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domingo, 21 de dezembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

   

'O rei da glória é o Senhor onipotente; abri as portas para que Ele possa entrar!(Sl 23)

Primeira Leitura (Is 7,10-14) - Segunda Leitura (Rm 1,1-7) -  Evangelho (Mt 1,18-24)

  21/12/2025 - QUARTO DOMINGO DO ADVENTO

'TU LHE DARÁS O NOME DE JESUS'


Neste Quarto Domingo do Advento, São Mateus nos revela em palavras o mistério divino da Encarnação do Verbo. Em Maria e José, criaturas humanas personalíssimas, Deus se manifesta através dos Seus anjos, no silêncio da contemplação de desígnios tão extraordinários. No Evangelho de hoje, José, o carpinteiro, será assombrado pelas dúvidas mais inclementes e inesperadas mas, na bondade do coração humano elevado às mais sublimes virtudes, vai corresponder com o seu próprio fiat à Santa Vontade de Deus.

Prometida a José, conforme os costumes judaicos da época, eis que Maria ficou grávida do Espírito Santo, antes das núpcias formais com o carpinteiro de Nazaré. Nossa Senhora guardou para si o maior mistério dos tempos. São José também fez do silêncio a sua obra de graça extremada: 'José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria, em segredo' (Mt 1,19). E o evangelista vai traduzir com palavras aparentemente simples: 'Enquanto José pensava nisso...' (Mt 1, 20) o turbilhão de sentimentos, dor e humilhação que deveriam estar a afligir o esposo de Maria...

José conhecia a santidade e as graças de Maria do fundo do coração e tal certeza conflitava dramaticamente com a realidade dos fatos cada vez mais evidentes. E, muito provavelmente, José teve medo, de estar diante de algo que sublimava toda a sua dimensão humana, consubstanciado pela manifestação da Encarnação do Verbo proclamada por tantas profecias e revelações. E certamente se consumiu em pensamentos e reflexões contínuas e antagônicas naqueles dias de aflição, até que, testado e pesado no cadinho das sublimes virtudes, teve de Deus a revelação em sonho: 'José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo de seus pecados.Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: Deus está conosco' (Mt 1, 20-23).

A provação de José é desfeita de imediato pela confirmação angélica da linhagem nobre de Jesus: 'José, Filho de Davi'... (Mt 1, 20), conforme as santas profecias. Desfaz-se a realidade humana e irrompe o mistério sobrenatural do nascimento do próprio Filho de Deus, 'pois ele vai salvar o seu povo de seus pecados' (Mt 1, 21). Do rigor da provação humana ao êxtase da revelação dos Santos Mistérios, José obedeceu em tudo aos desígnios divinos e, assim, tornou-se o primeiro entre os homens a ser servo fiel da Virgem e do Menino.

domingo, 14 de dezembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Vinde Senhor, para salvar o vosso povo!(Sl 145)

Primeira Leitura (Is 35,1-6a.10) - Segunda Leitura (Tg 5,7-10) -  Evangelho (Mt 11,2-11)

  14/12/2025 - TERCEIRO DOMINGO DO ADVENTO

'ÉS TU AQUELE QUE HÁ DE VIR?'


Eis o Advento do Senhor: depois da vigilância e da conversão, vivenciados nos domingos anteriores, segue agora o ressoar das trombetas da legítima alegria cristã neste terceiro domingo. Sim, alegria cristã, alegria plena do amor de Cristo, proclamada pelo livro do Profeta Isaías: 'Os que o Senhor salvou voltarão para casa. Eles virão a Sião cantando louvores, com infinita alegria brilhando em seus rostos; cheios de gozo e contentamento, não mais conhecerão a dor e o pranto' (Is 35, 10). Neste deleite da graça, esparge-se a luz do entendimento da fé e amolda-se suavemente a paz divina ao coração humano que palpita inquieto enquanto não repousar definitivamente em Deus.

É neste sentimento de alegria, nascida e vivenciada numa fidelidade extrema ao amor de Deus, que exulta João Batista, ainda que na prisão. Uma alegria de tal plenitude de confiança e de graça, que vai merecer o elogio jubiloso do próprio Jesus: 'Em verdade vos digo, de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista' (Mt 11,11). João Batista não está nos palácios reais, aturdido pelos prazeres do mundo; João Batista não se move pelo respeito e pelas condescendências humanas, na inconstância de 'um caniço agitado pelo vento' (Mt 11,7). No deserto ou na prisão, o primado de João é o da plenitude inabalável da fé cristã; nele como se fecha a sucessão dos profetas e se abre o novo tempo da missão dos apóstolos.

Diante da indagação dos discípulos de João Batista: 'És Tu, aquele que há de vir?' (Mt 11,3), Jesus manifesta a glória de Deus e a Vinda do Messias: 'Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados' (Mt 11, 4-5). É como se lhes proclamasse aos corações: 'Nos sinais de tantos portentos e milagres, alegrai-vos, pois a Luz do Mundo está entre vós'. E Jesus vai exortá-los à alegria eterna dos Filhos de Deus: 'Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!' (Mt 11,6).

