sua liberal mão temos recebido; e pois se Ele quer e lhe agrada de que eu esteja agora aqui em oração, ainda que me pareça que não faço nada, permanecerei contente no meu posto.

Conta-se de Santa Catarina de Sena que, por muitos dias, esteve desamparada destas consolações espirituais, sem sentir o costumeiro fervor da devoção; além disso, era muito molestada por pensamentos maus, feios e desonestos, os quais não podia afastar de si; porém nem por isso deixava a sua oração, antes perseverava nela o melhor que podia com grande cuidado, e então falava consigo mesma deste modo: 'Tu, vilíssima pecadora, não mereces consolação alguma; não te contentarias tu com que não fosses condenada, ainda que toda a tua vida houvesses de padecer estas trevas e estes tormentos? Com certeza que não escolheste servir a Deus, para dele receberes consolações nesta vida, senão para gozares dele no céu por toda a eternidade. Ânimo pois, e prossegue nos teus exercícios espirituais, persevera na fidelidade ao teu Senhor'.

Imitemos nós estes bons exemplos, e fiquemos com as palavras de um santo bem gravadas no nosso coração: 'Tenha eu, Senhor, por minha consolação o querer de boa vontade estar privado de toda a consolação humana; e se também a Vossa consolação me faltar, tenha eu por supremo alívio a Vossa vontade e justa prova'. Se chegarmos a esta perfeição; se conseguirmos que a vontade de Deus seja todo o nosso contentamento e consolação, de tal modo que até o carecer de toda a consolação do céu seja o nosso gosto e contentamento, por ser essa a vontade de Deus: então será verdadeira a nossa alegria, e tão sólida e duradoura, que nenhuma coisa deste mundo no-la poderá roubar.

(Excertos da obra 'Exercícios de Perfeição e Virtudes Cristãs', do Pe. Afonso Rodrigues)

sábado, 20 de junho de 2015

DAS CONSOLAÇÕES E SECURAS DA VIDA ESPIRITUAL (I)


Devemos conformar-nos com a vontade de Deus não somente nas coisas exteriores, naturais e humanas, mas também naquilo que a muitos parece que é bom desejar sem medida nos bens espirituais e sobrenaturais, como são as consolações divinas, as mesmas virtudes, o dom de oração, a paz, o sossego e quietação interior de nossa alma, e as mais vantagens espirituais. Porém perguntará alguém: 'Então pode haver nestas coisas vontade própria e amor desordenado de si mesmo, para que seja necessário moderá-lo ainda nestas coisas?' Digo que sim; e aí se verá quão grande é a malícia, do amor próprio, pois em coisas tão boas não se teme introduzir o seu veneno. Boas são as consolações e gostos espirituais, porque com eles facilmente a alma aborrece e despreza todos os prazeres e gostos da terra que são o alimento dos vícios, e se alenta e anima para caminhar com fervor no serviço de Deus, conforme disse o profeta: 'Corria eu com ligeireza pelo caminho de vossos mandamentos, quando vós, Senhor, dilatáveis meu coração' (Sl 118, 32). Com a alegria e consolação espiritual dilata-se e reforça-se o coração e, ao revés, comprime-se e aparta-se com a tristeza. Diz pois o profeta Davi que quando Deus lhe mandava consolações, lhe eram como asas que o faziam correr e voar pelo caminho da virtude e dos mandamentos do Senhor.

Ajudam também muito as consolações espirituais para cada um quebrantar à própria vontade, vencer os apetites, mortificar a carne e levar com maior ânimo a cruz e os trabalhos que se oferecerem. E assim costuma Deus conceder consolações espirituais àquele a quem há de mandar trabalhos e tribulações para que, por meio delas, se prepare e disponha para os levar com paciência e com proveito, como vemos que Jesus Cristo Nosso Redentor quis primeiro consolar aos seus discípulos no monte Tabor com a sua gloriosa transfiguração, para que depois se não perturbassem vendo-o padecer e morrer em uma cruz. E vemos também que, aos principiantes, costuma Deus de ordinário dar estas consolações espirituais, para os fazer deixar eficazmente os gostos da terra pelos do céu; e depois que os têm presos pelo seu amor, e os vê bem fundados na virtude, os costuma exercitar com securas, para que adquiram mais humildade e paciência, e mereçam maior aumento de graça e glória, servindo a Deus mais pura e desinteressadamente sem consolações.

