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quinta-feira, 30 de outubro de 2025

A ETERNIDADE DE DEUS


'O que é o tempo de Deus?' Aqueles que isto perguntam ainda não te compreendem, ó sabedoria de Deus (Ef 3,10), ó luz das mentes - ainda não compreendem como são feitas as coisas que por meio de ti e em ti são feitas, e esforçam-se por saborear as realidades eternas, mas o seu coração esvoaça ainda nos movimentos passados e futuros das coisas, continuando vazio (Sl 5,10). 

Quem poderá deter o tempo e fixá-lo, a fim de que ele pare e por um momento capte o esplendor da eternidade sempre fixa, e a compare com os tempos nunca fixos, e veja que a eternidade é incomparável, e veja que um longo tempo não é longo senão a partir de muitos momentos que passam e não podem alongar-se simultaneamente; veja, pelo contrário, que, no que é eterno, nada é passado, mas tudo é presente, enquanto nenhum tempo é todo ele presente: e veja que todo o passado é obrigado a recuar a partir do futuro, e que todo o futuro se segue a partir de um passado, e que todo o passado e futuro são criados e derivam daquilo que é sempre presente? Quem poderá deter o coração do homem, a ponto de ele parar e ver como a eternidade, que é fixa, nem futura nem passada, determina os tempos futuros e passados? Será que, porventura, a minha mão consegue (Gn 31,29) isto, ou que a minha boca, que se manifesta falando, realiza tão grande intento?

E tu não precedes os tempos com o tempo: se assim fosse, não precederias todos os tempos. Mas precedes todos os passados com a grandeza da tua eternidade sempre presente, e superas todos os futuros porque eles são futuros, e quando eles chegarem, serão passado; tu, porém, és o mesmo e os teus anos não têm fim (Sl 101,28; Hb 1,12). Os teus anos não vão nem vêm: os nossos vão e vêm, para que todos venham. Os teus anos existem todos ao mesmo tempo, porque não passam, e os que vão não são excluídos pelos que vêm, porque não passam: enquanto os nossos só existirão todos, quando todos não existirem. 

Os teus anos são um só dia (Sl 89,4; 2Pe 3,8) e o teu dia não é todos os dias, mas um ‘hoje’, porque o teu dia de hoje não antecede o de amanhã; pois não sucede ao de ontem. O teu hoje é a eternidade: por isso, geraste co-eterno contigo aquele a quem disseste: 'Eu hoje te gerei' (Sl 2,7; At 13,33; Hb 1,5; 5,5). Tu fizeste todos os tempos e tu és antes de todos os tempos, e não houve tempo algum em que não havia tempo.

(Do Livro das Confissões, de Santo Agostinho)

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

ORAÇÃO PARA DAR GRAÇAS A DEUS


Nosso Senhor e nosso Deus, que sempre nos ouvi em nossa aflição, nós vos damos graças por vossa bondade e vos pedimos que, libertos de todos os males, possamos servir-vos sempre com alegria. Isto vos pedimos por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que vive e reina convosco na unidade do Espírito Santo, que é Deus, pelos séculos dos séculos. Amém.

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

JESUS É A PONTE PARA O CÉU

Por não estar em mim, o pecado não merece amor. Quem o faz, ofende toda criação e me odeia. O homem tem obrigações de me querer bem. Sou imensamente bom, dei-lhe o ser, numa chama de caridade. Todavia, os maus fogem de mim. Mas, por justiça ou misericórdia, ninguém escapa das minhas mãos.

Eis o meu plano: criar o homem à minha imagem e semelhança para que alcançasse a vida eterna, participasse do meu Ser, experimentasse a minha suma, eterna e doce bondade. O pecado veio impedir-lhe de atingir essa meta. O homem deixava de realizar o meu plano, pois a culpa lhe fechara o Céu e a porta da minha misericórdia. O pecado fez germinar na humanidade espinhos e sofrimentos, tribulações numerosas, rebelião interna.

Ao revoltar-se contra mim, o homem criou a rebelião dentro de si. Em conseqüência da perda do estado de inocência, a carne se revoltou contra o espírito. Imediatamente brotou um rio tempestuoso, cujas ondas continuam a açoitar a humanidade. São as misérias e males provenientes do próprio homem, do demônio e do mundo. Nele todos se afogavam; ninguém mais, graças a virtudes pessoais, atingia a vida eterna. Para remediar tantos males, construí a ponte no Meu Filho, que permitiria a travessia do rio sem perigo de afogar-se. O rio é o tempestuoso mar desta tenebrosa vida.

Quero que contemples a ponte que é o meu Filho, que vejas sua grandiosidade. Ela se estende do céu à terra, pois nela a terra da vossa natureza humana está unida à divindade sublime, graças à encarnação que realizei no homem. Todos vós deveis passar por esta ponte, louvando-me através do trabalho pela salvação dos homens e tolerando muitas dificuldades, a exemplo do meu doce e amoroso Verbo Encarnado. Não há outro modo de chegar até mim.

Dizia o Meu Filho: 'Eu sou a videira verdadeira e vós os ramos; Meu Pai é o agricultor' (Jo 15,5). Sim, Eu sou o agricultor, de mim se originam todos os seres. Tenho um poder incalculável, pelo qual governo o universo; nada me escapa. Fui eu o agricultor que plantou a verdadeira vinha, Cristo, no chão da humanidade, para que vós, unidos a Ele, possais frutificar. Quem não produzir ações santas e boas, será cortado da videira; e secará. Separado, perderá a vida da graça e irá para o fogo eterno.

Sabes que os mandamentos da Lei se reduzem a dois sem eles, nenhum outro é observado. São eles: amar-me sobre todas as coisas e amar o próximo como a ti mesmo. Eis o começo, o meio e o fim dos mandamentos da lei.  Todavia esses dois não se reúnem em mim sem os três, ou seja, sem a unificação das três faculdades da alma:  memória, inteligência e vontade. A memória há de recordar-se dos meus beneficios e da minha bondade; a inteligência pensará no amor inefável revelado em Cristo, pois Ele se oferece como objeto de reflexão, para manifestar a chama do meu amor; a vontade, unindo-se às faculdades anteriores, me amará e desejará como seu fim.

O coração humano, ao ser atraído pelo amor, leva consigo todas as faculdades da alma: Quando são harmonizadas e reunidas tais faculdades, todas as ações humanas - corporais ou espirituais - ficam-me agradáveis, pois unem-se a mim na caridade. Foi exatamente para isso que meu Filho se elevou na cruz, trilhando o caminho do amor cruciante. Ao dizer, 'Quando Eu for elevado, atrairei a mim todas as coisas', ele queria significar: quando o coração humano e as faculdades forem atraídas, todas as demais faculdades e suas ações também o serão.

Ninguém pode vir a mim, senão por meio de Cristo. Esta a razão pela qual fiz d'Ele uma ponte de três degraus. Esses três degraus representam os três estados espirituais do homem. O pavimento desta ponte é feito de pedras, a fim de que a chuva (da justiça divina) não retenha o caminhante. As pedras são as virtudes verdadeiras e reais. Antes da Paixão do meu Filho, elas ainda não tinham sido assentadas, motivo pelo qual os antigos não atingiam o céu, mesmo que vivessem piedosamente. O Paraíso ainda não fora aberto com a chave do Sangue e a chuva da justiça divina impedia a caminhada.

