sábado, 18 de maio de 2024

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

Cultivai o santo recolhimento, isto é, vivei em sociedade de vida, de união e de amor com Deus, com Nosso Senhor. O santo recolhimento é a raiz da árvore, a vida das virtudes e até do amor divino: é a força da alma concentrada em Deus para daí irromper e expandir-se. Permanecei sempre no interior, vivei em vosso interior, possui-vos, virai-vos de fora para dentro, deixai este mundo; retirai-vos com Jesus em vosso coração, onde Ele vos move a alma, falai-lhe a linguagem interior que só o amor entende e compreende. Entretei uma doce e habitual conversação em vosso interior e não o percais de vista, se quiserdes conformar-vos àquele que dizia: 'Jesus é minha alegria e felicidade!' Lembrai-vos deste princípio de vida, de que só encontrareis felicidade no serviço de Deus na vida interior de oração e de amor.

(São Pedro Julião Eymard)

sexta-feira, 17 de maio de 2024

O DOGMA DO PURGATÓRIO (LXXXI)

 

Capítulo LXXXI

Razões e Exemplos para a Devoção às Santas Almas - Obrigação de Caridade e de Justiça - O Roubo aos Falecidos - A Propriedade Devastada - O Velho Soldado e o seu Legado Piedoso Não Cumprido

Acabamos de considerar a devoção às almas do Purgatório como uma obra de caridade. A oração pelos mortos, dissemos, é uma obra santa, porque é um exercício muito salutar da mais excelente das virtudes, a caridade. Esta caridade para com os defuntos não é apenas facultativa e de conselho, mas é também de preceito, não menos do que dar esmolas aos pobres. Como existe uma obrigação geral de caridade para dar esmolas, com quanto maior razão não somos obrigados pela lei geral da caridade a ajudar os nossos irmãos sofredores no Purgatório?

Esta obrigação de caridade está muitas vezes associada a uma obrigação de justiça rigorosa. Quando um moribundo, quer por palavra, quer por testamento escrito, exprime os seus últimos desejos no que diz respeito às obras de piedade; quando encarrega os seus herdeiros de mandar celebrar um certo número de missas, de distribuir uma certa soma em esmolas, para qualquer boa obra que seja, os herdeiros são obrigados, em estrita justiça, a partir do momento em que entram na posse da propriedade, a cumprir sem demora os últimos desejos do falecido.

Este dever de justiça é tanto mais sagrado quanto estes legados piedosos não passam frequentemente de restituições disfarçadas. Ora, o que nos ensina a experiência cotidiana? Será que as pessoas se apressam com religiosa exatidão a cumprir essas piedosas obrigações que dizem respeito à alma do defunto? Infelizmente, muito pelo contrário. Uma família que se apodera de uma fortuna considerável distribui ao seu pobre parente defunto os poucos sufrágios que ele reservou para seu próprio benefício espiritual; e se as sutilezas da lei civil os favorecem, os membros dessa família não se envergonham, sob o pretexto de alguma informalidade, de anular fraudulentamente o testamento para se livrarem da obrigação de fazer esses legados piedosos. Não é em vão que o autor da Imitação de Cristo nos aconselha a satisfazer os nossos pecados durante a nossa vida e a não depender demasiado dos nossos herdeiros, que muitas vezes negligenciam a execução das piedosas doações feitas por nós para o alívio das nossas pobres almas.

Para estas famílias - todo cuidado é pouco! É uma injustiça sacrílega combinada com uma crueldade atroz. Roubar a um pobre, diz o IV Concílio de Cartago, é como tornar-se o seu assassino (Egentium Necatores). Que diremos, pois, daqueles que roubam os mortos, que os privam injustamente dos seus sufrágios e os deixam sem assistência nos terríveis tormentos do Purgatório? Além disso, aqueles que se tornam culpados desse roubo infame são frequentemente punidos mais severamente por Deus, mesmo nesta vida. Às vezes, ficamos espantados ao ver uma fortuna considerável derreter-se, por assim dizer, nas mãos de certos herdeiros; uma espécie de maldição parece pairar sobre certas heranças. No dia do Juízo Final, quando o que agora está oculto se manifestar, veremos que a causa dessa ruína terá sido frequentemente a avareza e a injustiça dos herdeiros, que negligenciaram as obrigações impostas a eles em relação aos legados piedosos relativos à herança.

