Mostrando postagens com marcador Inferno. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Inferno. Mostrar todas as postagens

sábado, 15 de março de 2025

QUANDO O INFERNO É AQUI...

Recentes ataques contra cristãos e contra a etnia muçulmana alauita resultaram no massacre de centenas de civis na Síria, pelas forças de segurança da maioria sunita, alçada ao poder em dezembro de 2024, quando a perseguição religiosa tornou-se recorrente no país. Este fato corrobora o aumento crescente da perseguição aos cristãos em todo o mundo, traduzida pela realidade atual e brutal desta hierarquia anti-cristã apresentada na lista abaixo.

(clicar sobre a imagem)
portasabertas.org.br

sexta-feira, 15 de março de 2024

QUANDO O INFERNO É AQUI...


Na sexta-feira passada desta Quaresma, dia 08/03 e dia internacional da mulher, a França passou a incorporar um dispositivo legal que determina a possibilidade da interrupção voluntária da gravidez como um direito previsto na Constituição. Com isso, o país tornou-se o único do mundo a garantir a interrupção voluntária da gravidez na própria Constituição.

Na França, as mulheres já tinham o direito ao aborto garantido por lei desde 1975, permitindo que as mulheres abortassem até a 14ª semana de gestação. Mas agora, como direito constitucional, é praticamente cerceado qualquer potencial tentativa de impedimento para uma interrupção voluntária de uma gravidez na França. A aprovação do projeto foi esmagadora nas casas legislativas e teve grande apoio popular. O passo seguinte do governo francês é a promoção desta legislação constitucional do aborto para todos os demais países da União Europeia.

Que rumos da história puderam levar a França a esse abismo de fé e de confrontação a Deus? A França sempre foi conhecida como a 'filha primogênita da Igreja', porque os francos foram o primeiro dos povos bárbaros a serem convertidos ao catolicismo, no evendo do batismo do Rei Clóvis por São Remígio (em 25 de dezembro do ano 496). Desde então, a França passou a ter um papel singular na história da Igreja e da Civilização Cristã, berço de um portentoso número de santos e santas (São Bernardo de Claraval, Santa Joana d'Arc, São Vicente de Paulo, São Luís Grignion de Montfort, Santa Teresa de Lisieux, Santa Margarida Maria Alacoque, São João Maria Vianney...) e de manifestações da própria Mãe de Deus. Nossa Senhora manifestou-se em território francês por três vezes: em 1830 como Nossa Senhora das Graças da Medalha Milagrosa, em 1846 como Nossa Senhora de La Salette e, em 1858, como Nossa Senhora da Imaculada Conceição em Lourdes. Nenhum outro país foi agraciado com tantas aparições.

Quando se voou tão alto e se perde as asas, a queda tende a ser tenebrosa. Por certo seria uma temeridade imaginar o destino de qualquer nação, cristã ou não, que desconsidera o direito à vida dos seus filhos mais vulneráveis, que legaliza na própria constituição a matança destes inocentes. Mas o que pensar do futuro se tal nação é a 'filha primogênita da Igreja' e, por isso, contemplada com tantos privilégios do Céu? Que nação da terra pode ser capaz de confrontar na época atual com a França a partir de agora, em termos do abandono das graças da Providência Divina e de sublimar à exaustão os limites da ira santa de Deus?

sábado, 26 de agosto de 2023

SERMÕES DO CURA D'ARS (XII)

 SOBRE AS NOSSAS TRIBULAÇÕES

'Em verdade, em verdade vos digo: haveis de lamentar e chorar, mas o mundo se há de alegrar. E haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza se há de transformar em alegria' (Jo 16,20)

Quem, meus amados cristãos, poderia ouvir sem tremer o discurso do Redentor aos seus discípulos antes de sua ascensão ao céu, no qual Ele lhes diz que a vida deles seria uma série de lágrimas, sofrimentos e dores em carregar a cruz, enquanto o resto do mundo se alegraria e se divertiria? Não que os homens do mundo não tivessem também os seus problemas, porque a tristeza e a consternação são a consequência natural de uma má consciência, e uma vida desordenada encontra o seu próprio castigo em um coração perturbado. A sorte dos bons cristãos é completamente diferente: eles têm de se decidir a sofrer e a chorar nesta vida, mas o seu sofrimento e as suas lágrimas vislumbram na outra vida uma alegria e um prazer ilimitados em extensão e duração. Em contrapartida, os filhos do mundo, após alguns momentos de gozo, misturados com muita amargura, seguem o caminho que conduz ao fogo eterno. 'Ai de vós' - disse Jesus Cristo - 'ai de vós que não pensais senão em alegria, porque as vossas alegrias produzirão sofrimentos eternos na morada da minha justiça'. Mas Ele falou aos bons cristãos:  'Bem-aventurados sois vós que passais os vossos dias em lágrimas, porque virá o dia em que eu mesmo serei a vossa consolação'. Mostrar-vos-ei agora, meus caros cristãos, que a cruz, a pobreza, o desprezo e o sofrimento são a sorte do cristão que deseja salvar a sua alma e que procura ser agradável a Deus.

Ou sofreis nesta vida ou perdereis a esperança de ver Deus no céu. Deixai-me dizer-vos que, a partir do momento em que sois contados entre os filhos de Deus, deveis tomar sobre vós a cruz e não a abandonar até o momento da vossa morte. Quando Jesus Cristo nos fala do céu, não deixa de nos recordar que só podemos merecê-lo carregando a cruz e sofrendo: 'Toma a tua cruz e segue-me, não por um dia, um mês ou um ano, mas por toda a tua vida'. Santo Agostinho diz: 'Deixai os prazeres e os divertimentos aos filhos do mundo; mas vós, que sois filhos de Deus, chorai como os filhos de Deus'.

Os sofrimentos e as perseguições são de grande utilidade para nós, porque neles encontramos um meio muito eficaz de expiar os nossos pecados, visto que somos obrigados a sofrer por eles, quer neste mundo, quer no outro. Os sofrimentos neste mundo não são ilimitados, nem em intensidade, nem em duração: o Deus misericordioso nos castiga por causa de sua grande misericórdia para conosco; Ele nos permite sofrer por um tempo, apenas para nos fazer felizes por toda a eternidade. Por maiores que sejam os nossos sofrimentos neste mundo, Ele nos toca apenas com o dedo mindinho, por assim dizer; enquanto no outro mundo as torturas e os castigos que teremos de suportar são ditados pelo seu grande poder e ira. Lá nos parecerá que Deus quis esgotar todo o seu poder para vingar a sua majestade ofendida. Lá os nossos tormentos serão infinitos em severidade e duração. 

Nesta vida, os nossos sofrimentos são atenuados pela consolação e pelo auxílio que a nossa santa religião nos oferece, mas no outro mundo não há consolação, não há atenuação alguma; pelo contrário, lá tudo leva ao desespero. Ó como é bem-aventurado o cristão que passa toda a sua vida em lágrimas e tribulações, pois assim evita a maior desgraça que lhe pode acontecer, e assegura para si a alegria eterna. Jó, o santo homem, diz-nos que a vida não é mais do que uma miséria sem fim. Vamos focar neste ponto. Vamos de casa em casa e encontraremos sempre plantada por todo o lado a cruz de Cristo. Aqui é a perda dos bens terrenos, resultado de uma injustiça, que atirou toda uma família para a miséria; ali é uma doença, que mantém uma pessoa num leito de sofrimento; ali é uma esposa que come o seu pão entre lágrimas e tristeza por causa de um marido bêbado e brutal. Mais além, encontramos pobres idosos que foram atirados aos asilos deste mundo pelos seus filhos ingratos. Aqui está um homem curvado de tristeza e vergonha porque foi acusado de delitos que nunca cometeu. E, novamente, há uma casa cheia de lamentações pela perda de um pai, de uma mãe ou de um filho. Assim, a nossa vida mortal parece pobre e miserável, considerada do ponto de vista humano; mas, se considerarmos nossa vida do ponto de vista da nossa religião, logo nos convenceremos de que somos miseráveis apenas enquanto remoemos e lamentamos os nossos problemas do ponto de vista humano.