Esta é a causa por que alguns, no princípio, quando entram na Religião, e ainda talvez lá fora nas vésperas de entrar, sentiam mais gostos e consolações espirituais que depois; e a razão é porque os tratava Deus então conforme à sua idade, dando-lhes leite como a meninos para os arrancar e desapegar do mundo, e fazer que o aborrecessem e fugissem das suas vaidades. Porém depois, que já podem comer pão duro e sólido, dá-lhes Deus manjar próprio de pessoas adultas. Para estes e outros fins semelhantes, costuma o Senhor dar as consolações e gostos espirituais; e assim nos aconselham comumente os santos que, no tempo da consolação, nos preparemos para o da tentação, como no tempo da paz se preparam os homens para a guerra, pois costumam as consolações ser véspera de tentações e tribulações espirituais.

De maneira que os gostos espirituais são muito bons e úteis, se sabemos usar bem deles; e assim quando o Senhor os der, devemos recebê-los com ações de graças. Porém, se alguém parasse nestas consolações, e as desejasse só por seu contentamento, pelo gosto e prazer que nelas sente a alma, seria vício e amor próprio desordenado. Assim como nas coisas necessárias para a vida, como é o comer, beber, dormir e outras coisas, se o homem tivesse por fim destas ações só o deleite, seria culpa; assim também na oração, se tivéssemos por fim único estes gostos e consolações espirituais, seria vício de gula espiritual. Não se hão de desejar nem tomar estas coisas só por gosto e contentamento nosso, senão como meio que nos ajuda para os fins da virtude e perfeição que temos dito. Assim como o enfermo que aborrece o mantimento de que tem necessidade, se alegra quando acha algum gosto nele, não pelo sabor, mas porque lhe abre o apetite para poder comer e conservar a vida; assim o servo de Deus não há de querer a consolação espiritual para nela parar e descansar, mas sim para que, com este refresco do céu, se anime e alente a alma a trabalhar no caminho da virtude e a perseverar nele constantemente. Deste modo não se desejam os gostos só por serem gostos, senão pela maior glória de Deus, enquanto redundam em sua maior honra e glória.

Mas digo mais. Ainda que o homem deseje as consolações espirituais deste modo e para os sobreditos fins, tão bons e santos, pode, com tudo isso, haver excesso nos tais desejos, e mistura de amor próprio desordenado como, por exemplo, se as deseja desordenadamente e com ânsia demasiada, de tal modo que, se lhe faltam, não fica tão satisfeito e conforme com a vontade de Deus, mas inquieto, queixoso e com pena. Essa é afeição e cobiça espiritual desordenada; porque o servo de Deus não há de estar tão apegado aos gostos e consolações espirituais, que esse amor lhe perturbe a paz e o sossego da alma, e a conformidade que deve ter com a vontade de Deus, se ele não for servido conceder-lhos. E a razão é porque a vontade de Deus é melhor que tudo e, mais que tudo, importa que nos conformemos e nos contentemos com o que Deus quer. O que digo dos gostos e consolações espirituais, entendo também do dom de oração e da entrada que nela desejamos ter, e da paz, sossego e quietação interior de nossa alma, e de todas as mais coisas espirituais porque, no desejo de todas elas, pode também haver afeição e cobiça desordenada, quando se desejam com tanta ânsia e com tal apetite que, se um não alcança o que deseja, anda queixoso, descontente e menos conforme com a vontade de Deus.