Aconteceu em Milão, diz o Padre Rossignoli, que uma magnífica propriedade, situada a pouca distância da cidade, foi completamente devastada pelo granizo, enquanto os campos vizinhos permaneceram ilesos. Este fenómeno atraiu a atenção e o espanto; fazia lembrar as pragas do Egito. O granizo devastou os campos dos egípcios e respeitou a terra de Gessen, habitada pelos filhos de Israel. Este foi considerado como um flagelo semelhante. O granizo misterioso não podia ter-se confinado exclusivamente aos limites de uma propriedade sem obedecer a uma causa inteligente. As pessoas não sabiam como explicar este fenômeno, quando a aparição de uma alma do Purgatório revelou que se tratava de um castigo infligido aos filhos ingratos e culpados, que tinham negligenciado a execução da última vontade do seu falecido pai relativamente a certas obras de piedade.

Sabemos que em todos os países e em todos os lugares, fala-se de casas assombradas, tornadas inabitáveis, com grande prejuízo para seus proprietários. Ora, se tentarmos descobrir a causa disso, geralmente descobriremos que uma alma esquecida por seus parentes volta para reclamar os sufrágios que lhe são devidos. Quer seja atribuído à credulidade, à excitação da imaginação, à alucinação, ou mesmo ao engano, permanecerá sempre um fato bem provado para ensinar aos herdeiros insensíveis como Deus castiga tal conduta injusta e sacrílega, mesmo nesta vida.

O seguinte evento, que foi relatado por Tomás de Cantimpre (Rossign., Merv., 15), demonstra claramente quão culpáveis são, aos olhos de Deus, os herdeiros que defraudam os mortos. Durante as guerras de Carlos Magno, um valente soldado tinha servido nos mais importantes e honrosos cargos. A sua vida era a de um verdadeiro cristão. Contente com o seu soldo, abstinha-se de qualquer ato de violência e o tumulto do campo nunca o impediu de cumprir os seus deveres essenciais, embora em assuntos de menor importância tivesse sido culpado de muitas pequenas faltas comuns aos homens da sua profissão. Tendo atingido uma idade muito avançada, adoeceu; e vendo que a sua última hora tinha chegado, chamou à sua cabeceira um sobrinho órfão, de quem tinha sido pai, e expressou-lhe os seus desejos de morte. 

'Meu filho' - disse ele - 'sabes que não tenho riquezas para te legar; só tenho as minhas armas e o meu cavalo. As minhas armas são para ti. Quanto ao meu cavalo, vende-o quando eu tiver entregue a minha alma a Deus, e reparte o dinheiro entre os padres e os pobres, para que os primeiros ofereçam o Santo Sacrifício por mim, e os outros me ajudem com as suas orações'. O sobrinho chorou e prometeu executar sem demora os últimos desejos do seu tio e benfeitor moribundo. O velho soldado morreu pouco depois, o sobrinho tomou posse das armas e levou o cavalo. Era um animal muito bonito e valioso. Em vez de o vender imediatamente, como tinha prometido ao seu falecido tio, começou por usá-lo em pequenas viagens e, como estava muito satisfeito com ele, não quis desfazer-se dele tão cedo. Adiou com o duplo pretexto de que não havia nada que obrigasse ao cumprimento imediato da sua promessa e que aguardaria uma ocasião favorável para obter um preço elevado por ele. Assim, adiando de dia para dia, de semana para semana e de mês para mês, acabou por abafar a voz da consciência e esqueceu a obrigação sagrada que havia assumido para com a alma do seu benfeitor.

Seis meses se passaram, quando, certa manhã, o falecido apareceu-lhe dirigindo-se a ele em termos de severa reprovação. 'Homem infeliz' - disse ele - 'esqueceste a alma do teu tio; violaste a promessa sagrada que fizeste no meu leito de morte. Onde estão as missas que deverias ter mandado rezar? Onde estão as esmolas que deveríeis ter distribuído aos pobres para o repouso da minha alma? Por causa da vossa negligência culpada, sofri tormentos inauditos no Purgatório. Finalmente, Deus teve piedade de mim; hoje vou gozar a companhia dos bem-aventurados no Céu. Mas tu, por um justo julgamento de Deus, morrerás dentro de poucos dias e serás submetido às mesmas torturas que me restariam suportar se Deus não tivesse tido misericórdia de mim. Sofrerás durante o mesmo tempo que eu deveria ter sofrido, depois do qual começarás então a expiação das tuas próprias faltas'.