Eis a felicidade eterna trilhada por João Batista, e também a de todos os santos e santas de Deus, que percorreram igualmente a mesma via de santificação. Louvado seja o homem que recebeu do próprio Cristo elogio de tal honra e glória; louvores muito maiores sejam dados aos homens e mulheres que se consumiram de alegria na mesma via de santidade e habitam para sempre as moradas do Pai, porque mesmo 'o menor no Reino dos Céus é maior do que ele' (Mt 11, 11), o maior dentre todos os homens nascidos até então. Nascidos para a eternidade, e herdeiros da Visão Beatífica, no Céu todos se tornam ainda maiores que o João Batista do mundo.

domingo, 7 de dezembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Nos seus dias a justiça florirá(Sl 71)

Primeira Leitura (Is 11,1-10) - Segunda Leitura (Rm 15,4-9) -  Evangelho (Mt 3,1-12)

  07/12/2025 - SEGUNDO DOMINGO DO ADVENTO

TEMPO DE CONVERSÃO 


Neste segundo domingo do Advento, a Igreja, à espera do Senhor Que Vem, celebra, após um primeiro tempo de vigilância, o tempo de conversão, mediante a proclamação na história dos tempos de dois grandes profetas das revelações messiânicas: Isaías e João Batista.

Isaías é o profeta messiânico por excelência, o precursor dos evangelistas. É Isaías quem declara que Jesus será da estirpe de Davi: 'nascerá uma haste do tronco de Jessé e, a partir da raiz, surgirá o rebento de uma flor; sobre ele repousará o espírito do Senhor: espírito de sabedoria e discernimento, espírito de conselho e fortaleza, espírito de ciência e temor de Deus' (Is 11, 1-2). É Isaías quem profetiza o nascimento de Cristo através de uma virgem, são de Isaías as profecias sobre a Paixão e Morte do Senhor, sobre a Santa Igreja de Deus e sobre a pregação de João Batista. Esta manifestação profética, entretanto, extrapola os limites da Antiga Aliança e assume um caráter messiânico: pela conversão, o homem do pecado há de se tornar digno de contemplar a própria glória de Deus: 'Naquele dia, a raiz de Jessé se erguerá como um sinal entre os povos; hão de buscá-la as nações, e gloriosa será a sua morada' (Is 11,10).

E eis que surge então outro profeta, o maior de todos, maior que Isaías, Moisés ou Abraão, aquele que foi aclamado pelo próprio Cristo como 'o maior dentre os nascidos de mulher' (Mt 11,11), que vai fazer o anúncio definitivo da chegada do Messias ao mundo: 'Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo' (Mt 3,2). Como precursor imediato e direto do Messias e arauto desta revelação divina ao povo judeu, João é aquele que foi proclamado por Isaías como sendo 'a voz que grita no deserto', símbolo dos terrenos estéreis e calcinados das almas tíbias e vazias dos homens daquele tempo.

E o deserto de hoje não é ainda mais árido, muitíssimo mais árido, do que nos tempos do Profeta João Batista? O deserto tornou-se uma terra de desolação e infortúnio, na qual o pecado é espalhado como adubo e as blasfêmias contra Deus são os arados. A Igreja de Cristo não se pode sustentar sobre as areias frouxas do deserto das almas tíbias, do ateísmo e da indiferença religiosa. Eis, portanto, a imperiosa necessidade de tempos de conversão. E, nesse sentido, João Batista é tão atual quando da época de sua profecia e sua mensagem ressoa pelos séculos para ser ouvida e vivida, agora como arauto do Senhor da Segunda Vinda: 'Eu vos batizo com água para a conversão, mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. Eu nem sou digno de carregar suas sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo' (Mt 3,11).

domingo, 30 de novembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Que alegria, quando me disseram: Vamos à casa do Senhor!(Sl 121)

Primeira Leitura (Is 2,1-5) - Segunda Leitura (Rm 13,11-14a) -  Evangelho (Mt 24,37-44)

  30/11/2025 - PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO

'FICAI ATENTOS AO SENHOR QUE VEM!' 


Hoje começa um novo ano litúrgico da Santa Igreja com o Tempo do Advento, período em que os cristãos são conclamados a viver em plenitude as graças da expectativa, da conversão e da esperança, à espera do Senhor Que Vem. O Ano Litúrgico 2025-2026 é o Ano A, no qual os exemplos e ensinamentos de Jesus Cristo são proclamados a cada domingo pelas leituras do Evangelho de São Mateus.

E o novo ano litúrgico começa com Jesus exortando a vigilância aos filhos de Deus: 'Ficai atentos, porque não sabeis em que dia virá o Senhor' (Mt 24,42). Do alto do Monte das Oliveiras e à vista de Jerusalém, Jesus vai alertar os seus discípulos sobre a necessidade de se permanecer vigilantes, na oração e na confiança de uma vida de plenitude cristã, diante das coisas do mundo, que passam e repassam no cotidiano de nossas vidas. Vigilância que se impõe naqueles tempos, na vida futura da Igreja, nos remotos tempos da história: 'Pois nos dias, antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. E eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e arrastou a todos. Assim acontecerá também na vinda do Filho do Homem' (Mt 24,38-39).

São palavras de salvação, porque a única coisa realmente importante para o homem é a salvação eterna de sua alma. Tudo o mais é efêmero e sem sentido. No fim dos tempos ou no fim de nossa vida, o Juízo Final ou o Juízo Particular vai nos pedir contas essencialmente da nossa vigilância filial à Santa Vontade de Deus, no cumprimento de nossas ações cristãs, no acervo das graças recebidas, na inquietude do coração humano ao encontro do Pai.