Por que tendes tanta tendência a considerar-vos infelizes? Porque sempre pensais naqueles cuja situação na vida é melhor do que a vossa. O pobre, na miséria de sua pobreza, em vez de pensar naqueles que, por motivo de doença ou, talvez, por terem sido colocados na prisão ou no asilo, estão em situação pior do que a sua, deixa que os seus pensamentos se detenham nas mansões dos ricos e em seus bens e prazeres terrenos. O doente, em vez de pensar nas torturas sofridas pelos condenados pelo justo julgamento do Senhor ao castigo eterno, dirige o seu pensamento apenas para os poucos felizardos que nunca tiveram a infelicidade de ser pobres ou doentes. É por essa razão, meus caros amigos, que consideramos insuportáveis os nossos sofrimentos. Mas qual é a consequência? A consequência é que a nossa murmuração e a nossa queixa privam-nos de todos os méritos que poderíamos ganhar no Céu com os nossos sofrimentos: por um lado, suportamo-los sem nos consolarmos com o pensamento de que eles nos abrem a esperança do perdão; por outro lado, aumentamos os nossos pecados com a nossa impaciência e a nossa murmuração, em vez de os diminuirmos oferecendo o nosso sofrimento em expiação deles. É a nossa impaciência, a nossa falta de submissão à vontade de Deus e a nossa falta de confiança nEle que nos tornam tão infelizes e que são a causa de aumentarmos os nossos pecados em vez de os diminuirmos, oferecendo os nossos sofrimentos em expiação. Quão infeliz e cheia de desespero é a vida daquele que esquece para que fim Deus lhe enviou uma cruz para carregar!

Mas poderíeis me dizer: 'Já ouvimos centenas de vezes esses sentimentos serem expressos; são apenas palavras, não são consolações; dizemos as mesmas coisas àqueles que vemos sofrer'. Mas eu vos digo, meus amigos, olhai para o alto, olhai para o céu. Removei os vossos corações do lodo desta vida em que se afundaram; rasgai as nuvens de neblina que vos escondem a recompensa celeste, que podeis obter por meio dos vossos sofrimentos aqui na terra. Levantai os vossos olhos e vede o bom Pai que vos reserva uma gloriosa mansão nos seus domínios. Deus te castiga apenas para curar as feridas que tu, pobre pecador, infligiste à tua própria alma. Deus te envia o sofrimento apenas para te legar a coroa da glória eterna.

Se quereis saber, meus caros amigos, como tomar a cruz, que vos foi entregue pelo Todo-Poderoso ou pelos vossos próprios semelhantes, deixai-me citar-vos como exemplo, como Jó tomou a sua cruz, como nunca ficou descontente mesmo com a perda dos seus numerosos bens e da sua família, nem quando o fogo do céu destruiu os seus rebanhos, nem quando os ladrões levaram o resto do seu gado, nem quando um ciclone terrível destruiu a sua casa e enterrou os seus filhos, mas exclamou com devoção: 'Ai de mim, a mão do Senhor pesa sobre mim!' Há anos que estava deitado num monturo, coberto de chagas, sem ajuda nem consolação, abandonado até pela própria mulher que, em vez de o consolar, apenas zombava dele com as palavras: 'Por que não pedes ao teu Deus a morte, para te livrares de toda esta miséria; não vês como o teu Deus, a quem serviste tão fielmente, te tortura?' E ele apenas lhe respondia: 'Falaste como uma das mulheres insensatas; se recebemos coisas boas da mão de Deus, por que não havemos de aceitar as más?'

Mas alguns de vós poderiam dizer: 'Não compreendo porque Deus nos visita com tais calamidades; Ele, que é o próprio amor e que nos ama com um amor infinito'. Poderíeis ainda me perguntar: 'Como é possível que um pai castigue o seu filho ou que um médico dê ao doente um remédio amargo?' Pensais que seria melhor deixar essa criança viver sem freio do que conduzi-la, através do castigo, ao caminho da virtude e, assim, ao céu? Achais que o médico deve deixar morrer o doente, em vez de lhe prescrever um remédio amargo? Como somos cegos se raciocinamos assim! Deus tem de nos castigar e, se não tivermos a cruz, podemos ter a certeza de que não pertencemos ao número dos seus filhos. O próprio Jesus disse que o Reino dos Céus seria apenas para aqueles que sofrem e lutam até o fim. E não é que Ele diz sempre a verdade? Contemplai a vida dos santos, vede o caminho que seguiram; desde o momento em que deixaram de sofrer, temeram que o Senhor os tivesse abandonado e que o tivessem perdido para sempre. 'Meu Deus, meu Deus!' - exclamava Santo Agostinho em lágrimas - 'não me poupeis nesta vida, mas deixai-me sofrer muito. Mostrai-me a vossa misericórdia só na outra vida e eu estarei satisfeito'.

A maior parte das pessoas que padecem sofrimentos dizem: 'O que é que eu fiz ao Senhor para Ele me enviar tanta miséria?' E eu respondo: 'Deus te manda esta aflição porque realmente fizeste o mal, meu amigo. Toma para si todos os mandamentos, um a um, e vê se não pecaste contra todos e cada um deles. Que todos os dias da tua vida pecaminosa, desde os dias inocentes da tua infância, passem em tua memória, e então verás porque não deverias perguntar que mal fizeste para que Deus te castigue assim. Será que os maus hábitos em que vos afundastes durante tanto tempo não contam para nada? E o vosso orgulho? Achais justo esperar que todos se curvem diante de vós, porque tendes alguns hectares de terra a mais do que outro, o que pode ser a causa da vossa condenação? Já esquecestes essa cupidez que vos mantém sempre em estado de insatisfação; e esse amor próprio, essa vaidade, esse temperamento raivoso, essa sede de vingança, essa intemperança, esse ciúme? Esquecestes a vossa criminosa negligência para com o Santíssimo Sacramento e todas as obrigações religiosas que deveríeis ter cumprido em benefício da vossa alma? O vosso esquecimento de todos estes e outros fatos vos torna isentos de culpa? E se és culpado, não deveria a justiça de Deus castigar-te? Dizei-me, meu amigo, que penitência fizestes para expiar os vossos pecados, que jejum ou que mortificação? Onde estão as tuas boas obras? Quando, depois de tantos pecados, não derramares uma lágrima; quando, depois de tanta avareza, não deres a menor esmola; quando, depois de tanto orgulho, não sofreres a menor humilhação; quando, depois da tua carne ter servido ao maligno, não quiseres ouvir falar de penitência, então o Céu deve intervir e impor essa penitência que tu próprio não praticaste.

Vejam pois como somos cegos! Gostaríamos de fazer o mal sem sermos castigados por isso ou, por outras palavras, preferiríamos que Deus fosse injusto. Deixai, Senhor, que o pecador leve uma vida fácil; não lhe imponhais a mão demasiado pesada; deixai-o engordar como um animal de sacrifício, destinado ao castigo eterno, onde terá tempo de satisfazer a vossa justiça; poupai-o nesta vida; ele assim o quer. Ele pode fazer penitência no fogo eterno, penitência sem mérito, penitência sem fim. Ó meu Senhor, não deixeis que esta desgraça nos aconteça! 'Ó meu Deus' - exclamava Santo Agostinho - 'aumentai a minha miséria e o meu sofrimento tanto quanto quiserdes, mas não me poupeis da vossa misericórdia na vida futura'.