Quando aquelas pedras foram assentadas no Corpo do Meu Filho - por mim comparado a uma ponte - foram embebidas, amalgamadas e assentadas com sangue. Em outras palavras: o sangue (humano) foi misturado com a cal da divindade e fortemente queimado no calor da caridade. Tais pedras foram postas em Cristo por mim, mas é n'Ele que toda virtude é comprovada e vivificada. Fora de Jesus ninguém possui a vida da graça. Ocorre estar n'Ele, trilhar suas estradas, viver a sua mensagem. Somente Ele faz crescer as virtudes, somente Ele as constrói como pedras vivas, cimentando-as com o próprio Sangue. Nele, todos os fiéis caminham na liberdade, sem o medo da justiça divina, pois vão cobertos pela misericórdia, descida do céu no dia da encarnação. 

Foi a chave do Sangue de Cristo que abriu o céu. Portanto, esta ponte é ladrilhada; e seu telhado é a misericórdia. Possui também uma despensa, constituída pela hierarquia da Santa Igreja, que conserva e distribui o Pão da Vida e o Sangue. Assim, as minhas criaturas, viandantes e peregrinas, não fraquejam de cansaço na viagem. Para isto ordenei que vos fosse dado o Corpo e o Sangue do Meu Filho, Homem Deus.

Disse Jesus: 'Eu sou o caminho, a verdade, e a vida; quem vai por mim não caminha nas trevas, mas na luz' (Jo, 8,12). Quem vai por tal caminho é filho da verdade, atravessa a ponte e chega até mim, verdade eterna, oceano de paz. Quem não trilha esse caminho, vai pela estrada inferior, no rio do pecado. É uma estrada sem pedras, feita somente de água, inconsistente; por sobre ela ninguém vai sem afundar. É o caminho dos prazeres e das altas posições, daqueles cujo amor não repousa em mim e nas virtudes, mas no apego desordenado ao que é humano e passageiro. Tais pessoas são como a água sempre a escorrer. À semelhança daquelas realidades, vão passando.

Com o retorno de Meu Filho ao céu, enviei o Mestre, o Espírito Santo. Ele veio no meu poder, na sabedoria do Filho, e na própria clemência. É uma só coisa comigo e o Filho. Por sua vinda, fortaleceu o caminho - mensagem deixado no mundo por Jesus. O Espírito Santo é qual mãe a nutrir no Divino Amor. Ele liberta o homem, torna-o dono de si, isento da escravidão e do egoísmo. A chama da minha caridade (o Espírito Santo) não sobrevive junto ao egoísmo. Assim, todos os homens, recebem luzes para conhecer a verdade. Basta que cada um o queira, que não destrua a luz da razão, pelo egoísmo desordenado.

A mensagem de Jesus é verdadeira e ficou no mundo qual pequena barca para retirar os pecadores do rio do pecado e conduzi-os ao porto da salvação. Primeiro, coloquei o meu Filho como ponte - pessoa, a conviver com os homens; após a sua morte, ficou a ponte - mensagem, possuindoo meu poder, a sabedoria do Filho e o amor do Espírito. O poder fortifica os caminhantes, a sabedoria ilumina e ajuda a reconhecer a Verdade, o Espírito Santo infunde o amor que aperfeiçoa, que destrói o egoísmo e conserva no homem o apego ao bem.

O Verbo encarnado, meu Filho único e ponte de glória, deu aos homens vida e grandeza. Eram escravos do demônio e Ele os libertou. Para que cumprisse tal missão, tornei-o servo; para cobrir a desobediência de Adão exigi que obedecesse; para confundir o orgulho, humilhou-se até a morte na cruz. Por sua morte, destruiu o pecado. No intuito de livrar a humanidade da morte eterna, fez do seu Corpo uma bigorna. No entanto os pecadores desprezam p seu Sangue, pisoteiam-no com um amor desordenado. Esta é a injustiça, este o julgamento falso a respeito do qual o mundo é e será repreendido até o dia do juízo final. Tal repreensão começou quando enviei o Espírito Santo sobre os apóstolos. São três estas repreensões: a voz da Igreja, o Juízo Particular e o Juízo Final.

(Excertos do Livro 'Revelações de Santa Catarina de Sena')

terça-feira, 15 de julho de 2025

SOMENTE DEUS CONHECE O FUTURO


A expansão atual da prática da adivinhação popular, sob as mais diversas formas, é incrível... Sem dúvida, os procedimentos antigos – o exame das entranhas das vítimas, o voo dos pássaros, o murmúrio do vento na floresta ou os padrões formados pela água fervente em uma fonte – desapareceram para sempre. Mas há o baralho de cartas, ou o estudo das linhas da palma, a interpretação da borra de café e muitos outros procedimentos, cada um tão válido quanto o outro. E há, como nos tempos antigos, a astrologia, considerada a forma mais erudita de discernir os destinos humanos. Astrólogos ainda existem hoje. E eles afirmam – não sem imprudência – que têm provas convincentes do valor de suas previsões.

... Para um crente, o que torna evidente a 'mentira' da adivinhação é a certeza de que só Deus conhece o futuro. Como Ele o conhece? Como pode aquilo que ainda não existe ser objeto de conhecimento para Deus, quando a liberdade humana está em jogo? E como essa presciência divina é compatível com a nossa liberdade? Todos sabem que isso constitui um dos problemas mais difíceis da metafísica geral. Expliquemos brevemente o que nos parece ser a única solução concebível. 

Nosso mundo não é o único possível. Há um número infinito de mundos possíveis, todos diferentes uns dos outros. Mas a própria possibilidade deles advém do fato de terem sido carregados desde toda a eternidade na Mente do Criador. E nessa Mente, isto é, no Verbo Divino, esses mundos se desenvolvem idealmente na natureza, com suas leis e também com o jogo eventual das liberdades criadas. Quando Deus decreta que tal mundo existirá, isto é, será criado por Ele, em preferência a outros, as condições desse mundo não são alteradas por isso, caso contrário, não seria o mundo desejado e visto por Deus. Atos livres serão livres nele, e ainda assim Deus os terá visto e os vê no momento em que ocorrem. É nesse sentido que Deus conhece o futuro. 

Mas, como Ele é o único que carrega eternamente os mundos em sua mente, Ele é evidentemente o único que conhece o futuro. Tentar prever o futuro, fora dos casos milagrosos de profecia divina, é, portanto, necessariamente diabólico, no sentido de que é uma usurpação de Deus. Segue-se que nenhum poder de adivinhação foi colocado no jogo de cartas, nas borras de café, nas linhas da palma da mão, nas linhas traçadas pelo sal na clara do ovo, nem nas conjunções dos planetas e estrelas no momento do nascimento de um ser humano. O que é prescrito, portanto, em astrologia ou horóscopo, é tão somente uma fraude ou superstição.

(Excertos da obra 'A presença de Satanás no Mundo Moderno', de Monsenhor Cristiani, 1959)

segunda-feira, 12 de maio de 2025

OS DOIS AMORES E AS TRÊS FACULDADES DA ALMA

Volto a falar dos degraus gerais que deveis percorrer a fim de sair do rio do pecado, atingir a água viva e inserir-me na vossa caminhada.

Pela graça eu repouso em vossas almas. Querendo progredir, é necessário que tenhais sede. Somente os sedentos acolhem aquele convite: 'quem tem sede, venha a mim e beba' (Jo 7,37). Quem não está com sede desanima de caminhar, pára por cansaço ou em prazeres, vai de mãos vazias, sem se preocupar em levar consigo um recipiente para coletar a água. Mas sozinho ninguém progride. Ao apresentar-se o ferrão das contradições, olha-o como a um inimigo e retrocede. O homem solitário teme o encontro do inimigo; quem vai acompanhado, não sente medo. Pois bem, o cristão que ainda não percorreu os três degraus gerais, caminha solitário.