Alguns dias depois, o sobrinho adoeceu gravemente. Chamou imediatamente um sacerdote, relatou-lhe a visão e confessou os seus pecados, chorando amargamente. 'Vou morrer em breve' - disse ele - 'e aceito a morte das mãos de Deus como um castigo que muito mereci'. Ele expirou em sentimentos de humilde arrependimento. Essa foi apenas a menor parte dos sofrimentos que lhe foram anunciados como punição por sua injustiça; trememos de horror ao pensar na parte restante que ele estava prestes a cumprir na outra vida.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.


quinta-feira, 16 de maio de 2024

POEMAS PARA REZAR (LIII)


CURA-ME SENHOR!

Cura-me Senhor
da minha miséria sem caridade
da minha pequenez sem remorsos
do meu vazio sem luz
do meu nada sem amor.

Cura-me Senhor
das andanças sem fim
das promessas não cumpridas
do meu voo sem asas
do viver por viver.

Cura-me Senhor
das chagas da vaidade
das lacerações dos sentidos
dos traumas do orgulho
das feridas do pecado.

Cura-me Senhor
da minha mente insensata
do meu coração endurecido
da minha imaginação febril
da minha alma vazia.

Cura-me Senhor
por buscar as coisas do mundo
por ansiar ter sempre mais
por lembrar tanto de mim
por esquecer tanto de Deus.

Cura-me Senhor
de tantas escolhas erradas
de tantos atalhos inúteis
de tanta palavra vã
de tanto tempo perdido.

Cura-me Senhor
da minha falta de paciência
da minha inconstância geral
das más obras que construí
das boas obras que não fiz.

Cura-me Senhor
da fome dos meus sentidos
da sede da minha intemperança
do grito dos meus prazeres
da nudez dos meus desvarios.

Cura-me Senhor
da dúvida em ocasiões sem fim
da indiferença de muitos dias
da incerteza de outros tempos
do torpor de tantas vezes. 

Cura-me Senhor
de não amar sem medida
de olvidar a justiça
de penhorar o socorro
de barganhar o perdão.

Cura-me Senhor
de rezar tão pouco
de tão pouco apostolado
de agradecer tão pouco
de tão pouco louvor e glória. 

Cura-me Senhor,
cura-me todo de mim
para que página em branco
seja inscrito no Livro da Vida
como uma imagem de Deus.

E, livre de tudo que sou,
todo livre de mim, 
seja como alma cativa
não sendo mais eu que viva
mas o Cristo vivendo em mim.

(Arcos de Pilares)

quarta-feira, 15 de maio de 2024

FRASES DE SENDARIUM (XXIX)

'Quanto mais humanos pudermos ser, mais divinos seremos'

(Santa Teresa de Lisieux)

São tuas ações e a tua prática cotidiana de vida cristã que podem permitir a acolhida do Semeador dentro de si para distribuir e lançar, na terra fértil e fecunda do teu coração humano, as sementes que hão de gerar abundantes frutos de vida eterna.

terça-feira, 14 de maio de 2024

SERMÕES DO CURA D'ARS (XIX)

SOBRE A NOSSA VOCAÇÃO DE TESTEMUNHAS DE CRISTO 

'Também vós dareis testemunho, porque estais comigo desde o princípio' 
(Jo 15,27)


Quando dois reinos estão em guerra um com o outro, é fácil distinguir os soldados de cada parte por meio de suas armas, seus uniformes e suas bandeiras. Desde o princípio do mundo, tem-se travado uma luta violenta entre o Rei do Céu e da Terra e o príncipe das trevas, sobre a qual deles deve pertencer a raça humana. Cristo, o Redentor, pela sua morte e ressurreição, ganhou a vitória sobre o inferno.

Antes de entrar gloriosamente no céu como vencedor, levando consigo as almas dos justos da antiga lei, como primogênitos da sua vitória, fundou a sua Igreja na terra como o seu reino, no qual deveríamos continuar a combater contra o inferno, e pelo seu poder deveríamos e poderíamos completar a vitória.