'Sim' - diria um outro - 'isso é muito bom para aqueles que cometeram pecados graves, mas eu, graças a Deus, nunca fiz nada disso'. Essa pessoa, portanto, acredita que, por pensar que não cometeu tais pecados, não precisa de sofrer. Mas eu digo que é precisamente pelo fato de essa pessoa tentar fazer o bem que Deus lhe enviará provações e permitirá que ela seja escarnecida, desprezada e que a sua piedade seja ridicularizada, porque Deus quer pô-la à prova enviando-lhe doenças e tribulações. Olhai para Jesus Cristo, verdadeiro modelo da vossa vida, e vede se Ele viveu um único momento sem sofrer, e, de fato, sofrendo tanto que a mente humana ainda não o conseguiu compreender. Por que os fariseus o perseguiram e tentaram continuamente enredá-lo, para terem um motivo para o condenarem à morte? Fizeram tais coisas porque pensavam que Ele estava errado? De modo nenhum; fizeram isso porque os seus milagres, a sua pobreza e humildade condenavam o seu orgulho e as suas más ações. Se olharmos para as Sagradas Escrituras, veremos que, desde o início do mundo, o sofrimento, o opróbrio e o escárnio foram a parte destinada aos filhos de Deus - isto é, daqueles que se esforçaram por levar uma vida temente a Deus. 

Quem realmente pode escarnecer ou censurar aqueles que cumprem os deveres da sua religião, senão um pobre e miserável proscrito do inferno, que foi enviado a esta terra com o propósito de tentar atrair outros para o abismo, que é a sua morada para toda a eternidade? Deixai-me dar-vos alguns exemplos. Por que Caim matou o seu irmão Abel? Ele o matou porque não conseguiu induzi-lo a fazer o mal, como ele próprio o fazia. Por que os irmãos de José o atiraram numa cisterna? Porque a sua vida temente a Deus era uma vergonha para o próprio modo de vida dissoluto deles. Qual foi a causa das perseguições aos Apóstolos, continuamente presos, torturados e maltratados, de modo que a sua vida, a partir da morte de Nosso Senhor, foi um martírio contínuo? Todos eles tiveram de morrer de uma maneira muito cruel e dolorosa. E o que eles tinham feito para sofrerem tudo isso? Tinham procurado apenas a honra do Senhor e a salvação das suas almas. Se fordes censurados, ridicularizados, escarnecidos, perseguidos, embora não tenhais feito nada de mal, tanto melhor para vós. Se não tiverdes de passar por nenhum sofrimento neste mundo, como então vos achareis diante o Senhor no dia do julgamento?

Pois então, se fordes perseguidos, ridicularizados e feridos, embora nada tenhais feito de mal, estareis com certeza no caminho certo para o Céu. O que o Salvador nos disse? 'Tomai a vossa cruz e segui-me; perseguiram-me a mim, perseguir-vos-ão também a vós; mas não desanimeis, antes alegrai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus. Pois quem não estiver disposto a sofrer tudo, até perder a vida por amor a mim, não é digno de mim'. Amém.

quarta-feira, 19 de julho de 2023

SERMÕES DO CURA D'ARS (XI)

 SOBRE A NOSSA ALMA

'Aproximando-se ainda mais, Jesus contemplou Jerusalém e chorou sobre ela' (Lc 19,41)

Quando Jesus estava prestes a entrar na cidade de Jerusalém, chorou sobre ela, dizendo: 'Se ao menos tivesses compreendido a graça que te trago, e dela tivesses tirado proveito, ainda terias obtido o perdão; mas não, a tua cegueira foi tão longe que todas essas graças serviram apenas para te endurecer e aumentar a tua desgraça; mataste os profetas e os filhos de Deus, e agora chegarás ao ápice dos teus crimes, matando o próprio Filho de Deus'. Foi isso, meus caros amigos, que fez com que Jesus derramasse copiosas lágrimas quando estava prestes a entrar na cidade. Na calamidade assim anunciada, Ele previu e deplorou a perda de tantas almas, muito mais culpadas, porque favorecidas com muito mais graças, do que a de outros judeus. O que o comoveu profundamente foi o fato de que, apesar dos seus méritos e da sua amarga paixão, que teriam sido suficientes para redimir mais de mil mundos, a maior parte da humanidade se perderia. De fato, mesmo entre nós, Ele percebeu aqueles que desprezam as suas graças e as utilizam apenas para a sua própria destruição. Quem não tremeria, ao pensar seriamente que pode perder a sua alma? Estaremos nós, porventura, entre o número desses infelizes? Estaria Jesus Cristo a referir-se a nós quando, em lágrimas, disse: 'Se a minha morte e o meu sangue não servirem para a vossa salvação, despertarão a ira eterna de meu Pai, que cairá sobre vós por toda a eternidade!': Deus perdido, uma alma condenada, o Céu rejeitado...

É concebível, meus amigos, que, apesar de tudo o que Jesus fez pela salvação da nossa alma, possamos ser tão indiferentes? Com o propósito de expulsar esta indiferença dentre nós, deixem-me tentar mostrar-vos: (i) o que é uma alma; (ii) o que custa nossa alma a Jesus Cristo; (iii) o que o demônio faz para perder a nossa alma.

I

Meus caros amigos, se apreciássemos realmente o valor da nossa alma, com que cuidado e zelo não a tentaríamos salvar! Mas nunca compreendemos realmente o seu valor. Mostrar o grande valor de uma alma é impossível ao homem mortal. Só Deus conhece as belezas e perfeições com que adornou uma alma. Deixai-me dizer-vos que Deus criou o céu e a terra, e tudo o que eles contêm, e todas estas maravilhas foram criadas para o benefício da alma. O nosso catecismo dá-nos uma indicação da magnificência da alma. Se perguntardes a uma criança: 'O que é que se entende quando se diz que o homem é uma criatura cuja alma é feita à imagem e semelhança de Deus?', ela responderá: 'Que a alma, como Deus, possui as faculdades de raciocinar, de amar e de agir por sua livre vontade'. Este, meus amigos, é o maior testemunho das qualidades com que Deus adornou a alma, que foi criada pelas três pessoas da Santíssima Trindade à sua própria semelhança. Um espírito semelhante a Deus, capaz de reconhecer, para toda a eternidade, as sublimidades e as perfeições de Deus; uma alma que é objeto do amor das três pessoas divinas, uma alma capaz de adorar Deus em todas as suas obras; uma alma cujo destino será cantar os louvores do Todo-Poderoso; uma alma que tem liberdade nas suas ações, de modo a poder dar o seu afeto e o seu amor onde quiser. Ela é livre para amar a Deus ou não amá-lo, mas quando tem a sorte de se voltar para Deus em amor, então o próprio Deus parece se comprazer em fazer a vontade de tal alma. Podemos mesmo afirmar que, desde a criação do mundo, nunca houve nada recusado a uma alma se ela se entregasse inteiramente ao amor de Deus. Deus incutiu em nossas almas desejos que não encontram sua gratificação neste mundo. Dai a uma alma todas as alegrias e tesouros deste mundo, e ela não ficará satisfeita, pela simples razão de que Deus criou a alma para si. Só Ele é capaz de satisfazer todos os seus desejos.