Ocorre, pois, ter sede e reunir dois, três ou mais, na maneira explicada. Por que eu disse 'dois e três'? Porque não existe dois sem três e três sem dois. O homem que está só não possibilita minha presença 'no meio' por falta de companheiro que me permita estar 'entre' eles. O solitário é um vazio, bem como aquele que só possui o egoísmo e vive sem amor pela minha graça e pelo próximo. Um nada, eis o que é a pessoa em quem estou ausente, por causa do pecado. Somente eu 'sou aquele que sou' (Ex 3,14). O egoísta, solitário, não conta diante de mim, não me agrada. Eis por que meu Filho diz: 'Se dois ou três estão reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles' (Mt 18,20). Afirmei antes que não existe dois sem três ou três sem dois. Explico-me.

Sabes que os mandamentos da lei se reduzem a dois; sem eles, nenhum outro é observado. São: amar-me sobre todas as coisas e amar ao próximo como a ti mesma. Eis o começo, o meio e o fim dos mandamentos da lei. Todavia esses 'dois' não se 'reúnem' em mim sem os 'três', isto é, sem a unificação das três faculdades da alma: a memória, a inteligência e a vontade. A memória há de recordar-se dos meus benefícios e da minha bondade; a inteligência pensará no amor inefável revelado em Cristo, pois ele se oferece como objeto de reflexão para manifestar a chama do meu amor; a vontade, unindo-se às duas faculdades anteriores, me amará e desejará como seu fim. Quando essas três faculdades estão assim reunidas, acho-me presente entre elas pela graça. E, como consequência, a pessoa vê-se repleta de amor por mim e pelo próximo, na companhia de verdadeiras e múltiplas virtudes.

Em primeiro lugar, a vontade se dispõe a ter sede. Sede das virtudes, sede da minha glória, sede das almas. As demais sedes se apagam e morrem. Tendo subido o primeiro degrau, da afeição, o homem caminha seguro de si, sem temor servil. Livre do egoísmo, a vontade põe-se acima de si mesma e acima dos bens passageiros. Se a pessoa quer possuir tais bens, ama-os e deles se serve em mim, com temor santo e verdadeiro, virtuosamente. Em seguida, passa-se ao segundo degrau, o da inteligência, no qual a pessoa, em cordial amor por mim, medita sobre Cristo crucificado, enquanto mediador. Por fim, a memória enche-se da minha caridade e alcança paz e a tranquilidade.

Um recipiente vazio, ao ser tocado, faz rumor; o recipiente cheio, nenhum som produz. Da mesma forma, quando a memória está tomada pela luz da inteligência e pelo amor, a pessoa já não se perturba diante das adversidades ou atrativos do mundo; está repleta da minha presença, como sumo bem; não sente falsas alegrias, nem impaciência. Quando o homem sobe os três degraus comuns, suas faculdades unificam-se, colocam-se sob domínio da razão e congregam-se em meu nome. Uma vez reunidos os dois amores – por Deus e pelo próximo – com as três faculdades – a memória para reter, a inteligência para refletir e a vontade para amar – encontra-se o homem na minha companhia, forte e seguro; está na companhia das virtudes; caminha seguro de si. Estou presente nele!

Parte, então, o cristão, inflamado de desejo santo, sequioso de ir pelo caminho da verdade, à procura da fonte da água viva. É o desejo da minha glória, da salvação pessoal e da santificação alheia que incentiva a caminhar, pois é o único meio que possibilita alcançar a meta final. Na saída, o coração está vazio de apegos terrenos. Mas enche-se logo! Nenhum recipiente permanece com vácuo; se não contiver objetos materiais, enche-se de ar. O mesmo acontece com o coração humano. Ao se retirar dele o apego dos bens materiais, enche-se com o ar celeste do amor divino e com a água da graça. Em posse deste dom, o caminhante entra pela porta de Cristo e bebe a água viva em mim, oceano de paz.

(Excertos da obra 'O Diálogo', de Santa Catarina de Sena)

sábado, 8 de março de 2025

A INQUIETUDE DE DEUS

Na vida cotidiana moderna, a ciência e o progresso ditaram uma nova religião que impõe, como premissa absoluta, o esquecimento de Deus. Os clichês são os mesmos e variados, mas todos centrados na ideia de uma razão suprema, de uma ciência deificada, de um culto à tecnologia e ao progresso como irmãos siameses do conhecimento e da felicidade verdadeiros. Essa onda se infla do próprio estertor: o vazio de Deus.

O orgulho é a raiz de todos os pecados e de todos os desvarios. E o orgulho é patético em todas as suas raízes, porque é absolutamente incompatível com a miséria humana. O que é o homem na dimensão do homem? Um saco de ossos desconjuntados que usa e abusa do livre arbítrio para gestar do nada uma fotografia de coisa alguma. Que vai morrer de AVC ou de câncer, que vira um demente diante de uma cólica renal, que se aniquila diante de uma tragédia pessoal.

Para retaliar essa realidade esmagadora, a criatura assume o papel de náufrago nas águas turvas de sua incredulidade, e esconde-se de Deus por trás das máscaras da fuga ou da indiferença. Um homem sem Deus vive de quebrar espelhos, na crença doentia de que o ato de quebrar o espelho possa garantir a inexistência da imagem. 

Deus não está ali, porque espelhos se quebram e espelhos quebrados são apenas espelhos quebrados, que não valem nada. É na alma - imagem de Deus e não espelho do homem - que Deus inquieta o coração humano. É essa alma que pulsa, independentemente de espelhos quebrados todos os dias, pela nostalgia de Deus. É essa alma que reage ao estupor físico e mental do livre-arbítrio contra o esvaziamento da imagem e semelhança de Deus, que grita contra o indiferentismo e o orgulho reinantes, que incendeia escombros em cinzas. Eis aí onde mora a inquietude de Deus.

Em que minuto de sua vida tão valiosa essa inquietude vai fazer você se encontrar com Deus? Cada minuto de sua vida, Ele espera por você, pela imagem da graça divina gravada na sua alma. Ou esse minuto nunca vai existir e a sua vida, tão valiosa, não vai valer nada além de espelhos quebrados?

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

ORAÇÃO DA SABEDORIA ETERNA


Deus dos nossos Pais, Deus de misericórdia, Vós criastes todas as coisas pela vossa palavra e pela vossa sabedoria. Vós formastes o homem para que ele pudesse ter domínio sobre todas as criaturas que fizestes; para que ele pudesse governar o mundo com justiça e equidade e pronunciar julgamento com um coração reto. Dai-me esta Sabedoria Eterna que se senta convosco em vosso trono.

Não me removeis do número dos vossos filhos, pois sou vosso escravo e filho da vossa escrava [Nossa Senhora], um homem fraco e de vida curta, com pouca compreensão do julgamento e das leis. Pois, mesmo quando uma pessoa é considerada perfeita entre os filhos dos homens, ela é, no entanto, inútil se a vossa Sabedoria não habita nela. É a vossa Sabedoria que tem conhecimento das vossas obras, que estava convosco quando fizestes o mundo e que sabe o que é agradável aos vossos olhos e mostra o que é certo de acordo com os vossos mandamentos.