Vigiar significa essencialmente não pecar, não ofender a Santidade de Deus com as misérias e as fragilidades humanas, não conspurcar a Infinita Pureza da alma que nos foi legada um dia com a lama dos prazeres, frivolidades e maldades de uma vida profanada pelos valores do mundo. Porque haverá o dia do juízo, no qual os homens serão levados ou deixados para trás: 'Por isso, também vós ficai preparados! Porque, na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá' (Mt 24,44). Vigiar é estar preparado para que sejam santos todos os dias de nossa vida e para que Deus escolha, dentre eles, o mais belo, para receber de volta as almas vigilantes que Ele próprio desenhou para a eternidade.

domingo, 23 de novembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Quanta alegria e felicidade: vamos à casa do Senhor!(Sl 121)

Primeira Leitura (2Sm 5,1-3) - Segunda Leitura (Cl 1,12-20) -  Evangelho (Lc 23,35-43)

  23/11/2025 - SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO

JESUS CRISTO - REI DO UNIVERSO


Jesus Cristo é o Rei do Universo. Como Filho Unigênito de Deus, Ele é o herdeiro universal de toda a criação, senhor supremo e absoluto de toda criatura e de toda a existência de qualquer criatura, no céu, na terra e abaixo da terra. A realeza de Cristo abrange, portanto, a totalidade do gênero humano, como expresso nas palavras do Papa Leão XIII: 'Seu império não abrange tão só as nações católicas ou os cristãos batizados, que juridicamente pertencem à Igreja, ainda quando dela separados por opiniões errôneas ou pelo cisma: estende-se igualmente e sem exceções aos homens todos, mesmo alheios à fé cristã, de modo que o império de Cristo Jesus abarca, em todo rigor da verdade, o gênero humano inteiro' (Encíclica Annum Sacrum, 1899).

E, neste sentido, o domínio do seu reinado é universal e sua autoridade é suprema e absoluta. Cristo é, pois, a fonte única de salvação tanto para as nações como para todos os indivíduos. 'Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do Céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual nós devamos ser salvos' (At 4, 12). O livre-arbítrio permite ao ser humano optar pela rebeldia e soberba de elevar a criatura sobre o Criador, mas os frutos de tal loucura é a condenação eterna.

A realeza de Cristo é, entretanto, principalmente interna e de natureza espiritual. Provam-no com toda evidência as palavras da Escritura, e, em muitas circunstâncias, o proceder do próprio Salvador. Quando os judeus, e até os Apóstolos, erradamente imaginavam que o Messias libertaria seu povo para restaurar o reino de Israel, Jesus desfez o erro e dissipou a ilusória esperança. Quando, tomada de entusiasmo, a turba, que o cerca o quer proclamar rei, com a fuga furta-se o Senhor a estas honras, e oculta-se. Mais tarde, perante o governador romano, declara que seu reino 'não é deste mundo'. Neste reino, tal como no-lo descreve o Evangelho, é pela penitência que devem os homens entrar. Ninguém, com efeito, pode nele ser admitido sem a fé e o batismo; mas o batismo, conquanto seja um rito exterior, figura e realiza uma regeneração interna. Este reino opõe-se ao reino de Satanás e ao poder das trevas; de seus adeptos exige o desprendimento não só das riquezas e dos bens terrestres, como ainda a mansidão, a fome e sede da justiça, a abnegação de si mesmo, para carregar com a cruz. Foi para adquirir a Igreja que Cristo, enquanto 'Redentor', verteu o seu sangue; para isto é, que, enquanto 'Sacerdote', se ofereceu e de contínuo se oferece como vítima. Quem não vê, em conseqüência, que sua realeza deve ser de índole toda espiritual? (Encíclica Quas Primas de Pio XI, 1925).

Cristo Rei se manifesta por inteiro pela sua Santa Igreja e, por meio dela, e por sua paixão, morte e ressurreição, atrai para si a humanidade inteira, libertada do pecado e da morte, que será o último adversário a ser vencido. Como herdeiros de Cristo, elevemos ao Pai a súplica de salvação emanada pelas palavras do 'bom ladrão': 'Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado' (Lc 23, 42) e, neste propósito, supliquemos, tal como ele, nos tornarmos dignos também de compartilhar com Cristo Rei a glória da sua realeza eterna.

domingo, 16 de novembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'O Senhor virá julgar a terra inteira; com justiça julgará(Sl 97)

Primeira Leitura (Ml 3,19-20a) - Segunda Leitura (2Ts 3,7-12) -  Evangelho (Lc 21,5-19)

  16/11/2025 - TRIGÉSIMO TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM

A IGREJA DO FIM DOS TEMPOS


Eis um dia singular daqueles tempos ditosos em que Cristo andou pela terra dos homens: Jesus, os apóstolos e outras tantas pessoas caminhavam juntos, sob a vista esplêndida do Templo de Jerusalém que, erigido por Salomão como obra prima das grandes realizações humanas, era então o centro de peregrinação religiosa de todo o povo judeu. Mesmo abundantes na graça, alguns daqueles eram ainda homens de pouca fé: admiravam o templo físico portentoso da criatura, mas não percebiam o Templo de Deus vivo diante deles no caminho poeirento ao Monte das Oliveiras.

Jesus, ciente desse naturalismo extremo, vai confundi-los: 'Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído' (Lc 21,6). Menos de quarenta anos depois, a terrível profecia de Jesus seria concretizada por completo. Mas aquelas pessoas, mesmo sob evidências tão claras, pensaram em termos dos fins dos tempos e Jesus, então, vai respondê-los, associando o acontecimento da destruição do Templo tão próxima com a consumação dos séculos, em tempos bem mais remotos: 'Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’ e ainda: ‘O tempo está próximo’. Não sigais essa gente! Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim' (Lc 8-9).

E Jesus val lhes falar não apenas dos sinais das guerras e das revoluções, mas também dos terremotos, das pestes, da fome, dos escândalos, de eventos extraordinários no céu. Mas todos estes serão apenas sinais precursores. Antes da grande tribulação, a Igreja e os filhos da Igreja serão caluniados, perseguidos e mortos: estes são os grandes sinais dos tempos do fim. A era das perseguições também deve ser a era dos mártires, a era das testemunhas fieis, dos herdeiros da graça, dos soldados de Cristo revestidos da armadura espiritual de São Paulo: 'Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé' (2 Tm 4,7).