Por isso Ele diz aos Seus Apóstolos, os generais do seu reino: 'Vós dareis testemunho de mim', e a Sagrada Escritura diz deles: 'Com grande coragem os Apóstolos deram testemunho da ressurreição de Jesus Cristo, nosso Senhor' (At 4,33.) As palavras de Cristo aplicam-se também a nós. Todos nós somos obrigados a dar testemunho dEle, não por sermões e milagres, como fizeram os Apóstolos, mas pela nossa vida, pela imitação de Jesus; pois como todos nós nos tornamos membros do seu corpo, e recebemos de Cristo o nome de 'cristãos', somos obrigados a levar uma vida digna deste Chefe, não para trazer desgraça ao seu Santo Nome, mas para viver de tal forma que, na nossa vida, o cristão possa ser distinguido do não-cristão. Este é o nosso testemunho de Cristo. Vou agora falar sobre este assunto. No Cântico dos Cânticos, o divino Esposo diz à alma que o ama: 'Põe-me como um selo no teu coração, como um selo no teu braço' (Ct 8,6). Nós trazemos este selo de Cristo quando o imitamos:

I. Em nossa vontade
II. Em nossas palavras
III. Em nossas obras

I

1. Davi exprime a vontade de nosso Redentor nestas palavras que o Espírito Santo lhe permite pronunciar (Sl. xxxix. 8-9): 'No princípio do livro está escrito a meu respeito: fazer vossa vontade, meu Deus, é o que me agrada, porque vossa Lei está no íntimo de meu coração (Sl 39, 8-9). Mas Cristo diz de si mesmo (Jo. vi. 38): 'Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou' (Jo 6,38) e 'Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou' (Jo 4,34) e o Apóstolo exalta-o, dizendo: 'Humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz' (Fp 2,8). Quando desceu da glória do céu para a terra, sacrificou-se à vontade de seu Pai. 'Tu queres, ó meu Deus' - disse Ele, por assim dizer, com completa resignação - 'que eu nasça num estábulo desolado; que derrame o meu sangue na circuncisão; que fuja diante de Herodes; que suporte os fardos e os problemas desta vida terrena durante trinta e três anos. Vós quereis que eu seja traído, desprezado, cuspido, esbofeteado nas faces e flagelado, coroado de espinhos, pregado na cruz e sofra a mais cruel das mortes. Meu Deus, eu também o quero. Estou pronto a sofrer estas e outras aflições ainda maiores'.

2. Agora, caro cristão, contempla e age de acordo com este modelo nas tuas disposições. Quando mil decepções te cercarem, dize também: 'Meu Deus, eu quero!' Quando a pobreza te aflige, quando a língua do caluniador te fere, quando os falsos amigos te enganam, quando a doença te visita, quando as dores corporais te atormentam, com paciência invencível imita Cristo e diz: 'Meu Deus, eu quero!' Deveis ter estas disposições, esta vontade; então a vida de Cristo é o vosso modelo e vós dais testemunho dEle.

3. Como agiste até agora? Examina-te a ti mesmo e reconhece como as tuas disposições têm sido muitas vezes diferentes daquelas do Senhor. Ah, quantas pessoas ambiciosas existem cujos pensamentos e ações são dirigidos para a aquisição de honra, reconhecimento, cargos e dignidades! Quantas pessoas avarentas que ponderam noite e dia sobre como aumentar o seu dinheiro! Quantos mundanos que pensam continuamente nos seus prazeres! Quantas almas vingativas que não esquecem as injúrias que sofreram! É isto dar testemunho de Cristo? Não fazem o mesmo os pagãos, que dão testemunho de Satanás?

II

1. De que tipo são as palavras de Jesus Cristo, nosso Senhor? Pedro disse uma vez: 'Tu tens palavras de vida eterna' (Jo 6,69), pois todas as suas palavras foram dirigidas para a honra de Deus, a extirpação do pecado, o crescimento da virtude e a salvação das almas. Consideremos isso nas sete últimas palavras sagradas que Ele proferiu da cruz, em meio à sua agonia de morte. Primeiro, orou ao Pai celestial: 'Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem' (Lc 23,34). Estas são palavras de misericórdia e reconciliação. Ao ladrão penitente, disse: 'Hoje estarás comigo no paraíso' (Lc 23,43)- palavras de abençoada promessa. Dirige estas palavras à sua Mãe Santíssima: 'Mulher, eis aí o teu filho!' e ao seu discípulo: 'Eis aí a tua mãe!' (Jo 19,26). Que palavras consoladoras! No momento do abandono, Ele clama, com inteira submissão e confiança em Deus: 'Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?' (Mt 37,46.) Seu desejo de sofrer ainda mais e no mais alto grau por causa de nossa salvação nos é provado por seu grito: 'Tenho sede' (Jo 19,28); 'Tudo está consumado' (Jo 19,30). Ele diz, cheio de alegria, que completou a nossa redenção, e recomenda a sua alma com resignação nas mãos do seu Pai: 'Nas tuas mãos entrego o meu espírito' (Lc 23,46.) Agora, queridos cristãos, olhai para este modelo e agi de acordo com as vossas palavras. Tudo o que falardes deve ser para a honra de Deus, e para a vossa própria salvação e a do vosso próximo. A palavra nos é dada, como diz um servo de Deus, para louvar a Deus, para a edificação do nosso próximo.