Enviao o vosso Espírito, então, do vosso Santuário no Céu e do trono da vossa majestade, para que esta Sabedoria esteja comigo e trabalhe comigo para que eu possa saber o que é agradável a Vós. Pois a Sabedoria possui o conhecimento e a compreensão de todas as coisas. Ela me guiará em todas as minhas obras com percepção verdadeira, e seu poder me guardará. Minhas ações, então, serão agradáveis ​​a Vós e eu guiarei o vosso povo com justiça e serei digno do trono de meu Pai. Pois que homem pode conhecer os desígnios de Deus ou descobrir qual é a sua Vontade?

Os pensamentos dos homens são incertos e seus planos são incertos, pois um corpo perecível pesa muito sobre sua alma, e a habitação terrena deprime e perturba o espírito por muitos cuidados. Entendemos apenas com dificuldade o que está acontecendo na terra, e achamos difícil discernir até mesmo o que está diante de nossos olhos.

Como podemos saber o que está acontecendo no Céu, e como podemos conhecer os  vossos pensamentos, a menos que nos concedeis a vossa Sabedoria e nos envieis do Céu o vosso Espírito Santo para que Ele possa endireitar os caminhos dos que vivem na Terra e nos ensinar o que é agradável a Vós. Senhor, é por meio da vossa Sabedoria que todos aqueles que têm sido agradáveis ​​a Vós, desde o início dos tempos, foram salvos. Dai-nos, pois, agora e sempre, a vossa Divina Sabedoria. 

(São Luís de Montfort)

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

ORAÇÃO DA IGREJA CONTRA AS PERSEGUIÇÕES DO MUNDO

UT QUID, DEUS, REPULISTI IN FINEM?

Por que, Senhor, persistis em nos rejeitar? Por que se inflama vossa ira contra as ovelhas de vosso rebanho? Recordai-vos de vosso povo que elegestes outrora, da tribo que resgatastes para vossa possessão, da montanha de Sião onde fizestes vossa morada.

Dirigi vossos passos a estes lugares definitivamente devastados; o inimigo tudo destruiu no santuário. Os adversários rugiam no local de vossas assembleias, como troféus hastearam suas bandeiras. Pareciam homens a vibrar o machado na floresta espessa. Rebentaram os portais do templo com malhos e martelos, atearam fogo ao vosso santuário, profanaram, arrasaram a morada do vosso nome.

Disseram em seus corações: 'Destruamo-los todos juntos; incendiai todos os lugares santos da terra'. Não vemos mais nossos emblemas, já não há nenhum profeta e ninguém entre nós que saiba até quando... Ó Deus, até quando nos insultará o inimigo? O adversário blasfemará vosso nome para sempre? Por que retirais a vossa mão? Por que guardais vossa destra em vosso seio?

Entretanto, Deus é meu rei desde os tempos antigos, ele que opera a salvação por toda a terra. Vosso poder abriu o mar, esmagastes nas águas as cabeças de dragões. Quebrastes as cabeças do Leviatã, e as destes como pasto aos monstros do mar. Fizestes jorrar fontes e torrentes, secastes rios caudalosos. Vosso é o dia, a noite vos pertence: vós criastes a lua e o sol. Vós marcastes à terra seus confins, estabelecestes o inverno e o verão.

Lembrai-vos: o inimigo vos insultou, Senhor, e um povo insensato ultrajou o vosso nome. Não abandoneis ao abutre a vida de vossa pomba, não esqueçais para sempre a vida de vossos pobres. Olhai para a vossa aliança, porque todos os recantos da terra são antros de violência.

Que os oprimidos não voltem confundidos, que o pobre e o indigente possam louvar o vosso nome. Levantai-vos, ó Deus, defendei a vossa causa. Lembrai-vos das blasfêmias que continuamente vos dirige o insensato. Não olvideis os insultos de vossos adversários, e o tumulto crescente dos que se insurgem contra vós.
(Salmo 73, 1-23)

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

GUARDAI EM VÓS O SANTO TEMOR DE DEUS!

'Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação; humilha teu coração, espera com paciência, dá ouvidos e acolhe as palavras de sabedoria; não te perturbes no tempo da infelicidade, sofre as demoras de Deus; dedica-te a Deus, espera com paciência, a fim de que no derradeiro momento tua vida se enriqueça.

Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece firme; na humilhação, tem paciência. Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus, pelo cadinho da humilhação.

Põe tua confiança em Deus e ele te salvará; orienta bem o teu caminho e espera nele. Conserva o temor dele até na velhice.

Vós, que temeis o Senhor, esperai em sua misericórdia, não vos afasteis dele, para que não caiais; vós, que temeis o Senhor, tende confiança nele, a fim de que não se desvaneça vossa recompensa.

Vós, que temeis o Senhor, esperai nele; sua misericórdia vos será fonte de alegria. Vós, que temeis o Senhor, amai-o, e vossos corações se encherão de luz.

Considerai, meus filhos, as gerações humanas: sabei que nenhum daqueles que confiavam no Senhor foi confundido. Pois quem foi abandonado após ter perseverado em seus mandamentos? Quem é aquele cuja oração foi desprezada? Pois Deus é cheio de bondade e de misericórdia, ele perdoa os pecados no dia da aflição. Ele é o protetor de todos os que verdadeiramente o procuram. 

Ai do coração fingido, dos lábios perversos, das mãos malfazejas, do pecador que leva na terra uma vida de duplicidade; ai dos corações tímidos que não confiam em Deus, e que Deus, por essa razão, não protege; ai daqueles que perderam a paciência, que saíram do caminho reto, e se transviaram nos maus caminhos.

Que farão eles quando o Senhor começar o exame? Aqueles que temem o Senhor não são incrédulos à sua palavra, e os que o amam permanecem em sua vereda. Aqueles que temem o Senhor procuram agradar-lhe, aqueles que o amam satisfazem-se na sua Lei. Aqueles que temem o Senhor preparam o coração, santificam suas almas na presença dele.

Aqueles que temem o Senhor guardam os seus mandamentos, têm paciência até que ele lance os olhos sobre eles, dizendo: Se não fizermos penitência, cairemos nas mãos do Senhor, e não nas mãos dos homens, pois a misericórdia dele está na medida de sua grandeza'.

(Eclesástico, 2)

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

VERSUS: ORAÇÃO PARA DEUS X PERSEVERANÇA POR DEUS


'Pedis e não recebeis, porque pedis mal, com o fim de satisfazerdes as vossas paixões' (Tg 4,3)

Pedimos mal porque rezamos mal. Rezamos e pedimos por bênçãos temporais que nos sejam atraentes e vantajosas. Queremos isso e aquilo para nosso agrado e interesse. No espelho das nossas miragens, Deus perscruta a nossa alma. Todo bem e toda graça provêm de Deus e nos é dada, na magnitude dos desígnios divinos, para o bem da nossa alma e para maior glória de Deus. Nada além disso. 'Pedis e não recebeis' porque pedis apenas para vós. A nossa oração de súplica pode ter qualquer boa intenção temporal, mas implica pedi-la sempre com o complemento: ... 'desde que seja para o bem da minha alma e para maior glória de Deus!'

'Até agora não pedistes nada em meu nome. Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja perfeita' (Jo 16,24)



'Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração (Rm 12,12)

De todas as graças espirituais possíveis, pedi insistentemente a graça da perseverança final pois é, por meio dela, que se pode alcançar a vida eterna em Deus. A preservação do estado de graça até o último suspiro do homem nessa terra é um milagre de amor divino porque tal graça só é possível por uma especial concessão divina às almas eleitas, que se alimentam o tempo inteiro com os frutos de uma oração contínua. Oração feita pela mente, pelos lábios, pelas mãos, no descanso ou na labuta diária, em cada gesto concreto da criatura que se molda à santa vontade do Criador.