Mas a Divina Providência vai interceder em favor do 'pequeno resto' porque, os perseverantes na fé e fieis a Cristo, que foram odiados por causa do seu nome, não perderão 'um só fio de cabelo da cabeça' (Lc 21, 18) pois Jesus assim o prometeu: 'É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!' (Lc 21, 19). A Igreja caluniada e perseguida, traída pelos seus próprios filhos, porque, muitas vezes, 'Sereis entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos' (Lc 21, 16), renascerá triunfante no embate final, pois nasceu de Cristo e, em Cristo, nasceu para a eternidade.

domingo, 9 de novembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

   

'Os braços de um rio vêm trazer alegria à cidade de Deus, à morada do Altíssimo' (Sl 45)

Primeira Leitura (Ez 47,1-2.8-9.12) -Segunda Leitura (1Cor 3,9c-11.16-17) - Evangelho (Jo 2,13-22)

  09/11/2025 - DEDICAÇÃO DA BASÍLICA DO LATRÃO

A EXPULSÃO DOS VENDILHÕES DO TEMPLO


Neste domingo, o Evangelho nos mostra Jesus manifestando aos ímpios a ira santa de Deus. Há pouco, ocorrera o milagre das Bodas de Caná; estava próxima a Páscoa e, em perfeita conformidade à lei judaica, Jesus também viera visitar o Templo em Jerusalém. E ali, num ambiente tomado por uma completa profanação do espaço sagrado, Jesus expulsa os vendilhões do templo.

Tomado de santo furor, diante a balbúrdia e o tumulto dos homens que profanavam o santuário de Deus, Jesus faz um chicote de cordas e os expulsa com peremptória indignação: 'Tirai isto daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!' (Jo 2,16). Aquelas mãos divinas, consumidas em tantos atos de perdão e de misericórdia, tecem agora um chicote! E, com ele em mãos, golpeia e desmantela as bancas e as mesas, espanta vendedores e cambistas, afugenta os animais em correria, esparrama objetos, moedas e víveres pelo chão, movido por uma indignação e um zelo extremos pela profanação do sagrado. O que deve ter sido este cenário!

Paralisados e tomados de pavor, aqueles homens que se atropelam para fugir diante de Jesus e da profanação revelada, ainda ousam pedir um sinal ao Senhor por tais ações. E Jesus lhes dá a resposta pela revelação do mistério da ressurreição do seu corpo, templo perfeitíssimo de Deus: 'Destruí este Templo, e em três dias o levantarei (Jo 2,19). Jesus não falava do templo físico, mas do templo espiritual que habita em nós, e que contém em plenitude o Corpo, Sangue, Alma e Divindade do Senhor. O primeiro será destruído, porque não era santo. O segundo, por méritos e graças do Salvador, nos abriu as portas da redenção e da eternidade com Deus: 'Quando Jesus ressuscitou, os discípulos lembraram-se do que ele tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra dele' (Jo 2,22).

O episódio da expulsão dos vendilhões do Templo deveria nos alertar duramente sobre o rigor da Justiça Divina, diante o pecado e a perda de referência ao culto do sagrado. Ai daqueles que, usurpando da graça do livre arbítrio, negam a sua realidade espiritual e convertem as suas vidas em construir templos de barro e produzir frutos sazonais, ditados apenas pelos interesses humanos. Serão réus e depositários da santa ira de Deus, porque 'se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá, pois o santuário de Deus é santo e vós sois esse santuário' (1Cor 3,17).

domingo, 2 de novembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

'O Senhor é o pastor que me conduz, não me falta coisa alguma' (Sl 23)

Primeira Leitura (Jó 19,1.23-27) - Segunda Leitura (1Cor 15,20-24.25-28) - Evangelho (Lc 12,35-40)

  02/11/2025 - COMEMORAÇÃO DOS FIEIS DEFUNTOS

COM RINS CINGIDOS E AS LÂMPADAS ACESAS


No evangelho da missa deste domingo, a Igreja nos recorda que celebramos neste dia a vida e não a morte: 'Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais' (Jo 11,25 - 26). Embora peregrinos do Céu mergulhados nas penumbras da fé e nas vertigens das realidades humanas, vivemos na certeza de que, como Filhos de Deus e co-herdeiros de Cristo, somos peregrinos rumo ao Céu, na confiança absoluta de que seremos possuidores eternos da Plena Visão: 'Eu sei que o meu redentor está vivo e que, por último, se levantará sobre o pó; e depois que tiverem destruído esta minha pele, na minha carne, verei a Deus. Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão, e não os olhos de outros (Jó 19,25 - 27).

As leituras do Evangelho de hoje podem variar bastante, contemplando textos de diferentes evangelistas. Tomando São Lucas como referência, o Evangelho nos recorda a necessidade da estrita vigilância diante a chegada do Senhor: 'Felizes os empregados que o senhor encontrar acordados quando chegar' (Lc 12,37) e ainda 'Ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o esperardes' (Lc 12,40). E, felizes de nós que tivermos os 'rins cingidos e as lâmpadas acesas' (Lc 12,35) porque seremos então, por inteiro, a Santa Igreja de Deus, o Corpo Místico de Cristo: nem mais peregrinos e nem mais sujeitos à Santa Justiça, mas tornados eleitos do Pai e herdeiros da Glória de Deus.