Portanto agora, entenderemos por gostos e consolações espirituais não só a devoção, o gosto e a satisfação sensível, mas também a mesma substância e dom da oração, o entrar e estar nela com aquela quietação e sossego que queremos. E disto precisamente trataremos principalmente agora, mostrando como nos devemos conformar também neste ponto com a vontade de Deus, sem andar com demasiada cobiça, ânsia e sofreguidão em busca destas coisas espirituais; porque tudo o que se refere a gostos, consolações e devoções sensíveis, facilmente o renunciaríamos, se nos dessem o substancial da oração, e se sentíssemos em nós o fruto dela; e todos entendem que não consiste a oração nesse gosto, devoção e ternura; e assim, para prescindirmos disso, pouca virtude é necessária.

Porém isto de ir um à oração, e estar ali como se fosse uma pedra, com tão grande secura que parece não há para ele entrada, mas antes, que Deus se fechou e escondeu para ele, e que lhe sobreveio já aquela maldição com que Deus ameaça o seu povo: 'E de cima vos darei um céu de ferro e uma terra de bronze' (Lev 26, 19; Deut 28, 23), não há dúvida que é coisa dura e que, para isso, se requer mais virtude, e maior fortaleza. A esses parece-lhes que o céu revestiu para eles a dureza do ferro, e que a terra se lhes converteu em bronze, porque não chove uma gota de água celeste que lhes abrande o coração para que produza algum fruto com que se alimentem, mas só encontram uma esterilidade e secura continuada.

E não é só a secura; mas algumas vezes sofrem uma tão grande distração e variedade de importunos pensamentos e, por vezes, tão maus e tão feios, que parece não vão à oração senão para serem tentados e atormentados com todo o gênero de tentações. Dizei então a um destes que medite nessas ocasiões na morte, ou em Cristo crucificado, que, de ordinário, é muito bom remédio; e vereis como vos responde: 'Isso já sei muito bem; se eu pudesse fazer isso, não me queixava, pois nada me faltava'. Mas, às vezes, na oração está um de tal sorte, que nem sequer nisso pode ocupar o pensamento; e ainda que traga coisas à memória, não o movem ao recolhimento, nem sente devoção alguma nem lhe fazem a mínima impressão. Isto é o que chamamos desconsolação, secura e desamparo espiritual, e nisto é necessário que nos conformemos também à vontade de Deus.

Este ponto é de muita importância, por ser uma das queixas mais comuns, e uma das maiores tribulações que sentem os que tratam da oração, porque todos gemem e choram quando se acham deste modo. Como ouvem por uma parte dizer tantos bens e louvores da oração, e que quanto mais um se dá a ela, tanto mais aproveita naquele dia e em toda a vida; que este é um dos principais meios que há, tanto para o próprio adiantamento como para o dos próximos; e por outra parte se veem, ao seu parecer, tão longe de terem oração: dá-lhes isto muita pena, e lhes parece que Deus os tem desamparado e se tem esquecido deles, e lhes vem um grande temor, cuidando que terão perdido a amizade e a graça de Deus, por lhes parecer que não acham nele acolhimento.

A estes vem uma nova tentação; pois vendo que outras pessoas, em poucos dias, crescem e avançam tanto na oração, quase sem trabalho e que eles, trabalhando tanto, não alcançam nada: disto mesmo lhes nascem coisas piores, como são queixarem-se às vezes de Nosso Senhor porque os trata deste modo; assim querem deixar o exercício da oração, parecendo-lhes que não é para eles, pois tão mal lhes faz nela; e tudo isto se lhes agrava e lhes dá maior pena, quando o demônio lhes traz à lembrança que eles são a causa de tudo isto e, que é por sua própria culpa, que os trata Deus assim. Com isto vivem alguns muito descontentes, e saem da oração como de um tormento, desolados, tristes, melancólicos e insofríveis para si e para os outros que tratam com eles. Por esta causa iremos respondendo e satisfazendo a esta tentação e a esta queixa com a graça do Senhor.

(Excertos da obra 'Exercícios de Perfeição e Virtudes Cristãs', do Pe. Afonso Rodrigues)


Ps. CXVIII,32.  (Sl 118, 32)
2-     Daboque vobis coelum desuper sicut ferrum, et terram aeneam. Levit. XXVI,19; Deut. XXVIII,23.