'pois vos é necessária a perseverança para fazerdes a vontade de Deus e alcançardes os bens prometidos' (Hb 10,36)

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

A BÍBLIA EXPLICADA (XXVI) - O PECADO ORIGINAL


Por que a culpa dos protoparentes torna-se culpa de todos? O antigo israelita que sentia fortemente a solidariedade, mesmo moral, entre os ligados por vínculo sanguíneo, não era atormentado por este problema, demonstrando assim intuir uma realidade que nosso individualismo pode discutir mas não destruir: a saber, a estreitíssima interdependência dos indivíduos em seu ser físico e psíquico. Nossa personalidade é o ponto de encontro de infinitos raios de influência, que começam na vontade de nossos progenitores e chegam até as radiações cósmicas; então é pelo resultado incalculável de inumeráveis causas que somos o que somos, mesmo na inconfundível e irrepetível unidade da pessoa humana.

Entre estas causas, diz-nos a Bíblia, há também o pecado de nosso mais antigo antepassado. Deus poderia ter-nos feito como mônadas absolutamente fechadas a qualquer influxo estranho. Mas então não seríamos homens, seríamos seres de outra estrutura. Nossa estrutura é, ao contrário, a dos seres que são centros de interferências, personalizados por uma alma imortal. 

O conceito católico de Igreja poderá melhor esclarecer-nos sobre os desígnios de Deus relativamente a cada homem. Deus colocou à disposição do homem a elevação ao estado sobrenatural, isto é, o dom da graça santificante que culminará na glória. Ora, são os homens individualmente que atingem êste estado e, no entanto, o dom aparece concedido de modo coletivo. Isto é, cada um alcança a Graça somente pelo fato de se achar inserido, pelo menos virtualmente num organismo suprapessoal, a Igreja, a quem pertence a Graça como coisa própria. Os cristãos não formam uma Igreja pelo fato de estarem unidos ao Cristo, mas, estão unidos a Cristo pelo fato de formarem uma Igreja.

Os Sacramentos e a Liturgia, enquanto vínculos sociais, enquanto ações exteriores que compõem a concatenação da Igreja são, por isso mesmo, os veículos da Graça. A contribuição da vontade pessoal é sem dúvida indispensável, desde o momento em que se torna possível (idade da razão), mas não é essencial, como se infere do batismo das crianças. Entrar a fazer parte da Igreja bem como o próprio subsistir da Igreja, é a resultante de um conjunto de ações interiores e exteriores, das quais o Cristo faz depender seu influxo redentor e vivificante sôbre cada alma. Se, na ordem das causas, o Cristo está em primeiro lugar, todos os outros, desde a hierarquia até os simples fiéis, têm sua responsabilidade e, falhando sua cooperação, a Igreja deixaria de ser como deveria, e muitas almas permaneceriam excluídas.

Este conferir da Graça como dom coletivo à humanidade redimida pelo Cristo é em tudo análogo ao conferir da Graça (e dos privilégios) como dom coletivo a toda humanidade, nos seus primórdios, na pessoa dos progenitores. Aqueles receberam estes dons, não a título de prêmio pessoal, mas a título do bem coletivo de toda a natureza. Bastaria nascer de Adão para, por isso mesmo, ter o dom da Graça, como agora basta estar inserido na Igreja pelo batismo para receber a Graça Cristã. O vínculo que teria ligado toda humanidade, a geração, viria a ser no correr do tempo o canal, a causa da Graça, o vínculo que teria unido cada indivíduo, não apenas aos seus semelhantes, mas também a Deus como fim sobrenatural.

Mas, para que tudo isto não adviesse como algo de fatal, de automático, era conveniente que os primeiros depositários deste dom cooperassem livremente para sua transmissão, bem como, a seu tempo, cada herdeiro deste dom ratificasse livremente — com a fé e as obras — a fortuna que herdou. A culpa pessoal dos progenitores implica a destruição do dom atribuído por Deus como bem coletivo da humanidade, destruição realizada livremente pelos homens que tinham a responsabilidade de transmiti-lo. Assim é que os vínculos da geração não são mais canais da Graça, e a humanidade não é mais, como devia ser, uma única grande Igreja. Deste modo, compreende-se porque o estado de decadência da humanidade seja ingênito em cada um como 'pecado'. Estado de pecado (pecado habitual) é o estado de uma criatura estranha à intimidade com Deus (privação da Graça), por força de uma falta cometida por meio de um ato livre da vontade (ato de pecado).

A grande família humana vai, no seu conjunto, gerando-se em estado de pecado (peccatum naturae), no sentido de que nasce privada da Graça, e esta privação não é apenas um defeito moral, mas subsiste por força do pecado pessoal do progenitor. A minha alma isoladamente, isenta de qualquer responsabilidade individual começou a existir então (e não antes) como parte de um complexo somático e psíquico ligado, por sua vez, sem solução de continuidade, ao resto da família humana. Bem longe de romper esta continuidade biológica e étnica, a alma assumiu-lhe a fisionomia concreta e, com esta, a privação da graça e dos privilégios, e uma tal privação, como encontrada na coletividade dos filhos de Adão, é efeito de uma culpa e, portanto, culpável. 

Ela (a alma) ficou assim ligada a um estado de culpabilidade preexistente, assim como, mais tarde, sendo inserida na Igreja, entrou em comunicação com um estado de Graça preexistente na própria Igreja, por força do Cristo Redentor. Desse modo, pelo pecado original, transmite-se a cada um não apenas uma consequência , ou uma pena pela culpa, mas a própria culpabilidade que recai sobre a natureza globalmente. E, entretanto, a cada um não cabe uma responsabilidade individual, o que seria um disparate. 'Pecado' é o termo que melhor se adapta para exprimir esta realidade inerente a cada homem, pelo próprio fato de sua procedência do primeiro homem e, entretanto, é um termo analógico que não coincide perfeitamente com o sentido dele quando aplicado a um ato pessoal de culpa.

Restaria ainda uma pergunta: por que Deus escolheu um meio coletivo, tanto no caso da elevação da natureza em Adão como no da santificação da Igreja em Cristo, para conferir aos homens estes dons de santificação? Não teria com isso escolhido um meio menos favorável para o indivíduo, que vem assim a depender da responsabilidade dos outros? Respondemos que, sem negar a possibilidade de outras ordens de providência, aquele meio escolhido por Deus parece mais adequado à natureza dos homens.

Uma personalidade, ainda que excepcional, não pode esgotar todas as possibilidades de aperfeiçoamento da natureza humana. O que não é realizado por um é realizado por outro; e, se duas pessoas se acham unidas por uma comunhão de amor, o bem de uma torna-se também o bem da outra. O individualismo, como transposição do indivíduo ao resto da humanidade é também um empobrecimento: o indivíduo afastaria de si todas as riquezas que, por sua natureza, ele não pode possuir inteiramente. Assim como o indivíduo não pode vir à existência sem o concurso de outros, não pode também, muito menos, aperfeiçoar-se por si só. Esta concepção, longe de diminuir a responsabilidade individual, diluindo-a no complexo social, aumenta-a grandemente, tornando cada um responsável também pelos outros.