Nas leituras de São Mateus, por outro lado, o Evangelho nos conforta na certeza absoluta do que nos espera nesta Glória Celeste, vivendo a felicidade perfeita, e indescritível sob o ponto de vista das palavras e pensamentos humanos. Jesus nos fala dessa realidade transcendente na comunhão dos santos e na unidade da família de Deus: 'Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus' (Mt 5,12). Em contraponto à fidelidade e à fé dos que almejaram ser santos, Deus os recompensará com limites insondáveis de graça, pelas chamadas bem-aventuranças de Deus (Mt 5,3 -12).

Bem-aventurados os pobres de espírito, os simples de coração. Bem-aventurados os aflitos que anseiam por consolação. Bem-aventurados os mansos que se espelham no Coração de Jesus. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça. Bem-aventurados os misericordiosos, filhos prediletos da caridade. Bem-aventurados os puros de coração, transformados em novas manjedouras do Sagrado Coração de Jesus. Bem-aventurados os que promovem a paz e os que são perseguidos por causa da justiça. E bem-aventurados os que foram injuriados e perseguidos em nome da Cruz, do Calvário, dos Evangelhos e de Jesus Cristo porque serão os santos dos santos de Deus!

domingo, 26 de outubro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'O pobre clama a Deus e Ele escuta: o Senhor liberta a vida dos seus servos(Sl 33)

Primeira Leitura (Eclo 35,15b-17.20-22a) - Segunda Leitura (2Tm 4,6-8.16-18) -  Evangelho (Lc 18,9-14)

  26/10/2025 - TRIGÉSIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM

O VALOR DA ORAÇÃO HUMILDE


Jesus falou muitas vezes sobre o valor da oração. Do valor da oração humilde e confiante, pautada no arrependimento sincero e na dor pelos pecados cometidos. Falou sobre a necessidade de orar sempre, com contrição e perseverança nas súplicas dirigidas à Divina Misericórdia. Mas, todas as vezes que Jesus falou sobre a oração, destacou sempre a premissa essencial do seu valor e ponderação: a humildade. A oração humilde é tangida pela Verdade porque emana da gratuidade da vida em comunhão com Deus.

No Evangelho deste domingo, outros dois personagens são trazidos à realidade das digressões humanas: um fariseu e um cobrador de impostos. Investidos de suas atribuições cotidianas, são apenas homens cumprindo metas e obrigações. Diante de Deus, duas almas, fruto de escolhas singulares da Infinita Sabedoria. Na vida de ambos, certamente o fariseu parecia ter escolhido a melhor parte, pelo menos até o dia em que ambos, vivendo vidas tão opostas, 'subiram ao Templo para rezar' (Lc 18, 10).

E ali, diante de Deus, as realidades humanas se consumiram no nada. O fariseu, eivado de orgulho e auto-suficiência, proferiu a oração despropositada e inútil: 'Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda’ (Lc 18, 11-12). No ato desonesto de louvar a si mesmo com desmedida jactância e julgar o próximo pela ótica dos valores humanos, arruinou a própria súplica. O cobrador de impostos, ao contrário, sabedor de suas fraquezas e misérias, prostrou-se em humilde recato e contrição, na sua súplica por clemência e perdão: 'Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!' (Lc 18,13).

O primeiro homem se viu em luz, e se banhou com desmedido orgulho nesta própria luz, mortiça e inútil, forjada tão somente por ações humanas. E saiu do templo com a concessão irrisória das alegrias humanas. O segundo homem, porém, apagou primeiro em si toda vaidade e interesses profanos e mergulhou, com inteira confiança e despojamento, na luz de Cristo. E, iluminado pela graça de Deus, alcançou misericórdia e experimentou a consoladora e definitiva paz daqueles que são plenamente justificados em Cristo: 'Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado' (Lc 18, 14).

domingo, 19 de outubro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Do Senhor é que me vem o meu socorro,
do Senhor que fez o céu e fez a terra' (Sl 120)

Primeira Leitura (Ex 17,8-13) - Segunda Leitura (2Tm 3,14-4,2) -  Evangelho (Lc 18,1-8)

  19/10/2025 - VIGÉSIMO NONO DOMINGO DO TEMPO COMUM

O JUIZ INÍQUO E A VIÚVA IMPERTINENTE


No evangelho deste domingo, Jesus nos exorta, uma vez mais, à oração frequente, confiante, perseverante e colocada no coração de infinito amor do Deus de Misericórdia. À oração despojada de contrapartidas favoráveis aos apelos intrinsecamente humanos, mas entregue aos desígnios do Pai para o bem maior de nossa alma e do nosso semelhante. E vai enfatizar, de forma cristalina, que a obscuridade e as trevas da perda de fé são engendradas na forja da falta de oração. Santo Afonso de Ligório, doutor da Igreja, já nos alertava: 'Quem reza, se salva; quem não reza, se condena'.

Na parábola do mau juiz e da viúva impertinente, deparam-se duas realidades humanas antagônicas: de um lado, o homem privilegiado pelas leis humanas e detentor do poder de decisão sobre as ações e contendas dos outros homens; de outro lado, a mulher exposta e fragilizada pela perda do marido, sob o peso de novas e doloridas realidades e indefesa pelas dramáticas circunstâncias do momento. Cabe a ela, portanto, pedir, pedir uma vez mais e muitas vezes enfim e mesmo implorar a intervenção do juiz em sua causa e defesa. Ao juiz, homem iníquo, ao qual a soberba do cargo tinha imposto sempre decisões rápidas e inquestionáveis, a insistência da viúva é ocasião de incômodo, transtorno, desvario. Eis o cenário que Jesus montou para falar do valor incomensurável da oração.