2. As tuas conversas têm sido desta natureza, amigo cristão? Ah, quão diferentes elas têm sido muitas vezes daquelas do Senhor! Se entrarmos nas casas e palácios dos ricos e poderosos, que conversa, que conversas estão em voga? Que palavras ouvimos nas salas de aula, nas assembleias dos líderes do povo? Nas ruas encontramos as indicações dos prazeres sensuais, nas lojas é a vaidade; em casa, nas oficinas, com demasiada frequência, infelizmente, apenas incredulidade e blasfêmia. Onde é que, nos nossos dias, não há um lugar em que as reputações não sejam destruídas, as calúnias, as blasfêmias, os juramentos e, sobretudo, onde as conversas impróprias não tenham encontrado um lugar? Mesmo a vida familiar já não é pura e, nos ouvidos das crianças inocentes, são lançadas palavras que envenenam as suas almas. Caros cristãos, será isto dar testemunho de Cristo? Não fazem o mesmo os pagãos, que dão testemunho de Satanás?

III

1. Consideremos, para concluir, as obras do Senhor. São Bernardo descreve-as assim: 'Sob o nome de Jesus, imagino para mim um homem humilde e manso de coração, bondoso, temperante, casto, misericordioso, em suma, distinto em todas as virtudes e santidades'. O próprio ensinamento de Nosso Senhor é testemunha de que Ele foi perfeito na prática de todas as obras que ensinou. Ele diz: 'Bem-aventurados os pobres de espírito' e, desde o seu nascimento no estábulo até à sua morte na cruz, Ele próprio foi o mais pobre, pois não tinha onde reclinar a cabeça. 'Bem-aventurados os mansos', diz Ele, e Ele não só perdoa o mal que lhe foi feito, mas recompensa-o com o mais rico dos benefícios. 'Bem-aventurados os aflitos' - Ele expiou os nossos pecados em todo o seu corpo e chorou sobre eles lágrimas de sangue. 'Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça' - mas o seu alimento era fazer a vontade de Seu Pai. 'Bem-aventurados os misericordiosos' - Ele amontoou boas ações sobre os seus inimigos. 'Bem-aventurados os pacificadores' - Ele imprimiu a paz entre Deus e o homem. 'Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça' - Ele suportou o ódio e a perseguição por causa dos seus ensinamentos até a morte.

2. Mas como é que realizamos as nossas obras? Não amais desordenadamente o vosso corpo e o vosso conforto, e não aderis tão obstinadamente às máximas do mundo que quase vos envergonhais de ser cristãos? Ou amas o pecado, deixas que os teus vícios se tornem hábitos, e até deixaste de lado qualquer sentimento de vergonha por isso, ou só pensas no que é terreno, e vives como o animal irracional, perseguindo constantemente os prazeres e a sensualidade. Infeliz cristão, é assim que se dá testemunho de Cristo? Não fazem o mesmo os pagãos, que dão testemunho de Satanás? Não é de admirar que os hereges e os incrédulos não se convertam quando vêem que os católicos e os cristãos são piores do que eles?

3. Portanto, meus caros cristãos, olhai e portai-vos segundo o modelo que vos é mostrado. É vosso dever imitar a doutrina e o exemplo do Redentor e praticar diligentemente a perfeição cristã. Deveis servir a Deus e refletir noite e dia sobre as suas leis; deveis crucificar vossa carne com seus desejos perversos; não deveis ser vencidos pela adversidade, nem deslumbrados pela felicidade. É vosso dever praticar de tal modo as virtudes cristãs que até os incrédulos as admirem e digam que não são capazes de chegar a tão alta perfeição. Se isto pudesse ser dito de todos os cristãos, certamente o mundo inteiro seria cristão em curto tempo!