Se este plano escolhido por Deus teve uma consequência dolorosa no pecado original, não foi contudo impedido o acesso da humanidade ao seu fim último. Este se realiza através de uma via menos aprazível mas não menos gloriosa. A narrativa bíblica deixa uma brecha de esperança — não é definitivo o triunfo alcançado pela serpente — 'Esta (descendente da mulher) te esmagará a cabeça' (Gn 3,15). E esta brecha continuará sempre, alargando-se mais e aclarando-se em sucessivas revelações ('messianismo'), até chegar aquele que dirá: 'Eu sou a ressurreição e a vida' (Jo 11,25), e provocar o clamor da alegria cristã: 'Onde está, ó morte, a tua vitória?' (1Cor 15,35).

(Excertos adaptados da obra 'Páginas Difíceis da Bíblia - Antigo Testamento', de E. Galbiati e A. Piazza)

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

A BÍBLIA EXPLICADA (XXV) - A CRIAÇÃO


Existem duas narrativas distintas sobre a criação: a primeira, de forma mais estilística, detalhada a seguir, e a segunda, mais formal e didática, na qual a abordagem é exposta sob o ponto de vista humano, visando apresentar, pela própria sucessão dos acontecimentos, a relação que as criaturas, como dons de Deus, têm para com o homem. 

Na primeira narrativa da criação é de evidência imediata a forma estilística particular, cuja lei suprema, no antigo Oriente, era a simetria. Esta simetria, além de utilizar da repetição de fórmulas semelhantes, exigia que se desdobrasse um pensamento ou acontecimento em duas partes que, embora não fossem absolutamente idênticas, esteticamente ficassem em confronto. Uma vez que uma coisa só não pode ser simétrica, sendo duas pelo menos exigidas para isso; se a coisa a ser expressa fosse uma só, era necessário subdividi-la, considerando-a sob dois aspectos diferentes. Por exemplo:

'Não é o discípulo maior que o seu mestre nem o servo maior que o seu patrão; basta ao discípulo tornar-se como o seu mestre e ao servo, como o seu patrão' (Mt 10, 24).

Nesta narrativa artística, o protagonismo da criação é expresso sob a forma de oito quadras sucessivas, repetindo oito vezes os mesmos sete tipos de fórmulas: 1. introdução; 2. mandado; 3. execução; 4. descrição; 5. denominação ou bênção; 6. louvor e 7. conclusão:

1. E disse Deus:
2. faça-se a luz;
3. e a luz foi feita.
4. e separou Deus a lua das trevas.
5. e chamou Deus à luz dia e às trevas chamou noite
6. e viu Deus que a luz era boa
7. e foi tarde e foi manhã, um dia

Estas fórmulas não se repetem uniformemente, mas são quebradas em partes menores (6 ou 5), para se estabelecer um padrão clássico de simetria entre as oito quadras:


Neste contexto de simetria regular, a Bíblia apresenta de forma artística a narrativa da Criação da seguinte forma geral (em 8 quadras):




(Excertos adaptados da obra 'Páginas Difíceis da Bíblia - Antigo Testamento', de E. Galbiati e A. Piazza)

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

VERSUS: BONDADE DIVINA X MISÉRIA HUMANA

Poderá haver prova mais eloquente da misericórdia de Deus do que assumir nossa miséria? Poderá haver maior prova de amor do que o Verbo de Deus se tornar como a erva do campo por nossa causa? 'Senhor, que é o homem, para dele assim vos lembrardes e o tratardes com tanto carinho?' (Sl 8,5). Por isso, compreenda o homem até que ponto Deus cuida dele; reconheça bem o que Deus pensa e sente a seu respeito. Não perguntes, ó homem, por que sofres, mas por que ele sofreu por ti. Vendo tudo o que fez em teu favor, considera o quanto ele te estima, e assim compreenderás a sua bondade através da sua humanidade. Quanto menor se tornou em sua humanidade, tanto maior se revelou em sua bondade; quanto mais se humilhou por mim, tanto mais digno é agora do meu amor. Diz o Apóstolo: Apareceu a bondade e a humanidade de Deus, nosso Salvador. Na verdade, como é grande e manifesta a bondade de Deus! E dá-nos uma grande prova de bondade Aquele que quis associar à humanidade o nome de Deus.

(São Bernardo)


Todas as delícias e doçuras que a vontade saboreia nas coisas terrenas, comparadas aos gozos e às delícias da união divina, são suma aflição, tormento e amargura. Assim todo aquele que prende o coração aos prazeres terrenos é digno diante do Senhor de suma pena, tormento e amargura, e jamais poderá gozar os suaves abraços da união de Deus. Toda a glória e todas as riquezas das criaturas, comparadas à infinita riqueza que é Deus, são suma pobreza e miséria. Logo a alma afeiçoada à posse das coisas terrenas é profundamente pobre e miserável aos olhos do Senhor, e por isto jamais alcançará o bem-aventurado estado da glória e riqueza, isto é, a transformação em Deus.

(São João de Deus)

quarta-feira, 31 de julho de 2024

SOBRE OS BENS MATERIAIS

O cristão que possui bens devem utilizá-los com humildade, sem orgulho, como coisa emprestada, não própria. Dou-vos os bens para o uso. Tanto possuis, quanto concedo; tanto conservais, quanto permito; e tanto permito, quanto julgo útil à vossa salvação. Tal há de ser a vossa atitude quanto ao uso dos bens materiais. Assim fazendo, o cristão obedece aos mandamentos - amando-me sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo - e conserva o coração desapegado das riquezas, afetivamente, como nada possuindo. Não se apega aos bens, não os possui em oposição aos meus desígnios.

Possui externamente, ao passo que seu íntimo é pobre. Tais pessoas, como disse, eliminam o veneno do egoísmo. São os cristãos da 'caridade comum'. Os bens materiais são bons em si mesmo; foram criados por mim, bondade infinita. Os homens hão de usá-los como lhes aprouver, mas no temor e no amor autênticos. Os cristãos não devem virar escravos dos prazeres sensíveis. Se querem ter posses, as temham; mas como dominadores delas, não como dominados. O afeto do coração deve estar em mim, não nas coisas externas; elas não pertencem aos homens, são dadas em empréstimo. Não tenho preferência por pessoas ou posição social, somente pelos desejos do coração.

Quem afastar de si o apego desregrado e se orientar para mim na caridade e no santo temor, tal pessoa poderá escolher o estado de vida que quiser. Em qualquer um deles alcançará a vida eterna. Suponhamos que seja mais perfeito e mais agradável a mim que o homem viva interior e exteriormente despojado dos bens materiais. Se uma pessoa não sentir a coragem de abraçar tal perfeição devido a alguma fraqueza pessoal, que permaneça 'na caridade comum' qualquer que seja seu estado de vida. Em minha bondade dispus que assim fosse para que nenhuma pessoa viesse a desculpar-se por pecados cometidos em determinadas situações. Ninguém poderá dar desculpa, Sou condescendente com as tendências e fraquezas humanas. Se as pessoas desejam viver no mundo, possuir bens, ocupar altas posições sociais, casar-se, ter filhos, trabalhar por eles, façam-no. É lícito viver em qualquer posição social; contanto que se evite o veneno da sensualidade, o qual pode conduzir à morte perpétua.

Se prestares atenção verás que quase todos os males procedem do desordenado apego e ganância da riqueza. Disto nasce o orgulho de quem pretende ser maior que os outros, a injustiça para consigo mesmo e o próximo. A riqueza empobrece e destrói a vida da alma, torna o homem cruel consigo mesmo, prejudica sua dignidade espiritual infinita, faz amar as coisas transitórias. Todos têm obrigação de amar-me, bem infinito. Com a riqueza, o homem perde o gosto pela virtude, o amor da pobreza, o domínio sobre si, torna-se escravo dos bens materiais. Ao amar realidades inferiores a si, torna-se insaciável. Só a mim deve o homem servir, pois sou o seu fim último.