Sim, meus amigos, a nossa alma é capaz de amar a Deus, e só o amor de Deus constitui a sua felicidade. Se o amamos, todos os bens e prazeres que podemos desejar na terra ou no céu são nossos. Além disso, somos capazes de servir a Deus, isto é, de o glorificar nas nossas obras e ações. Não há nada, até a mais insignificante ação, pela qual não seja possível glorificarmos o Senhor, desde que a façamos por amor a Ele. As nossas ocupações na Terra são diferentes das ocupações dos anjos no Céu apenas na medida em que ainda não podemos contemplar o Senhor com os nossos olhos humanos, mas apenas com os olhos da fé. Nossa alma é tão nobre, adornada com tão belas qualidades, que Deus confiou cada alma aos cuidados de um príncipe de sua casa celestial, a um anjo da guarda. A nossa alma é tão preciosa aos olhos de Deus que, na sua sabedoria, Ele não poderia encontrar alimento mais digno para ela do que o seu próprio corpo divino, do qual a alma pode participar como o seu pão cotidiano, se assim o desejar. Santo Ambrósio diz que Deus estima tanto a nossa alma, que, se houvesse uma só alma no mundo, não teria considerado demasiado grande sacrifício morrer por essa alma. Disse a Santa Teresa: 'Tu és tão agradável a mim que, se não houvesse um céu, eu teria criado um só para ti'.

'Ó corpo, como és feliz!' - exclama São Bernardo - 'por abrigar uma alma adornada com tão belas graças!' A nossa alma é algo tão grande e tão precioso, que só Deus é maior do que ela. Um dia, Deus mostrou uma alma a Santa Catarina. Achou-a tão bela que exclamou: 'Oh, meu Senhor, se a minha fé não me ensinasse que só há um Deus, eu acreditaria que esta alma é outro Deus. Agora compreendo que tenhas morrido por uma alma tão bela!' A nossa alma, meus caros amigos, será tão imortal como o próprio Deus. Podemos, pois, admirar-nos que Deus, conhecendo tão bem o valor de uma alma, chore lágrimas tão amargas pela perda de uma alma assim?

II

Agora, consideremos quanto cuidado devemos empregar para preservar em nossa alma suas grandes belezas. Ó, meus amigos, Deus está tão triste com a perda de uma alma, que até chorou por ela. Já nos seus profetas, Ele chora e lamenta a perda de almas. Podemos ver isso claramente na pessoa do profeta Amós. O profeta diz: 'Quando me retirei para a solidão e meditei no número terrível de crimes que o próprio povo de Deus cometia todos os dias, e quando vi que a ira de Deus estava prestes a descer sobre eles, e que o abismo do inferno estava prestes a abrir-se e a devorá-los, então reuni-os e disse-lhes, com lágrimas amargas: Ó, meus filhos, sabeis qual é a minha ocupação, de dia e de noite? É lembrar-me, na amargura do meu coração, de todos os vossos pecados. Se adormeço de cansaço, desperto imediatamente e grito, com os olhos banhados em lágrimas e o coração dilacerado pela dor: Ó, meu Deus, meu Deus! Há ainda alguma alma em Israel que não Te ofenda? E então, com a mente cheia deste triste e deplorável estado de coisas, falo com o Senhor e, suspirando amargamente na sua presença, digo: Ó, meu Deus, que devo fazer para obter o perdão para eles? E agora ouve o que o Senhor me disse: Profeta, se queres obter o perdão para este povo ingrato, vai às suas ruas e lugares públicos e deixa-os ressoar com as tuas lamentações; vai às lojas dos comerciantes e às oficinas; vai aos tribunais; vai às casas dos ricos e às cabanas dos pobres, diz a todos, onde quer que os encontres dentro ou fora das portas da cidade: Ai de vós, ai de vós, que pecastes contra o Senhor'.

O profeta Jeremias, caros irmãos, vai ainda mais longe. Para nos mostrar como a perda de uma alma é dolorosa para Deus, ele exclama num momento em que foi inspirado pelo espírito de Deus: 'Ah, meu Deus, que será de mim? Confiaste aos meus cuidados um povo rebelde, uma nação ingrata, que não vos ouve nem se sujeita à vossa tua orientação. Que hei de fazer? Que resolução hei de tomar?' E o Senhor respondeu-me: 'Para lhes mostrar como me entristece a perda das suas almas, toma o teu cabelo, arranca-o da tua cabeça e atira-o para longe de ti, porque os pecados deste povo obrigaram-me a abandoná-lo, e a minha cólera acendeu-se no mais íntimo das suas almas'. Quando a ira de Deus se acende por causa do pecado, essa é a maior doença do coração. 'Mas, ó Senhor' - disse o profeta - 'que farei eu para vos induzir a desviar do vosso povo o vosso olhar irado? 'Toma um saco como vestimenta' - disse-me o Senhor - 'espalha cinzas sobre a tua cabeça e chora sem cessar e em tal abundância que as tuas lágrimas cubram o teu rosto, e chora tão amargamente que os pecados deles sejam afogados nas tuas lágrimas'.

Percebem, queridos irmãos, como é dolorosa a perda das vossas almas para Deus? Vedes como somos miseráveis quando destruímos uma alma que Deus amou tanto que Ele, quando ainda não tinha olhos para chorar, pediu emprestados os olhos do profeta para derramar lágrimas amargas pela sua perda. O Senhor diz pelo seu profeta Joel: 'Chorai a perda das almas, como uma jovem esposa que acaba de perder o marido, que era a sua única consolação, e que está exposta agora a toda a espécie de desgraças'. Se considerarmos então o que custou a Cristo salvar as nossas almas; se considerarmos toda a sua vida, desde o seu humilde nascimento até o seu último suspiro no Calvário, todo este sofrimento de um Homem-Deus, infinito em valor, dir-nos-á o valor da nossa alma, porque tudo o que Ele fez foi redimir essa alma, foi pagar o preço pelas nossas almas.

III

Santo Agostinho nos pergunta: 'Quereis saber quanto vale a vossa alma? Ide perguntar ao diabo e ele vos dirá. O demônio anseia tanto pela nossa alma que, mesmo que vivêssemos quatro mil anos, se depois desses quatro mil anos de tentação nos conseguisse conquistar, consideraria o seu trabalho bem feito'. Este santo homem, que sofreu as tentações do demônio de uma forma tão especial, diz-nos que a nossa vida é uma tentação contínua. O próprio demônio disse um dia, pela boca de um possesso, que enquanto houvesse um homem na terra, ele estaria lá para o tentar. Porque, dizia ele, não posso suportar que os cristãos, mesmo depois de tantos pecados, possam ainda esperar o céu que perdi de uma só vez, sem nunca mais o poder recuperar.

Mas, infelizmente, sim, podemos experimentar em nós mesmos que, em quase todas as nossas ações, somos tentados, seja pela soberba, seja pela vaidade, seja por pensar na opinião que os outros farão de nós, seja por conceber a inveja, o ódio, o desejo de vingança... Outras vezes, o demônio vem até nós para nos apresentar as imagens mais imundas e impuras. Vede como, quando rezamos, ele agita o nosso espírito, transportando-o de uma parte para outra. E, além disso, desde Adão até nós, não encontrareis um santo que não tenha sido tentado de uma forma ou de outra; e os maiores santos foram precisamente aqueles que experimentaram as maiores tentações. O próprio Jesus Cristo quis ser tentado, para nos dar a entender que também nós seríamos tentados: é necessário, portanto, que tenhamos consciência disso. Se me perguntardes qual é a causa das nossas tentações, responder-vos-ei que é a beleza e o valor da nossa alma, que o demônio ama e deseja tanto que se contentaria em sofrer dois infernos, se necessário, para a poder arrastar com ele para partilhar as suas penas.

Devemos, pois, estar sempre vigilantes, com medo de que, no momento menos esperado, o demônio nos possa enganar. Para repelir as tentações, diz-nos Santo António, devemos usar as mesmas armas do demônio: assim, quando ele nos tenta com a soberba, devemos logo humilhar-nos e rebaixar-nos diante de Deus; se nos quer tentar contra a santa virtude da pureza, devemos esforçar-nos por mortificar o nosso corpo e os nossos sentidos, vigiando-nos mais do que nunca. Se nos quiser tentar com aborrecimentos na hora da oração, devemos redobrar as nossas orações e prestar mais atenção; e quanto mais o demônio nos induzir a abandonar as nossas orações habituais, tanto mais perseveramos em rezá-las. 