Diante de apelos tão inoportunos e persistentes, até o juiz iníquo se rendeu: 'Eu não temo a Deus, e não respeito homem algum. Mas esta viúva já me está aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha a agredir-me!' (Lc 18, 4-5). Se até um homem iníquo e injusto é complacente com os rogos repetidos da viúva inconsolável a qual desdenha, o que Deus de infinita misericórdia não iria fazer por nós em oração confiante e perseverante nas suas graças? E Jesus é taxativo ao dizer: 'Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa' (Lc 18,8).

E, no mesmo versículo, Jesus encerra a parábola com uma frase extremamente preocupante: 'Mas o Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?' (Lc 18, 8). Jesus não precisaria se expressar assim se não profetizasse uma terrível apostasia dos homens dos tempos da Segunda Vinda do Senhor, fomentada pela perda dos valores espirituais, submissão aos valores mundanos e, principalmente pela perda da oração confiante e perseverante aos desígnios de Deus. E, de repente, ao se ter em conta as realidades de agora, não parece que Jesus está falando para nós?

domingo, 12 de outubro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Escutai, minha filha, olhai, ouvi isto: que o Rei se encante com vossa beleza!' (Sl 44)

Primeira Leitura (Est 5,1b-2;7,2b-3) - Segunda Leitura (Ap 12,1.5.13a.15-16a) -  Evangelho (Jo 2,1-11)

  12/10/2025 - SOLENIDADE DE NOSSA SENHORA APARECIDA

'FAZEI TUDO O QUE ELE VOS DISSER'


Neste dia da solenidade de Nossa Senhora Aparecida, nós a encontramos junto com Jesus, como convidados de certas bodas em Caná. Não sabemos detalhes do evento, os nomes dos noivos ou do mestre de cerimônia, o tempo da celebração. Mas a presença de Jesus e de Maria naquela ocasião em Caná da Galileia são o testemunho vivo da santidade e das graças associadas àquela união matrimonial. Muitos teólogos manifestam inclusive que foi, neste enlace de santa vocação e harmonia, que Jesus elevou o casamento à condição de sacramento, imagem de suas núpcias eternas com a Santa Igreja.

E o vinho veio a faltar. Nossa Senhora tem a clara percepção da situação constrangedora e aflitiva dos noivos e de suas famílias, porque faltou o vinho. É a Mãe que roga, que intercede, que suplica ao Filho Amado: 'Eles não têm mais vinho' (Jo 2, 3). Medianeira e intercessora de nossas aflições e angústias, de Caná até os confins da terra, Nossa Senhora leva a Jesus as súplicas de todos os seus filhos e filhas de todos os tempos. É ela que nos abre as portas da manifestação da glória de Jesus para a definitiva aliança dos céus com a humanidade pecadora, mediante a sua súplica de Mãe face à angústia humana: 'Fazei tudo o que Ele vos disser' (Jo, 2,5).

E eis que havia ali seis talhas de pedra, que foram 'enchidas até a boca' (Jo, 2,7). E a água se fez vinho, nas mãos do Salvador. Da angústia, faz-se a alegria; da aflição, tem-se o júbilo; da ansiedade, nasce o alívio e a serenidade. Alegria, júbilo, alívio e serenidade que são os doces frutos da plena santificação. Este vinho nos traz a libertação do pecado e nos coloca nas sendas do céu, pois nos deleita com as graças da virtude, do santo juízo, da sabedoria de Deus. Mas nos cabe encher nossas talhas de água até a boca, prover os nossos corações do mais pleno amor humano, para que a santificação de nossas almas seja completa no coração de Deus.

'Este foi o o início dos sinais de Jesus' (Jo, 2,11). Em Caná da Galileia e por Maria, mais que o primeiro milagre, a glória de Jesus foi manifesta à humanidade pecadora. O firme propósito pessoal em busca da virtude e da superação das nossas vicissitudes humanas é a água que será transformada no vinho pela graça e pela misericórdia de Deus em nossos corações aflitos e inquietos, enquanto não repousados na glória eterna. Enchei, portanto, as vossas talhas de água e fazei tudo o que Ele vos disser, com a intercessão de Maria. Eis aí a pequena e a grande via em direção ao Coração de Deus, que nos foi legada um dia em Caná da Galileia.

domingo, 5 de outubro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Não fecheis o coração, ouvi, hoje, a voz de Deus!' (Sl 94)

Primeira Leitura (Hab 1,2-3.2,2-4) - Segunda Leitura (2Tm 1,6-8.13-14) -  Evangelho (Lc 17,5-10)

  05/10/2025 - VIGÉSIMO SÉTIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM

'AUMENTA A NOSSA FÉ!'


'Aumenta a nossa fé!' (Lc 15,5). Eis o pedido dos apóstolos ao Senhor, naquele dia. Eis a nossa súplica ao Senhor através dos tempos: eu creio firmemente, Senhor, mas aumenta a minha fé! O crescimento da fé implica a fé professada, vivida no cotidiano de nossas vidas, alimentada por atos de piedade e devoção cristãs. O incremento da fé implica a fé testemunhada pela conduta de cristãos no mundo, na doação às necessidades do próximo, na prática de uma caridade submersa por completo na gratuidade do amor de Deus.

E a resposta de Jesus é incisiva: 'Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda...' (Lc 15,6), tornar-se-ia possível arrancar uma planta de raízes profundas e vigorosas e arremessá-la ao mar, seria possível mover as montanhas de lugar e fazer portentos ainda maiores. Pois a fé mobiliza forças inauditas e incompreensíveis aos valores humanos, mas possíveis para a Santa Vontade de Deus, que não conhece abismos ou limites.