Quantos perigos enfrenta o homem, por terra e por mar, a fim de adquirir riqueza e poder voltar à sua cidade natal entre satisfações e honras; já para conseguir a virtude, é incapaz do menor esforço, não aceita dificuldade alguma! E dizer que as virtudes são a riqueza da alma. Diz meu Filho no Evangelho que 'é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que o rico entrar na vida eterna' (Mt 19,24) quando referia-se àqueles que possuem ou desejam possuir riquezas com desordenado e pecaminoso apego a elas. Afirmei também existirem pobres que, se pudessem, possuiriam com desordenado apego o mundo inteiro. Também eles não passarão pela porta estreita e baixa (agulha). Se não se abaixarem até o chão, se não dominarem o próprio apego, se não dobrarem humildemente a cabeça, como poderão atravessá-la? Outra porta não existe que conduza à vida eterna. Pelo contrário, é larga aquela que conduz à eterna condenação (Mt 7,13).

As realidades terrenas são menores que o homem, para ele foram criadas, não vice-versa. Por tal motivo os bens materiais não o satisfazem; somente Eu sou capaz de saciar o homem. Já os infelizes pecadores, como cegos, afadigam-se continuamente, à procura de uma felicidade fora de mim, e sofrem... Querem saber como sofrem? Quando alguém perde algo com que se identificara, seu apego faz sofrer. É o que acontece com os pecadores, identificados por vários modos, com os bens materiais. Eles se materializam. Uns se identificam com a riqueza, outros com a posição social, outros com os filhos; uns se afastam de mim por apego a uma pessoa; outros transformam o próprio corpo em animal imundo e impuro. Todos eles assim se nutrem de bens terrenos. Gostariam que tais realidades fossem duradouras, mas não o são. Passam como o vento. São perdidas por ocasião da morte e de outros acontecimentos dispostos por mim. Diante de tais perdas, os pecadores entram em sofrimento atroz, pois a dor da separação se compara a desordenada afeição à posse.

Todos estes se carregam com a cruz do diabo e experimentam nesta vida a certeza da condenação. Vivem doentes e, se não se corrigirem, vão para a morte eterna. São homens feridos pelos espinhos das contradições a torturarem-se interna e externamente. E, por cima, sem merecimento algum! Sofrem na alma e no corpo, nada merecem; é sem paciência que padecem estes males. Vivem revoltados, apegando-se aos bens materiais com desordenado amor. É preciso encher a alma de virtudes sob o alicerce da caridade.

(Das Revelações de Santa Catarina de Sena)

terça-feira, 30 de julho de 2024

50 JACULATÓRIAS A DEUS PAI

1. Deus tudo pode.
2. Minha alma tem sede de Deus.
3. Deus meu, meu Deus, meu tudo!
4. Deus seja louvado!
5. Deus Pai do Céu, tende piedade de nós!
6. Dai-me, ó meu Deus, cumprir sempre a vossa Santa Vontade!
7. Dai-me, ó meu Deus, a vossa misericórdia!
8. Ó Deus, tende piedade de mim, pecador!
9. Meu Deus, eu creio, adoro, espero e vos amo. Peço perdão por aqueles que não creem, não adoram, não esperam e não vos amam.
10. Deus Pai, eu tenho confiança em Vós!
11. Deus Pai, eu me abandono e descanso em Vós!
12. Meu Deus, dai-me humildade e a verdadeira sabedoria!
13. Meu Senhor e Meu Deus!
14. Meu Senhor e Meu Deus, protegei-me de todo mal!
15. Meu Senhor e meu Deus, dai-me a graça da perseverança em Vós!
16. Meus Deus, eu vos amo.
17. Eterno Pai, permanecei em mim nesta vida, para que eu seja vosso na eternidade.
18. Ó meu Deus, vós sois o meu refúgio.
19. Ó meu Deus, a vós me entrego de todo coração, de todo espírito, de toda alma.
20. Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeirio de Deus verdadeiro, gerado não criado, consubstancial ao Pai, por Ele todas as coisas foram feitas.
21. Tudo posso no Deus que me fortalece!
22. Eu vos amo, ó meu Deus, de todo o meu coração.
23. Eterno Pai, eu vos ofereço as Chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo para curar as chagas dos meus pecados.
24. Pai Eterno, dai-me um coração inquieto enquanto não repousar em Vós!
25. Meu Deus, vós sois a minha salvação.
26. Meu Deus, que a vossa misericórdia seja a minha bêncão!
27. Meu Senhor e meu Deus, dai-me a vossa paz!
28. Eterno Pai, eu vos ofereço a dolorosa Paixão de Jesus em expiação dos nossos pecados e do mundo inteiro.
29. Ó meu Deus, nada desejo, a não ser o cumprimento de Vossa Vontade.
30. Deus, meu Deus, em vossas mãos entrego o meu espírito!
31. Meu Criador e meu Deus, eu vos dou o meu nada.
32. Meu Deus, eu vos ofereço o meu nada e, neste nada, todo o meu amor humano.
33. Meu Deus, dai-me a graça das moradas eternas na vossa glória!
34. Meu Senhor e meu Deus, que os vossos desígnios sobre mim sejam misericórdia, misericórdia e misericórdia.
35, Recebei, ó meu Deus, a minha miséria e volvei para mim a vossa misericórdia.
36. Eu vos ofereço a  minha vida, ó meu Deus, pela eternidade convosco.
37. Senhor, meu Deus, vós sabeis tudo, sabeis que eu vos amo.
38. Glória a Deus nas alturas!
39. Ao Deus único, Salvador nosso, por Jesus Cristo, Senhor nosso, sejam dados louvor, poder e glória, desde antes de todos os tempos, agora e para sempre.
40. Deus é luz e nele não há treva alguma.
41. Ó meu Deus e meu rei, eu vos glorificarei, e bendirei o vosso nome pelos séculos dos séculos.
42. Que minha boca proclame o louvor do Senhor meu Deus, e que todo ser vivo bendiga eternamente o seu santo nome.
43. Meu Deus, vós sois o meu rochedo, em quem me refugio; Vós sois o meu escudo e o poder que me salva.
44. Provai e vede quão suave é o Senhor, meu Deus!
45. A minha confiança está no nome do Senhor, que fez o céu e a terra.
46. Eu creio, Senhor meu Deus, mas aumentai a minha fé!
47. Se Deus é por nós, quem será contra nós?
48. Deus de Deus, eu vos dou graças pela minha vida e pela minha fé católica.
49. Tende piedade de mim, ó Senhor, misericórdia!
50. Criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo um espírito decidido. Ó Senhor, não me afasteis da Vossa Face, nem retireis de mim o Vosso Santo Espírito!

terça-feira, 2 de julho de 2024

POR QUE DEUS PERMITE TUDO ISSO?

É um desígnio tremendo da Providência Divina que seres humanos particularmente maus possam ter sido projetados na escala da humanidade pecadora. Todos somos maus, todos somos particularmente nada. Mas mesmo para o nada que somos parece algo absolutamente imcompreensível o mal que incorpora certas pessoas, certos grupos, certas ideologias. A questão comum que se impõe é certamente a seguinte: Por que Deus permite tudo isso?