Não demoreis, caros cristãos, a conformar a vossa vida à vida de Jesus Cristo, e a dar assim testemunho dEle. Ouvi como o Apóstolo vos exorta: 'Levemos sempre em nosso corpo a morte de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nosso corpo' (II Cor 4,10). Pela mortificação, deveis fazer da vossa vida uma cópia da vida de Jesus. Os vossos olhos não devem ser demasiado curiosos, nem a vossa boca sem pudor, nem os vossos desejos sensuais ingovernáveis, como o são os dos pagãos; a vossa conduta não deve corresponder à vida do rico glutão. Pelo contrário, todos os que virem o vosso exemplo e a vossaconduta possam reconhecer que sois, não só de nome, mas de fato e de verdade, um cristão, um seguidor do Crucificado e um herdeiro do Reino dos Céus. Amém.

segunda-feira, 13 de maio de 2024

107 ANOS DE FÁTIMA

Fátima é o acontecimento sobrenatural mais extraordinário de Nossa Senhora e a mais profética das aparições modernas (que incluíram a visão do inferno, 'terceiro segredo', consagração aos Primeiros Cinco Sábados, orações ensinadas por Nossa Senhora às crianças, consagração da Rússiamilagre do sol e as aparições do Anjo de Portugal), constituindo a proclamação definitiva das mensagens prévias dadas pela Mãe de Deus em Lourdes e La Salette. Por Fátima, o mundo poderá chegar à plena restauração da fé e da vida em Deus, conformando o paraíso na terra. Por Fátima, a humanidade será redimida e salva, pelo triunfo do Coração Imaculado de Maria. Se os homens esquecerem as glórias de Maria em Fátima e os tesouros da graça, serão também esquecidos por Deus.

'por fim, o meu Imaculado Coração triunfará'


Ver Postagem Especial na Biblioteca Digital do Blog:

FÁTIMA EM 100 FATOS E FOTOS

domingo, 12 de maio de 2024

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Por entre aclamações Deus se elevou, o Senhor subiu ao toque da trombeta' (Sl 46)

Primeira Leitura (At 1,1-11) - Segunda Leitura (Ef 1,17-23) -  Evangelho (Mc 16,15-20)
 
  12/05/2024 - SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR

23. 'IDE E ANUNCIAI O EVANGELHO'


Antes de subir aos Céus, Jesus manifesta aos seus discípulos (de ontem e de sempre) as bases do verdadeiro apostolado cristão, a ser levado a todos os povos e nações: 'Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado'. (Mc 16, 15 - 16). Ratificando as mensagens proféticas do Antigo Testamento, Nosso Senhor imprime diretamente no coração humano os sinais da fé sobrenatural e da esperança definitiva na Boa Nova do Evangelho, que nasce, se transcende e se propaga com a Igreja de Cristo na terra.

Antes de subir aos Céus, Jesus nos fez testemunhas da esperança. Pela ação de Pentecostes, pela efusão do Espírito Santo, pela manifestação da 'Força do Alto', os apóstolos tornar-se-iam instrumentos da graça e da conversão de muitos povos e nações: 'recebereis o poder do Espírito Santo que descerá sobre vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e na Samaria, e até os confins da terra' (At 1,8). E os apóstolos assumiram de pronto a imensa tarefa a fazer, na missão a eles confiada por Jesus: 'Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam' (Mc 16, 20).

Na mesma certeza, somos continuadores dessa aliança de Deus com os homens, na missão de semear a Boa Nova do Evangelho nos terrenos áridos da humanidade pecadora para depois colher, a cem por um, os frutos da redenção nos campos eternos da glória. Como missionários da graça, 'Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos' (Ef 1, 18). Neste propósito, nos anima e fortalece as divinas promessas da vitória antecipada da graça, na feliz espera de sermos partícipes de sua glória eterna.

Jesus se eleva diante dos seus discípulos e sobe para os Céus. Jesus vai primeiro porque é o Caminho que vai preparar, para cada um de nós, 'as muitas moradas da casa do Pai'. Na solenidade da Ascensão do Senhor, a Igreja comemora a glorificação final de Jesus Cristo na terra, como o Filho de Deus Vivo e, ao mesmo tempo, imprime na nossa alma o legado cristão que nos tornou, neste dia, testemunhas da esperança em Cristo e herdeiros da eternidade junto de Deus.