Se vemos então o que o demônio faz para destruir a nossa alma, então a nossa alma deve ser muito valiosa, se ele usa todas as suas forças para a destruir. Não vamos, no entanto, debruçar-nos sobre este triste quadro. Basta saber que ele é o nosso maior inimigo, que devemos lutar contra ele e que, com a graça de Cristo, podemos vencê-lo. Como são verdadeiras, portanto, as palavras da Escritura: 'Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?' Ó amados irmãos, o conhecimento do valor da vossa alma deve levar-vos a guardá-la como o vosso maior tesouro. Não permitais que o pecado a manche ou destrua. Como sabeis que o pecado causará a perda da vossa bela alma, guardai-a, e que esta seja a vossa resolução nesta manhã, não só para evitar todo o pecado mortal, mas também todo o pecado venial voluntário, de modo a salvar a vossa alma para o Céu, e permitir que ela alcance o seu destino, o seu lar, e a sua recompensa, a visão eterna da grande glória de Deus. Amém.

quarta-feira, 24 de maio de 2023

VERSUS: ORAÇÃO PELO CÉU X ORAÇÃO CONTRA O INFERNO


Oração para obter o paraíso 

Meu Jesus Crucificado, fazei-me conhecer as magníficas recompensas que tendes preparadas para as almas que Vos amam. Dai-me tal desejo do paraíso que, esquecendo a terra, faça nele a minha morada contínua e, pelo resto da minha vida, não aspire senão a sair deste exílio, para ir Vos ver face a face e Vos amar perfeitamente no Vosso reino eterno. Não mereço esta felicidade, sei até que o meu nome esteve outrora escrito no livro dos condenados ao inferno; mas hoje, porque nutro a confiança de estar em graça, Vos conjuro, pelo sangue que derramastes por mim na cruz, inscrevei-me no Livro da Vida. Morrestes para me fazer adquirir o paraíso; eu o quero, ardentemente o desejo, e espero obtê-lo pelos Vossos merecimentos, ó meu Salvador; sim, espero Vos amar um dia com todas as minhas forças e consumir-me todo de amor para convosco; lá, esquecendo-me de mim mesmo e esquecendo-me de tudo o que não é vosso, pensarei somente em Vos amar, só Vos desejarei amar, e nada mais farei do que amar-Vos. Ó meu Jesus, quando chegará esse dia feliz? Ó Maria, Mãe de Deus, as vossas orações devem-me abrir o paraíso: já que sois a minha advogada, cumpri o vosso ofício, tirai-me deste exílio e conduzi-me a Jesus, fruto bendito do vosso ventre. Amém.


Oração para evitar o inferno 

Amadíssimo Jesus, meu Salvador e Juiz, quando vierdes a me julgar, por piedade não me condeneis ao inferno. Nessa negra prisão, não vos poderia amar, mas odiar-vos sempre; como, porém, odiar-vos, se sois tão amável e tanto me haveis amado? Se quereis condenar-me ao inferno, concedei-me ao menos a graça de vos amar de todo o meu coração. Não mereço esta graça por causa dos meus pecados; mas, se não a mereço, para mim a merecestes pelo sangue que derramastes com tanta dor na cruz. Numa palavra, ó meu divino Juiz, infligi-me todas as penas que quiserdes, mas não me priveis da faculdade de vos amar. Mãe do meu Deus, vede o perigo que corro de ser condenado e não poder mais amar o vosso Filho adorável que merece um amor infinito. Vinde em meu socorro e tende compaixão de mim. Amém.

(Excertos da obra 'As Mais Belas Orações de Santo Afonso', do Pe. Saint-Omer)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

PALAVRAS ETERNAS (XIV)

'trabalhai na vossa salvação com temor e tremor' (Fl 2,12)


'de que adianta um homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua alma? (Lc 9,25)

Só uma coisa interessa no homem que morre: se está ou se não está na graça de Deus. A morte é o abismo infinito entre DEUS e o NADA

A ciência mais acabada
é a que o homem em graça se acabe,
porque no fim da jornada,
aquele que se salva, tudo sabe;
e o que não se salva, nada sabe.

Nesta vida emprestada,
fazer o bem é o que nos cabe:
aquele que se salva tudo sabe;
e o que não, não sabe nada.

(poemeto atribuído ao autor espanhol Ramón de Campoamor, tradução do autor do blog)

quinta-feira, 30 de junho de 2022

QUANDO O INFERNO É AQUI...


Santa Catarina, Brasil. Uma criança de 11 anos, vítima de estupro e grávida de sete meses, estava sendo mantida pela justiça de Santa Catarina em um abrigo longe da família para evitar que fizesse o aborto. Diante dessa situação, o Ministério Público Federal (MPF) fez uma intervenção brutal e recomendou (?) a remoção imediata do feto - independentemente do período gestacional. O caso virou manchete nacional da grande mídia, quase que integralmente no contexto de execração da juíza que mantinha suspensa a ação abortiva, de pressão sobre o hospital que havia negado inicialmente fazer o procedimento, dos defensores da manutenção da gravidez da criança e da tragédia representada pelo ato do famigerado estuprador diante da criança vulnerável. O procedimento foi então aplicado em regime de urgência e o aborto se consumou.

Fato consumado - e somente então - ficou-se sabendo que o 'famigerado estuprador' era uma outra criança, um adolescente de 13 anos, filho do padrasto da menina e residente na mesma casa, o que originou um relacionamento íntimo recorrente entre as duas crianças. O procedimento de recolhimento da menina em um abrigo pela justiça tinha, portanto, o propósito claro de se evitar a continuidade do abuso em casa. A mídia assumiu o abrigo como 'cárcere'. Nessa toada de insanidades e manipulações dos fatos, a solução adotada foi a mais previsível de todas: matou-se a terceira criança, a vítima mais inocente e vulnerável das três. Quando o mal se impõe sob o rugido diabólico de suas entranhas e o bem se curva sob o indiferentismo, o inferno é aqui...

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

QUANDO O INFERNO É AQUI...

O Great Reset ('Grande Reinício') está no seu curso final. O mistério da iniquidade está prestes a se manifestar agora por inteiro, pois estão para ser colhidos os frutos da sua ação diabólica através dos tempos: a apoteose do caos - político, econômico, social, cultural, religioso. Não era o refrão 'paz e segurança!' a promessa feita por tantos governos e nações reunidas em fóruns globais, compartilhando e discutindo os problemas que afetam a mãe terra?  

'Quando os homens disserem: “Paz e segurança!”, então repentinamente lhes sobrevirá a destruição, como as dores à mulher grávida. E não escaparão'
(I Ts 5,3)

A paz e a segurança são conquistadas, não podem ser negociadas. Simplesmente porque todos os elementos inclusos em uma paz negociada são baseados em um armistício prévio. Com a guerra - com a invasão brutal da Ucrânia pela Rússia - estes princípios e fóruns caem por terra instantaneamente. E se percebe, então, como são frágeis, como são inúteis as tentativas de correção, como sanções econômicas e pressões políticas, absolutamente irrelevantes no contexto de impedir ou sustar efetivamente o poderio dos exércitos em marcha e a matança em curso.  


Enquanto grandes atores globais fingem atuações que têm a força da claque de um teatro de subúrbio e manchetes de plantão, milhares de pessoas - a realidade nua e crua da guerra - são expulsas de suas casas e migram para outros países, quando não são simplesmente assassinadas. São as 'vítimas da guerra', um preço a pagar pela geopolítica do confronto. Essa tem sido a justificativa diante a inevitável perda de vidas humanas - e muitos creem ser esse a análise final desta que constitui a mais grave crise militar na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial. 