E Jesus, com a parábola do senhor e do seu empregado, resume o que deve ser a prática do exercício cristão da fé, como dever e obrigação, não como apropriação de mérito ou regalia de gratidão. A fé plena nos exige a caridade despojada, a entrega cotidiana às graças de Deus nas nossas pequenas ações de cada dia. Sejamos 'servos inúteis' (Lc 15,10) na consumação completa do nosso eu em nossas ações para e tão somente à glória de Deus.

A fé é 'o precioso depósito que, com a ajuda do Espírito Santo, habita em nós' (2Tm 1,14). Na confiança irrestrita à vontade do Pai e na completa dependência aos seus desígnios, achemos consolação apenas em viver para servir e servir sem reservas, como oferta ao Senhor da vida e submissos à Santa Vontade de Deus, pois o homem justo não morrerá jamais e 'viverá por sua fé' (Hab 1,4).

domingo, 28 de setembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Bendize, minha alma, louva ao Senhor!' (Sl 145)

Primeira Leitura (Am 6,1a.4-7) - Segunda Leitura (1Tm 6,11-16) -  Evangelho (Lc 16,19-31)

  28/09/2025 - VIGÉSIMO SEXTO DOMINGO DO TEMPO COMUM

O HOMEM RICO E O POBRE LÁZARO


Na parábola de Jesus no evangelho deste domingo, confrontam-se os valores da riqueza e da pobreza, presentes no corpo e nos sentidos dos liames humanos, fontes diversas que forjam o abismo incomensurável dos destinos eternos da alma. De um lado, o homem rico, avarento e enfastiado pela opulência dos bens materiais; de outro, o mendigo, na pobreza de sua indigência completa, que almejava apenas 'matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico' (Lc 16,21). Duas pessoas tão próximas, tão juntas, como as bordas adjacentes de um abismo profundo moldado pelo paroxismo da indiferença humana.

E este abismo tende a se tornar definitivamente intransponível para ambos ao final de suas vidas mortais. Se há um momento em que todos os homens se tornam absolutamente iguais é a hora da morte. Se há um momento em que os homens se tornam absolutamente desiguais é no momento após a morte. Eis a grande lição do evangelho deste domingo: o céu e o inferno são realidades dogmáticas da fé cristã e o pecado mortal impõe ao condenado a definitiva separação de Deus e sua danação eterna no abismo dos abismos: 'há um grande abismo entre nós; por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí poderiam atravessar até nós’ (Lc 16,25).

Ricos e pobres, todos nós seremos julgados não pela medida do muito ou pouco que fizemos nesta vida, mas pela medida com que fizemos bem aquilo que era da santa vontade de Deus. Ao morrer impenitente, o rico passa a viver a miséria da sua perdição; o pobre, que era apenas um nome neste mundo, torna-se o Lázaro na côrte eterna de Abraão. E, em contraposição à mendicância e às súplicas nunca ouvidas às suas portas, o rico irá suplicar três vezes pela clemência de Lázaro em seu favor e ao de seus irmãos: 'manda Lázaro molhar a ponta dos dedos... manda Lázaro à casa do meu pai ... se um dos mortos for até eles...' (Lc 16,24.27.30).

A resposta de Abraão não estabelece concessão alguma: 'Se não escutam a Moisés, nem aos Profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos' (Lc 16,31). É uma sentença definitiva sob o primado da verdade eterna. Com efeito, Jesus ressuscitou, mas quantos o escutam? Escutar Moisés e os Profetas é ouvir a Palavra de Deus, seguir Jesus pelas passagens do Evangelho, combater o bom combate da fé, carregar a cruz de todos os dias com Cristo, por Cristo e em Cristo para que um dia, transposta a morte que nos torna homens todos iguais, sejamos os Lázaros da vida eterna.

domingo, 21 de setembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Louvai o Senhor que eleva os pobres!' (Sl 112)
 
Primeira Leitura (Am 8,4-7) - Segunda Leitura (1Tm 2,1-8) -  Evangelho (Lc 16,1-13)

  21/09/2025 - VIGÉSIMO QUINTO DOMINGO DO TEMPO COMUM

O ADMINISTRADOR FIEL 


Eis a parábola que fala da necessidade imperiosa dos Filhos de Deus viverem a sábia prudência que nasce e se alimenta da verdadeira fidelidade. A prudência dissociada da fidelidade é vanglória humana; a santidade pressupõe a adoção conjunta e harmônica destas duas virtudes, na convivência diária e nas relações humanas, no exercício das atividades do mundo, na utilização criteriosa dos recursos materiais à nossa disposição - inclusive o dinheiro, com foco único e centrado na salvação eterna de nossas almas.

Qual o uso que se dá ao que nos foi dado por Deus? O fruto de nossa herança eterna é a forma com que lidamos com os bens materiais e espirituais que a Divina Providência semeou no campo fértil da sua vinha: saúde, bens, poderes, riquezas, talentos, habilidades - tudo nos é dado como dotes mutáveis e transitórios para serem compartilhados com o próximo e produzir frutos perenes de vida eterna em terras alheias. Por que, tal como no caso do administrador infiel da parábola do Evangelho deste domingo, todos seremos igualmente cobrados pelo Senhor da Vinha: 'Presta contas da tua administração, pois já não podes mais administrar meus bens’ (Lc 16, 2).

No Julgamento Particular de cada um de nós, já não haverá mais tempo para se administrar o bem que não se fez, a partilha não realizada, a herança não distribuída. Assim, Jesus nos alerta sobre a nossa condição de administradores temporários de bens e graças nesta vida, dos quais teremos de prestar conta de tudo. E cita o exemplo da esperteza do administrador infiel, que usou da sagacidade e de uma falsa e interesseira prudência para obter vantagens e benesses para a sua subsistência futura, porque, 'os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz' (Lc 16, 8).