A inteligência e a compreeensão humanas flutuam como névoa rasteira no abismo da sabedoria divina. Deus é. Aquele que tem o infinito de tudo como medida sabe e permite tudo isso. O nada se compraz em fazer perguntas sem respostas humanas ao Deus de tudo. 

Mas o fato concreto é que o mal subsiste e se avoluma como avalanche onde o bem se subtrai e se torna espuma. O bem como reflexo do bem é sempre uma graça. O mal que torna sementes podres em frutos podres é o exercício cotidiano da iniquidade. Mas onde o bem confronta o mal - como o trigo que refreia o joio alastrante - aí está a graça e a sabedoria da graça. 

Há muitos bons fazendo o bem isentos do mal deste vale de lágrimas. Não é fácil, não é simples, não é o bastante. Há outros tantos - não tantos assim - que fazem guerra contínua contra o mal imperante, sem tréguas ou repouso. Alguns são os mártires dos nossos dias, muitas vezes tombados no mais completo e obscuro anonimato. Outros são repudiados publicamente, tem as suas reputações aniquiladas, são atacados e expostos a todo tipo de injúria e de calúnia. Outros são simplesmente condenados em praça pública como ignorantes, retrógrados ou propagadores de culturas de ódio e preconceitos.

E a maioria dos homens bons - uma imensa maioria - cala e consente, consente e se acovarda. E, então, se perguntam na insensatez de apenas parecerem homens bons: Por que Deus permite tudo isso?

quarta-feira, 5 de junho de 2024

VELAI SOBRE VÓS MESMOS...

1. Quando os homens disserem: 'Paz e segurança!', então repentinamente lhes sobrevirá a destruição, como as dores à mulher grávida. E não escaparão. Mas vós, irmãos, não estais em trevas, de modo que esse dia vos surpreenda como um ladrão. Porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia. Não somos da noite nem das trevas. Não dur­mamos, pois, como os demais. Mas vigiemos e sejamos sóbrios (1Ts 5, 3-6).

2. Torne-se tenebroso e escorregadio o seu caminho [dos meus inimigos], quando o anjo do Senhor vier persegui-los, porquanto sem razão me armaram laços; para me perder, cavaram um fosso sem motivo. Venha sobre eles de improviso a ruína; apanhe-os a rede por eles mesmos preparada, caiam eles próprios na cova que abriram (Sl 34,6-8).

3. Que a morte os colha de improviso, que eles desçam vivos à mansão dos mortos. Porque entre eles, em suas moradas, só há perversidade (Sl 54, 16).

4. Terra, escuta: vou mandar sobre esse povo uma desgraça, fruto de suas maquinações, já que não ouviu as minhas palavras, e desprezou os meus ensinamentos (Jr 6, 19)

5. Não andeis à procura de outros deuses, para ante eles vos prostrardes e lhes renderdes culto. Não me provoqueis à cólera, para vossa própria desgraça, com esses ídolos que vossas mãos fabricaram (Jr 25,6).

6. Quanto a ti, não intercedas por esse povo, nem ores por ele, nem supliques, porque ao tempo de sua desgraça, quando clamarem por mim, não os escutarei (Jr 11,14).

7. Meus guardas estão todos cegos e não veem nada; são cães mudos incapazes de latir, sonham estirados, gostam de cochilar; são cães vorazes e insaciáveis são pastores que nada observam, cada qual segue seu caminho em busca de seu interesse. 'Vinde, vou buscar o vinho; com licores nos embriagaremos; amanhã, como hoje, haverá uma enorme bebedeira' (Is 56,10-12).

8. É necessário, porém, que primeiro ele sofra muito e seja rejeitado por esta geração. Como ocorreu nos dias de Noé, acontecerá do mesmo modo nos dias do Filho do Homem. Comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. Veio o dilúvio e matou a todos (Lc 17, 25-27).

9. Velai sobre vós mesmos, para que os vossos corações não se tornem pesados com o excesso do comer, com a embriaguez e com as preo­cupações da vida; para que aquele dia não vos apanhe de improviso. Como um laço cairá sobre aqueles que habitam a face de toda a terra. Vigiai, pois, em todo o tempo e orai, a fim de que vos torneis dignos de escapar a todos esses males que hão de acontecer, e de vos apresentar de pé diante do Filho do Homem (Lc 21, 34-36).

10. É mais fácil carregar areia, sal ou uma barra de ferro, do que suportar o imprudente, o tolo e o ímpio (Eclo 22,18).

quinta-feira, 9 de maio de 2024

ORAÇÃO DO AMOR A DEUS DE TODA ALMA E MENTE


Ó Senhor, não me priveis de vossos abençoados dons celestiais.
Ó Senhor, defendei-me e livrai-me dos tormentos eternos.
Ó Senhor, se eu pequei com minha mente, com meus pensamentos, com minhas palavras ou minhas ações, perdoai-me e curai a minha alma.
Ó Senhor, concedei-me amar-vos com toda a minha alma e mente.

Ó Senhor, livrai-me da ignorância, esquecimento, da covardia e do tédio.
Ó Senhor, não me deixeis cair e me livreis de toda tentação.
Ó Senhor, iluminai o meu coração obscurecido pelos desejos do maligno.
Ó Senhor, concedei-me amar-vos com toda a minha alma e mente.

Ó Senhor, como homem que sou, pequei, mas Vós, como Deus amado e benevolente, tende piedade da minha alma, vendo as fraquezas do meu coração.
Ó Senhor, enviai a vossa misericórdia em meu auxílio, para que eu possa glorificar vosso Santo Nome.
Ó Senhor Jesus Cristo, inscrevei-me como vosso servo no Livro da Vida e concedei-me uma morte em paz.
Ó Senhor, concedei-me amar-vos com toda a minha alma e mente.

Ó, meu Deus! Embora eu não tenha feito nada de bom, estendei vossa mão, auxiliai-me com a vossa graça para começar a fazer todo o bem.
Ó Senhor, cobri o meu coração fraco com o orvalho do vosso amor.
Ó Senhor do céu e da terra, lembrai-vos de mim, vosso servo pecador, impuro e frio de coração, em vosso reino.
Ó Senhor, concedei-me amar-vos com toda a minha alma e mente.

Ó Senhor, aceitai meu sincero arrependimento.
Ó Senhor, pelo bem da minha alma, não me abandoneis.
Ó Senhor, guardai-me apartado das tentações.
Ó Senhor, concedei-me amar-vos com toda a minha alma e mente.

Ó Senhor, concedei-me pensamentos nobres e puros.
Ó Senhor, concedei-me as lágrimas do arrependimento, a memória da morte e a sensação de paz.
Ó Senhor, concedei-me humildade, caridade e obediência para agir em vosso Santo Nome.
Ó Senhor, concedei-me amar-vos com toda a minha alma e mente.

Ó Senhor, concedei-me a confissão e o perdão dos meus pecados.
Ó Senhor, concedei-me paciência, magnanimidade e doçura.
Ó Senhor, tornai-me a fonte de todas as vossas bênçãos e inspirai vosso santo temor em meu coração.
Ó Senhor, concedei-me amar-vos com toda a minha alma e mente.

Ó Senhor, concedei que eu possa vos amar com todo o meu coração e toda a minha alma, e que eu sempre obedeça vossa palavra.
Ó Senhor, protegei-me dos provocadores, dos demônios, das paixões corporais e de tudo o que não leva a Vós.
Ó Senhor, eu sei que agis como desejais; assim, que seja feito em mim, pecador, a vossa vontade, porque Abençoado sois para todo o sempre. 
Amém.

(São João Crisóstomo)