Mas... a invasão russa mostra cabalmente que a Rússia pode fazer isso, sem a possibilidade concreta da intervenção de outras nações no conflito. Como intervir frente a invasão de um país soberano por uma potência que possui cerca de 4000 ogivas nucleares? (aliás como inclusive o próprio Putin fez referência explícita em comunicado recente). E se... a Rússia pode invadir a Ucrânia num conflito de estratégia geopolítica, porque a China não poderia fazer o mesmo com Taiwan? E se...

A apoteose do caos precisa apenas do gatilho eficaz, no qual as consequências podem ser previsíveis ou planejadas com diabólicas intenções. A invasão da Ucrânia é um fato isolado e impactante num mundo globalizado que anseia por paz e segurança entre as nações? Claro que não. É muito mais do que isso, porque mobiliza consequências previsíveis extremamente alarmantes. E, neste contexto, estamos falando de Putin - uma marionete do teatro do mundo.


É muitíssimo mais do que isso. A invasão da Ucrânia é o estopim do Great Reset, nas mãos daqueles que verdadeiramente governam o mundo e que manipulam completamente o jogo político e econômico do sistema global. Neste contexto, não estamos falando de Putins e nem de marionetes. Estamos falando das consequências planejadas, impostas e consolidadas pelo mistério da iniquidade através dos tempos, visando o completo aniquilamento da civilização cristã. E tal conclusão é mais do que patente se levarmos em conta os insistentes apelos de Nossa Senhora em Fátima, quanto à perversa difusão dos erros da Rússia anti-católica sobre o mundo:

'Se atenderem os meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz. Se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas'

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

QUANDO O INFERNO É AQUI...

Um tremor de magnitude 7,1 na escala Richter atingiu a região de Acapulco, no México, na última terça-feira. Um fenômeno particularmente intrigante desse evento foi o aparecimento das chamadas 'luzes de terremoto', explicadas pela ciência como sendo a emissão de descargas elétricas violentas nas regiões próximas a falhas geológicas. Estas luzes são bem documentadas previamente ou durante os sismos, e não comumente depois, como é o presente caso. Mas isso também não é relevante, porque a ciência humana e as intervenções da Providência Divina não são sempre excludentes. 

Grave, gravíssimo mesmo, é o fato de que as luzes intrigantes seguiram um terremoto de grande magnitude ocorrido no mesmo dia em que a Suprema Corte do México decidiu, por unanimidade, que qualquer punição ao aborto é inconstitucional. Deus utiliza a ciência dos homens mas não intervém por meio de acasos: a maior nação católica da América do Norte curvou-se em favor de um crime hediondo e voltou-se contra Deus. O mal se regala, blasfemando de júbilo, em favor dos direitos humanos e das mulheres como sendo uma vitória épica; mas as luzes que brilham nas trevas podem ser simplesmente o sinal de que, na verdade, o inferno começa agora.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

A VISÃO DOS ESPÍRITOS INFERNAIS PELO PAPA LEÃO XIII

Papa Leão XIII (1810 - 1903)

Uma das mais famosas experiências sobrenaturais envolvendo os papas da Igreja refere-se à visão que o Papa Leão XIII (1878 - 1903) teria tido, durante a celebração de uma missa, sobre um período futuro de extremada ação demoníaca sobre a Igreja de Cristo. A visão teria ocorrido em alguma data entre 1884 e 1886 e, desde então, foi objeto de diferentes versões e muitas descrições fantasiosas.

Na obra 'Um Exorcista Conta-nos', do Pe. Gabrielle Amorth, famoso exorcista do Vaticano, encontra-se a transcrição de um texto do Pe. Domenico Pechenino, publicado em 1955 na revista  Ephemerides Liturgicae, que relata os fatos ocorridos na condição de uma testemunha ocular dos mesmos e descritos da seguinte forma:

'Não me lembro exatamente do ano. Uma manhã, o grande Pontífice Leão XIII tinha celebrado a santa Missa e estava a assistir a uma outra de ação de graças, como de costume. De repente, o papa virou energicamente a cabeça e passou a fixar intensamente alguma coisa acima da cabeça do celebrante. Manteve-se assim imóvel por algum tempo, sem pestanejar, mas com uma expressão de terror e de admiração, tendo o seu rosto mudado de cor'. 

Finalmente, voltando a si, o papa bateu ligeira mas energicamente com a mão, e levantou-se. Dirigindo-se ao seu escritório particular, seguido por auxiliares preocupados e ansiosos, isolou-se ali e assim teria redigido as chamadas orações leoninas, uma dedicada a Nossa Senhora e a outra dedicada a São Miguel Arcanjo, como medidas de proteção da Igreja contra a ação das forças malignas. Em seguida, promoveu a rápida divulgação destas orações em todo o mundo, conclamando a sua oração contínua pelos fieis, prostrados de joelhos e ao final de cada Santa Missa, e por toda a Igreja. Mais tarde, elaborou ainda um próprio e específico ritual de exorcismo, que frequentemente utilizou durante o seu pontificado.

Todos estes fatos demonstram que o Papa Leão XIII teve certamente uma visão espantosa dos espíritos infernais naquela ocasião e, com tal intensidade e clareza sobre eventos próximos e deletérios sobre a Igreja oriundos da mesma, que o levou a escrever de pronto as orações e até mesmo um ritual de exorcismo. A visão, por outro lado, certamente produziu um grande impacto no Santo Padre, a ponto de fazê-lo resguardar da mesma como um segredo quase particular. Assim, é bastante razoável assumir a veracidade e o caráter extraordinário da visão; outra coisa é expressar o real conteúdo da visão.

Em carta pastoral dirigida à comunidade de Bolonha, na quaresma de 1946, o cardeal Natalli Rocca menciona explicitamente que ouviu, por várias vezes, do Mons. Rinaldo Angeli, que exercera a função de secretário particular do Papa Leão XIII, que o papa era realmente o autor das orações e que Leão XIII tivera uma visão de uma legião de espíritos infernais precipitando sobre a cidade de Roma. Esta revelação é bastante pertinente com o contexto das mensagens de Fátima e com aquilo que o Papa Paulo VI referiu-se como sendo a 'fumaça de Satanás' adentrando o vértice da Igreja.

No contexto da visão, o Papa Leão XIII teria sido testemunha também de um espantoso diálogo entre Jesus e Satanás, no qual o demônio teria solicitado a Jesus mais tempo e poder para destruir a Igreja na terra e que o Senhor teria concedido esse poder e esse tempo (fixado comumente como tendo sido um período de 100 anos) para o inferno exercer a sua ação demoníaca extremada sobre a Igreja de Cristo. Não existe uma fonte confiável para os termos deste diálogo sobrenatural e a descrição comumente publicada parece ser bastante inverossímil.  

Mais recentemente,  Kevin Symonds realizou uma exaustiva reavaliação histórica destes fatos na obra 'Papa Leão XIII e a Oração a São Miguel' (ainda sem versão em português), na qual apresenta, em primeira mão, uma homilia sobre a visão do Papa Leão XIII atribuída ao Cardeal Pedro Segura y Saenz.  Nesta homilia, o cardeal assegura que o diálogo é verdadeiro (não necessariamente nos termos comumente publicados) e que nele Satanás, movido pela soberba diabólica, teria proposto a Jesus o desafio de destruir a Igreja na terra, se lhe fosse outorgado mais tempo e poder sobre as criaturas sob a sua influência maligna. Jesus, então, concede ao demônio tais condições, cujo propósito sabe ser inútil e inepto. Entretanto, o autor mencionou na homilia que o tempo pedido e posteriormente concedido não teria sido 100 anos como normalmente exposto (ou 75 anos, em outras versões), mas de 60 anos.