Com sábia prudência, os filhos da luz deveriam agir como administradores fieis dos bens e riquezas do mundo, coisas boas em si, desde que adquiridas com trabalho honesto e tratadas como meios para glória de Deus e não como fins para ganância e soberba dos homens: 'Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro' (Lc 16, 13). Eis aí a nossa herança como administradores bons e fieis: a eterna recompensa nas moradas eternas do Senhor da Vida.

domingo, 14 de setembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Das obras do Senhor, ó meu povo, não te esqueças!' (Sl 77)
 
Primeira Leitura (Nm 21,4b-9) - Segunda Leitura (Fl 2,6-11) -  Evangelho (Jo 3,13-17)

  14/09/2025 - FESTA DA EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ

CRUZ BENDITA, CRUZ SANTA, CRUZ DE REDENÇÃO ETERNA


'Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem. Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna' (Jo 3, 13 - 15). Cristo, levantado do mundo, para manifestar aos homens a glória de Deus, pelo seu sacrifício cruento de Cruz. Cruz santa, cruz de redenção eterna. Eis o madeiro santo, patíbulo de adoração, pelo qual Deus remiu o mundo pelo derramamento do Sangue Preciosíssimo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Eis o lenho da cruz, do qual pendeu a salvação do mundo.

O caminho da santidade perpassa pela experiência do Calvário. Quem não subir pelo Gólgota e levar a sua cruz não é digno do Reino dos Céus. O caminho da 'Terra Prometida' começa na Cruz de Cristo e termina na Porta do Céu. Por isso, Jesus desceu à terra para fazer novas todas as coisas e 'subiu ao Céu', para fazer da eternidade o tempo final dos eleitos da graça. Antes de Jesus, os justos tiveram que esperar, na paz dos que se sabiam salvos, o anseio da felicidade eterna junto de Deus.

Acabou-se o tempo de louvação a imagens nascidas do imaginário humano; o maná descido do Céu tomou a forma do próprio Deus feito homem. É Cristo que passa, é Cristo que ensina nas sinagogas, nas praças, nos montes, nas barcas da vida: tudo, entretanto, tudo em Cristo leva a um mesmo lugar e a um mesmo momento: a agonia da cruz, cruz bendita, cruz santa, cruz de salvação: 'Pois Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele' (Jo 3, 16-17).

A cruz de Cristo é o símbolo da glória de Deus, da redenção da humanidade pecadora, do triunfo da fé cristã. E essa expressão máxima de fé e do gáudio celeste foi manifestada a Nicodemos, um fariseu e membro do Sinédrio, que foi capaz de abandonar o imaginário dos homens para se iluminar da glória de Deus. No Evangelho deste domingo, proclamamos que Nicodemos foi o primeiro a ser irradiado pela revelação da cruz; neste dia da Exaltação da Santa Cruz, referendamos essa dádiva e nos unimos a ele para compartilhar de tão grandes privilégios: 'Per crucem ad lucem — É pela cruz que se chega à luz'.

domingo, 7 de setembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Vós fostes, ó Senhor, um refúgio para nós' (Sl 89)

Primeira Leitura (Sb 9,13-18) - Segunda Leitura (Fm 9b-10.12-17) -  Evangelho (Lc 14,25-33)

  07/09/2025 - VIGÉSIMO TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM

'QUEM NÃO CARREGA SUA CRUZ...'


Na essência do amor a Deus vivido em plenitude, está o abandono aos valores do mundo e às glórias humanas. No desapego aos valores materiais, no desprendimento aos moldes terrenos de vidas tangidas meramente pelas relações humanas, ainda que louváveis e boas em si, a alma se liberta do lastro e das amarras das felicidades transitórias dessa vida para a impulsão definitiva para a felicidade eterna do Céu.

As palavras de Jesus no Evangelho de hoje são duras: 'Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo' (Lc 14, 26). Pois é preciso servir primeiro a Deus e depois aos homens; e porque é preciso estar sem lastros humanos para servir a Deus sobre todas as coisas, é preciso superar relações humanas ainda que fraternas; porque sendo o amor divino o itinerário da eternidade, é preciso vivê-lo em patamares além das dimensões seguras e sensíveis dos amores humanos mais belos, que ligam pai e filho, mãe e filha, irmãos e irmãs, pais e esposos. Eis a essência desse amor sem medidas: por tudo de lado, até a própria vida, para seguir Jesus Cristo e o Evangelho.

Esta dimensão de renúncia e despojamento completo não é fácil, não é simples, não é desprovida de sacrifício: 'Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo' (Lc 14, 27). Sim, é preciso carregar a cruz: cruz que se torna pesada quando tolhida à terra pelos afazeres e lastros dos apegos humanos; cruz que se torna um jugo suave quando levada pela alma do discípulo incensado do mais puro amor de Deus. Per crucem ad lucem: é pela cruz que se chega à luz.

Jesus vai revelar em seguida, por meio de duas curtas parábolas, que, uma vez conhecidas as dificuldades de superação dos nossos apegos aos valores humanos, o propósito de renúncia ao mundo exige planejamento, prudência e perseverança: 'Com efeito: qual de vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro e calcula os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar?' (Lc 14, 28). 'Ou ainda: qual o rei que ao sair para guerrear com outro, não se senta primeiro e examina bem se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil?' (Lc 14, 31). Não se constrói uma torre ou se participa de uma guerra, sem armas, ferramentas ou projetos solidamente firmados. O que dizer, portanto, em relação à nossa caminhada de vida interior e espiritual que tem como medida a própria eternidade?