A extrapolação direta deste evento e de suas clássicas interpretações no contexto da história da Igreja ao longo dos séculos XX e atual parecem desdizer os fatos, pelo menos em termos. O prazo de 60 anos parece ser bastante irrazoável no conjunto destas previsões. Mas há que se considerar não apenas o prazo em si, mas o próprio início desse prazo. Parece que o próprio Papa Leão XIII aludiu para essa questão, quando afirmou que o diálogo referia-se a um tempo futuro e não ao tempo em que fora dado a conhecer. Isso parece bem coerente: se, de um lado, Jesus concedia ao inferno a sua obra satânica de tentativa de destruição da Igreja, dava à Igreja o conhecimento dessa propensão do inferno, no sentido dela se preparar para enfrentar as ciladas do Maligno. Isso é bem explicitado pela ação imediata do Papa Leão XIII na elaboração da oração a São Miguel e de um exorcismo ritual, como armas espirituais prévias da Igreja contra a ação futura do inferno contra ela. 

Outra consideração relevante é fazer, na total impossibilidade humana de se tentar compreender a natureza e o desfecho de um tal diálogo sobrenatural, uma abstração destes fatos à luz de potenciais eventos bíblicos correlatos. Embora excepcionais, são registradas nas Sagradas Escrituras arguições diretas entre o demônio e os Céus, como nos casos das tentações de Jesus no deserto (Mt 4, 1-11) e das provações impostas a Jó: 'Um dia em que os filhos de Deus se apresentaram diante do Senhor, veio também Satanás entre eles' (Jó 1,6). 

Satanás pediu a Deus submeter Jó à prova e recebeu do Senhor poder para isso, de modo que pudesse atentar contra todos os seus bens, mas não à sua própria pessoa (Jó 1,12). Diante de todas as fatalidades que se seguiram contra os seus bens e contra os seus filhos, 'Jó não cometeu pecado algum, nem proferiu contra Deus blasfêmia alguma (Jó, 1,21). Uma segunda vez, Satanás retornou à presença do Senhor (Jó, 2,1), depois de 'passear pelo mundo' (Jó 2,2) e incitou novamente a Deus a perda do seu servo, se lhe fosse possível infringir o mal 'nos ossos e na carne' (Jó 2,5). Dado esse poder, Satanás vai ferir Jó com uma úlcera maligna, 'desde a planta dos pés até o alto da cabeça' (Jó 2,7). Jó superou, mais uma vez, essa provação tremenda e foi contemplado por Deus com bens e valores muito maiores que os de antes; Jó teve outros sete filhos e três filhas e, depois disso, 'viveu ainda cento e quarenta anos e conheceu até a quarta geração dos filhos de seus filhos. Depois, velho e cheio de dias, morreu' (Jó 48, 16-17).

Neste contexto, a provação da Igreja tenderá a ser, por analogia, semelhante a de Jó e, portanto, será tremenda. Mas, como Jó, a Igreja triunfará no final: 'Porque guardaste a palavra de minha paciência, também eu te guardarei da hora da provação, que está para sobrevir ao mundo inteiro, para provar os habitantes da terra' (Ap 3,10); e ainda: 'Esses são os sobreviventes da grande tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro' (Ap 7,14). Ou, nas palavras de Nossa Senhora em Fátima: 'Por fim, o Meu Imaculado Coração triunfará'.

A provação da Igreja deverá, nesta analogia, ocorrer também em duas etapas distintas (e, neste caso, a visão do Papa Leão XIII referir-se-ia ao primeiro diálogo de Satanás com Jesus sobre a destruição da Igreja e que contemplaria, portanto, um primeiro tempo de provações de 60 anos). O prazo total concedido seria, portanto, de 120 anos: primeiro, as provações afetariam os bens da Igreja (particularmente incidindo sobre a doutrina católica e os fundamentos da fé cristã) e os filhos da Igreja (os fieis da Igreja Militante). O cenário propício à ação diabólica neste primeiro tempo seria, então, o advento das grandes heresias, a perseguição aos cristãos, o vilipêndio da sã doutrina, as duas grandes guerras e os infindáveis conflitos e matanças que se disseminaram pelo mundo inteiro. Mas a Igreja continuou sendo ainda a Igreja de Cristo; mas abandonou a Oração de São Miguel; mas abandonou o exercício dos exorcismos, que passaram a ser vistos como práticas excepcionais ou obsoletas; mas abandonou os contrapontos dos Céus ao influxo das forças diabólicas.

Eis que se abriram então as portas para um segundo cenário de provações, muitíssimo mais tormentosas e difíceis, pois tratam-se agora de provações que atingem a Igreja na sua carne e nos seus ossos, desde a planta dos pés até o alto da cabeça, ou seja, afeta o fiel mais desavisado até o vértice do poder eclesiástico; é interna, abrangente e profundamente dolorosa (como uma úlcera maligna).  Não foi provavelmente neste contexto a mensagem mais angustiante dada por Nossa Senhora em Fátima? (a data de 1960, a qual se referiu, não teria sido uma data limite das primeiras provações?).

Os ataques e as perseguições já não são mais externos; nascem e se alimentam dos cismas internos e da dilapidação crescente dos valores da sã doutrina pelos seus próprios expoentes; a indiferença ao pecado é joio que consome e asfixia o trigo; a perplexidade é imensa e a fé tornou-se frágil e vacilante em muitíssimos. Neste terreno minado, a perda de acesso aos sacramentos e a supressão do Santo Sacrifício durante a atual pandemia parecem constituir uma inflexão ainda mais tenebrosa no apogeu dessa tormenta. Será que os eventos não tenderão a uma precipitação tremenda nestes nossos tristes tempos? 120 anos não parece ser hoje, muito próximo, o nosso limite de tempo da visão do Papa Leão XIII? Pode ser que estes tempos estejam ainda além um pouco. A única certeza de tudo isso é que a barca de Pedro vai atravessar este mar revolto e chegar, enfim, num dia glorioso, a um porto seguro. 

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

VISÃO DO INFERNO SEGUNDO SANTA TERESA DE ÁVILA

1. Havia muito tempo que o Senhor me fazia muitas graças já referidas e outras ainda maiores, quando um dia, estando em oração, achei-me subitamente, ao que me parecia, metida corpo e alma no inferno. Entendi que o Senhor queria fazer-me ver o lugar que os demônios aí me haviam preparado, e eu merecera por meus pecados. Durou brevíssimo tempo. Contudo ainda que vivesse muitos anos, acho impossível esquecê-lo. A entrada pareceu-me um túnel longo e estreito, semelhante a um forno muito baixo, escuro e apertado. O chão tinha aparência de uma água, ou antes, de um lodo sujíssimo e de odor pestilencial, cheio de répteis venenosos. No fundo havia uma concavidade aberta numa parede, como um armário, onde me vi, encerrada de maneira muito apertada.

2. O tormento interior é tal, que não há palavras para o definir, nem se entende como é realmente. Na alma senti tal fogo, que não tenho capacidade para o descrever. No corpo eram incomparáveis as dores. Tenho passado nesta vida dores gravíssimas. No dizer dos médicos são as maiores que se podem suportar, como, por exemplo, quando se encolheram todos os meus nervos, e fiquei tolhida. Já não falo de outras muitas dores de diversos gêneros e até algumas causadas pelo demônio. Posso afirmar que tudo foi nada em comparação do que ali experimentei. 

O pior era saber que seria sem fim, sem jamais cessar. Sim, repito, tudo mais pode chamar-se nada em relação ao agonizar da alma: é um aperto, um afogamento, uma aflição tão intensa, e acompanhada de uma tristeza tão desesperada e pungente, que não sei como posso explicar semelhante estado! Compará-lo à sensação de que vos estão sempre a arrancar a alma, é pouco. Em tal caso, seria como se alguém nos acabasse com a vida. Aqui é a própria alma que se despedaça. O fato é que não sei como descrever aquele fogo interior e aquele desespero que se sobrepõem a tão grandes tormentos. Eu não via quem os provocava, mas sentia-me queimar e retalhar. Piores, repito, são aquele fogo e aquele desespero que me consumiam interiormente.

3. Em lugar tão pestilencial, sem esperar consolo, é impossível sentar-se, ou deitar-se, nem há espaço para tal. Puseram-me numa espécie de fenda cavada na muralha. As próprias paredes, espantosas à vista, oprimem, e tudo ali sufoca. Por toda parte trevas escuríssimas. Não há luz. Não entendo como, sem claridade, se enxerga tudo, causando dor nos olhos. Nesta ocasião o Senhor não quis que eu visse mais de tudo aquilo que há no inferno. Em outra visão, vi coisas horripilantes acerca do castigo de alguns vícios. Pareceram muito mais horrorosas à vista. Como não sentia a pena, não me causaram tanto temor como na primeira visão, na qual o Senhor quis que eu verdadeiramente sentisse aquelas torturas e aquela aflição de espírito como se o corpo as estivesse padecendo. Como foi isso, não sei, mas bem entendi ser grande graça do Senhor querer que eu visse, com meus olhos, de onde sua misericórdia me havia livrado. Verdadeiramente é nada ouvir discorrer, ou ainda meditar, sobre a diversidade dos tormentos, como eu de outras vezes havia feito, embora raramente. A feição de minha alma não é ser levada pelo temor. Lia que os demônios atenazam as almas e lhes infligem outros suplícios. Tudo é nada a respeito da verdadeira pena, que é muito diferente. Numa palavra, é tão diferente quanto o esboço o é da realidade. Queimar-se aqui na terra é sofrimento muito leve em comparação com aquele fogo de lá.

4. Fiquei tão aterrorizada, e ainda agora o estou enquanto escrevo, apesar de terem decorrido quase seis anos. De tanto temor, tenho a impressão de ficar gelada. Desde então, ao que me recordo, cada vez que tenho sofrimentos ou dores, tudo o que se pode passar na terra, me parece nada. Penso que em parte nos queixamos sem motivo. Foi esta, repito, uma das maiores graças que o Senhor me fez. Valeu-me imensamente, quer para perder o medo quanto às tribulações e contradições desta vida, quer para me esforçar em padecê-las e a dar graças ao Senhor, por me ter livrado, ao que agora me parece, de males tão perpétuos e terríveis.

(Santa Teresa de Ávila)

quarta-feira, 27 de maio de 2020

O ANTICRISTO VIRÁ QUANDO...


... os velhos não tiverem nem bom senso nem prudência;

... os cristãos estiverem sem fé;

... o povo estiver sem amor;

... os ricos forem sem misericórdia;

... os jovens não tiverem respeito;

... os pobres forem sem humildade;

... as mulheres tiverem perdido o pudor;

... no casamento, não houver mais continência;

... os clérigos forem sem honra e sem santidade;

... os religiosos não tiverem verdade nem austeridade;

... os prelados não se inquietarem de sua administração e não tiverem piedade;

... os mestres da terra não tiverem misericórdia nem liberdade.

(São Boaventura)

segunda-feira, 15 de abril de 2019

QUANDO O INFERNO É AQUI...

Catedral Notre Dame (Nossa Senhora) de Paris. Localizada na Île de la Cité (pequena ilha localizada no centro de Paris e rodeada pelas águas do rio Sena), levou 180 anos para ser concluída (1163 - 1345) e tem mais de oito séculos de existência. A catedral é um dos maiores símbolos do catolicismo da França, aquela que já foi chamada de 'a filha primogênita da Igreja', nascida e remida pela fé de gigantes como São Remígio, São Luís de Montfort e Joana D' Arc. Uma catedral em chamas e em cinzas. O fim de uma era?




sábado, 26 de janeiro de 2019

O INFERNO É AQUI...

Rompe-se a veia. A barragem é imaginação tardia, que não veda, nem estanca. Jorra por impulso desmedido o sangue convertido em lama. Que sufoca, que esmaga, que aniquila paisagens e vidas em labirintos de horror. Rejeitos descartados servindo agora como mortalhas ensandecidas. Almas consumidas na lama; a mesma lama erigida como altar das fábulas humanas. O cotidiano desfeito como nervo exposto e pela veia aberta. Dor, imensa dor.


(fotos da ruptura da Barragem B1 da Mina Córrego do Feijão - Brumadinho/MG)

terça-feira, 20 de junho de 2017

QUANDO O INFERNO É AQUI...

Um gigantesco incêndio florestal devora atualmente a região central de Portugal, e já destruiu uma área de mais de 300 quilômetros quadrados, vitimando até agora 63 pessoas. Os focos de incêndio começaram no sábado, em meio a uma intensa onda de calor, com temperaturas superando os 40°C em algumas áreas, além de uma sequência de raios e trovões. Grande parte das vítimas morreram carbonizadas em seus próprios veículos, quando uma muralha de fogo engoliu por completo uma rodovia nacional por onde trafegavam. Em Portugal, mais do que nunca, o inferno é aqui...



terça-feira, 28 de março de 2017

BREVIÁRIO DIGITAL - AS VISÕES DE TONDAL (V/Final)

A experiência além da morte de uma alma medieval percorrendo o Céu, o Inferno e o Purgatório, guiada pelo seu Anjo da Guarda.

VISÕES DE TONDAL - PARTE V/Final


Deslocando-se ainda na parte do Purgatório destinada à expiação dos pecados dos 'bons que não foram na terra perfeitamente bons', o anjo e  alma de Tondal se defrontam com as almas de dois antigos reis irlandeses - Cantúbrio e Donato - antes inimigos e agora juntos no convívio após a morte. Ambos se salvaram; o primeiro porque, após uma grave doença, tornou-se um monge e o segundo, por ter doado todos os seus bens aos pobres. Embora salvos, ainda não merecem o Céu e, assim, a cada dia, são submetidos a 21 horas de bem estar e felicidade e a outras 3 horas de purgação.


O Paraíso é um lugar de alegria e tranquilidade, em que a alma de Tondal, acompanhada pelo Anjo, percorre em escala hierárquica crescente de graças e privilégios. O Paraíso é cercado por três grandes muros, cada um mais grandioso que o outro, feitos de prata, ouro e pedras preciosas, nesta sucessão. Num dos espaços após o primeiro muro, envolvidos por cantos melodiosos e jardins floridos, encontram-se as almas dos castos e dos casados que permaneceram puros, todos felizes e trajando roupas brancas, sinal da retidão e da prática cristã no sacramento do matrimônio, vivido com desvelo e fidelidade.



O Muro de Ouro é o lugar de morada dos religiosos e dos grandes construtores da Igreja e da civilização cristã, dos monges e dos missionários, dos sacerdotes e dos santos que, superando os limites dos valores mundanos, alcançaram graças extraordinárias e avançaram firmemente na fé e na caridade cristã. Para eles, estão destinadas especialmente as moradas eternas, onde recebem toda sorte de gozo e de alegrias sem fim.



No nível mais alto do Paraíso, a alma de Tondal encontra-se diante o Muro de Pedras Preciosas, a mais bela e grandiosa das muralhas celestes, lugar do descanso eterno reservado às nove ordens de anjos (serafins, querubins, dominações, tronos, principados, potestades, virtudes, anjos e arcanjos), aos patriarcas e profetas da Bíblia, aos pais da Igreja e aos Apóstolos de Jesus. Além desse muro, a alma de Tondal não pode adentrar e, assim, ela deve retornar ao corpo do cavaleiro, para que ele possa renascer espiritualmente a partir da sua fantástica experiência além da morte.